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THELONIOUS MONK E A IMPERFEIÇÃO

Pessoas imperfeitas. A inovação em arte nasce da imperfeição. Whitman fazia versos sem rima, sem metro e que dificilmente poderiam ser cantados. Sim, voce pode dizer que eram perfeitos a seu modo, mas de um ponto de vista formal eram imperfeitos, ou melhor, estavam fora do mundo formal, criavam seu próprio mundo e seu padrão. Gauguin pintava sem perspectiva, Proust não desenvolvia enredos. --------------- O jazz já nascera como imperrfeição. Quando voce escuta um trombone ou um trompete numa filarmônica e em seguida o escuta como tocado por Miles ou Paul Gonsalves, voce logo percebe que há algo de errado ali. Numa obra de Stravinski ou Haydn, o sopro é puro, sem sujeira, sem indefinição. A nota flui como uma flecha certeira. No jazz o sopro é sinuoso, áspero, sujo, indefinido, hesitante, roncador. --------------- Thelonious Monk não é um dos melhores pianistas do jazz. Não tem a velocidade de Bud Powell, nem a beleza de Bill Evans e muito menos a elegância de John Lewis. Mas Thelonious é um gênio, coisa que os outros não são. Tudo em Monk é errado. Ele toca com os dedos rígidos, duros, alongados, pulsos pesados, braços nada relaxados. Bate nas teclas, parece brigar com o piano. Imagino que seus dedos e pulsos doíam. A mão esquerda produz harmonias pobres e dissonantes. A direita não parece solar. Ela se atrasa, se adianta, nunca toca no momento que parece o mais correto. Pior, ele desafina. Notas que parecem pontos de interrogação. Mas, eis o milagre, ele vicia, ele tem segredos, instiga. ------------ Acompanhar Thelonious deve ser um imenso desafio. Pois ele muda o tempo, desarmoniza, erra, erra sem parar de errar e esses erros viram acertos, porque se tornam uma invenção, um estilo. São digitais de Monk. -------------- Um pianista técnico nos assombra e pode até comover, mas ele nunca se torna aquilo que toca. Ele interpreta. Já Thelonious Monk é o que toca. Cada erro é dele e só dele. Como Jimi Hendrix, outro gênio que passava longe da perfeição, Monk faz do erro um novo mundo e nos faz sentir que esse erro TINHA DE SER ASSIM. Sua mente e suas mãos, pesadas, pouco refinadas, moldam o barro seco de uma imagem de vida nova, de desafio, de liberdade. --------------- Gente como eles dá a ilusão de que todo iniciante exitante pode ser um executante de génio. Mas não é assim. Há um Monk, um Hendrix, um Gauguin. Eles não são preguiçosos que pouco praticaram. Não são inabilidosos. Eles são corajosos. Aventureiros. Se jogaram no mundo que criaram. São deles mesmos. Donos de sua arte. Inimitáveis e sem filhos.

LORCA WHITMAN FERNANDO PESSOA

Em 1988 eu li meu primeiro livro de poesia. Até então eu evitava a poesia por não saber como a ler. Voce não lê poemas como quem lê romances, e também não são letras de música que voce sai cantando por aí. Demorou pra que eu entendesse que poesia se lê lendo. Lendo e entrando dentro da coisa, mesmo que as palavras, de começo, não façam muito sentido. Isso porque cada grande poeta cria sua língua e escreve hieróglifos que deverão ser desvendados por cada um. Não é preciso entender poesia, é necessário pegar o fio da meada e caminhar dentro do labirinto. Lorca foi meu primeiro poeta e depois, logo em seguida vieram Whitman e Pessoa. Até hoje não sei se realmente gostei de Lorca ou se me obriguei a inclui-lo na minha vida. Na época ele me pareceu tudo que um poeta deveria ser, e em minha fase espanhola, eu estava in love por uma menina de lá, Lorca era trilha perfeita para o que eu sentia. Mas confesso, ele jamais me comoveu. Leio hoje mais uma vez, e que coisa!, Lorca nada me fala. Já Fernando Pessoa é uma personalidade interessante e sua poesia é tão interessante como ele. Mesmo em seus momentos ruins, são muitos, ele é um espírito sedutor. Reler Pessoa pode não ser sempre inspirador, mas nunca eu o sinto distante. Lorca me cheira hoje a espanholismos de ocasião. Por fim Whitman. Dos três foi sempre ele aquele que mais me impressionou e sendo o pai dos dois, continua a ser e será o mais terra, o mais vital dentre eles. O velho Walt sempre convence, sempre instiga, sempre é real. Lorca, adiós. ( É interessante observar como Lorca é cada vez menos lido. Há autores que se vão e retornam, outros surgem do passado de susrpresa. Penso que Lorca não voltará ).

DOIS TIPOS DE POETAS

Yeats é um tipo introvertido. Whitman um tipo extrovertido. Yeats vê dentro de sua mente uma paisagem enevoada, e dessa paisagem ele tira uma narrativa. Whitman vê soldados em meio à guerra civil, e disso ele desenvolve sua poesia. Yeats joga sobre a torre, real, em Sligo, aquilo que dentro dele ele vê. Yeats sente que o mundo vive em sua alma. Whitman olha para o mundo e do mundo ele absorve aquilo que dentro dele entrará. Ele é parte do mundo. Yeats acharia Whitman muito ativo demais. Talvez rude demais. Quem sabe até mesmo ríspido. Whitman veria Yeats como um delicado. Egocêntrico demais. Idealista que não sente o gosto do mundo real, como ele é. Todos nós somos os dois, e é claro que os dois tiveram seu lado contrário. Mas um dos lados nos domina por um tempo maior. Nos traimos por nossas ações mais planejadas, pela nossa rotina, pelo que nos interessa. Observe: Yeats não parecia ligar para o sucesso. Whitman queria ser a voz de sua nação. Tudo nele está voltado ao outro, ao cidadão. Yeats escrevia para as fadas. Para si mesmo. E no máximo cinco amigos. Whitman falava com um país inteiro. É arriscado e ingênuo querer falar da personalidade de duas almas tão complexas e distantes de nós. Mas a obra de ambos nos dá essa chance. ( baseado em Jung mas ele não usa esses exemplos )

LORCA - IAN GIBSON. UMA DAS MELHORES BIOGRAFIAS UM DIA ESCRITAS.

   Li em 2006 e reli agora, onze anos depois.
   Ian Gibson, irlandês, se mudou para a Espanha e depois de anos em pesquisas, lançou o livro em 1989. E desde então é considerado um clássico em termos de biografias. O livro merece toda a fama que tem. Gibson escreve bem pra caramba. Ele não fala apenas de Lorca, ele fala, e fala com autoridade, da Andaluzia, da história espanhola, da cultura árabe, de flamenco, do duende. Fala do modernismo, de poesia, do catolicismo espanhol, de homossexualismo. E de uma multidão de amigos de Lorca, de Buñuel e Dali até o bibliotecário que cuidava dos livros da escola.
  E com tanta informação, o livro consegue ser leve, fácil de ler, nada pedante, um prazer. Nunca há no texto o ranço do estudo, o que lemos é como um romance, um muito bom romance. Pouquíssimos homens tiveram a sorte de ter um biógrafo tão bem dotado.
  O Lorca que surge do livro é um homem alegre, brilhante, carismático e incrivelmente curioso. Ele desejava conhecer tudo. Lugares, pessoas, músicas, peças, livros. Lorca começa como músico, filho de família rica, e sua poesia, sempre musical, cantante, revela essa raiz. O melhor do livro está no começo, nas histórias da família e do Lorca jovem. Mas ele é todo interessante.
  De todos os escritores que um dia chamei de "meu favorito", Lorca é o que mais sofreu em meu conceito. Comecei a ler poesia já com mais de 25 anos de idade, e comecei por Lorca e Whitman. Amava os dois, e via em ambos um convite para a vida. Os dois foram geminianos como eu, cantadores da estrada, do rio, do caminho e dos homens em ação. Ambos faziam amizades fáceis, mas permaneciam sós, talvez por sua sexualidade mal resolvida. Lorca, mais que Walt, sentia a repressão do meio sobre sua homossexualidade. Nele se fixou um tipo de mancha trágica em meio a tanta vida. Walt parece ter lidado melhor com isso. Difícil saber de fato, mas o americano dá uma imagem de um homem mais solto. Com menos culpa.
  Lorca, sempre um nome forte, foi tão imitado, tão visto como herói, que tem sofrido nas últimas décadas. Há um excesso de pequenos Lorcas pretensiosos no mundo. Sua poesia não tem mais me comovido. Desde que mergulhei em Yeats, Eliot e Stevens, Rilke, Keats e Dante, ele perdeu muito de seu poder.
  Mas como todo grande, ele pode voltar a ter seu antigo encanto.
  O tempo dirá.

O PRELÚDIO- WILLIAM WORDSWORTH. VIAGEM, CRESCIMENTO E REVOLUÇÃO.

   Se Yeats é o poeta que melhor expressa meu intelecto, então Wordsworth é aquele que fala dos meus olhos. Este poeta, símbolo maior do romantismo, escreveu na virada do século XVIII para o XIX aquilo que meus olhos percebem hoje. Ele olhava. Toda sua poesia é uma grande observação sobre as coisas. E a maneira como ele enxerga é "grande".
  Wordsworth nasceu na região dos lagos, o norte da Inglaterra. Fascinado por tudo o que viu desde cedo, ele passou sua longa vida recordando cenas, descrevendo paisagens, desnudando observações. Das várias ideias sublimes que o poeta teve, talvez a maior seja a de que a inspiração vem da memória e que a impotência criativa pode ser curada ao se relembrar um momento de epifania. Wordsworth nunca chega a ser místico, mas a alma das coisas está sempre presente.
  Nesta obra, longa e colorida, ele, como é seu hábito, caminha. Percorre o norte, mas também anda pelos Alpes, pela França, Londres e Paris. Devemos lembrar que é exatamente nessa época que é instituído o turismo. Wordsworth foi dos primeiros, senão o primeiro, a escrever sobre os Alpes como lugar de lazer, de prazer, de fruição. Depois ele anda pela França e descreve Paris, a cidade em tempos de revolução. O poeta fala do novo tempo, da liberdade, das ruas e das pessoas simples. Uma de suas várias fés e a de que o povo simples está muito mais perto da verdade que os letrados catedráticos. Nisso Wordsworth é profundamente democrático, e assim podemos entender porque Whitman é seu discípulo. Como o inglês mais velho, o americano caminha, ama a estrada e o povo, a liberdade. As diferenças são aquelas de país e de geração: Whitman ama a ideia de democracia, Wordsworth ama a democracia como modo de vida; Whitman viaja para ver gente, Wordsworth viaja para encontrar a verdade; o americano se entrega às pessoas, Wordsworth se dá a paisagem. São irmãos. O americano na versão protestante, da exaltação ao modo do púlpito e o inglês ao modo discreto, a reserva do homem do senso-comum.
  O poema caminha também como uma quase auto-biografia. Ele fala da escola, da vida livre nos campos, das viagens e da maturidade. Reporta a revolução francesa, e também a industrialização de Londres. Se perde na metrópole, vê os tipos, os personagens, volta a sua vida interior, perde a inspiração, a recupera.
  Diário íntimo, relato de excursão a pé, documento histórico. Esta obra, longa e clara, é um dos tesouros do mundo. Ler é um prazer.

WALT NO SEU DIA DE ANOS

   Walt Whitman é, com Rimbaud e Baudelaire, o mais celebrado do poetas. Portanto no dia de seu aniversário, 31, não me sinto em dívida para o homenagear. Penso que muito mais relevante é dar graças ao mundo que ele amava.
 O mundo aberto, das estradas sem fronteira, onde os caminhos vazios se abrem para quem quiser os percorrer. O mundo das pessoas anônimas, que vivem sua vida corporal, com seus músculos retesados, suor escorrendo, faces sujas de trabalho. A liberdade de ser vários em um, de se contradizer, de negar aquilo que se acabou de falar, de gostar de tudo, de comer, beber e amar o mundo. A vida de Walt é a celebração da vida e é por isso que essa poesia do otimismo, do emigrante, do nativo que sabe estar em seu lugar, moldou os EUA, o país do otimismo institucionalizado. Ao contrário do europeu, sempre hesitante, sempre relativista, o americano bota as mãos e toma posse, constrói, vai adiante sempre, marcha ao futuro, pensa pouco no passado, caminha o caminho adiante, vai.
 A gente nunca sabe se um poeta molda um país ou se percebe a alma de uma nação e a traduz antes de que ela seja percebida. Walt dá voz e estatuto à América. Ele e Mark Twain são o lado solar do país. ( Hawthorne e Melville expõe o lado escuro da nação ).
 Descobrir Whitman quando o descobri foi fundamental para minha vida. Ele me revitalizou, me deu voz, me levou pra frente. Desde então outros poetas eu conheci. Hoje amo mais a Yeats, Keats, Eliot e Stevens. Mas foi Walt que me fez descobrir a poesia. Foi com ele que aprendi a ler poemas do jeito certo. Ele me pariu.

E O PROFESSOR FALA DO SÍMBOLO.

   E não é que o professor que tanto entende de Freud, de alemão, de holandês, de dinamarquês, também se revela alguém que compreende e consegue fazer o mais materialista dos alunos entender o que seja o "símbolo" ...
   Quando uma obra de arte, seja texto ou imagem, tem um significado oculto, mas que é revelado aos poucos e para alguns escolhidos, temos uma "alegoria". O Paraíso Perdido de Milton é uma alegoria. A Divina Comédia de Dante é uma alegoria.
   Porém, quando uma obra tem uma linguagem, uma imagem, que nem mesmo seu autor consegue a explicar, essa imagem se explica por si-mesma, e acende em cada pessoa um significado particular, aí temos o "símbolo". O símbolo não pode ser explicado. Ele diz uma coisa, simples e secreta, a cada um. Digamos que ele fala aquilo que as palavras não conseguem dizer. Ele se situa além da linguagem e antes da história.
   Baudelaire fala por símbolos. Assim como Rimbaud. Você pode os traduzir, mas a sua interpretação nunca é a definitiva. O símbolo é inesgotável.
   Isso não significa que o símbolo é superior à alegoria. Milton é maior que o simbolista Verlaine. Mas Verlaine rende mais discussão. Whitman nunca é simbolista. Mas o americano é maior que Leopardi, que usa símbolos. ( Aliás, americanos têm uma enorme dificuldade de lidar com símbolos ).
  A religião é toda símbolo. Mas a igreja é alegoria. Ela tenta dar sentido único a coisas inesgotáveis como a cruz, a pomba ou o milagre. Toda a história de Jesus Cristo é um símbolo, portanto atemporal, inesgotável e particular. Não se traduz em discurso, ela é como um suspiro. A igreja a toma para sí e a traduz. Faz do símbolo uma alegoria e mata sua evolução.
  O marxismo fez o mesmo com a história, a psicanálise com o inconsciente, a crítica literária com a prosa. Pegaram o particular e o transformaram em alegoria universal.
  O símbolo é a prova de que o tempo nada é daquilo que achamos saber. Ele flui através do futuro ao passado e reflui ao presente, renasce a cada nova leitura e nega o certo e o errado. Como diz Gregory Wolfe, a arte abstrata, Kandinsky, Klee, são os verdadeiros artistas, porque eles criam aquilo que passa a existir a partir do nada. Quando Klee pinta uma "coisa" ele a cria do absoluto vazio. Ao contrário de Rembrandt ou de Vermeer que nada criavam, na verdade copiavam, genialmente, aquilo que já existia no mundo, artistas com Marc ou Miró inventam símbolos que surgem do nada e com nada anterior se parecem. São criadores de fato, como criadores foram os homens que desenharam mandalas, símbolos celtas ou intrincados labirintos hindus. Nesse sentido, que não julga mérito, julga criação, Cézanne é o primeiro criador a surgir desde o século XV. Entre Giotto e Cézanne todos foram imitadores.
  Entendeu my friend.

O OLHO IMÓVEL PELA FORÇA DA HARMONIA- WILLIAM WORDSWORTH. O POETA DA NATUREZA.

   É um grande chavão dizer que Wordsworth é o grande poeta da natureza. Mas nada pode ser mais verdadeiro que isso. O inglês funda o romantismo inglês, e se na Alemanha ser um romântico significa ser um místico e na França ser um revolucionário, nas ilhas ser romântico é amar a natureza. E nisso ninguém se compara a Wordsworth.
  Romancistas, filósofos, dramaturgos, contistas, cronistas, historiadores...e poetas. São os fazedores de versos aqueles que mais amamos. Nossa relação com eles é a mais visceral. Admiramos romancistas, nos exaltamos com filósofos, mas nos apaixonamos por poetas. E são eles os símbolos das nações. Goethe, Dante, Camões, Whitman, Hugo, Pushkin, cada um é a alma de um país ( Único adendo é a Espanha que tem Cervantes como sua alma maior ). E eu sou fiel a meu amor, Yeats é meu poeta, alma da Irlanda. Mas Wordsworth é tão grande quanto o irlandês, se não for ainda maior.
  Ele leva a alturas abissais a relação do homem com a natureza. Esse amor apaga a dor porque apaga o individualismo. Nega o tempo, faz do presente a eternidade. O homem só é feliz na natureza. Reação a transformação do industrialismo, a fuga dos camponeses rumo às cidades, o poeta canta e dá luz àquilo que ele intuía: o fim de um mundo. O poeta é aquele que faz a memória viver. Como ele diz: O poeta olha para trás e para a frente. ( Não olha o agora ).
  Ele canta a criança também, essa invenção romântica. Criança antes era apenas um aprendiz de adulto. Aqui ela se torna um ser sábio, alguém que sabe mais que o homem. "A criança é o pai do homem". Outra missão do poeta, fazer da criança uma presença constante e central.
  Wordsworth é o mestre de Whitman. Ambos cantam a estrada aberta. A diferença é que o americano vive na América, claro, e isso significa mais espaço aberto e a fé na democracia. O inglês, europeu sempre, é mais cotidiano, mais voltado ao passado, tem um traço de saudade que inexiste em Whitman. Ambos são curativos, saudáveis, otimistas, confiantes, vivos.
  Wordsworth é um de meus cinco poetas favoritos. Eu amo seu modo simples de falar, as imagens que só ele vê, a ligação que ele estabelece com a água, o céu e as pessoas do campo. Ele caminha e sente e canta e vive. Se maravilha, recorda, sonha e canta mais. Percebe como uma criança, sente a novidade, continua, persiste. E assim nos reabilita.
  Na bela tradução de John Milton e de Alberto Marsicano, este é um livro precioso.

WILLIAM WORDSWORTH- O PRELÚDIO. UM DOS ARQUITETOS DO EU.

   Pai de Walt Whitman. Como Whitman, que veio 40 anos mais tarde, Wordsworth namora seu ego. 
   Ego, essa invenção moderna que fica cada vez mais obsoleta. Primeiro Montaigne. Então Rousseau. E Wordsworth. Depois desses três egocêntricos, todo escritor passou a colocar seu imenso eu entre o livro e o leitor. Montaigne desnuda sua cabeça e seu cotidiano. Rousseau exibe seu coração. E Wordsworth ignora tudo a não ser si-mesmo. Por mais que ele fale daquilo que vê, o que importa é o que ele sente ao ver o que percebe. Jamais sai de dentro de sua alma. O mundo se torna espelho.
  Whitman leu Wordsworth, mas Walt era americano. ( Assim como Pessoa, herdeiro dos dois, era Luso e Atlântico ). Sendo americano, Whitman amplifica tudo. Whitman é maior ( não melhor ). O americano canta um continente, uma democracia, uma estrada sem fim. E tudo é ele. 
  Wordsworth nasceu no norte da Inglaterra, quase Escócia, na região dos lagos. Como Whitman, ele canta a estrada, a mata, a liberdade de ser solitário, as pessoas simples, os bichos, o mundo sem o homem, e o homem no mundo. Ele anda, caminha, vai à vida que é um caminho sinuoso. Mas a estrada de Wordsworth é curta. Ele anda pelos lagos, pelos bosques, pela natureza, mas é um caminho que leva de volta, que anda em círculos. Um jardim. Whitman quer ver toda a América. O inglês quer rever seu bosque. Whitman fala ao futuro. Wordsworth fala ao passado. Ele adora a infância. O pequeno e o discreto. Whitman é um pavão. Wordsworth é uma perdiz.
   Lançou o romantismo na Inglaterra. Por volta de 1800. Viveria oitenta anos, mas sua obra foi toda feita na juventude. ( Ao menos a que mais importa ). Quando velho ele se tornou um conservador. O que lhe valeu a raiva de Keats. Este livro, em tradução portuguesa recente, é sua última obra relevante, já escrita aos 40 anos. Ele aqui relembra sua infância, adolescência e juventude. A mata, a escola e Cambridge. A hiper-sensibilidade à natureza, aos cheiros, aos sons, às pessoas. Ele é sempre feliz, alegre, confiante. E solitário. Wordsworth namora sua alma. Ele cresce quando só, ama estar só, consegue ter amigos, mas se recolhe para ser si-mesmo. Aí sua profunda revolução. O homem fora sociedade por 5000 anos. Agora, em 1800, ele era UM. Se antes o maior dos castigos era o ostracismo, agora a solidão é um prêmio. Ser só é um privilégio.
  A escrita flutua, voa, alucina. O poema é longo ( 200 páginas ), dá voltas, anda em círculos. E faz sonhar. A gente anda, passeia, caminha com ele pelo tempo e pelo lugar. É delicia inesquecível. Inefável.
  Um gigante que escreve sobre o particular. Que vê o mínimo. Eterno.

O PRELÚDIO, WILLIAM WORDSWORTH....SEM PALAVRAS...

   Abre os olhos e vê a luz invadir o quarto. Imediatamente o som dos pássaros toma seus ouvidos e voce pensa: - Eu não conheço esses pássaros! Sim, hoje, homem adulto, voce pensaria, se os notasse, -São Pardais, tão só vulgares Pardais! Mas então, naqueles tempos idos, voce saberia sem "o saber", que cada um dos Pardais é um Novo Pardal, completamente único e original. Daí seu interesse por todos eles. E lá fora, naquela manhã Única, voce os batiza. Confirma cada um deles como um Ele.
   O café sobre a mesa é mais um café. E enquanto se é servido voce brinca com a colher. Ela agora é uma catapulta e voce lança bolas de pão, em Fogo. à muralha da Mantegueira. Exércitos de invasores fazem aquilo que sabem fazer, Saqueiam a manteiga. Quando sua mãe impede a nova Bola de Fogo de ser lançada, bem, voce e seu irmão começam a tomar café como se agora fossem Dois Piratas. Migalhas são jogadas ao chão por Barba-Negra, que se serve de imensas canecas de Rum e engole nacos de Carneiro como se fossem Bolinhos de Chuva.
   Mas é lá fora que se faz a coisa.
   Todas as pessoas na rua são conhecidas e possuem um nome, mesmo que João seja para voce "O Menino da Bicicleta" ou que Lucinha seja agora "A Mais Linda com as Pernas Nuas". Todas as ruas levam ao Novo, e todas as Ruas lhe são conhecidas. Porque voce conhece a eterna Transformação que é a condição da Vida Bem Vivida. E ninguém te ensinou isso, voce Sabe. ( Um dia, terrível dia, vão te dizer que a vida é uma fórmula, que a morte é um destino e que tudo é como é... ). Mas voce Sabe, naqueles Tempos, que tudo o que os Homens Grandes pensam é Confusão Pra Passar o Tempo. E gente como Voce, Pequena, Sente que a Vida é Mais.
   As Nuvens Falam e a Tempestade tem um Caráter. Cada Pedra na Estrada de Terra tem uma fala em seu Teatro. Sua Mente Cria sem parar para pensar. O Medo, absoluto e imenso, toma todo o Universo quando voce olha uma ratazana morta no meio do lixo. E esse Pavor se transforma em esquecimento ao olhar uma Pipa que se solta da linha e voa a esmo por entre os Eucaliptos que não a capturam. Um bando de moleques corre pela Pipa e voce se lembra de Tom e Huck.
   Voce ainda não aprendeu o Tempo e essa Manhã lhe parece pra Sempre.
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   Walt Whitman pegou muito de Wordsworth. Ambos se soltam na estrada e vivem o olhar sobre as coisas. Ambos nos deixam um gosto de felicidade na alma quando descrevem as coisas. Agradecemos ao Mundo por ter dado luz aos dois Gigantes. A diferença é que o americano é voltado ao futuro, o inglês ao passado. Whitman de nada tem saudade, ele crê na vida que virá. Wordsworth lamenta o que se perdeu, ele vive feliz por poder recordar.
   Os lagos, as montanhas, so bosques. Wordsworth procura a solidão para lá se enamorar das sensações que a natureza lhe dá. Ele consegue ter instantes de Sublime por poder ainda acessar sua infância. Infância que não é inocência, é criação e conhecimento. O poeta procura a Surpresa e procura mais que isso AQUILO QUE NÃO PODE SER DITO POIS ESTÁ FORA DA LINGUAGEM. Para isso ele caminha: sobe morros, rema em lagos, adormece em relvados, fala com camponeses, se perde na neve. Anda por toda a Grã-Bretanha, mas também pela França, pela Alemanha, sempre a pé. E é feliz.
   Tempos finais, as fronteiras começavam a se fechar. Wordsworth se aterroriza com Londres: "Como podemos viver onde não sabemos os nomes de nossos vizinhos? Isso é impossível!!!" Bem-vindo à modernidade Wordsworth...
   O poema, longo, escrito na parte final de sua vida de 80 anos, narra sua vida. Infância, Oxford, viagens a pé. É uma obra-prima e é um prazer. Poema solto, sem rima e sem metro, quase prosa. Caça ao Sublime, acerta o alvo várias vezes.
   Tem de ler.

WHITMAN, O WALT PRIMEIRO

   Aprendi a ler poesia com Whitman. Até então, eu lia poemas como se lesse prosa. Com o mesmo tempo, o mesmo ritmo. Whitman me ensinou o tempo e o ritmo da leitura da poesia. Tempo poético. E então eu me encantei com seu ego. Tudo nele é ele e ele está em tudo. O poeta canta a América, a América é ele.
   Walt Whitman é masturbatório, e sim, alguns poemas são descrições cifradas da masturbação. A geografia do amor é a geografia de seu próprio corpo. Como ele fala, ele se basta.
   Nosso tempo nasceu não na primeira guerra mundial, ele nasce na construção da América e a América nasce na guerra civil. É a primeira guerra moderna, a primeira com jornalistas, metralhadora, tanques, máquinas; e ainda hoje há quem diga ter sido a pior. Walt estava lá, enfermeiro, viu a morte de perto e cantou. Soube ver o renascimento na dor.
   Seu estilo é o do pregador. O poeta sobe ao púlpito e prega aos crentes. Crentes que são americanos, de todas as Américas.
   A Europa jamais poderia ter um Whitman. Ele precisa de espaço, de virgindade, de começos. A Europa é pequena, é velha, está viciada.
   Wordsworth é a Inglaterra e Goethe a Alemanha. Dante é o mundo latino e Petrarca é a Itália. Pois Whitman é os EUA. Ele fala de um presente eterno, ele olha o futuro, ele deixa o passado. Ama o movimento, o ir-se, o individualismo, a coragem, a comunhão. Acima de tudo, ele se ama. Ele olha para si-mesmo e cai de paixão. Mas jamais uma paixão sofrida, ele a goza. Da folha de grama ao soldado que passa, tudo lhe é irmão, e tudo ele ama.
   Whitman teve uma visão e passou a vida inteira descrevendo-a. Reescrevia sua obra sem cessar. Mas desde 1855 sua palavra se afirmara. Um canto a si-mesmo que era um canto a todas as Américas. Todas as terras onde vivessem homens que amassem a democracia, onde as mulheres andassem a cavalo e soubessem atirar, onde os seres fossem camaradas. Onde os horizontes não tivessem fim.
   Os EUA acreditaram em Whitman até 1949. Depois disso, apenas beats e hippies e hoje os ecológicos tentaram manter viva a voz do poeta. Até pouco depois da segunda-guerra voce percebe em filmes e discos e livros americanos a voz de Whitman. A confiança absoluta na vida americana. Mas a partir da guerra da Coréia, da caça aos comunistas, voce começa a notar um desencanto, uma farsa, a América deixa de ser a terra do agora e do porvir e se torna a terra do medo e da nostalgia. Walt Disney e sua fantasia é o Walt desde então. Distração e diversão.
   Os homens que Whitman amou, os simples homens que sabiam atirar e plantar e caçar e domar e amar, esses se foram. As simples mulheres de Whitman, aquelas que eram como cavalos, essas se foram. A América endeusa esses homens e mulheres, porque sabe que eles jamais voltarão. E canta esses heróis no blues, no country, e nos westerns. O individuo que faz parte, o original que é nós-mesmos, o americano.
   Whitman me ensinou a ser eu-mesmo. A olhar o caminho e a cantar. Não é mais meu poeta favorito, mas a ele devo a entrada da poesia em minha vida. Viva Walt!

BEATS E BEATITUDES

Segundo Roberto Muggiati, Beat surgiu em "I Am Beat", Tou Ferrado. Mas a verdade é que o lance veio de BEATITUDE. O que eles queriam era alcançar um estado de beatitude via droga, sexo e jazz. Beat é também a batida do be bop de Charlie Parker, Bud Powell e Dizzy. Escrever palavras na velocidade supersônica do sax de Bird e do piano de Bud. Improvisar como um cara do jazz. Mas, surprise!, o autor favorito de Kerouac era Marcel Proust. E Proust nada improvisava. Mas ele era o mais Beatitude dos escribas.
Ler ON THE ROAD aos 17 anos. Quem não leu nessa idade não viveu. Eu andava na Paulista, fim de tarde de maio, com o livro na mão. A angústia do livro passava pra mim. Ele me fazia mal. Mas depois desse mal vinha a epifania-beatitude. Com o coração apertado eu via a luz na janela da mansão ( que foi derrubada a muito ) e sentia um anjo tocar minha boca. Nas escadas do Objetivo faziam ponto centenas de anjos.
Jack Kerouac ficou famoso entre os hippies dez anos depois de publicar seu livro. Mas ele não gostava de hippies. Então era amado por gente que ele desprezava. Jack era conservador. Morava com a mãe. E se mandava de casa por seis meses, pé na estrada, excessos e epifanias, e depois voltava pro sofá da mãe. Ele era como um cachorro no cio.
Eles eram apaixonados por Neal. Todos eles. O filme deve ter errado. Porque mulher em On The Road é nota de rodapé. Mas o velho produtor deve ter exigido: Bota a Kristen aí. Botou. O livro é fortemente gay. Sujo e fedido. Tosco e mal escrito. Se o filme for bem feito e clean...errou.
Na verdade o grande filme beat já foi feito. Foi NÃO ESTOU LÁ, a obra-prima sobre Bod Dylan. Roberto diz, e todo mundo sabe, que o herdeiro dos beats é Dylan. E Patti Smith, Lou Reed, Leonard Cohen. O Velvet Underground é uma banda beat.
Allen Ginsberg era o melhor deles, UIVO é bom. Ginsberg amava Dylan. Ele aparece ao fundo, de cajado e barba, no clip que postei. Será que Dylan dormiu com Allen? Bob é melhor que todos eles juntos. Lou também. Deviam dar o Nobel pra Dylan. Já foi cogitado. Faltou coragem. O poeta de uma era. Esta.
Walt Whitman foi o primeiro beat. E depois veio Rimbaud. CANTO A MIM MESMO....epifania. Eu devo ser um beat e não sei. Porque? porque escrevo tudo automaticamente, nunca releio, não faço um plano, improviso. E minha vida tem um único sentido, a busca incessante de momentos de beatitude. Seja em filmes, sons, memórias, livros, sonhos, caminhadas, contatos, o que busco e o que justifica minha vida é isso, epifanias.
Nada mais fora de moda. Não pode haver beatitude em frente a um PC. Ou não?
Eu pulava a janela de meu amigo Fernando e lá a gente desenhava e escrevia poesia. Depois ia pegar carona pra ir pra longe. E virava garrafas de vinho barato. Não havia um só plano de futuro. Não tínhamos um tostão. E nunca sabíamos ser felizes. A felicidade não era uma meta, era a liberdade.
Quem disse que ser feliz é o máximo da vida? O máximo é ser livre baby. E ser livre NÂO é uma felicidade. É uma beatitude.
Falei.

walt whitman

Ganhei de Marcos Vieira de Moraes, em 1991, meu exemplar de Folhas das folhas de relva. Marcos se foi com os anos, mas o livro permaneceu comigo para sempre. Lí Whitman debaixo de um forte sol de abril, sol de meio-dia e completamente apaixonado pela vida. Toda a vida.
Eu estava orgulhoso, saindo de um ano de tristeza insistente. Estava enamorado de mim mesmo ( e de Lú, a menina de lábios grossos e seios generosos ).
Feliz a nação que tem por poeta Walt Whitman. Ele fertiliza todos que o escutam, ele faz música em todo canto, ele é grego e cristão. Sua voz é a dos púlpitos protestantes, suas linhas são orações à vida. Ele absorve tudo. O dito lixo, e o dito luxo. A morte como parte da vida e a vida como destruidora da morte. Ele festeja tudo. Principalmente a solidão.
E nenhum país é mais solitário que a América. E nenhum canta mais sua própria história.
Walt antecipa Bob Dylan e o jazz, antecipa os hippies e os astronautas, antecipa Pollock e The Band. O cinema de Capra e de Ford.
Leio num livro francês, que nos últimos 3 séculos, nenhuma nação leu mais que a América. O americano levou para o novo mundo selvagem uma missão : a de fazer do inóspito o paraíso de Deus na Terra. Para isso levou livros : bíblias e almanaques. E passou a idolatrar a palavra impressa : constituição e jornais. Whitman é filho desse meio : sua palavra impressa é viva e fala com todos os homens e com Deus também.
Eu lí Walt olhnado meu cão que dormia ao sol. E me tornei esse cão.
E fui à faculdade onde conhecí surfistas que fumavam erva toda hora. Eu fui esse surfista.
E conhecí snobs dandys que se afetavam beleza. Fui esse dandy dos dandys.
E fui meu cão, nada pensando e sentindo o sol que cresce.
E o pedreiro que dorme a siesta entre marretadas e pigarros. Eu fui.
A atriz metida que se exibe no palco amador e o garanhão tolo que pensa ser irresistível. Fui.
Não escolho quem sou. Todos eles me vêem.
Fui Dumbo e Clint e O'Toole e Bruce e Popeye e Ferry e Kevin Arnold e Bundy.
Estive só entre prazeres definitivos e medos indizíveis.
Walt Whitman me ensinou a ser isso que sempre fui. Vida.
Estranha coincidencia a de Walt ter nascido no mesmo dia que Clint Eastwood. Ou o fato de Yeats, Pessoa, Lorca e Whitman serem todos geminianos lunáticos ( como Dylan ). Faz com que eu queira crer em astrologia... mas não. Posso citar aqueles que deveriam ser do signo de Whitman e não são : o leonino Shelley e o libriano Eliot.
Há uma foto de um jovem Whitman : dandy, camisa aberta e um chapéu. Ele foi bonito quando jovem, não foi sempre o papai-noel que nos querem fazer crer. Dois olhos desiguais- um muito suave, outro preocupado - me lembra Paul Gauguin -- esse Whitman frances, que falou como Walt pela pintura e encontrou sua América no Tahiti.
( Gauguin é geminiano ). Não se irrite: o poeta americano me traz de volta o mundo da astrologia.
O caminho das pessoas é normalmente da solidão para as pessoas... para tipos como Whitman a coisa é inversa... ele parte da multidão e caminha deliberadamente para a solidão. Tantas humanidades o habitam que ele requer recolhimento para as escutar. E dá voz a elas.
O poeta deveria ser a bíblia das escolas do mundo, o norte dos desesperos e o Freud dos doutores. Receitem Walt para desesperados !
Ele tem a fala de pastores metodistas. E Lincoln é possível apenas na sua terra.
Bem... não é meu poeta favorito- com o tempo me aproximei de Eliot e de Keats e deixei Yeats e Whitman para trás. Mas os dois, o americano e o irlandes me fazem feliz, me dão coragem, me recordam aquilo que a vida de fato é, e aquilo que eu sou.
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Andando por Pinheiros e vendo prédios sendo derrubados pelo novo metrô : sou o novo metrô e sou o mofado prédio que cai.
E olhe aquela multidão de camelôs entrincheirados em sua guerra contra a legalidade : sou tanto o vendedor de quinquilharia quanto o fiscal decidido ou vendido.
O almofadinha que exibe sua roupa cheirosa e seu óculos Gucci e o bombado que mostra suas suspeitas linhas curvilineas : eu me vejo e me aproximo dos dois- tenho-os em mim.
E o gato no telhado imóvel e aquele pássaro que ninguém notou piar: eu notei. Era eu.
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Portanto
quando estiver com voce, serei voce
e quando estiver longe de voce, não mais o serei
e voce então não me reconheceria.
Sou um outro. Sempre. ( e Rimbaud era escorpião ).
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Eu disse que amava o filme O Atalante- o poeta está nele.
E está em todo lugar.