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GODS AND ROBOTS - ADRIENNE MAYOR. ROCK, GRÉCIA, ROBOTS E ESPADAS

É um belo livro. Ilustrado, bem documentado, escrito de modo claro. A autora fala sobre a existência, desde sempre, do desejo humano de se criar vida, seja um robot mecânico, seja um composto químico. Para exemplificar e deixar isso claro, ela conta dezenas de histórias antigas, sobretudo gregas, comparando-as com fatos e histórias contemporâneas. ------------- Quando leio um livro cheio de boas informações, tento desenvolver algo que o autor deixou meio que de lado. Não é exatamente que ele tenha desprezado tal informação, mas sim que não tenha desenvolvido a fundo. Pois não vale a pena falar mais sobre algo que está tão bem escrito na obra citada. Mayor fala, e bem, das histórias de Medea, Jasão, Prometeu...e deixa para mim o breve toque en passant que ela dá sobre o valor da vida humana. Deuses são imortais e por isso não sentem medo. Portanto sua coragem inexiste. Não há coragem na existência de quem sabe ser imortal. E portanto não há reflexão. Deuses são sempre os mesmos, são incapazes de aprender. Quando Odisseus tem a chance de ser eterno ele escolhe continuar mortal. Por amor a sua terra, por amor a sua esposa e por amor a sua memória. Sendo imortal ele perderia a memória e sem memória perderia o poder de amar. Sábios como sempre, os gregos perceberam que sem a morte não é possível reter nada em nossa mente, pois guardamos aquilo que podemos perder, e sem o medo de morrer não amamos, pois o amor é alimentado pelo risco da perda. MARAVILHOSAMENTE esta é a base de toda nossa mente: tempo que se perde, vida que se esvai, medo e coragem. Sem isso não somos humanos. ------------- A questão ética central do mundo antigo, mundo guerreiro, é a coragem. O que vale mais: uma vida longa e sem legado, ou uma vida curta e com memória? O legado é a lembrança que os vivos terão de nós. A vida só vale a pena se ao morrer deixarmos algo para ser recordado. Por isso nada poderia ser mais belo que morrer saudável, forte, jovem, pleno de vigor, na luta pela vida: a guerra. Ou uma aventura, viagem, saga. Morrer velho, doente, se arrastando pelas ruas, sem amigos, sem despertar amor, sem desejos seria o pior inferno possível. O medo de morrer, presente 24 horas por dia, era vencido pela glória. Pelo orgulho em ter coragem. A vida eterna era a vida bem vivida. ------------- Havia outra opção bem mais rara, a vida do estoico. Ao envelhecer viver na contemplação da natureza, longe dos homens, em perambulação. Nada da ideia de monge budista aqui. Não se procurava iluminação alguma aqui. O que se queria era não perder o vigor e não passar pela vergonha da perda de virilidade. Desenvolvia-se a força da mente como um tipo de coragem racional. A palavra coragem permeia toda vida antiga. ------------- Hoje tentamos viver o máximo de tempo possível, não importa como. Avaros, mesquinhos, não queremos sair do palco jamais. Vivemos não para ter coragem, mas vivemos para viver mais tempo. A vida não é mais um meio, é um bem em si mesmo. Acumulamos tempo para ter mais tempo. Não sabemos o que fazer com ele. Temos caixas fortes, cofres cheios de saúde e de tempo. A coragem é hoje um mal. --------------------- Penso no lema moderno Die Young Stay Pretty, lema rocknroll e beatnick, lema que vem direto da Grécia. Mas ao contrário dos helenos, esse lema leva o jovem mortal à doença das drogas, ao envelhecimento precoce, ao desespero. Um suicida do rock seria em 500AC um guerreiro sem freio. Não é dificil imaginar Kurt Cobain morrendo no campo de Marte, aos gritos de fúria, espada na mão, caindo com a cabeça decepada e sendo lembrado por milênios. Ou voce acha que no rock mais furioso a guitarra tem qual função simbólica? Ela não é uma lira, ela é uma espada. -------------- Quando vejo alguém como o dono do Facebook, criando a Meta, uma empresa para criar um Meta Universo, um mundo virtual sem morte ou dor, o que vejo é um covarde incapaz de lidar com a realidade. Esse milionário seria uma vergonha no mundo clássico. Voltarei ao tema.