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JOHANNES BRAHMS

Reza a lenda que na saída de emergência do Metropolitan de NY, havia uma placa onde se lia: Em caso de Brahms, saída. ------------ Para Johannes Brahms não há meio termo: ou voce não consegue o escutar ou se encanta com sua música discreta. Um dos compositores mais famosos do mundo, ele chegou a ser chamado de novo Bach e novo Beethoven. Hoje tem uma sólida posição na história. É o mais respeitado após Bach, Mozart, Haydn e Beethoven. --------------- Mas continua a ser chamado de chato e muita gente adormece em seus concertos. Por que? Não é dificil responder. Por ser discreto, o anti Wagner, o anti Tchaikovski, Brahms exige atenção, completa a focada atenção. Se voce o escutar com 70 ou mesmo 80% de sua atenção, tudo que voce irá perceber é uma massa de violinos e de sons que nunca se afirmam. Enquanto Wagner pega uma melodia e a berra em seus ouvidos, enquanto Tchaikovski passa meia hora chorando sem parar, Brahms apenas sussurra a melodia e quando triste, deixa que voce perceba isso. Brahms é portanto um aristocrata. Ele não se dá de barato. Mas esse anti-apelo não é aquele do modernismo, em que se faz uma obra hermética para afugentar os filisteus, não, Brahms tem pudor, tem elegância, nunca e jamais exige qualquer coisa de voce. -------------- Ouço a quarta sinfonia com a Filarmônica de Viena, regente Bernstein. Nos momentos em que consigo me concentrar, sou filho de meu tempo, concentração é capacidade de poucos, percebo a riqueza melódica de Brahms. Em meio a uma massa sonora oceânica, irrompe a melodia que logo se vai. Não são ondas sonoras, são correntes submarinas. Quando me distraio com um pensamento, pronto, perco a corrente e passo a divagar em meio ao mar de acordes discretos. Brahms é sempre discreto. ------ Não, não me apaixonei por Brahms, não dessa vez. Mas também não o desprezo como um chato. Há nele algo que não capturei ainda. Um apelo secreto. Em oposição a Wagner, que nos joga tudo na cara, ele esconde as cartas e espera que as revelemos.

LISZT E O AUTÊNTICO ROMÂNTICO

Chorar não é um ato romântico. Liszt nunca é choroso. Acabo de reouvir o concerto número um para piano e orquestra de Franz Liszt. Versão soberba com Richter, Um pouco mais rápida do que eu costumava conhecer. Trevas. Aqui a música, rica, varia entre as trevas da maldição e a melancolia da vida danada. É um concerto mágico. ------------------ Franz Liszt foi o primeiro artista da história a ter seu nome ligado à expressão MANIA. Era a Lisztomania. Sim, os Beatles usaram o nome cem anos depois. Liszt era o homem mais famoso do mundo e era seguido por fãs, jornalistas, reis e plebeus, fosse onde fosse. Em seus concertos as meninas berravam e molhavam suas saias. Invadiam o palco para lhe jogar flores. Ele podia ter a mulher que quisesse, e as teve. centenas. O mito se fez: Liszt tinha um pacto com o demônio. Liszt tocava tão bem por ter vendido a alma ao diabo. Liszt não era deste mundo. Artistas do futuro usariam todos esses slogans também. --------------------------- A verdade é que ele se interessava sim, por magia negra e tudo que envolvesse mistérios proibidos. Era um romântico, o mundo normal não lhe satisfazia. Jamais. Porém, e é aí que entra seu lado mais complexo, quando jovem Franz estudara para ser padre católico ( Liszt era húngaro, Franz era na verdade Férenc ). Ao fim de sua longa vida, ele iria se isolar e retornar à religião. Liszt morreria aos 75 anos como abade. ---------------------- Sua música influenciou Wagner. Os dois foram amigos, mas Liszt logo se afastaria. Ele não suportou o mal caratismo do alemão. Como todo romântico, para Liszt a arte é a expressão de seu eu individual. Mas, felizmente, ao contrário de Tchaikovski, o eu de Liszt é interessante. E nada choroso. Em sua música há sempre algo do brilho furioso dos eslavos. Sua melancolia é altiva e ativa e sua alegria é eufórica. Ele foi o primeiro compositor clássico que admirei. Este concerto é uma bela porta de entrada para este mundo.

TCHAIKOVSKI, VIVALDI, RAVEL E A CARMEN

No tempo em que ainda se consumia regularmente discos de música clássica, pessoas que hoje seriam chamadas de poser, exibiam em seus racks, LPs lustrosos das Quatro Estações de Vivaldi, do Bolero de Ravel, da Carmen de Bizet e talvez um Beethoven. Mas diriam, com aquele ar sonhador de pessoa sensível, que Tchaikovski era seu favorito. Vejam só... logo o velho Piotr Ilytch T. ---------------------------- A música de Tchaikovski é insuportável. Tudo nele é mel. Voce ouve uma melodia cheia de auto piedade, chorosa, e pensa: Deus, que porcaria!, mas Piotr Ilytch é sensível não é?, então o que ele faz? Derrama ainda mais mel, mais pétalas de rosas e transforma o que é ruim numa insuportável sacarose. A sinfonia conhecida como Patética, mesmo em versões das melhores orquestras, é de uma pobreza atroz. É música de cinema. A música de cinema padrão, aquela que exige emoções à forceps, tem sua origem aqui. Tento ouvir, faço força para aguentar, mas não consigo!!!!! São montes de violinos chorosos, tudo afirmando e reafirmando: Eu, Tchaikovski, sofro!!!! Oh!!!!! Como eu sofro!!!!!!--------------------------------------- Sua música para ballet é ainda pior. Mas essa eu nem tento ouvir. A abertura 1812 é medíocre. Salva-se, devo confessar, seu hiper famoso concerto para piano. A orquestração é banal, mas esse concerto dá a chance a que um grande pianista se exiba, e se ele for bom, irá se exibir e brilhar. ------------------------- Por que Piotr Ilytch Tchaikovski agradava tanto? Well....ele é romantico. Mas não o romantico tipo Schumann ou Wagner, o romantico satânico, que é feroz, que anda no limite; ele é romantico tipo ramalhete de flores, lençois de cetim, lágrimas de amor, ele é o romantismo que todo mundo conhece e se sente confortável dentro. Esse o segredo, Tchaikovski é confortável. Mas não pra mim! Ele me irrita. --------------------------------- Por fim, uma dica: Para pessoas que como eu, não entendem muito de música, mas querem aproveitar o que há de melhor, prestem atenção no que um compositor coloca no fundo da orquestra, no que ele harmoniza. Quando digo que Tchaikovski é pobre, digo isso porque ao fundo dos violinos melados não há nada. Toda a orquestra toca a mesma melodia exagerada. No máximo um metal dando uma leve harmonizada. É música fácil, sem segredos, exposta, simplória. Quando voce ouve Beethoven, nota que ao fundo da melodia principal, há um tecido de acordes, e notas, e harmonizações que não se esgotam. Tchaikovski, como acontece na música POP, tem uma melodia, e tudo é apenas essa melodia. Se ela for boa, como acontece na melhor POP Music, voce adora, desde que ela não dure mais de 3 minutos, porém, se ela for ruim, voce a descarta em dois segundos. Música clássica não é assim. Tchaikovski é. E como suas melodias são o mais ridículo acúmulo de lágrimas e açúcar que já ouvi, eu o descarto. ------------------------- Citei no título Vivaldi, Ravel e Bizet....eles são bons.