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PORQUE SOME LIKE IT HOT NÃO É A MELHOR COMÉDIA DA HISTÓRIA

   QUANTO MAIS QUENTE MELHOR costuma ser sempre chamado de a melhor comédia já feita. É uma escolha automática, como dizer que Sgt Peppers é o melhor disco ou que Bob Dylan é o melhor letrista. Revejo o filme de Billy Wilder e não dou uma só risada. OK. Há comédias maravilhosas, como Levada Da Breca que não nos fazem rir. Melhor que isso, elas nos deixam felizes. E as assistimos com um sorriso na boca. Então confesso, sorri vendo Some Like It Hot. Mas não foi um grande sorriso. Há algo de errado no filme. O que?
  Jack Lemmon é provavelmente o melhor ator que Hollywood viu. Vencedor de 3 Oscars, ele era genial em drama e em comédia. E aqui ele tem mais um de seus hiper grandes momentos. Se voce olhar para ele durante todo o filme voce vai ficar estarrecido. As caras e trejeitos que ele faz travestido, o modo como ele começa a gostar de ser mulher, são de uma sedução de gênio. Jack Lemmon se delicia fazendo seu papel e nos delicia generosamente. Voz e corpo em absoluto domínio, ele chega ao pico dos atores. Até mesmo o dedão do pé está atuando. Não há um microssegundo de folga. Jack é um ator total.
  Tony Curtis não faz feio. Mais que isso, está bem. O simples fato de não ser engolido por Jack é já um mérito. Os dois casam bem. Tony é bonito e Jack é sem graça. Tony é sério e Jack é doido. Tony imita Cary Grant. Jack é Billy Wilder como ator. Falemos de Billy.
  A direção é veloz, os coadjuvantes são brilhantes e o roteiro é rico em reviravoltas. As falas são ótimas. Então onde o erro que me incomoda?
  Marilyn, claro. Billy odiava trabalhar com ela. MM era irresponsável e Billy amava o profissionalismo. Mas Wilder a aceitava pois dizia que o resultado compensava. Hummm....pois eu digo que MM estraga o filme. Ela não tem a verve para segurar o papel. Está ausente, aérea, e passa todo o filme me dando pena. Fica obvio que Billy a usa como espantalho. Ela é exposta em vestidos justos e transparentes que ressaltam sua falta de forma física. Sinto-a quase humilhada. Entenda, o filme não é machista. Tem até uma fala feminista de Jack Lemmon ao ser assediado no elevador. Mas MM é como um peso. Tony e Jack estão leves e felizes, então surge MM...e a comédia trava.
  Após a morte de MM tornou-se moda dizer que ela era boa atriz e mulher inteligente. Sinto, não era. SOME LIKE IT HOT é a prova de que MM era apenas uma estrela perdida. O filme precisava de uma comediante a altura de Jack. Os produtores escalaram uma loira em crise eterna. DUCK SOUP é a maior comédia da história.
  Sorry Jack.

ALAIN DELON/ CARY GRANT/ HAWKS/ DORIS DAY/ ANNE BANCROFT/ SPENCER TRACY/ AL PACINO

   O INVENTOR DA MOCIDADE ( Monkey Business ) de Howard Hawks com Cary Grant, Ginger Rogers, Charles Coburn e Marilyn Monroe.
É o primeiro fracasso de bilheteria de Hawks e um dos raros de Cary. Hawks vinha de 15 anos seguidos de sucessos quando resolveu fazer na Fox este roteiro de Lederer e Diamond. Os dois são roteiristas que trabalharam com Billy Wilder, e isso explica muito sobre o filme. O humor tem a grossura despudorada de Billy. Não tem o estilo humanista de Hawks. De qualquer modo o filme é tão louco que diverte, além do que o elenco é sensacional. Cary é um cientista que tenta criar a fórmula do rejuvenescimento. Um macaco cobaia mistura elementos e Cary bebe aquilo sem querer. Súbito ele volta aos 19 anos. Passa a ter o comportamento de um teen. Ginger é a esposa, que acaba por voltar aos 14 anos. Monroe faz uma secretária e este é dos seus primeiros papeis importantes. Ainda gordinha, ela é tremendamente sensual. O final, com Cary voltando aos 7 anos e amarrando um adulto na árvore para tirar seu escalpo é uma mistura de hilariedade com o incômodo do excesso de ridiculo. O filme se equilibra o tempo todo nesse fio, de um lado uma soberba alegria, de outro o ridiculo. As cenas com Ginger passam todas do ponto. Cary mantém a elegância. Um grande ator! Quer saber? Após seu encerramento deu vontade de ver outra vez. Nota 7.
   CARÍCIAS DE LUXO de Delbert Mann com Cary Grant, Doris Day e Gig Young.
Doris é a super-virgem. Desempregada, ela conhece o super rico Cary Grant. Ele tenta a seduzir com dinheiro. E consegue! Mas ela é virgem e defende sua honra. Bem, não poderia haver tema mais antigo. Imagino um cara de 15 anos vendo isso! Belos cenários e um Gig Young hilário como um paciente de um freudiano, não conseguem salvar o filme. Cary parece desinteressado, entediado ( este era o tempo em que ele descobria o LSD ). Nunca ninguém, naquela época, percebeu como Doris era sexy? A voz dela é de erguer defunto! Nota 4.
   STANLEY AND LIVINGSTONE de Henry King com Spencer Tracy, Walter Brennan e Cedric Hardwicke.
As convenções do filme de aventuras foram criadas por 3 grandes aventureiros da vida real: Raoul Walsh, Howard Hawks e Henry King. Todas as técnicas criadas pelos 3 são usadas até hoje. Pode-se enfeitar um filme o colocando no espaço, em outra dimensão ou fazer do mal o bem, mas o esquema é exatamente o mesmo. Aqui temos um dos melhores exemplos. Feito em 1939, o filme mostra Stanley, feito por um brilhante Spencer Tracy, partindo para a África desconhecida, em 1870, atrás do paradeiro de Livingstone. Em hora e meia o filme, com ritmo, tem um pouco de tudo: exploração do desconhecido, humor com o amigo do heróis, encontros inesperados, suspense e depois a edificação e o crescimento do herói. Ele retorna à sua terra como um homem melhor. Até uma cena de tribunal temos. Henry King foi um grande diretor. E como ser de seu tempo, dirigiu de tudo, westerns, comédias, dramas e musicais. Nota 8.
   O RIO DA AVENTURA de Howard Hawks com Kirk Douglas e Arthur Hunnicut.
O dvd tem belos extras. A voz do velho Kirk falando do filme, fotos de Michael Douglas aos 6 anos visitando o pai no set e Todd MacCarthy, um dos melhores críticos, falando do filme. Mas, surpeendentemente, a imagem não foi refeita e a foto está em mal estado. Feito em 1952, é o segundo maior fracasso da carreira de Hawks. O público da época estranhou esta aventura lenta, calma, primeira experiência do estilo Hawks de filmagem, que seria mais bem desenvolvida nos filmes seguintes. Como é esse estilo? Focar nos personagens e não na ação. Veja: aqui temos Kirk como um aventureiro no Oeste que vai com um grupo à procura de peles em terras inexploradas. Sobem o rio e encontram aventuras. Muitas. Mas todo interesse do filme é mostrar o cotidiano, o dia a dia, a personalidade de Kirk e de seus companheiros ( dentre eles um excelente Hunnicut fazendo um velho do mato ). Desse modo a sensação que fica é de pouca ação e de muito papo furado, o tal estilo Hawks. MacCarthy descreve bem, achamos o filme falho, mas quando termina queremos mais. Acabamos por gostar daquelas pessoas e desejamos sua companhia. É isso que acontece com os bons filmes de Hawks, o mais discreto dos mestres. O filme tem falhas sim, mas a gente acaba querendo mais. Nota 8.
   MOMENTO DE DECISÃO de Herbert Ross com Shirley MacLaine, Anne Bancroft, Tom Skerrit, Mychail Baryshnikov, Leslie Browne.
Este filme de 1977 tem um recorde. Junto com A Cor Púrpura, é o maior perdedor da história do Oscar. Foram 11 indicações e nenhum prêmio. Na época era moda falar mal dele. Ou melhor, os críticos o detestaram, o público adorou. Hoje a situação é a mesma. Não virou cult. Conta a história do reencontro de duas mulheres de meia idade. Amigas antigas, as duas foram grandes bailarinas. Uma largou tudo ao ficar grávida. A outra persistiu e se tornou estrela em NY. No reencontro se faz o balanço, a briga, a reconciliação. Eu adorei o filme. Assisti sem a menor expectativa e gostei muito. Me emocionei. Ele mostra com sagacidade a questão da idade, da fama e da solidão. E Anne está soberba! A diva é sempre humana, e a mulher é uma diva. A cena da briga entre ela e Shirley foi homenageada em Dancin Days, a novela. Gilberto Braga é um grande fã do filme. A fotografia de Robert Surtees impressiona muito. E vemos a estréia da super estrela e do sex symbol da época, Baryshnikov. Foi indicado a coadjuvante! Faz um bailarino hetero e playboy. Bom. Vemos Marcia Haydée nas cenas de dança, em seu auge como bailarina. Um lindo filme que teve o azar de concorrer nos ano de Annie Hall, Julia e Star Wars. Nota 8.
   UM MOMENTO, UMA VIDA ( Bobby Deerfield ) de Sidney Pollack com Al Pacino e Marthe Keller.
Assisti este filme no cine Astor, em 1978. Senti um profundo tédio. Revendo agora, senti um profundo desgosto. É o pior filme de Pollack, isso é aceito por todos, mas é também o pior de Pacino, e olhe que Pacino fez muito filme ruim. Uma sopa melosa e lenta, metida à filme de arte, sobre um famoso piloto da Fórmula 1. Ele perdeu suas raízes, virou um tipo de robot arrogante. Ao visitar um piloto acidentado na Suiça, conhece uma italiana doidinha que está morrendo...O filme evita o drama e vira um vazio. Tudo é seco e lento. Argh. Vemos James Hunt, Pace e Depailler nas cenas de corrida....que duram cinco minutos!!! Uma enganação...fuja! PS: Keller era um alemã que tinha corpo e rosto, bonito, de Valkiria. Como acreditar que frau Keller é uma italiana maluca????? Aff....ZERO!
   O SOL POR TESTEMUNHA de René Clement com Alain Delon, Maurice Ronet e Marie Laforet
Simplesmente o filme mais chique já feito. Itália em 1960 alcançou um nível de elegância sem ostentação que transparece em cada segundo do filme. Ronet descalço e sem camisa, parece o mais chique dos homens. Delon, com terno claro, com dock sides, com polo, sempre parece modelo da Vogue. Mas, eis o charme, tudo sem formalidade, sem afetação, com certo desleixo. Foi o auge do estilo mediterrâneo, que todos procuram e quase ninguém o revive. Clement consegue, ao seguir o livro de Patricia Highsmith, fazer um filme à altura de suas imagens. Ele é lindo e tem muito suspense. Gostamos de canalha Delon. O ator se confunde com o tipo. Houve ator mais diabólico e bonito? A refilmagem de 1999, de Minghella, colocou Matt Damon como Delon...aff!!! Jude Law era Maurice Ronet. O que era chique virou novo rico, parecia formal e Damon era um teen vestido de adulto. Aqui não! Até a carteira de Delon parece elegante! E temos o final, um dos mais inesperados da história. Um grande filme e um super sucesso de bilheteria. DEZ!!!!!!

MASTROIANNI/ SEAN PENN/ MARILYN/ GERMI/ RENOIR/ JACQUES TATI

   QUINTETO IRREVERENTE de Mario Monicelli com Ugo Tognazzi, Philippe Noiret, Gastone Moschin
Delicioso! É a continuação de Amici Mei, sucesso feito sete anos antes. Os velhos amigos continuam aprontando suas pegadinhas de adolescentes eternos. Monicelli tinha o segredo da comédia. O filme é feliz. Se voce tem amigos antigos irá se identificar com algumas situações. Maravilhoso tempo de comédias adultas. Comédias que falam de coisas sérias sem jamais parecerem forçadas. Tognazzi dá um de seus shows habituais. É um filme que mostra a alma masculina de forma bem verdadeira. Nota 7.
   A VALSA DOS TOUREIROS de John Guillermin com Peter Sellers
Um dos vários desastres que Sellers estrelou. Tudo dá errado inclusive ele. Zero. PS Eu adoro Sellers.
   O SACI de Rodolfo Nanni
Uma raridade ( que com o dvd deixou de o ser ). É o primeiro filme infantil feito no Brasil. Conta o episódio do Saci no Sitio do Pica Pau Amarelo. Simples, bem feito, tem um gosto de nostalgia, de pé no chão. Ele captura maravilhosamente a infância como ela é. Ou era? Nanni virou professor de cinema na FAAP. Há uma boa entrevista com ele feita em 2006. Nota 6.
   O PRÍNCIPE ENCANTADO de Laurence Olivier com Marilyn Monroe e Laurence Olivier
Este é o filme cujos bastidores foram dramatizados em 2011 no filme que deu indicação ao Oscar para Michelle Williams. Aqui vemos Monroe como uma corista que é convidada por duque do leste europeu para jantar na embaixada. Os dois não combinam, se agridem, e quase se apaixonam ao final. Esse fim não é doce demais, chega a ser azedo. Olivier tem seu filme roubado por Marilyn que está muito inspirada. Ela entra em cena e o filme é só ela. Olivier se exercita em um de seus prazeres: inventar sotaques. Peça de Rattigan que aqui se deixa ver com prazer. Para quem gosta de Marilyn ou de coisas very british é obrigatório. Nota 6.
   DOIS VIGARISTAS EM NOVA YORK de Mark Rydell com James Caan, Diane Keaton, Elliot Gould e Michael Caine.
Poderia ser ótimo, mas tudo falha. Porque? Os personagens são mal escritos. Caan e Gould, no auge da fama, são dois malandros atrapalhados que tentam dar um golpe em Caine, o maior malandro da América. Keaton faz seu tipo habitual, uma feminista histérica. Caine está bem, faz um super star do roubo. Quando o excelente Golpe de Mestre ganhou um monte de Oscars e dinheiro em 1973, uma fila de produtores se formou. Todos queriam fazer o seu Golpe de Mestre. Este é um deles. Nota 1.
   DIVÓRCIO À ITALIANA de Pietro Germi com Marcello Mastroianni, Daniela Rocca e Stefania Sandrelli
Como é bom ver Marcello!!! Aqui ele é um siciliano, nobre decadente, que é casado com repulsiva esposa melosa. Ele se apaixona por sua jovem prima e vizinha. O filme, dirigido pelo expert Germi, é cheio de cortes abruptos, frases ferinas e varia entre o humor amargo e cenas patéticas. Marcello tem uma de suas grandes atuações. Seu tipo, de bigodinho fino, cabelo empastado, ansioso de desejo, atrapalhado, é inesquecível. Uma obra-prima de criação e de estilo de interpretar. Mas o filme é muito mais. Temos a trilha sonora de Rustichelli e um roteiro brilhante que foi indicado ao Oscar ( e na época era muito raro indicarem qualquer coisa não anglo-americana ). Nota 9.
   A REGRA DO JOGO de Jean Renoir com Gaston Modot e Marcel Dalio
O revejo para celebrar a lista da Sound and Sight em que ele é o quarto melhor filme. Tenho uma relação complicada com este filme. Quando o vi pela primeira vez não gostei. Na segunda vez eu gostei um pouco. Agora foi a terceira. E finalmente entendo onde está seu gigantismo. Vemos um aviador que quebra um recorde mundial. Logo o tema muda, é a relação de um casal muito rico que se trai amoralmente. Então vamos ao campo e o tema se torna uma caça aos coelhos. Mas surge um malandro e agora o foco é nos amores desse malandro com uma empregada casada. Vem então o tema da vingança e nessa altura já não sabemos do que trata o filme e esquecemos do tal piloto de avião. E é isso: o filme é o primeiro a não ter personagem central, tema ou enredo. Não tem hierarquia, não tem foco, nem moralidade. É absolutamente livre. Influência gigantesca sobre o cinema feito após 1960 ( que é quando ele é descoberto. Em seu tempo ninguém deu bola pra ele ). Sempre que voce assistir um filme com dúzias de personagens com histórias entrelaçadas e sem qualquer sentido de objetivo central, saiba, o diretor tem este filme como cartilha. Nota 9.
   AS FÉRIAS DE MONSIEUR HULOT de Jacques Tati
Falar o que? Nada acontece neste filme, mas e daí? Queremos que esse nada jamais termine. O que amamos é ver Hulot, ver aquela praia e conviver com aqueles personagens. Este filme, ainda hoje hiper original, é um dos mais prazerosos filmes já feitos. Tudo aqui é felicidade. Hulot vai passar férias na praia, e nós vamos com ele. É um dos mais amados filmes do cinema. Eu realmente o irei rever por toda a vida.. Nota MIL.
   AQUI É O MEU LUGAR de Paolo Sorrentino com Sean Penn, Frances McDormand e David Byrne
Sobre um astro dark do rock dos anos 80 perdido no mundo de hoje. Penn está ótimo. Ele faz uma mistura de Ozzy com Robert Smith e algo de Edward Mãos de Tesoura velho. Mas o filme é um lixo insuportável. A trilha sonora, fraca, é de David Byrne e ele aparece como ele-mesmo, um tipo de grã-mestre da arte...Como se pode fazer um filme tão boçal, morto, flácido, tolo, sem porque? Como pode algum crítico o elogiar? Arghhhhh!!!!!
  

PAYNE/ KEN RUSSELL/ JAMES STEWART/ JOHN WAYNE/ CORMAN/ LAURENCE OLIVIER/ MARILYN

   SIDEWAYS de Alexander Payne com Paul Giamamtti e Thomas Haden Church
Podem me xingar á vontade: não gosto de Paul Giamatti. Ele tem cara de quem está prestes a vomitar e esse enjôo passa pra mim. E quando não me faz sentir náuseas ele me faz dormir. O filme poderia ser bem melhor sem ele. Em compensação, gosto de Church. Merecia melhor carreira. Desde a tv que o acompanho. O filme é o mais fraco de Payne, dos poucos diretores atuais que não confunde arte com nojeira. Seu melhor filme ainda é ELEIÇÃO. Aqui é a história de amigos que partem para uma viagem atrás de vinhos. Encontram amor ( claro, é Hollywood ). Nota 5
   DELÍRIO DE AMOR de Ken Russell com Richard Chamberlain e Glenda Jackson
Eu estava meio sem pique com cinema e a revisão deste filme me fez voltar a sentir a paixão pela tela. Ken Russell nunca fez ou tentou fazer "bom cinema". Seu interesse era o carnaval. Temos aqui Tchaikovski como um gay que insiste em tentar ser hetero. E ele sofre como um São Sebastião  do pau oco. O filme, com uma foto espetacular de Douglas Slocombe, tem aquele exagero de cor e de movimento que é o estilo sem pudor de Russell. Glenda Jackson, estrela de gênio, se expõe numa patética cena de sexo. Nós não sabemos se é pra rir ou pra chorar...adoramos e nos divertimos à farta. Russell sacrifica verossimilhança ou sobriedade por cenas de furor e frenesi. O filme é um tipo de "Russia em Nilópolis by Joãozinho Trinta". Nada tem de real ou de simbólico, é somente imagem e som. Odiado em seu tempo, fracasso de público, hoje, em tempos menos exigentes, está reabilitado. Quando o assisti na tv em 1978 mudou minha vida. Lembro que pensei: "Cinema pode ser assim? " Falseando a vida e o cinema Ken Russell nos dá prazer. Escrevi critica sobre este filme abaixo, procure. Nota 8.
   O VÔO DO FÊNIX de Robert Aldrich com James Stewart, Richard Attenborough, Peter Finch, Ernest Borgnine e George Kennedy
Um grupo de soldados de várias partes do mundo, viajando de avião sobre o Sahara, se vê preso no deserto quando o avião sofre pane. O que vemos é o conflito entre esses homens em desespero. Stewart faz um muito antipático piloto americano, que tem preconceito contra um engenheiro alemão. Finch é um rigido comandante inglês. Aldrich, como disse Inácio Araújo esta semana, é um excelente diretor. Um cineasta que sabia criar conflito, drama, tensão e que era dono de um estilo nada afetado, viril. É dele o genial THE DIRTY DOZEN. Precisa dizer mais o que? Este filme foi refeito a dois anos com Dennis Quaid no lugar de Stewart. James Stewart rouba o filme, ele é ao mesmo tempo ruim, covarde, turrão e determinado. Belo filme. Nota 7.
   O CASTELO ASSOMBRADO de Roger Corman com Vincent Price e Debra Paget
Todos sabem que Corman foi o diretor classe B que sabia fazer filmes decentes com um nada de recursos. Mas o que lhe garantiu a memória é o fato de ter sido ele quem ajudou Coppolla, Bogdanovich e De Palma em seus começos. Aqui temos um filme que usa contos de Poe e de Lovecraft. É sobre um herdeiro que ao visitar o castelo abandonado da familia se vê possuído pelo fantasma de seu tataravô, um feiticeiro que foi queimado. Filmes de terror são os que envelhecem mais rápido. O que pode mantê-los vivos é seu clima e seu engenho, o medo logo se vai. Este tem algum clima de "nevoeiro com túmulos".... Price nasceu pra fazer esse tipo de canastrão do mal. Nota 4
   O CÉU MANDOU ALGUÉM de John Ford com John Wayne, Pedro Armendariz e Harry Carey Jr.
Ford ia pro deserto do Arizona. Ia com seus amigos acampar. E por acaso esses amigos eram atores e técnicos de cinema. Então ele aproveitava e fazia filmes por lá. Simples assim. Afetação zero. Este fala de 3 ladrões de banco que ao fugir pelo deserto encontram um bebê em caravana que foi dizimada. Se tornam os padrinhos desse bebê. Wayne é um dos ladrões e aqui ele mostra mais uma vez o grande ator que foi. Passa da maldade para a falta de jeito, do humor ao drama sem qualquer esforço aparente. O filme, cheio de areia, vento e muito sol faz com que nos sintamos parte do ambiente. Simples, puro, é exemplo do dominio absoluto de Ford sobre sua arte. Nota 7
   UM HOMEM CHAMADO CAVALO de Ellot Silverstein com Richard Harris
Um inglês que está caçando nos EUA de 1830 é capturado pelos sioux. Tratado com imensa crueldade, ele vai sobrevivendo e se impondo na ordem social da tribo. O filme, que é hoje um cult e que em seu tempo foi tratado como lixo, tem dois méritos: mostra a cultura do sioux sem romantizar e é ao mesmo tempo uma simples e ritmada diversão. O indio é mostrado aqui como ele era. Nada de nobre, nada de bandido. Eles possuem uma regra geral: só o que provém da dor tem valor. A vida só nasce pela dor, voce só cresce pela dor. Então o que vemos são várias cenas de auto-mutilação, sangue e a impressionante cerimônia do sol. Silverstein não está a altura de seu roteiro, dirige de forma conservadora. Mas é um filme invulgar, feito em momento ( 1971 ) de plena coragem no cinema popular. Nota 7
   SETE DIAS COM MARILYN de Simon Curtis com Michelle Williams, Kenneth Branagh e Judi Dench
Em 1955 Monroe foi a Londres filmar com o maior ator do século, Laurence Olivier. Olivier estava otimista com o filme que ele dirigiria e interpretaria, mas a experiência foi um desastre. Ele fazia parte da velha tradição inglesa de atuar, a tradição do "Vá lá e faça"; já Marilyn seguia o estilo novo, de New York, o estilo em que o ator deve se sentir o personagem, compreendê-lo, entender sua motivação. O choque se fez. A estrela falta a filmagens, se atrasa, se droga, esquece as falas. Mas ao final, em bela cena, Olivier diz que ela é uma grande estrela, nasceu para a tela, faz com que ele pareça pequeno. O filme concorreu a Oscars em 2012, perdeu todos. Michelle está ok. Frágil, confusa, cercada por bando de puxa-sacos e de pseudo intelectuais. O filme condena Arthur Miller. Já Branagh dá um show. Sua voz lembra muito a de Olivier e seus trejeitos são homenagem ao gênio de Laurence. Único senão: Olivier era bonito, Ken não. O filme cresce com sua presença. Judi Dench faz Sybil Thorndike, grande atriz que estava na filme e que entendeu Monroe. Aliás, para cinéfilos há a emoção de ver a recriação dos estúdios Pinewood e até colocaram um ator para fazer o grande Jack Cardiff, diretor de fotografia soberbo. Na vida real o filme que resultou foi responsável pelo fim das ilusões de Olivier com o cinema. Após esse fracasso ele se atiraria de vez ao teatro. Assisti esse filme algumas vezes quando criança, ele era exibido na Sessão da Tarde. Me apaixonava por Marilyn ao ver o filme e me irritava com Olivier. Eu devia ter no máximo 12 anos. Preciso o rever. Deixo de propósito de dizer que este filme é centrado no amor de um jovem diretor de terceira unidade pela estrela solitária. É uma história que dá tédio. Chatinha. O pouco dos bastidores do filme é tudo que importa. Nota 4.