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LONGE DESTE INSENSATO MUNDO - THOMAS HARDY

Nas 3 primeira décadas do século XX, foi Hardy o autor favorito para um Nobel inglês. Não venceu, e viu até mesmo um autor hoje esquecido como Galsworthy vencer. Este livro, lançado agora, mal traduzido, é uma maravilha. Melhor que o filme de 1967, que é muito, muito bom.
Na época nada era mais badalada que a produção de Longe Deste Insensato Mundo para o cinema. Um grande livro, com a melhor produção possível. John Schlesinger era o melhor diretor inglês jovem, Julie Christie a mais sensacional jovem estrela, Alan Bates e Terence Stamp eram dois novos atores com filmes sensacionais recém lançados, e Peter Finch era um veterano ousado. Na fotografia o grande Nicolas Roeg. O filme, vejo agora, segue o livro passo a passo, mas, que incrível, mesmo assim vemos que não é Bethsheba, a personagem de Julie Christie, a figura central. É o pastor de ovelhas, Oak, o insistente pretendente dela, quem domina o romance. Personagem adorável, simples, real e muito nobre, sem nunca parecer vaidoso, Oak exibe de modo absoluto toda a verdade do trabalho duro.
Hardy ainda era um naturalista quando escreveu este livro. Mas um naturalista à inglesa, suave. Depois seu estilo se tornaria mais sutil e no século XX ele se faria um poeta. Mesmo com a miséria de uma tradução estúpida, o romance se mantém por ter um belíssimo enredo e personagens inesquecíveis.
Foi refilmado este ano, e ao contrário da versão de 1967, passou em branco pelas telas.

LONGE DESTE INSENSATO MUNDO...

   Assisti ontem, mais uma vez, esse filme de John Schlesinger. Quantas vezes? A primeira foi na TV Manchete, em...1990? O visual do filme nos alucina. ( A foto é de Nicolas Roeg ). Planícies sem fim, o mar, o verde, a umidade, a gente vê o filme e sente o frio do lugar. Ao contrário de David Lean, este épico olha as beiradas. Deixe explicar.
  David Lean se tornou um clássico para sempre porque ele conseguia, em meio a filmes grandes e caros, aprofundar o caráter dos personagens. Ele fazia blockbusters com alma, filmes imensos e épicos que examinavam a personalidade dos tipos humanos como filmes pequenos podem fazer. Este filme não. Schlesinger não se aprofunda, o que ele busca é o ambiente. E nisso ele é bem sucedido. Claro que ele perde algo em troca. No livro de Thomas Hardy, Bethsabah, a personagem de Julie Christie, é muito mais forte. É uma mulher independente, destemida, dura, original. Aqui não. Ela quase é reduzida a uma simples mulher vaidosa. Mas algo fica do livro. O mesmo ocorre com o militar feito por Terence Stamp. No livro ele é um romântico. Aqui ele é quase um playboy. Dito isso vamos ao que se destaca nesta sinfonia cinematográfica de verdes, de vento e de rochas. O ambiente.
  Roger Ebbert dizia que há filmes em que o que queremos é ficar absorvendo, viver neles, morar dentro do filme. Roger cita Monsieur Hulot, de Tati, como exemplo. Concordo. E aqui acontece o mesmo. A câmera insiste em dar closes nos personagens menores. E em grupo, esses tipos pequenos invadem o filme e criam sua magia. Camponeses trabalhando, cantando, desempregados que dançam na praça, mulheres rindo, casamentos, ovelhas pastando, cães, galos, bois, crianças brincando...O vento, a montanha...Você se vê lá dentro, em 1870, no norte frio da Inglaterra, e você se encanta. O filme, cheio de drama e de dor, te seduz por isso, pela ambientação, pela gente que lá vive e respira. Não pense que são detalhes abstratos, frios, como em Terrence Malick. Não. São pequenas narrativas dentro do fio maior. Quentes.
   É preciso estilo para conseguir esse efeito. Num cinema hiper veloz e editado, como o de hoje,  isso é impossível. Voce mal consegue ver o cenário, não tem chance alguma de se acomodar dentro do filme, fica de fora do ambiente e dentro da eletricidade dos efeitos velozes. Sem chance.
   Que lindo filme!!!
   PS: Não pense que todo grande filme dá essa vontade de morar dentro dele. Eu não gostaria de viver no mundo de Rastros de Ódio. 

LONGE DESTE INSENSATO MUNDO- JOHN SCHLESINGER...E JULIE, ALAN, TERENCE, PETER, NICK...

  Deve ter sido interessante. Os bastidores deste filme, de 1967, tiveram as presenças da agitada Julie Christie, que era então a grande nova estrela do cinema inglês, recém vinda de Dr. Jivago, Terence Stamp, símbolo sexual e participante ativo da cena swinging London, Peter Finch, grande ator e homem atormentado, o diretor John Schlesinger, mais interessante cineasta jovem e que faria na sequência Perdidos na Noite. Ainda temos Alan Bates, meu ator favorito da época. O diretor conseguiu administrar tantos egos e ainda entregar ao público um grande filme. Que foi perseguido pela crítica de então. Why?
  Schlesinger vinha de filmes ousados em termos de tema e de técnica. Aqui ele faz um filme mais clássico, ao estilo Carol Reed, isso deixou críticos perplexos. Um tipo de preconceito que se repete até hoje. O diretor jovem faz um filme que homenageia seus mestres e críticos acham que isso é uma traição. Pff...
  Thomas Hardy escreveu o livro em que o filme se baseia. Fala de uma bela viúva que tenta administrar sua fazenda. Enfrenta o clima, a doença que ataca as ovelhas, desastres. É ajudada por um ingênuo agricultor, papel de Alan Bates. Ele rouba o filme. O simples e eficiente trabalhador que ele faz traz em si toda a mensagem do filme. Ele se sente traído várias vezes, mas é persistente, trabalha pela viúva e fica firme em seu propósito. Terence Stamp faz um vaidoso soldado. Ele aparece no lugar e fácilmente seduz a viúva. Seu modo é todo sexualizado. Mas ela descobre que ele a trai e em sua cena final descobrimos sua humanidade. Ele carrega o corpo de sua amante e depois se entrega a morte. Stamp era um grande ator que se deixou destruir pela fama. Hoje, após longo tempo, é conhecido outra vez por pequenos papéis exóticos. 
  Peter Finch faz um rico dono de terras, mais velho e um grande chato, que se casa com a viúva. Logo descobre que ela não o ama e humilhado se mata. Com toda essa melodramaticidade, Finch mantém a fleuma, frio, ele decai. Uma cena belíssima.
  A fotografia do filme, de Nicholas Roeg, é das mais belas do cinema. Longos campos, sol e névoa. verdes intensos. E temos a trilha sonora estupenda. Inclusive com uma soberba canção folk interpretada em cena de sonho.
  Por fim Julie Christie, nunca mais tão bela. Leva o filme nas mãos. Uma estrela que nunca ligou para o estrelato e que abriu mão dessa posição alegremente.
  Um grande filme. O final é inesquecível.