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AS CRÔNICAS DO BRASIL - RUDYARD KIPLING. UM INGLÊS SUPERSTAR ENCONTRA O PARAÍSO NA TERRA

São 5 artigos escritos e publicados em jornal inglês, no final de 1927. Rudyard Kipling era então um mito, o mais famoso escritor do mundo. Havia ganho o Nobel em 1907 ( o primeiro autor de lingua inglesa a vencer ), e era famoso como autor de Mowgli, Gunga Din, Kim e do poema If. É dele também O Homem que Queria ser Rei. Como se vê, seu ambiente era o mundo tropical. India acima de tudo. Ele viajava muito. E aqui ele conta sua impressão sobre o Brasil. Para quem é brasileiro, a coisa é séria. Primeiro o Rio de Janeiro. Que Rio é esse que ele descreve? Diz ele que a cidade cheira bem e tudo é de uma limpeza exemplar. O povo, no Carnaval, brinca em ordem, ninguém bebe. Ele anda por Copacabana, Santa Tereza, vai ao Jardim Botânico, ao centro. E tudo que vê é arquitetura deslumbrante, casas maravilhosas e o povo mais educado e gentil que há. Há todo um ritual de gentileza, de civilidade, de saber conviver. Ele se hospeda no Copacabana Palace, vai a rodas de samba, vê o desfile de blocos, guerra de confetes e de lança perfume, e tudo o encanta. Há um momento revelador em que ele diz não entender direito como o Brasil é o que é. Um amigo lhe explica: O estrangeiro teima em ver o Brasil como cultura espanhola, mas não, o Brasil é filho de um PORTUGAL QUE NÃO EXISTE MAIS. UM REINO QUE FOI MÁGICO, ÚNICO, OUSADO, UM REINO QUE DUROU QUASE NADA, MAS QUE PERMANECE AQUI. Kipling, ao fim do livro, escreve as linhas mais bonitas que já li sobre o meu país. Nota que o irresponsável Portugal mandou para cá, em nosso começo, pequenos nobres aventureiros. Eles deveriam cuidar de terras maiores que a Alemanha ( muito maiores ), sozinhos. Diz Kipling, que ao contrário dos EUA ou do Canadá, onde os primeiros anos estão soterrados pela história, no Brasil a alma desses aventureiros, dos bandeirantes, dos índios, dos piratas, ainda habita em cada canto. Então ele pega um barco, navega e vai à Santos. 1927 e todo o café do mundo passa por lá. Riqueza. Kipling nota algo que nós, por sermos daqui, mal percebemos: A Serra do Mar deu todo o destino do país. Para exportar é preciso vencer aquela montanha. Ela separa, de forma abrupta, o mar do continente. É como se o país tivesse uma parede que o protege mas que também o isola. Kipling sobe a serra de trem, conhece a represa Billings, vai ao Butantã ver as cobras, dorme numa fazenda de café em Campinas. Se espanta com tanta riqueza. Diz ele que mesmo a pobreza é aqui menos cruel, pois não há a fome da neve, a crueldade do frio, e nem a dor do deserto. São Paulo ele vê como uma confusão de ladeiras e vales, suburbios que nunca terminam ( ele andou por aqui, o Butantã de 1927, ainda toda a zona oeste como uma imensa fazenda de chá ). Fico triste ao imaginar o que deu errado. Kipling e seus amigos ingleses falam dos planos de inundar o país de estradas de ferro. Território imenso, que dava aos brasileiros essa sensação de riqueza guardada ao futuro,reservas eternas. Kipling parte em navio certo de ter visto o mais rico país do planeta. "O mais fascinante e misterioso mundo à parte".