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A NATUREZA HUMANA - ROGER SCRUTTON . E SOBRE UM TURCO.
Quando vemos uma pessoa temos a imediata certeza de que somos um EU e que ela é um VOCE. Mas ao mesmo tempo, sabemos que ela nos vê como um VOCE e que ela é um EU. Mais que desejar, travamos contato com o interior dessa pessoa, o exterior após um primeiro momento se torna aquilo que ele é, uma persona. Mais que a razão, o que define um Humano é essa certeza de ser um Eu e de estar vivendo em meio a VOCES. E assim, saber que há dentro deles a mesma realidade que há dentro do meu EU pois eles são seus próprios EUS. Este é o livro mais curto de Scrutton, e ao mesmo tempo seu texto mais difícil. Psicologia é o que norteia seu pensamento, e ele cita Wittgeinstein e Husserl, Descartes e Schoppenhauer. ------------ No mundo deste século há um movimento, proposital, de se quebrar essa corrente humana. A redução de todo fenômeno humano a simples hábitos evolutivos, faz com que a interioridade se reduza à um composto de genes e a subjetividade se torne mera evolução. O humano é aquele que ansia por ser livre e ao mesmo tempo participante de grupo, é o que se submete à lei por vontade própria e o que deseja aquilo que se esconde. Reduzir tudo isso à mera adaptação ao meio é matar aquilo que nos faz imensos. ---------------- Repare que tudo na modernidade tenta nos diminuir. Desde uma frase como " Diante do cosmos somos nada", até " Eis onde termina toda ambição", não há slogan que não procure incutir a certeza de nossa insignificância. Pior ainda, movimentos organizados como o que coloca um boxeador homem, que se acha mulher, em um ringue com uma mulher nascida mulher, reduz tudo à aparência, um tipo de brincadeira onde se ele se maquiar e usar roupas de mulher, será magicamente uma mulher. Não há modo mais eficiente de matar nossa interioridade que repetir incessantemente que a cor da pele me diferencia de voce, que o modo como me visto me faz diferente do que sou por nascimento, que posso ser me produzindo por fora hoje e agora. ----------------- Nessa absurda olimpíada, um atirador turco ganhou uma medalha de prata, e estranhamente ninguém fala do vencedor, mas apenas do turco. Dikec Yusuf. Isso porque ele competiu de chinelos, sem óculos e mira especiais ultra modernas, fuma durante a prova, tem barriga, e começou a atirar para ter o que fazer com seus filhos. Esse homem nada mais é que um macho de 1980 e por isso causa impressão ( Messi antes de conhecer Neymar era também um cara típico de 1980 e isso causava impressão ). Há nas pessoas uma saudade não assumida do pai típico, do chefe, do líder despretensioso. Mais que isso, da simplicidade sem afetação. Dikec parece adorável porque a imagem dele, um VOCE que vive dentro de nós, tem encontrado poucos Dikec por aí. Ele fumou um cigarro, tossiu e fez seu trabalho. Sem discurso, sem parecer inumano, sem representar grupo nenhum.
EU E O CONSERVADORISMO
Como dizia Roger Scruton, eu sou um conservador porque quero que as coisas boas durem para sempre. Meu vínculo com a vida é afetivo acima de tudo. Eu quero o metrô mas não quero que destruam as casas velhas da esquina. Eu quero a ciência mas não quero o fim da igreja. Desejo a eternidade de Deus e sei que para haver progresso não é preciso destruir o passado. Quero líderes que não tenham pudor em falar de Deus, de tradição, de costumes. São esses valores que nos consolam. Mais que tudo, são eles que nos unem como povo. ------------- O conservadorismo só existe porque a esquerda existe. Desde Edmund Burke, sabemos que a esquerda destroi. Sua única função é essa, destruir. Começando com a Revolução Francesa, aquela que cortou cabeças e destruiu a monarquia francesa sem se preocupar em colocar algo no lugar, a esquerda sempre usa machados, facas, martelos, foices. Igreja, família, moral, costumes, hábitos, pudores, esses são seus alvos. O conservador é aquele que carrega argamassa, um balde com água, durex, esparadrapo e cola. Sempre que a esquerda assume um país ela começa por derrubar tudo que está de pé. Para em seguida construir o tal mundo novo. Mundo novo que nunca fica pronto, claro. Pois eles não sabem que é impossível construir sem alicerces. E que os alicerces de um povo são seu costume. É por isso que países esquerdistas sempre parecem um canteiro de obras ou pior, uma obra inacabada. É uma revolução-construção que não termina porque sua razão de ser é o processo e jamais o fim. Nunca darão resultado algum. E adoram isso. -------------------- Conservadores são tartarugas. Cautelosos. Gostam de obras curtas, pequenas, fáceis de fazer e de pouco impacto. Um conservador nunca é sensacional, ele é sempre correto. Por isso o pouco apelo do conservadorismo sobre mentes adolescentes ( não importa a idade física, há adolescentes de 70 anos ), nada há de espetacular em um cara que ama uma plantação de legumes. Ele é o tio que trabalha no banco, nunca o tio astro do rock. Não se arrisca, não joga com seu dinheiro. Ele poupa. --------------- Toda revolução é sensacional. E todas elas levam à dor e à muitas injustiças. -------------- Claro que o conservadorismo tem falhas. Muitas. Ele reage de forma lenta. Ele hesita. Ele não sabe lidar com a mídia ( ela quer sempre o espetacular ). Dificilmente são simpáticos, porque são graves, sérios, concentrados. Mas pode crer, não há gente melhor para tomar conta do seu cachorro, do seu filho e da sua conta no banco. Eles não farão nada que não foi testado antes. Nada que não seja seguro. Nada que envolva risco. A criatividade ele usa em poesia ou em musica, nunca com dinheiro ou educação. ------------- Isso irrita os arautos da festa e do frenesi. Os comerciantes novidadeiros e os modernetes do risco. --------- Meu país sai agora de um governo que me deixava muito confortável. Eles fizeram tudo que eu faria e do modo como eu faria. ( Não falo do presidente que era apenas o boi de piranha, o alvo a ser atacado insistentemente por todo um sistema que nunca enfrentou um modo conservador de poder. Falo do Governo como um todo ). Eram técnicos discretos, anônimos, empolgados, colocados em todas as posições chave. Quem se deu ao trabalho de os ver falar e agir, ficou bem impressionado com seus discursos sempre objetivos, claros, sem embromação. Serão agora esses técnicos trucidados pelos exuberantes astros da esquerda. Aqueles velhos frequentadores da mídia que não são técnicos mas possuem nome. Tudo vai mudar, tudo será show, tudo será grande, imenso, big, faustoso. A revolução será um processo sem data para acabar e sem resultado a ser cobrado. Um "fazer" e nunca um "obter". Coisas como números e resultados serão retirados da pauta. Se derrubará, destruirá, esmagará, irá se zerar, como a esquerda sempre faz em qualquer lugar. Novas políticas econômicas, nova educação, nova cultura, nova moral. ------------ A nós, conservadores, caberá fazer aquilo que melhor fazemos: sermos o tio ranzinza lembrando a todos que a história se repete, toda mudança é uma perda e que é na família que se constroi a sociedade. ------------------- Feliz Natal.
A BELEZA NÃO IMPORTA?
Publicam uma frase de Roger Scruton no Facebook: Sem a beleza o mundo se tornará um lugar desesperador para se viver. Coincidências significativas: vejo numa tela no shopping center uma notícia: a primeira miss Inglaterra eleita sem maquiagem nenhuma. Um rosto feio. Bem feio. Meses atrás um grupo reclamou porque na eleição da miss França houve a escolha por beleza. ---------- O mundo não era tão maluco e anti lógico desde quando se queimavam bruxos. O que causou isso? Não há como saber. Estamos dentro do processo e por isso não há como ver com distanciamento abrangente. O que se pode é constatar um fato: há um grupo, pequeno e estridente, histérico e mentiroso, que tomou as salas de jornais e de marketing. E esse grupo foi educado com apenas duas crenças: Tudo pode ser relativizado. Querer é poder. ----------------- Desse modo, conceitos simples como Beleza, Honestidade ou Justiça podem e devem ser relativizados. E se voce quiser voce pode transformar o preto em azul e o dia em noite. Se nos anos de 1960 o adolescente tomou o poder, agora o que berra nos meios de comunicação é o infantilismo mais bocó. ------------ Não se encara o mundo como ele é, mas sim como ele deveria ser. Pior ainda, como deveria ser para si mesmo. Quando um pacifista diz que não deveria haver guerra, isso é utópico, mas ainda se justitica, pois é um desejo geral desde que o cristianismo tomou posse da história ocidental. Porém, quando um lacrador berra que o miss França deve desprezar a beleza física, o que ele quer é moldar o miss França à seu desejo de criança que não suporta a ideia de não ser bonita. Como criança chorando, seu único pensamento é: mate a menina-menino que é mais bonito que eu. É o modo de pensar mais simplório que existe. É o que faz um menino operado querer ser chamado de "mulher". Mude uma palavra, tire a beleza da passarela, e magicamente eu deixo de SENTIR DOR. A dor de ser feio. Ou a dor de me sentir no sexo errado. -------------- Mas a dor não passa. E por isso a lacração nunca irá se sentir satisfeita. É um saco sem fundo. -------------- Voce pode queimar todos os dicionários. A noite continuará sendo negra. Pode tirar todas as mulheres bonitas da TV. Voce continuará se sentindo "fora do padrão" ( esse padrão é simples e básico: beleza é aparentar saúde e felicidade ). Pode ser "chamade" de mulher, continuará tendo nascido com um pênis e sem útero. E o mais importante, nas ruas as pessoas, por mais que sejam proibidas de se expressar, continuarão amando a beleza e fugindo do que é feio ou doentio. -------------- Se o que escrevo parece cruel é porque quero deixar claro que não encarar a verdade e viver no ódio é mais cruel ainda. Como disse, a lacração destroi a beleza e não resolve nada. A verdade continua sendo a verdade. -------------- Roger Scruton está certo porque sem a beleza, sem a busca da beleza, sem a beleza dos belos gestos, dos belos corpos, da harmonia, da criação, a vida perde seu sentido. Acho que foi Dostoievski quem disse que a beleza salvaria o mundo. Coloco um adendo típico de 2022: e a feiúra nos aniquilará. Sexo sem amor, arte sem inspiração, vida sem olhar, música sem escuta, não se justifica ser um humano sem essa beleza imensa que a vida dá. ------------- Para encerrar dou um conselho, algo que muito raramente faço: não deixe que rabisquem sua auto imagem. Não pare de admirar a menina bonita. Procure na música o prazer. E veja filmes simplesmente bonitos. É isso.
O TRONO DE CRISTAL OU SAUDADES DE NÃO FAZER PARTE DO JOGO
Roger Scruton gostava de dizer que conservadores são, no mundo moderno, sempre perdedores. Que não havia chance alguma de vitória, e que tudo o que nos restava era sermos os chatos a lembrar do que importa para os deslumbrados progressistas. Essa posição, um tipo de trono de cristal em um condado restrito, é muito confortável e eu sinto saudades dela. É esnobe. Scruton era esnobe. Mas era um esnobe profundamente conservador, ou seja, reformista, caridoso, cristão. --------------- Conservadores não são simpáticos. Eles nos querem adultos. Progressistas conquistam facilmente os jovens. Prometem uma juventude eterna. Para os progressistas, o ideal de vida é ser um Keith Richards. Para os conservadores, ser Winston Churchill. Progessistas vendem a ideia de que voce pode se drogar sem pagar por isso. Pode mudar de sexo quantas vezes quiser e pode até mesmo engravidar e depois esquecer que ia ser pai e mãe um dia. Tudo é permitido e para eles a palavra "não", é proscrita. Acima de tudo eles prometem juventude, adolescência eterna. Voce não precisa amadurecer. Aliás eles não querem adultos no mundo. Porque adultos se fecham, têm ideias próprias, sabem que tudo tem um preço e uma consequência. -------------- Klaus Schwab diz que no futuro " TODOS NADA TERÃO E SERÃO FELIZES ASSIM". Schwab é um dos líderes progressitas e ele não pergunta jamais se alguém quer não ter nada. Ele tem uma fé. Um dogma. Um objetivo. Como todo progressista, ele não quer consertar o mundo, ele quer destruir para recomeçar. Eis uma fé adolescente. Um eterno começo. Observe que governos progressistas não reformam prédios ou estradas, leis ou costumes, eles jogam fora e fazem de novo. Schwab e seus amigos perceberam que se não tivermos nada esse eterno recomeço fica mais fácil. Assim, não teremos casa, família, livros, discos, propriedades, amores eternos, nada. Eles nos darão aquilo que precisamos e seremos felizes assim. ( Óbvio que eles terão castelos, aviões, fazendas, ilhas e bibliotecas, mas quem liga? ). Um deles fala em controlar o clima, sem perguntar se queremos viver em clima mais frio; outro fala em controlar a família, destruindo o conceito de pai e mãe. Interessante que o progressismo promete a abolição da palavra não, mas o SIM envolve apenas aquilo que faz parte do mundo sensorial: drogas e sexo. No mundo do poder progressista, o NÃO abunda, mas é um NÃO escondido na fumaça da liberalidade. ---------------- Conservadores não derrubam um prédio, reformam. Por isso a palavra é conservar. Eles querem conservar tudo que compõe nossa civilização: família, igreja e comércio. O objetivo é reparar, jamais destruir. Fazer funcionar. Ora, isso não é simpático pois envolve duas coisas que jovens odeiam: trabalho e tradição. Conservadores são como formigas, não voam como borboletas, trabalham para garantir a manutenção do costume. Não são Keith Richards. São o camareiro dos Stones. No universo conservador, tudo tem um preço, todo ato uma consequência eterna e aquilo que voce tem ou faz é seu e de mais ninguém. Voce é o único responsável pela sua vida. Voce tem o mérito do que faz e a CULPA também. Eis outra palavra nada charmosa para os jovens: Culpa. No progressismo ninguém tem culpa de nada. O culpado é sempre uma abstração: Capitalismo, egoísmo, a História passada, a Sociedade. É o mundo do jovem de 16 anos, mundo onde toda culpa é dos pais. ---------------- O conservador diz: voce fez, voce paga. Existe uma responsabilidade em cada ação. Elas repercutem no tempo. Mas não para progressistas. Para eles, voce pode recomeçar do zero eternamente. --------------- Intelectuais amam o progressismo porque ele permite que voce escreva as coisas mais delirantes ou idiotas sem arcar pela prova da realidade. No progressismo voce pode brincar com ideias e palavras. Não há necessidade de olhar o mundo da rua. Mais que isso, o progressismo valoriza quem fala muito e não quem faz muito. Como crianças brincando com cubos, é aconselhável não sair do cercadinho. ------------ Já conservadores fazem. Tenho um exemplo singelo sobre isso. ------------- Ontem eu andava na rua e o sinal estava queimado. Vários jovens estavam parados esperando que os carros parassem para que eles pudessem atravessar. Eu continuei a andar, ergui o braço e cruzei a avenida. O bando me seguiu. Uma menina ao meu lado falou para mim: OBRIGADO POR TOMAR UMA ATITUDE. Parece mentira, mas isso realmente ocorreu. Me senti o macho alfa. ------------------ A atual guerra na Ucrania é exatamente assim. Biden e Trudeau são os jovens parados na calçada. Esperando que Putin pare de passar. Nenhum deles ergue o braço e cruza o fluxo russo. Biden e Trudeau esperam. Progressistas esperam. Conservadores vão e fazem. ---------------------- Se voce for um conservador, meu jovem, voce vai fazer menos sexo e ter menos amigos. Sua postura não será Keith Richards. Mas eu te pergunto: Que sexo e que amigos? Amigos que ficam parados na calçada. Sexo que espera e não progride. Conservadores atraem menos gente. Mas que gente? -------------------- Penso, para concluir, que na verdade tudo se resume a sexo e drogas. Os dois temas que conservadores evitam. Pois os levam a sério. E que os progressistas insistem em exibir, pois sabem que isso conquista jovens cheios de hormônios e raiva das consequências. E eu sei que sexo e droga vence sempre. No curto prazo. A conta vem mais tarde. E a esperança do progressismo é que Schwab a pague. Pois o sonho ideal de TODO progressista é : Me deixe brincar, viajar e "defender a natureza". O resto não importa.
MORRER NA HORA CERTA ( em Roger Scruton we trust )
Acabo de ler um lindo texto de Roger Scruton sobre a morte. Não, não se assuste, nada de deprimente aqui. Juro pra voce. ------- Scruton fala do prolongamento da vida. Do modo como as pessoas hoje vivem mais, vivem muito, vivem demais. Ele começa falando sobre o suicídio e ao final fala sobre o modo mais digno de morrer. Segundo ele, nossa visão da morte, a visão moral da coisa, não cabe mais nos dias de hoje. Isso porque toda nossa moral sobre a morte foi criada quando se morria cedo e se morria muito. A morte era rápida e nunca parecia ser "na hora errada". Então Scruton fala brilhantemente sobre o que seria uma morte na hora errada. Me permitam mas agora quem fala sou eu ( sempre tendo Scruton como guia ). --------- Uma pessoa que está velha e que foi famosa um dia, mas que hoje ninguém mais a conhece, ou pior ainda, descobre que tudo que ela fez foi irrelevante. Essa pessoa sobreviveu à sua morte. O momento de sua morte foi perdido. Um homem que um dia foi amado e respeitado, digamos um político, mas que hoje, ao ser descoberto como mentiroso ou indigno, esse ser agora patético, sobreviveu ao seu momento de morte. Mas há algo ainda pior, e isso eu conheço bem de perto, que seja: Por vivermos mais tempo, o mundo ficará cada vez mais cheio de gente que já se foi espiritualmente, mas que insiste em viver como um tipo de fantasma de carne. Uma triste lembrança daquilo que já foi. Velhos que não mais recordam quem foram, que não se conectam a mais nada, que não sentem empatia ou medo, que apenas respiram, comem e adormecem. Velhos presos no pavor da morte ou na indiferença à própria vida. Esses, sinto dizer, deveriam ter morrido à muito. Perderam a vida, mas não morreram. --------------- Scruton diz que não há como morrer na hora certa ANTES DE HAVER MORRIDO. A ironia é que só sabemos ter morrido em hora certa após termos partido, ou seja, são os outros que saberão disso. ( Meu pai morreu na hora perfeita ). Mas podemos, de certo modo, nos preparar para não viver além do que devíamos viver. E este é um esforço, se é que se pode chamar de esforço, cada vez mais raro. ---------- Mas que esforço seria esse? Para o explicar, melhor primeiro dizer o que está nos levando a viver além do que valeria a pena. O pavor de morrer. O excesso de cuidado com a saúde. A higiene extrema. O não correr riscos, sejam emocionais, sejam físicos. O esforço, estafante, em adiar o fim. E qual seria o tal esforço para morrer em seu momento certo? ------- Scruton usa uma imagem exata em sua precisão: gastar o corpo e aumentar a mente. Envelhecer bem seria o ato de deixar o corpo se desfazer enquanto a mente cresce sem parar, ou seja, exatamente o contrário do que acontece com a maioria hoje, em que a mente se deteriora e o corpo insiste em se manter vivo. Scuton fala coisas simples, mas que penso serem genuínas: beba vinho e menos água, não se proiba de comer carne e gordura, ande não para melhorar sua forma, mas para ir e ver lugares, celebre e se permita exagerar, viva sua vida gastando seu corpo. Não se destrua, ele jamais fala em sucídio lento ou inconsciente, mas não se poupe para ganhar mais cinco anos. Nunca abra mão de um prazer real por um ganho que no futuro de nada te servirá. Em suma, e falando de forma mais poética e filosófica: não deixe de construir a sua morte. Pois edificar a morte é parte, e talvez a mais importante, da vida. ----------------- Todos os velhos que admiramos, poucos, viveram assim. Não foram loucos desvairados destrutivos, mas jamais advogaram da moderna religião da saúde e longevidade a qualquer preço. Não fumavam até criar um efizema, mas também não deixaram de beber seu vinho e comer seu filé. Viveram enquanto a vida era possível de ser apreciada. E por não se pouparem, ao ficar doentes, morreram rapidamente. ( Por rápido entenda seis ou sete meses, e não os anos e anos de asilo ou de demência ). ---------------- A medicina caminha para a utopia da promessa da vida eterna, e eu, que já tenho mais de 50, já sinto que a vida eterna seria uma maldição. Não porque eu não goste da vida, sou curioso e quero ver onde tudo vai dar, mas sim porque a vida sem saúde ou sem prazer não vale nada. Se torna apenas tédio e teimosia. Viver 150 anos ou mais, transformaria tudo em cinza anônimo ou em repetição, e viver eternamente faria da vida algo sem qualquer valor ( Que graça haveria em um aniverário se voce soubesse que ele iria se repetir para sempre? Para que procurar um amor se voce poderá o encontrar daqui a 100 ou 200 anos? Para que ver um amigo hoje se voce poderá o ver sempre? É a possibilidade da perda que dá valor à vida e quanto mais provável a perda mais ela vale ). ---------- Esse o sentido da morte, parte de nossa vida e não sua inimiga.
NIGHTMARE ALLEY E AQUELES QUE NÃO SABEM NADA. ( música pop )
A Band TV disse que Charlie Watts é o primeiro stone a morrer. Waalll....exigir hoje que um jornalista saiba que Brian Jones existiu parece ser pedir demais, quanto mais querer que ele saiba que Ian Stewart também foi um stone. Recentemente numa transmissão de esporte, um jornalista passou minutos entoando homenagens a um esportista que havia falecido. Seria Okay se esse esportista não houvesse morrido nove anos antes. A coisa nas sessões de arte é ainda mais grotesca. Como dizia Roger Scruton, não se julga mais uma obra, simplesmente se segue o espirito do grupo ao qual se deseja fazer parte. Se o veículo for de viés X, o criticozinho irá dar óbvios e surrados elogios aos artistas permitidos pelo grupo X. Formar-se-a um círculo de pessoas contentinhas: voce divulga o produto X, eu consumo o produto X e o novo artista será X, que será elogiado pelo escriba X e consumido pelo povo X e por aí vai. Uma repetição sem fim e de caráter entediante. ------------------------- Veja o cinema por exemplo. Faz mais de vinte anos que o filme moderno é o mesmo tipo de filme moderno. E vinte anos em cinema é um século em pintura. Nem vou dizer que esse foi um tipo de modernismo que infantilizou de vez o público de cinema. Criou o eterno adolescente tristinho de 40 anos. Pior, deu ao público desses filmes, esnobes por natureza, e depois te explico o que é um esnobe, o estatuto de sábio sobre filmes. Gente que, vi isso recentemente, elege Pedro Almodovar o maior cineasta "clássico" da história do cinema. Clássico... ( Não suporto o chorão Almodovar, e de clássico ele não tem nada. Sua carreira teve um auge de quantos anos? Cinco? ). Esse povo, preconceituoso até a alma do umbigo, adora discorrer sobre a beleza do preto e branco ( e viram apenas alguns clips em pb e talvez uns trechos de Metropolis ), falam de Godard sem jamais o ter assistido ( sorte deles ) e citam sempre Kubrick e Hitchcock como bons diretores do passado ( viram Laranja Mecânica e o acharam "profundo" e encararam Psicose e Janela Indiscreta, só isso ). ----------------- Para esse povo, Hollywood era uma fazedora de filmes em série, comuns, caretas, todos iguais. Daí eu revejo ontem O BECO DAS ALMAS PERDIDAS, Nightmare Alley, filme de 1947, dirigido por Edmund Goulding ( quem ? ), escrito pelo grande Jules Furthman. Do que ele fala? Do mundo dos shows de feira, do que se chamava na época GEEK SHOW. ( Sim, geek era o mesmo que freak ). Bêbados que comem galinhas vivas no palco, cartomantes de araque, homens forte doentes.... Um cara, Tyrone Power, hiper ambicioso, mal caráter até a medula, é o heroi desse filme sem herois. Repulsivo. Ele cresce com um ato de adivinhação. Conhece uma psicóloga que grava suas sessões de psicanálise para chantagear gente poderosa, e unidos dão um golpe imenso. O filme, que voce assiste milagrosamente com prazer, é tudo aquilo que o esnobe acha que o cinema dos anos 40 não é: sem glamour, realista, sujo, sem gente legal, repulsivo. Sem moral alguma. ------------------ Eu estava ouvindo algumas bandas bem bobinhas dos anos 60. Coisas como The Associations. Beau Brummels. Lovin Spoonful. Esses caras nasceram todos entre 1940-1950. Foram crianças em 1954-1964, por aí. Lembrei então que no rádio, em sua infância, tocava muito jazz de big bands, cantores como Sinatra e toneladas de música clássica. Na TV havia os desenhos de Tom e Jerry, Pica Pau e Pernalonga, e suas trilhas sonoras, se ouvidas com olhos fechados, são pura música erudita modernista. ( Deus salve Carl Stalling ). No cinema havia os grandes musicais dos anos 50. E as trilhas grandiosas dos westerns de então. Percebo que é por isso que mesmo na música mais POP de 1966-1976, há sempre o desejo de fazer um arranjo mais elaborado, mais erudito em clave mínima. Os Beach Boys provam isso. ------------- Toquei nesse assunto para mostrar como pode ser nociva o tipo de cultura que se propaga hoje. É a cultura do esnobismo. Tipo: Eu sei o que é bom, eu sei como isso é ( sem o conhecer ), eu me basto a mim mesmo. Já disse em outros posts que aqui no Brasil, nos anos 70, rádios misturavam na plau list Benito di Paula com Bowie, para ouvir um voce tinha de ouvir o outro. Era fantástico. ------------------- Fico com pena dos garotos que escolhem no spotify passar a vida inteira ouvindo apenas aquilo que já conhecem, mas pior ainda são os "cultos" que passarão a vida ouvindo aquilo que seu círculo X permite. Não à toa eu sinto uma limitação de estilo brutal em cada nova banda que escuto. Eles ouviram 30000 coisas na vida, mas todas dentro de um mundo X. ----------------- Morou?
MAIS UMA TARDE ANDANDO POR AÍ...
2020 foi um ano muito estranho. Amigos me acusaram de fascista, amigas se trancaram em casa, minha mãe, por outro lado, nunca na vida saiu tanto e se divertiu como jamais antes. Desço a pé a Gabriel Monteiro da Silva Street. Vejo o que tenho visto nas outras ruas: pessoas do dito povão sem máscara, rindo, brincando, levando a vida. O povo da classe média com cara de medo, passando em carros fechados, máscara no rosto. As lojas estão fechadas. Entro no Shopping Iguatemi. Uma ridícula fila inútil é formada. O segurança mede nossa temperatura. Não sei pra quê. O povo não sente mais medo, as máscaras viraram hábito. Tipo: Se todo mundo usa, porque não eu? Não custa nada usar.
Na livraria vejo de cara um livro de um tal Pedro Cardoso. O Agostinho escreveu algo chamado "Como dialogar com um fascista". Well....dialogar comigo é simples, difícil é dialogar com meus seis amigos de esquerda que me mandaram calar a boca e ameaçaram me bater. Eu jamais perguntei o que eles achavam ou queriam obter em politica, eram meus amigos, isso, ingenuamente, eu achava que bastava. Mas não. Eles não suportaram perceber que eu era de outra cor. Para eles eu estou errado e fim de papo. E por estar errado mereço o olvido. ( Hey, sempre quis usar esta palavra! ). Será que o livro do Pedro Agostinho fala deles? Ou fala só de gente como eu, que ousou dar as costas para aquilo que Pedro Cardoso acha?
Vejo ao lado um livro de uma tal de Patricia, jornalista, que fala de Gabinetes de Ódio. Será que ela fala de Marilena Chauí dizendo querer matar a classe média? Deve falar do meu ódio. Ela acertou. Eu realmente odeio quem me odeia sem me conhecer. Começo a entender porque aquela livraria está vazia. Não há nada pra comprar. Nada. Fico lá uma hora e não vejo um só livro que me interesse. Pode falir livraria Cultura. Não vou sentir falta de voce.
No andar térreo tem uma doceria lotada e nela vejo várias meninas lindas, rindo com suas máscaras de grife. O vírus virou hype.
No Eldorado a Saraiva agora é uma Riachuelo. Como um bolo de chocolate absurdo e o café é nota 8. Baratos. Os preços caíram.
Gays não foram perseguidos, negros não estão sendo segregados, mas nossa Constituição foi rasgada pelos juízes ontem. O presidente observa. Ele espera que eles se queimem em sua sanha por poder. Na Benedito Calixto 60% das bancas faliram. Não vão abrir nunca mais.
O Brasil me surpreendeu. Eu, em abril, esperava saques, fogo, calamidade. Mas o povo, esse povo que anda rindo e construindo prédios ( está se construindo muito por aí...meu bairro está todo em obras ), levou a crise de uma forma que me orgulha. Tenho me aproximado cada vez mais do povo da rua. A classe média me decepcionou muito este ano.
DVDS e discos são coisas do passado. Livros também. Este foi o ano em que E O VENTO LEVOU foi censurado. Para quem tem o dvd não faz diferença. A vantagem de ter mídias físicas é que voce não depende da boa vontade da rede. Ano que vem irão proibir todos os faroestes e todos os filmes de guerra. Só deixarei de os ver se os censores do bem entrarem em casa para os levar.
Eu adoraria ver o que Roger Scrutton escreveria deste ano. Sei que ele falaria da resistência dos conservadores. O modo como a coisa se inverteu. Hoje somos nós os que não aceitamos o mundo como ele é. Somos nós os desobedientes, os chatos, a pedra no sapato, a mosca na sopa. Vamos perder, isso é óbvio, mas sabemos estar em paz com nossa consciência. Nunca me senti tão eu mesmo como neste ano.
ADEUS JOHN WAYNE ( PORQUÊ O NAZISMO VENCEU )VOLTAIRE!
Uma comissão na cidade de Orange County vai retirar a estátua de John Wayne. Ela ficará num porão. Eis um assunto difícil de falar.
Cresci em um mundo cultural com espaço. Espaço é a palavra. Havia espaço para Eliot e para Marianne Moore. Para James Baldwin e para Mishima. O que se amava era a excelência. Podia-se lamentar a posição de Ezra Pound durante a guerra, podia-se odiar o que Elia Kazan fez, mas JAMAIS se imaginava censurar ou apagar da história alguém que tivesse contribuído para a diversidade cultural do planeta. Desde 1960 John Wayne era chamado, injustamente, de fascista. Mas seus filmes passavam normalmente na TV, ele era homenageado em festivais e respeitado por seu legado. Isso não poderia ser apagado, pois apagar a cultura seria como empobrecer nosso espírito. Porém, a partir dos anos 80 esse amor se perdeu.
Uso a palavra amor de forma bastante apropriada. O amor pela cultura faz com que eu ame Acossado, mesmo odiando a posição política de Godard. Faz com que eu leia Heminguay, mesmo sabendo que eu o detestaria como pessoa. Esse amor a cultura morreu e não estou sendo exagerado ao dizer isso. Os fariseus tomaram o museu e compraram a editora. Eles não amam a cultura, eles amam o seu PRÓPRIO ESPELHO e esse espelho não aceita nada que não seja ele mesmo.
Perversamente a diversidade está matando a....diversidade. Essa diversidade, made in 2020, é uma festa entre iguais, inclusive no modo de vestir e falar. Penso que eles estão tão profundamente condicionados que perderam a capacidade de perceber essa armadilha. Diversidade pequena, limitada, diversidade que tem pauta, censura, manual de bom comportamento. Uma festa que não permite a entrada de quem foge a seus ditames, e pior, uma festa que expulsa fantasmas.
Aldous Huxley já dizia em 1930 que a pior opressão parte de quem diz defender o bem. Vegetarianos, pacifistas, naturistas, liberais, além de oprimir com suas regras, nos fazem mal por nos legarem a culpa. Se eles são bons, então somos o mal. Eles produzem o mesmo efeito do cristianismo que dizem odiar. Erguem o nariz arrotando sua superioridade. São anjos. E têm má digestão.
Agora, neste exato momento, eles estão limpando a história do mundo. Desinfetam páginas e páginas do passado, tudo em nome do bem e da justiça. Desde a inquisição não se via tamanho fanatismo. Não é coincidência usarem a fogueira. O que os move é o ódio. Eles não compreendem o passado, não entendem a arte fora do utilitarismo político e por isso vivem em ressentimento. Discursam contra o racismo, mas dão cor à todo espírito e toda arte. Para eles um ser humano se resume a cor de sua pele. A raça condiciona toda arte que podemos produzir, tudo o que podemos falar. Segundo eles, não há como escapar do seu condicionamento racial. Se voce é branco voce só pode produzir arte de branco. Eles negam a alma, sem cor e sem sexo, e se prendem ao conceito que dizem exterminar. Bem...desde Hitler não se vê e ouve nada tão estúpido. Não à toa nazistas também se viam como puros.
Alguns anos atrás eu li alguém que dizia que na verdade os nazis venceram a guerra. Leio dois livros por semana e é difícil lembrar todo autor, baby. Mas ele dizia que depois da guerra vivemos em um mundo armado, vigiado e desencantado, e por isso os nazis haviam vencido por terem mudado o mundo. Pois agora a coisa piorou. O modo nazi, inconsciente, toma conta da diversidade perversa. O ódio ao diferente é absoluto, e pior, é visto como O BEM.
Não, não estou exagerando e explico mais um pouco.
Sim, voce sempre teve sua turma. Vamos a chamar de turma da Vila Madalena. Ou galera do Baixo Leblon. Ou jovens de Greenwich Village. Voce odiava, digamos, os caras da Mooca, ou da Barra, ou de Boston. Havia um atrito. Uma discussão. Mas não havia a tentativa de fazer com que a Barra deixasse de existir. Voce odiava Roberto Carlos ou o general Geisel, mas não pensava em queimar seus discos ou apagar seus anos de governo da história. Pois é isso que agora se apresenta. A absoluta negação da cultura. Pois cultura é história e história é passado.
Roger Scrutton diz que o conservadorismo se resume a amar as coisas do passado e lutar para as preservar. Nunca na história recente, a civilização, que eu amo, aquela criada por judeus e gregos, romanos e celtas, foi tão atacada. Há um plano óbvio de a cancelar.
Não é a primeira vez que isso ocorre. Crises culturais cíclicas, em que todo o mundo cultural parece afundar, são inevitáveis. Houve isso nas invasões bárbaras, na crise da reforma, na guerra contra os nazistas. A diferença é que agora é uma guerra não declarada, uma guerra sem batalhas, de guerrilha, de pequenas e constantes destruições.
Eu defenderei sempre o direito de voce assistir o filme que voce quiser. Mesmo que eu o deteste.
Isso é Voltaire.
E ontem vandalizaram sua estátua em Paris. Nela escreveram: Racista.
Meu amor chora.
Cresci em um mundo cultural com espaço. Espaço é a palavra. Havia espaço para Eliot e para Marianne Moore. Para James Baldwin e para Mishima. O que se amava era a excelência. Podia-se lamentar a posição de Ezra Pound durante a guerra, podia-se odiar o que Elia Kazan fez, mas JAMAIS se imaginava censurar ou apagar da história alguém que tivesse contribuído para a diversidade cultural do planeta. Desde 1960 John Wayne era chamado, injustamente, de fascista. Mas seus filmes passavam normalmente na TV, ele era homenageado em festivais e respeitado por seu legado. Isso não poderia ser apagado, pois apagar a cultura seria como empobrecer nosso espírito. Porém, a partir dos anos 80 esse amor se perdeu.
Uso a palavra amor de forma bastante apropriada. O amor pela cultura faz com que eu ame Acossado, mesmo odiando a posição política de Godard. Faz com que eu leia Heminguay, mesmo sabendo que eu o detestaria como pessoa. Esse amor a cultura morreu e não estou sendo exagerado ao dizer isso. Os fariseus tomaram o museu e compraram a editora. Eles não amam a cultura, eles amam o seu PRÓPRIO ESPELHO e esse espelho não aceita nada que não seja ele mesmo.
Perversamente a diversidade está matando a....diversidade. Essa diversidade, made in 2020, é uma festa entre iguais, inclusive no modo de vestir e falar. Penso que eles estão tão profundamente condicionados que perderam a capacidade de perceber essa armadilha. Diversidade pequena, limitada, diversidade que tem pauta, censura, manual de bom comportamento. Uma festa que não permite a entrada de quem foge a seus ditames, e pior, uma festa que expulsa fantasmas.
Aldous Huxley já dizia em 1930 que a pior opressão parte de quem diz defender o bem. Vegetarianos, pacifistas, naturistas, liberais, além de oprimir com suas regras, nos fazem mal por nos legarem a culpa. Se eles são bons, então somos o mal. Eles produzem o mesmo efeito do cristianismo que dizem odiar. Erguem o nariz arrotando sua superioridade. São anjos. E têm má digestão.
Agora, neste exato momento, eles estão limpando a história do mundo. Desinfetam páginas e páginas do passado, tudo em nome do bem e da justiça. Desde a inquisição não se via tamanho fanatismo. Não é coincidência usarem a fogueira. O que os move é o ódio. Eles não compreendem o passado, não entendem a arte fora do utilitarismo político e por isso vivem em ressentimento. Discursam contra o racismo, mas dão cor à todo espírito e toda arte. Para eles um ser humano se resume a cor de sua pele. A raça condiciona toda arte que podemos produzir, tudo o que podemos falar. Segundo eles, não há como escapar do seu condicionamento racial. Se voce é branco voce só pode produzir arte de branco. Eles negam a alma, sem cor e sem sexo, e se prendem ao conceito que dizem exterminar. Bem...desde Hitler não se vê e ouve nada tão estúpido. Não à toa nazistas também se viam como puros.
Alguns anos atrás eu li alguém que dizia que na verdade os nazis venceram a guerra. Leio dois livros por semana e é difícil lembrar todo autor, baby. Mas ele dizia que depois da guerra vivemos em um mundo armado, vigiado e desencantado, e por isso os nazis haviam vencido por terem mudado o mundo. Pois agora a coisa piorou. O modo nazi, inconsciente, toma conta da diversidade perversa. O ódio ao diferente é absoluto, e pior, é visto como O BEM.
Não, não estou exagerando e explico mais um pouco.
Sim, voce sempre teve sua turma. Vamos a chamar de turma da Vila Madalena. Ou galera do Baixo Leblon. Ou jovens de Greenwich Village. Voce odiava, digamos, os caras da Mooca, ou da Barra, ou de Boston. Havia um atrito. Uma discussão. Mas não havia a tentativa de fazer com que a Barra deixasse de existir. Voce odiava Roberto Carlos ou o general Geisel, mas não pensava em queimar seus discos ou apagar seus anos de governo da história. Pois é isso que agora se apresenta. A absoluta negação da cultura. Pois cultura é história e história é passado.
Roger Scrutton diz que o conservadorismo se resume a amar as coisas do passado e lutar para as preservar. Nunca na história recente, a civilização, que eu amo, aquela criada por judeus e gregos, romanos e celtas, foi tão atacada. Há um plano óbvio de a cancelar.
Não é a primeira vez que isso ocorre. Crises culturais cíclicas, em que todo o mundo cultural parece afundar, são inevitáveis. Houve isso nas invasões bárbaras, na crise da reforma, na guerra contra os nazistas. A diferença é que agora é uma guerra não declarada, uma guerra sem batalhas, de guerrilha, de pequenas e constantes destruições.
Eu defenderei sempre o direito de voce assistir o filme que voce quiser. Mesmo que eu o deteste.
Isso é Voltaire.
E ontem vandalizaram sua estátua em Paris. Nela escreveram: Racista.
Meu amor chora.
A FÁBRICA DE PECADOS
Roger Scrutton diz numa palestra que a esquerda se tornou uma espécie de fábrica de reivindicações. O menu de pedidos cresce sem parar e nada indica que tenha um limite. Como exemplo ele dá a questão gay. Qualquer outro assunto pode ser utilizado.
Primeiro se pedem direitos iguais. Justíssimo. Depois o casamento gay civil. Justo. Então o casamento religioso. Aí já parece coisa estranha. Pra quê? Mudar uma tradição dentro de uma instituição que existe em função da manutenção da tradição? Então o que acontece? Antes, se voce era a favor dos direitos civis LGBTS, ok, voce era deixado em paz. Mas agora se voce não é a favor do casamento gay na igreja, igreja que era até ontem o mal, voce é homofóbico. Mesmo que seja a favor de todo o resto da agenda. Então voce é obrigado a estar em constante reciclagem, aceitando de forma passiva reivindicação sobre reivindicação. Na verdade a filosofia da esquerda é uma só: Observar até onde o tecido social resiste. Puxar o limite ao máximo. Como desejo de criança mimada, os pedidos jamais terão um fim, porque não pedem satisfação, pedem subversão.
A vigilância sobre todos é constante. Tudo que voce faz ou aprecia hoje, poderá amanhã ser considerado pecado. Este livro pode ser denunciado como machista ou racista, este compositor poderá ter viés fascista e sua postura poderá ser considerada errada. O denuncismo, palavra bonita para dedo durismo, impera.
Meu avô caçava lebres em Portugal e meu tio serviu o exército na África. Hoje meu tio seria um colonialista assassino ( ele não chegou a matar ninguém, mas levou uma granada no lombo e ficou sem o baço ). Meu avô seria um assassino de lebres. Que Moçambique deveria ser livre é óbvio. Mas uma análise mais profunda revela que meu tio não esteve lá porque quis. Mais ainda, nenhum ser humano pode ser reduzido ao que ele fez durante um ano de sua vida. Por isso a pena de morte é injusta. Meu tio pagou qualquer erro com a quase morte no hospital e a invalidez consequente. E se voce usar a tese do nazismo, de que então um soldado nazista pode ser absolvido, eu digo que sim, foi isso o que aconteceu. Os comandantes não podem ser absolvidos, pois eles tinham o massacre como objetivo de vida, o soldado não. 99% deles mal sabiam onde estavam e em quem estavam atirando. A guerra é confusa para o soldado. Isso poucos filmes mostram. Eles atiram como autômatos. O bom soldado não pensa, reage. Veja como o tema é difícil e inconclusivo. Muito mais fácil dizer: Soldado colonialista = assassino, e durma em paz.
Pare e imagine que em 2050 todos nós seremos considerados primitivos. Comedores de pobres bichos indefesos. Poluidores. Gente que queimava combustível, usava madeira e plástico. Seremos tão massacrados quanto o povo que vivia no tempo da escravidão e nada fazia contra esse crime. Iremos ser rotulados. Nossa vida será vista como um pecado sem fim. Nosso legado será podado.
Chesterton tem uma bela imagem que é mais ou menos assim: Imagine que um colibri, um belo dia, começasse a fazer pequenas estátuas de um colibri. E depois passasse a anotar como foi seu dia. O que voce pensaria? Que ali estava acontecendo um milagre. E que aquele colibri era um tipo de deus, ou um enviado dos seres superiores. Então me diga porque voce acha que o ser-humano, que é esse colibri, é uma animal tão nocivo e inferior?
Chesterton disse isso como denúncia da mania moderna de condenar o homem como o grande mal do planeta. Hoje, em 2020, essa tendência aumentou muito. A natureza é vista como mundo perfeito e o homem seria o vírus que veio botar fim à tudo. Será?
Estrelas morrem todo dia e pelo que se sabe, não há nenhum humano lá. A primeira dificuldade é aceitar que o fim é parte da natureza. Tudo termina, mesmo sem o homem. Tigres comem cervos ainda vivos. Leões matam filhotes de elefantes órfãos. Leopardos não dividem a água com zebras doentes. Macacos cruzam com todas as fêmeas. Se somos parte da natureza, somos assim. Egoístas. Mas somos mais que isso. Sinto dizer algo tão pouco da moda, mas somos melhores. Melhores pelo simples fato de esticarmos a mão para puxar um cervo fora do rio cheio de jacarés. Por ajudarmos quem não é de nossa espécie. De nossa tribo. De nossa família.
OH! mas o homem, miserável, pode destruir o planeta! Sim. Ele pode. E ele é tão maravilhoso que ainda não fez isso. Mesmo podendo fazer. Animal que tem livre arbítrio. Animal que é o único a apreciar não só o que ele fez, o que lhe pertence, mas até mesmo aquilo que jamais será dele. Ser que se interessa pelo que não é ele mesmo. Um milagre. Único bicho que se distrai da luta por comida. Que ousa não comer. Ousa não cruzar. Ousa ser não animal.
O homem cria. Eis seu milagre. Faz da pedra uma enxada e da terra, tinta. Faz do inanimado um foguete, uma vacina, música. Ele cria. Ele modifica. Ele se vê. Vasculha sua alma.
Mas hoje é moda dizer que não. A Terra não precisa de nós. Os bichos vivem sem nós. Modo simplório de pensar. Pouco trabalhoso. Sem nós a Terra nem Terra seria. Um pedaço de pó com umas coisas vivas repetindo por tempo indefinido atos sempre iguais. Esses bichos seriam extintos mesmo sem nossa ajuda. Como foram dinossauros. Esses bichos morreriam em secas. Morreriam em nevascas. Morreriam na queda de meteoros. Sem nossa ajuda.
Estamos aqui. E apesar do meu avô caçar lebres e meu pai ter tido pássaros em gaiolas, somos o milagre. Somos o único milagre na Terra. E isso não é um erro.
Primeiro se pedem direitos iguais. Justíssimo. Depois o casamento gay civil. Justo. Então o casamento religioso. Aí já parece coisa estranha. Pra quê? Mudar uma tradição dentro de uma instituição que existe em função da manutenção da tradição? Então o que acontece? Antes, se voce era a favor dos direitos civis LGBTS, ok, voce era deixado em paz. Mas agora se voce não é a favor do casamento gay na igreja, igreja que era até ontem o mal, voce é homofóbico. Mesmo que seja a favor de todo o resto da agenda. Então voce é obrigado a estar em constante reciclagem, aceitando de forma passiva reivindicação sobre reivindicação. Na verdade a filosofia da esquerda é uma só: Observar até onde o tecido social resiste. Puxar o limite ao máximo. Como desejo de criança mimada, os pedidos jamais terão um fim, porque não pedem satisfação, pedem subversão.
A vigilância sobre todos é constante. Tudo que voce faz ou aprecia hoje, poderá amanhã ser considerado pecado. Este livro pode ser denunciado como machista ou racista, este compositor poderá ter viés fascista e sua postura poderá ser considerada errada. O denuncismo, palavra bonita para dedo durismo, impera.
Meu avô caçava lebres em Portugal e meu tio serviu o exército na África. Hoje meu tio seria um colonialista assassino ( ele não chegou a matar ninguém, mas levou uma granada no lombo e ficou sem o baço ). Meu avô seria um assassino de lebres. Que Moçambique deveria ser livre é óbvio. Mas uma análise mais profunda revela que meu tio não esteve lá porque quis. Mais ainda, nenhum ser humano pode ser reduzido ao que ele fez durante um ano de sua vida. Por isso a pena de morte é injusta. Meu tio pagou qualquer erro com a quase morte no hospital e a invalidez consequente. E se voce usar a tese do nazismo, de que então um soldado nazista pode ser absolvido, eu digo que sim, foi isso o que aconteceu. Os comandantes não podem ser absolvidos, pois eles tinham o massacre como objetivo de vida, o soldado não. 99% deles mal sabiam onde estavam e em quem estavam atirando. A guerra é confusa para o soldado. Isso poucos filmes mostram. Eles atiram como autômatos. O bom soldado não pensa, reage. Veja como o tema é difícil e inconclusivo. Muito mais fácil dizer: Soldado colonialista = assassino, e durma em paz.
Pare e imagine que em 2050 todos nós seremos considerados primitivos. Comedores de pobres bichos indefesos. Poluidores. Gente que queimava combustível, usava madeira e plástico. Seremos tão massacrados quanto o povo que vivia no tempo da escravidão e nada fazia contra esse crime. Iremos ser rotulados. Nossa vida será vista como um pecado sem fim. Nosso legado será podado.
Chesterton tem uma bela imagem que é mais ou menos assim: Imagine que um colibri, um belo dia, começasse a fazer pequenas estátuas de um colibri. E depois passasse a anotar como foi seu dia. O que voce pensaria? Que ali estava acontecendo um milagre. E que aquele colibri era um tipo de deus, ou um enviado dos seres superiores. Então me diga porque voce acha que o ser-humano, que é esse colibri, é uma animal tão nocivo e inferior?
Chesterton disse isso como denúncia da mania moderna de condenar o homem como o grande mal do planeta. Hoje, em 2020, essa tendência aumentou muito. A natureza é vista como mundo perfeito e o homem seria o vírus que veio botar fim à tudo. Será?
Estrelas morrem todo dia e pelo que se sabe, não há nenhum humano lá. A primeira dificuldade é aceitar que o fim é parte da natureza. Tudo termina, mesmo sem o homem. Tigres comem cervos ainda vivos. Leões matam filhotes de elefantes órfãos. Leopardos não dividem a água com zebras doentes. Macacos cruzam com todas as fêmeas. Se somos parte da natureza, somos assim. Egoístas. Mas somos mais que isso. Sinto dizer algo tão pouco da moda, mas somos melhores. Melhores pelo simples fato de esticarmos a mão para puxar um cervo fora do rio cheio de jacarés. Por ajudarmos quem não é de nossa espécie. De nossa tribo. De nossa família.
OH! mas o homem, miserável, pode destruir o planeta! Sim. Ele pode. E ele é tão maravilhoso que ainda não fez isso. Mesmo podendo fazer. Animal que tem livre arbítrio. Animal que é o único a apreciar não só o que ele fez, o que lhe pertence, mas até mesmo aquilo que jamais será dele. Ser que se interessa pelo que não é ele mesmo. Um milagre. Único bicho que se distrai da luta por comida. Que ousa não comer. Ousa não cruzar. Ousa ser não animal.
O homem cria. Eis seu milagre. Faz da pedra uma enxada e da terra, tinta. Faz do inanimado um foguete, uma vacina, música. Ele cria. Ele modifica. Ele se vê. Vasculha sua alma.
Mas hoje é moda dizer que não. A Terra não precisa de nós. Os bichos vivem sem nós. Modo simplório de pensar. Pouco trabalhoso. Sem nós a Terra nem Terra seria. Um pedaço de pó com umas coisas vivas repetindo por tempo indefinido atos sempre iguais. Esses bichos seriam extintos mesmo sem nossa ajuda. Como foram dinossauros. Esses bichos morreriam em secas. Morreriam em nevascas. Morreriam na queda de meteoros. Sem nossa ajuda.
Estamos aqui. E apesar do meu avô caçar lebres e meu pai ter tido pássaros em gaiolas, somos o milagre. Somos o único milagre na Terra. E isso não é um erro.
ROGER SCRUTTON E O VALOR DO METALLICA
Roger Scrutton escreveu um texto exaltando o Metallica. Sim. Roger, que desprezava o rock, viu na banda uma qualidade sinfônica que o tocou. Metallica era Wagner com eletricidade.
Tenho um amigo que toca em orquestra sinfônica. Ama Bach. Me contou que eles se apresentaram uma vez tocando uma faixa do album preto da banda. A faixa que postei logo abaixo. Disse ele que ficou fabuloso.
Quem diria!
Meu irmão me deixou de herança os 4 primeiros discos do Metallica. Demorei um ano e meio para os escutar. Então escuto. Mas começo por aquele que ele não me deixou de presente, começo pelo album preto, eu o comprei. Um choque! Trata-se, escutado em 2020, sem preconceito afinal, escutado por mim, que nunca o ouviu antes, trata-se como disse, de uma obra-prima. Sim. Uma obra-prima.
Entendo Scrutton ( para quem pensar que estou sendo catequizado pelo filósofo, eu li o texto depois de me apaixonar pelo disco ). O LP é uma sinfonia riquíssima que atualiza aquilo que Richard Wagner fizera em 1850. Cada faixa é uma pequena sinfonia em si mesma, uma página de temas que se desenvolvem como um disparo de cavalos selvagens. O som é violento, mas é soberbamente pensado. Eles têm total domínio daquilo que fazem. E o que fazem é rock em sua forma mais elevada. Mistura de groove com melodia quebrada, peso em timbres metálicos.
Após me encantar, procuro textos sobre o disco e é então que topo na net com o texto de Scrutton. Leio também outras fontes que dizem ser esse o disco de rock mais vendido desde 1991. Na verdade foi aquele o último período em que o rock vendia tanto quanto outros tipos de música. Época de Red Hot, U2, Pearl Jam e Nirvana vendendo muito. Logo viria o tempo de Jay Z, OutKast, Black Eyed Peas, Snoopy, e o rock ficaria beeeem fora dos top 10. ( Ocasionais Coldplay apenas confirmam a regra ).
Descobrir uma banda na minha idade é um prazer maravilhoso. Ainda mais uma banda como o Metallica. Tenho a oportunidade de ouvir pela primeira vez TODA sua discografia. Às vezes penso como é triste não poder mais ouvir Roxy Music ou Low pela primeira vez. Mas eis que ainda há o que descobrir. E são discos fáceis de achar, o que é ainda mais legal.
Em 1991 eu estava ouvindo Chris Isaak. Happy Mondays. Public Enemy. Não renego nada. Continuo amando todos eles. Quando na MTV entrava algo de mais heavy eu mudava de canal. Ainda cabeça feita, eu odiava aquilo que me ensinaram ser "musica de idiotas". Preconceito? Muito. Odiava sem ouvir. Era tabu para mim.
Trinta anos depois eis que estou aqui, na meia idade, ouvindo a obra dos caras pela primeira vez. Para mim é novo. Virgem.
Espero que voce, que em 1991 ouviu setecentas vezes o album preto, dê, em 2020, uma chance para o Public Enemy. Ou para os Charlatans, que ouvi muito naquele tempo também. Talvez para voce esses caras parecerão novos. Mesmo que voce conheça 911 is a Joke, o resto do album será inédito.
Abro mais uma porta em minha cabeça musical. Entendi onde está a genialidade de James e de Kirk. Master of Puppets é tão bom quanto. Mas este disco preto....
Tenho um amigo que toca em orquestra sinfônica. Ama Bach. Me contou que eles se apresentaram uma vez tocando uma faixa do album preto da banda. A faixa que postei logo abaixo. Disse ele que ficou fabuloso.
Quem diria!
Meu irmão me deixou de herança os 4 primeiros discos do Metallica. Demorei um ano e meio para os escutar. Então escuto. Mas começo por aquele que ele não me deixou de presente, começo pelo album preto, eu o comprei. Um choque! Trata-se, escutado em 2020, sem preconceito afinal, escutado por mim, que nunca o ouviu antes, trata-se como disse, de uma obra-prima. Sim. Uma obra-prima.
Entendo Scrutton ( para quem pensar que estou sendo catequizado pelo filósofo, eu li o texto depois de me apaixonar pelo disco ). O LP é uma sinfonia riquíssima que atualiza aquilo que Richard Wagner fizera em 1850. Cada faixa é uma pequena sinfonia em si mesma, uma página de temas que se desenvolvem como um disparo de cavalos selvagens. O som é violento, mas é soberbamente pensado. Eles têm total domínio daquilo que fazem. E o que fazem é rock em sua forma mais elevada. Mistura de groove com melodia quebrada, peso em timbres metálicos.
Após me encantar, procuro textos sobre o disco e é então que topo na net com o texto de Scrutton. Leio também outras fontes que dizem ser esse o disco de rock mais vendido desde 1991. Na verdade foi aquele o último período em que o rock vendia tanto quanto outros tipos de música. Época de Red Hot, U2, Pearl Jam e Nirvana vendendo muito. Logo viria o tempo de Jay Z, OutKast, Black Eyed Peas, Snoopy, e o rock ficaria beeeem fora dos top 10. ( Ocasionais Coldplay apenas confirmam a regra ).
Descobrir uma banda na minha idade é um prazer maravilhoso. Ainda mais uma banda como o Metallica. Tenho a oportunidade de ouvir pela primeira vez TODA sua discografia. Às vezes penso como é triste não poder mais ouvir Roxy Music ou Low pela primeira vez. Mas eis que ainda há o que descobrir. E são discos fáceis de achar, o que é ainda mais legal.
Em 1991 eu estava ouvindo Chris Isaak. Happy Mondays. Public Enemy. Não renego nada. Continuo amando todos eles. Quando na MTV entrava algo de mais heavy eu mudava de canal. Ainda cabeça feita, eu odiava aquilo que me ensinaram ser "musica de idiotas". Preconceito? Muito. Odiava sem ouvir. Era tabu para mim.
Trinta anos depois eis que estou aqui, na meia idade, ouvindo a obra dos caras pela primeira vez. Para mim é novo. Virgem.
Espero que voce, que em 1991 ouviu setecentas vezes o album preto, dê, em 2020, uma chance para o Public Enemy. Ou para os Charlatans, que ouvi muito naquele tempo também. Talvez para voce esses caras parecerão novos. Mesmo que voce conheça 911 is a Joke, o resto do album será inédito.
Abro mais uma porta em minha cabeça musical. Entendi onde está a genialidade de James e de Kirk. Master of Puppets é tão bom quanto. Mas este disco preto....
ROGER SCRUTTON
Roger Scrutton morreu ontem e este texto é escrito sob a influência de um artigo lido ontem. Enviado por um amigo, ele me fez perceber uma contradição no pensamento de Scrutton: ele é conservador, mas possui ao mesmo tempo o ressentimento típico da esquerda. Explico para voce...
No pensamento da esquerda, como dito pelo próprio Scrutton, há a dor de não se sentir confortável dentro do mundo como ele é. Daí o desejo de o destruir. O ressentimento é aquele de quem vive imerso numa cultura vista como repressora, tola e profundamente enganosa. Scrutton tinha esse sentimento dentro de si, e por isso era um conservador ilegítimo. Várias vezes ele fala do desencanto da vida, da derrota do mundo ideal, do sentimento de fim de época. Ora, nada mais romântico e portanto menos conservador que se sentir ausente da realidade, derrotado, fora de lugar. Roger Scrutton era então um conservador pessimista, algo que nunca existiu.
Isso se dava por dois motivos: Scrutton duvidava da existência de Deus. E pior, não conseguia crer na eternidade da alma. Um conservador sem Deus e sem alma imortal perde toda sua confiança. O mundo o ameaça e ele se vê preso dentro do mundo inseguro da esquerda.
Nada irrita mais um socialista que a confiança risonha do conservador. Para o conservador, o mundo é o que é e deve ser como é. Isso porque ele foi feito por Deus e Deus faz o que deve ser feito. Pobres serão socorridos, o mal será combatido, mas tudo dentro da fé. O conservador não quer destruir o mundo, não deseja reescrever a história, ele pensa em conservar e terminar a obra de Deus. Sua confiança vem de acreditar ser imortal e jamais duvida de que seu pensamento é, portanto, eterno. Chesterton e Burke possuíam essa risonha confiança. Scrutton nunca. Incapaz de crer, ele baseia toda sua fé no amor ao lar inglês, aos costumes antigos, às velhas comunidades. É pouco. E ele sabe disso.
De todo modo, ler Scrutton, foi e é, para mim, um imenso prazer. Sua escrita é sedutora, e se ele não é um conservador autêntico, ele abre nossos olhos colonizados, para a existência de todo um universo intelectual não explorado. Crescemos neste trópico crendo que a única verdade vivia na esquerda e que o pensamento da direita seria sempre raso, tolo, pouco relevante. Scrutton me fez perceber que na realidade o pensamento da esquerda se tornou automático, preguiçoso, ultrapassado. A esquerda não pensa mais, ela apenas repete slogans.
Meu sentimento de coração sempre foi conservador porque eu sempre vi a história como a saga de grandes homens e não um movimento exato e constante. Assim como prefiro consertar e reparar que destruir e recomeçar. A tara latino americana pelo eterno recomeço é o que nos faz pobres e vazios de história. Mas, como Scrutton, tenho imensa dificuldades com Deus e a eternidade. Não consigo ter a tranquila fé do bom conservador. A certeza. O sentimento de que tudo é para sempre e tudo é como deve ser.
Espero que Chesterton esteja certo. E que Scrutton tenha encontrado a eternidade. E esteja dando gargalhadas vendo, afinal, que Marx e Foucault eram apenas dois invejosos.
Eles eram. Eles são.
No pensamento da esquerda, como dito pelo próprio Scrutton, há a dor de não se sentir confortável dentro do mundo como ele é. Daí o desejo de o destruir. O ressentimento é aquele de quem vive imerso numa cultura vista como repressora, tola e profundamente enganosa. Scrutton tinha esse sentimento dentro de si, e por isso era um conservador ilegítimo. Várias vezes ele fala do desencanto da vida, da derrota do mundo ideal, do sentimento de fim de época. Ora, nada mais romântico e portanto menos conservador que se sentir ausente da realidade, derrotado, fora de lugar. Roger Scrutton era então um conservador pessimista, algo que nunca existiu.
Isso se dava por dois motivos: Scrutton duvidava da existência de Deus. E pior, não conseguia crer na eternidade da alma. Um conservador sem Deus e sem alma imortal perde toda sua confiança. O mundo o ameaça e ele se vê preso dentro do mundo inseguro da esquerda.
Nada irrita mais um socialista que a confiança risonha do conservador. Para o conservador, o mundo é o que é e deve ser como é. Isso porque ele foi feito por Deus e Deus faz o que deve ser feito. Pobres serão socorridos, o mal será combatido, mas tudo dentro da fé. O conservador não quer destruir o mundo, não deseja reescrever a história, ele pensa em conservar e terminar a obra de Deus. Sua confiança vem de acreditar ser imortal e jamais duvida de que seu pensamento é, portanto, eterno. Chesterton e Burke possuíam essa risonha confiança. Scrutton nunca. Incapaz de crer, ele baseia toda sua fé no amor ao lar inglês, aos costumes antigos, às velhas comunidades. É pouco. E ele sabe disso.
De todo modo, ler Scrutton, foi e é, para mim, um imenso prazer. Sua escrita é sedutora, e se ele não é um conservador autêntico, ele abre nossos olhos colonizados, para a existência de todo um universo intelectual não explorado. Crescemos neste trópico crendo que a única verdade vivia na esquerda e que o pensamento da direita seria sempre raso, tolo, pouco relevante. Scrutton me fez perceber que na realidade o pensamento da esquerda se tornou automático, preguiçoso, ultrapassado. A esquerda não pensa mais, ela apenas repete slogans.
Meu sentimento de coração sempre foi conservador porque eu sempre vi a história como a saga de grandes homens e não um movimento exato e constante. Assim como prefiro consertar e reparar que destruir e recomeçar. A tara latino americana pelo eterno recomeço é o que nos faz pobres e vazios de história. Mas, como Scrutton, tenho imensa dificuldades com Deus e a eternidade. Não consigo ter a tranquila fé do bom conservador. A certeza. O sentimento de que tudo é para sempre e tudo é como deve ser.
Espero que Chesterton esteja certo. E que Scrutton tenha encontrado a eternidade. E esteja dando gargalhadas vendo, afinal, que Marx e Foucault eram apenas dois invejosos.
Eles eram. Eles são.
CONFISSÕES DE UM HERÉTICO - ROGER SCRUTON. O MELHOR PENSADOR.
Ayiné é o nome da editora. Mineira. Ela tem lançado pequenos livros, bem feitos e interessantes. Estilosos. Scruton tem sido publicado neste fim de mundo por 3 editoras diferentes. Bom sinal. Se voce nunca o leu, este livro é um bom começo. Ele traz textos publicados em revistas e jornais, e dois deles são inéditos. Felizmente o autor escreve muito. Ler seu pensamento é um prazer.
Descobri Scruton por acaso e a identificação foi imediata. Ele não só raciocina como eu gostaria de poder, como vê o mundo de um modo que é irmão ao meu. Aqui darei uma geral muito breve deste livro. Tudo escrito abaixo é de sua fonte. Meus adendos vêm entre parênteses.
O primeiro texto, Fingindo, toca num dos pontos que mais interessam aqueles que conhecem Scruton: a falsidade na arte. O modo como a arte moderna tem um caráter de embuste, onde críticos fingem ver complexidade onde só há vaidade. O artista finge se levar a sério, o crítico finge entender algo de imenso na obra e o público finge gostar. Todos ficam contentes e ninguém diz a verdade.
O segundo texto é o mais bonito do livro. Fala dos animais. A princípio, parece que ele vai atacar a mania de defender bichos. Mas não. Ele ataca apenas os gatos. ( Leia e entenda o por que ). Scruton defende os animais selvagens, e dá motivo racional, não sentimental, para isso. E faz um lindo retrato, real, do que é um cão. Ele pensa como eu. Um bicho está longe de ser um bebê ou um ser. Mas ele tem sentimentos, tem emoções e deve ser tratado com dignidade. Mesmo que sua vida seja apenas caçar e ser caçado.
Não falarei de todos os textos. Isto não é um resumo, é apenas um elogio. Mas tenho de citar o texto sobre a dança. Ele dá a melhor descrição sobre o que significa a música eletrônica e onde mora o valor da música POP. A dança, a dança a dois, em salão, grupal, com passos decorados, movimentos delicados, atenção ao parceiro, era uma linguagem que ensinava o jovem o jogo da cortesia, dos bons modos e da leveza no trato à vida. ( Lembro que mesmo meu pai, um anti social, sabia dançar valsa ). A música eletrônica nos faz dançar a sós, ou pior, em exibicionismo narcísico, onde o outro existe apenas para ser conquistado ou para ser nosso espelho. Não há ritual, regras, modos ou cuidado com o parceiro. Não há na verdade parceiro nenhum. Scruton, que sabe muito de música, fala sobre a harmonia, a melodia, a função educativa que elas possuem, e de como, mesmo na mais banal das melodias POP, elas ainda tentam sobreviver.
O mais profundo dos textos é aquele que fala da hora certa de morrer. Esse toca numa ferida. Haveria momento certo para se morrer? Vale a pena viver uma vida de doença? Não há como eu resenhar este texto. O desenvolvimento do pensamento de Scruton é astuto e poético. Precisa ser lido. O que digo é que ele fala que a vida é uma questão de profundidade e nunca de duração.
Há ainda textos sobre o luto, a tela e a internet ( o menos bom deles...ele não erra, mas é quase óbvio ), formas de governo, o que é o conservadorismo ( inexistente neste canto de mundo ), arquitetura, ícones visuais. É um banquete para o cérebro e um guia para o coração. Voce tem de ler este livro. Sua mente o merece.
Descobri Scruton por acaso e a identificação foi imediata. Ele não só raciocina como eu gostaria de poder, como vê o mundo de um modo que é irmão ao meu. Aqui darei uma geral muito breve deste livro. Tudo escrito abaixo é de sua fonte. Meus adendos vêm entre parênteses.
O primeiro texto, Fingindo, toca num dos pontos que mais interessam aqueles que conhecem Scruton: a falsidade na arte. O modo como a arte moderna tem um caráter de embuste, onde críticos fingem ver complexidade onde só há vaidade. O artista finge se levar a sério, o crítico finge entender algo de imenso na obra e o público finge gostar. Todos ficam contentes e ninguém diz a verdade.
O segundo texto é o mais bonito do livro. Fala dos animais. A princípio, parece que ele vai atacar a mania de defender bichos. Mas não. Ele ataca apenas os gatos. ( Leia e entenda o por que ). Scruton defende os animais selvagens, e dá motivo racional, não sentimental, para isso. E faz um lindo retrato, real, do que é um cão. Ele pensa como eu. Um bicho está longe de ser um bebê ou um ser. Mas ele tem sentimentos, tem emoções e deve ser tratado com dignidade. Mesmo que sua vida seja apenas caçar e ser caçado.
Não falarei de todos os textos. Isto não é um resumo, é apenas um elogio. Mas tenho de citar o texto sobre a dança. Ele dá a melhor descrição sobre o que significa a música eletrônica e onde mora o valor da música POP. A dança, a dança a dois, em salão, grupal, com passos decorados, movimentos delicados, atenção ao parceiro, era uma linguagem que ensinava o jovem o jogo da cortesia, dos bons modos e da leveza no trato à vida. ( Lembro que mesmo meu pai, um anti social, sabia dançar valsa ). A música eletrônica nos faz dançar a sós, ou pior, em exibicionismo narcísico, onde o outro existe apenas para ser conquistado ou para ser nosso espelho. Não há ritual, regras, modos ou cuidado com o parceiro. Não há na verdade parceiro nenhum. Scruton, que sabe muito de música, fala sobre a harmonia, a melodia, a função educativa que elas possuem, e de como, mesmo na mais banal das melodias POP, elas ainda tentam sobreviver.
O mais profundo dos textos é aquele que fala da hora certa de morrer. Esse toca numa ferida. Haveria momento certo para se morrer? Vale a pena viver uma vida de doença? Não há como eu resenhar este texto. O desenvolvimento do pensamento de Scruton é astuto e poético. Precisa ser lido. O que digo é que ele fala que a vida é uma questão de profundidade e nunca de duração.
Há ainda textos sobre o luto, a tela e a internet ( o menos bom deles...ele não erra, mas é quase óbvio ), formas de governo, o que é o conservadorismo ( inexistente neste canto de mundo ), arquitetura, ícones visuais. É um banquete para o cérebro e um guia para o coração. Voce tem de ler este livro. Sua mente o merece.
LITTLE DEUCE COUPE - ALL SUMMER LONG - THE BEACH BOYS
Muita gente gosta de dizer que ama Pet Sounds, mas esquece que Pet Sounds veio de algum lugar, e este lugar é aqui. CD único, com belo livreto, tem dois LPS da banda: Little deuce coupe é do fim de 1963 e All summer long de 1964. Em dois anos eles gravaram cinco LPS. E que maravilha eles são!
O tema de Little deuce coupe é a estrada, não a estrada como fuga, mas sim como lugar onde se pode correr com um carro. O amor de um jovem por seu carro, esse o tema de todas as canções. Brian Wilson começava a falar de si mesmo, abandonava a praia, lugar que nunca gostou, e passava a contar coisas sobre carros, um dos seus amores. O amor maior ainda era a música.
Brian Wilson foi o Mozart de sua geração, um gênio tolo, um gênio solar, um gênio feliz. Sim, feliz até o fim de 1964, hora em que ele encontra a marca de seu tempo, a droga e a paranoia. Brian bebeu na fonte de Chuck Berry, dos grupos vocais dos anos 50, em Burt Bacharach, e, incrível!, jamais se deixou pegar por Dylan. A música dos Beach Boys é música de anjos. Há uma delicadeza em cada nota, um encontro harmônico em cada arpejo, uma sinceridade barroca em toda canção de um minuto e meio.
Veja uma simplicidade como 409. As vozes soam como alegria otimista, são vozes de jovens confiantes, e a instrumentação, elétrica, tem uma leveza que combina com suas asas. As melodias nunca são o "yeah yeah yeah" direto e repetido dos Beatles, são voltas e aperfeiçoamentos que sobem até a beleza sublime. Não é rock. Os Beach Boys se deram mal a partir de 1966, também porque os hippies notaram que eles estavam muito mais para música popular americana que para rock'n'roll. Burt Bacharach, mas também Johnny Mandel, Gil Evans e Cole Porter.
Quando George Lucas lançou o sublime American Graffitti, encerrou o filme com All summer long. Ele sabia que ali estava o sonho. Tudo aquilo que um jovem queria ser em dois minutos de música e letra. All summer long é ainda melhor que Little deuce coupe, e seu tema é "o cotidiano de um beach boy". Como diz Scruton, escrever sobre música...como? Escrever sobre os Beach Boys, como?
Se os Beatles são potencialmente e de fato, a maior banda de rock do mundo, os Beach Boys são potencialmente e de fato, a maior banda de música do mundo. Melhor ouvir Little Honda. Um mundo de pequenos toques musicais na mais simples das formas.
Menos é mais. Brian sempre soube disso.
O tema de Little deuce coupe é a estrada, não a estrada como fuga, mas sim como lugar onde se pode correr com um carro. O amor de um jovem por seu carro, esse o tema de todas as canções. Brian Wilson começava a falar de si mesmo, abandonava a praia, lugar que nunca gostou, e passava a contar coisas sobre carros, um dos seus amores. O amor maior ainda era a música.
Brian Wilson foi o Mozart de sua geração, um gênio tolo, um gênio solar, um gênio feliz. Sim, feliz até o fim de 1964, hora em que ele encontra a marca de seu tempo, a droga e a paranoia. Brian bebeu na fonte de Chuck Berry, dos grupos vocais dos anos 50, em Burt Bacharach, e, incrível!, jamais se deixou pegar por Dylan. A música dos Beach Boys é música de anjos. Há uma delicadeza em cada nota, um encontro harmônico em cada arpejo, uma sinceridade barroca em toda canção de um minuto e meio.
Veja uma simplicidade como 409. As vozes soam como alegria otimista, são vozes de jovens confiantes, e a instrumentação, elétrica, tem uma leveza que combina com suas asas. As melodias nunca são o "yeah yeah yeah" direto e repetido dos Beatles, são voltas e aperfeiçoamentos que sobem até a beleza sublime. Não é rock. Os Beach Boys se deram mal a partir de 1966, também porque os hippies notaram que eles estavam muito mais para música popular americana que para rock'n'roll. Burt Bacharach, mas também Johnny Mandel, Gil Evans e Cole Porter.
Quando George Lucas lançou o sublime American Graffitti, encerrou o filme com All summer long. Ele sabia que ali estava o sonho. Tudo aquilo que um jovem queria ser em dois minutos de música e letra. All summer long é ainda melhor que Little deuce coupe, e seu tema é "o cotidiano de um beach boy". Como diz Scruton, escrever sobre música...como? Escrever sobre os Beach Boys, como?
Se os Beatles são potencialmente e de fato, a maior banda de rock do mundo, os Beach Boys são potencialmente e de fato, a maior banda de música do mundo. Melhor ouvir Little Honda. Um mundo de pequenos toques musicais na mais simples das formas.
Menos é mais. Brian sempre soube disso.
CORAÇÃO DEVOTADO À MORTE, O SEXO E O SAGRADO EM TRISTÃO E ISOLDA DE WAGNER. - ROGER SCRUTON.
Kant, Schopenhauer, Auerbach, Nietzsche, Wittgeinstein, Freud, Merleau-Ponty, Foucault e Girard. Todos são citados várias vezes por Scruton e todos são, ao final, refutados pelo filósofo inglês. Refutados em relação aquilo de que se ocupa o livro, o erotismo e a morte. Uns mais outros menos, todos revelam algo de reducionista ao evitar o tema ou a aborda-lo de uma maneira que o descreve DE FORA e jamais de dentro. Scruton não tem medo. Ele não evita entrar no sentimento e no ato, na fantasia e naquilo que sabemos acontecer mas que não conseguimos entender. Roger Scruton aceita o não-saber. Para ele é isso o sagrado: fazer, aceitar, repetir, seguir, sem jamais entender. Saber que ali há algo que foge ao entendimento e que por isso pode ser puramente ilusório. Mas não parece ser. E por isso ele, o mistério, é confirmado em atos, objetos, lugares que são aquilo que precisam ser. Para Scruton o homem é sagrado. Por mais que o cinismo atual ria disso, ele é.
Somos corpos reais que se percebem no limite da realidade. Enquanto corpo estamos no mundo, enquanto sujeitos estamos observando o mundo de um lugar que sempre nos parece fora da realidade corporal. É o que nos define como seres não-animais: olhamos para nós mesmos, analisamos o que somos e o que devemos ou não queremos ser ou fazer. Temos escolhas. Ao contrário dos bichos, estamos sempre decidindo, antecipando, planejando. Nosso corpo, real como é uma pedra, se move entre as coisas como ser que funciona por instinto. Nosso eu, colocado à parte do real, olha e tira ideias, cria e lembra.
Dentro dessa verdade, o Amor-Erótico surge como o momento em que o corpo e o sujeito se unem em um só. Eu amo a pessoa que está naquele corpo. Ao contrário da pornografia, não é aquele corpo que desejo, o que desejo é quem está naquele corpo. A pessoa e o corpo se tornam um só para mim, e eu me torno um só para ela. E, contra a ideia de Freud, de que a paixão era nada mais que um tipo de fome ou sede, algo mecânico e animal, só aquela pessoa pode fazer por mim o que faço por ela. Ela é insubstituível. Única em um universo.
Scruton vai em frente e toca na escolha. Para ódio dos modernos, não podemos escolher a quem amar. Somos presos do acaso. Mas podemos escolher como amar essa pessoa que nos surge. E vem daí a ópera de Wagner. Scruton a disseca em texto e música. Lenda vinda da idade média, ela fala de um sobrinho que se apaixona pela mulher prometida ao tio. E ela o ama do mesmo modo. Tudo termina em morte e em vitória do amor. ( Contei a história de um modo bem simplificado ). O que Wagner mostra é que amor e morte são a mesma coisa. Todo amor verdadeiro só pode vencer se encontrar a morte. E essa morte é o modo que o amor encontra de durar para sempre.
Wagner não acreditava em Deus. Mas amava o budismo. O amor era, para ele, o modo de se deixar dissolver no Nada e a morte se tornava assim uma libertação da ilusão. O amor de Tristão e de Isolda seria profanado se tivesse de viver em meio às exigências do mundo fútil e vazio do dia a dia. Para ele viver puro e perfeito ele precisa morrer.
Scruton aceita isso e vai adiante. Para ele, esse amor não precisa de um deus para ser sagrado. No olhar que reconhece, na individualidade de cada amante, vive a eternidade da particularidade que só o sujeito pode ter. No amor e na morte o Ser se afirma como sujeito livre. Ele sai do mundo das contingencias, das obrigações, e passa a se mover no mundo das escolhas e dos riscos. Sim, ele não escolhe seu amor, mas como disse, ele escolhe manter esse amor no nível do AMOR CORTÊS, o mundo do amor que significa, que simboliza, que vai além. O amor que nega a fome, a pornografia. ( A pornografia é o desejo que transforma o amado em objeto desfrutável e intercambiável. Ela vive da dessacralização do amor e da ofensa ao corpo ).
A música de Wagner, sagrada e prova de um eu criador, leva o ouvinte para dentro desse erotismo que, como todo erotismo, coloca os amantes fora do mundo real e dentro do mundo com sentido. Para o casal, só eles existem, só eles são vivos, só eles podem durar. Na morte eles dizem ao mundo que escolheram seu destino. Saíram do mundo dos fenômenos e adentram a liberdade. Deixam de ser dois e se tornam parte de um todo onde não há eu e voce.
Qualquer um de vocês, se já amou de verdade, sabe do que falo. Por mais ateu, ou cínico ou frio que voce seja, sabe que no amor há a companhia da morte. O mundo inteiro morre para os amantes. O passado morre. O que existe é o amor e o medo de que ele se perca. Há um momento em que sentimos a proximidade da morte. "Se ela se for eu morro".
Não se engane. Ela se foi e voce morreu.
Somos corpos reais que se percebem no limite da realidade. Enquanto corpo estamos no mundo, enquanto sujeitos estamos observando o mundo de um lugar que sempre nos parece fora da realidade corporal. É o que nos define como seres não-animais: olhamos para nós mesmos, analisamos o que somos e o que devemos ou não queremos ser ou fazer. Temos escolhas. Ao contrário dos bichos, estamos sempre decidindo, antecipando, planejando. Nosso corpo, real como é uma pedra, se move entre as coisas como ser que funciona por instinto. Nosso eu, colocado à parte do real, olha e tira ideias, cria e lembra.
Dentro dessa verdade, o Amor-Erótico surge como o momento em que o corpo e o sujeito se unem em um só. Eu amo a pessoa que está naquele corpo. Ao contrário da pornografia, não é aquele corpo que desejo, o que desejo é quem está naquele corpo. A pessoa e o corpo se tornam um só para mim, e eu me torno um só para ela. E, contra a ideia de Freud, de que a paixão era nada mais que um tipo de fome ou sede, algo mecânico e animal, só aquela pessoa pode fazer por mim o que faço por ela. Ela é insubstituível. Única em um universo.
Scruton vai em frente e toca na escolha. Para ódio dos modernos, não podemos escolher a quem amar. Somos presos do acaso. Mas podemos escolher como amar essa pessoa que nos surge. E vem daí a ópera de Wagner. Scruton a disseca em texto e música. Lenda vinda da idade média, ela fala de um sobrinho que se apaixona pela mulher prometida ao tio. E ela o ama do mesmo modo. Tudo termina em morte e em vitória do amor. ( Contei a história de um modo bem simplificado ). O que Wagner mostra é que amor e morte são a mesma coisa. Todo amor verdadeiro só pode vencer se encontrar a morte. E essa morte é o modo que o amor encontra de durar para sempre.
Wagner não acreditava em Deus. Mas amava o budismo. O amor era, para ele, o modo de se deixar dissolver no Nada e a morte se tornava assim uma libertação da ilusão. O amor de Tristão e de Isolda seria profanado se tivesse de viver em meio às exigências do mundo fútil e vazio do dia a dia. Para ele viver puro e perfeito ele precisa morrer.
Scruton aceita isso e vai adiante. Para ele, esse amor não precisa de um deus para ser sagrado. No olhar que reconhece, na individualidade de cada amante, vive a eternidade da particularidade que só o sujeito pode ter. No amor e na morte o Ser se afirma como sujeito livre. Ele sai do mundo das contingencias, das obrigações, e passa a se mover no mundo das escolhas e dos riscos. Sim, ele não escolhe seu amor, mas como disse, ele escolhe manter esse amor no nível do AMOR CORTÊS, o mundo do amor que significa, que simboliza, que vai além. O amor que nega a fome, a pornografia. ( A pornografia é o desejo que transforma o amado em objeto desfrutável e intercambiável. Ela vive da dessacralização do amor e da ofensa ao corpo ).
A música de Wagner, sagrada e prova de um eu criador, leva o ouvinte para dentro desse erotismo que, como todo erotismo, coloca os amantes fora do mundo real e dentro do mundo com sentido. Para o casal, só eles existem, só eles são vivos, só eles podem durar. Na morte eles dizem ao mundo que escolheram seu destino. Saíram do mundo dos fenômenos e adentram a liberdade. Deixam de ser dois e se tornam parte de um todo onde não há eu e voce.
Qualquer um de vocês, se já amou de verdade, sabe do que falo. Por mais ateu, ou cínico ou frio que voce seja, sabe que no amor há a companhia da morte. O mundo inteiro morre para os amantes. O passado morre. O que existe é o amor e o medo de que ele se perca. Há um momento em que sentimos a proximidade da morte. "Se ela se for eu morro".
Não se engane. Ela se foi e voce morreu.
A ALMA DO MUNDO- ROGER SCRUTON. MÚSICA, PRÉDIOS E ROSTOS.
Roger Scruton se tornou o autor que mais leio. Fácil entender porque. Seu pensamento coincide muito com o meu e então posso dizer que sou um "scrutoniano". Chesterton tem um lado de frequentador de igreja que não bate com minha preguiça, mas Scruton alcança a fé sem negar a ciência. Ele faz perguntas, perguntas incômodas.
De todos os livros dele que li, este é o menos acessível por ser o mais puramente filosófico. Ele fala de Kant, Hegel, Kierkegaard, Locke, e de Darwin, Freud, Marx, as vozes dominantes de hoje. Se voce conhece Scruton, sabe que ele aponta como "o mal do tempo atual", a morte da beleza, da fé e do humanismo. Para ele, tudo isso pode ser dito com uma palavra, a "morte de Deus". Entendido isso como o fim do sentimento de continuidade, de se viver e trabalhar para a eternidade, o senso de se fazer parte de um passado vivo no presente e carregado ao futuro.
Dentre os vários assuntos Scruton fala de música, um de seus mais caros temas. Ele diferencia ouvir de escutar. Hoje se escuta música, mas pouco se ouve. Ouvir pressupõe tempo, silêncio, atenção e lugar apropriado. Com a vulgarização do escutar se perde a chance de encarar a música como uma experiência de crescimento, de refinamento dos sentidos e de beleza. E nesse texto interessantíssimo, Scruton levanta a questão de que a música é uma coisa inexplicável. Encadeamento de sons que dizem muito sem falar nada, que mostram um mundo sem ser visível, que nascem do nada, que não têm matéria, que não se pode explicar. Voce pode analisar e saber tudo sobre tom, timbre, notas, mas mesmo assim não sabe porque esses sons conseguem falar, mostrar, levar e embelezar. São harmonias, crescendos, combinações que revelam porquês jamais explicados.
Daí Scruton vai ao mistério do rosto e ao maior dos mistérios, a empatia. O olhar olho no olho que mostra a alma. Nossa procura por algo de escondido no olho do nosso amor. Pornografia é a destruição do rosto, a transformação de sexo em pernas e bundas. O amor e o erotismo são faces, rostos, olhares. O rosto que fala sem falar, eis a revelação da alma. Olhamos o rosto de uma pessoa e não vemos olhos e nariz, boca e orelhas, vemos um sujeito que ansia por ser revelado.
E daí vem a arquitetura e de forma esperta Scruton revela que a boa arquitetura tem rosto e a má tem objetos. Boas construções são como rostos, têm vida, são únicas, revelam o que se esconde por trás. Más construções nada revelam. São corpos sem rostos. Não falam, não mostram e nada comunicam. São mortas, frias, indiferentes.
Fiz um resumo apenas, o livro é vasto, grande, colossal. É preciso o ler.
De todos os livros dele que li, este é o menos acessível por ser o mais puramente filosófico. Ele fala de Kant, Hegel, Kierkegaard, Locke, e de Darwin, Freud, Marx, as vozes dominantes de hoje. Se voce conhece Scruton, sabe que ele aponta como "o mal do tempo atual", a morte da beleza, da fé e do humanismo. Para ele, tudo isso pode ser dito com uma palavra, a "morte de Deus". Entendido isso como o fim do sentimento de continuidade, de se viver e trabalhar para a eternidade, o senso de se fazer parte de um passado vivo no presente e carregado ao futuro.
Dentre os vários assuntos Scruton fala de música, um de seus mais caros temas. Ele diferencia ouvir de escutar. Hoje se escuta música, mas pouco se ouve. Ouvir pressupõe tempo, silêncio, atenção e lugar apropriado. Com a vulgarização do escutar se perde a chance de encarar a música como uma experiência de crescimento, de refinamento dos sentidos e de beleza. E nesse texto interessantíssimo, Scruton levanta a questão de que a música é uma coisa inexplicável. Encadeamento de sons que dizem muito sem falar nada, que mostram um mundo sem ser visível, que nascem do nada, que não têm matéria, que não se pode explicar. Voce pode analisar e saber tudo sobre tom, timbre, notas, mas mesmo assim não sabe porque esses sons conseguem falar, mostrar, levar e embelezar. São harmonias, crescendos, combinações que revelam porquês jamais explicados.
Daí Scruton vai ao mistério do rosto e ao maior dos mistérios, a empatia. O olhar olho no olho que mostra a alma. Nossa procura por algo de escondido no olho do nosso amor. Pornografia é a destruição do rosto, a transformação de sexo em pernas e bundas. O amor e o erotismo são faces, rostos, olhares. O rosto que fala sem falar, eis a revelação da alma. Olhamos o rosto de uma pessoa e não vemos olhos e nariz, boca e orelhas, vemos um sujeito que ansia por ser revelado.
E daí vem a arquitetura e de forma esperta Scruton revela que a boa arquitetura tem rosto e a má tem objetos. Boas construções são como rostos, têm vida, são únicas, revelam o que se esconde por trás. Más construções nada revelam. São corpos sem rostos. Não falam, não mostram e nada comunicam. São mortas, frias, indiferentes.
Fiz um resumo apenas, o livro é vasto, grande, colossal. É preciso o ler.
COISAS INUTEIS QUE VALEM TANTO...
Em 2010 eu morava em uma casa pequena, simples, feita em 1950. Casa de gente da baixa classe média. Da mais baixa das médias. E mesmo assim aquele que a construiu teve um cuidado imenso em fazer coisas "inúteis", sem funcionalidade, para dar à modesta casa algo de "belo".
O teto da sala tinha um círculo de gesso ao redor do lustre. As paredes tinham molduras que acompanhavam as linhas das paredes. No lado de fora havia um trabalho esculpido emoldurando todas as janelas. Além disso, as grades do portão tinham voltas e círculos e claro, um jardim.
Vejamos agora uma outra residência feita para o mesmo tipo de pessoa. Só que construída em 1990. Sem jardim, a frente é ocupada por um coberto que serve para guardar o carro. O portão é reto e seguro. Cumpri sua função. Não há moldura nas janelas, pois esse seria um trabalho inútil. As paredes são lisas, pois a única preocupação é fazer com que elas segurem o teto. Mesmo na escolha das cores inexiste a preocupação com a beleza. São escolhidas porque acumulam calor ou não. São fáceis de lavar. Ou não.
Postei acima um video de Roger Scruton em que ele fala sobre a beleza. E, claro, só dou este exemplo, não vou repetir o que ele diz. Assista. Assino tudo o que ele fala.
Mais um exemplo então: Estudei numa escola pública em 1969. A escola tinha azulejos nas paredes dos corredores. E janelas de vidro opaco. Havia um vitral no pátio. E era cercada por um jardim. A visitei hoje. Os azulejos foram pintados. O vitral coberto por tijolos. O vidro opaco são hoje placas de ferro. E o jardim foi coberto por um puxadinho. Tudo mais util.
Termino este testemunho dizendo que a beleza é o consolo da vida e por isso ela é uma religião. E que um mundo sem o conceito de belo não vale a pena ser defendido. A arte moderna identificou o belo com a odiada burguesia. Burgueses amavam o belo. Mas esses artistas se esqueceram de que a arte também amava o belo. Nós todos amamos o belo. E sabemos o que é belo. Nosso instinto, nossa intuição diz o que é a beleza e o que é feio. É visceral. É espiritual. É humano.
Belo é tudo aquilo que reflete fora de nós o que há de melhor dentro de nós.
E eu tenho a certeza que o meu melhor não é uma lata de merda ou um monte de tijolos.
Mas pode ser tanto o Davi como a Guernica. A dor e a raiva são partes de meu melhor. Mas dor e raiva expressas usando o que de melhor há para se usar: criatividade e linguagem que transcende o banal. A arte e o belo nos erguem. Faz de nós seres menos miseráveis.
A arte de 2017 ( salvo exceções ) me lembra o rancoroso que por não conseguir cantar, grita que seus gemidos são música melhor. A arte se tornou um clube de rancorosos impotentes. Gente incapaz de amar a vida. E que tenta crer que a arte foi sempre assim.
Não meus queridos infelizes. A arte é homenagem à vida.
E sendo assim, é o mais belo dos presentes.
O teto da sala tinha um círculo de gesso ao redor do lustre. As paredes tinham molduras que acompanhavam as linhas das paredes. No lado de fora havia um trabalho esculpido emoldurando todas as janelas. Além disso, as grades do portão tinham voltas e círculos e claro, um jardim.
Vejamos agora uma outra residência feita para o mesmo tipo de pessoa. Só que construída em 1990. Sem jardim, a frente é ocupada por um coberto que serve para guardar o carro. O portão é reto e seguro. Cumpri sua função. Não há moldura nas janelas, pois esse seria um trabalho inútil. As paredes são lisas, pois a única preocupação é fazer com que elas segurem o teto. Mesmo na escolha das cores inexiste a preocupação com a beleza. São escolhidas porque acumulam calor ou não. São fáceis de lavar. Ou não.
Postei acima um video de Roger Scruton em que ele fala sobre a beleza. E, claro, só dou este exemplo, não vou repetir o que ele diz. Assista. Assino tudo o que ele fala.
Mais um exemplo então: Estudei numa escola pública em 1969. A escola tinha azulejos nas paredes dos corredores. E janelas de vidro opaco. Havia um vitral no pátio. E era cercada por um jardim. A visitei hoje. Os azulejos foram pintados. O vitral coberto por tijolos. O vidro opaco são hoje placas de ferro. E o jardim foi coberto por um puxadinho. Tudo mais util.
Termino este testemunho dizendo que a beleza é o consolo da vida e por isso ela é uma religião. E que um mundo sem o conceito de belo não vale a pena ser defendido. A arte moderna identificou o belo com a odiada burguesia. Burgueses amavam o belo. Mas esses artistas se esqueceram de que a arte também amava o belo. Nós todos amamos o belo. E sabemos o que é belo. Nosso instinto, nossa intuição diz o que é a beleza e o que é feio. É visceral. É espiritual. É humano.
Belo é tudo aquilo que reflete fora de nós o que há de melhor dentro de nós.
E eu tenho a certeza que o meu melhor não é uma lata de merda ou um monte de tijolos.
Mas pode ser tanto o Davi como a Guernica. A dor e a raiva são partes de meu melhor. Mas dor e raiva expressas usando o que de melhor há para se usar: criatividade e linguagem que transcende o banal. A arte e o belo nos erguem. Faz de nós seres menos miseráveis.
A arte de 2017 ( salvo exceções ) me lembra o rancoroso que por não conseguir cantar, grita que seus gemidos são música melhor. A arte se tornou um clube de rancorosos impotentes. Gente incapaz de amar a vida. E que tenta crer que a arte foi sempre assim.
Não meus queridos infelizes. A arte é homenagem à vida.
E sendo assim, é o mais belo dos presentes.
BELEZA - ROGER SCRUTON
Como vou começar a escrever sobre um livro tão imenso...Apenas 200 páginas, mas vasto, largo, direto e por isso cheio de ideias. Impossível lhe fazer justiça, então usarei a mais kitsch das artes como exemplo para o que quero dizer. O cinema. Vamos lá então...
Em um mundo onde a experiência do sagrado entra em crise por causa da decadência das religiões, a arte passa a ter a incumbência, imensa, de dar aos homens esse contato com aquilo que seja mais importante: a beleza. Esse pensamento surge apenas na última linha do texto, e para chegar até aí, Scruton nos convence do porque da beleza ser um conceito tão importante.
Ele não nos diz, de forma proposital, o que é a beleza; nos diz para que ela serve, por que ela existe e como ela funciona. Para Scruton, a busca pela beleza e o prazer com ela é um fato inerente ao homem. Toda cultura, em todos os tempos, produziu artefatos, arte, cerimonias, hábitos revestidos de beleza; e quando essa beleza atinge o grau de sacralidade, se alcança seu pleno poder.
Nada há de místico nisso. Scruton evita tocar em conceitos como fé ou crença. Um objeto se torna sagrado quando " ele está neste mundo mas não é deste mundo". Trata-se de algo que é único e insubstituível.
Temos essa experiência ao amar alguém. A pessoa amada, se torna sagrada, ou seja, uma pessoa que não pode ser substituída por outra. Ao mesmo tempo, tudo o que essa pessoa diz ou toca, passa a ter algo de único, de encantatório. Scruton tece então comentários sobre vicio e pornografia que são bastante esclarecedores. A beleza nunca vicia porque ela não dá, jamais, um prazer imediato. A beleza não pode ser comprada, não pode ser automatizada. Ela requer tempo, disposição, tato e seu retorno nunca é garantido. Já a pornografia é garantida. O prazer é imediato, automático e simples. Por isso ele pode se transformar em vicio, é uma satisfação, uma recompensa que se faz em um toque, com um objeto, simples e prático.
Scruton, falando do corpo, diz que a pornografia nega o rosto, transforma corpos em coisas sem face. Há um ódio ao rosto na pornografia porque é no rosto que vive nossa faceta humana e sagrada. Não existem dois rostos iguais, olhos transmitem sentimentos, desejos, medos, tudo aquilo que a pornografia não aceita, ou seja, complexidades. Para a pornografia, um corpo é uma coisa que produz sexo. E sexo é o corpo.
Sexo, no mundo pornô, é exatamente aquilo que Freud dizia, que o impulso sexual é um apetite como a fome e a sede, e como tal deve ser tratado. Triste falha! Sexo, no ponto de vista da beleza, é uma dádiva dada à quem merece. Muito mais que fome ou sede, ele requer uma pessoa escolhida, e só aquela que é escolhida. Visto desse modo, o sexo valoriza o ato, dá espiritualidade ao corpo e dignifica quem o usufrui. Torna-se o encontro de dois corpos, únicos e individualizados, que procuram um no outro encontrar sua sacralidade dando ao outro a sacralidade que ele tem.
Eu disse que ia falar de cinema e acabei nada dizendo. Falo agora.
Scruton tem amor por música e arquitetura. São suas artes favoritas. Mas ele fala de cinema numa certa hora. Ele diz que o cinema barateia a beleza, a faz ser kitsch e o kitsch é o maior mal do nosso tempo. Kitsch é a emoção que substitui a experiência. Ela empobrece o gosto e amortiza a vida. Explico.
Digamos que sua casa tenha uma imagem de Jesus e outra de Maria. E voce leve no pescoço um terço. E ainda tenha uma tatuagem de São Jorge no peito. Tudo isso é kitsch. O kitsch é o movimento que se apossa de uma imagem sagrada e a transforma em coisa banal. Por exemplo, vivemos, para nossa grande dor, a vulgarização do funeral, do casamento e do aniversário. Ao serem usados símbolos barateados, ao se repetirem por convenção atos e palavras sem compreensão do que elas significam, se transformou em puro kitsch, aparência sem substãncia, aquilo que era aparência da presença do sagrado.
O homem precisa desse objeto. E hoje o procura num carro especial, num vestido exclusivo, numa casa isolada. Nada encontra nisso, apenas mais kitsch.
No cinema, Scruton, para minha grande alegria, cita Ingmar Bergman como um diretor que realmente sabia produzir beleza. Para Scruton, filmes como A Fonte da Donzela e O Sétimo Selo atingem o alvo em cada fotograma. Todos os objetos em cena, cada xícara, animal, janela ou vestimenta, têm um motivo para estar presente, cada cena tem um porque dentro do todo e cada fotograma pode ser enquadrado, os filmes são segundos e minutos de beleza que se sucedem. Como maior exemplo ele cita Morangos Silvestres, o filme que serve para percebermos a diferença entre imaginação e fantasia.
Imaginação é criar o novo dentro da realidade. Nessa imaginação tudo tem regras próprias e funciona de acordo com a imaginação do criador, o artista. Já na fantasia o que se faz é falsear a realidade, pretender ser real sendo fantasia. É uma verdade que parece morta, porque ela é uma realidade mentirosa. Há milhares de exemplos de filmes assim, desde policiais toscos até pretensas obras sérias que são pura fantasia.
Outro fato que Scruton destaca, é que na verdadeira obra de arte, sabemos todo o tempo que o que vemos é uma imaginação, uma criação de uma mente, e não a vida real. Estamos diante de um filme, que nos emociona profundamente, mas é sempre um filme, e por isso é belo. Já a falsa obra de arte ela nos confunde e tenta produzir tanta emoção quanto possível. Torna-se um tipo de hipnose onde esquecemos estar diante de uma obra artificial, e tontos, apenas sentimos aquilo que desejam que sintamos.
Há um preço pela beleza. Quando ouvimos uma obra de Wagner, vemos um filme de Bergman, ou lemos Tolstoi, o autor nos pede várias coisas. Atenção, tempo, calma, disposição, alguma cultura, detalhismo. No kitsch tudo é dado de graça. Voce terá risos, choro, filosofia, pensamentos bonitos, tragédias terríveis, tudo à custo de quase nada e sem o menor esforço. Rápido, destruidor, dilacerador, e , claro, sem nada que dure e permaneça. Ou pior, dando ao expectador a impressão de ter visto algo de belo, quando na verdade o que ele viu foi algo de sensacional. Como rastro, fica o vicio. Nesse regime de emoções baratas, a pessoa passa a exigir isso da vida, ou seja, satisfação imediata. E esse tipo de satisfação somente os vícios podem dar.
Scruton fala ainda da beleza da natureza, como ela funciona em nós, da beleza dos pequenos objetos que nos cercam, da beleza de uma rua discreta ( ele é inglês, ele ama a beleza discreta ). Não preciso dizer que é um livro belo.é digno de seu tema.
Em um mundo onde a experiência do sagrado entra em crise por causa da decadência das religiões, a arte passa a ter a incumbência, imensa, de dar aos homens esse contato com aquilo que seja mais importante: a beleza. Esse pensamento surge apenas na última linha do texto, e para chegar até aí, Scruton nos convence do porque da beleza ser um conceito tão importante.
Ele não nos diz, de forma proposital, o que é a beleza; nos diz para que ela serve, por que ela existe e como ela funciona. Para Scruton, a busca pela beleza e o prazer com ela é um fato inerente ao homem. Toda cultura, em todos os tempos, produziu artefatos, arte, cerimonias, hábitos revestidos de beleza; e quando essa beleza atinge o grau de sacralidade, se alcança seu pleno poder.
Nada há de místico nisso. Scruton evita tocar em conceitos como fé ou crença. Um objeto se torna sagrado quando " ele está neste mundo mas não é deste mundo". Trata-se de algo que é único e insubstituível.
Temos essa experiência ao amar alguém. A pessoa amada, se torna sagrada, ou seja, uma pessoa que não pode ser substituída por outra. Ao mesmo tempo, tudo o que essa pessoa diz ou toca, passa a ter algo de único, de encantatório. Scruton tece então comentários sobre vicio e pornografia que são bastante esclarecedores. A beleza nunca vicia porque ela não dá, jamais, um prazer imediato. A beleza não pode ser comprada, não pode ser automatizada. Ela requer tempo, disposição, tato e seu retorno nunca é garantido. Já a pornografia é garantida. O prazer é imediato, automático e simples. Por isso ele pode se transformar em vicio, é uma satisfação, uma recompensa que se faz em um toque, com um objeto, simples e prático.
Scruton, falando do corpo, diz que a pornografia nega o rosto, transforma corpos em coisas sem face. Há um ódio ao rosto na pornografia porque é no rosto que vive nossa faceta humana e sagrada. Não existem dois rostos iguais, olhos transmitem sentimentos, desejos, medos, tudo aquilo que a pornografia não aceita, ou seja, complexidades. Para a pornografia, um corpo é uma coisa que produz sexo. E sexo é o corpo.
Sexo, no mundo pornô, é exatamente aquilo que Freud dizia, que o impulso sexual é um apetite como a fome e a sede, e como tal deve ser tratado. Triste falha! Sexo, no ponto de vista da beleza, é uma dádiva dada à quem merece. Muito mais que fome ou sede, ele requer uma pessoa escolhida, e só aquela que é escolhida. Visto desse modo, o sexo valoriza o ato, dá espiritualidade ao corpo e dignifica quem o usufrui. Torna-se o encontro de dois corpos, únicos e individualizados, que procuram um no outro encontrar sua sacralidade dando ao outro a sacralidade que ele tem.
Eu disse que ia falar de cinema e acabei nada dizendo. Falo agora.
Scruton tem amor por música e arquitetura. São suas artes favoritas. Mas ele fala de cinema numa certa hora. Ele diz que o cinema barateia a beleza, a faz ser kitsch e o kitsch é o maior mal do nosso tempo. Kitsch é a emoção que substitui a experiência. Ela empobrece o gosto e amortiza a vida. Explico.
Digamos que sua casa tenha uma imagem de Jesus e outra de Maria. E voce leve no pescoço um terço. E ainda tenha uma tatuagem de São Jorge no peito. Tudo isso é kitsch. O kitsch é o movimento que se apossa de uma imagem sagrada e a transforma em coisa banal. Por exemplo, vivemos, para nossa grande dor, a vulgarização do funeral, do casamento e do aniversário. Ao serem usados símbolos barateados, ao se repetirem por convenção atos e palavras sem compreensão do que elas significam, se transformou em puro kitsch, aparência sem substãncia, aquilo que era aparência da presença do sagrado.
O homem precisa desse objeto. E hoje o procura num carro especial, num vestido exclusivo, numa casa isolada. Nada encontra nisso, apenas mais kitsch.
No cinema, Scruton, para minha grande alegria, cita Ingmar Bergman como um diretor que realmente sabia produzir beleza. Para Scruton, filmes como A Fonte da Donzela e O Sétimo Selo atingem o alvo em cada fotograma. Todos os objetos em cena, cada xícara, animal, janela ou vestimenta, têm um motivo para estar presente, cada cena tem um porque dentro do todo e cada fotograma pode ser enquadrado, os filmes são segundos e minutos de beleza que se sucedem. Como maior exemplo ele cita Morangos Silvestres, o filme que serve para percebermos a diferença entre imaginação e fantasia.
Imaginação é criar o novo dentro da realidade. Nessa imaginação tudo tem regras próprias e funciona de acordo com a imaginação do criador, o artista. Já na fantasia o que se faz é falsear a realidade, pretender ser real sendo fantasia. É uma verdade que parece morta, porque ela é uma realidade mentirosa. Há milhares de exemplos de filmes assim, desde policiais toscos até pretensas obras sérias que são pura fantasia.
Outro fato que Scruton destaca, é que na verdadeira obra de arte, sabemos todo o tempo que o que vemos é uma imaginação, uma criação de uma mente, e não a vida real. Estamos diante de um filme, que nos emociona profundamente, mas é sempre um filme, e por isso é belo. Já a falsa obra de arte ela nos confunde e tenta produzir tanta emoção quanto possível. Torna-se um tipo de hipnose onde esquecemos estar diante de uma obra artificial, e tontos, apenas sentimos aquilo que desejam que sintamos.
Há um preço pela beleza. Quando ouvimos uma obra de Wagner, vemos um filme de Bergman, ou lemos Tolstoi, o autor nos pede várias coisas. Atenção, tempo, calma, disposição, alguma cultura, detalhismo. No kitsch tudo é dado de graça. Voce terá risos, choro, filosofia, pensamentos bonitos, tragédias terríveis, tudo à custo de quase nada e sem o menor esforço. Rápido, destruidor, dilacerador, e , claro, sem nada que dure e permaneça. Ou pior, dando ao expectador a impressão de ter visto algo de belo, quando na verdade o que ele viu foi algo de sensacional. Como rastro, fica o vicio. Nesse regime de emoções baratas, a pessoa passa a exigir isso da vida, ou seja, satisfação imediata. E esse tipo de satisfação somente os vícios podem dar.
Scruton fala ainda da beleza da natureza, como ela funciona em nós, da beleza dos pequenos objetos que nos cercam, da beleza de uma rua discreta ( ele é inglês, ele ama a beleza discreta ). Não preciso dizer que é um livro belo.é digno de seu tema.
COMO SER UM CONSERVADOR - ROGER SCRUTON ( NÃO EXISTEM NA POLITICA BRASILEIRA ).
Talvez um dia tenhamos tido verdadeiros conservadores. Mas eles devem ter se afastado da politica em 1889. O horrendo golpe republicano alienou do brasileiro sua alma conservadora e instituiu a história brasileira como um eterno recomeço, um jogar fora o passado. Começo que jamais termina.
Dos livros de Roger Scruton este é o mais politico. Portanto não espere outro assunto a não ser as agruras do partido conservador e do trabalhista na Inglaterra. Claro que é um excelente livro e eu o recomendo para todos. O que ressalta no texto é a diferença imensa que há entre o conservadorismo real, inglês, e aquele que cá é chamado de direitismo. O direitismo, chamado por Scruton de liberalismo, prega o progresso, o consumo, a indústria e a economia como únicas verdades. Isso existe no Brasil, em que pese ser aqui conspurcado por uniões podres e cínicas com o estado.
Conservadorismo, o verdadeiro, doutrina de Burke, de Alex de Tocqueville, prega o respeito ao passado. É uma democracia que leva em conta os mortos, os vivos e aqueles que ainda não nasceram. Tem no centro tudo o que nasce de baixo e não o que é imposto de cima. Seu vínculo é o amor entre familiares e vizinhos e não o dever para com o estado.
As pessoas amam sua família, sua rua, seu bairro. E é esse amor que as une aos desconhecidos das cidades. Uma cidade é a união de famílias e não a união de indivíduos. Para esse amor ser respeitado, ruas, igrejas, monumentos, paisagens precisam e devem ser preservados, conservados. Uma cidade só é humana quando tem história, passado, e quando suas dádivas são guardadas como herança para o futuro. Lar, clube, time, igreja, escolas, praças. São esses os organismos de uma nação. Não se deve, jamais, impor a essas pessoas aquilo que lhes é melhor, o que se deve é garantir a liberdade de que elas continuem construindo sua história.
Scruton escreve suas melhores e mais lindas páginas na defesa da beleza. Beleza é conforto, é bem estar, é dar sentido, é sentir-se aceito dentro do mundo. A arte moderna abomina essa ideia e Scruton explica como e quando aconteceu esse desprezo à beleza. A arte, deixou de ser um modo de se atingir a plenitude, e se tornou modo de destruir tudo.
Vou resistir a tentação de comentar o fantástico capítulo final. Nele Scruton descreve a alegria. Para fazer justiça a algo tão bem escrito só se eu o reescrevesse. Leiam.
Termino contando uma experiência minha...
Em 1980 ainda andava de noite pela avenida Paulista com o coração em suspenso. Sombras nas esquinas e luzes embaçadas nas janelas dos casarões, os últimos, que contavam silenciosamente sua história para mim. Eu andava devagar, usufruindo de cada fachada, cada uma com seu emaranhado de linhas, cada linha cantando uma história.
O pessoal do governo não conservou nada, e a indústria derrubou tudo. Segundo os seguidores de Le Corbusier e de Niemeyer, aqueles casarões não tinham valor nenhum. Eram bolos de noiva, lixo. O valor seria vidro e aço, linhas retas e muita luz. Hoje lamentamos sua extinção. Nunca voltarão.
Uma casa é um lugar cheio de história. Tem coisas, tem cheiros, tem segredos.
Nesse lugar a gente fuma, bebe, fala, dorme, lê. A gente tem coisas, a gente ama pessoas e por essa casa a gente trabalha e sonha. Essa a base do conservadorismo. Manter vivas as coisas. Preservar para o futuro o que melhor há do passado. E nessa ideia se encontra a beleza, o conforto e a história. Amar uma nação, a sua, é poder amar sua família.
Muito "grosso modo" é isso.
Mas é mais. Bem mais.
Dos livros de Roger Scruton este é o mais politico. Portanto não espere outro assunto a não ser as agruras do partido conservador e do trabalhista na Inglaterra. Claro que é um excelente livro e eu o recomendo para todos. O que ressalta no texto é a diferença imensa que há entre o conservadorismo real, inglês, e aquele que cá é chamado de direitismo. O direitismo, chamado por Scruton de liberalismo, prega o progresso, o consumo, a indústria e a economia como únicas verdades. Isso existe no Brasil, em que pese ser aqui conspurcado por uniões podres e cínicas com o estado.
Conservadorismo, o verdadeiro, doutrina de Burke, de Alex de Tocqueville, prega o respeito ao passado. É uma democracia que leva em conta os mortos, os vivos e aqueles que ainda não nasceram. Tem no centro tudo o que nasce de baixo e não o que é imposto de cima. Seu vínculo é o amor entre familiares e vizinhos e não o dever para com o estado.
As pessoas amam sua família, sua rua, seu bairro. E é esse amor que as une aos desconhecidos das cidades. Uma cidade é a união de famílias e não a união de indivíduos. Para esse amor ser respeitado, ruas, igrejas, monumentos, paisagens precisam e devem ser preservados, conservados. Uma cidade só é humana quando tem história, passado, e quando suas dádivas são guardadas como herança para o futuro. Lar, clube, time, igreja, escolas, praças. São esses os organismos de uma nação. Não se deve, jamais, impor a essas pessoas aquilo que lhes é melhor, o que se deve é garantir a liberdade de que elas continuem construindo sua história.
Scruton escreve suas melhores e mais lindas páginas na defesa da beleza. Beleza é conforto, é bem estar, é dar sentido, é sentir-se aceito dentro do mundo. A arte moderna abomina essa ideia e Scruton explica como e quando aconteceu esse desprezo à beleza. A arte, deixou de ser um modo de se atingir a plenitude, e se tornou modo de destruir tudo.
Vou resistir a tentação de comentar o fantástico capítulo final. Nele Scruton descreve a alegria. Para fazer justiça a algo tão bem escrito só se eu o reescrevesse. Leiam.
Termino contando uma experiência minha...
Em 1980 ainda andava de noite pela avenida Paulista com o coração em suspenso. Sombras nas esquinas e luzes embaçadas nas janelas dos casarões, os últimos, que contavam silenciosamente sua história para mim. Eu andava devagar, usufruindo de cada fachada, cada uma com seu emaranhado de linhas, cada linha cantando uma história.
O pessoal do governo não conservou nada, e a indústria derrubou tudo. Segundo os seguidores de Le Corbusier e de Niemeyer, aqueles casarões não tinham valor nenhum. Eram bolos de noiva, lixo. O valor seria vidro e aço, linhas retas e muita luz. Hoje lamentamos sua extinção. Nunca voltarão.
Uma casa é um lugar cheio de história. Tem coisas, tem cheiros, tem segredos.
Nesse lugar a gente fuma, bebe, fala, dorme, lê. A gente tem coisas, a gente ama pessoas e por essa casa a gente trabalha e sonha. Essa a base do conservadorismo. Manter vivas as coisas. Preservar para o futuro o que melhor há do passado. E nessa ideia se encontra a beleza, o conforto e a história. Amar uma nação, a sua, é poder amar sua família.
Muito "grosso modo" é isso.
Mas é mais. Bem mais.
O QUE SIGNIFICA O NATAL.
A base de uma civilização saudável é o costume. A raiz está no amor, amor que cria a família e que daí se espalha formando a vizinhança. O amor ao seu lugar é o que constitui a identidade. Uma nação é o conjunto de pessoas que se protegem por compartilharem a mesma raiz: a família. A verdadeira democracia garante o respeito a essa base. Familia, bairro, praça, igreja, clube, time, festas populares. Por maior que seja a cidade, ela é habitável quando constituída por essa células. O estranho é que há uma intelectualidade que detesta toda essa rede amorosa. Chama-a de hipócrita, falsa, doente, cínica. Na verdade esse intelectual vê sua face em tudo aquilo que olha.
Ditaduras começam por atacar alguns desses costumes. Mudam escolas, mudam ruas, mudam nomes de lugares, mudam festas, proíbem encontros, amizades, religiões. Mantém apenas a família porque precisam de filhos. Mas se pudessem fariam fábricas de crianças. O ideal de toda ditadura é a indústria. Um mundo industrial.
Por isso o natal é sagrado. De todas as festas do ocidente é a mais vital. Ela festeja a família e o nascimento. Ela festeja o milagre. E essa festa é atacada, e já faz algum tempo, em duas frentes: na comercialização, que retira toda a interioridade da noite de natal; e na simples negação, que tem orgulho em dizer que o natal não existe. ( Para esses estou aqui a falar do nada. O que prova apenas a burrice desses seres vaidosos ).
Toda civilização precisa preservar seu legado. Respeitar os que morreram fazendo viver aquilo que ele nos deixaram, e garantir aos que não nasceram a herança que vem desde sempre. Quando essa corrente se rompe a civilização perece.
Tenha um bom natal. Olhe uma estrela e pense no tempo transcorrido, nas gerações e mais gerações que o comemoraram. Respeite-as. Ame. Conserve seu mundo.
Ditaduras começam por atacar alguns desses costumes. Mudam escolas, mudam ruas, mudam nomes de lugares, mudam festas, proíbem encontros, amizades, religiões. Mantém apenas a família porque precisam de filhos. Mas se pudessem fariam fábricas de crianças. O ideal de toda ditadura é a indústria. Um mundo industrial.
Por isso o natal é sagrado. De todas as festas do ocidente é a mais vital. Ela festeja a família e o nascimento. Ela festeja o milagre. E essa festa é atacada, e já faz algum tempo, em duas frentes: na comercialização, que retira toda a interioridade da noite de natal; e na simples negação, que tem orgulho em dizer que o natal não existe. ( Para esses estou aqui a falar do nada. O que prova apenas a burrice desses seres vaidosos ).
Toda civilização precisa preservar seu legado. Respeitar os que morreram fazendo viver aquilo que ele nos deixaram, e garantir aos que não nasceram a herança que vem desde sempre. Quando essa corrente se rompe a civilização perece.
Tenha um bom natal. Olhe uma estrela e pense no tempo transcorrido, nas gerações e mais gerações que o comemoraram. Respeite-as. Ame. Conserve seu mundo.
CONSELHO PARA OS JOVENS
Eu leio filósofos conservadores. Atuais, Leio porque eles escrevem bem e principalmente porque escrevem aquilo que eu creio. Neles vejo a confirmação do que sei. Mas percebo e reconheço que um filósofo é em 2016 algo tão inútil quanto um intelectual que se masturba diante de um espelho. É desperdício de energia. É esteticamente feio. E é risível. Scruton é venerável por ser um grande escritor. E por não ser apenas um filósofo...
Nada mais triste que a lamentável figura de um professor que conheço. Pobre e revolucionário, acuado, ele só tem um "talento": dar aula de filosofia em escola do ensino médio. Impossível para ele ser vendedor, mecânico, engraxate ou advogado. Ele só fala sobre suas crenças politicas, só sabe dar aula e só pensa nisso. Não há outro assunto. Nada mais.
Ele está morto. Apesar de jovem, todos sabem que aos 90 anos ele estará fazendo e dizendo exatamente aquilo que pensa e diz agora. Sua alma e sua cabeça morreram. Ele é um zumbi.
Goethe era grande poeta. Mas era mais que isso. Era grande homem. Sua grandeza se definia pelo fato de que ele poderia ser pintor, químico, músico ou médico. O mesmo pode ser dito de Heminguay que lutava boxe, caçava e toureava. Ou Huxley com seus interesses por viagens, religião, drogas e pintura. Mesmo um homem que só pensava em música como Beethoven, tem a grandeza de um gigante porque sabemos que ele tinha talento para ter sido general ou um Papa. Scruton se interessa por vários assuntos longe da escrita. E quando escreve fala que devemos nos interessar por tudo.
Esse pobre professor só pensa em um assunto: sua produção de espermas filosóficos.
No ano de 2016 desconfie sempre de pessoas unilaterais. E de artistas que só pensam em arte. O desafio de nosso tempo, o Graal das grandes mentes se encontra na ciência. Só a ciência produz maravilhamento. A Capela Sistina de hoje não é coisa da igreja e nem da pintura. É da ciência.
Ao artista, pois ainda há quem o seja com vocação sincera, cabe unir campos. Pintura misturada à química, literatura com teorias do acaso ou do tempo concomitante. Música que beba na física, dança que dialogue com a biologia. Filosofia matemática.
Arte que seja arte "pura", distante da ciência será sempre saudosismo. Nostalgia de um tempo em que os grandes eram artistas. Hoje não são. Como não são politicos ou generais. Os grandes são cientistas.
Nada mais triste que a lamentável figura de um professor que conheço. Pobre e revolucionário, acuado, ele só tem um "talento": dar aula de filosofia em escola do ensino médio. Impossível para ele ser vendedor, mecânico, engraxate ou advogado. Ele só fala sobre suas crenças politicas, só sabe dar aula e só pensa nisso. Não há outro assunto. Nada mais.
Ele está morto. Apesar de jovem, todos sabem que aos 90 anos ele estará fazendo e dizendo exatamente aquilo que pensa e diz agora. Sua alma e sua cabeça morreram. Ele é um zumbi.
Goethe era grande poeta. Mas era mais que isso. Era grande homem. Sua grandeza se definia pelo fato de que ele poderia ser pintor, químico, músico ou médico. O mesmo pode ser dito de Heminguay que lutava boxe, caçava e toureava. Ou Huxley com seus interesses por viagens, religião, drogas e pintura. Mesmo um homem que só pensava em música como Beethoven, tem a grandeza de um gigante porque sabemos que ele tinha talento para ter sido general ou um Papa. Scruton se interessa por vários assuntos longe da escrita. E quando escreve fala que devemos nos interessar por tudo.
Esse pobre professor só pensa em um assunto: sua produção de espermas filosóficos.
No ano de 2016 desconfie sempre de pessoas unilaterais. E de artistas que só pensam em arte. O desafio de nosso tempo, o Graal das grandes mentes se encontra na ciência. Só a ciência produz maravilhamento. A Capela Sistina de hoje não é coisa da igreja e nem da pintura. É da ciência.
Ao artista, pois ainda há quem o seja com vocação sincera, cabe unir campos. Pintura misturada à química, literatura com teorias do acaso ou do tempo concomitante. Música que beba na física, dança que dialogue com a biologia. Filosofia matemática.
Arte que seja arte "pura", distante da ciência será sempre saudosismo. Nostalgia de um tempo em que os grandes eram artistas. Hoje não são. Como não são politicos ou generais. Os grandes são cientistas.
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