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LIVIA, ENTERRADA VIVA - LAWRENCE DURRELL. SEU MELHOR LIVRO?

Há alguns posts atrás eu escrevi sobre o QUARTETO DE ALEXANDRIA, quatro romances de Durrell escritos nos anos de 1950 e que são sua obra mais famosa. Durrell foi, até a década de 80, autor muito lido. Hoje bem menos. Penso que seus livros voltarão um dia. Voltarão quando uma geração menos farmacêutica, menos covarde tiver deixado de ditar normas. A vida e escrita de Durrell são, como a de Henry Miller, excessiva, sem freios, desabalada, colorida, quente ao extremo. Vivemos a época do cinza e Durrell é vermelho. Romances hoje são tristinhos, ele é puro desespero. Pois bem...LIVIA faz parte do QUINTETO DE AVIGNON, cinco romances escritos nos anos de 1970, já na velhice do autor inglês. Como diz o título, eles têm por centro Avignon, cidade que foi o centro dos Templários e sede do papado por um breve período. Livia é uma alemã bissexual que anda pela noite vestida como homem. O livro se passa em 1938, às portas da guerra. Mas Livia é na verdade apenas uma das personagens, o livro foca muito mais em Blanford, um escritor inglês insone, solitário vagando por Paris e Avignon, que se casa com Livia, é abandonado, e sofre até mais não poder. Há ainda um príncipe egípcio muito rico, frio, esperto, e um lorde inglês que acredita ser Hitler uma boa pessoa ( sim, isso existia na Europa até 1939. As classes mais ricas europeias investiram muito dinheiro no governo nazista. Acreditavam que Hitler era um capitalista que faria a Alemanha crescer e que devolveria com lucro tudo que lá fosse investido. Imagina-se o quanto os nazis riam deles. E perceba o quanto isso é evitado por livros e filmes que contam a história da guerra ). Weeellll..... O mundo é sempre dos espertos e o que vemos neste livro são pessoas que nunca entendem o rumo da história. O que Durrell nos mostra é que a enterrada viva se chama EUROPA, continente que nunca se recuperou da destruição suicida da segunda guerra. Após o desastre, o cetro do espírito mundial ficou vago e foi então dado à América. O problema é que os USA, e pior ainda a URSS, nada tinham a oferecer em termos de religião, filosofia ou modo de construir uma nova civilização. Tudo o que os USA tinham era dinheiro e disposição ao trabalho e isso passou a ser a única filosofia do mundo. No lado comunista havia ideologia única e ordem totalitária, mais nada. Toda a história evolutiva do ocidente foi interrompida, enterrada, sufocada. Perdeu toda auto confiança. O tal "cetro" moral do mundo foi passado a quem não o queria. ( Os USA ainda hoje têm um desconforto com o poder que jamais foi problema para Inglaterra, Espanha ou Roma ). Os personagens são as vítimas passivas da passividade europeia. Os líderes exitaram. Poderiam ter esmagado Hitler em 1932 ou em 35. Fizeram negócios. Confiaram. Apoiaram. Foram de uma ingenuidade absurda. ( Somente Churchill bradava contra Hitler, mas o inglês aristocrata era tratado então como um tipo de fanfarrão saudosista da velha Inglaterra guerreira ). -------------- O romance de Durrell, escrito em estilo mais simples que aquele de sua juventude, é então o enterro da Europa, o fim não de uma era, mas a morte de uma civilização. É belo.

SANGUE, SUOR E LÁGRIMAS - WINSTON CHURCHILL

   Frequento sebos a já trinta anos. Meu primeiro foi o velho Bagdá Books, que ficava na rua Joaquim Floriano. Foi fechado em 2010. Desde sempre eu via nesses sebos a coleção dos Prêmios Nobel, da editora Delta em capa dura. Um volume para cada vencedor do prêmio sueco, tendo no livro a biografia do autor e uma obra do contemplado. Essa coleção se encerrou em 1968, portanto Kawabata foi o último livro.
  Minha primeira compra foi o volume de Yeats, adquirido em 1993. Com o correr desses anos, essa coleção variou de encalhe de sebo, onde cada volume valia 10 reais, ao que é hoje, item difícil de achar. Um dos sebos que frequento comprou a coleção inteira de um particular e levo um susto ao ver que o Yeats que possuo vale agora 100 reais. O mais caro é Camus, 300 reais. Dois Churchill, dos quais falarei agora, custam 160 reais, 80 cada um. Churchill é o único na coleção que saiu em dois livros.
  Muita gente não sabe que ele ganhou o Nobel de literatura. Foi em 1953. Antes de Heminguay portanto. Claro que houve muito de homenagem ao herói de guerra, mas Churchill foi um grande autor e escrever foi sempre um de seus mais dedicados trabalhos. Além de vários livros biográficos, Winston lançou uma história da civilização de língua inglesa, monumental, e uma história da segunda guerra. Aqui temos os discursos que ele fez entre 1938-1940, os anos onde ele preparou a Inglaterra para a guerra.
  Parece chato? Discurso de político? Pois é...esquecemos a arte do discurso. Churchill nos faz lembrar o que isso foi um dia.
  No mundo grego e romano, a arte da oratória era a maior de todas. Saber falar em público, saber se dirigir ao público, era uma arte que requeria dom e aprendizado. Eles colocavam esse prazer acima do teatro e da escultura. Cicero, Seneca, Marcial, todos foram mestres da retórica, a arte de falar. Nós perdemos esse dom em algum ponto do século XIX. No século XX o orador já era visto como caricatura. Churchill foi em tudo um homem do século XIX ( apesar de ter vivido até 1954 ). Ler seus discursos é mais que ler algo de belo, é aprender a raciocinar. Ele expõe, argumenta, defende sua tese e convence. Então passa a unir em uma ideia quem o escuta. E carrega avante um povo. Não, nada de discurso de filme de guerra, não! Ele jamais é apelativo e muito menos emocional. Nada de chantagem ao patriotismo. Isto não é Hollywood. Churchill é aristocrata. Sua voz é sempre fria, quase impessoal. Ele ergueu a nação usando a elegância, e afirmando a identidade de todo cidadão. Em sua totalidade os discursos são um rememorar. Nós europeus somos assim. Nunca se esqueçam disso. Devemos defender nossos valores. São nosso maior tesouro. Essa a base de toda sua oratória.
  Lendo os discursos acompanhamos tudo que aconteceu no mundo entre 1938-1940. E eis a prova: Sim, Churchill nesses anos pregou sozinho. Vemos incrédulos a Alemanha tomar a Austria e a Tchecoslovaquia, e a Europa, passiva, tentar fazer acordos diplomáticos com Hitler. Vemos a Polonia sendo cercada e depois repartida entre alemães e russos ( sim, Russia já em 40 ), enquanto o presidente dos EUA, Roosevelt, mandava mensagens para Hitler ter bom senso! Bom senso! Causa espanto ver em 1940 o congresso americano aprovar um adendo de neutralidade. Os EUA se afirmavam NEUTROS em relação à Europa.
  Vemos a Bélgica cair enquanto seu rei se entregava alegremente. Vemos a França perder a guerra em UM MÊS! Um mês! Lemos o magnífico discurso de Churchill sobre Dunquerque, afirmando que não há o que comemorar, uma retirada jamais é motivo para comemoração. Atrapalhados, os ministros ingleses esperaram até o último instante para crer na guerra. Causa hoje asco perceber como eles nunca acreditaram que Hitler fosse um perigo, quiseram crer que a Alemanha jamais iria querer correr o risco da guerra, tentaram BAJULAR Hitler todo o tempo. A filosofia mundial era: Oh...deixe Adolf pegar a Austria, talvez ele se acalme...deixe Adolf pegar a Noruega, quem sabe ele pare por aí....
  Churchill clamava desde  1938: Vamos unir a Europa contra a Alemanha. Eles não atacarão a Noruega se souberem que a Suecia e a Dinamarca lutarão juntas. Não irão invadir a Bélgica se souberem que a França e a Inglaterra irão a defender. Ninguém ouviu. Ele ainda falava algo que hoje é  provado estar certo e que na época parecia mentira: a paz pode ser garantida com uma nação fortemente armada. Não se consegue a paz em acordos assinados, Hitler rompeu todos eles, a paz se consegue quando há o temor do revide. URSS e EUA jamais entraram em guerra só por esse motivo. Israel não foi riscado do mapa por isso. A India nunca aniquilou o Paquistão por temer as bombas do vizinho. Churchill, sempre pragmático, dizia que a democracia e a liberdade só poderiam ser defendidas com um exército forte, e que cabia à Inglaterra, único país europeu a jamais em sua história ter tolerado um tirano, a defesa do direito mundial. Mussolini tomava Etiópia e Albânia, Hitler tomava a Polonia, Franco reinava na Espanha, a Russia era uma ditadura bolchevique, cabia ao povo inglês salvar a liberdade ameaçada. Esse o apelo central: Lembrar do que eles foram e se armar para continuar a ser o que se é. Retórica base do conservadorismo saxão: Ódio à tudo que signifique ameaça aquilo que voce é. Essa mensagem calou fundo na mente dos britânicos. Todos logo se alistaram.
  PS: Se no século XX a arte da retórica foi extinta, devo dizer que no XXI é a arte da conversação que morre. A conversa, que nos século XVII era chamada de a mais fina das artes, desaparece agora de nosso mundo. Não há conversa quando não se escuta.
 

WESTERNS- DUNQUERQUE- CHURCHILL E MAIS

   O DESTINO DE UMA NAÇÃO de Joe Wright com Gary Oldman e Kristin Scott Thomas.
Wright já é dono de uma carreira sólida. Ele faz filmes que prezam acima de tudo seus atores. E melhor, ele conta sua história sem se exibir. Quando deseja mostrar sua marca, faz travellings bonitos como aqui aqueles das ruas de Londres. Para quem ama a história inglesa, é obrigatório. Oldman está bem como sempre, Kristin também. O filme vai contra a maré do PC, ele retrata um homem velho, conservador, machista e branco. Dá um jeito de botar uma menina na história pra ficar mais anos 2000. A cena no Underground, fantasia pura, é linda. E brega. Funciona. Gostei muito. É um filme de cinema.
  DUNKIRK de Christopher Nolan
A história real é um tipo de milagre. Tinha tudo para ser um massacre de civis e de soldados acuados. Não foi. Nolan faz aquilo que fez em todos os seus filmes: retira tudo de sensacional e faz de um ato de heroísmo uma coisa fria. O filme não tem emoção. De certo modo é um milagre de Nolan, transformar um dos momentos mais emocionantes do século XX, numa coisa bonita de se ver e fria de se sentir.
  NAS MARGENS DO RIO GRANDE de Robert Parrish com Robert Mitchum
Mitchum é um americano que vive no Mexico. Cruza a fronteira de volta ao lar, mas logo se mete em confusão. O filme é muito esquisito. Na verdade falta uma história. Olhamos e não nos ligamos.
  BARQUERO de Gordon Douglas com Lee Van Cleef e Warren Oates
Na velha TV Record, este filme passava todo mês. Nunca o vi na época, e não perdi nada. É uma porcaria. Uma tentativa americana de se fazer um faroeste italiano. Cleef é o macho alfa, um cara que cruza um rio numa barca. Oates o ladrão que precisa cruzar o rio. Cleef não deixa. Violento, bobo, sem história, tolo, histérico.
  PAIXÃO DE BRAVO de Nicholas Ray com Susan Hayward, Robert Mitchum e Arthur Kennedy.
Vendido como western, mas não é. Se passa nos anos de 1950, que é quando foi feito. Mitchum, excelente com seu rosto de derrotado,  é uma ex estrela de rodeio. Kennedy e Hayward são um casal de camponeses. Kennedy quer ser um astro, Mitchum o ajuda. O filme é maravilhoso, talvez o menos conhecido e o melhor de Ray. É um filme de estrada, com um preto e branco lindo. Os atores estão perfeitos e até o tema, desagradável, nos seduz. Nos anos 60-70-80, Ray era considerado um gênio. Nunca foi. Estará hoje esquecido? Voce assiste este filme, gosta do que vê, e quando ele acaba sente ter estado diante de um grande, grande filme.
  FORA DAS GRADES de Nicholas Ray com James Cagney.
Outro grande ator e outro filme pouco conhecido de Ray. Cagney, agressivo e agitado, é um ex prisioneiro que vira sheriff numa cidade do oeste. A história é simples e cheia de ação e o filme é uma diversão ótima. E ainda com um belo subtema sobre moral. Veja.
 
 

UMA DECLARAÇÃO DE AMOR À HAWKS - FULLER- PECK - MATTHAU- TOURNEUR

   A MULHER PROIBIDA de Frank Borzage com Joan Crawford, Margaret Sullivan, Melvyn Douglas, Robert Young e Fay Bainter.
O elenco não podia ser melhor, mas o filme é um drama dos anos 30 que exibe o pior da época. As coisas acontecem sem nada de crível nos sentimentos das pessoas. Um irmão, membro de uma família tradicional, se casa com uma dançarina. O outro irmão, casado, se apaixona por ela... As pessoas aqui amam e deixam de amar em questão de minutos. O roteiro é muito, muito ruim.
  MIRAGEM de Edward Dmyryck com Gregory Peck, Walter Matthau e Diane Baker.
Um verdadeiro pesadelo num filme que tem clima de doença. Um homem acha que trabalha a dois anos numa empresa de contabilidade. Mas começa a duvidar disso ao perceber que não se recorda de mais nada em sua vida. O filme acompanha sua busca pela memória. O tema é fascinante, mas o filme tem uma falha que quase o destrói: a coisa é tão complicada que quase desistimos de o entender. De qualquer modo, Matthau está excelente e acaba tudo sendo bem ok.
  O ESPORTE FAVORITO DOS HOMENS de Howard Hawks com Rock Hudson e Paula Prentiss.
O mundo que só existe na cabeça de Hawks está aqui! É um mundo onde as pessoas são todas elegantes e idiotas, adoravelmente idiotas. E essa elegância é a dos cavaleiros medievais, um código de honra e de comportamento onde a grosseria e a violência só nascem quando inevitável. Mais encantador de tudo, os filmes de Hawks interessam não pelo enredo, mas pelas pitadas de vida que são inseridas de minuto em minuto. Por exemplo, neste filme, um de seus filmes médios, vemos Paula Prentiss mergulhar, Rock Hudson tomar chuva, vemos ainda uma mocinha andar de moto, um homem com o zíper preso, um Martini sendo bebido...e por aí vai. Todas essas cenas, e muitas outras, que nada têm de engraçadas, de sensacionais ou de belas, são o segredo de Hawks. Ele filma a vida como ela pode ser e às vezes é; mas essas pitadas são colocadas dentro da fantasia de Hawks. Observe que em suas obras-primas, muitas, filmes como Rio Bravo, Levada da Breca, Hatari, todos têm enredo, ação, história, mas ao mesmo tempo o que nos pega é ver Wayne conduzir gado, Cary Grant gaguejar e uma turma de homens na África tomar café da manhã. Ninguém se parece com Hawks por causa disso: uma multidão de diretores filma ação ou comédia como ele, outra multidão filma a vida cotidiana como ele, mas nenhum outro mistura as duas coisas com o encanto que ele tem. Isso porque, vejo isso no livro de Peter Bogdanovich, Hawks realmente amava a vida e as pessoas. Era um gentleman viril, tipo de americano que fez a glória da América. Que prazer poder ver este filme e que maravilha eu ainda ter contato com a graça leve e educada deste universo.
  AS GARRAS DO LEÃO de Richard Attenborough com Simon Ward, Robert Shaw, Anne Bancroft.
Da série de bio da Folha este é o mais bacana. Nos anos 70, quando lançado, foi malhado, vejam só...Mas é um bom filme. Conta os primeiros 25 anos da vida de Winston Churchill. Sua relação fria com o pai, sua mãe festeira, e a ânsia que ele tinha por fama e por medalhas. Sua carreira futura seria uma vingança pelas injustiças sofridas pelo pai, que foi um político perseguido por seu próprio partido. Robert Shaw está sublime como o pai de Winston, um sifilítico, que morre isolado da vida pública. As cenas de ação são excelentes e o filme diverte e informa. Tem de ser visto!
  GOLPE DE MISERICÓRDIA de Raoul Walsh com Joel McCrea, Virginia Mayo e Dorothy Malone
Faz parte do volume 2 de um box de westerns. Este, do grande Walsh, o diretor que inventou nos anos 20 a linguagem do filme de ação, é um filmaço. Joel é um ladrão em fuga. Ele planeja seu último golpe, mas não confia nos comparsas. O cenário é ótimo, os atores perfeitos, as duas mulheres belíssimas e o roteiro tem ecos que iriam reverberar em Bonnie e Clyde. Um dos grandes faroestes já feitos e com um clima trágico maravilhoso.
  RENEGANDO O MEU SANGUE de Samuel Fuller com Rod Steiger
Fuller era venerado pelos europeus. Eu digo: menos. O filme pega o ponto de vista dos índios. É bom, duro e sério, mas às vezes cai no exagero. De qualquer modo, eis um faroeste diferente. Rod super interpreta.
  CHOQUE DE ÓDIOS de Jacques Tourneur com Joel McCrea e Vera Miles.
Joel é um durão que vira xerife numa cidade de mineiros. O filme conta sua luta contra eles. Um bom filme de um grande diretor. Tourneur dirigiu alguns dos melhores filmes noir, filmes de terror e faroestes. Seu estilo, sempre objetivo, era invisível. Mas dá pra notar que seu interesse era o destino. Seus heróis são sempre pessoas presas numa missão que não escolheram. Bom filme.
  O TESTAMENTO DE DEUS de Jacques Tourneur com Joel McCrea e Ellen Drew.
Este filme é vendido no box western, mas não é. Se passa no tempo dos westerns, é rural, mas não tem nada do faroeste. E é quase uma obra prima! Conta a vida cotidiana de uma cidadezinha nos tempos de 1880. Joel é um pastor e o filme observa a vida de toda a comunidade. Cenas que lembram Mark Twain, outras são puro John Ford. O final emociona e tudo caminha numa doce alegria temperada por algumas cenas amargas. Um filme original. Grata surpresa!!!!

TARKOVSKI ....VALLÉE...RUSSELL CROWE...ROD STEIGER...NAOMI WATTS

   WATERLOO de Sergei Bondarchuk com Rod Steiger, Christopher Plummer eJack Hawkins.
Todas as falas de Napoleão são de rir. Toscas. Mas a batalha em si é soberba. O filme usou o exército vermelho como figuração nessa produção e o que vemos são milhares de soldados, gente de verdade, naquilo que teria sido a batalha que acabou com o doido general francês. Felizmente essa batalha dura mais que a metade do filme, o que quase o salva. A guerra, como vista em 1814, é uma festa de cores, movimento e gestos em grupo. Mas, claro, ao final o que vemos é sangue, dor e uma fealdade total. O filme é bastante tolo, o Napoleão de Steiger fala como um ator ruim ( Steiger foi um grande ator ).
  A CANÇÃO DO POR DO SOL de Terence Davies
Este é o novo filme desse importante diretor da Inglaterra que não é muito conhecido fora da ilha. Mas, que pena, é uma obra banal. Narra a vida de uma família rural no começo do século XX.
  PAIS E FILHAS de Gabrielle Muccino com Russell Crowe, Amanda Seyfried, Diana Kruger.
Incrivelmente ruim. Chega a parecer brincadeira! Tem o nível das piores novelas mexicanas. Crowe, mais choroso que nunca, é um pai com problemas que tenta manter a guarda de sua filha. Já adolescente, ela cria problemas... Os atores se perdem em cenas inconvincentes, mal escritas, bobas...Um desastre.
  OS SEGREDOS DE CHURCHILL  de Charles Sturridge com Michael Gambon e Romola Garai.
Mais um filme novo sobre gente doente...Sim, vemos Churchill sofrendo de Parkinson. E sua relação com a enfermeira que cuida dele. E é só isso.
  DEMOLIÇÃO de Jean-Marc Vallée com Jake Gyllenhaal e Naomi Watts.
Num acidente de carro um cara bem sucedido perde sua esposa. Ele nada sente, fica apático e passa então a demolir sua vida. Tem atitudes estranhas no trabalho e faz demolição de casas como hobby. Então conhece uma mulher e percebe que jamais amara sua esposa. Mais um filme de Vallée, esse canadense que começou a ser notado com o maravilhoso filme de 2005 Crazy.Este é um bom filme, longe de ser emocionante, mas ok.
  FILMES DE ANDREI TARKOVSKI
Assisti 4 filmes desse original diretor russo. Falecido ainda jovem, em 1986, O ROLO COMPRESSOR E O VIOLINISTA é seu primeiro filme, feito ainda na faculdade de cinema, em 1960. O filme, simples, puro, encantador, fala do relacionamento de um menino de 7 anos e um operário que trabalha no rolo compressor. Lembra os belos filmes de Ozu. A INFÂNCIA DE IVAN, de 1961, seria seu primeiro filme pra valer. Acompanha a vida de um órfão, que cheio de ódio, se torna espião na segunda guerra. Não pense num filme convencional. Tarkovski filma apenas a base onde os soldados estão, um mundo de lama, ruínas, escuridão, árvores, e cenas inesquecíveis. As cenas junto ao poço, o encontro com o velho, a cena final, são momentos que afirmam a beleza desse cinema único. Escrevi sobre STALKER abaixo. Voce carrega o filme dentro de voce depois que ele termina. É para ser revisto. Muito. O ESPELHO, feito em 1974, é talvez o mais difícil. Se Solaris foi o 2001 de Tarkovski, O Espelho é seu Amarcord. Mas é um Amarcord quase incompreensível. Tarkovski recorda cenas de sua infância, mas faz com que elas pareçam um sonho, pesadelo, terror e beleza. Jamais vi cenas tão lindas de ventanias, mudanças de clima, cabanas...De certo modo não é um filme, é um poema em colagem...rasgado.

MINHA MOCIDADE- WINSTON SPENCER CHURCHILL

   Encontro este livro num sebo. Edição de 1941, tradução de Carlos Lacerda. Capa dura e uma lingua potuguesa que ainda chama "se" de "si". Espero que voces ainda saibam que Churchill foi o último grande politico inglês. Na primeira parte do livro o que ele mais diz é "o mundo mudou mais do que se poderia esperar". E é verdade.
   Churchill nasce no fim do ´seculo XIX e cresce no apogeu da confiança e do poder inglês. Se voce conheceu o pico do poder americano multiplique por dez e voce verá o que foi a Inglaterra de Vitória. Eles tinham a auto-confiança, o poder militar, a técnica, a vanguarda industrial que os EUA jamais tiveram de forma tão exagerada. Os EUA sempre foram inseguros, e sempre tiveram um rival a lhes cutucar. A Inglaterra não. De 1815 até 1914 foram cem anos de absoluto controle do mar, do comércio e das guerras. Tinham as melhores escolas, a mais desenvolvida democracia e colônias em todos os continentes. O mais importante: tinham a certeza de ser os representantes do bem e do futuro. Os EUA perto deles foram apenas aprendizes.
   Churchill nasce em berço importante. Seu pai foi ministro e sua familia era nobre desde os tempos de Elizabeth. Mas era uma familia "pobre" se comparada a outras de seu meio. A familia de Churchill tinha apenas 10 empregados. O jovem Winston se torna um militar. E isso por ter sido um péssimo aluno. O primeiro quarto do livro, que é o melhor, fala do jovem Winston na escola. Ele fala que a educação é anti-natural. Que crianças deveriam ser deixadas junto aos pais, trabalhando com eles, compartilhando de suas vidas. Só então, caso a criança demonstre interesse pelo estudo, curiosidade por algum fator da cultura, ela deveria ser conduzida a uma escola formal. Churchill seria primeiro- ministro duas vezes e diz que nunca saberia exatamente como implantar esse sistema. Mas o ensino como o conhecemos é absurdo.
   Churchill lançou este livro em 1930, quando estava próximo dos 50 anos. Nessa altura já lançara vários livros e futuramente seria um ganhador, justo, do Nobel de literatura. Seu livro é um bom livro de aventuras. Com um personagem central sincero e que revela para nós a mentalidade de um homem de seu tempo.
   Ele escreve uma bela homenagem aos jovens, diz que o mundo é deles, que eles devem tomá-lo, mudá-lo, roubá-lo dos mais velhos. O mundo é para eles.
   No texto abaixo falo sobre o resto do livro, sobre a guerra. Churchill escolhe ser soldado e jornalista. E lamenta a mudança que houve na guerra. Segundo ele, "antes ela era cruel e magnífica, agora ela é cruel e sórdida". Ela saiu da mão de soldados e profissionais da guerra, e foi para as mãos de burocratas, políticos e técnicos, gente que jamais esteve num campo de batalha.
   Ele vai a várias guerras, e corre entre gabinetes e quartéis pedindo para ser enviado a mais e mais batalhas. India, Sudão e principalmente África do Sul, onde ele luta contra os Boers.
   Sempre divertido, o livro não perde tempo com confidências. Ele é um homem de ação. Um filho que amava seu pai à distãncia e que tinha na mãe a melhor amiga.
   O que mais nos surpreende é imaginar que o Churchill maduro e vivido de 1930 ainda não havia se transformado na figura central do século XX. Diante dele viria a crise dos anos 30, a luta contra Hitler, a construção da ONU, a derrota nas eleições de 1946 e a vitória final no começo dos anos 50. Sim, ele tem a visão do colonizador e nem poderia ser diferente. Ele sempre foi parte da elite, da mais alta elite, mas nele havia um orgulho em ser inglês e com esse orgulho vivia um forte senso de obrigação, a obrigação de fazer do país e de seu povo uma ilha de harmonia e de paz.
   Um grande homem.
  

A GUERRA. WINSTON SPENCER CHURCHILL.

   Joseph Conrad escreveu Coração das Trevas sobre a guerra do Congo na mesma época em que Churchill vivia as guerras do Sudão e da África do Sul. E são visões opostas. Conrad mostra o horror puro da guerra. Churchill nos exibe o outro lado. Ler Conrad hoje é maravilhoso, mas é como conversar com um amigo. Ler Churchill é travar contato com uma visão diferente. Ele nos mostra o mundo dominante pré-Primeira Guerra. Exibe aquilo que se foi para sempre.
   No começo do livro ele conta que muito do que lá está ele contaria de outra forma hoje ( esse hoje é 1930 ), a maturidade e a primeira guerra mudaram sua opinião sobre muitas coisas. Mas, sabiamente, ele mantém as palavras do jovem Winston Spencer Churchill intactas. Aqui não falarei de toda a primeira parte, falarei sobre a guerra e as mudanças que nela se operaram.
  Alegria. Todos vão à guerra alegremente. Procuram lugares mais perigosos, querem ir ao centro do furacão. Ele chega a ver 20.000 mortos numa batalha, mas após lamentar o azar dos que se foram, continua adiante, sem medo ou dor de consciência. Porque? De onde vem essa admiração pela beleza da guerra? Como era possível assistir a tanto sangue sobre o chão e continuar adiante? Continuar amando a guerra sem nenhuma culpa, nenhuma vergonha, sem precisar esconder isso. O que mudou?
   O próprio Churchill maduro dá a resposta ao lamentar o fim dessa época em 1930.
   A guerra era coisa de profissionais. Amadores não se envolviam e nunca eram alvo. Guerreava quem era guerreiro, quem desejava lutar. Winston lamenta o envolvimento de cidades, de civis, de amadores.
   Batalhas eram feitas em campos de batalha e em meio a complicadas táticas. As tropas se moviam em batalhões bem ordenados. Pode-se dizer que havia uma racionalidade na guerra. Povos civilizados demostravam sua civilidade numa batalha.
   O inimigo era visto olho a olho. Voce conhecia quem te feria e escolhia seu alvo. A destruição tinha um rosto, era um homem contra um homem. Churchill lamenta o fato de que a guerra se tornou uma máquina contra outra máquina. A morte dos soldados se tornou um detalhe, anônimo.
   A guerra era vista como um esporte. Sim, um esporte. Tinha regras, dois times e juízes. O objetivo, marcar pontos, caçar, dominar o terreno. Capturar a bandeira do adversário.
   O principal: Havia a crença no país. Churchill vai a India. Lá, ele participa de uma guerra punitiva. Uma tribo ousou desafiar o dominio do rei. Eles vão a essa tribo e a punem. Destroem suas plantações e matam seus animais. Hoje isso seria imoral. Churchill tem absoluta fé de que ele está certo. Afinal, os ingleses estão salvando a India da barbárie. Trouxeram medicina, tolerancia religiosa, estradas, leis, advogados...eles devem ser agradecidos. Para Churchill isso é indiscutível: O mundo é dividido entre civilizados e bárbaros. A civilização é o bem supremo.
   Mas isso não impede que Churchill admire certos soldados inimigos e ele até se torna amigo de alguns ex-inimigos. Acima de tudo há a consciência de que tudo é um esporte. O que mais estranhamos é que são guerras sem ódio ( claro que na visão dele. Imagino como os Boers se sentiam ).
   Com seus belos uniformes ( ele passa linhas e linhas descrevendo a beleza dos uniformes ), seus cavalos caros ( ele ama os cavalos ) e toda sua sofisticada tática, a guerra era um tipo de teatro onde a morte era vista como um preço, baixo, a se pagar. Um jogo.
   Penso que hoje toda essa beleza está nos aviões e nas armas... pobres soldados.
   O homem era o centro da guerra, e em mundo que vivia a plena industrialização, a guerra era o lugar onde ele ainda podia se afirmar.  Lá ele era rei.
   Em tempo.... O livro começa em 1885 e segue até as vésperas de 1914. Churchill, que escreve muito bem, continuaria a escrever até o fim da vida, em 1965. Foi primeiro-ministro duas vezes e segundo Paulo Francis, ele salvou a Europa de Hitler. Era o mais odiado dos inimigos do nazismo. Penso, não penso, tenho a certeza, de que jamais teremos novamente lideres no Ocidente com tanta fibra, tanta certeza naquilo que defendem. Churchill acreditava na civilização européia, acreditava na Inglaterra, tinha fé plena em tudo que era inglês: na cultura, na religião inglesa, no homem inglês, nas instituições. Essa crença inquebrantável nos é impossível. Se ele tivesse um momento de dúvida em 1940, uma hesitação, Hitler teria vencido.
   Outro adendo: Quando em 1808 Napoleão invade a Espanha e Portugal o que ele encontra? A quebra de todas as regras da guerra. A guerrilha é inventada nessa guerra. Os Ibéricos jogam sujo. Crianças, mulheres, velhos, todos sabotam Napoleão. Não há um exército para enfrentar. O inimigo é qualquer um. A Europa se escandaliza. Passam a considerar Espanha e Portugal reinos pouco civilizados. Vem dái nossa guerra moderna. Vem daí a sensação de que Espanha e Portugal não são Europa. Lutavam com enxadas, foices e pedras. Escondidos. Não reconheciam o jogo.
   Ler este livro é ler um mundo perdido.