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SIGMUND FREUD E O GABINETE DO DR.LACAN

Livro de 1989, da editora Brasiliense, traz textos de Peter Gay, Philip Rieff, Richard Wollheim, Jean Maugue, Marilene Carone e Paulo César Souza. ------------------ Peter Gay, que estava prestes a lançar a bio de Freud, ótima, traça um perfil do pai da psicanálise como burguès conservador. Freud viveu uma vida de típico homem casado europeu da época vitoriana. Bem casado, bom pai, trabalhador árduo. Provedor. Se seu trabalho foi, e é, revolucionário, isso não se deve à Freud ser um rebelde, mas sim ao seu amor à verdade. Ele procurava descobrir aquilo que era escondido, revelar a mente do homem, e se suas descobertas foram chocantes, isso não foi devido a personalidade de Freud, mas sim às suas descobertas. O que surge no texto de Gay, é o retrato de um homem amável, correto, cético, mas jamais frio. Muito do sucesso de Freud se deve ao aspecto bondoso, de "tio", que ele tem. É um texto que se lê com prazer e Peter Gay discorre ainda sobre a Vienna de então, mostrando que Freud não era um típico exemplo da cultura vienense, mas sim um judeu alemão. ---------------- Philip Rieff, sociólogo americano, fala do nascimento do homem psicológico. De como, a partir de Freud, o centro do homem passa a ser o eu. O grupo se torna cada vez menos importante e o ego enquanto indivíduo, mundo interior, se torna o protagonista da história. -------------------- Jean Maugue foi um professor francês, um dos intelectuais que vieram à São Paulo nos anos 30 para ajudar a fundar a USP. O texto é de 1939 e foi publicado no jornal Estado de SP no dia em que Freud morreu. É um relato biográfico. ------------------------- Marilene Carone fala das péssimas traduções de Freud em português e em inglês. Basta dizer que Freud nunca usou a palavra Ego, ele usava Ich, Eu. Em alemão a escrita de Freud é simples, clara, cotidiana. As más traduções são sempre pedantes, complicadas, pseudo cinetíficas. Já Paulo César de Souza descreve sua visita à casa de Freud em Vienna. ---------------- Por fim, Wollheim, professor de lógica em Yale, destroi Lacan mostrando que tudo que ele faz é um jogo de palavras que levam a significado nenhum. Lacan diz o óbvio do modo mais complicado possível e Wollhiem dá exemplos de textos que dizem coisas que não fazem sentido algum. Esperto, enciclopédico, Lacan foi um embuste e um mentiroso. ------------ Para quem gosta de psicanálise, prato cheio.

Peter Gay, Os Vitorianos.

O século dezenove começa com a derrota de Napoleão, 1815, e termina em 1914, com a guerra mundial. Peter Gay fala direto, é preciso fazer justiça, o século da burguesia, o século vitoriano foi um século feliz. Peter desmistifica a imagem comum do que seria esse tal de vitoriano. Primeiro deixemos claro, um meio que nos deu Darwin, Pasteur, Burckhardt e Baudelaire não e de todo mal. No centro da burguesia nasceu o voto feminino, o fim da escravidão e o conceito de vida privada. O autor é brilhante no modo como demonstra que até. O século XVIII dormia-se em publico, fazia-se amor detrás de cortinas. A ideia de privacidade era inimaginável. Nem desejável. Toda a vida era vivida em grupo, à vista de todos. O vitoriano, inimigo em tudo do aristocrata, abomina e teme a falta de privacidade. Ele precisa de segredo, de um lugar só seu. E mais que tudo, ele precisa da família. O vitoriano é o homem com uma pasta e um guarda-chuva, ele precisa de uma casa com recantos só seus, mas ele é também o homem que abre estradas na África, compra quadros de Cézanne e escreve artigos contra a guerra. Peter Gay mostra cartas que revelam vida sexual por detrás dos roseirais, sensualidade após o jantar e curiosidade em mulheres que não eram assim tão frígidas. Peter Gay, biógrafo famoso de Freud, diz que assim como Freud pensou que o particular fosse o geral, e cometeu o mal entendido de crer que o extraordinário fosse uma regra, os anti-burgueses, Flaubert, Zola, popularizaram a ideia de que todo burguês era um chato. Transformaram seus conhecidos em fato do mundo. Gay fala ainda dos diários, uma mania tipica da época, do surgimento do conceito de adolescência, dos colecionadores e das feministas. A leitura é deliciosa. Ao final, ele compara os séculos, e favorece o dezenove, tempo de otimismo. O seculo vinte passa como o mais cruel dos tempos e o menos vitoriano dos mundos. Deles, desse mundo ponderado, controlado e amigo do diálogo, mantivermos apenas a privacidade, que agora é solidão. Familia, cavalheirismo de camaradagem entre iguais é conceito morto. Eis o porque desse fascínio que a época exerce, ela é o ultimo tempo seguro, ela promete coisas como calma, lar e familia. Apesar de ser esse o tempo da ansiedade, foi nos anos pós Napoleão que se começa a falar de tédio e de nervosismo, ao contrario do século vinte, os vitorianos acreditavam no futuro. Eram humanistas. Amavam a inteligência. Hoje amamos o quê?