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FANTASIA....MERYL....CHET....HUSTON.....PORKY'S....GABLE....BARBARA....

   FANTASIA 2000
A versão de 1940 é melhor. Vale lembrar que em 40 era uma ideia muito original, pegar música e construir imagens ou uma história. Clips antes do tempo. Disney sonhava popularizar a música erudita, mas o filme foi um fracasso. Em 2000 fizeram esta nova versão. O espírito de novidade já se fora, mas existem dois segmentos excelentes. A história sobre Rhapsody in Blue de George Gershwin é deliciosa. São cenas de NY nos anos 30. Além do que, a música de Gershwin é uma das 10 melhores coisas que já escutei. Melhor ainda são as imagens de baleias voadoras ( ver para crer ). Sobre a música de Respighi, imagens sensacionais de baleias que voam no mar, no gelo e nos céus. Temos ainda uma bela sequência de Saint-Saens e a reprise do Aprendiz de Feiticeiro, de Dukas. O resto é mais ou menos... Mas vale muito ver!!!! Nos extras um curta dos anos 50 de Ward Kimball. A História da música em sketches bem humorados. Muito bom!
   FLORENCE, QUEM É ESSA MULHER... de Stephen Frears com Meryl Streep, Hugh Grant e Simon Helberg.
Frears tem uma obra longa e no geral sempre interessante. Nos anos 80 ele fez instigantes filmes sobre o preconceito, comédias azedas, e o sucesso Ligações Perigosas. Talvez seu melhor filme seja The Hit. Nos anos 90 ele fez muita TV e se alternou entre filmes Pop e outros esquisitos. Neste século ele tem mergulhado em estranhas histórias reais ( A Rainha tem vários personagens estranhos... ). Incrível mas esta senhora Florence existiu. Uma milionária que amava a música, tinha sífilis, e queria ser cantora. O filme toca numa ferida funda: aqueles que amam a arte mas não possuem talento. Mais que isso: a diferença entre fazer e realizar. Alguns críticos reclamam da mistura de drama e comédia. Maus tempos estes, essa mistura não é um defeito, é um dom! O filme é muito bom! Divertido, me fez chorar, ridículo, bonito. Tem uma atuação contida e brilhante de Grant, um ator subestimado, revela o ótimo Simon Helberg e dá a Meryl mais uma grande atuação. Florence é patética, Meryl não. Adorei este filme!!!!
   BORN TO BE BLUE de Robert Budreau com Ethan Hawke e Carmen Ejogo.
A música é ótima e quando se ouve My Funny Valentine voce se arrepia. Ethan está bem, mas o filme é menos do que deveria ser. Jazz é joy!!!!! Uma boa fala: Chet diz que se droga porque é bom. Eu gostei do filme, mas penso que aqueles que não gostam de jazz irão achar ele banal. Tem boa fotografia.
   PORKY'S de Bob Clark
Enorme sucesso em 1981, é o pai dos filmes teen grosseiros. Fala de um bando de estudantes à procura de sexo, vingança e risos. Dá ainda pra rir, mas o roteiro é um quase nada. O elenco não vingou. O filme se passa em 1954, mas tudo parece com 1981 mesmo.
   MY GAL SAL de Irving Cummings com Victor Mature e Rita Hayworth.
A história de um compositor dos anos 1890. O filme é alegre, leve, divertido e bem bobo. Apenas mais um musical da Fox... Mature, famoso canastrão, não está mal.
   FOLIAS NA PRAIA de William Asher com Avalon e Funicello.
Buster Keaton, já bem velho, tem algumas cenas, boas. É o melhor filme da "turma da praia", e quem tem mais de 40 anos sabe do que falo. Um filme que é uma peça de pura saudade. Mundo de extrema inocência que não sei se um dia existiu. As músicas são OK.
   FUGA PARA A VITÓRIA de John Huston com Michael Caine, Sylvester Stallone e Pelé.
Num campo de prisioneiros, na segunda guerra, um general alemão ( Max Von Sydow ) , desafia um inglês, Caine, a formar um time de futebol e jogar contra os nazistas. O filme é bem pior do que parece. Huston estava bêbado e o que dizer de Stallone...Pelé atua bem melhor que ele! Juro! O roteiro é constrangedor...
   SONHAREI COM VOCÊ de Michael Curtiz com Danny Thomas e Doris Day.
A história do compositor Gus Kahn deu um filme OK da Warner. Doris Day está brilhante como sempre e Danny é o ator mais esquisito da história ( tem a cara do Luciano Huck ). Curtiz, diretor de Casablanca, leva tudo com a precisão de um relógio.
   SEIS DESTINOS de Julien Duvivier com Charles Boyer, Henry Fonda e vasto elenco.
Excelente filme que acompanha a história de um paletó. Primeiro com seu dono muito rico, até terminar numa favela de negros. Duvivier era um grande diretor francês que foi trabalhar nos EUA durante a guerra. Todas as 6 histórias são boas, algumas ótimas, e o clima é de alegria amarga. Há muito do cinema de Clair e de Carné aqui. Belo!!!!
   BABY FACE de Alfred E. Green com Barbara Stanwyck
Feito antes do invento da censura nos EUA ( 1934 ), o filme acompanha uma moça que transa com todos os homens  que encontra para subir na vida. E sobe, como ela sobe!!!! Stanwyck está sexy e esperta, o olhar de uma vulgaridade absoluta. Mas o filme, curto, não é muito mais que isso.
   ALMAS REBELDES de Frank Borzage com Clark Gable e Joan Crawford.
Um filme muito, muito estranho. Joan é uma prostituta num porto tropical. Gable um presidiário. Ele foge da prisão e ela se junta à ele. No caminho se juntam à um tipo de "Cristo", um fugitivo feito por Ian Hunter. O filme se torna então uma alegoria cristã. Gostar deste filme depende muito de seu espírito. Pode parecer ridículo ou sublime.
 

FRED ASTAIRE- TOM CRUISE- GEORGE CUKOR- DORIS DAY- PETER CUSHING

   DUAS SEMANAS DE PRAZER ( HOLIDAY INN ) de Mark Sandrich com Bing Crosby, Fred Astaire e Marjorie Reynolds.
Um triângulo amoroso entre um cantor, um dançarino e uma novata. O cantor larga a vida na cidade e monta uma pousada no campo. Essa pousada vira um hotel-show. E o amigo vai se apresentar lá e disputar sua garota. O filme é uma delicia. Todas as canções são de Irving Berlin e cada uma fala de um feriado. Fred Astaire está ótimo como um dançarino meio safo. Tem três números espetaculares. Mas o filme se sustenta graças a direção do mestre Sandrich, diretor dos melhores filmes da dupla Astaire-Rogers e que morreria nesse mesmo ano. Bing Crosby transpira calma. Um paizão. Poucos anos depois este filme seria refeito com pequenas mudanças...e com resultado bem mais pálido. Nota 8.
   ROMANCE INACABADO de Stuart Heisler com Bing Crosby e Fred Astaire.
Usando as mesmas canções de Irving Berlin, os produtores refazem Holiday Inn. As mudanças são poucas: o ambiente é todo de cidade e Bing é um cara que vive mudando de endereço. Fred disputa uma mulher com ele... Há o Puttin on The Ritz de Fred, e isso sempre nos faz sorrir de satisfação. Mas é um filme de segunda. Nota 5.
   UM PIJAMA PARA DOIS ( THE PAJAMA GAME ) de Stanley Donen com Doris Day, John Raitt e Carol Haney.
Um sucesso na Broadway, este musical trata de um tema incomum: uma greve. O ambiente é todo de fábrica e de gente "comum". O filme foi um fracasso em 1959. Já se sentia o fim do mundo dos musicais. É um filme estranho...as músicas são excelentes, algumas danças são boas ( duas são ótimas ), mas ele não funciona. Simplesmente desistimos dele. A coreografia é de Bob Fosse, o gênio, e em duas cenas percebemos o futuro monstro que ele seria. Os corpos voam, as mãos falam, é o modo único de Bob Fosse fazer dança. Mas o filme...Donen, um dos meus diretores favoritos, dirige sem paixão. Pena...Nota 3.
   A MALDIÇÃO DE FRANKENSTEIN de Terence Fisher com Peter Cushing e Christopher Lee.
O primeiro filme da Hammer. Uma produtora inglesa, barata, que em 1957 resolveu fazer filmes de terror de bom nível. Pegou o ciclo dos anos 30 da Universal e os refilmou de outro jeito. Mais explícitos e coloridos. Este foi o primeiro e como vendeu bem, abriu o caminho para o filão que duraria quase vinte anos. Os atores estão maravilhosos e confesso que senti um certo incômodo vendo o filme. É doentio. Nota 5.
   MISSÃO IMPOSSÍVEL de Christopher McQuarrie com Tom Cruise, Jeremy Renner, Simon Pegg e Rebecca Ferguson.
Apesar da história ser completamente inverossímil, é um filme de ação muito bom. Todas as cenas têm o ponto certo, nunca parecem longas, nunca são velozes demais. Você consegue ver gente em meio ao fogo e às explosões. Tom nasceu para esse filme, está perfeito. O vilão é terrível no ponto exato e a heroína é bonita e convence. Tipo de diversão que vale cada centavo gasto. Nota 7.
   O CAVALO CAMPEÃO de Anthony Pelissier com John Mills, John Howard Davies e Valerie Hobson
Um filme muuuuuito estranho. Numa família de classe média, o pai gasta muito dinheiro no jogo, a mãe é consumista ao extremo e o único filho desmorona vendo o desastre que se aproxima. Mas eles têm um jardineiro que lhe apresenta o jockey club e o menino aposta e começa a ganhar... Poucos filmes demonstram com mais distanciamento o desastre de uma criança. Pais que dão ao filho toda a tensão do lar. O filme é esquisito, árido, simples e muito duro. Hoje é considerado uma pequena jóia do cinema inglês.
   NASCE UMA ESTRELA de George Cukor com James Mason e Judy Garland.
Um filme maldito. Cukor fez um filme de 4 horas. A Warner cortou para duas e meia. E, apesar das indicações ao Oscar, foi um fracasso. Aqui temos ele refeito em 3 horas e pouco. Visualmente é um primor. O colorido brilha em tons de azul e preto, ângulos de câmera ousados e movimentos súbitos. Mas a história é difícil de acompanhar. Talvez por sabermos toda a história do ator bêbado que descobre cantora genial e a lança ao estrelato. O filme é pesado, triste, mórbido até. Judy perdeu o Oscar para Grace Kelly e jamais se recuperou. James Mason está bem, mas nunca emociona. Um grande erro. Dos poucos de Cukor.
   PAPAI PERNILONGO de Jean Negulesco com Fred Astaire e Leslie Caron.
Sempre que Astaire se afasta do tipo continental, o cara da cidade, meio safo, esperto e vaporoso, o filme parece se ressentir disso. Aqui nada convence. Ele é um ricaço que adota uma francesa pobre de 18 anos....Aff...Ela não pode saber e depois de anos ele se aproxima dela sem que ela saiba que ele é o benfeitor que pagou tudo para ela. Sim, é uma bobagem xaroposa. Fuja!

KUROSAWA/ KEVIN KLINE/ STEVE MARTIN/ DORIS DAY/ TOM COURTNEY

A SOLIDÃO DE UMA CORRIDA SEM FIM de Tony Richardson com Tom Courtney e Michael Redgrave
Com seu lançamento em DVD, muito critico inglês passou a colocar este filme entre os dez mais da ilha. Feito em 1963, conta a saga de um teen pobre e desiludido. A mãe tem amantes, a casa é suja e cheia, as namoradas tolas. Ele rouba uma padaria e é preso. Na Febem inglesa ele se destaca como atleta. Mas as coisas nunca são fáceis. Richardson faria Tom Jones em seguida, e Redgrave faz o diretor da Febem. Tom Courtney tem um desempenho mágico. Sujo. O filme é magnifico. Nota 9.
UM FILME FALADO de Manoel de Oliveira
Uma enfadonha aula de historia. Melhora na interação final entre os atores. O sentido é óbvio, a Europa começou no mar de Portugal e termina na nova ordem atual. Bem...não deixa de ser bonito.
A ESPIÃ DAS CALCINHAS DE RENDA de Frank Tashlin com Doris Day e Rod Taylor.
O titulo ridículo não estraga o prazer de ver este tolo filme pop. Tashlin começou como cartunista do Pica Pau. Seus filmes têm sempre a leveza do humor visual. Doris é confundida com uma espiã. Ruy Castro, fã de Doris, não gosta do filme. Eu gosto.
MY BLUE HEAVEN de Herbert Ross com Steve Martin, Joan Fusão e Rick Moranis
Não gosto. Um dos piores filmes do grande Martin. Nem ele salva essa chatice sobre um delator de NY sendo protegido pelo tira do FBI Moranis. Fuja!
TEMPO DE RECOMECAR de Irwin Winkler com Kevin Kline, Hayden Christensen e Kristine Scott Thomas.
Um homem que fracassou como pai e marido descobre que vai morrer. E dá sentido a sua vida reformando sua casa. Kevin está excelente. Mas...em 1952 Kurosawa fez o mais triste dos filmes, Viver, onde Shimura faz uma praça antes de morrer. Impossível comparar.  O japonês é a obra de um deus.
SONHO DE AMOR de Charles Vidor Com Dirk Bogarde e CapucineHorrivel! É sobre Liszt… mas nada faz sentido.
AS AVENTURAS DO CAPITÃO GRANT de Robert Stevenson com Hayley Mills e Maurice Chevalier.
Bela adaptação de Verne. Ação na medida certa. Apesar dos efeitos ruins, tem boa direção, bom roteiro e produção Disney. Os atores são ótimos!
A MAIOR HISTORIA DE TODOS OS TEMPOS de George Stevens com Max Von Sydow
O diretor de Shane e de tantos grandes filmes faz a vida de Jesus sem emoção. O ator favorito de Bergman faz Jesus. Dura quatro horas e levou anos para ficar pronto.

HOBBIT/REX HARRISON/ AL PACINO/ RAY/ SODERBERGH/ DORIS DAY

JUMBO de Charles Walters com Doris Day, Jimmy Durante, Martha Raye.
A vida no circo, onde Doris é a filha do dono, que por sua vez gasta tudo em jogo. O filme é simples, alegre, e entretém. O trio central brilha com sua simpatia. Nota 6.
O ENXAME de Irwin Allen com Michael Caine, Henry Fonda, Richard Widmark.
Abelhas africanas botam pra quebrar no Texas. Caine é um cientista. O filme tem uma direção inábil. Tão trash que fica até funny.
O ÚLTIMO ATO de Barry Levinson com Al Pacino
Birdman? Ator em crise tem ataque no palco. Fica preso do lado de fora, vai morar isolado, se envolve com gente doida... O filme é o mais árido da boa carreira de Levinson, e Pacino está interessado. Confuso, não é um bom filme, mas é interessante. Nota 4.
ADEUS À LINGUAGEM de Godard
Incompreensível. Cenas de um casal, muita nudez, frases inteligentes, imagens trêmulas, confusão. Godard aina é difícil, rebelde, ácido. Atira contra tudo e parece concluir que a linguagem se desfez, não faz mais sentido.
O HOBBIT, TODOS OS TRÊS. de Peter Jackson com Martin Freeman, Ian McKellen
Jackson tem coragem! Após os anéis ele arrisca os dedos. Volta à Tolkien e usa um livro muito mais pobre do autor. E o estica em quase nove horas de cinema. A parte um é boa, a segunda é ruim e a terceira é a melhor. Um erro está no elenco. Freeman é um hobbit ótimo, mas o líder dos anões é fraco. De todo modo, há uma beleza estética que não cansa. O maravilhamento dos anéis se perdeu, mas é boa diversão. Nota 6, 3 e 6.
FULL FRONTAL de Soderbergh com Julia Roberts, David Duchovny,Catherine Keener
Soderbergh e seu medíocre lado artístico. Ele brilha quando pop, mas, inseguro, acha que precisa provar ser arteiro, e faz suas besteiras metidas à Cassavetes ou Godard. Aqui é um filme dentro de um filme. Só what?
THE CHESS PLAYERS de Satyajit Ray
No século dezenove enquanto a Inglaterra se apossa da Índia, dois nobres se distraem jogando xadrez. O filme é chato e é forte. Ficamos entediados, mas depois que ele acaba não nos larga. Lembramos dele com admiração. Isso é arte. Nota 7.
ASFALTO de Joe May
Filme mudo alemão de um dos mais poderosos nomes da época. Um tenente de policia é seduzido por uma mulher fatal. O filme tem um belo clima sensual. Pode ser um bom começo para aqueles que desejam adentrar o mundo do cinema dos anos vinte. Nota 6.
ANNA E O REI DO SIÃO de John Cromwell com Irene Dunne e Rex Harrison.
Primeira versão da historia da professora que vai à Tailândia ensinar rei a ser moderno. Lindo, dramático, serio e muito bem interpretado. Rex consegue ser duro, frio, e frágil ao mesmo tempo. Envelheceu nada esta produção Fox. Nota 8.

ALAIN DELON/ CARY GRANT/ HAWKS/ DORIS DAY/ ANNE BANCROFT/ SPENCER TRACY/ AL PACINO

   O INVENTOR DA MOCIDADE ( Monkey Business ) de Howard Hawks com Cary Grant, Ginger Rogers, Charles Coburn e Marilyn Monroe.
É o primeiro fracasso de bilheteria de Hawks e um dos raros de Cary. Hawks vinha de 15 anos seguidos de sucessos quando resolveu fazer na Fox este roteiro de Lederer e Diamond. Os dois são roteiristas que trabalharam com Billy Wilder, e isso explica muito sobre o filme. O humor tem a grossura despudorada de Billy. Não tem o estilo humanista de Hawks. De qualquer modo o filme é tão louco que diverte, além do que o elenco é sensacional. Cary é um cientista que tenta criar a fórmula do rejuvenescimento. Um macaco cobaia mistura elementos e Cary bebe aquilo sem querer. Súbito ele volta aos 19 anos. Passa a ter o comportamento de um teen. Ginger é a esposa, que acaba por voltar aos 14 anos. Monroe faz uma secretária e este é dos seus primeiros papeis importantes. Ainda gordinha, ela é tremendamente sensual. O final, com Cary voltando aos 7 anos e amarrando um adulto na árvore para tirar seu escalpo é uma mistura de hilariedade com o incômodo do excesso de ridiculo. O filme se equilibra o tempo todo nesse fio, de um lado uma soberba alegria, de outro o ridiculo. As cenas com Ginger passam todas do ponto. Cary mantém a elegância. Um grande ator! Quer saber? Após seu encerramento deu vontade de ver outra vez. Nota 7.
   CARÍCIAS DE LUXO de Delbert Mann com Cary Grant, Doris Day e Gig Young.
Doris é a super-virgem. Desempregada, ela conhece o super rico Cary Grant. Ele tenta a seduzir com dinheiro. E consegue! Mas ela é virgem e defende sua honra. Bem, não poderia haver tema mais antigo. Imagino um cara de 15 anos vendo isso! Belos cenários e um Gig Young hilário como um paciente de um freudiano, não conseguem salvar o filme. Cary parece desinteressado, entediado ( este era o tempo em que ele descobria o LSD ). Nunca ninguém, naquela época, percebeu como Doris era sexy? A voz dela é de erguer defunto! Nota 4.
   STANLEY AND LIVINGSTONE de Henry King com Spencer Tracy, Walter Brennan e Cedric Hardwicke.
As convenções do filme de aventuras foram criadas por 3 grandes aventureiros da vida real: Raoul Walsh, Howard Hawks e Henry King. Todas as técnicas criadas pelos 3 são usadas até hoje. Pode-se enfeitar um filme o colocando no espaço, em outra dimensão ou fazer do mal o bem, mas o esquema é exatamente o mesmo. Aqui temos um dos melhores exemplos. Feito em 1939, o filme mostra Stanley, feito por um brilhante Spencer Tracy, partindo para a África desconhecida, em 1870, atrás do paradeiro de Livingstone. Em hora e meia o filme, com ritmo, tem um pouco de tudo: exploração do desconhecido, humor com o amigo do heróis, encontros inesperados, suspense e depois a edificação e o crescimento do herói. Ele retorna à sua terra como um homem melhor. Até uma cena de tribunal temos. Henry King foi um grande diretor. E como ser de seu tempo, dirigiu de tudo, westerns, comédias, dramas e musicais. Nota 8.
   O RIO DA AVENTURA de Howard Hawks com Kirk Douglas e Arthur Hunnicut.
O dvd tem belos extras. A voz do velho Kirk falando do filme, fotos de Michael Douglas aos 6 anos visitando o pai no set e Todd MacCarthy, um dos melhores críticos, falando do filme. Mas, surpeendentemente, a imagem não foi refeita e a foto está em mal estado. Feito em 1952, é o segundo maior fracasso da carreira de Hawks. O público da época estranhou esta aventura lenta, calma, primeira experiência do estilo Hawks de filmagem, que seria mais bem desenvolvida nos filmes seguintes. Como é esse estilo? Focar nos personagens e não na ação. Veja: aqui temos Kirk como um aventureiro no Oeste que vai com um grupo à procura de peles em terras inexploradas. Sobem o rio e encontram aventuras. Muitas. Mas todo interesse do filme é mostrar o cotidiano, o dia a dia, a personalidade de Kirk e de seus companheiros ( dentre eles um excelente Hunnicut fazendo um velho do mato ). Desse modo a sensação que fica é de pouca ação e de muito papo furado, o tal estilo Hawks. MacCarthy descreve bem, achamos o filme falho, mas quando termina queremos mais. Acabamos por gostar daquelas pessoas e desejamos sua companhia. É isso que acontece com os bons filmes de Hawks, o mais discreto dos mestres. O filme tem falhas sim, mas a gente acaba querendo mais. Nota 8.
   MOMENTO DE DECISÃO de Herbert Ross com Shirley MacLaine, Anne Bancroft, Tom Skerrit, Mychail Baryshnikov, Leslie Browne.
Este filme de 1977 tem um recorde. Junto com A Cor Púrpura, é o maior perdedor da história do Oscar. Foram 11 indicações e nenhum prêmio. Na época era moda falar mal dele. Ou melhor, os críticos o detestaram, o público adorou. Hoje a situação é a mesma. Não virou cult. Conta a história do reencontro de duas mulheres de meia idade. Amigas antigas, as duas foram grandes bailarinas. Uma largou tudo ao ficar grávida. A outra persistiu e se tornou estrela em NY. No reencontro se faz o balanço, a briga, a reconciliação. Eu adorei o filme. Assisti sem a menor expectativa e gostei muito. Me emocionei. Ele mostra com sagacidade a questão da idade, da fama e da solidão. E Anne está soberba! A diva é sempre humana, e a mulher é uma diva. A cena da briga entre ela e Shirley foi homenageada em Dancin Days, a novela. Gilberto Braga é um grande fã do filme. A fotografia de Robert Surtees impressiona muito. E vemos a estréia da super estrela e do sex symbol da época, Baryshnikov. Foi indicado a coadjuvante! Faz um bailarino hetero e playboy. Bom. Vemos Marcia Haydée nas cenas de dança, em seu auge como bailarina. Um lindo filme que teve o azar de concorrer nos ano de Annie Hall, Julia e Star Wars. Nota 8.
   UM MOMENTO, UMA VIDA ( Bobby Deerfield ) de Sidney Pollack com Al Pacino e Marthe Keller.
Assisti este filme no cine Astor, em 1978. Senti um profundo tédio. Revendo agora, senti um profundo desgosto. É o pior filme de Pollack, isso é aceito por todos, mas é também o pior de Pacino, e olhe que Pacino fez muito filme ruim. Uma sopa melosa e lenta, metida à filme de arte, sobre um famoso piloto da Fórmula 1. Ele perdeu suas raízes, virou um tipo de robot arrogante. Ao visitar um piloto acidentado na Suiça, conhece uma italiana doidinha que está morrendo...O filme evita o drama e vira um vazio. Tudo é seco e lento. Argh. Vemos James Hunt, Pace e Depailler nas cenas de corrida....que duram cinco minutos!!! Uma enganação...fuja! PS: Keller era um alemã que tinha corpo e rosto, bonito, de Valkiria. Como acreditar que frau Keller é uma italiana maluca????? Aff....ZERO!
   O SOL POR TESTEMUNHA de René Clement com Alain Delon, Maurice Ronet e Marie Laforet
Simplesmente o filme mais chique já feito. Itália em 1960 alcançou um nível de elegância sem ostentação que transparece em cada segundo do filme. Ronet descalço e sem camisa, parece o mais chique dos homens. Delon, com terno claro, com dock sides, com polo, sempre parece modelo da Vogue. Mas, eis o charme, tudo sem formalidade, sem afetação, com certo desleixo. Foi o auge do estilo mediterrâneo, que todos procuram e quase ninguém o revive. Clement consegue, ao seguir o livro de Patricia Highsmith, fazer um filme à altura de suas imagens. Ele é lindo e tem muito suspense. Gostamos de canalha Delon. O ator se confunde com o tipo. Houve ator mais diabólico e bonito? A refilmagem de 1999, de Minghella, colocou Matt Damon como Delon...aff!!! Jude Law era Maurice Ronet. O que era chique virou novo rico, parecia formal e Damon era um teen vestido de adulto. Aqui não! Até a carteira de Delon parece elegante! E temos o final, um dos mais inesperados da história. Um grande filme e um super sucesso de bilheteria. DEZ!!!!!!

FRANK SINATRA/ BRANDO/ MEL GIBSON/ MONICELLI/ JEAN COCTEAU/ DORIS DAY/ GILLO PONTECORVO

   OS COMPANHEIROS de Mario Monicelli com Marcello Mastroianni, Renato Salvatori, François Perrier e Bernard Blier
Norte da Itália, fins do século XIX. Estamos numa fábrica, entre seus operários. Eles vivem em condições miseráveis, trabalham 14 horas por dia. O filme acompanha sua tentativa de obter melhores condições de vida. Uma greve acontece. Mastroianni é um professor pobre que aparece do nada , e que procura organizar os operários. O filme adota um tom quase documental. Não é o Monicelli humorista, é um filme de esquerda, como tantos em seu tempo. Ele consegue nos deixar revoltados e comovidos ao exibir o contraste entre as crianças operárias e os donos da fábrica. Mas hoje sabemos onde o esquerdismo iria dar...Teremos nos tornado mais cínicos? Admitimos a vitória do capital ? Porque nos é tão dificil tomar pura e simplesmente o partido dos explorados? Bem...é um filme forte. Nota 7.
   SANTO ANTONIO de David Butler com Erroll Flynn e Alexis Smith
Não é um dos bons faroestes de Flynn. Falta um melhor vilão, falta um personagem melhor definido para seus talentos de estrela. Ele já estava aqui no inicio de seu fim, as marcas dos excessos e dos escândalos já se podem notar. Mas é ainda uma produção de bom nivel da Warner. Alexis faz uma cantora de saloon e Flynn é um forasteiro que tenta livrar a cidade de seus bandidos. Apenas isso. Nota 5.
   QUEIMADA! de Gillo Pontecorvo com Marlon Brando
Em seu livro Brando diz ser este seu melhor papel. Não é. Posso citar cinco atuações melhores de Brando ( Um Bonde, O Chefão, Tango, Os Pecados de Todos, A Face Oculta ). Mas é um grande filme e uma grande atuação! Ele conta no mesmo livro ter discutido muito com o diretor. Pontecorvo insistia em fazer um filme completamente de acordo com a cartilha marxista, Brando queria mais sutileza. E lhe revoltava ver que um marxista como Pontecorvo explorava os figurantes de um modo tão óbvio. Mas ao mesmo tempo ele elogia o diretor e o filme. Com uma trilha sonora mágica de Ennio Morricone, o filme mostra a história de William Walker, um enviado da Inglaterra que "ajuda" os escravos negros a se livrar de seus senhores. A coisa se complica quando esses mesmos negros se voltam contra Walker, que afinal era apenas um novo explorador. Brando consegue refinar Walker. Ele é apenas um funcionário da Inglaterra, sem opiniões e sem nenhuma paixão. Faz um jogo impecável, obtém o poder para os ingleses, mas não vê nada de glorioso ou de errado nisso. Marlon Brando foi um gênio. O filme é muito bom, uma soberba aventura marxista. Um tipo de western de colonizados. Nota 8.
   O PIRATA de Vincente Minelli com Judy Garland, Gene Kelly e Walter Slezak
Numa ilha do Caribe, moça sonha em conhecer o famoso pirata Mococo. Mal ela sabe que seu ridiculo noivo é Macoco. Kelly faz o papel de um ator de circo, que para a conquistar finge ser o pirata Mococo. Músicas de Cole Porter em filme que não é um dos geniais musicais da época, mas que está longe de ser vulgar. Hiper colorido, alegre, cheio de vida e com belas canções, seu ponto fraco são as coreografias. Minelli e Kelly fariam bem melhor em outros filmes. Nota 6.
   ORFEU de Jean Cocteau com Jean Marais, Maria Casares, Marie Dea
Ou voce ama ou odeia. Cocteau traz o mito de Orfeu para a França de 1950. Para gostar voce deve se despir de linearidades e razões. O filme é só poesia. As coisas acontecem como em sonho e Cocteau tinha o dom para isso. Vê-lo é de certa forma como sonhar. Em dado momento voce perde a certeza de estar vendo um filme. Porém, se voce procura uma história emocionante ou um espetáculo, fuja. Os filmes de Cocteau, em que pese sua poesia, sempre resultam frios, distanciados. A fotografia é belíssima e surpreende a elegãncia francesa de então. São belas roupas e belos décors. Nota 7.
   PLANO DE FUGA de Adrian Grunberg com Mel Gibson
Mel Gibson era um excelente ator de ação. Como Bruce Willis, ele conseguia fazer tudo o que Stallone ou Arnold faziam, mas com muito mais humor e uma dose refrescante de hironia e inteligência. Mas após os Oscars de Braveheart Mel pirou. Aqui ele volta a ação pura e consegue ser outra vez o ator irônico que eu e minha geração adoramos. Mas o filme não é digno dos talentos do ator. É um desses filmes que tem prazer em mostrar dor, sujeira, destruição e vísceras. Ele é um americano em prisão mexicana. Lá ele tenta se dar bem. E é só. Eis a estética do cinema deste século: o prazer em se ver coisas sendo destruídas e sangue espirrando.  Moral: O mundo é uma merda. O filme também é.
   YOUNG AT HEART ( JOVEM NO CORAÇÃO ) de Gordon Douglas com Doris Day, Frank Sinatra, Gig Young, Dorothy Malone e Ethel Barrymore
Uma surpresa. O filme mostra aquilo que se conheceu como a tipica familia americana feliz. Uma familia de musicos felizes com três irmãs. Duas namoram, Doris não. Chega a vizinhança um alegre, confiante e rico compositor. Não, não é Sinatra, é Gig Young. Doris se enamora dele. Mas ele tem um amigo, e só no meio do filme surge Sinatra. E que impressão ele causa! Mal humorado, pobre, pessimista, Sinatra faz uma imitação de seu amigo Humphrey Bogart que magnetiza o filme inteiro. E quando ele canta, com sua voz no auge da forma, tudo fica muito mais real. Doris foge com ele e juntos passam momentos ruins. O filme, que surpresa, é muito bom. Tem a doçura saudosista da América em seu apogeu, e também anuncia a amargura daquilo que estava reprimido. Doris é encantadora. Nota 8.

NICOLAS CAGE/ DORIS DAY/ COCTEAU/ BERGMAN/ MANOEL DE OLIVEIRA/ JOE WRIGHT/ GABIN

FÚRIA SOBRE RODAS de Patrick Lussier com Nicolas Cage e Amber Head
Barulho e corpos decepados. Mulheres nuas em cenas não-sensuais. Machismo a enésima potência. E Cage no meio daquilo tudo. Adoro filmes de ação sem cérebro. Sou fã de Jason Statham e fui de Bruce Willis/ Mel Gibson. Mas filmes de ação precisam de leveza, de algum humor. O que vemos aqui é grosseria pura e nada de emoção. Video-game em que voce não joga, assiste e engole. Estamos no ponto mais baixo do cinema. Nota ZERO.
A TEIA DE RENDA NEGRA de David Miller com Doris Day, Rex Harrison e Myrna Loy
Um elenco superior para um filme comum. Doris é esposa aterrorizada por telefonemas anônimos. Rex é seu marido e Loy uma amiga. Tem classe, mas o roteiro não se distingue por nada de especial. Serve para fãs de Hitch que gostam de conhecer suas imitações ( meu caso ). Doris, uma atriz sempre subestimada, segura o papel. Nota 5.
INVERNO DA ALMA de Debra Granik com Jennifer Lawrence
Por entre toneladas de entulho, bando de zumbis esfomeados e drogados vaga sem destino e sem nada para se ocupar. Uma menina deprimida vai à procura do pai em meio a esse mundo lixo ( que não é o meu ). É só isso. Um filme perfeito para quem confunde arte com depressão, ou que mostrar a verdade é mostrar gente zumbi. Se voce viajar grandão no filme, voce até pode imaginar que há ali a constatação do fim da figura paterna/deus e dos restos de coisas tentando ocupar esse vazio. Vazio que é inescapável. Mas o filme é realmente tão rico? Ou ver isso é empurrar sentidos que ele não merece ter? A atriz não atua, apenas fica zanzando pelo set. Foi dificil ficar acordado. Nota ZERO.
A BELA E A FERA de Jean Cocteau com Jean Marais e Josette Day
Para se avaliar um clássico é preciso vê-lo mais de duas vezes. Na primeira vez em que vi este filme ( 1991 ) chamei-o de obra-prima. Na segunda vez ( 1999 ) apenas de um excelente filme. Agora o considero um filme interessante, bonito ( a foto é de Henri Alekan ) mas nada de tão grandioso assim. Nosso gosto se apura com o exercicio do olhar e do escutar. Em 91 o que eu conhecia de cinema? Bom..... A história é aquela do desenho Disney. Claro que numa chave mais adulta. Cocteau, para os meninos que não sabem, foi poeta, coreógrafo, pintor, diretor de cinema e escritor. Bom em todos esses ramos, genial em nenhum. Amigo de Picasso, Matisse e toda a turma boêmia da Paris 1920/1940, seus filmes sempre possuem um visual rico, sonhador, poético. Mas também apresentam sempre algo de flácido, suave demais. É o caso. Nota 6
SINGULARIDADES DE UMA RAPARIGA LOURA de Manoel de Oliveira com Ricardo Trêpa
Se Clint Eastwood viver mais vinte anos terá a idade que Manoel tem hoje. Um milagre! E tomara que Clint ( e Woody ) consigam. Manoel de Oliveira é pouco apreciado em Portugal. Seu sucesso vem da França e da Espanha. Fácil saber o porque: ele expõe aquilo que os portugueses não gostam em si-mesmos. Aqui ele pega um conto de Eça e faz um filme de uma hora, apenas. E que filme é esse? Uma radiografia sobre a facilidade com que um amor nasce dentro de uma pessoa, e a mortal capacidade que esse amor tem de se escapar. Se amar é fácil, perder um amor é mais fácil ainda. O filme nada tem de trágico. Aliás, nada tem de emocionante. A paixão é exposta como coisa fria. E o fim é ainda mais frio. As cenas nunca são bonitas, são precisas, simples, naturais. É um tipo de cinema diferente, distante, de cenas longas, nada espetaculares. Em meio a tanta bobagem é um alivio. Mas por outro lado, há uma ostentação cultural, um pedantismo que chega a irritar. De qualquer modo, quando um ator recita um poema de Fernando Pessoa ( Alberto Caieiro ) faz-se a luz. É uma cena maravilhosa. Manoel de Oliveira não é de nosso tempo. Seu filme parece ter sido feito por um contemporâneo de Machado de Assis, Proust ou Thomas Mann... E ele o é. Nota 6.
O SÉTIMO SELO de Ingmar Bergman com Max Von Sydow, Bibi Andersson e Gunnar Bjorson
Quando temos diante de nós um filme como este, tudo o que podemos fazer é ajoelhar e bater palmas. O prazer em assisti-lo é inenarrável. Se voce não compartilha desse prazer, sorry, voce não sabe o que perde. Morte, história, coragem, jogo, estes os temas do filme. Bergman constrói cenas sobre cenas que nos ficam gravadas na cabeça como sonhos acordados. É, como diz Pauline Kael, o único filme medieval que parece ter sido feito na época. Bergman compreende o que foi aquele tempo. De certa forma, ele viveu seus conflitos em termos de culpas medievais. Foi um homem que enfrentou o dragão. Inescapável marco do cinema. Nota DEZ.
ARDIDA COMO PIMENTA de David Butler com Doris Day e Howard Keel
Doris está adorável como Calamity Jane, a heroína do oeste, com jeito e roupas de homem. Keel é um cowboy seu amigo. O filme, musical, mostra sua transformação em mulher atraente. É um musical de sucesso, mas não é um dos grandes. Em que pese o talento de Doris e de Keel, o filme tem uma encenação comum, pouca ousadia em seus números. È apenas uma diversão ligeira, da época em que se produziam filmes às toneladas. Nota 6.
GAINSBOURG de Joann Sfar com Eric Elmosnino, Laetitia Casta e Lucy Gordon
Um bom filme sobre um ícone. Sfar surpreende: caso raro de bio que não sente pudor em amar seu objeto. Serge é tratado como personagem de lenda, de conto de fadas. A encenação é rica, e suas canções estão lá ( La Javannaise é a melhor ). Bacana terem lembrado de France Gal, mas bem que podiam ter dado um jeito de colocar Anna Karina. A terceira parte, quando ele encontra Birkin, é a melhor. O encontro com BB é o pior resolvido. De qualquer modo, é obrigatório para fãs, para francófilos e para quem gosta de boa música. Para o resto será uma surpresa. Eric tem atuação de gala, mas Serge não era tão feio! Lucy é uma Jane convincente ( sim, se usavam saias tão curtas ) e Laetitia está longe da beleza de BB. Pena Claudia Schiffer não ser mais jovem.... A atriz que faz Grecco nada tem da esquisitice da musa existencialista. No mais, é um filme sobre um homem muito sexólatra feito de forma estranhamente pudica.... Sinal dos tempos.... Nota 7.
HANNAH de Joe Wright com Saoirse Ronan, Cate Blanchet e Eric Bana
Ainda não passou aqui este novo filme do excelente diretor de Desejo e Reparação e de Orgulho e Preconceito. Do que trata? Saoirse ( excelente ) é uma menina criada pelo pai ( Bana ) para saber se defender. Na verdade ela é parte de uma experiencia que não deu certo. Blanchet é a agente governamental que fez parte do projeto e que agora quer eliminá-la. Sentiram o drama? É HQ das mais banais. E o filme é esquizo até o osso. Wright, um talento enorme, trabalha com esse roteiro banal e faz misérias com as cenas. Não há um excesso de cortes, não há violência demais. Mas há a criação de um clima angustiante e principalmente, Wright consegue fazer um filme de hoje que se parece com futuro distante. Vemos aquele mundo sórdido, à Blade Runner, e percebemos que é nosso mundo, é agora. Um filme cheio de erros ( o pior é a trilha sonora vulgar ) mas que deixa se perceber o talento, grande, de seu diretor. Nota 6.
A TRAVESSIA DE PARIS de Claude Autant-Lara com Jean Gabin e Bourvil
Demorou mas virei fã de Gabin. Acho que precisamos de uma certa idade para gostar de seu jeito lento, duro, seco e mal-humorado. O chapéu de lado, o cigarro em toco, as mãos gordas. O maior mito francês em cinema. Aqui ele é um pintor bem sucedido que se envolve com o contrabando na segunda guerra só para ver como é. Ele ama a vida e quer conhecer esse lado de viver entre contrabandistas desesperados. Seu camarada é um apavorado e afobado pobretão, sempre nervoso e quase estragando tudo. O que eles contrabandeiam é carne de porco ( há a morte de um porco no começo que pode ofender alguns ). O filme, filmado nas ruas escuras de Paris, é uma diversão deliciosa. Assistimos com interesse a caminhada desses dois perdidos pela cidade tomada pelo medo e por soldados nazistas. E é lindo ver a Paris escura, fria, suja, pobre, da guerra. Nota 7.

OZU/ MIZOGUCHI/ ALMODOVAR/ ROCK HUDSON/ DORIS DAY

A PRINCESA DAS OSTRAS de Ernst Lubistch
Mais um filme silencioso de Lubistch de sua fase alemã. É uma deliciosa história sobre herdeira milionária e seu principe. Trata-se de comédia mágica, encantadora. Os cenários, irreais, são por sí um prazer. O filme é todo alegria. Enjoy it. Nota 7.
O INTENDENTE SANSHO de Kenji Mizoguchi
Este clássico de Mizoguchi toca na maior chaga da história humana : a escravidão. Mas há mais, ele fala da relação entre mãe e filhos, entre irmãos, fala ainda da decadência e do gosto azedo de toda vingança. Visualmente trata-se de uma obra-prima. Cada cena é uma sinfonia de flores, rostos e de água. Mizoguchi, o mais feminino dos diretores do Japão, desenvolve este enredo, doloroso, triste, poético, com toques de pincel em porcelana. É um filme perfeito e que tende a ser ainda melhor ao ser revisto. O final é inesquecível. Nota DEZ.
CONFIDÊNCIAS A MEIA-NOITE de Michael Gordon com Doris Day, Rock Hudson e Thelma Ritter e ainda Tony Randall
Doris saiu de moda na era hippie. Foi chamada de a mais virgem das virgens do cinema. Mas é pura doideira freak dizer isso. Ao rever seus filmes notamos o quanto ela era sexy. É ainda o modelo de gente como Jennifer Anniston, Meg Ryan e Reese Witherspoon. Rock é um Clooney mais elegante ainda ( e mais afetado ). O filme, o primeiro dos dois, é aquela bobagem bacana sobre moça que odeia playboy e depois passa a amá-lo. O cenário é hiper colorido, Rock faz um mentiroso muito bem e Doris é deliciosa. Um clássico da sessão da tarde. Nota 7.
VOLTA MEU AMOR de Delbert Mann com Doris Day, Rock Hudson e Tony Randall
Sobre publicitário anti-ético e sua rival. É claro que acabam por se apaixonar. É claro que tudo é colorido, fake e muito divertido. E Doris não é uma chata virginal. O filme, o segundo dos dois, ainda é legal. Perfeito para uma tarde de frio. Nota 6.
LE BONHEUR de Agnés Varda
Um homem casado e feliz arruma uma amante. Ele continua feliz e a amante é feliz também. Mas ele, ingênuo e idealista, pensa que a mulher pode aceitar sua felicidade por ter duas mulheres que o amam e a quem ele também ama. Mas talvez não seja assim... de qualquer modo, ao final do filme, ele e a amante continuam felizes. Este filme, de belíssimo colorido, que tem um trio de atores lindos e contentes, não tem trama, não tem drama, não tem comédia. Ele mostra, com muita criatividade e engenho, com uma edição ágil, três adultos e duas crianças comuns e ao mesmo tempo muito especiais. Eis um clássico simples, um belo momento da nouvelle-vague. Lindo filme. Nota 7.
ABRAÇOS PARTIDOS de Pedro Almodóvar com Lluis Homar e Penélope Cruz
Já aviso: eu detestei este filme. Ele é chato, maneiroso, sem nenhum tipo de emoção verdadeira. Tudo parece forçado ou pior: previsível. Dá pra adivinhar tudo o que vai acontecer. Poderia ser uma comédia, mas é levado a sério. Imperdoávelmente vazio. Nota 1.
TOKYO STORY de Yasujiro Ozu
Após os 7 Samurais de Kurosawa, este é considerado normalmente o melhor filme japonês da história. É o filme favorito de Wenders e de vários diretores americanos moderninhos. O estilo de Ozu está todo aqui. Os atores conversam olhando para a câmera. Câmera que está sempre a altura do tatami. Ozu evita as emoções fortes, todas são sutis, mas essas emoções estão sempre presentes, batendo a porta, nos olhares e nos corpos que se encolhem. O tema é típico de Ozu : a família. Trata de dois pais, idosos, que vão à Tóquio visitar os filhos. Nenhum filho é ruim ou frio, mas eles simplesmente não têm tempo livre para os pais. Apenas a nora viúva parece os entender. Nada explode, não há nenhuma cena de dor ou de raiva, mas dentro de nós, lentamente, delicadamente, vai nascendo uma sensação de dor e de inevitabilidade. Misturando seus ingredientes, com precisão poética, Ozu nos leva para dentro daquelas casas, daqueles rostos, daquelas vidas. O filme é uma obra-prima absoluta. Ozu era um santo. Nota DEZ !!!!!!