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LETRA E : EDDIE AND THE HOT RODS- EMERSON, LAKE AND PALMER
Para quem não viveu os anos de 1977, 1978, fica meio difícil entender porque o punk rock fez tanto alvoroço. A pessoa acha que foi por causa do barulho ou dos palavrões, mas barulho e palavrão sempre houve. Se voce escutar uma banda como Emerson, Lake and Palmer, e depois ouvir Eddie and The Hot Rods ( melhor ainda, ouvir o Sham 69 ), talvez voce comece a entender. --------------- Primeiro é preciso que eu deixe claro. A melhor coisa que me aconteceu em anos recentes foi ter perdido o preconceito contra o heavy metal e o prog. Um novo universo se abriu para mim, e eu juro, é bom demais poder descobrir mundos tão imensos na idade em que estou. Mas mesmo no tempo em que eu vivia o preconceito ( fui educado para odiar prog e heavy ), eu ouvia e reouvia o primeiro disco do ELP, aquele que tem a faixa Lucky Man. Hoje eu tenho todos os cinco primeiros discos e acabo de ouvir outra vez todos eles. Os dois primeiros são muito bons. Eles nos dão o prazer de ouvir três grandes músicos tocando com exitoso prazer. A criatividade do primeiro, é o melhor, nunca me cansa. É um disco perfeito, sem faixa ruim. Mas....... a partir do terceiro disco, gravado em 1972, a coisa começou a desandar. E a palavra que define o que aconteceu é uma das mais traiçoeiras que existe: vaidade. Keith Emerson começou a se ver como um artista erudito e Greg Lake como poeta. As músicas se tornaram "peças musicais", com títulos pomposos e ridículos. A aventura se fez "estilo" e a surpresa "fórmula". Apesar de ainda conseguirem boas faixas, são discos que exalam aborrecimento. Após dois anos eles já não tinham nada a oferecer. --------------- Música erudita misturada à rock funciona muito mais em heavy metal. ---------------- Em 1976 o rock estava pronto para receber um tapa na cara. Havia muita coisa boa ( Dr. Feelgood, Bowie, Status Quo, Robin Trower, Lynyrd Skynyrd, Foghat e vasto etc ), mas a sensação era de que a coisa havia se tornado pretensiosa, chata, gigantesca, incomunicável. Bandas gigantes lançaram todas discos muito decepcionantes ( Black and Blue dos Stones, Presence do Led, Animals do Floyd, Going do Yes, muitos mais ), grupos como Roxy Music, Mott The Hoople e T.Rex haviam terminado, Rod Stewart virara playboy, e quem mais vendia, muito, era Eagles e Peter Frampton, nomes não exatamente instigantes. --------------- O primeiro ato de punk foi ofender. Eles ousaram xingar as bandas queridas dos anos 60. Para eles, um cara com 28 anos era um velho e fim de papo. Punks faziam músicas "mal tocadas" com 2 ou 3 minutos no máximo. Sem solos. Sem exibição vocal. Rápido, agudo e "errado". Foco muito no errado. Os fãs tradicionais ficavam horrorizados com sua tosca técnica. Ainda ficam em 2022. Os anos 70 foi o tempo da super técnica, do jazz-rock, dos discos hiper produzidos, dos músicos mestres, gente se exibindo em solos sem fim. Foi um choque ver que gravadoras ousavam lançar gente que não sabia tocar. Parecia sujo. A ideia dominante em 1976 era que o rock se tornaria cada vez mais "clássico", cada vez mais produzido, mais técnico, mais complexo. O King Crimson parecia ser o futuro. E então o futuro se tornara, que surpresa, os Troggs. Os desprezados singles de 1965, coisas de Kinks, Them, Surfaris, eram de repente o tal futuro do rock. Foi um choque. ----------------- Ouvindo hoje, muita coisa do prog vale muito à pena e me agrada demais. Tenho escutado Yes ( até 1975 sempre uma banda que produz música muito bonita ), Gentle Giant, Renaissance, 10CC, Jethro Tull e vasto etc. Tenho amado. O que eles queriam era apenas produzir beleza e isso o punk nunca fez. Nem quis. Os prog erraram muito. E acertaram bastante. Acima da vaidade eles tinham coragem. --------------- Ironia do futuro: menos gente ouve hoje o punk de 1977 que o prog de 1972. Na escola que trabalho conheci mais gente de 14 anos que escutava Pink Floyd e Rush que Sex Pistols ou Ramones ( Ramones é banda muito amada....por quem tem 40 anos ). O motivo é claro: o prazer de ouvir música bem tocada sempre sobrevive. Haverá sempre uma centena de moleques que possuem o sonho de ser músicos e têm ouvidos bem treinados. Eddie and The Hot Rods está morto para sempre. ( Mas não a diversão que eles ofereciam ). O fato é que bandas de 2022 podem e refazem Eddie sem nenhuma dificuldade. Mas ninguém refaz Can ou Tangerine Dream. E nem o primeiro disco dos irritantes e soberbos Emerson, Lake and Palmer. Bem ou mal, o prog é propriedade daqueles que o construíram.
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