Mostrando postagens com marcador oscar wilde. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador oscar wilde. Mostrar todas as postagens
ISABELLE - ANDRÉ GIDE
É este o segundo livro de Gide, autor francês ganhador do Nobel de 1947. Nobel digno, pois Gide é um dos escritores que deveriam voltar a ser lidos. Se hoje ele pouco é lembrado, saiba que até os anos de 1980, era Gide muito conhecido. Como Malraux e Colette, ele caiu fora da moda. Por que? Talvez por não ser " sensacional". Ele é calmo, competente, perfeito. Se em seu tempo foi chamado de "ousado", isso se devia a seu homossexualismo mal aceito então. O estilo que ele usa é sóbrio.------------------- Gide foi jovem amigo de Oscar Wilde, e como Gide viveu até 1952, isso me faz pensar no quanto Wilde ainda teria a viver não fosse seu destino trágico. Nascido para a frase bem feita, Wilde poderia ter ficado rico no cinema, escrevendo roteiros na Gaumont. Tivesse vivido 70 anos, ele morreria na década de 1930. Waaallll....divaguei à Paulo Francis. Voltemos a Gide. -------------------------- Neste livro ele mostra a tolice do romantismo. Um jovem vai à um castelo fazer uma pesquisa. Em meio aos habitantes excêntricos, ele vê uma foto e se apaixona pela moça desse retrato. Imagina como ela é e como viveu. Então a conhece. E cai no mundo real. -------------- Simples, otimamente bem escrito, divertido, o livro tem ainda uma contundente descrição ecológica do quanto a derrubada de velhas árvores pode ser um ato hediondo. Saiba, é um prazer ler essa novela. Procure.
RECORDAÇÕES DA CASA DOS MORTOS - DOSTOIEVSKI
Interessante fazer uma comparação entre as estadas na prisão do autor russo e de Oscar Wilde. ---------------- Wilde, enquanto na prisão, começou a tecer elogios à São Francisco de Assis. Mas ao sair, entregou-se à bebida e a miséria. Dostoievski encontrou o renascimento dentro da prisão, e ao sair, vestindo uma nova vida, escreveu seus grandes livros. Por que essa diferença? ------------------ Wilde, pagão até o osso do pé, não conseguiu levar a cabo sua conversão. A apreciação cristã de Wilde foi puramente estética. O renascer após morrer lhe era impossível por ser inaceitável. Já Dostoievski mergulhou completamente no dogma cristão: é PRECISO MORRER para então VIVER. Sua estadia no inferno foi QUERIDA, ÚTIL, NECESSÁRIA. O cristianismo, religião que vê sentido na dor mais absoluta, lhe serviu, não de consolo, mas sim de alimento. ---------------- Leio este livro e o acho, talvez, o melhor romance do autor. Estranhamente, este, que deveria ser o mais chorão livro de Dostoievski, é, de longe, o mais sóbrio. Ele aceita a prisão e não só a aceita como vê nela algo de "bom". Ele descreve os prisioneiros como abnegados, estoicos, homens que não querem lembrar. Há entre eles um código de ética que só posso chamar de nobre. E a Sibéria surge como o mais belo lugar da Terra ( Cole Porter viajou por lá e achava o mesmo ). É um livro que se lé com prazer e é quase um manual de entendimento da dor. Dostoievski percebe isso logo, a prisão e os trabalhos forçados salvam sua vida, matam tudo aquilo que ele foi e lhe dão um novo nascimento. Eis toda a fé cristã em sua mais profunda realidade. A religião da dor, da morte e da ressurreição. ------------- Para Wilde nada disso era possível como para nós nada disso pode ser absorvido. Wilde como eu e como voce, está atrelado às coisas, aos objetos, aos luxos e prazeres efêmeros. Não havia como ele se despir da matéria e mergulhar na completa espiritualidade. Na prisão ele, inteligente, percebeu o poder de CONSOLO da cristandade, mas foi apenas isso, um consolo, exatamente o mesmo que ela pode ser para nós. Ao sair, de volta à vida, ele não pode renascer porque não morreu de fato. Wilde continuou o mesmo, apenas mais sofrido, ou seja, piorado. Dostoievski, homem da realidade russa de 1850, mundo sem luxo, sem exibicionismo, sem esteticismo, conseguiu se despir, se fazer espírito, morrer totalmente e assim viver de novo e novo. Esse renascimento é impossível para aquele que tem saudades das viagens que fez, dos objetos que teve, dos amores que provou, das paixões de sua vida. --------------------- Leia o livro.
MOBY DICK E A FRAUDE
Não pense que o excesso de filmes de HQ, biografias ou "baseados em fatos reais" seja um acaso. O mundo nunca foi tão covarde e produzir algo que já tem um nome, uma grife, já é conhecido, já existe, é muito mais seguro. Um projeto sobre o cantor X ou sobre a tragédia Z, traz em si uma garantia de repercussão que um roteiro totalmente original não traz. Fazer um filme baseado em título literário famoso também garante alguma repercussão. -------------------- Grandes livros não dão grandes filmes. É uma verdade que tem várias excessões mas que mantém média alta. Os grandes romances da história não dão grandes filmes, e muitas vezes nem mesmo filmes bons ou passáveis. Cervantes, Stendhal, Hugo, Balzac, Proust, Joyce, Thomas Mann, Faulkner, Heminguay, Flaubert, nenhum desses autores tem um filme que lhe faça justiça. Alguns são desastres absolutos, DOM QUIXOTE, outros deram filmes até que interessantes, mas completamente infieis ao livro. Penso em Heminguay cujo ILHAS DA CORRENTE é um bom filme, mas bastante distante do romance. ------------------- Mesmo autores contemporâneos sofrem no cinema. Bellow, Updike, Roth, jamais tiveram um filme digno de sua obra e Tom Wolfe teve a sorte de ver OS ELEITOS-the right stuff, ser um muito, muito grande filme. Chegamos pois às excessões. TOM JONES é um filme digno do livro e que capta algo de sua verve. Shakespeare tem alguns filmes que souberam usar sua obra e que não passam vergonha quando comparados ao original. ( Porém há uma reparação: teatro é mais adaptável ao cinema que o romance ). Dois nomes se destacam: Jane Austen, que se dá muito bem em fimes e Henry James, o que é uma incrível surpresa, haja visto que sua obra é tão interiorizada. Penso que Austen se adapta bem por ter algo que o cinema ama: bom enredo, e James foi um caso de sorte, os filmes que deram certo foram escritos por gente que realmente o entendia. ------------------------ Chegamos ao tema: MOBY DICK. Há uma versão de John Huston que luta por ser fiel e não consegue ser. Huston tem como último filme de sua obra o filme OS MORTOS, um milagre de filmagem baseda em conto superlativo de James Joyce. Mas MOBY DICK não pode ser filmado. Quem o leu sabe disso, o romance de Herman Melville é um pesadelo feito de escuridão e de linguagem bíblica. Tudo nele parece uma acusação e não há modo mais perfeito de se entender a raiz da civilização americana que esse livro. Transpor MOBY DICK para a tela é impossível. Em imagens a riqueza verbal se torna um tipode cliché gótico. Eu gosto do filme de Huston, mas é uma falha que entretém, sempre uma falha. ---------------- Ontem vi outra versão do livro, um filme que era muito raro mas que o DVD nos trouxe de volta. Feito pela RKO em 1930, dirigido por Lloyd Bacon, o filme traz John Barrymore como Ahab e ver Barrymore é sempre um prazer gigantesco. Mas o filme, como é? ------------ Se voce leu o livro irá rir agora. Ahab é o atlético capitão de um navio, beberrão e mulherengo ( ou seja, é Barrymore ), que se apaixona por linda moça do porto de New Bedford. Ela corresponde e tudo parece bem. Mas a baleia arranca sua perna e ele se torna amargo. Sim meus queridos, MOBY DICK se torna uma hsitória de amor trágico. Mas!!!!!! Eu não posso atacar o filme e não devo. Porque ele é bom, é divertido e tem um saboroso gosto gótico. Os cenários são perfeitos, têm neblina, parecem sujos, escuros, úmidos. O filme cheira a bar de porto, a rum, a maresia. E mesmo a baleia é feita com surpreendente convencimento. Os efeitos são bons para sua época. O filme, malandro, usa o nome famoso e nobre: MOBY DICK, para atrair seu público, mas de MOBY DICK nada tem. Nada mesmo!!! Ou melhor, tem uma baleia e um cara chamado Ahab. Fazem o mesmo hoje com filmes que usam nomes como NICK FURY, FAUSTO, ROMEU E JULIETA, MILES DAVIS, OSCAR WILDE e que nada têm a ver com seu título. --------------------- Por falar em Oscar, vi Dorian Gray, a versão de 1946 e devo dizer, um belo filme de suspense, mas é tão Oscar Wilde quanto ZORBA O GREGO é Kazantzakis. Nada. Oscar Wilde sem artificialismo e fortes tintas gays é tão vazio como fazer biografia de ídolo do rock sem paixão por música e longas cenas musicais. Opa! É o que se faz.
OSCAR WILDE - SALOMÉ
Finalmente leio a pior das peças que Wilde nos deixou. Salomé não é uma comédia, na verdade é uma espécie de poema sonâmbulo. Curto, enxuto, cheio de imagens que não conseguem o intento de Wilde: encantar. São João Batista está preso numa cisterna. Salomé tenta o seduzir mas ele a despreza. Herodes teme O Batista mas Salomé pede a cabeça do profeta. O pedido é satisfeito e ela beija a cabeça numa bandeja de prata. Fim. --------------------- Senti algo do simbolismo de Yeats aqui, mas se Wilde desejou esse tipo de efeito não conseguiu. O texto nada mais é que uma cena, um flagrante de uma ação. O autor viu aqui, na morte de São João seu próprio destino. Lord Douglas seria sua Salomé. A fama da peça se deve à isso: Wilde anteviu seu fim. ---------------- No mesmo volume há O CRIME DE LORD SAVILLE e que maravilha!!!!! Releio e reencontro o Wilde que merece sua fama. A forma bonita, estética, arrumada como Oscar Wilde constroi sua história. Uma pitada de horror, algum humor, ironia, final dúbio. É um conto exemplar.
O RETRATO DE DORIAN GRAY, OSCAR WILDE
Fui muito fã de Wilde. Quando eu tinha por volta de 25 anos de idade adorava citar suas frases. Citar Wilde fazia com que eu me sentisse elegante, inteligente e chique. O mundo é assim: existem poses que voce pode assumir e assim obter um rótulo. No século XX Wilde te dava esse rótulo: um cínico superior. ---------------- Não sei se ainda se lê Wilde. Penso que não. Ele passa longe de ser politicamente correto e suas frases não pregam o bem. Quanto ao fato dele ser gay, isso nada mais significa. Para um menino gay de 2021 ele irá parecer pré histórico. ------------ Penso que Wilde sabia que sua inteligência, brilhante, seria um belo produto, um rótulo a ser usado por quem quisesse parecer brilhante. Eu o usei. Sei que funcionava. Assim como sei que Wilde tinha consciência de que suas frases eram apenas isso: frases, sons, bolhas. Às vezes eram tão bem escritas que se igualavam à poesia. Mas se analisadas com calma não fazem sentido algum. Nonsense de sala de estar. Lewis Carroll foi muito maior que Wilde. ------------- Reli Dorian pela quarta vez. Como diversão é uma maravilha. Como literatura ele falha miseravelmente. Wilde sabia disso e por isso desistiu de escrever romances. O livro não tem fôlego. Entenda, nós não cansamos de o ler, é curto, é divertido, é leve. Mas sentimos que Wilde se cansou dele. Nos frustra perceber que o autor o encurtou. Dorian poderia ser um romance genial se tivesse mais exposição, mais detalhe e mais desenvolvimento. É preguiçoso. ----------------------- Outro defeito é o fato de que ele parece ter mudado de estilo no meio da escrita. Na primeira parte é um típico texto do Wilde dramaturgo. Frases espirituosas, clima de farsa, humor, crítica às convenções da classe alta. Nada muito distante de Ernesto ou do Marido Ideal. Então, no meio do livro, ele se torna um tipo de tratado simbolista, momento em que Dorian fala de seus prazeres e da educação dos sentidos. É um Huysmans melhor escrito. Depois, ao final, se torna um romance gótico, um tipo de Allan Poe da classe alta. Se Wilde tivesse misturado os três estilos de modo equilibrado por todo o texto, teríamos algo incrivelmente belo. Mas deixando tudo dividido, como se fossem três tipos de intenções que se modificam como estações, ele perde o leitor. Não é por acaso que tanta gente se decepciona com o começo do livro. Quem nunca o leu espera encontrar clima de horror desde o início, e se espanta ao perceber ser este um romance sobre costumes. --------------- O cinema sempre fez filmes péssimos sobre este livro exatamente por isso: ele não é um livro que possa ser formatado em um estilo de cinema. O suspense mata os personagens e as falas à Wilde matam o suspense. O SOL POR TESTEMUNHA é um filme mais Dorian Gray que qualquer filme chamado Dorian Gray, entendeu? ------------------ Alain Delon era o único ator que poderia fazer Dorian Gray. Nunca o fez. É tudo. ------------ Uma pena Wilde não ter vivido até os anos de 1920 e assim poder escrever sobre os vícios e a corrupção moral da qual ele fala mas não pode falar. ---------------- De qualquer modo, Wilde é sempre interessante e o livro é danado de bom de se ler.
O MUNDO BYRON DE 2020
Andei relendo Byron ontem. Beppo é o livro que escolhi. Byron morreu aos 36 e Beppo é de sua fase melhor, a final. Aqui ele é humorista. Beppo divaga sobre vários assuntos, tudo em ritmo de sátira. Se no seu começo Byron era piegas, aqui ele é exuberante. É um poema fácil de ler, divertido, levíssimo.
Se voce quer saber o quanto Byron guiou moda e consciências no século XIX, imagine um cara que foi Mick Jagger e Jim Morrison em um só. Goethe chegou a dizer que Byron era o maior homem do século. Ele era famoso em Piracicaba e em Vienna. Em Boston e em Goa. Sem rádio, sem TV, sem nada, ele era figura mundial. No boca a boca. Os jovens queriam ser Byron. Mais que isso, se sentiam irmãos de alma dele.
No fim do século XIX já se percebia que a poesia dele era de segunda categoria. Keats, Shelley, Wordsworth eram muito melhores. Poe passou a ser um modelo mais seguido. Hoje parece que as grandes figuras daquele século foram Beethoven, Wagner, Goethe e Tolstoi. Mas não foi assim. Somente Napoleão era tão famoso quanto Byron.
Ao contrário do que os críticos gostam de dizer, ainda há muito byronismo nos jovens de hoje. Não todos. Talvez nos mais interessantes.
Vejamos...
Byron nasceu rico e nobre, e foi ele quem popularizou a figura do jovem que tem tudo mas sofre por ter uma maldição sobre ele. Bonito, ele tinha um pé defeituoso e bastou isso para o deixar marcado. Marcado por si mesmo, pois as mulheres e os meninos choviam em sua cama. Bissexual, ele se envolvia com mulheres mais velhas, jovens camponesas, adolescentes, meninos virginais. Mas sempre jogando com a imagem de que " ele era um azar na vida de quem o tocava". Byron era o Homem Fatal.
Foi ele quem popularizou o novo gótico, cerimônias e orgias em cemitérios. Foi ele quem bebia vinho dentro de um crânio. ( Vc acha taças de caveira em qualquer loja na Galeria do Rock. Byron iria rir disso ).
Inquieto, ele foi um grande viajante, percorrendo a Europa em busca de excitação. Sua morte foi a mais bela possível, morto na Grécia, lutando pela libertação dos gregos da opressão turca. O que mais falta para vermos nele o europeu moderninho de hoje? Byron se entupia de drogas e tinha o tédio blasé dos fãs de Thom Yorke. Apaixonado por sua meia irmã, ele ia contra a moral de sua classe social. E, glória das glórias, Frankenstein foi escrito na sua casa numa noite de orgia.
Lord Byron criou, com seu comportamento, um padrão tão imitado, que hoje a gente vê tudo que ele fez como cliché. Desde Heathcliff em O Morro dos Ventos Uivantes, até o último herói do cinema, aquele herói que sofre e ninguém aceita, todos são netos e bisnetos do poeta inglês. Roqueiros dos anos 60 descobriram que ser Byron dava ibope e se lançaram à obra. Roqueiros de 2020 mal sabem disso, mas continuam seguindo o modelo, agora bem desgastado. Antes de Oscar Wilde, foi Byron o primeiro artista a usar sua arte na vida e não na obra.
Se voce quer saber o quanto Byron guiou moda e consciências no século XIX, imagine um cara que foi Mick Jagger e Jim Morrison em um só. Goethe chegou a dizer que Byron era o maior homem do século. Ele era famoso em Piracicaba e em Vienna. Em Boston e em Goa. Sem rádio, sem TV, sem nada, ele era figura mundial. No boca a boca. Os jovens queriam ser Byron. Mais que isso, se sentiam irmãos de alma dele.
No fim do século XIX já se percebia que a poesia dele era de segunda categoria. Keats, Shelley, Wordsworth eram muito melhores. Poe passou a ser um modelo mais seguido. Hoje parece que as grandes figuras daquele século foram Beethoven, Wagner, Goethe e Tolstoi. Mas não foi assim. Somente Napoleão era tão famoso quanto Byron.
Ao contrário do que os críticos gostam de dizer, ainda há muito byronismo nos jovens de hoje. Não todos. Talvez nos mais interessantes.
Vejamos...
Byron nasceu rico e nobre, e foi ele quem popularizou a figura do jovem que tem tudo mas sofre por ter uma maldição sobre ele. Bonito, ele tinha um pé defeituoso e bastou isso para o deixar marcado. Marcado por si mesmo, pois as mulheres e os meninos choviam em sua cama. Bissexual, ele se envolvia com mulheres mais velhas, jovens camponesas, adolescentes, meninos virginais. Mas sempre jogando com a imagem de que " ele era um azar na vida de quem o tocava". Byron era o Homem Fatal.
Foi ele quem popularizou o novo gótico, cerimônias e orgias em cemitérios. Foi ele quem bebia vinho dentro de um crânio. ( Vc acha taças de caveira em qualquer loja na Galeria do Rock. Byron iria rir disso ).
Inquieto, ele foi um grande viajante, percorrendo a Europa em busca de excitação. Sua morte foi a mais bela possível, morto na Grécia, lutando pela libertação dos gregos da opressão turca. O que mais falta para vermos nele o europeu moderninho de hoje? Byron se entupia de drogas e tinha o tédio blasé dos fãs de Thom Yorke. Apaixonado por sua meia irmã, ele ia contra a moral de sua classe social. E, glória das glórias, Frankenstein foi escrito na sua casa numa noite de orgia.
Lord Byron criou, com seu comportamento, um padrão tão imitado, que hoje a gente vê tudo que ele fez como cliché. Desde Heathcliff em O Morro dos Ventos Uivantes, até o último herói do cinema, aquele herói que sofre e ninguém aceita, todos são netos e bisnetos do poeta inglês. Roqueiros dos anos 60 descobriram que ser Byron dava ibope e se lançaram à obra. Roqueiros de 2020 mal sabem disso, mas continuam seguindo o modelo, agora bem desgastado. Antes de Oscar Wilde, foi Byron o primeiro artista a usar sua arte na vida e não na obra.
OSCAR WILDE....LEE MARVIN...BERLIOZ...HITCHCOCK...FRY
À QUEIMA ROUPA de John Boorman com Lee Marvin e Angie Dickinson.
Este filme, um original, começa bastante confuso. Isso porque Boorman mistura passado e presente, embaralha. Mas após 10 minutos as coisas começam a clarear. As pessoas falam que o filme tem influências da Nouvelle Vague, mas não, ele é puro Melville. Marvin, mais durão que nunca, é um bandido que foi traído. Procura vingança. Visual arrojado, trilha sonora invulgar, anguloso e estranhamente sexy. Tarantino ama esse filme. E faz tempo que Quentin não faz um filme tão bom quanto este. Obrigatório.
SINFONIA FANTÁSTICA de Christian-Jaque com Barrault, Berry, St.Cyr e Blier.
Biografia de Berlioz. O filme é chavão, cliché, mas a gente ainda o assiste com prazer. Berlioz sofre pacas e fica famoso já velho. Mesmo assim, não é feliz. Barrault foi o maior ator do teatro francês. O Olivier de lá. Jaque foi o diretor mais odiado pela Nouvelle Vague. Ele era correto. Profissional.
RETRATO DO ARTISTA QUANDO JOVEM de Joseph Strick
A adaptação do romance de Joyce até que funciona. Li o livro uns 20 anos atrás e detestei. O filme mostra toda a ira do jovem contra sua educação religiosa. Os padres são ruins pacas! Há um belo clima irlandês no filme e apesar de sua pobreza é um filme ok.
OS 39 DEGRAUS de Hitchcock com Robert Donat e Madeleine Carroll.
Ao conhecer uma menina que é fã de Hitch, resolvo assistir mais uma vez este filme da fase inglesa do mestre. Devo já ter visto cinco vezes, e continua sendo um prazer. Trata do tema central de Hitch: culpa. Fuga. Injustiça. Clássico.
OSCAR WILDE de Brian Gilbert com Stephen Fry e Jude Law.
Fry é Wilde. Nunca em um bio vi um ator tão adequado a um papel. Mas o filme, longe de ser ruim, não está à sua altura. Law é também perfeito como Bosie, o tolo amante mimado de Wilde. O clima de época é maravilhoso.
TARKOVSKI
O SACRIFÍCIO. No aniversário de um patriarca acontece a notícia do holocausto nuclear. É o mais assustador filme do russo. O cenário desaba em dor e em cenas quase incompreensíveis. Ele passa muito perto neste filme do absoluto fracasso, mas o filme acaba sendo salvo por algumas cenas inesquecíveis.
NOSTALGIA. Este não. Ele passa do ponto, e aqui, em seu último filme, Tarkovski erra. O filme é chato, chato se recompensa. Não há como suportar cenas tão longas e tão sem por que. Falta a poesia que tudo redimia.
Este filme, um original, começa bastante confuso. Isso porque Boorman mistura passado e presente, embaralha. Mas após 10 minutos as coisas começam a clarear. As pessoas falam que o filme tem influências da Nouvelle Vague, mas não, ele é puro Melville. Marvin, mais durão que nunca, é um bandido que foi traído. Procura vingança. Visual arrojado, trilha sonora invulgar, anguloso e estranhamente sexy. Tarantino ama esse filme. E faz tempo que Quentin não faz um filme tão bom quanto este. Obrigatório.
SINFONIA FANTÁSTICA de Christian-Jaque com Barrault, Berry, St.Cyr e Blier.
Biografia de Berlioz. O filme é chavão, cliché, mas a gente ainda o assiste com prazer. Berlioz sofre pacas e fica famoso já velho. Mesmo assim, não é feliz. Barrault foi o maior ator do teatro francês. O Olivier de lá. Jaque foi o diretor mais odiado pela Nouvelle Vague. Ele era correto. Profissional.
RETRATO DO ARTISTA QUANDO JOVEM de Joseph Strick
A adaptação do romance de Joyce até que funciona. Li o livro uns 20 anos atrás e detestei. O filme mostra toda a ira do jovem contra sua educação religiosa. Os padres são ruins pacas! Há um belo clima irlandês no filme e apesar de sua pobreza é um filme ok.
OS 39 DEGRAUS de Hitchcock com Robert Donat e Madeleine Carroll.
Ao conhecer uma menina que é fã de Hitch, resolvo assistir mais uma vez este filme da fase inglesa do mestre. Devo já ter visto cinco vezes, e continua sendo um prazer. Trata do tema central de Hitch: culpa. Fuga. Injustiça. Clássico.
OSCAR WILDE de Brian Gilbert com Stephen Fry e Jude Law.
Fry é Wilde. Nunca em um bio vi um ator tão adequado a um papel. Mas o filme, longe de ser ruim, não está à sua altura. Law é também perfeito como Bosie, o tolo amante mimado de Wilde. O clima de época é maravilhoso.
TARKOVSKI
O SACRIFÍCIO. No aniversário de um patriarca acontece a notícia do holocausto nuclear. É o mais assustador filme do russo. O cenário desaba em dor e em cenas quase incompreensíveis. Ele passa muito perto neste filme do absoluto fracasso, mas o filme acaba sendo salvo por algumas cenas inesquecíveis.
NOSTALGIA. Este não. Ele passa do ponto, e aqui, em seu último filme, Tarkovski erra. O filme é chato, chato se recompensa. Não há como suportar cenas tão longas e tão sem por que. Falta a poesia que tudo redimia.
A MENINA DOS OLHOS DE OURO- BALZAC
Ufa!!!! É apenas uma novela, uma narrativa curta, com poucos personagens, mas puxa! Como escreve bem esse francês!!! O enredo poderia ser de Oscar Wilde. Um super dandy parisiense, belo, cruel, rico, irresistível e jovem, vê uma moça lindíssima num boulevar em Paris. Ela acaba por se aproximar, e dentro de um palácio gótico, eles fazem amor. Mas há um segredo...e esse segredo leva à morte. O dandy é puro Wilde. Amoral e egocêntrico. Cínico. Ele vive para o prazer. Balzac descreve a Paris pobre no começo da novela, a cidade dos excluídos. Depois fala da cidade dos pequenos burocratas, dos comerciantes e vai subindo nessa escala financeira até chegar no grande capital, no dandy. A narração se concentra então nesse mundo hedonista. O clima se torna gótico, quase de pesadelo e logo estamos absortos. Balzac consegue em poucas páginas nos lembrar Zola, Dickens e o citado Wilde. É acima de tudo Balzac, recheando o texto de toques sutis, de afirmações ácidas, de descrições exatas.
Ele disputa com Dickens a primazia de ser o primeiro grande autor profissional do ocidente. Seja ele ou não, ele é um dos quatro grandes modelos do escritor potente, dono de talento multiforme, ilimitado, vasto, criador de tipos, de enredos e de moral.
Impossível não ler Balzac.
PS: Os outros três fundadores são Dickens, Stendhal e Jane Austen. Eles criam e esgotam um modelo imortal.
Ele disputa com Dickens a primazia de ser o primeiro grande autor profissional do ocidente. Seja ele ou não, ele é um dos quatro grandes modelos do escritor potente, dono de talento multiforme, ilimitado, vasto, criador de tipos, de enredos e de moral.
Impossível não ler Balzac.
PS: Os outros três fundadores são Dickens, Stendhal e Jane Austen. Eles criam e esgotam um modelo imortal.
REX HARRISON/ MIKE LEIGH/ RUPERT EVERETT/ GRETA GARBO/ GUINESS
A CASA DA COLINA de Will Malone com Geoffrey Rush e Famke Janssen.
Grupo de pessoas ficam uma noite numa casa assombrada para ganhar um prêmio. William Castle fez esse filme em 1960. Já era ruim. Hoje é pior. Pra que refazer tanto filme? zero.
O VALENTE TREME TREME, de Norman Z. McLeod com Bob Hope e Jane Russell.
Um dentista medroso se casa com Calamity Jane e assim se envolve em missão junto aos índios. Hope é ótimo, mas é Jane quem domina o filme. Frank Tashlin escreveu o roteiro e detestou o resultado. Foi um big sucesso, visto hoje é apenas OK. Nota cinco.
GUN CRAZY de Joseph H. Lewis, com Peggy Cummins e John Dahl.
Rapaz que sempre foi boa pessoa, mas amante de armas, vira bandido ao conhecer uma garota de circo ambiciosa. O filme é um dos grandes cults da história. Muito adiante de seu tempo, quando lançado fracassou, mas era visto pelo pessoal do cinema com admiração. Tem duas cenas antológicas: o assalto visto de dentro do carro, com diálogos improvisados, e o final, no pântano. Um filme que lembra Godard. Ainda moderno. Nota 9.
THE LAST HOLIDAY de Henry Casa com Alec Guiness
Encantador. Um humano filme inglês sobre um homem simples que tem uma doença rara. Sabendo que vai morrer, gasta suas economias em hotel de luxo. Vários personagens bem desenvolvidos, bem humano sem ser meloso. E Guiness numa atuação mágica. Nota 7.
FARSA DIABÓLICA, de Bryan Forbes com Kim Stanley e Richard Attenborough.
Na época causou impressão. Forbes parecia um novo mestre. Mas em dez anos ele cairia na rotina. Mas este é um grande pequeno filme. Ele nos faz entrar na mente de uma mulher muito perturbada. Ela é uma vidente, o marido é um capacho. Sequestram uma menina. O casal é magnifico! O filme, lento e desagradável, feio de se olhar, é inesquecível. Nota 8.
TOPSY TURVY de Mike Leigh com Jim Broadbent, Allan Corduner, Timothy Spall.
Brilhante! Delicioso! Poucos filmes conseguiram retratar de forma tão perfeita a Londres vitoriana. Gilbert e Sullivan foram Lennon e MacCartney de 1880. Um era fechado e ponderado, o outro ambicioso e farrista. Os atores são tocantes. O filme, dirigido com amor, é quase perfeito. Delicioso. Nota Dez!
O MARIDO IDEAL de Oliver Parker com Rupert Everett, Julianne Moore, Cate Blanchett, Minnie Driver e Jeremy Northam.
Oscar Wilde no cinema é sempre um show. E Rupert nasceu para recitar as frases do irlandês. Mas...Julianne estraga as cenas. O rosto choroso dessa atriz melancólica não combina com o wit de Wilde. De todo modo, é OK. Nota 6.
WITHOUT RESERVATIONS de Mervyn LeRoy com Claudette Colbert e John Wayne.
Uma autora de de best seller cruza os EUA com dois soldados. Ela cai de amores por um deles. Hollywood hiper profissional. Eis o filme bem feito padrão de então. Nada tolo, fantasioso e com atores excelentes. Colbert está very hot, Wayne super boa gente. Bela diversão. Nota 7.
SUSAN LENOX, de Robert Z. Leonard, com Greta Garbo e Clark Gable.
Garbo nunca esteve tão frágil. Ela nos apaixona neste melodrama onde uma garota pobre e abusada em casa foge. Ela se envolve com vários homens, mas Gable é o cara. Os primeiros trinta minutos têm altura de obra prima. Expressionistas e belos. Depois cai um pouco, mas é um filme forte. Gable bem jovem, nota 7.
TODOS OS IRMÃOS ERAM VALENTES de Richard Thorpe com Robert Taylor e Stewart Granger.
Uma aventura perfeita. Tem rivalidade entre irmãos, caça à baleia, motim, romance, ilhas, reviravoltas. É diversão que nunca cessa. Excelente! Nota 9.
ODEIO-TE MEU AMOR de Preston Sturges com Rex Harrison e Linda Darnell.
Foi o primeiro fracadsofracasso de Sturges, hoje está reabilitado. Rex dá um show como o maestro que desconfia da esposa mais jovem. Escutar Rex atuar é um dos grandes prazeres do cinema. O filme é criativo e eu o adoro. Humor negro. Nota Dez.
Grupo de pessoas ficam uma noite numa casa assombrada para ganhar um prêmio. William Castle fez esse filme em 1960. Já era ruim. Hoje é pior. Pra que refazer tanto filme? zero.
O VALENTE TREME TREME, de Norman Z. McLeod com Bob Hope e Jane Russell.
Um dentista medroso se casa com Calamity Jane e assim se envolve em missão junto aos índios. Hope é ótimo, mas é Jane quem domina o filme. Frank Tashlin escreveu o roteiro e detestou o resultado. Foi um big sucesso, visto hoje é apenas OK. Nota cinco.
GUN CRAZY de Joseph H. Lewis, com Peggy Cummins e John Dahl.
Rapaz que sempre foi boa pessoa, mas amante de armas, vira bandido ao conhecer uma garota de circo ambiciosa. O filme é um dos grandes cults da história. Muito adiante de seu tempo, quando lançado fracassou, mas era visto pelo pessoal do cinema com admiração. Tem duas cenas antológicas: o assalto visto de dentro do carro, com diálogos improvisados, e o final, no pântano. Um filme que lembra Godard. Ainda moderno. Nota 9.
THE LAST HOLIDAY de Henry Casa com Alec Guiness
Encantador. Um humano filme inglês sobre um homem simples que tem uma doença rara. Sabendo que vai morrer, gasta suas economias em hotel de luxo. Vários personagens bem desenvolvidos, bem humano sem ser meloso. E Guiness numa atuação mágica. Nota 7.
FARSA DIABÓLICA, de Bryan Forbes com Kim Stanley e Richard Attenborough.
Na época causou impressão. Forbes parecia um novo mestre. Mas em dez anos ele cairia na rotina. Mas este é um grande pequeno filme. Ele nos faz entrar na mente de uma mulher muito perturbada. Ela é uma vidente, o marido é um capacho. Sequestram uma menina. O casal é magnifico! O filme, lento e desagradável, feio de se olhar, é inesquecível. Nota 8.
TOPSY TURVY de Mike Leigh com Jim Broadbent, Allan Corduner, Timothy Spall.
Brilhante! Delicioso! Poucos filmes conseguiram retratar de forma tão perfeita a Londres vitoriana. Gilbert e Sullivan foram Lennon e MacCartney de 1880. Um era fechado e ponderado, o outro ambicioso e farrista. Os atores são tocantes. O filme, dirigido com amor, é quase perfeito. Delicioso. Nota Dez!
O MARIDO IDEAL de Oliver Parker com Rupert Everett, Julianne Moore, Cate Blanchett, Minnie Driver e Jeremy Northam.
Oscar Wilde no cinema é sempre um show. E Rupert nasceu para recitar as frases do irlandês. Mas...Julianne estraga as cenas. O rosto choroso dessa atriz melancólica não combina com o wit de Wilde. De todo modo, é OK. Nota 6.
WITHOUT RESERVATIONS de Mervyn LeRoy com Claudette Colbert e John Wayne.
Uma autora de de best seller cruza os EUA com dois soldados. Ela cai de amores por um deles. Hollywood hiper profissional. Eis o filme bem feito padrão de então. Nada tolo, fantasioso e com atores excelentes. Colbert está very hot, Wayne super boa gente. Bela diversão. Nota 7.
SUSAN LENOX, de Robert Z. Leonard, com Greta Garbo e Clark Gable.
Garbo nunca esteve tão frágil. Ela nos apaixona neste melodrama onde uma garota pobre e abusada em casa foge. Ela se envolve com vários homens, mas Gable é o cara. Os primeiros trinta minutos têm altura de obra prima. Expressionistas e belos. Depois cai um pouco, mas é um filme forte. Gable bem jovem, nota 7.
TODOS OS IRMÃOS ERAM VALENTES de Richard Thorpe com Robert Taylor e Stewart Granger.
Uma aventura perfeita. Tem rivalidade entre irmãos, caça à baleia, motim, romance, ilhas, reviravoltas. É diversão que nunca cessa. Excelente! Nota 9.
ODEIO-TE MEU AMOR de Preston Sturges com Rex Harrison e Linda Darnell.
Foi o primeiro fracadsofracasso de Sturges, hoje está reabilitado. Rex dá um show como o maestro que desconfia da esposa mais jovem. Escutar Rex atuar é um dos grandes prazeres do cinema. O filme é criativo e eu o adoro. Humor negro. Nota Dez.
A UTILIDADE DA BELEZA É A DE DESTRUIR O CONCEITO DE UTILIDADE
E tudo começou com Beardsley. Com uma linha sinuosa, desenhada a nanquim, preto sobre o branco. Um diabinho e uma mulher nua. Era o começo do fim do século XIX, e como protesto ao automatismo da vida industrial, eles criaram a noção de que só teria valor aquilo que fosse feito manualmente. A revolução seria a revolução da beleza. Se o mundo se tornava cada vez mais feio, sujo, aglomerado, cabia ao homem, a todo homem, se individualizar. Fazer de seu ambiente, de sua vida, testemunho de sua beleza individual. ( Me parece que hoje, burramente, o protesto se dá pelo culto ao feio. Como se não fosse feio aquilo que produzimos naturalmente ).
O que seria essa beleza? Para o art nouveau inglês, o belo seria noturno, negro, curvilíneo, pecaminoso e satânico. Whistler exemplifica bem esse estilo noturno. Mas Londres não foi solitária. Barcelona, Bruxelas, Paris, Berlin e principalmente Viena logo adotaram o estilo. Beleza para todos! Não vamos esquecer nunca que eles eram socialistas, sua ambição era coletiva e socializante.
Uma contradição! Um dos lemas era: Melhor fazer um cinzeiro em dez dias que dez cinzeiros em um dia! E realmente eles levavam até mais de dez dias para fazer um cinzeiro. E essa peça seria única, cheia de criatividade, beleza. E cara...O novo estilo, JUNGSTIL, começou a ser sinal de luxo, status, exclusividade. Mobilia, quadros, roupas, objetos, um simples saleiro, tudo era Jungstil. O jovem estilo. Nada acessível às massas que continuavam em sua pobreza feia do produto anônimo. Mas havia a arquitetura, e com ela a cidade poderia mudar, e com a mudança do ambiente o povo poderia adquirir o senso da beleza! Maravilhosas fachadas em Viena, em Paris, estações de metrô, postes de luz, gares de trens, bancos, jardins, tudo art nouveau, novo lema: Arte de Hoje para o Tempo de Agora!
A música do tempo: Debussy! Ravel ! Satie! Curvas, panos, tapetes, cortinas, luzes, ferro fundido, prata, ouro, vitrais, flores, veludo. Poetas do tempo: Rilke, Stefan George, Mallarmée, Valéry. Corpos nús, sexo, oriente, Grécia. Vapores...Luxo, sempre o luxo, a calma, a volúpia. Klimt, Mucha, Otto Wagner, Victor Horta.
Em Trieste, em 1905, Rilke e Joyce se cruzaram na cidade. E não se reconheceram, claro. Mas veja, uma cidade, média, viu dois gênios respirarem seu ar ao mesmo tempo. Um, Rilke, cultuando a negra pantera que trazia em seu movimento a beleza do sexo e da morte; o outro, Joyce, odiando tudo aquilo e querendo mostrar ao mundo o cuspe, a merda e a vulgaridade da vida real. E quem sabe, achar a beleza maior nessa verdade.
Para o Art Nouveau, a beleza era um fim em si. Para Joyce, a verdade era a beleza. Sempre a verdade.
Como todo movimento novo, ele logo ficou velho. Em dez anos, o esgotamento. E quando a primeira guerra veio, em 1914, culpou-se o Jungstil pela guerra. Falou-se que sua falta de moral, de fibra, sua preguiça seria o ambiente que levou o mundo ao Kaos! Jungstil passou a ser coisa decadente, suja, mortal...
Por 50 anos, até 1964 mais ou menos, TUDO referente a Klimt, Beardsley, Whistler, foi considerado de segunda categoria. Foi o tempo da ditadura da linha reta. Da Bauhaus, de Mondrian, aqui no nosso Brasil do chato Niemeyer. Sem ornamentos, sem enfeites, sem copiar a natureza. Linhas puras, aço e vidro, regras e réguas. A beleza substituída pela FUNCIONALIDADE. O objeto, a construção, deve cumprir sua função. Tudo o que não tenha uma utilidade é dispensável. ( Oscar Wilde: A arte e a beleza só o são quando completamente inuteis ).
Os anos 60 recuperaram a Jungstil. De repente o inutil voltou a ser cultuado. O mundo viu um renascimento do ornamento, do enfeite, do negro, do dúbio, do floral, do véu, o satânico, o exagero. A curva retomou seu posto de rainha de estilo. A vida como arte, o eu como construção consciente de beleza. Se voce quer que eu vulgarize, a música pop de Incredible String Band, Soft Machine, Gong, música floral, cheia de arabescos, surpresas, tintas e noites, discos como o Satanic dos Stones, Sgt Peppers, Forever Changes do Love. Capas, olhos árabes, vitrais art déco, música indiana, marroquina, flamenco...A beleza, a busca da beleza como única fé, a religião do BELO.
E hoje? E 2015?
Uma luta neste vale-tudo do mercado que é o mundo. Um planeta que virou um bazar de vidro e pedra. De um lado a hiper-funcionalidade. Beleza sendo conceito relativo, ou pior, futil. Estranhamente esse conceito se tornou quase religioso, pois ele no fundo nega a matéria. Se voce nega a beleza do olhar e do tato, voce está negando o mundo sensual, o mundo da matéria. Voce vive no mundo da função, do pensamento e do fazer imaterial. É quase um universo cego. O Brasil ama esse mundo. Por tradição somos ligados a cegueira. Prédios todos iguais, ruas sem ornamentos, funcionalidade que em nosso trágico caso, nunca funciona. Estamos no pior dos dois mundos.
E há a luta pela preservação da beleza. Que se transformou no culto ao prazer egoísta. Cultua-se o belo imaginando que a beleza vive no status. Na saúde. No chique. É uma tradição que inexiste no Brasil. Ou melhor, sobre- vive numa natureza que ensina a filosofia da beleza, do excesso, da curva exuberante. Mas nós odiamos essa beleza. Cuspimos nela. A sinuosidade de um riacho, canalizamos. Ele parece ser não funcional.
Para mim, beleza cura tudo. Essa a sabedoria dos gregos, dos católicos, dos românticos, dos art nouveau, dos fauve. A beleza dá sentido ao que parecia absurdo. Ela nos consola, nos guia, nos justifica. A curva pode mais que a reta. O sinuoso absurdo seduz.
John Keats, em 1810 estava certo:
a thing of beauty is a joy for ever.
O que seria essa beleza? Para o art nouveau inglês, o belo seria noturno, negro, curvilíneo, pecaminoso e satânico. Whistler exemplifica bem esse estilo noturno. Mas Londres não foi solitária. Barcelona, Bruxelas, Paris, Berlin e principalmente Viena logo adotaram o estilo. Beleza para todos! Não vamos esquecer nunca que eles eram socialistas, sua ambição era coletiva e socializante.
Uma contradição! Um dos lemas era: Melhor fazer um cinzeiro em dez dias que dez cinzeiros em um dia! E realmente eles levavam até mais de dez dias para fazer um cinzeiro. E essa peça seria única, cheia de criatividade, beleza. E cara...O novo estilo, JUNGSTIL, começou a ser sinal de luxo, status, exclusividade. Mobilia, quadros, roupas, objetos, um simples saleiro, tudo era Jungstil. O jovem estilo. Nada acessível às massas que continuavam em sua pobreza feia do produto anônimo. Mas havia a arquitetura, e com ela a cidade poderia mudar, e com a mudança do ambiente o povo poderia adquirir o senso da beleza! Maravilhosas fachadas em Viena, em Paris, estações de metrô, postes de luz, gares de trens, bancos, jardins, tudo art nouveau, novo lema: Arte de Hoje para o Tempo de Agora!
A música do tempo: Debussy! Ravel ! Satie! Curvas, panos, tapetes, cortinas, luzes, ferro fundido, prata, ouro, vitrais, flores, veludo. Poetas do tempo: Rilke, Stefan George, Mallarmée, Valéry. Corpos nús, sexo, oriente, Grécia. Vapores...Luxo, sempre o luxo, a calma, a volúpia. Klimt, Mucha, Otto Wagner, Victor Horta.
Em Trieste, em 1905, Rilke e Joyce se cruzaram na cidade. E não se reconheceram, claro. Mas veja, uma cidade, média, viu dois gênios respirarem seu ar ao mesmo tempo. Um, Rilke, cultuando a negra pantera que trazia em seu movimento a beleza do sexo e da morte; o outro, Joyce, odiando tudo aquilo e querendo mostrar ao mundo o cuspe, a merda e a vulgaridade da vida real. E quem sabe, achar a beleza maior nessa verdade.
Para o Art Nouveau, a beleza era um fim em si. Para Joyce, a verdade era a beleza. Sempre a verdade.
Como todo movimento novo, ele logo ficou velho. Em dez anos, o esgotamento. E quando a primeira guerra veio, em 1914, culpou-se o Jungstil pela guerra. Falou-se que sua falta de moral, de fibra, sua preguiça seria o ambiente que levou o mundo ao Kaos! Jungstil passou a ser coisa decadente, suja, mortal...
Por 50 anos, até 1964 mais ou menos, TUDO referente a Klimt, Beardsley, Whistler, foi considerado de segunda categoria. Foi o tempo da ditadura da linha reta. Da Bauhaus, de Mondrian, aqui no nosso Brasil do chato Niemeyer. Sem ornamentos, sem enfeites, sem copiar a natureza. Linhas puras, aço e vidro, regras e réguas. A beleza substituída pela FUNCIONALIDADE. O objeto, a construção, deve cumprir sua função. Tudo o que não tenha uma utilidade é dispensável. ( Oscar Wilde: A arte e a beleza só o são quando completamente inuteis ).
Os anos 60 recuperaram a Jungstil. De repente o inutil voltou a ser cultuado. O mundo viu um renascimento do ornamento, do enfeite, do negro, do dúbio, do floral, do véu, o satânico, o exagero. A curva retomou seu posto de rainha de estilo. A vida como arte, o eu como construção consciente de beleza. Se voce quer que eu vulgarize, a música pop de Incredible String Band, Soft Machine, Gong, música floral, cheia de arabescos, surpresas, tintas e noites, discos como o Satanic dos Stones, Sgt Peppers, Forever Changes do Love. Capas, olhos árabes, vitrais art déco, música indiana, marroquina, flamenco...A beleza, a busca da beleza como única fé, a religião do BELO.
E hoje? E 2015?
Uma luta neste vale-tudo do mercado que é o mundo. Um planeta que virou um bazar de vidro e pedra. De um lado a hiper-funcionalidade. Beleza sendo conceito relativo, ou pior, futil. Estranhamente esse conceito se tornou quase religioso, pois ele no fundo nega a matéria. Se voce nega a beleza do olhar e do tato, voce está negando o mundo sensual, o mundo da matéria. Voce vive no mundo da função, do pensamento e do fazer imaterial. É quase um universo cego. O Brasil ama esse mundo. Por tradição somos ligados a cegueira. Prédios todos iguais, ruas sem ornamentos, funcionalidade que em nosso trágico caso, nunca funciona. Estamos no pior dos dois mundos.
E há a luta pela preservação da beleza. Que se transformou no culto ao prazer egoísta. Cultua-se o belo imaginando que a beleza vive no status. Na saúde. No chique. É uma tradição que inexiste no Brasil. Ou melhor, sobre- vive numa natureza que ensina a filosofia da beleza, do excesso, da curva exuberante. Mas nós odiamos essa beleza. Cuspimos nela. A sinuosidade de um riacho, canalizamos. Ele parece ser não funcional.
Para mim, beleza cura tudo. Essa a sabedoria dos gregos, dos católicos, dos românticos, dos art nouveau, dos fauve. A beleza dá sentido ao que parecia absurdo. Ela nos consola, nos guia, nos justifica. A curva pode mais que a reta. O sinuoso absurdo seduz.
John Keats, em 1810 estava certo:
a thing of beauty is a joy for ever.
OSCAR WILDE, UMA VERDADE.
Que mérito há em se escrever um livro "como a vida real?" Observar e escrever aquilo que voce vê. Isso é arte? Claro que não, isso é no máximo jornalismo, e normalmente é tola ingenuidade. Porque ao olhar e escrever a tal da realidade já se perdeu, filtrada que foi pela mente e sentimento de quem a olhou.
Nada fica velho mais depressa que um jornal. Nada ficou mais velho que o realismo. Zola é ilegível. Como é Gorki. Escrever sobre o aqui e agora é sempre uma burrada. Nada fica mais enfadonho após um ano que o aqui e agora. Daí a genial sacada de Wilde. É preciso mentir. Mentir muito.
Zola envelheceu e mofou. Balzac não. Porque Balzac tenta ser realista, mas seu espírito romântico aumenta tudo, e faz com que os personagens fiquem maiores que o mundo. Balzac cria e criar é mentir. Salve Balzac!
Ninguém na idade média se parecia com os rostos de Giotto. Nunca ninguém foi tão belo como uma estátua de Michelangelo. Nenhum grego se parecia com Hermes ou Apolo. Mas essa mentira guia a nossa realidade. E nasce outra sacada de Wilde: A vida imita a arte e não o contrário.
Tudo o que moldou e molda nossa vida é arte= mentira. O século XIX foi criado por Balzac e por Baudelaire. O século XX foi cria do cinema. Nos vestimos, seduzimos, roubamos, conversamos, comemos, amamos, nos casamos, como em filmes. Eles não copiaram nossa vida, eles nos inventaram. Até nosso sofrimento é como num filme.
Claro, um filme iraniano tenta ser real. Mas, segundo Wilde, ele não faz arte. É mero jornalismo. Sendo assim, não mudará nossa vida, apenas nos informará.
Um fato: ir à Europa e procurar a Europa. A Europa é uma mentira. Criação de séculos de artistas mentirosos. Se voce a olhar com os olhos treinados pela arte conseguirá perceber a tal Europa. Se voce olhar com os tristes olhos do realista verá apenas um monte de ruínas e gente banal.
Toda nossa história é uma mentira. As melhores filosofias, teses, são sonhos mentirosos. E são elas que fazem a vida valer a pena. Olhamos um bosque com os olhos do impressionismo. Ou como se fosse uma gravura japonesa. Olhamos uma mulher como se ela fosse modelo de Modigliani. Ou musa de Rafael. A mentira da arte mudou a vida e fez com que a víssemos como se essa arte fosse a verdade. Cem anos de expressionismo fez com que olhássemos as cidades como cacos de horror. Cem anos de cubismo fez com os rostos humanos se transformassem em máscaras. Não víamos o inferno das fábricas antes do expressionismo. Vemos esse inferno por causa do expressionismo.
Wilde ama os grandes mentirosos. Rabelais, Cervantes, Swift, os autores que mentem e que mentindo criam o mundo. Tenho certeza que Wilde adoraria Italo Calvino. E Murasaki. Borges. E deliraria com as mentiras doidas de James Bond, Star Wars e Matrix. Mentiras que infectaram o mundo e alimentaram o dia a dia do real.
Por fim, Wilde fala da mais mentirosa das artes: a música.
Mas isso é assunto pra logo mais...
Nada fica velho mais depressa que um jornal. Nada ficou mais velho que o realismo. Zola é ilegível. Como é Gorki. Escrever sobre o aqui e agora é sempre uma burrada. Nada fica mais enfadonho após um ano que o aqui e agora. Daí a genial sacada de Wilde. É preciso mentir. Mentir muito.
Zola envelheceu e mofou. Balzac não. Porque Balzac tenta ser realista, mas seu espírito romântico aumenta tudo, e faz com que os personagens fiquem maiores que o mundo. Balzac cria e criar é mentir. Salve Balzac!
Ninguém na idade média se parecia com os rostos de Giotto. Nunca ninguém foi tão belo como uma estátua de Michelangelo. Nenhum grego se parecia com Hermes ou Apolo. Mas essa mentira guia a nossa realidade. E nasce outra sacada de Wilde: A vida imita a arte e não o contrário.
Tudo o que moldou e molda nossa vida é arte= mentira. O século XIX foi criado por Balzac e por Baudelaire. O século XX foi cria do cinema. Nos vestimos, seduzimos, roubamos, conversamos, comemos, amamos, nos casamos, como em filmes. Eles não copiaram nossa vida, eles nos inventaram. Até nosso sofrimento é como num filme.
Claro, um filme iraniano tenta ser real. Mas, segundo Wilde, ele não faz arte. É mero jornalismo. Sendo assim, não mudará nossa vida, apenas nos informará.
Um fato: ir à Europa e procurar a Europa. A Europa é uma mentira. Criação de séculos de artistas mentirosos. Se voce a olhar com os olhos treinados pela arte conseguirá perceber a tal Europa. Se voce olhar com os tristes olhos do realista verá apenas um monte de ruínas e gente banal.
Toda nossa história é uma mentira. As melhores filosofias, teses, são sonhos mentirosos. E são elas que fazem a vida valer a pena. Olhamos um bosque com os olhos do impressionismo. Ou como se fosse uma gravura japonesa. Olhamos uma mulher como se ela fosse modelo de Modigliani. Ou musa de Rafael. A mentira da arte mudou a vida e fez com que a víssemos como se essa arte fosse a verdade. Cem anos de expressionismo fez com que olhássemos as cidades como cacos de horror. Cem anos de cubismo fez com os rostos humanos se transformassem em máscaras. Não víamos o inferno das fábricas antes do expressionismo. Vemos esse inferno por causa do expressionismo.
Wilde ama os grandes mentirosos. Rabelais, Cervantes, Swift, os autores que mentem e que mentindo criam o mundo. Tenho certeza que Wilde adoraria Italo Calvino. E Murasaki. Borges. E deliraria com as mentiras doidas de James Bond, Star Wars e Matrix. Mentiras que infectaram o mundo e alimentaram o dia a dia do real.
Por fim, Wilde fala da mais mentirosa das artes: a música.
Mas isso é assunto pra logo mais...
O MAIS IMPORTANTE INGLÊS VIVO, COMENTANDO O LIVRO LARANJA SOBRE DAVID BOWIE, O POP STAR QUE NOS FAZ SABER DE BARTHES, OSCAR WILDE, BRECHT E KAFKA, A ÚLTIMA POSTAGEM DE TROMBONE COM VARA.
eu não quero ser como todo mundo.
voce pode ser melhor que todos.
seja aquilo que voce sempre quis ser.
o eu é o mundo.
Em 1977 fui ao cinema assistir um filme de Nicolas Roeg. Tinha Bowie como ator e todos os críticos abominaram o filme. Eu me senti muito incomodado. O filme foi um pesadelo. Nunca mais o revi. Mas Mark Kermode diz que hoje ele é considerado uma obra-prima. Antecipação exata do que é ser jovem em 2014.
De 1969 até 2000, em todas as entrevistas, Bowie disse que tudo é válido se voce causar algum hype. Essa a filosofia de 99% dos atores e cantores de agora. Mas. detalhe. Bowie desaparece em 2003. E o que acontece?
Tilda Swinton diz que sem Bowie ela não existiria. E estilistas da St.Laurent, Miu Miu, Dior e Prada, lançam entre 2008/ 2011 coleções baseadas em Ziggy Stardust e na fase Berlin de Bowie. Não há desfile que não toque Fashion, de Bowie.
Ensaios fotográficos em revistas chiques, onde modelos posam de Bowie pipocam entre 2007/2012. E ele está calado.
As bandas inglesas imitam o rock dos anos 80. Todas. Quase todas. As que são interessantes imitam Bowie. Que Bowie? O de 72? O de Berlin? O de Los Angeles? Escolhem um. Nenhuma consegue ser todos.
A mensagem dele desde o começo foi essa: a revolução não é marxista. É do eu. O sexo, a percepção da vida muda neste mundo agora. Cada um será sua revolução. Bowie falou. E essa revolução aconteceu. E venceu. O eu manda sob a lei de um grande eu. Tudo é a vontade de ser único. Bowie disse isso em 1972. Num tempo em que se falava de socialismo e de irmandade. Bowie soube que isso era utópico.
Como artista pop ele não cabe. Suas referências são todas eruditas. Suas palavras são incrivelmente articuladas. Os outros astros pop são caipiras. Ou garotos irritados. Ele sempre foi um adulto culto. De onde? De fora daqui. De fora de todos os daquis.
Oscar Wilde de nosso tempo, guia o senso estético, irrita os bobos e os imbecis, petulante ao extremo, indefinido, fluido, sem erro. Diferença: de acordo com 1890, Wilde usava a palavra: jornal, livro, teatro e conferências. De acordo com o tempo, Bowie usou o rock, a capa de disco, a moda e sempre o visual. Com Ashes to Ashes ele inaugura o clip como forma de arte. Lançado em 1980, antes da MTV, até hoje ele não foi igualado.
Como vou falar de um livro que é um dos mais belos que já tive o privilégio de ter me mãos?
Dividido em partes, cada sessão tem texto de um autor. Camille Paglia fala da importância de Bowie, central, na revolução sexual, na confusão entre gêneros e na liberação do corpo. É o melhor texto. Em outros capítulos se fala sobre a música, as capas de disco, os shows, o cinema, a vida e no fim há uma conversa entre 5 intelectuais. Eles debatem suas experiências na Bowiemania.
Cheio de fotos, a moda é o centro da coisa. A influência de Bowie na moda e no design. E sua antecipação da internet ( foi o primeiro a dizer que A MÚSICA SERIA COMO ELETRICIDADE E ÁGUA, FLUIRIA pelas casas ).
O mundo de David Bowie é agora o da internet.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Desde 1983, com os Stones, não tenho uma fase de tanta adoração por um ídolo pop. A expo combinada com este opiáceo livro me deixou de quatro.
Como no filme de Roeg, caído no mundo, alien, ele criou uma raça de ETs. E esses Ets são hoje os cabeças de editoras, de TVs, de Hollywood. São líderes de bandas, politicos, fotógrafos e artistas. São os filhos de Ziggy, de Alladin Sane, seguidores de Jean Gennie, do Thin White Duke, do exilado em Berlin, do dandy dos anos 80, do cantor maduro e irriquieto dos anos 90. E eles mandam.
Frase lapidar do livro: Existencialmente a vida de Bowie é um caminho solitário rumo a se tornar um homem adulto. David é hoje o único adulto do mundo ( ele e Bryan Ferry ).
Não falo mais.
Sigo o exemplo de Bowie. No mundo repressivo fazia sentido gritar. No mundo em liberação fazia sentido falar. Neste mundo em que todos falam e ninguém escuta, faz sentido calar.
TROMBONE COM VARA ACABA AQUI.
NADA MAIS SERÁ DITO.
Goodbye.
ENSAIOS- OSCAR WILDE
Tudo o que vale a pena saber não pode ser ensinado.
O trabalho é o refúgio daqueles que não têm nada para fazer.
A ação é o último recurso dos que não sabem sonhar.
A beleza revela tudo porquê não exprime nada.
A natureza é a matéria que luta por converter-se em espírito, a arte é o espírito que se exprime sob as condições da matéria.
São cinco frases de Oscar Wilde tiradas de O CRÍTICO COMO ARTISTA. Há como corrigir algo em sua escrita ou em seu pensamento? Eu não sei se Oscar foi um grande escritor. Talvez não. Compará-lo aos grandes de seu tempo é injusto com Oscar. Mas ele foi inteligente, excessivamente inteligente, incomodamente inteligente. Aliás, uma das suas frases diz que o mundo odeia o gênio. TUDO AQUILO QUE É ACEITO O É POR MEDIOCRIDADE. Nos tempos modernos claro. Oscar sabia que o popular dos gregos ou da renascença é o genial de hoje.
Comprei uma edição digna de Oscar Wilde. Capa de couro preto, detalhes em ouro, folhas de papel Bíblia made in Yorkshire. Toda a sua obra em 1200 páginas. 60% eu já havia lido, do que nunca li começo pelos ensaios.
A DECADÊNCIA DA MENTIRA discorre sobre a falta que a mentira faz ao mundo. Não a mentira do político ou do advogado, mentiras que são "mentiras aceitas como mentiras", mas a mentira que de tão mentirosa se torna verdade. A arte, para Oscar, e para mim, só vale quando é mentirosa. Arte que imita a realidade? Não é arte, é jornalismo. Jornalismo feito para agradar os sem gosto. Arte é mundo de mentira, fantasia absurda, imaginação extremada, criação. Essa arte se dirige aos artistas. ( Nosso mundo é tão tolo que até aquilo que poderia ser pura fantasia tenta ter ares de verdade. Homem-Aranha se acanha e mostra a verdade de Peter Parker e o Batman luta para ser simbolo da angústia do mundo real...Blá!!! )
A grande sacada de Oscar é perceber que essa fantasia cria a vida material. Sim, a imaginação cria a matéria e nunca o contrário. Como???? Te irritas ó pobre filisteu???
Simples explicar: Nós vemos aquilo que selecionamos e é a arte que seleciona antes de nós. Veja São Paulo. Se voce está cheio de arte expressionista voce verá uma cidade cinza, feia, expressionista, se voce é impressionista verá luz e cor, e se voce anda no mundo de HQ moderna, verá em SP uma metrópole de bandidos e prostitutas. A arte te dá como ver, o que ver e o que procurar. Lembro que após assistir TODOS DIZEM EU TE AMO vi SP como lugar romântico e de sonho. De forma mais profunda, HAMLET criou gente Hamletiana e FAUSTO os Faustianos. Não foi a natureza ou a história que os criou, foi Shakespeare e Goethe, sózinhos e com sua mentira. A arte cria o mundo que virá, então esses filmes "geladeira" com seus tipinhos flácidos, mortos, imbecis, cria um mundo de gente lesma- de- luxo. Assim como filmes catástrofe preparam o clima para a destruição de civilizações. O rock criou o mundo de 1968.
Outro ensaio que leio é PENA, LÁPIS E VENENO onde Oscar cria um escritor e fala de sua vida. O dandismo impera no texto, retrato de um autor-assassino que vive apenas pela beleza e pela preguiça.
Depois temos O CRÍTICO COMO ARTISTA em que ele diz que a crítica é mais importante que a arte. Como???? Ora, é muito mais dificil entender a arte que fazer arte. Com um detalhe, todo grande artista é um crítico. O que o faz criar é o desejo de criticar o que existe em seu tempo. Essa vontade critica nasce antes da criação.
Quanto ao mediocre, ele faz arte e nada critica.
Ler Oscar é uma critica a nós-mesmos. É um dos autores, poucos, que nos melhora como gente.
O trabalho é o refúgio daqueles que não têm nada para fazer.
A ação é o último recurso dos que não sabem sonhar.
A beleza revela tudo porquê não exprime nada.
A natureza é a matéria que luta por converter-se em espírito, a arte é o espírito que se exprime sob as condições da matéria.
São cinco frases de Oscar Wilde tiradas de O CRÍTICO COMO ARTISTA. Há como corrigir algo em sua escrita ou em seu pensamento? Eu não sei se Oscar foi um grande escritor. Talvez não. Compará-lo aos grandes de seu tempo é injusto com Oscar. Mas ele foi inteligente, excessivamente inteligente, incomodamente inteligente. Aliás, uma das suas frases diz que o mundo odeia o gênio. TUDO AQUILO QUE É ACEITO O É POR MEDIOCRIDADE. Nos tempos modernos claro. Oscar sabia que o popular dos gregos ou da renascença é o genial de hoje.
Comprei uma edição digna de Oscar Wilde. Capa de couro preto, detalhes em ouro, folhas de papel Bíblia made in Yorkshire. Toda a sua obra em 1200 páginas. 60% eu já havia lido, do que nunca li começo pelos ensaios.
A DECADÊNCIA DA MENTIRA discorre sobre a falta que a mentira faz ao mundo. Não a mentira do político ou do advogado, mentiras que são "mentiras aceitas como mentiras", mas a mentira que de tão mentirosa se torna verdade. A arte, para Oscar, e para mim, só vale quando é mentirosa. Arte que imita a realidade? Não é arte, é jornalismo. Jornalismo feito para agradar os sem gosto. Arte é mundo de mentira, fantasia absurda, imaginação extremada, criação. Essa arte se dirige aos artistas. ( Nosso mundo é tão tolo que até aquilo que poderia ser pura fantasia tenta ter ares de verdade. Homem-Aranha se acanha e mostra a verdade de Peter Parker e o Batman luta para ser simbolo da angústia do mundo real...Blá!!! )
A grande sacada de Oscar é perceber que essa fantasia cria a vida material. Sim, a imaginação cria a matéria e nunca o contrário. Como???? Te irritas ó pobre filisteu???
Simples explicar: Nós vemos aquilo que selecionamos e é a arte que seleciona antes de nós. Veja São Paulo. Se voce está cheio de arte expressionista voce verá uma cidade cinza, feia, expressionista, se voce é impressionista verá luz e cor, e se voce anda no mundo de HQ moderna, verá em SP uma metrópole de bandidos e prostitutas. A arte te dá como ver, o que ver e o que procurar. Lembro que após assistir TODOS DIZEM EU TE AMO vi SP como lugar romântico e de sonho. De forma mais profunda, HAMLET criou gente Hamletiana e FAUSTO os Faustianos. Não foi a natureza ou a história que os criou, foi Shakespeare e Goethe, sózinhos e com sua mentira. A arte cria o mundo que virá, então esses filmes "geladeira" com seus tipinhos flácidos, mortos, imbecis, cria um mundo de gente lesma- de- luxo. Assim como filmes catástrofe preparam o clima para a destruição de civilizações. O rock criou o mundo de 1968.
Outro ensaio que leio é PENA, LÁPIS E VENENO onde Oscar cria um escritor e fala de sua vida. O dandismo impera no texto, retrato de um autor-assassino que vive apenas pela beleza e pela preguiça.
Depois temos O CRÍTICO COMO ARTISTA em que ele diz que a crítica é mais importante que a arte. Como???? Ora, é muito mais dificil entender a arte que fazer arte. Com um detalhe, todo grande artista é um crítico. O que o faz criar é o desejo de criticar o que existe em seu tempo. Essa vontade critica nasce antes da criação.
Quanto ao mediocre, ele faz arte e nada critica.
Ler Oscar é uma critica a nós-mesmos. É um dos autores, poucos, que nos melhora como gente.
PORQUE AS BANDAS DE HOJE SÃO TÃO FEIAS?
A minha é uma geração que em música deu tanto valor à roupa como a destreza. Afinal, John Taylor dizia que no palco se preocupava muito mais com o caimento do tecido de suas calças do que com sua performance ao contra-baixo. Não à toa, é minha a geração do nascimento do video-clip.
Interessante observar hoje, que mesmo bandas "de esquerda", como The Clash ou Gang Of Four, tinham um cuidado com o visual que ninguém antes ou depois teria. Uma das coisas que mais me decepciona no rock atual é a falta de ambição visual. Não falo de gosto, falo de arrojo; o rock de agora é absolutamente convencional em visual. David Bowie dizia em 1972 que o público deveria ser tão "star" quanto o artista sobre o palco. O que se vê desde os anos 90 é o palco imitar o público. O artista sobre o palco tem um visual tão pouco interessante como o do garoto suburbano da última fila.
Os Sex Pistols tinham um visual maravilhoso, assim como Jimi Hendrix, Sly Stone ou Mick Jagger em 1974. Quando minha geração surgiu, por volta de 1982, viemos elegendo Bowie como nosso Oscar Wilde e Bryan Ferry no papel de Walter Pater. Pouco importava a música, o que importava era ser artista. Esse o credo de Wilde, a arte era a vida, a obra era apenas um detalhe. Então procurávamos viver em "estade de arte". Isso se revelava numa atitude diante da vida, o "tentar algo novo". Recordo do modo como eu pintava e repintava minhas paredes, meus móveis e refazia os objetos que eu tinha. O estado era de constante criação, e mesmo que essa invenção fosse tola ou banal, não importava, o objetivo era a atitude criativa, fazer sem pensar no quê.
As informações eram preciosas: Pollock. Cocteau, Matisse, Man Ray, Gaudi. Soul Music, Jazz, rock de garagem e "as novidades". Como dizia Wilde, a beleza atemporal. A turma que havia surgido imediatamente antes, Blondie, The Cars, Talking Heads, Ultravox, Japan, eram usinas de ideias visuais, tanto quanto musicais. Por um breve período, as artes plásticas eram o centro do mundo outra vez. Basquiat, Keith Harring e Beuys eram nomes de star. Não a toa é esta a era de filmes como Fome de Viver, Blade Runner ou Oito Semanas e Meia de Amor. O visual sobre o roteiro nasce neste tempo.
Recordo das loucuras em video-clip de Goude, dos elegantes videos de Bruce Weber ( 1991 é o último ano dessa atitude ), e das estréias de Julien Temple.
Há quem vá dizer que por detrás desse endeusamento do visual se esconde a absoluta falta de inspiração. Não sei. O que posso dizer é que os jazzmen já tinham essa ligação com a imagem ( como afirmação de negritude ) e que nos anos 60 todas as bandas davam um grande show de informação novidadeira. Eram momentos musicais que se ligavam a fotografia, a pintura e a um certo clima boêmio chic. Víamos o Velvet Underground no centro do mundo hiper-excitante de Andy Warhol e os Stones sendo ícones do mundo fashion de David Bailey. Quando o Blondie veio com suas poses à la New York anos 50 o recado foi prontamente entendido. O visual era o centro da coisa.
Penso, e vejo, que os grupos de agora, ou pelo menos 90% deles, não dão uma foto de Helmut Newton ou um tratamento de Gaultier. Há excessões...quais?
Posto abaixo um video de Miles Davis, o mais elegante dos ícones do jazz e que em 1986 lançou Tutu. Vi esse video na época e pirei. Lembro de passar a pintar meu quarto com cartas de tarot e de sair na noite imitando o jeito frio e brilhante do clip. Se ele te parecer "muito anos 80" é porque ele conseguiu exatamente o que queria, ser um manifesto daquele momento. Há nele a ambição de ser "interessante". E claro, chic.
Coldplay, Dandy Warhols, Franz Ferdinand... nunca um deles me deu vontade de fotografar, de pintar ou de me vestir "como eles". Acho que essa geração perdeu muito com essa pobreza.
Interessante observar hoje, que mesmo bandas "de esquerda", como The Clash ou Gang Of Four, tinham um cuidado com o visual que ninguém antes ou depois teria. Uma das coisas que mais me decepciona no rock atual é a falta de ambição visual. Não falo de gosto, falo de arrojo; o rock de agora é absolutamente convencional em visual. David Bowie dizia em 1972 que o público deveria ser tão "star" quanto o artista sobre o palco. O que se vê desde os anos 90 é o palco imitar o público. O artista sobre o palco tem um visual tão pouco interessante como o do garoto suburbano da última fila.
Os Sex Pistols tinham um visual maravilhoso, assim como Jimi Hendrix, Sly Stone ou Mick Jagger em 1974. Quando minha geração surgiu, por volta de 1982, viemos elegendo Bowie como nosso Oscar Wilde e Bryan Ferry no papel de Walter Pater. Pouco importava a música, o que importava era ser artista. Esse o credo de Wilde, a arte era a vida, a obra era apenas um detalhe. Então procurávamos viver em "estade de arte". Isso se revelava numa atitude diante da vida, o "tentar algo novo". Recordo do modo como eu pintava e repintava minhas paredes, meus móveis e refazia os objetos que eu tinha. O estado era de constante criação, e mesmo que essa invenção fosse tola ou banal, não importava, o objetivo era a atitude criativa, fazer sem pensar no quê.
As informações eram preciosas: Pollock. Cocteau, Matisse, Man Ray, Gaudi. Soul Music, Jazz, rock de garagem e "as novidades". Como dizia Wilde, a beleza atemporal. A turma que havia surgido imediatamente antes, Blondie, The Cars, Talking Heads, Ultravox, Japan, eram usinas de ideias visuais, tanto quanto musicais. Por um breve período, as artes plásticas eram o centro do mundo outra vez. Basquiat, Keith Harring e Beuys eram nomes de star. Não a toa é esta a era de filmes como Fome de Viver, Blade Runner ou Oito Semanas e Meia de Amor. O visual sobre o roteiro nasce neste tempo.
Recordo das loucuras em video-clip de Goude, dos elegantes videos de Bruce Weber ( 1991 é o último ano dessa atitude ), e das estréias de Julien Temple.
Há quem vá dizer que por detrás desse endeusamento do visual se esconde a absoluta falta de inspiração. Não sei. O que posso dizer é que os jazzmen já tinham essa ligação com a imagem ( como afirmação de negritude ) e que nos anos 60 todas as bandas davam um grande show de informação novidadeira. Eram momentos musicais que se ligavam a fotografia, a pintura e a um certo clima boêmio chic. Víamos o Velvet Underground no centro do mundo hiper-excitante de Andy Warhol e os Stones sendo ícones do mundo fashion de David Bailey. Quando o Blondie veio com suas poses à la New York anos 50 o recado foi prontamente entendido. O visual era o centro da coisa.
Penso, e vejo, que os grupos de agora, ou pelo menos 90% deles, não dão uma foto de Helmut Newton ou um tratamento de Gaultier. Há excessões...quais?
Posto abaixo um video de Miles Davis, o mais elegante dos ícones do jazz e que em 1986 lançou Tutu. Vi esse video na época e pirei. Lembro de passar a pintar meu quarto com cartas de tarot e de sair na noite imitando o jeito frio e brilhante do clip. Se ele te parecer "muito anos 80" é porque ele conseguiu exatamente o que queria, ser um manifesto daquele momento. Há nele a ambição de ser "interessante". E claro, chic.
Coldplay, Dandy Warhols, Franz Ferdinand... nunca um deles me deu vontade de fotografar, de pintar ou de me vestir "como eles". Acho que essa geração perdeu muito com essa pobreza.
ROGER SCRUTON E A VERDADE DO QUE É BELO
André Assi Barreto escreve na revista Filosofia sobre Roger Scruton. Eu nunca tinha ouvido falar de Scruton, pensador inglês nascido em 1944. E já aviso: sou partidário dele. Outra coisa, ele é considerado um "lutador por causa perdida". Ótimo. Eu também sou. Vamos ao que André fala sobre Roger.
Marcel Duchamp colocou um mictório como obra de arte. E a partir de então, tudo pode ser arte. Em 1960 chegou-se ao ponto de lata cheia de bosta de um artista ser exposta como arte. Arte passou a se confundir com "chamar a atenção da midia", criar algo de sensacional, e convenhamos, é muito mais fácil criar sensação mostrando merda ou vísceras podres de um boi, que criando beleza original. Esse é o ponto central de Roger Scruton. O mundo só poderá ser salvo se o conceito de belo for salvo.
Artistas modernos se defendem dizendo que o público que os renega não tem a linguagem e a sensibilidade para os entender. Desculpa tola. Picasso era moderno e belo, assim como Pollock e Kandinsky. Não se trata de negar toda a arte do século XX, mas sim separar os espertalhões dos artistas.
Scruton foi tema de programa na BBC. Sua tese central é a de que a beleza é tão verdadeira e eterna no homem como é a bondade e a verdade. O homem aspira a beleza como aspira ao bem e a verdade. Em 15000 anos de cultura esse valor sempre esteve presente e não são meros cem anos que podem destruir esse fato. O homem tanto aspira ao belo que assim que pode, procura praias, montanhas ou recantos "belos". Há em Londres um fenômeno interessante, lojas que estão instaladas em imóveis vitorianos são muito mais valorizadas que aquelas em locais modernos-feios.
Mas desde ao menos 1910 se faz essa confusão entre o sensacional e a beleza. Artistas incapazes de produzir qualquer coisa verdadeiramente artística passaram a desvalorizar e a zombar do que fosse "apenas" bonito. O feio passou a significar coragem e verdade, a beleza seria mentirososa e passadista. Ora, por mais de dois mil anos a arte serviu como consolo, elevação espiritual, meio de refinar o gosto. Pois a arte hoje aumenta a dor, promove o rebaixamento e esteriliza a sensibilidade. É como se ela tivesse a função de nos acostumar ao pior, ao mínimo, a conformidade da vida das fábricas, da violência e da dor. Seria isso por acaso?
Se antes a arte dava sentido a vida, hoje ela quer apenas causar impacto. Profanar o sacro, cultuar o feio, promovendo assim a confusão, o vale tudo, o tudo pode ser arte. Isso nos lembra algo? Não é essa exatamente a tese do mercado? Tudo pode ser um produto, desde que bem divulgado. Sendo agressiva, sensacional, contra alguma coisa, a arter se torna "útil". Como dizia Oscar Wilde, o primeiro mandamento do belo e da arte é ser "completamente inutil". O que há de útil em uma música bonita, uma pintura bela ou um filme lindo? Mas "os artistas" fazem músicas sujas, pinturas terríveis, filmes duros e violentos, seriam obras úteis, ou são assim vendidas. Teriam a função de abrir olhos. Olhos para ver o que? Mais coisas feias.
Construir e vender um prédio feio como moderno e social é muito mais fácil que tentar construir um prédio belo e apenas isso, Belo. Não se esqueçam disso.
Fruir o belo é uma atividade inutil. Desinteressada. Como o amor ou a amizade, não há um objetivo aqui. A utilidade prática fica em segundíssimo plano. Na arte clássica esse era o objetivo: a arte como bálsamo e elevação de consciência. A criação era valorizada. Belo era o criativo, o vitalista, o potente. Agora se valoriza o banal, a quebra de tabús, a exaltação de sentidos. Tudo isso parece útil e criativo, Scruton mostra que o banal é realmente banal e a quebra de tabús é apenas histeria impotente. Não se cria, se odeia aquilo que outro criou.
Roger Scruton só poderia ter nascido na Inglaterra. Dou um exemplo do que isso significa. Tenho um professor que em aula de literatura exaltou Balzac e Stendhal ( que adoro ), às custas da Inglaterra. Para ele, a literatura inglesa do século XIX é um nada absoluto, enquanto a francesa é o máximo. Sua explicação é a de que "enquanto a França fala de temas modernos, a Inglaterra ficou presa ao passado e a livros infantis!". Pois eu disse, isso é um ponto de vista. Posso dizer que a literatura francesa se resume ao tédio de esposas traindo maridos e caipiras querendo viver em Paris. Enquanto que a Inglaterra se preocupava muito mais com a criatividade, com o absurdo, o excêntrico e o humor. A resposta de meu mestre? Conforme-se então com seu David Copperfield.........
Falei isso para voltar a Roger Scruton e dizer que ele culpa Foucault, Deleuze e que tais pela filosofia que prega o "tudo é válido, nada tem hierarquia, cada voz deve ser ouvida". Scruton vai ao cerne: Se tudo é válido então ouvir um Nobel falar sobre a escrita tem o mesmo valor que um semi-analfabeto?
Estamos proibidos de falar que uma cultura é superior a outra. Não podemos condenar a escravidão feminina em certas nações, "pois é a cultura deles". Tudo se tornou relativo, e nesse universo não se pode dizer que o belo é melhor que o feio. A resposta do fã de Foucault sempre será: "O que é o belo? .."..E após essa pergunta ( na verdade sem sentido ), o relativismo se impõe e o belo se perde. Todos sabem o que é belo como sabemos o que seja bom ou verdadeiro. Relativizar é fugir da verdade.
Dizer, como dizem os franceses, que só existe Gosto e não o Bom Gosto é falso. É como falar que não existe o bom e o mal, o feliz e o triste, o certo e o errado. Esse relativismo é um totalitarismo. Brutal.
Com a palavra Scruton: " A beleza pode ser consoladora, perturbadora, sagrada, profana, hilariante, atraente, inspiradora. Afeta-nos em variadas maneiras. Mas nunca é vista com indiferença. Fala a nós como um amigo íntimo. Se existem pessoas indiferentes à ela, é porque perderam o poder de olhar."
Roger Scruton é filósofo por Cambridge. Segue Platão e Kant. Acredita na aristocracia pré-Segunda guerra. Reacinonário assumido, rejeita toda militãncia politica. Como todo reacionário, Scruton é "santo padroeiro das causas perdidas". Tem livros sobre música, o pessimismo, e a supremacia da cultura Ocidental. Altamente rejeitado pela inteligência acadêmica oficial, principalmente por suas críticas ferozes a Foucault, Derrida e o multi-culturalismo.
Seu jogo já está perdido. Mas quem ganhou, ganhou o que???
Marcel Duchamp colocou um mictório como obra de arte. E a partir de então, tudo pode ser arte. Em 1960 chegou-se ao ponto de lata cheia de bosta de um artista ser exposta como arte. Arte passou a se confundir com "chamar a atenção da midia", criar algo de sensacional, e convenhamos, é muito mais fácil criar sensação mostrando merda ou vísceras podres de um boi, que criando beleza original. Esse é o ponto central de Roger Scruton. O mundo só poderá ser salvo se o conceito de belo for salvo.
Artistas modernos se defendem dizendo que o público que os renega não tem a linguagem e a sensibilidade para os entender. Desculpa tola. Picasso era moderno e belo, assim como Pollock e Kandinsky. Não se trata de negar toda a arte do século XX, mas sim separar os espertalhões dos artistas.
Scruton foi tema de programa na BBC. Sua tese central é a de que a beleza é tão verdadeira e eterna no homem como é a bondade e a verdade. O homem aspira a beleza como aspira ao bem e a verdade. Em 15000 anos de cultura esse valor sempre esteve presente e não são meros cem anos que podem destruir esse fato. O homem tanto aspira ao belo que assim que pode, procura praias, montanhas ou recantos "belos". Há em Londres um fenômeno interessante, lojas que estão instaladas em imóveis vitorianos são muito mais valorizadas que aquelas em locais modernos-feios.
Mas desde ao menos 1910 se faz essa confusão entre o sensacional e a beleza. Artistas incapazes de produzir qualquer coisa verdadeiramente artística passaram a desvalorizar e a zombar do que fosse "apenas" bonito. O feio passou a significar coragem e verdade, a beleza seria mentirososa e passadista. Ora, por mais de dois mil anos a arte serviu como consolo, elevação espiritual, meio de refinar o gosto. Pois a arte hoje aumenta a dor, promove o rebaixamento e esteriliza a sensibilidade. É como se ela tivesse a função de nos acostumar ao pior, ao mínimo, a conformidade da vida das fábricas, da violência e da dor. Seria isso por acaso?
Se antes a arte dava sentido a vida, hoje ela quer apenas causar impacto. Profanar o sacro, cultuar o feio, promovendo assim a confusão, o vale tudo, o tudo pode ser arte. Isso nos lembra algo? Não é essa exatamente a tese do mercado? Tudo pode ser um produto, desde que bem divulgado. Sendo agressiva, sensacional, contra alguma coisa, a arter se torna "útil". Como dizia Oscar Wilde, o primeiro mandamento do belo e da arte é ser "completamente inutil". O que há de útil em uma música bonita, uma pintura bela ou um filme lindo? Mas "os artistas" fazem músicas sujas, pinturas terríveis, filmes duros e violentos, seriam obras úteis, ou são assim vendidas. Teriam a função de abrir olhos. Olhos para ver o que? Mais coisas feias.
Construir e vender um prédio feio como moderno e social é muito mais fácil que tentar construir um prédio belo e apenas isso, Belo. Não se esqueçam disso.
Fruir o belo é uma atividade inutil. Desinteressada. Como o amor ou a amizade, não há um objetivo aqui. A utilidade prática fica em segundíssimo plano. Na arte clássica esse era o objetivo: a arte como bálsamo e elevação de consciência. A criação era valorizada. Belo era o criativo, o vitalista, o potente. Agora se valoriza o banal, a quebra de tabús, a exaltação de sentidos. Tudo isso parece útil e criativo, Scruton mostra que o banal é realmente banal e a quebra de tabús é apenas histeria impotente. Não se cria, se odeia aquilo que outro criou.
Roger Scruton só poderia ter nascido na Inglaterra. Dou um exemplo do que isso significa. Tenho um professor que em aula de literatura exaltou Balzac e Stendhal ( que adoro ), às custas da Inglaterra. Para ele, a literatura inglesa do século XIX é um nada absoluto, enquanto a francesa é o máximo. Sua explicação é a de que "enquanto a França fala de temas modernos, a Inglaterra ficou presa ao passado e a livros infantis!". Pois eu disse, isso é um ponto de vista. Posso dizer que a literatura francesa se resume ao tédio de esposas traindo maridos e caipiras querendo viver em Paris. Enquanto que a Inglaterra se preocupava muito mais com a criatividade, com o absurdo, o excêntrico e o humor. A resposta de meu mestre? Conforme-se então com seu David Copperfield.........
Falei isso para voltar a Roger Scruton e dizer que ele culpa Foucault, Deleuze e que tais pela filosofia que prega o "tudo é válido, nada tem hierarquia, cada voz deve ser ouvida". Scruton vai ao cerne: Se tudo é válido então ouvir um Nobel falar sobre a escrita tem o mesmo valor que um semi-analfabeto?
Estamos proibidos de falar que uma cultura é superior a outra. Não podemos condenar a escravidão feminina em certas nações, "pois é a cultura deles". Tudo se tornou relativo, e nesse universo não se pode dizer que o belo é melhor que o feio. A resposta do fã de Foucault sempre será: "O que é o belo? .."..E após essa pergunta ( na verdade sem sentido ), o relativismo se impõe e o belo se perde. Todos sabem o que é belo como sabemos o que seja bom ou verdadeiro. Relativizar é fugir da verdade.
Dizer, como dizem os franceses, que só existe Gosto e não o Bom Gosto é falso. É como falar que não existe o bom e o mal, o feliz e o triste, o certo e o errado. Esse relativismo é um totalitarismo. Brutal.
Com a palavra Scruton: " A beleza pode ser consoladora, perturbadora, sagrada, profana, hilariante, atraente, inspiradora. Afeta-nos em variadas maneiras. Mas nunca é vista com indiferença. Fala a nós como um amigo íntimo. Se existem pessoas indiferentes à ela, é porque perderam o poder de olhar."
Roger Scruton é filósofo por Cambridge. Segue Platão e Kant. Acredita na aristocracia pré-Segunda guerra. Reacinonário assumido, rejeita toda militãncia politica. Como todo reacionário, Scruton é "santo padroeiro das causas perdidas". Tem livros sobre música, o pessimismo, e a supremacia da cultura Ocidental. Altamente rejeitado pela inteligência acadêmica oficial, principalmente por suas críticas ferozes a Foucault, Derrida e o multi-culturalismo.
Seu jogo já está perdido. Mas quem ganhou, ganhou o que???
CHÁ DAS CINCO COM ARISTÓTELES- OSCAR WILDE
Logo após voltar de seu tour de sucesso pelos EUA ( ele havia feito conferências por todo o país com lotações esgotadas ), Oscar Wilde volta a sua vida londrina habitual, ou seja, publica seus artigos em jornais e revistas. A grande fase de A IMPORTÂNCIA DE SER HONESTO e de DORIAN GRAY viria na década seguinte. Assim como sua prisão.
Estamos portanto na Londres de 1885/1890 e o que agita a cidade é o embate entre clássicos e românticos, realistas e simbolistas, objetividade e poesia. O que há neste pequeno livrinho são os artigos que Wilde publicou em jornais. Críticas sobre livros e peças, dissertações sobre culinária e poesia. Sabiamente ele percebe que o cerne de seu tempo é a oposição realismo/ simbolismo, um confronto entre a alma que cria e a alma que apenas registra o que vê. Ele toma partido, e acho que não preciso dizer qual.
Bela época em que os autores "atuais" se chamavam Tolstoi, Dostoievski e Turgueniev. Ele resenha o novo livro de Dostoievski, assim como Balzac ( uma nova tradução ), Walter Pater, e descobre um novo e promissor poeta, William Butler Yeats. Além dos citados, esse é tempo de Tchekov, Henry James, Thomas Hardy, Mark Twain, Mallarmé e Zola. Dentre muitos e muitos outros.
Wilde evita tocar no que é muito ruim. Embora ele critique certas traduções desastrosas, no geral ele não é agressivo. Se esmera na leveza, em fazer da leitura um prazer. Oscar Wilde insiste em que toda arte deve ser prazerosa e bela. Esse é seu norte. Quem pensa que a crítica ferina é coisa de Wilde errou de irlandês, George Bernard Shaw era a fera que foi o molde Paulo Francis e que tais.
O primeiro texto é uma emocionada homenagem ao maior dos poetas, John Keats. O autor visita seu tumulo em Roma e se encanta com a beleza do lugar. O belo escrito a seguir discorre sobre a culinária e fala da ruindade da cozinha inglesa. É divertido e acerta o alvo.
Numa critica a peça de Shakespeare em cartaz, Wilde se detém nos excessos da cenografia, na facilitação de efeitos ribombantes. Há em sua critica um desejo pela volta a simplicidade. No começo do livro o tradutor colocou uma frase de Borges em que ele diz que Oscar Wilde não envelhece. O que ele escreveu podia ter sido escrito hoje de manhã. O que ele pede ao teatro shakespeariano é pedido válido agora: menos efeito e mais texto.
Vem então um comentário sobre um livro que fala de casamentos e mais uma critica sobre Keats.
Um dos melhores textos é o próximo, sobre Balzac. Wilde fala sobre a maravilhosa força do francês, o modo como ele nos ilude ao criar vida que em nada se parece com a vida, mas que "é mais real que a própria vida". Penso em Iris Murdoch, que criou toda a sua filosofia baseada nessa linha, ou seja, de que a arte é a vida real e não o dia a dia. Numa frase soberba, Oscar fala que é "muito melhor ficar em casa na companhia dos personagens de Balzac que sair para encontrar gente tão sem vida". É um texto divino do grande Oscar.
As críticas que seguem são sobre a mania de se lançar biografias de escritores. A reclamação de Wilde é pertinente ainda hoje. Que importa quantas vezes Rossetti comia por dia? O que interessa ao leitor a quantidade de cães que um poeta tinha ou no tipo de guarda-chuva que ele usava? Wilde fala que o que importa é a obra, a vida verdadeira do artista reside naquilo que ele criou e o fato do cotidiano só importa ao ter ligação com a gênese da obra. Quem pode discordar disso?
Essas biografias, tolas, falam de Keats, Ben Jonson e Dante Gabriel Rossetti. A de Keats é destruída de uma forma elegante por Wilde. Vale muito a pena ler.
Mas um dos melhores textos fala de um livro que se propõe a nos ensinar a conversar. Wilde aproveita para escrever sobre a conversação, sobre o que seja uma boa e uma má conversa. A arte que há em se saber trocar ideias.
Vêem então belos artigos sobre modelos ingleses ( modelos que posam sem entender nada de arte ), o novo presidente da academia de pintura ( um tolo ), e ao final dois maravilhosos e emocionantes artigos sobre Yeats, jovem poeta que muito prometia. Escreverei sobre eles em outra postagem.
Lendo este livro nos sentimos muito próximos de Wilde. E o que sentimos é afeto por essa grande alma.
PS: a "filosofia" de Wilde é; Existe mais verdade na visão de um artista que na objetiva e simples observação da natureza.
Estamos portanto na Londres de 1885/1890 e o que agita a cidade é o embate entre clássicos e românticos, realistas e simbolistas, objetividade e poesia. O que há neste pequeno livrinho são os artigos que Wilde publicou em jornais. Críticas sobre livros e peças, dissertações sobre culinária e poesia. Sabiamente ele percebe que o cerne de seu tempo é a oposição realismo/ simbolismo, um confronto entre a alma que cria e a alma que apenas registra o que vê. Ele toma partido, e acho que não preciso dizer qual.
Bela época em que os autores "atuais" se chamavam Tolstoi, Dostoievski e Turgueniev. Ele resenha o novo livro de Dostoievski, assim como Balzac ( uma nova tradução ), Walter Pater, e descobre um novo e promissor poeta, William Butler Yeats. Além dos citados, esse é tempo de Tchekov, Henry James, Thomas Hardy, Mark Twain, Mallarmé e Zola. Dentre muitos e muitos outros.
Wilde evita tocar no que é muito ruim. Embora ele critique certas traduções desastrosas, no geral ele não é agressivo. Se esmera na leveza, em fazer da leitura um prazer. Oscar Wilde insiste em que toda arte deve ser prazerosa e bela. Esse é seu norte. Quem pensa que a crítica ferina é coisa de Wilde errou de irlandês, George Bernard Shaw era a fera que foi o molde Paulo Francis e que tais.
O primeiro texto é uma emocionada homenagem ao maior dos poetas, John Keats. O autor visita seu tumulo em Roma e se encanta com a beleza do lugar. O belo escrito a seguir discorre sobre a culinária e fala da ruindade da cozinha inglesa. É divertido e acerta o alvo.
Numa critica a peça de Shakespeare em cartaz, Wilde se detém nos excessos da cenografia, na facilitação de efeitos ribombantes. Há em sua critica um desejo pela volta a simplicidade. No começo do livro o tradutor colocou uma frase de Borges em que ele diz que Oscar Wilde não envelhece. O que ele escreveu podia ter sido escrito hoje de manhã. O que ele pede ao teatro shakespeariano é pedido válido agora: menos efeito e mais texto.
Vem então um comentário sobre um livro que fala de casamentos e mais uma critica sobre Keats.
Um dos melhores textos é o próximo, sobre Balzac. Wilde fala sobre a maravilhosa força do francês, o modo como ele nos ilude ao criar vida que em nada se parece com a vida, mas que "é mais real que a própria vida". Penso em Iris Murdoch, que criou toda a sua filosofia baseada nessa linha, ou seja, de que a arte é a vida real e não o dia a dia. Numa frase soberba, Oscar fala que é "muito melhor ficar em casa na companhia dos personagens de Balzac que sair para encontrar gente tão sem vida". É um texto divino do grande Oscar.
As críticas que seguem são sobre a mania de se lançar biografias de escritores. A reclamação de Wilde é pertinente ainda hoje. Que importa quantas vezes Rossetti comia por dia? O que interessa ao leitor a quantidade de cães que um poeta tinha ou no tipo de guarda-chuva que ele usava? Wilde fala que o que importa é a obra, a vida verdadeira do artista reside naquilo que ele criou e o fato do cotidiano só importa ao ter ligação com a gênese da obra. Quem pode discordar disso?
Essas biografias, tolas, falam de Keats, Ben Jonson e Dante Gabriel Rossetti. A de Keats é destruída de uma forma elegante por Wilde. Vale muito a pena ler.
Mas um dos melhores textos fala de um livro que se propõe a nos ensinar a conversar. Wilde aproveita para escrever sobre a conversação, sobre o que seja uma boa e uma má conversa. A arte que há em se saber trocar ideias.
Vêem então belos artigos sobre modelos ingleses ( modelos que posam sem entender nada de arte ), o novo presidente da academia de pintura ( um tolo ), e ao final dois maravilhosos e emocionantes artigos sobre Yeats, jovem poeta que muito prometia. Escreverei sobre eles em outra postagem.
Lendo este livro nos sentimos muito próximos de Wilde. E o que sentimos é afeto por essa grande alma.
PS: a "filosofia" de Wilde é; Existe mais verdade na visão de um artista que na objetiva e simples observação da natureza.
A IMPORTÂNCIA DE SER PRUDENTE- OSCAR WILDE
Interessante observar que o Wilde do Brasil e dos países latinos não é o mesmo da Inglaterra e dos EUA. Por aqui Oscar Wilde é o gótico que escreveu Dorian Gray e o sofredor do Cárcere de Reading. Onde se fala inglês Oscar Wilde significa teatro e humor, acima de tudo humor.
Após Shakespeare é ele o autor mais representado. A dificuldade que apresenta em ser traduzido ( seu humor é baseado em trocadilhos e sotaques ) não é o que explica a raridade de Wilde em palcos tupis. A falta de atores Wildeanianos é o principal motivo. Temos excelentes atores para Tennessee Willians, para Lorca ou Pirandello; não os temos para Bernard Shaw, para Pinter e principalmente para Wilde. O sabor da palavra, o gosto pelo modo de pronunciar, a riqueza de dialogar sobre coisa nenhuma, esse rico teatro de Wilde não é aquilo que mais agrada ou mais dá possibilidades a nossos atores. Somos mais pés-no-chão, Nelsonrodrigueanos, afrancesados Molierineanos e muito noveleiros Diasgomesneiros.
Não temos Michael Redgrave.
A Importância de ser Prudente é sobre nada. Dois dandys e sua ida ao campo. Se fingem ser o que não são para poder casar com duas mocinhas. Fingem se chamar Prudente. O tema é apenas esse, e eu iria trair a memória de Oscar Wilde se começasse a falar do que significa tal enredo. Porque apesar de percebermos todo o tempo que a peça é mais do que é, que tudo aquilo é uma crítica àquilo que tanto glorifica, na verdade o que Wilde mais desejava era mostrar que a arte/vida era puro esteticismo, que a Londres de 1890 era centro de luxo em decadencia e que o sentido de tudo aquilo estava na frase que nada parece dizer e muito subentende. O epigrama Wildeano.
Milhões de páginas podem ser escritas com as frases de efeito de Wilde. Todas "absurdas", infaliveis, agudas. Engenhosamente feitas para não ir de encontro ao senso comum. Dessa forma tudo é dito ao contrário: mentiras mantém a honra de um homem e faltar ao trabalho dá dignidade à vida. Frases que lidas numa terceira vez começam a se mostrar muito mais sérias do que aparentavam ser. Debaixo de todo aquele riso ebuliente do dandy Wilde começa a surgir um leve gosto de desencanto.
O mundo de 2011 não pode ter mais um Oscar Wilde porque produzimos tantos falsos Wildes nas décadas passadas que a forma se desgastou. O humor é hoje mais duro, cinico, violento, explicitamente politico. Oscar Wilde adoraria fazer stand-up ( para se exibir ), mas odiaria o humor do stand-up, o público do stand-up e o próprio nome: stand-up. Vulgar.
Assim como é a arte de Beardsley e de Whistler, os escritos de Oscar Wilde estão presos aquele momento específico. Uma nação em seu momento de esbanjamento, um império que sabia ( com apreensão ) iniciar então sua inexorável descida, decadência "de luxe", empobrecimento em clima de calma e volúpia.
Todos sabem como tudo terminou. Wilde na prisão e a Inglaterra esfacelada em duas guerras. Até hoje, e para sempre, aquela ilha está condenada a chorar e festejar aqueles últimos anos de liderança. Oscar Wilde é um desses últimos suspiros.
Após Shakespeare é ele o autor mais representado. A dificuldade que apresenta em ser traduzido ( seu humor é baseado em trocadilhos e sotaques ) não é o que explica a raridade de Wilde em palcos tupis. A falta de atores Wildeanianos é o principal motivo. Temos excelentes atores para Tennessee Willians, para Lorca ou Pirandello; não os temos para Bernard Shaw, para Pinter e principalmente para Wilde. O sabor da palavra, o gosto pelo modo de pronunciar, a riqueza de dialogar sobre coisa nenhuma, esse rico teatro de Wilde não é aquilo que mais agrada ou mais dá possibilidades a nossos atores. Somos mais pés-no-chão, Nelsonrodrigueanos, afrancesados Molierineanos e muito noveleiros Diasgomesneiros.
Não temos Michael Redgrave.
A Importância de ser Prudente é sobre nada. Dois dandys e sua ida ao campo. Se fingem ser o que não são para poder casar com duas mocinhas. Fingem se chamar Prudente. O tema é apenas esse, e eu iria trair a memória de Oscar Wilde se começasse a falar do que significa tal enredo. Porque apesar de percebermos todo o tempo que a peça é mais do que é, que tudo aquilo é uma crítica àquilo que tanto glorifica, na verdade o que Wilde mais desejava era mostrar que a arte/vida era puro esteticismo, que a Londres de 1890 era centro de luxo em decadencia e que o sentido de tudo aquilo estava na frase que nada parece dizer e muito subentende. O epigrama Wildeano.
Milhões de páginas podem ser escritas com as frases de efeito de Wilde. Todas "absurdas", infaliveis, agudas. Engenhosamente feitas para não ir de encontro ao senso comum. Dessa forma tudo é dito ao contrário: mentiras mantém a honra de um homem e faltar ao trabalho dá dignidade à vida. Frases que lidas numa terceira vez começam a se mostrar muito mais sérias do que aparentavam ser. Debaixo de todo aquele riso ebuliente do dandy Wilde começa a surgir um leve gosto de desencanto.
O mundo de 2011 não pode ter mais um Oscar Wilde porque produzimos tantos falsos Wildes nas décadas passadas que a forma se desgastou. O humor é hoje mais duro, cinico, violento, explicitamente politico. Oscar Wilde adoraria fazer stand-up ( para se exibir ), mas odiaria o humor do stand-up, o público do stand-up e o próprio nome: stand-up. Vulgar.
Assim como é a arte de Beardsley e de Whistler, os escritos de Oscar Wilde estão presos aquele momento específico. Uma nação em seu momento de esbanjamento, um império que sabia ( com apreensão ) iniciar então sua inexorável descida, decadência "de luxe", empobrecimento em clima de calma e volúpia.
Todos sabem como tudo terminou. Wilde na prisão e a Inglaterra esfacelada em duas guerras. Até hoje, e para sempre, aquela ilha está condenada a chorar e festejar aqueles últimos anos de liderança. Oscar Wilde é um desses últimos suspiros.
OSCAR WILDE - TEATRO
Entre 1880 e 1910 o homem atingiu seu ponto de maior brilho. Se preciso lhe explicar o porque, é sinal de que voce não faz idéia do que seja brilho ou homem. Não faz mal, voce tem sobrevivido mesmo assim.
Para todo o mundo fora das ilhas britânicas, Oscar Wilde é o autor de Dorian Gray e de alguns contos simbolistas. Para os ingleses ele é o autor de teatro mais amado após Shakespeare. Esse fato mostra a diferença entre a Europa e a ilha.
Como contista e autor de Dorian, Wilde é muito bom. Às vezes fascinante. Como autor de comédia teatral não tem igual.
Acabo de ler SALOMÉ, O MARIDO IDEAL e A IMPORTÂNCIA DE SER PRUDENTE. Me calo sobre Salomé. Drama poético enfadonho. O Marido Ideal já é Wildeana. Prudente é uma obra-prima.
Oscar Wilde foi um superstar antes do rádio e do cinema. Fazia tours pelo mundo onde se exibia em teatros repletos. Conferências e palestras sobre arte, estilo e poesia. Foi o primeiro artista a dizer que sua arte era secundária, sua obra-prima era sua vida. Todos hoje tentam ser Oscar Wilde. Ninguém sabe como ser.
Ele pregava o esteticismo. A beleza como bem supremo. Sendo belo, tudo é desculpável. Nada tem mais profundidade que a aparência. A arte deve ser bela. Não necessita de moral, filosofia ou sentido. Ao artista compete produzir beleza.
O pintor James Whistler seguia seu credo. Sua obra e sua casa ( e sua aparência também ) são esteticismo puro. O ilustrador Aubrey Beardsley ( que tem desenhos soberbos reproduzidos em Salomé ) é de uma sofisticação estética imbatível. Mas foi Oscar o papa arauto desse credo.
1880/ 1910 é tempo de auge humano porque é época em que as classes dirigentes do mundo possuíam o máximo de educação. O povo tinha uma educação grotesca ( como continua tendo ) mas os ricos e poderosos estudavam em escolas exclusivistas, exigentes e muito duras. O mundo atingiu seu apogeu porque nossos líderes eram muito bem educados. Ler os discursos de politicos da época, sejam ingleses ou brasileiros, americanos ou egipcios; e ler o que senadores e ministros falam hoje, é observar o nivelamento sob o mínimo que o século XX trouxe. Tempos POP jamais produzirão Churchill ou Roosevelt. Devemos nos submeter a Berlusconi e Lula.
Não ficarei citando as frases que cintilam em Prudente. A peça mostra a classe privilegiada fazendo absolutamente nada. O humor nasce da falta de sentido em tudo o que é falado, no inesperado em que corre todo diálogo, na leveza borboletante de sua ação. Toda a comédia mais brilhante do cinema tentou ser Wildeana.
Os melhores ingleses ( e sei que Oscar era irlandês ) pensam ser Wilde. Eles gostam de se imaginar como borbulhantes espirituosos, desajeitados romanticos, introvertidos poetas. Como estrelas esnobes e faiscantes estetas decadentes. Mas ninguém, nem mesmo Waugh ou Wodehouse, conseguiu se aproximar da absoluta maestria de Wilde em escrever sobre absolutamente nada.
Ler A IMPORTANCIA DE SER PRUDENTE é como assistir MY FAIR LADY : aula de bem-viver.
Oscar Wilde é total e irresistivelmente prazeroso. Nesse enredo de dois amigos que vão ao campo para propor casamento a duas mocinhas adoráveis, somos convidados a amar o cinismo, a mentira, a falsidade, o interesse e a frieza. Desde que tudo seja feito com tato e gosto, tudo é permitido. Ao fim do texto concordamos com Oscar. Se bem dito, o revoltante é inebriante.
De Wilde, nestes tempos Wildeanos, se pegou o menos perigoso. O culto ao star, a fé de que maior que a obra é o artista, e uma afetação esnobe. Mas se esquece que tudo isso vinha com a genialidade de se unir idéias contrárias e fazer nascer uma nova verdade, o humor fino que é feroz mas é sempre elegante, a construção de trilha de ironia e de ambição.
Ele só foi possível em mundo otimista. Aplaudir ao divino Oscar é nossa devoção.
Para todo o mundo fora das ilhas britânicas, Oscar Wilde é o autor de Dorian Gray e de alguns contos simbolistas. Para os ingleses ele é o autor de teatro mais amado após Shakespeare. Esse fato mostra a diferença entre a Europa e a ilha.
Como contista e autor de Dorian, Wilde é muito bom. Às vezes fascinante. Como autor de comédia teatral não tem igual.
Acabo de ler SALOMÉ, O MARIDO IDEAL e A IMPORTÂNCIA DE SER PRUDENTE. Me calo sobre Salomé. Drama poético enfadonho. O Marido Ideal já é Wildeana. Prudente é uma obra-prima.
Oscar Wilde foi um superstar antes do rádio e do cinema. Fazia tours pelo mundo onde se exibia em teatros repletos. Conferências e palestras sobre arte, estilo e poesia. Foi o primeiro artista a dizer que sua arte era secundária, sua obra-prima era sua vida. Todos hoje tentam ser Oscar Wilde. Ninguém sabe como ser.
Ele pregava o esteticismo. A beleza como bem supremo. Sendo belo, tudo é desculpável. Nada tem mais profundidade que a aparência. A arte deve ser bela. Não necessita de moral, filosofia ou sentido. Ao artista compete produzir beleza.
O pintor James Whistler seguia seu credo. Sua obra e sua casa ( e sua aparência também ) são esteticismo puro. O ilustrador Aubrey Beardsley ( que tem desenhos soberbos reproduzidos em Salomé ) é de uma sofisticação estética imbatível. Mas foi Oscar o papa arauto desse credo.
1880/ 1910 é tempo de auge humano porque é época em que as classes dirigentes do mundo possuíam o máximo de educação. O povo tinha uma educação grotesca ( como continua tendo ) mas os ricos e poderosos estudavam em escolas exclusivistas, exigentes e muito duras. O mundo atingiu seu apogeu porque nossos líderes eram muito bem educados. Ler os discursos de politicos da época, sejam ingleses ou brasileiros, americanos ou egipcios; e ler o que senadores e ministros falam hoje, é observar o nivelamento sob o mínimo que o século XX trouxe. Tempos POP jamais produzirão Churchill ou Roosevelt. Devemos nos submeter a Berlusconi e Lula.
Não ficarei citando as frases que cintilam em Prudente. A peça mostra a classe privilegiada fazendo absolutamente nada. O humor nasce da falta de sentido em tudo o que é falado, no inesperado em que corre todo diálogo, na leveza borboletante de sua ação. Toda a comédia mais brilhante do cinema tentou ser Wildeana.
Os melhores ingleses ( e sei que Oscar era irlandês ) pensam ser Wilde. Eles gostam de se imaginar como borbulhantes espirituosos, desajeitados romanticos, introvertidos poetas. Como estrelas esnobes e faiscantes estetas decadentes. Mas ninguém, nem mesmo Waugh ou Wodehouse, conseguiu se aproximar da absoluta maestria de Wilde em escrever sobre absolutamente nada.
Ler A IMPORTANCIA DE SER PRUDENTE é como assistir MY FAIR LADY : aula de bem-viver.
Oscar Wilde é total e irresistivelmente prazeroso. Nesse enredo de dois amigos que vão ao campo para propor casamento a duas mocinhas adoráveis, somos convidados a amar o cinismo, a mentira, a falsidade, o interesse e a frieza. Desde que tudo seja feito com tato e gosto, tudo é permitido. Ao fim do texto concordamos com Oscar. Se bem dito, o revoltante é inebriante.
De Wilde, nestes tempos Wildeanos, se pegou o menos perigoso. O culto ao star, a fé de que maior que a obra é o artista, e uma afetação esnobe. Mas se esquece que tudo isso vinha com a genialidade de se unir idéias contrárias e fazer nascer uma nova verdade, o humor fino que é feroz mas é sempre elegante, a construção de trilha de ironia e de ambição.
Ele só foi possível em mundo otimista. Aplaudir ao divino Oscar é nossa devoção.
Assinar:
Postagens (Atom)