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BEL-AMI - GUY DE MAUPASSANT. UM DOS ROMANCES CHAVE DA ÉPOCA DA FORTUNA

Se voce tem o costume de ler romances, e ama os ler, com certeza se apaixonou por algum autor dos séculos XVIII e XIX. No meu caso, Stendhal. O romance como o conhecemos, nasce no momento histórico em que o homem comum passa a sonhar com a fortuna. De Tom Jones à Robinson Crusoe, de Balzac à Gogol, todo romance é, apesar das aventuras em guerras, das viagens marítimas, da comédia de costumes, uma história sobre o dinheiro. Pois o homem fora desde sempre um prisioneiro de sua condição social. Seja na velha Atenas, Babilônia, Pérsia ou na idade média européia, um homem que nascesse camponês morreria no campo e teria filhos do campo. A mobilidade social era totalmente desconhecida, e mesmo um heroi de guerra nascido entre o povo comum seria sempre um plebeu e nada mais que isso. --------------- Economicamente isso termina com a revolução industrial e filosoficamente morre com a criação dos USA. No capitalismo o que importa é o que voce produz e vende e não de onde voce vem. E no sistema democrático americano, todos são aquilo que fazem. A ação no mundo me define. Por isso, na França, o país onde essa mudança foi feita do modo mais dramático e sangrento, e errado também, há tanto romance sobre jovens que tentam ascender no meio social. Bel Ami é sobre um desses, um jovem sem dinheiro e sem talento, porém bonito, que sobe na vida, via jornalismo, usando as mulheres sexualmente. Ele é um tolo, um mero vaidoso sem nada que o diferencie, mas é educado e tem belo rosto. Até onde ele irá? ------------------ Maupassant é um dos mais conhecidos autores do final do século XIX e como contista ele chega a alturas imensas. Em romance, menos. Muito bem escrito, este livro, sucesso absurdo, às vezes parece cliché, mas logo se ergue mais uma vez. É um dos moldes daquilo que seria, 50 anos mais tarde, um típico best seller. Se voce nunca leu um romance típico da era do romance, leia este.

AS GRANDES PAIXÕES - GUY DE MAUPASSANT

No cinema francês clássico, aquele de Ophuls, Renoir, Autant-Lara, nada era mais filmado que histórias de Maupassant. O mais belo representante é o inesquecível A Ronda do austríaco Ophuls. Tenho em mãos esta bela edição de 2010, pela Record, de vários contos de Maupassant, e eles, deliciosos, rodam sempre sobre aquilo que é mais francês: sexo. A França, do final do século XIX, tinha uma liberalidade no assunto, sexo, que é espantosa. Lésbicas, putas, cornos, relações de uma noite, decepções, triunfos, tudo relatado na prosa elegante e clara do autor. Ah....a abençoada claridade francesa! O amor pela língua que eles possuem, como nenhum outro país no mundo. Caso voce não saiba, não há idioma que mudou menos nos últimos 300 anos que o francês, e mesmo os textos medievais são mais legíveis que aqueles escritos no velho inglês ou em antigo italiano. Desde o romantismo há nos autores da França um comprometimento pelo texto claro, sem palavras inuteis, tudo bem explicado, objetivo. Isso nos causa espanto, pois logo lembramoa da poesia difícíl dos impressionistas e da prosa trabalhosa de Proust. Mas veja bem, comparado à Joyce ou Faulkner, Proust é lógico e racional. Claro como o sol. ---------------- Os primeiros contos deste volume são mais voltados ao aspecto social da vida. É o segundo grande tema da França, a política. Mas mesmo neles, é o desejo sexual que move a vida, a ação. Os famosos BOLA DE SEBO e A MANSÃO TELLIER se encontram aí. Depois temos histórias, todas brilhantes, sobre trens e flertes, hoteis e sexo, homens e moças mal comportadas. Um leitor, jovem de hoje, talvez tenha impulsos de censor ao ler estes contos. É um mundo que ele não aceita. Esse impulso apenas conspira contra nosso mundo, hipócrita, atual e dá vantagem à França de 1890. Para aqueles como eu, que amam a individualidade, direito de cada um, é uma joia este livro. -------------- Maupassant morreu louco por contágio de sífilis. Morte longa, dolorosa, sem trégua. Isso faz com que cada encontro sexual, aqui descrito, tenha um componente, para nós, de amargo sabor. Para minha geração, aquela que começou sua vida sexual sob a AIDS, é uma lembrança melancólica. Como se nas valsas e polcas deste livro ecoasse uma nota de morbidez. -------------- Ler Maupassant é um belo prazer.