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GARGANTUA - RABELAIS E A ALMA SECRETA DA FRANÇA
Não me lembro, talvez tenha sido Harold Bloom, que falou: a alma da França se divide em dois campos: Rabelais e Racine. Racine é a raiz racional, cartesiana, jansenista. Já Rabelais é o outro lado....
Escrito no começo do século XVI, em plenos massacres protestantes na França ( o que? Seu péssimo professor de história passou seis meses fazendo lacração e não te contou nada sobre esse assunto? Tema vital para a história de todo ocidente? Que pena... ). Weeellll..... Rabelais era um ex católico e por isso viveu sempre dependendo da proteção de amigos poderosos. Mas vamos falar do livro, livro que de certo modo inaugura o romance francês. E que modo de inaugurar!!!!!!
Gargantua é um gigante filho de nobres. Ele come. Ele bebe. Ele defeca. E o livro é isso, uma homenagem às funções corporais. Para voce ter uma ideia, há um capítulo em que ele descreve todas as coisas que Gargantua já usou para limpar o cu. Ovelhas, videiras, veludos e gatos estão na lista. Seu favorito é o ganso.
386 bois no café da manhã, 18 barris de vinho, ele advoga a ideia de que viver é beber e comer. Bloom estava errado, a França não se divide em dois campos, todos são Racine e Rabelais. Por detrás de todo francês existe uma pessoa que vive para comer, beber e defecar. Mais que isso, uma pessoa que transforma isso em arte e em ritual. De Serge Gainsbourg a Artaud, de Vian à Sade, a França é uma festa de foie gras e de fascínio por peidos e borbulhas de champagne.
O livro é divertido e ás vezes muito engraçado. O que Rabelais quer é anarquizar a vida francesa, desnudar a corte, zombar da voracidade de reis e príncipes. A França é assim, ela zomba da autoridade e ao mesmo tempo é esnobe e elitista. Vende revoluções e Cartier.
Rabelais sabia disso e fez isso.
C'est bon.
MONSIEUR GAINSBOURG, UMA HOMENAGEM
Bem tarde o rock inglês acordou e percebeu que Serge Gainsbourg fazia música instigante. Hoje, o francês é considerado extra cool e Melody Nelson está sempre na lista dos melhores discos da história. Se vivo Serge daria risadas disso tudo. Ele nunca jamais foi rock. --------------- Em 2006 um bando de músicos ingleses e alguns poucos americanos resolveram fazer um disco em homenagem a Serge. As versões vão de dignas à vergonhosas. Sem a voz de Serge se perde muito. Ofensiva, irônica e ao mesmo tempo sublime, sua voz temperada a alcool e cigarro faz muita falta. ------------- Franz Ferdinand abre a coisa e faz um som à FF com 0% de Gainsbourg. Voce pode dizer que eles mantiveram sua identidade. Eu achei apenas banal. Depois temos Cat Power destruindo je taime mois non plus. É muito, muito ruim. Jarvis Cocker faz de longe a melhor versão. Timbre de voz, interpretação, arranjos, ele entendeu tudo. De tudo que há no album, é o único digno do mestre. ------------ Portishead, Brian Molko, Tricky, todos fazem um som ok, mas nada muito memorável. Michael Stipe canta como se Serge fosse Jacques Brel, Stipe não entendeu nadaaaaaaa..... ----------- Marianne Faithfull, desde 1964 muito francesa, faz um reggae com Sly e Robbie. Ótimo!!!! Como Sly e Robbie tocaram com Serge, no sublime disco de reggae que ele fez, a coisa tem tarimba. Então vem Gonzales e depois o Placebo. É legal saber que todo esse povo é fã. Só isso. Já Marc Almond transforma Serfe em Soft Cell, e isso é um elogio. The Rakes é o pior. E The Kills escolheu a música errada para eles. Carla Bruni fecha o disco. Ela faz o mesmo que Cat Power, faz de Serge um cara para restaurantes bacaninhas. Horror baby. -------------- Vale ouvir como curiosidade.
AUX ARMES ET CETERA - SERGE GAINSBOURG, LE REGGAE
Tive minha fase de ouvir reggae. Em 1983, muito sol, muito Peter Tosh. Mystical Man, Mama Africa, são os albuns que mais ouvi do cantor da Jamaica. Sempre gostei mais de Peter que de Bob Marley. Tosh me parecia mais bad boy. Marley era muito "john lennon" pro meu gosto. E a banda de Tosh era melhor. Tinha Sly Dunbar na bateria e Robbie Shakespeare no baixo. Pra voce entender, eles são tão bons que Bob Dylan os chamou para gravar em 1984. --------------- Em 1979 o mega irriquieto Serge Gainsbourg resolveu fazer um disco de reggae. E chamou a banda inteira de Peter Tosh para isso. Nos vocais de fundo botou as cantoras do Bob Marley, Rita Marley inclusive. Ouço agora esse disco pela primeira vez. É talvez o melhor disco do gênero que ouvi na vida ( pode me xingar, tou nem aí ). Serge fez aquilo que Tosh nunca fez: liberou a banda. Não há um só disco de Tosh que tenha bateria de Sly em tanta evidência. Ela está lá no alto, solando à vontade, o mesmo acontecendo com o baixo de Robbie. É quase um disco de dub music. Ecos, repetições, sons esquisitos, paradas, acelerações, retomadas, é o tipo de reggae que o Black Uhuru fazia então. Serge se antenou com o que havia de realmente novo em 1979 e faz com que as tentativas de Stones ou Stevie Wonder com o gênero pareçam tímidas. O francês teve a inteligência de ser apenas uma voz, ótima, em meio ao bando de jamaicanos. Democrático ao extremo. Que grande, grande disco! ----------------- Posto duas faixas mas poderia postar as doze. Sucesso em seu país, o fato dele não ter sido nem mesmo lançado nos EUA ou por aqui atesta a ignorância preconceituosa contra a música pop da França. É um disco tão bom que não faz feio ao lado dos grandes discos desse grande ano de 1979. Ouça.
THIS IS HARDCORE - PULP
Pulp é, em meio a onda do Britpop, a mais adulta entre seus pares. E isso faz com que Pulp seja, sim, sem dúvida alguma, muito melhor que Oasis, Blur, Suede ou Stone Roses. Jarvis Cocker é um intelectual refinado se colocado ao lado de Noel, Damon, Ian ou Brett. This Is Hardcore, de 1998, é seu último grande disco e como ser inteligente que é, Cocker percebeu sua maturação e fala por toda a obra de finais, despedidas, desvanecimentos, apagamentos e sumiços. A banda, mega competente, que sempre foi witty ( esperta e alegre ), é aqui melancólica. Mas sem jamais perder a elegância. ---------------- Cocker sempre teve uma queda pelo POP francês e esse é seu diferencial. Faz anos que ele vive em Paris e já lançou disco solo com canções francesas. Isso tempera sua alma. Enquanto os Gallagher sonhavam com Lennon, e Albarn pensava em Marc Bolan, Jarvis seguia Serge Gainsbourg e Jacques Dutronc. Para um inglês, isso faz toda diferença. Como Yeats e Shelley, há nele um forte cheiro de vinho e de Camembert. Neste disco, belíssimo, ele derrama todo seu romantismo sem pieguice, um romantismo irônico, inteligente, que mais que Bowie, remete à Bryan Ferry e John Cale. Vejo que o album teve a produção de Chris Thomas, o cara que produziu os melhores discos do Roxy Music e de Pretenders. Entenda...não falo que Pulp lembre Roxy, não lembra, mas é o mesmo espírito. Voce ouve este disco do mesmo modo como ouve Siren ou For Your Pleasure: com uma taça de champagne e uma lembrança diáfana na cabeça. ------------------------ Há no Oasis uma vulgaridade de operários de Manchester que às vezes enjoa. Há no Blur uma sombra juvenil que não cessa. O Stone Roses é, para mim, uma banda comum hiper valorizada. E o Suede escorre vaidade insuportável em cada acorde copiado do pior do glam rock. O Pulp, ao lado deles, parece maduro, chique, consciente, no tom exato. Tem suas influências, mas as usa com sabedoria. Junta tudo mas deixa, acima de todo som, a voz de Cocker brilhar, uma voz que casa perfeitamente com aquilo que se diz. Os arranjos são ricos, quase sinfônicos. A impressão geral é de estarmos diante de algo invulgar: um desses discos que ficam, que permancecem. Passados 25 anos ele ainda impressiona. Muito. Ouça. E não esqueça de suas feridas.
O DURO E FRIO CINEMA POLICIAL FRANCÊS
A Versatil tem lançado caixas com filmes franceses policiais. Filmes feitos nos anos 50, 60, 70 até os anos 80. A opinião que eu tinha sobre o cinema policial francês era péssima. Imaginava filmes cópias dos americanos. Mal feitos, chatos, com diálogos em excesso. Puro preconceito!!!! Mais uma vez eu fui amestrado pela opinião dos críticos que eu lia nos anos 70 e 80 e não me dei ao trabalho de tirar minha própria conclusão. O cinema policial francês, na média, é ótimo. ------------------- De tudo que vi, cerca de 20 filmes, posso dizer que ruins apenas dois, a maioria é diversão competente, em estilo sempre glacial, e alguns são maravilhosos. Por exemplo I...COMO ÍCARO, filme de Henri Verneuil, diretor odiado por aqui. Feito em 1979, tem Yves Montand como um detetive que tenta encontrar o assassino do presidente. O filme tem cenários e clima futurista, e é tenso, triste sem ser chato, e o final doi nos ossos. Político sem ser partidário. É cinema competente, ou, mais que isso, perfeito. SEM MOTIVO APARENTE de Philippe Labro, feito em 1971, tem mais uma atuação marcante de Jean Louis Trintignant. Ele é um policial ao estilo Dirty Harry que tenta encontar um serial killer. Com Dominique Sanda e Laura Antonelli, ele exibe um certo mundo podre da mídia e é uma obra prima do policial. Não há um só minuto que não seja tenso, exato, necessário. O PAXÁ, de Georges Lautner ( todos esses diretores foram famosos em seu tempo. Seus filmes, feitos um por ano, eram exibidos aqui no Brasil com sucesso de público, apesar da má vontade da crítica ). Jean Gabin, velho, o filme é de 1968, procura encontrar um ladrão que anda matando todos os seus parceiros de crime. No processo ele descobre que seu amigo policial passou para o lado do crime. Ver Gabin é uma honra. Ele é o John Wayne, o James Stewart e o Bogart francês, tudo em um homem só. Nunca fica nervoso, parece derrotado, é o mais estoico dos detetives. Bogey ao lado de Gabin parece um aluno da sexta série. O filme, maravilhoso, tem trilha sonora de Serge Gainsbourg. Quando Requiem pour un con toca, juro, eu achei que era um som de 2010 e não de 1968. Há uma cena com Serge no estúdio. Gabin vai lá prender um músico. Serge passa ao lado de Gabin, Serge era baixinho, os dois se encaram. O mundo nesse dia deve ter parado de girar por alguns micro segundos. ENCURRALADO PARA MORRER de Alain Corneau. De 1977, Yves Montand abandona a esposa pela amante, mas a esposa se mata e a policia acha que a amante do marido a matou. Kafkiano. Tenso. Hitchcokiano. Amargo ao extremo. Sublime. Um super filme! -------------- Eu poderia falar de mais maravilhas. Mas fico por aqui. Eu pensava que o cinema de policiais franceses era apenas Melville. Não. O genial Melville deu gás à uma turma maravilhosa que produzia filmes às dúzias. É uma sorte e uma honra poder os assistir em 2023. Aproveite.
MALCOLM MCLAREN - PARIS
No começo dos anos 90, ser chique era escutar coisas como Galliano, Incognito, Brand New Heavies, Swing Out Sister e principalmente Soul II Soul. Chamavam de acid jazz ou de new jazz, mas de jazz tinha nada e de acid pouco se sabe. Eu ouvia muito. Era minha praia. Uma doce mistura de soul music tipo Cutis Mayfield com rap e Barry White. Tudo com um banho de teclados moderninhos e baterias digitais. PARIS de Malcolm McLaren é o disco em que o "famoso por ser famoso" tenta se dar bem no estilo ultra plus chic. Se deu mal. O disco não vendeu e a crítica ignorou. ------- São duas horas de som. CD duplo. Duas absurdas, pretensiosas, longas horas. As letras são primárias. Mas servem pra uma coisa: nos lembrar de como todos nós eramos tolos em 1988 ou no caso, 1994. ------------ Mc Laren narra sobre as músicas. Ele conta, em seu modo mais narcisistico, sua vida em relação a Paris. Desde sua meninice, em que ele já sonhava com a cidade, até os anos 90, em que ele anda pelas ruas e se sente feliz. A tolice nasce desse amor bobo. Paris descrita como a cidade dos filósofos, Beauvoir, Grecco, BB, jazz etc etc etc. Chavões. Clichés. O pior dos anos 80: citar nomes como se fossem um tipo de reza. Exalar erudição de bula. McLaren não esquece nem de exaltar a sua roupa preta. So What? ---------- Ele ama Paris porque ele se vê nela. Nos anos 80 todo cara chique era assim. A gente era pretensioso pacas. E tinha a certeza de ser especial. Só porque, como faz McLaren, conhecermos Cocteau e Satie. ------------ Por outro lado: o som é bom. A música é uma soul music interessante e gostosa. Macia e suave. Mas, QUE COISA, a voz de Malcolm incomoda. Para narrar histórias e sentimentos sobre uma base sonora, o cara precisa ter uma voz sugestiva. Ser um Lou Reed, um Leonard Cohen, um Paolo Conte. A voz deve conter autoridade, história e ser instigante. De preferência timbre grave, rouco, potente. Pois bem, a voz de Malcolm parece a de um pato sem vitaminas. É fraca, é juvenil, é boba. Soa como a voz de uma pessoa burra. Isso é imperdoável. ----------------------------- Malcolm McLaren foi um dos primeiros caras a ser famoso por ser famoso. Ele era um empresário atrapalhado, um dono de loja sem função e depois um músico sem música. DUCK ROCK de 1982 foi um grande disco. Ele teve a esperteza de usar RAP e música africana antes de virarem mainstream. Depois não fez mais nada de valor real. ( Não vou falar do modo como ele fodeu os Sex Pistols....voce já sabe disso não é? ). ------------ Dos vários pecados de PARIS, este disco, a pior é botar numa faixa o nome de MILES DAVIS e ouvirmos um trompete que soa como....Clifford Brown. Miles tocando hot e não cool é como Bowie cantando RAP. Nada a ver. Qual a intenção? O solo é o mais anti Miles possível. Há mais, uma faixa chamada Satie que tem um monte de som. E Catherine Deneuve narrando uma coisa qualquer. A versão de Je Taime, do Serge é medíocre. Aliás, eis um cara com voz interessante: Gainsbourg. ------ Mesmo assim o disco é divertido. Dá pra ouvir comendo morangos. Bebendo Pastis. Carregando uma baguete no sovaco. Moral da história: SEMPRE DESCONFIE DE UM INGLÊS QUE DIZ AMAR A FRANÇA.
UM PUNHADO DE GITANES- SYLVIE SIMMONS, A VIDA DE SERGE GAINSBOURG
Quando o li pela primeira vez, em julho de 2005, adorei. Recém saído de uma relação, sedento por sexo, por esquecimento, passei a considerar Serge um ídolo. Mas o tempo passou e eu mudei com o tempo.
Começando a ler o livro, penso: -Um francês bêbado, chato, suicida....tudo o que mais odeio!
Quase desisto. Mas o livro é ok e continuo. E acabo gostando. Um pouco.
Ninguém em nove anos assiste tantos filmes, lê tanto, estuda letras, muda de emprego 3 vezes, conhece putinhas, rainhas, bobos e doidos, atletas e nobres empobrecidos sem mudar. Nesse nove anos tomei porres colossais, amei mulheres frias, tive casos sujos e platonismos inconvincentes. E mais que tudo, envelheci. Muito. E como consolo me tornei um pretenso anglófilo. Imaginar-se vitoriano consola a solidão. E Serge?
Não me interessa mais sua vida. A bebida e as mulheres...Jane Birkin. E daí? Mas nessa leitura quero saber da obra, da música. A história das gravações é o que de melhor há no texto. Sua música é melhor que sua vida e não o oposto.
Ele era um timido que usava a bebida para se soltar. O cigarro era companhia fiel. Seu maior medo era o de ser abandonado. Na verdade ele nunca foi. As mulheres o abandonavam mas continuavam em sua vida. Como amigas presentes e atenciosas. Penso que Serge não era sexy, ele acendia seu instinto de proteção, de mãe. Acho que ele nunca pensou isso.
Cèst tout.
Começando a ler o livro, penso: -Um francês bêbado, chato, suicida....tudo o que mais odeio!
Quase desisto. Mas o livro é ok e continuo. E acabo gostando. Um pouco.
Ninguém em nove anos assiste tantos filmes, lê tanto, estuda letras, muda de emprego 3 vezes, conhece putinhas, rainhas, bobos e doidos, atletas e nobres empobrecidos sem mudar. Nesse nove anos tomei porres colossais, amei mulheres frias, tive casos sujos e platonismos inconvincentes. E mais que tudo, envelheci. Muito. E como consolo me tornei um pretenso anglófilo. Imaginar-se vitoriano consola a solidão. E Serge?
Não me interessa mais sua vida. A bebida e as mulheres...Jane Birkin. E daí? Mas nessa leitura quero saber da obra, da música. A história das gravações é o que de melhor há no texto. Sua música é melhor que sua vida e não o oposto.
Ele era um timido que usava a bebida para se soltar. O cigarro era companhia fiel. Seu maior medo era o de ser abandonado. Na verdade ele nunca foi. As mulheres o abandonavam mas continuavam em sua vida. Como amigas presentes e atenciosas. Penso que Serge não era sexy, ele acendia seu instinto de proteção, de mãe. Acho que ele nunca pensou isso.
Cèst tout.
SERGE GAINSBOURG- DU JAZZ DANS LE RAVIN ( SEX, GALOISE ET JAZZ )
Serge era o cara que todo mundo na França adorava....odiar. Para a esquerda ( e na França de 60/70 essa dualidade fazia todo o sentido ), ele era um americanizado inconsequente, e para a direita ele era um tipo de vampiro imoral e perigoso. Bem...para mulheres interessantes ele era um desafio e para a molecada anárquica um provocador. Serge entra no século XXI sobrevivendo muito bem. Hoje ele é mais vivo que em seus últimos anos de vida.
Como pessoa, ele estava em todas. Musicalmente foi jazz, foi chanson, fez rock e fez reggae. No cinema só fez bobagem, mas são sempre bobagens curiosas. Escreveu, fez TV, não parava nunca de inventar. E tinha um jeito hiper-mega-super cool. Serge é da linha de Robert Mitchum, parece sempre ausente, sonado, derrubado, indiferente. Mas quando voce se distrai ele surpreende, porque ele faz tudo sem esforço, sem drama de trabalho, parece fazer "sem querer". Isso é o cool moderno.
Sua abordagem com as mulheres era a mesma, querer sem querer.
Então, tudo o que ele fez, teve esse jeitão. Fazia um filme "sem querer" e um disco "sem muito jeito". E pegava todo mundo desprevenido.
Veja este disco. Voce bota pra tocar e ouve piston e trombone. É jazz. Ele ouviu muito Gerry Mulligan. É cool jazz. Mas é mais cool que o cool jazz. É Le Cool Jazz.
Ele coloca várias palavras em inglês nas letras. E as declama meio sonâmbulo e depois canta meio drunk. Tem bafo de sexo e de álcool. Cheiro de axila sem desodorante. Boteco com umidade. É sujo. Baforento.
E voce se vê estalando os dedos no ritmo das músicas. Ele faz exatamente o que voce faria. Pega aquele cool jazz e o mistura com uma coisa muito dele mesmo, muito francesa. Uma coisa meio Rimbaud e meio Cocteau. Não é o jazz de whisky e negros alinhados de Chicago ou Orleans. É jazz com Pernod e jovens de boina e blusa listrada de St. German e Marseille. Os americanos odiavam. Era pra eles como ouvir rock feito por alemães. Pra nós, latinos, faz todo o sentido. Une dois mundos. Une o ótimo e o soberbo.
E Serge vai então sem medo. No trombone que boceja e na bateria que sacoleja. E dá quase pra ver a fumaça do Gitanes ( ou será Galoise? ), sair do cd e entrar nos teus olhos. Dá quase pra sentir o cheiro da calcinha da menina bonita de cabelos à la garçonne. E daí voce pensa: Que bom! E depois acha: Quero ser Serge! E então conclui:
É bom pra caramba!
Como pessoa, ele estava em todas. Musicalmente foi jazz, foi chanson, fez rock e fez reggae. No cinema só fez bobagem, mas são sempre bobagens curiosas. Escreveu, fez TV, não parava nunca de inventar. E tinha um jeito hiper-mega-super cool. Serge é da linha de Robert Mitchum, parece sempre ausente, sonado, derrubado, indiferente. Mas quando voce se distrai ele surpreende, porque ele faz tudo sem esforço, sem drama de trabalho, parece fazer "sem querer". Isso é o cool moderno.
Sua abordagem com as mulheres era a mesma, querer sem querer.
Então, tudo o que ele fez, teve esse jeitão. Fazia um filme "sem querer" e um disco "sem muito jeito". E pegava todo mundo desprevenido.
Veja este disco. Voce bota pra tocar e ouve piston e trombone. É jazz. Ele ouviu muito Gerry Mulligan. É cool jazz. Mas é mais cool que o cool jazz. É Le Cool Jazz.
Ele coloca várias palavras em inglês nas letras. E as declama meio sonâmbulo e depois canta meio drunk. Tem bafo de sexo e de álcool. Cheiro de axila sem desodorante. Boteco com umidade. É sujo. Baforento.
E voce se vê estalando os dedos no ritmo das músicas. Ele faz exatamente o que voce faria. Pega aquele cool jazz e o mistura com uma coisa muito dele mesmo, muito francesa. Uma coisa meio Rimbaud e meio Cocteau. Não é o jazz de whisky e negros alinhados de Chicago ou Orleans. É jazz com Pernod e jovens de boina e blusa listrada de St. German e Marseille. Os americanos odiavam. Era pra eles como ouvir rock feito por alemães. Pra nós, latinos, faz todo o sentido. Une dois mundos. Une o ótimo e o soberbo.
E Serge vai então sem medo. No trombone que boceja e na bateria que sacoleja. E dá quase pra ver a fumaça do Gitanes ( ou será Galoise? ), sair do cd e entrar nos teus olhos. Dá quase pra sentir o cheiro da calcinha da menina bonita de cabelos à la garçonne. E daí voce pensa: Que bom! E depois acha: Quero ser Serge! E então conclui:
É bom pra caramba!
ELIA KAZAN/ WARREN BEATY/ TOTÓ/ PAUL GIAMATTI/ GAINSBOURG/ MICKEY ROURKE/ RENE CLAIR/ BERGMAN
TOTÓ PROCURA CASA de Mario Monicelli e Steno com O Grande Totó
Que humorista foi esse tal de Totó!!!! Que rosto! Não espere elaboração dele. Não espere "humor sofisticado". Totó é um palhaço, como Mazzaropi, como Renato Aragão, como Buster Keaton e o Jim Carrey dos bons tempos. Seu humor é infantil, direto, simples, e portanto corajoso. Aqui o objetivo é o riso, só o riso, se seu público não ri o humorista falhou, daí sua coragem. Neste filme ( dos primeiros desse fenômeno chamado Monicelli ) ele é um pai de familia sem casa. O filme mostra ele tentando achar lugar para morar ( tenta uma escola, cemitério e até no Coliseu ele se aloja ). Uma chanchadona que é de um doce saudosismo. Totó foi um graaaande comediante! Nota 7.
CLAMOR DO SEXO de Elia Kazan com Warren Beaty e Natalie Wood
Crítica abaixo... É mais um belo retrato da América feita por esse tão importante diretor. Warren está muito bem como o jovem aluno inocente e rico ( é seu primeiro filme ). Natalie não está a sua altura na primeira parte do filme, depois ela cresce e acaba por nos comover. Drama de primeira. Nota 8.
FAY GRIM de Hal Hartley com Parker Posey e Jeff Goldblum
Talvez um Alphaville? Uma brincadeira de Hartley que lamentávelmente não dá certo. Parker está muito sexy ! Mas que roteiro é esse???? Nota 2.
NINHO DE COBRAS de Joseph L. Mankiewicz com Kirk Douglas, Henry Fonda e Warren Oates
Pois bem... este é um filme muuuuito errado! Explico o porque. Temos David Newman e Robert Benton, os dois mais brilhantes roteiristas da época. Eles escrevem uma história sobre um cowboy ladrão e uma prisão de desajustados. O roteiro, típico da época contracultural, atira em xerifes, racistas, mulheres, westerns etc. Mas, chamam para dirigir o filme Joseph L. Mankiewicz, o diretor, excelente, de A Malvada. Um grande nome, mas um estranho no ninho!!! O que acontece então? Nada. O roteiro, cheio de boas ideias, é asfixiado numa direção acadêmica. O resultado é morno. Kirk é perfeito para esse tipo de perverso/espertinho e Fonda brinca com seu tipo de americano/Lincoln. Mas é Hume Cronyn, fazendo uma espécie de debilóide que mais impressiona. Não é uma grande comédia, mas é ok. Nota 6.
PASSION PLAY de Mitch Glazer com Mickey Rourke, Megan Fox e Bill Murray
A capa do dvd promete: Rourke como um trompetista de jazz decadente. O ambiente é Utah. Fox é uma angelical esperança de redenção e Murray um empresário sacana. Atraente né? Pois é um drama risível de tão ruim. Deve ter sido escrito por algum fã de cinema com 8 anos de idade ( o roteiro macaqueia Asas do Desejo e um monte de filmes noir dos anos 40 ), o diretor, é flagrante, pensava estar fazendo um bom filme, deve ser um nerd de 11 anos e quem o produziu crê que o público de cinema é imbecil. Megan Fox é um anjo ( ela tem asas )..... e na última cena Mickey Rourke voa com ela rumo ao céu.... se aqui descrito parece ruim, creia-me, é bem pior na tela. Chega a ser cretino. Sem nota. Faz de conta que jamais o vi.
SLOGAN de Pierre Grimblat com Serge Gainsbourg e Jane Birkin
Um publicitário conhece em Veneza Jane Birkin. Ele é casado. Se amam, mas Jane o abandona. Pois é.... eu gosto muito de Serge e este é o filme em que ele conheceu Jane. Mas que lixo é este? Serge é péssimo ator e Jane chega a rir em cena !!! O filme é constrangedor de tão amador!!! Não é um filme, é muito mais um documentário sobre um flerte. Nota 1.
PORTE DE LILÁS de René Clair com Pierre Brasseur e Henri Vidal
Em favela francesa ( sim, são barracos em ruinas ) um assassino se esconde. Fica no porão de um cantor fracassado e é ajudado por um tolo ingênuo. O filme tem belas imagens, mas se perde em sua excessiva glamurização da pobreza. Clair funciona melhor em fantasias puras, onde ele pode "levantar vôo". Nota 5.
ATRAVÉS DE UM ESPELHO de Ingmar Bergman com Harriet Andersson, Max Von Sydow, Lars Passgard e Gunnar Bjorsson
Uma obra-prima, devastadora. Retrato de uma personalidade em crise ou retrato de nossa condição desde sempre? Bergman nada enfeita, nada exagera, nada dramatiza. Faz o que ele pensa dever ser feito, sem jamais mudar de rumo. É um filme de tristeza polar, mas também de uma beleza profunda, seca, perturbadora. Nota DEZ.
A MINHA VISÃO DO AMOR de Richard J. Lewis com Paul Giamatti, Dustin Hoffman e Rosamund Pike
Uma coleção de clichés. Acompanhamos a vida de um mala por 3 décadas. Cliché: a década de 70 e suas drogas, a esposa doidona, a vida como irresponsável flerte. Segundo cliché: a segunda esposa é uma chata judia à woodyallen... Já a terceira esposa é dos tempos atuais, mais cliché: gente que só pensa em saúde e equilíbrio. No final, supremo cliché: violinos e pianinho enquanto ele sofre de doença incurável.... Os críticos gostaram? Pobre crítica! Paul Giamatti imita Jack Nicholson. Faz exatamente o tipo que ele faz desde 1983. Mas é bom ator. É imitação de bom nível. Dustin nada tem a fazer. Fica lá, como um tipo de velho tarado. A direção é franciscana: pobre. O filme já nasce velho e com cheiro de reprise do SBT. Nota 3.
Que humorista foi esse tal de Totó!!!! Que rosto! Não espere elaboração dele. Não espere "humor sofisticado". Totó é um palhaço, como Mazzaropi, como Renato Aragão, como Buster Keaton e o Jim Carrey dos bons tempos. Seu humor é infantil, direto, simples, e portanto corajoso. Aqui o objetivo é o riso, só o riso, se seu público não ri o humorista falhou, daí sua coragem. Neste filme ( dos primeiros desse fenômeno chamado Monicelli ) ele é um pai de familia sem casa. O filme mostra ele tentando achar lugar para morar ( tenta uma escola, cemitério e até no Coliseu ele se aloja ). Uma chanchadona que é de um doce saudosismo. Totó foi um graaaande comediante! Nota 7.
CLAMOR DO SEXO de Elia Kazan com Warren Beaty e Natalie Wood
Crítica abaixo... É mais um belo retrato da América feita por esse tão importante diretor. Warren está muito bem como o jovem aluno inocente e rico ( é seu primeiro filme ). Natalie não está a sua altura na primeira parte do filme, depois ela cresce e acaba por nos comover. Drama de primeira. Nota 8.
FAY GRIM de Hal Hartley com Parker Posey e Jeff Goldblum
Talvez um Alphaville? Uma brincadeira de Hartley que lamentávelmente não dá certo. Parker está muito sexy ! Mas que roteiro é esse???? Nota 2.
NINHO DE COBRAS de Joseph L. Mankiewicz com Kirk Douglas, Henry Fonda e Warren Oates
Pois bem... este é um filme muuuuito errado! Explico o porque. Temos David Newman e Robert Benton, os dois mais brilhantes roteiristas da época. Eles escrevem uma história sobre um cowboy ladrão e uma prisão de desajustados. O roteiro, típico da época contracultural, atira em xerifes, racistas, mulheres, westerns etc. Mas, chamam para dirigir o filme Joseph L. Mankiewicz, o diretor, excelente, de A Malvada. Um grande nome, mas um estranho no ninho!!! O que acontece então? Nada. O roteiro, cheio de boas ideias, é asfixiado numa direção acadêmica. O resultado é morno. Kirk é perfeito para esse tipo de perverso/espertinho e Fonda brinca com seu tipo de americano/Lincoln. Mas é Hume Cronyn, fazendo uma espécie de debilóide que mais impressiona. Não é uma grande comédia, mas é ok. Nota 6.
PASSION PLAY de Mitch Glazer com Mickey Rourke, Megan Fox e Bill Murray
A capa do dvd promete: Rourke como um trompetista de jazz decadente. O ambiente é Utah. Fox é uma angelical esperança de redenção e Murray um empresário sacana. Atraente né? Pois é um drama risível de tão ruim. Deve ter sido escrito por algum fã de cinema com 8 anos de idade ( o roteiro macaqueia Asas do Desejo e um monte de filmes noir dos anos 40 ), o diretor, é flagrante, pensava estar fazendo um bom filme, deve ser um nerd de 11 anos e quem o produziu crê que o público de cinema é imbecil. Megan Fox é um anjo ( ela tem asas )..... e na última cena Mickey Rourke voa com ela rumo ao céu.... se aqui descrito parece ruim, creia-me, é bem pior na tela. Chega a ser cretino. Sem nota. Faz de conta que jamais o vi.
SLOGAN de Pierre Grimblat com Serge Gainsbourg e Jane Birkin
Um publicitário conhece em Veneza Jane Birkin. Ele é casado. Se amam, mas Jane o abandona. Pois é.... eu gosto muito de Serge e este é o filme em que ele conheceu Jane. Mas que lixo é este? Serge é péssimo ator e Jane chega a rir em cena !!! O filme é constrangedor de tão amador!!! Não é um filme, é muito mais um documentário sobre um flerte. Nota 1.
PORTE DE LILÁS de René Clair com Pierre Brasseur e Henri Vidal
Em favela francesa ( sim, são barracos em ruinas ) um assassino se esconde. Fica no porão de um cantor fracassado e é ajudado por um tolo ingênuo. O filme tem belas imagens, mas se perde em sua excessiva glamurização da pobreza. Clair funciona melhor em fantasias puras, onde ele pode "levantar vôo". Nota 5.
ATRAVÉS DE UM ESPELHO de Ingmar Bergman com Harriet Andersson, Max Von Sydow, Lars Passgard e Gunnar Bjorsson
Uma obra-prima, devastadora. Retrato de uma personalidade em crise ou retrato de nossa condição desde sempre? Bergman nada enfeita, nada exagera, nada dramatiza. Faz o que ele pensa dever ser feito, sem jamais mudar de rumo. É um filme de tristeza polar, mas também de uma beleza profunda, seca, perturbadora. Nota DEZ.
A MINHA VISÃO DO AMOR de Richard J. Lewis com Paul Giamatti, Dustin Hoffman e Rosamund Pike
Uma coleção de clichés. Acompanhamos a vida de um mala por 3 décadas. Cliché: a década de 70 e suas drogas, a esposa doidona, a vida como irresponsável flerte. Segundo cliché: a segunda esposa é uma chata judia à woodyallen... Já a terceira esposa é dos tempos atuais, mais cliché: gente que só pensa em saúde e equilíbrio. No final, supremo cliché: violinos e pianinho enquanto ele sofre de doença incurável.... Os críticos gostaram? Pobre crítica! Paul Giamatti imita Jack Nicholson. Faz exatamente o tipo que ele faz desde 1983. Mas é bom ator. É imitação de bom nível. Dustin nada tem a fazer. Fica lá, como um tipo de velho tarado. A direção é franciscana: pobre. O filme já nasce velho e com cheiro de reprise do SBT. Nota 3.
NICOLAS CAGE/ DORIS DAY/ COCTEAU/ BERGMAN/ MANOEL DE OLIVEIRA/ JOE WRIGHT/ GABIN
FÚRIA SOBRE RODAS de Patrick Lussier com Nicolas Cage e Amber Head
Barulho e corpos decepados. Mulheres nuas em cenas não-sensuais. Machismo a enésima potência. E Cage no meio daquilo tudo. Adoro filmes de ação sem cérebro. Sou fã de Jason Statham e fui de Bruce Willis/ Mel Gibson. Mas filmes de ação precisam de leveza, de algum humor. O que vemos aqui é grosseria pura e nada de emoção. Video-game em que voce não joga, assiste e engole. Estamos no ponto mais baixo do cinema. Nota ZERO.
A TEIA DE RENDA NEGRA de David Miller com Doris Day, Rex Harrison e Myrna Loy
Um elenco superior para um filme comum. Doris é esposa aterrorizada por telefonemas anônimos. Rex é seu marido e Loy uma amiga. Tem classe, mas o roteiro não se distingue por nada de especial. Serve para fãs de Hitch que gostam de conhecer suas imitações ( meu caso ). Doris, uma atriz sempre subestimada, segura o papel. Nota 5.
INVERNO DA ALMA de Debra Granik com Jennifer Lawrence
Por entre toneladas de entulho, bando de zumbis esfomeados e drogados vaga sem destino e sem nada para se ocupar. Uma menina deprimida vai à procura do pai em meio a esse mundo lixo ( que não é o meu ). É só isso. Um filme perfeito para quem confunde arte com depressão, ou que mostrar a verdade é mostrar gente zumbi. Se voce viajar grandão no filme, voce até pode imaginar que há ali a constatação do fim da figura paterna/deus e dos restos de coisas tentando ocupar esse vazio. Vazio que é inescapável. Mas o filme é realmente tão rico? Ou ver isso é empurrar sentidos que ele não merece ter? A atriz não atua, apenas fica zanzando pelo set. Foi dificil ficar acordado. Nota ZERO.
A BELA E A FERA de Jean Cocteau com Jean Marais e Josette Day
Para se avaliar um clássico é preciso vê-lo mais de duas vezes. Na primeira vez em que vi este filme ( 1991 ) chamei-o de obra-prima. Na segunda vez ( 1999 ) apenas de um excelente filme. Agora o considero um filme interessante, bonito ( a foto é de Henri Alekan ) mas nada de tão grandioso assim. Nosso gosto se apura com o exercicio do olhar e do escutar. Em 91 o que eu conhecia de cinema? Bom..... A história é aquela do desenho Disney. Claro que numa chave mais adulta. Cocteau, para os meninos que não sabem, foi poeta, coreógrafo, pintor, diretor de cinema e escritor. Bom em todos esses ramos, genial em nenhum. Amigo de Picasso, Matisse e toda a turma boêmia da Paris 1920/1940, seus filmes sempre possuem um visual rico, sonhador, poético. Mas também apresentam sempre algo de flácido, suave demais. É o caso. Nota 6
SINGULARIDADES DE UMA RAPARIGA LOURA de Manoel de Oliveira com Ricardo Trêpa
Se Clint Eastwood viver mais vinte anos terá a idade que Manoel tem hoje. Um milagre! E tomara que Clint ( e Woody ) consigam. Manoel de Oliveira é pouco apreciado em Portugal. Seu sucesso vem da França e da Espanha. Fácil saber o porque: ele expõe aquilo que os portugueses não gostam em si-mesmos. Aqui ele pega um conto de Eça e faz um filme de uma hora, apenas. E que filme é esse? Uma radiografia sobre a facilidade com que um amor nasce dentro de uma pessoa, e a mortal capacidade que esse amor tem de se escapar. Se amar é fácil, perder um amor é mais fácil ainda. O filme nada tem de trágico. Aliás, nada tem de emocionante. A paixão é exposta como coisa fria. E o fim é ainda mais frio. As cenas nunca são bonitas, são precisas, simples, naturais. É um tipo de cinema diferente, distante, de cenas longas, nada espetaculares. Em meio a tanta bobagem é um alivio. Mas por outro lado, há uma ostentação cultural, um pedantismo que chega a irritar. De qualquer modo, quando um ator recita um poema de Fernando Pessoa ( Alberto Caieiro ) faz-se a luz. É uma cena maravilhosa. Manoel de Oliveira não é de nosso tempo. Seu filme parece ter sido feito por um contemporâneo de Machado de Assis, Proust ou Thomas Mann... E ele o é. Nota 6.
O SÉTIMO SELO de Ingmar Bergman com Max Von Sydow, Bibi Andersson e Gunnar Bjorson
Quando temos diante de nós um filme como este, tudo o que podemos fazer é ajoelhar e bater palmas. O prazer em assisti-lo é inenarrável. Se voce não compartilha desse prazer, sorry, voce não sabe o que perde. Morte, história, coragem, jogo, estes os temas do filme. Bergman constrói cenas sobre cenas que nos ficam gravadas na cabeça como sonhos acordados. É, como diz Pauline Kael, o único filme medieval que parece ter sido feito na época. Bergman compreende o que foi aquele tempo. De certa forma, ele viveu seus conflitos em termos de culpas medievais. Foi um homem que enfrentou o dragão. Inescapável marco do cinema. Nota DEZ.
ARDIDA COMO PIMENTA de David Butler com Doris Day e Howard Keel
Doris está adorável como Calamity Jane, a heroína do oeste, com jeito e roupas de homem. Keel é um cowboy seu amigo. O filme, musical, mostra sua transformação em mulher atraente. É um musical de sucesso, mas não é um dos grandes. Em que pese o talento de Doris e de Keel, o filme tem uma encenação comum, pouca ousadia em seus números. È apenas uma diversão ligeira, da época em que se produziam filmes às toneladas. Nota 6.
GAINSBOURG de Joann Sfar com Eric Elmosnino, Laetitia Casta e Lucy Gordon
Um bom filme sobre um ícone. Sfar surpreende: caso raro de bio que não sente pudor em amar seu objeto. Serge é tratado como personagem de lenda, de conto de fadas. A encenação é rica, e suas canções estão lá ( La Javannaise é a melhor ). Bacana terem lembrado de France Gal, mas bem que podiam ter dado um jeito de colocar Anna Karina. A terceira parte, quando ele encontra Birkin, é a melhor. O encontro com BB é o pior resolvido. De qualquer modo, é obrigatório para fãs, para francófilos e para quem gosta de boa música. Para o resto será uma surpresa. Eric tem atuação de gala, mas Serge não era tão feio! Lucy é uma Jane convincente ( sim, se usavam saias tão curtas ) e Laetitia está longe da beleza de BB. Pena Claudia Schiffer não ser mais jovem.... A atriz que faz Grecco nada tem da esquisitice da musa existencialista. No mais, é um filme sobre um homem muito sexólatra feito de forma estranhamente pudica.... Sinal dos tempos.... Nota 7.
HANNAH de Joe Wright com Saoirse Ronan, Cate Blanchet e Eric Bana
Ainda não passou aqui este novo filme do excelente diretor de Desejo e Reparação e de Orgulho e Preconceito. Do que trata? Saoirse ( excelente ) é uma menina criada pelo pai ( Bana ) para saber se defender. Na verdade ela é parte de uma experiencia que não deu certo. Blanchet é a agente governamental que fez parte do projeto e que agora quer eliminá-la. Sentiram o drama? É HQ das mais banais. E o filme é esquizo até o osso. Wright, um talento enorme, trabalha com esse roteiro banal e faz misérias com as cenas. Não há um excesso de cortes, não há violência demais. Mas há a criação de um clima angustiante e principalmente, Wright consegue fazer um filme de hoje que se parece com futuro distante. Vemos aquele mundo sórdido, à Blade Runner, e percebemos que é nosso mundo, é agora. Um filme cheio de erros ( o pior é a trilha sonora vulgar ) mas que deixa se perceber o talento, grande, de seu diretor. Nota 6.
A TRAVESSIA DE PARIS de Claude Autant-Lara com Jean Gabin e Bourvil
Demorou mas virei fã de Gabin. Acho que precisamos de uma certa idade para gostar de seu jeito lento, duro, seco e mal-humorado. O chapéu de lado, o cigarro em toco, as mãos gordas. O maior mito francês em cinema. Aqui ele é um pintor bem sucedido que se envolve com o contrabando na segunda guerra só para ver como é. Ele ama a vida e quer conhecer esse lado de viver entre contrabandistas desesperados. Seu camarada é um apavorado e afobado pobretão, sempre nervoso e quase estragando tudo. O que eles contrabandeiam é carne de porco ( há a morte de um porco no começo que pode ofender alguns ). O filme, filmado nas ruas escuras de Paris, é uma diversão deliciosa. Assistimos com interesse a caminhada desses dois perdidos pela cidade tomada pelo medo e por soldados nazistas. E é lindo ver a Paris escura, fria, suja, pobre, da guerra. Nota 7.
Barulho e corpos decepados. Mulheres nuas em cenas não-sensuais. Machismo a enésima potência. E Cage no meio daquilo tudo. Adoro filmes de ação sem cérebro. Sou fã de Jason Statham e fui de Bruce Willis/ Mel Gibson. Mas filmes de ação precisam de leveza, de algum humor. O que vemos aqui é grosseria pura e nada de emoção. Video-game em que voce não joga, assiste e engole. Estamos no ponto mais baixo do cinema. Nota ZERO.
A TEIA DE RENDA NEGRA de David Miller com Doris Day, Rex Harrison e Myrna Loy
Um elenco superior para um filme comum. Doris é esposa aterrorizada por telefonemas anônimos. Rex é seu marido e Loy uma amiga. Tem classe, mas o roteiro não se distingue por nada de especial. Serve para fãs de Hitch que gostam de conhecer suas imitações ( meu caso ). Doris, uma atriz sempre subestimada, segura o papel. Nota 5.
INVERNO DA ALMA de Debra Granik com Jennifer Lawrence
Por entre toneladas de entulho, bando de zumbis esfomeados e drogados vaga sem destino e sem nada para se ocupar. Uma menina deprimida vai à procura do pai em meio a esse mundo lixo ( que não é o meu ). É só isso. Um filme perfeito para quem confunde arte com depressão, ou que mostrar a verdade é mostrar gente zumbi. Se voce viajar grandão no filme, voce até pode imaginar que há ali a constatação do fim da figura paterna/deus e dos restos de coisas tentando ocupar esse vazio. Vazio que é inescapável. Mas o filme é realmente tão rico? Ou ver isso é empurrar sentidos que ele não merece ter? A atriz não atua, apenas fica zanzando pelo set. Foi dificil ficar acordado. Nota ZERO.
A BELA E A FERA de Jean Cocteau com Jean Marais e Josette Day
Para se avaliar um clássico é preciso vê-lo mais de duas vezes. Na primeira vez em que vi este filme ( 1991 ) chamei-o de obra-prima. Na segunda vez ( 1999 ) apenas de um excelente filme. Agora o considero um filme interessante, bonito ( a foto é de Henri Alekan ) mas nada de tão grandioso assim. Nosso gosto se apura com o exercicio do olhar e do escutar. Em 91 o que eu conhecia de cinema? Bom..... A história é aquela do desenho Disney. Claro que numa chave mais adulta. Cocteau, para os meninos que não sabem, foi poeta, coreógrafo, pintor, diretor de cinema e escritor. Bom em todos esses ramos, genial em nenhum. Amigo de Picasso, Matisse e toda a turma boêmia da Paris 1920/1940, seus filmes sempre possuem um visual rico, sonhador, poético. Mas também apresentam sempre algo de flácido, suave demais. É o caso. Nota 6
SINGULARIDADES DE UMA RAPARIGA LOURA de Manoel de Oliveira com Ricardo Trêpa
Se Clint Eastwood viver mais vinte anos terá a idade que Manoel tem hoje. Um milagre! E tomara que Clint ( e Woody ) consigam. Manoel de Oliveira é pouco apreciado em Portugal. Seu sucesso vem da França e da Espanha. Fácil saber o porque: ele expõe aquilo que os portugueses não gostam em si-mesmos. Aqui ele pega um conto de Eça e faz um filme de uma hora, apenas. E que filme é esse? Uma radiografia sobre a facilidade com que um amor nasce dentro de uma pessoa, e a mortal capacidade que esse amor tem de se escapar. Se amar é fácil, perder um amor é mais fácil ainda. O filme nada tem de trágico. Aliás, nada tem de emocionante. A paixão é exposta como coisa fria. E o fim é ainda mais frio. As cenas nunca são bonitas, são precisas, simples, naturais. É um tipo de cinema diferente, distante, de cenas longas, nada espetaculares. Em meio a tanta bobagem é um alivio. Mas por outro lado, há uma ostentação cultural, um pedantismo que chega a irritar. De qualquer modo, quando um ator recita um poema de Fernando Pessoa ( Alberto Caieiro ) faz-se a luz. É uma cena maravilhosa. Manoel de Oliveira não é de nosso tempo. Seu filme parece ter sido feito por um contemporâneo de Machado de Assis, Proust ou Thomas Mann... E ele o é. Nota 6.
O SÉTIMO SELO de Ingmar Bergman com Max Von Sydow, Bibi Andersson e Gunnar Bjorson
Quando temos diante de nós um filme como este, tudo o que podemos fazer é ajoelhar e bater palmas. O prazer em assisti-lo é inenarrável. Se voce não compartilha desse prazer, sorry, voce não sabe o que perde. Morte, história, coragem, jogo, estes os temas do filme. Bergman constrói cenas sobre cenas que nos ficam gravadas na cabeça como sonhos acordados. É, como diz Pauline Kael, o único filme medieval que parece ter sido feito na época. Bergman compreende o que foi aquele tempo. De certa forma, ele viveu seus conflitos em termos de culpas medievais. Foi um homem que enfrentou o dragão. Inescapável marco do cinema. Nota DEZ.
ARDIDA COMO PIMENTA de David Butler com Doris Day e Howard Keel
Doris está adorável como Calamity Jane, a heroína do oeste, com jeito e roupas de homem. Keel é um cowboy seu amigo. O filme, musical, mostra sua transformação em mulher atraente. É um musical de sucesso, mas não é um dos grandes. Em que pese o talento de Doris e de Keel, o filme tem uma encenação comum, pouca ousadia em seus números. È apenas uma diversão ligeira, da época em que se produziam filmes às toneladas. Nota 6.
GAINSBOURG de Joann Sfar com Eric Elmosnino, Laetitia Casta e Lucy Gordon
Um bom filme sobre um ícone. Sfar surpreende: caso raro de bio que não sente pudor em amar seu objeto. Serge é tratado como personagem de lenda, de conto de fadas. A encenação é rica, e suas canções estão lá ( La Javannaise é a melhor ). Bacana terem lembrado de France Gal, mas bem que podiam ter dado um jeito de colocar Anna Karina. A terceira parte, quando ele encontra Birkin, é a melhor. O encontro com BB é o pior resolvido. De qualquer modo, é obrigatório para fãs, para francófilos e para quem gosta de boa música. Para o resto será uma surpresa. Eric tem atuação de gala, mas Serge não era tão feio! Lucy é uma Jane convincente ( sim, se usavam saias tão curtas ) e Laetitia está longe da beleza de BB. Pena Claudia Schiffer não ser mais jovem.... A atriz que faz Grecco nada tem da esquisitice da musa existencialista. No mais, é um filme sobre um homem muito sexólatra feito de forma estranhamente pudica.... Sinal dos tempos.... Nota 7.
HANNAH de Joe Wright com Saoirse Ronan, Cate Blanchet e Eric Bana
Ainda não passou aqui este novo filme do excelente diretor de Desejo e Reparação e de Orgulho e Preconceito. Do que trata? Saoirse ( excelente ) é uma menina criada pelo pai ( Bana ) para saber se defender. Na verdade ela é parte de uma experiencia que não deu certo. Blanchet é a agente governamental que fez parte do projeto e que agora quer eliminá-la. Sentiram o drama? É HQ das mais banais. E o filme é esquizo até o osso. Wright, um talento enorme, trabalha com esse roteiro banal e faz misérias com as cenas. Não há um excesso de cortes, não há violência demais. Mas há a criação de um clima angustiante e principalmente, Wright consegue fazer um filme de hoje que se parece com futuro distante. Vemos aquele mundo sórdido, à Blade Runner, e percebemos que é nosso mundo, é agora. Um filme cheio de erros ( o pior é a trilha sonora vulgar ) mas que deixa se perceber o talento, grande, de seu diretor. Nota 6.
A TRAVESSIA DE PARIS de Claude Autant-Lara com Jean Gabin e Bourvil
Demorou mas virei fã de Gabin. Acho que precisamos de uma certa idade para gostar de seu jeito lento, duro, seco e mal-humorado. O chapéu de lado, o cigarro em toco, as mãos gordas. O maior mito francês em cinema. Aqui ele é um pintor bem sucedido que se envolve com o contrabando na segunda guerra só para ver como é. Ele ama a vida e quer conhecer esse lado de viver entre contrabandistas desesperados. Seu camarada é um apavorado e afobado pobretão, sempre nervoso e quase estragando tudo. O que eles contrabandeiam é carne de porco ( há a morte de um porco no começo que pode ofender alguns ). O filme, filmado nas ruas escuras de Paris, é uma diversão deliciosa. Assistimos com interesse a caminhada desses dois perdidos pela cidade tomada pelo medo e por soldados nazistas. E é lindo ver a Paris escura, fria, suja, pobre, da guerra. Nota 7.
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