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PEGUE SEU PRECONCEITO E AMARRE EM UM TIJOLO, JOGUE-O NA JANELA DE SEU CRÍTICO FAVORITO ( GENESIS-FOXTROT ) OU: PORQUE A COMUNIDADE PROG SEMPRE FOI A MAIS FELIZ DO ROCK.

Nada foi mais odiado na virada dos anos 70 para 80 que o prog rock. Criou-se a ideia de que prog eram solos sem fim e letras que não diziam nada. Gostar de prog era atestado de bobo, de cabaço, de nerd sem remissão. Nenhuma década foi mais preconceituosa que a de 80 e se voce não ouvisse Clash, PIL ou Smiths voce era uma besta. No Brasil não havia um só crítico que defendesse o gênero. Pior, gente que amara o tipo de som nos anos 70, fazia então cara de paisagem. Eu, quando moleque nunca fora dos caras que ouviam prog. Eu achava Pink Floyd meio chato, ELP eu gostava só do primeiro disco e isso era tudo. Não me dava ao trabalho de ouvir mais nada, porque era 1977 e todo cara inteligente estava atrás de punk e new wave. E eu, claro, me achava inteligente. ---------------------- Só para voces terem uma ideia, o preconceito do "não ouvi e não gostei" implantado em mim foi tão forte, que só ouvi Rush pela primeira vez aos 57 anos! Yes aos 58. E, apesar de desde os anos 2000 ter Selling England by The Pound, do Genesis, como um grande disco, só agora ouvi um outro, Foxtrot, que acabo de escutar. Primeiro é preciso dizer que as letras do prog são confusas e às vezes exageradas porque eles procuram, ao modo rock, obter aquilo que os poetas românticos tentavam: Epifanias. Se um lado inteiro de um vinil é ocupado por uma só música do Yes, isso se deve ao fato deles tentarem, por 20 minutos, atingir a tal epifania. Que comigo ocorreu já umas très vezes enquanto ouvia prog. Nenhuma com o Yes. Ainda. --------------- Saudades de uma Inglaterra que nunca existiu, mas que todo romântico do mundo tenta crer que houve. Viagens ao futuro. Pesadelos alucinógenos. Esses são os temas gerais do prog. Fato interessante é que mesmo tendo nascido no psicodelismo de Syd Barrett, do Moody Blues e do Procol Harum, o prog é dos gêneros do rock, aquele que menos apresenta casos de suicídio, tragédias ou internações. Incrivelmente a tragédia abunda no mundo do country, do blues, do metal, e no punk é regra. Já no prog não. Arrisco a dizer que isso se deve a dois fatores: 1. É o gênero que mais crê em magia benigna, em poesia da natureza, em história, em folclore e em religião. 2- Eles são músicos que adoram a música em si. Esse amor guia sua vida mesmo em meio ao caos. Seu objetivo é a beleza. Entre todos os roqueiros são os mais calmos por isso: desejam o equilíbrio e nunca o confronto ( claro que há excessões, mas aqui são raras e pontuais ). Mesmo alguém que executa peças aparentemente caóticas como Fripp, é na vida pessoal um homem pacato, de regras, frugal. Nesse caldo de medievalismo, poetas do século XVIII e naves espaciais, não há muito espaço para groupies e bebedeiras. Os três bons moços do Rush são regra e não excessão. ----------------- Foxtrot não é o melhor disco do Genesis, mas é bonito. Feito em 1972 foi o primeiro sucesso deles. Busca a epifania usando imagens de Blake e Shelley, e criando melodias que são complexas mas nunca vagas. Era uma banda muito, muito estranha. Rutherford e Hackett tocavam sentados em cadeiras, Banks tinha a postura de um pianista russo e Collins parecia um frentista. E havia Gabriel com suas fantasias absurdas, um homem bonito que escondia sua beleza. A banda era anti glamour e nisso era o oposto do Roxy Music. O romantismo abundava. Supper Ready é uma das obras primas do estilo, apaixonada até o limite. Gabriel, com sua voz de velho, parece sempre a ponto de chorar. São canções dificeis de tocar, e são por isso viciantes. Fadas, duendes, cavaleiros, bosques, luares, damas, tudo em névoas mágicas. ------------- Uma pena eu ter esperado tanto para ouvir. Ou sorte em poder ouvir pela primeira vez agora.

NUNCA OUVI E NÃO GOSTO PORQUE ME DISSERAM QUE É RUIM. ( O NARIZ DELE É UM HORROR ). EXIT...STAGE LEFT...O DIA EM QUE CAÍ NA REAL

Ah o preconceito....nós não nascemos com ele. Alguém nos ensina a desenvolver preconceito. Eu sempre odiei o grupo canadense RUSH. Isso desde pelo menos 1978. Lembro que meu melhor amigo na época tentou me fazer ouvir o 2112. Muito contra a vontade eu ouvi dois minutos e parei. O grupo era tudo aquilo que eu deveria desprezar: era meio hippie. Era prog. Não era nem black e nem new wave. Pior, nenhum crítico que eu lia falava bem do RUSH. Muito pelo contrário, eles detestavam os caras. --------------- Ezequiel Neves, meu guru, dizia que Geddy Lee parecia um pernilongo zumbindo em seu ouvido, e pior que tudo, eles eram, como toda banda prog, horrivelmente assexuados. Não tinham ginga, não sabiam dançar, eram a coisa mais anti Rolling Stones do mundo. Só babacas ouviam RUSH. Fim de papo. Outros críticos diziam que eles eram cópia infantil do YES. Sub música prog. Lixo pretensioso. Então, com tanta coisa contra, óbvio que eu criei por Geddy Lee e seus amigos uma aversão indestrutível. Junto ao Black Sabbath eram eles a pior coisa do rock. Só idiotas ouviam RUSH. E eu era culto e chique. Eu tinha bom gosto. Portanto eu escutava Bowie, Roxy Music e Kinks. Não dava pra ser mais classudo que eu. ----------------------- Uma matéria gringa dizia, em 1981, que eles eram a banda mais feia do mundo. Roupas péssimas. Rostos horrendos. Nem o Sabbath ou o Uriah Heep conseguia ser tão anti glamour. Eu ria deles. ----------------- Bem....voce já entendeu que vou falar bem dos caras não é? E voce vai perguntar: Mas porque voce mudou de opinião? E eu te respondo: Eu ouvi a banda. Após mais de 40 anos falando mal sem ouvir, eu resolvi escutar. O que me fez escutar? Eles viraram cult? Não! Claro que não. Foi apenas ve-los no Rock n roll hall of fame. Me deu curiosidade. Ao contrário do que eu pensava, eles me pareceram modestos. boa gente, easy going. E ao contrário do que a crítica dizia, não sumiram na história, não foram esquecidos, não eram ouvidos só por idiotas. Então ouço todos o seus discos gravados entre 1976-1982. E quer saber? Adorei. ------------------ Paro pra falar do disco ao vivo de 1981, este EXIT...STAGE LEFT. São mais de hora e dez de som. E não há um só minuto de tédio. Não lembram YES em nada. Na verdade nem são tão prog. Eles ficam na margem entre prog e o velho hard rock. O tipo de composição deles é cheia de meandros, é interessante. E muito bem tocada. Lee é um dos grandes contra baixos da história e Neil Peart, embora não seja o tipo de batera que gosto, é irriquieto, vulcânico, ao estilo Buddy Rich. Já Alex Lifeson é ótimo, mas some no meio dos dois mais cheios de brilho. O vocal? Sim, é um pernilongo. Mas quer saber? E daí? Funciona na riqueza sonora da banda. XANADU é uma maravilha de tão bonita. Mas YYZ, RED BARCHETTA, THE TREES, tantas outras, são tão belas quanto. O trio procura apenas isso: fazer música bonita. E eles têm o dom para isso. --------------------- O rock progressivo é música de quem conhece música clássica e por isso ele nasceu na Inglaterra e não nos EUA. Observe que progressivo nos EUA seria entendido como algo tipo jazz rock ou Frank Zappa. Americanos sempre revelerão sua raiz jazz ou blues. Não tem como. E isso é provado pelos dois movimentos mais fortes dos anos 70: o prog e o heavy metal. Nenhum dos dois tem grandes representantes nos USA. Isso porque na América a música clássica nunca foi tão "natural", "tão caseira" como era na Europa. ------------------ Heavy Metal? Sim. No Metal autêntico sempre há algo da melodia clássica ou da grandiloquência da ópera. O primeiro disco do Sabbath parece uma versão made in Newcastle de Mussorgski. E tanto Iron Maiden como Rainbow podem ter toda sua obra transferida para versão orquestral. Guitarras que correm como violinos e vocais que procuram o canto operístico. --------------- Rock pesado nos USA sempre foi Alice Cooper, Van Halen ou Aerosmith, e todos são na verdade blues com peso. Quando vem a geração Metallica e Megadeth já há uma mistura na coisa. São filhos do heavy inglês. ------------------- No prog a coisa é ainda mais braba. Não há rock progressivo sinfônico nos EUA, Fim. Um moleque inglês, nos anos 50, ouvia Beethoven na BBC TV, ouvia o pai sintonizar Bach na BBC RADIO e tinha aulas de música an escola pública. Quando formavam bandas ao estilo rock americano, cedo ou tarde enfiavam coisas de Mozart ou Haydn na mistura. O prog foi o cúmulo disso. Rock sem raiz no blues e nem no country. Era instrumental mas não era jazz. Era rock mas não dançava. Nada podia ser mais "estrangeiro" aos ouvidos dos californianos. E nada podia ser mais familiar a italianos, canadenses ou argentinos. -------------------- Acabei por me alongar, mas penso que neste ano, em que ouvi muita música erudita, ouvir RUSH e gostar é consequência natural. Eles realmente não têm nada de sexy. Mas são "interessantes". Não é pouca coisa. E produziram beleza. E isso é tudo.