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UMA NOITE ETERNIZADA PARA SEMPRE OU MAIS UM POUCO...
Ela levou um gravador. Pesou e o rolo de fita atrapalhou sua noite. Mas valeu a pena. A banda não faltou. Era 1969 e havia por volta de 60 pessoas no lugar. Ela ficou sentada numa das mesas, bem na frente do palco e ligou o PLAY REC. Agora chove e é uma primavera da década de 2020. os anos vinte de outro século. Não há como haver uma gravação AO VIVO mais ao vivo que esta que voa pelo meu quarto. Estranhamente, Lou Reed parece ter 18 anos aqui. Eu sei, nessa noite ele já tinha 26, mas a gravação passa uma energia tão real, há uma PRESENÇA tão volátil, que fico testemunhando um cara de 18 anos tentando não desistir. Em 69 o Velvet já era. Andy era outro, Nico se fora, John Cale não havia mais e Tucker saíra para ser mãe. A onda passara. Em apenas 2 anos tudo mudara. De ESTRELA DO FUTURO eram os esquecidos do passado distante. Só dois anos cara! Mas nos anos 60 dois anos eram dois séculos! O que era IN em 67 era agora OUT. E o Velvet, IN para os mais antenados de NY, era agora, em 69, menos que OUT. Vozes ao redor: um cara diz estar muito doido, outro pede cocaína. Uma menina ri. Conversam enquanto a guitarra sola. Tá tudo gravado. A banda toca como se fossem novatos, o povo não tá nem aí. Engraçado, eles não sabem não sabiam que mais de 50 anos passados aquela noite ainda tá viva, aqui no Brasil. São 45 minutos de show e eles tocam bem, rocknroll de verdade. Billy Yule tem uma bateria de baile, bem legal, e Doug Yule, pobre Doug, tava tão apaixonado por Lou que imitava a voz e o jeito do cara. Ele canta duas faixas. Alguém pede Heroine e Lou diz que esta banda não toca Heroine. O set é perfeito, mas quem liga? Não param de falar, esse bando de malucos no Max. O CD não mente, eles estavam lá pelas drogas, a banda é apenas o som do lugar. Mas uma menina levou um gravador e fixou pra sempre aquilo tudo. TODOS OS DISCOS AO VIVO DEVERIAM SER ASSIM. Porque isto é um documentário de uma noite incapturável e memorável e eterna e inexistente. Sobre uma banda que começou acabando e vive para sempre por nunca ter dado certo. Caramba! Que bela definição acabo de encontrar: a banda que nunca deu certo. Mas que perdura e dura. Senhores, que puta disco!
VU THE VELVET UNDERGROUND.....FAIXAS PERDIDAS E REENCONTRADAS
1985. Jesus and Mary Chain nas paradas. E Lloyd Cole. Então lançam um disco com 10 faixas perdidas do Velvet Underground. Era o momento certo, porque essa galera amava o VU. E para minha imensa surpresa, a banda de Lou Reed volta a viver. Mais incrível ainda: nos anos 80 o VU desbanca os Beatles como o grupo mais influente do mundo. Na década seguinte eles ficariam solidificados como uma das top 5 para sempre. Mas em 1985, que ótimo, os VU pareciam novos. Ao lado de bandas dark eles eram a coisa autêntica. ----------- Eu comprei VU correndo! E ouvi todo dia por quase um ano. Eis o que sinto o escutando em 2021. -------------------- É passado. O mundo amestrado de agora nada tem a ver com a força primitiva de Lou e seus caras. O VU era uma banda suicida e em 2021 até o suicídio parece domado. Drogas hoje são recreação ou modo de fuga para o medo. Em VU elas são o que são: modo tenebroso de morrer aos poucos. Há prazer, mas há uma cuspida na própria face. Lou não foge da sujeira como não foge do ruído. Nada há de fake aqui. O perigo ainda não era uma diversão. Ele era horrível. ------------------i cant stand it é a coisa mais pop que eles fizeram. É 1968 e no meio da alegria burra dos hippies ele se desespera. Não há guitarra mais ácida. A batera, Maureen Tucker, é uma seringa. Não dá pra ficar mais. Fist sex e chicotes sem anestesia. Em 2021 isso é moda de meninas de 17 anos viciadas na internet. ------------------------- Stephanie Says e Lisa Says em seguida. Lou é doce. Ele usa pomada antes de penetrar. Sorry baby, não há como falar de Lou sem ser de verdade. Lou é doce como açucar cheio de fezes de moscas. E mesmo assim o filha da puta produz beleza. ---------------- Ocean....a coisa mais próxima de psicodelismo que Lou ousou desfazer. É muito foda. ATENÇÃO....todas as versões aqui são melhores que em seus discos oficiais. São gravações de prima, em 1968. ----------------- Foggy Notion é uma das coisas mais safas que já foi feita por alguém. É mais que alegre, é eufórica. A gente escuta 20 vezes seguidas. Pra repetir depois. ------------- Temptation Inside my Heart.... no mundo ideal teria sido number one Billboard em 69. Nunca foi. Percussão e timbre de guitarra são o céu de meus ouvidos. Se essas faixas tivessem sido lançadas como album em 69 teríamos um dos grandes discos da época dos grandes discos. --------------- one of these days é uma canção bêbada e pasmem, Lou tem poucas canções bêbadas. Surreal. -------------- andys chest reapareceria em Transformer radicalmente modificada por Mick Ronson. Aqui ela é 100% Reed. Ouve. ------------------ im stick with you....é um disco perfeito. ------------------ VU é o LP mais pop dos VU. E é tão bom quanto qualquer um dos outros 4. Ouvir em 2021 esta obra prima é lembrar da amarga vida que se amava viver então. Ninguém cantou a amargura de modo tão corajoso. Lou cantava na bosta, e Lou tinha a espinha sempre ereta. Ele era foda. Ele é foda. Pra sempre.
A MAIOR EXPERIÊNCIA MUSICAL DA MINHA VIDA
Os móveis da sala eram novos. Todos eles. Então havia cheiro de pano e aço novo. Vidro. A noite era quente e era sábado. Nove da noite, 1981. Numa loja do Shopping Iguatemi, Museu do Disco, eu navegara entre capas de discos muito raros e muito caros. Importados dos EUA e da GB. The Who. Grateful Dead. Hendrix. Nada disso existia por aqui em vinyl. Mas o que mais me impressionava eram os discos de art rock: John Cale. Eno. Fripp. Então vi um disco de uma banda que eu ouvia falar desde meus 13 anos de idade, o tal Velvet Undergorund. Comprei White Light White Heat sem jamais ter escutado nem um segundo do som deles. Paguei caro, em dinheiro de hoje cerca de 300 reais. Na sala de casa botei na vitrola nova, com caixas de som imensas. O selo do LP era azul e creme, da MGM. Sabe voce o que é botar a agulha sobre um sulco que contém som que voce nunca ouviu e não faz a mínima ideia de como é? Suspense. Respiração presa. Seria essa banda barulhenta? Um tipo de Led Zeppelin? Punk rock? Como seria? White Light...que porra é essa? Um pianinho e um monte de som abafado ao fundo. Que péssima mixagem!!!! Oooooooh...white light....oooooooooh white heat.....Então era isso? Divertido! Então The Gift. Um cara falando enquanto toca uma rebolativa guitarra ácida. Sexy. Ousado. Louco. ---------------- O famoso lado B mudou minha vida. Ruído. Barulho. Avalanche sonora. Kaos. Pesadelo. Escuridão. O Paulo que saiu do outro lado deste disco não era mais o mesmo. Ouvir esse disco foi meu buraco de coelho. Audições diárias pelos meses seguintes. No escuro. Me perdendo. O som me soterrando. Toneladas de ruído. Minha heroína em forma de vinyl. ------------------------------------------------------------------Eu fui maluco por rock a vida inteira. Falo pra todos que quiserem ouvir: ninguém gostou mais de rock que eu. Voce pode ter gostado igual, mais que eu, não. Lembro da primeira vez em que ouvi cada um dos discos que me marcaram. Lembro da hora do dia, como estava o clima, onde escutei, o que senti, que idade eu tinha. Nenhum disco me marcou mais que o segundo disco do Velvet Underground. White Light White Heat. ----------- Mais que apenas som, o Velvet era a porta para um universo. --- Todd Haynes está lançando um doc sobre esta banda.
LOU REED TRANSFORMER - VICTOR BOCKRIS
A primeira vez em que ouvi falar de Lou Reed foi na revista POP, da Abril, em 1975. Uma matéria de 4 páginas coloridas. Na primeira foto a gente via Lou tocando guitarra. De cara já estranhei. O cara tinha cabelo curto, a expressão era de um tipo de bandido antipático e usava roupa preta. Em 75 ninguém no rock usava preto. O texto falava de seu sucesso e do Velvet. A banda de Lou, Andy e Cale já era mito então. O som deles era descrito como barulhento, sujo, anticomercial. No mundo de então, sem internet e MTV, tudo o que podíamos fazer era criar com a imaginação. Então imaginei que o som do Velvet fosse um tipo de Led Zeppelin ainda mais alto e pesado. Só os escutei cinco anos mais tarde, no fim de 1980.
Comprei White Light no Museu do Disco, uma memorável noite no shopping Iguatemi. Pus na vitrola às 23 horas daquele sábado. Após cinco anos de imaginação o que veio não se parecia com nada do que eu havia escutado. Ou imaginado. Não era Heavy, nem Hard, nem Prog, nem Jazz, nem nada. Mas eu não estou aqui para falar desse disco, o mais amado, e sim para falar desta biografia. Foi Brian Eno quem criou a frase de que o Velvet vendeu pouco, mas cada disco vendido era uma nova banda criada. De Roxy Music à Patti Smith, de Buzzcocks à Talking Heads, todos beberam na fonte e nenhum deles se parece com o Velvet. A banda foi um milagre. O maior do rock.
Lou foi eletrocutado por ordens dos pais. Ricos judeus de NY, eles queriam curar o filho da viadagem. O amavam a seu modo, e foram vítimas da psiquiatria da época. A mente de Lou foi afetada ( ele tinha 17 anos ). Se tornou alienado de si mesmo para sempre.
Foi um universitário rebelde, briguento, boca suja. Muito desagradável. Ninguém se sentia à vontade perto dele. E mesmo assim namorou a menina mais linda de Syracuse. Por anos. Seu interesse em sexo era mínimo, o que ele queria era sair de casa e ser poeta. Caiu na vida. Se viciou em anfetaminas, em speed injetável e até a década de 90 esteve sempre chapado.
Lou foi trabalhar numa gravadora porcaria e lá compunha pop lixo. Então formou uma banda mais de garagem. E se enturmou com Andy Warhol. Lou Reed sempre soube o que queria e sempre se uniu a quem podia o ajudar. Para depois descartar a pessoa sem remorso algum. Andy quis formar uma banda para musicar seus videos. Montou o Velvet dando à Lou a liderança. Vieram Mo Tucker, uma baterista que ninguém sabia de que sexo era, Sterling Morrison, um grande guitarrista, e John Cale, um músico erudito que desejava fazer no Velvet sinfonias do caos. Enquanto eles estiveram juntos foi histórico. De 1965 à 1967, sozinhos, eles mudaram para sempre a música do ocidente. Criaram do nada aquilo que entendemos por punk, indie, alternativo, bizarro, underground, sadomasoquismo chic, cool, dark, soturno, rockn roll. Mas Lou Reed sempre foi um merda, e estragou tudo.
Chutou Andy. Por ciúmes de seu carisma. Chutou Nico, porque queria cantar sozinho. E, que merda Lou!!!!, chutou John Cale, e destruiu assim o verdadeiro Velvet Underground. O VU sem Cale é como Stones sem Keith ou Beatles sem John. Virou a banda de um cara só, Lou, e o terceiro disco, por melhor que seja, não é VU, é solo de Lou. A aventura sonora criada pelos quatro ( todos compunham tudo no estúdio, Lou assinava ), partiu. Nunca mais.
Duas curiosidades: White Light foi gravado sem engenheiro de som. Os engenheiros da Verve não suportavam ouvir a gravação e iam pra rua, deixando tudo ligado sem comando, e voltavam após 3 horas. O disco realmente se gravou sozinho.
White Light, nas palavras de Lou, é um disco sobre astrologia. Ele é de peixes e cada faixa representa a luta entre peixes e virgem. Assim, a faixa um é peixes, a dois é a resposta de virgem e a luta se derrama pelo resto do disco.
Em 1970, quando a banda acaba com o banal Loaded, tentativa de fazerem do VU um novo Beatles; Lou deprimido vai morar com os pais. Depois de um ano e meio isolado e esquecido, volta graças a ajuda de Richard Robinson, influente crítico de rock e escritor que produz seu primeiro solo: Lou Reed. Um fracasso absoluto.
Mas vinham novas da Inglaterra. Toda uma nova geração não-hippie adorava Lou. E ele foi apresentado a seu maior fã, David Bowie. E nasce TRANSFORMER. Produzido por Bowie e Mick Ronson, com o piano lindo de Ronson, a guitarra nasal de Ronson e os bcking vocals e violinos de....Ronson. Lou Reed se torna uma estrela em 1972. Mas...
Claro que ele tinha de brigar com Bowie. Com Robinson. Com todos os críticos de rock. Ah...Lou...essa sua língua....Lou adorava odiar...chamava Dylan de chorão, Zappa de hippie medíocre, Alice Cooper de palhaço, e Bowie de invejoso...Ah Lou...
Grava Berlin, o disco em que ele apostou tudo. E o disco fracassa. Os críticos são impiedosos. Quanta bobagem se escreveu na época! E Lou Reed desiste. O livro diz que ele NUNCA MAIS gravou nada com 100% de comprometimento. A ferida de Berlin ficou até o fim da vida. Uma frase de Lou define tudo: " Em 1965 eu realmente acreditei que a inteligência iria um dia mandar no rock...Não deu certo. Eu me iludi."
Vieram dois discos ao vivo, Coney Island Baby, seu casamento com um travesti, Sally Can't Dance, Metal Machine Music ( sua melhor piada ), e o punk.
Lou frequentava o CBGS. E lá, em janeiro de 1976, ele foi entrevistado por dois garotos de 16 anos. Eles lançaram o número um da revista PUNK com Lou na capa e pronto: Lou era o pai do punk, Lou era o cara. Os punks podiam atacar tudo, mas Lou e o Velvet não. ( Não vamos esquecer que John Cale produziu os primeiros discos de Patti Smith, Stooges, Modern Lovers ).
E como sempre Lou estragou tudo. Hiper viciado em tudo, tudo, tudo, ( menos drogas de hippies: maconha e LSD ), seus discos eram lentos, chatos, mal gravados. Ele não soube ou não quis se aproveitar desse bom momento punk. Perdeu mais um barco.
A história de Lou Reed é a história de um triunfo que reverbera sem fim, e de alguns poucos sucessos que ameaçam reviver o triunfo do começo. A impressão é que ele sempre teve medo do sucesso, medo de precisar segurar uma missão. E ao mesmo tempo tinha a vaidade de um Mick Jagger, queria ser amado, seguido, idolatrado. Nessa briga interna ele gastou quase toda sua energia. O pouco que restava ia para os discos e os shows.
Mas ninguém nunca vai esquecer o VU. Fazem já longos 36 anos que os ouvi pela primeira vez. Nenhum dos meus amigos gostou. Só eu e meu irmão. Mas hoje, em 2016, meio século depois do auge da banda, eles continuam soando corajosos, esquisitos, darks, o símbolo de tudo o que é independente, sem compromissos...genial.
Em toda a história do rock NADA se compara ao VU. E se John, Sterling, Nico, Mo eram parte vital da coisa, Lou era dono das letras, das ideias, da primeira fagulha.
Não aceito a morte de Lou. Sua partida para mim foi mais dolorosa que a de Bowie. Esqueço que ele morreu. Não quero acreditar. Porque o rock fica vazio, bobo, estúpido sem ele.
Lou Reed era um grande merda. Vaidoso, mentiroso, egocêntrico, injusto, violento, mau...mas todos nós o amamos. E isso é genial.
Comprei White Light no Museu do Disco, uma memorável noite no shopping Iguatemi. Pus na vitrola às 23 horas daquele sábado. Após cinco anos de imaginação o que veio não se parecia com nada do que eu havia escutado. Ou imaginado. Não era Heavy, nem Hard, nem Prog, nem Jazz, nem nada. Mas eu não estou aqui para falar desse disco, o mais amado, e sim para falar desta biografia. Foi Brian Eno quem criou a frase de que o Velvet vendeu pouco, mas cada disco vendido era uma nova banda criada. De Roxy Music à Patti Smith, de Buzzcocks à Talking Heads, todos beberam na fonte e nenhum deles se parece com o Velvet. A banda foi um milagre. O maior do rock.
Lou foi eletrocutado por ordens dos pais. Ricos judeus de NY, eles queriam curar o filho da viadagem. O amavam a seu modo, e foram vítimas da psiquiatria da época. A mente de Lou foi afetada ( ele tinha 17 anos ). Se tornou alienado de si mesmo para sempre.
Foi um universitário rebelde, briguento, boca suja. Muito desagradável. Ninguém se sentia à vontade perto dele. E mesmo assim namorou a menina mais linda de Syracuse. Por anos. Seu interesse em sexo era mínimo, o que ele queria era sair de casa e ser poeta. Caiu na vida. Se viciou em anfetaminas, em speed injetável e até a década de 90 esteve sempre chapado.
Lou foi trabalhar numa gravadora porcaria e lá compunha pop lixo. Então formou uma banda mais de garagem. E se enturmou com Andy Warhol. Lou Reed sempre soube o que queria e sempre se uniu a quem podia o ajudar. Para depois descartar a pessoa sem remorso algum. Andy quis formar uma banda para musicar seus videos. Montou o Velvet dando à Lou a liderança. Vieram Mo Tucker, uma baterista que ninguém sabia de que sexo era, Sterling Morrison, um grande guitarrista, e John Cale, um músico erudito que desejava fazer no Velvet sinfonias do caos. Enquanto eles estiveram juntos foi histórico. De 1965 à 1967, sozinhos, eles mudaram para sempre a música do ocidente. Criaram do nada aquilo que entendemos por punk, indie, alternativo, bizarro, underground, sadomasoquismo chic, cool, dark, soturno, rockn roll. Mas Lou Reed sempre foi um merda, e estragou tudo.
Chutou Andy. Por ciúmes de seu carisma. Chutou Nico, porque queria cantar sozinho. E, que merda Lou!!!!, chutou John Cale, e destruiu assim o verdadeiro Velvet Underground. O VU sem Cale é como Stones sem Keith ou Beatles sem John. Virou a banda de um cara só, Lou, e o terceiro disco, por melhor que seja, não é VU, é solo de Lou. A aventura sonora criada pelos quatro ( todos compunham tudo no estúdio, Lou assinava ), partiu. Nunca mais.
Duas curiosidades: White Light foi gravado sem engenheiro de som. Os engenheiros da Verve não suportavam ouvir a gravação e iam pra rua, deixando tudo ligado sem comando, e voltavam após 3 horas. O disco realmente se gravou sozinho.
White Light, nas palavras de Lou, é um disco sobre astrologia. Ele é de peixes e cada faixa representa a luta entre peixes e virgem. Assim, a faixa um é peixes, a dois é a resposta de virgem e a luta se derrama pelo resto do disco.
Em 1970, quando a banda acaba com o banal Loaded, tentativa de fazerem do VU um novo Beatles; Lou deprimido vai morar com os pais. Depois de um ano e meio isolado e esquecido, volta graças a ajuda de Richard Robinson, influente crítico de rock e escritor que produz seu primeiro solo: Lou Reed. Um fracasso absoluto.
Mas vinham novas da Inglaterra. Toda uma nova geração não-hippie adorava Lou. E ele foi apresentado a seu maior fã, David Bowie. E nasce TRANSFORMER. Produzido por Bowie e Mick Ronson, com o piano lindo de Ronson, a guitarra nasal de Ronson e os bcking vocals e violinos de....Ronson. Lou Reed se torna uma estrela em 1972. Mas...
Claro que ele tinha de brigar com Bowie. Com Robinson. Com todos os críticos de rock. Ah...Lou...essa sua língua....Lou adorava odiar...chamava Dylan de chorão, Zappa de hippie medíocre, Alice Cooper de palhaço, e Bowie de invejoso...Ah Lou...
Grava Berlin, o disco em que ele apostou tudo. E o disco fracassa. Os críticos são impiedosos. Quanta bobagem se escreveu na época! E Lou Reed desiste. O livro diz que ele NUNCA MAIS gravou nada com 100% de comprometimento. A ferida de Berlin ficou até o fim da vida. Uma frase de Lou define tudo: " Em 1965 eu realmente acreditei que a inteligência iria um dia mandar no rock...Não deu certo. Eu me iludi."
Vieram dois discos ao vivo, Coney Island Baby, seu casamento com um travesti, Sally Can't Dance, Metal Machine Music ( sua melhor piada ), e o punk.
Lou frequentava o CBGS. E lá, em janeiro de 1976, ele foi entrevistado por dois garotos de 16 anos. Eles lançaram o número um da revista PUNK com Lou na capa e pronto: Lou era o pai do punk, Lou era o cara. Os punks podiam atacar tudo, mas Lou e o Velvet não. ( Não vamos esquecer que John Cale produziu os primeiros discos de Patti Smith, Stooges, Modern Lovers ).
E como sempre Lou estragou tudo. Hiper viciado em tudo, tudo, tudo, ( menos drogas de hippies: maconha e LSD ), seus discos eram lentos, chatos, mal gravados. Ele não soube ou não quis se aproveitar desse bom momento punk. Perdeu mais um barco.
A história de Lou Reed é a história de um triunfo que reverbera sem fim, e de alguns poucos sucessos que ameaçam reviver o triunfo do começo. A impressão é que ele sempre teve medo do sucesso, medo de precisar segurar uma missão. E ao mesmo tempo tinha a vaidade de um Mick Jagger, queria ser amado, seguido, idolatrado. Nessa briga interna ele gastou quase toda sua energia. O pouco que restava ia para os discos e os shows.
Mas ninguém nunca vai esquecer o VU. Fazem já longos 36 anos que os ouvi pela primeira vez. Nenhum dos meus amigos gostou. Só eu e meu irmão. Mas hoje, em 2016, meio século depois do auge da banda, eles continuam soando corajosos, esquisitos, darks, o símbolo de tudo o que é independente, sem compromissos...genial.
Em toda a história do rock NADA se compara ao VU. E se John, Sterling, Nico, Mo eram parte vital da coisa, Lou era dono das letras, das ideias, da primeira fagulha.
Não aceito a morte de Lou. Sua partida para mim foi mais dolorosa que a de Bowie. Esqueço que ele morreu. Não quero acreditar. Porque o rock fica vazio, bobo, estúpido sem ele.
Lou Reed era um grande merda. Vaidoso, mentiroso, egocêntrico, injusto, violento, mau...mas todos nós o amamos. E isso é genial.
SO' GAROTOS....PATTI SMITH
A frase que revela a alma de Patti é dita quando ela diz que Robert não conseguia perceber o romantismo da febre, de se estar doente. Ela percebe. Patti é uma romantica. Rimbaud, Baudelaire, Rousseau são guias. Sua geração foi a ultima geração culta do rock. Depois existiram românticos, mas artísticos de verdade não.
O rock é coisa pura, energia sem razão. Isso é maravilhoso, isso foi único. Com Dylan o intelectualismo invadiu a coisa. Esse intelectualismo quase matou o rock, mas trouxe Zappa, Joni Mitchell e acima de tudo o VELVET UNDERGROUND. Patti nada tinha a ver com o mundo do rock. ComoLaurie Anderson, David Byrne ou August Darnell, sua praia é outra, a poesia. Patti poderia ser uma chata. Não é. Ingenua sempre. Uma pessoa adorável.
Sam Sheppard namorou Patti Smith! Isso é incrível! Para quem não lembra, Sam escreveu o roteiro de PARIS/TEXAS, fez o papel de Chuck Yeager em OS ELEITOS, e é marido de JESSICA LANGE desde os anos 80.
Não espere ler aqui sobre rock. Ele é sobre boemia. Sobre um casal apaixonado. Sobre o estranho Mapplethorpe e a boazinha Patti Smith. A Esta ira, e o modo como Rimbaud, Keith Richards e JESUS CRISTO guiaram a vida dessa menina sem igual.
O livro também mostra o contraste entre a década de 60 e a de 70. A primeira foi utópica, trágica e infantil. A dos 70 foi cínica, egocêntrica e centrada no culto às celebridades.
Eu lembro de quando saiu Horses. Causou surpresa por ser sem rótulo. Não era folk, nem hard, prog ou pop. Lançado em ano de transição, foi, ao lado de Born to Run, de Springsteen, disco do ano. Depois inventaram que ela era punk!???!!! Nunca foi! Patti ignora Stooges, MC5 E OS DOLLS. PATTI foi da mesma matriz de Lou Reed, arte, Andy Warhol, beats, cinema, franceses.
França... Faz falta essa influência boemia/Montmartre no rock de hoje. Ambição...
Devore o livro! É bom pacas!
O rock é coisa pura, energia sem razão. Isso é maravilhoso, isso foi único. Com Dylan o intelectualismo invadiu a coisa. Esse intelectualismo quase matou o rock, mas trouxe Zappa, Joni Mitchell e acima de tudo o VELVET UNDERGROUND. Patti nada tinha a ver com o mundo do rock. ComoLaurie Anderson, David Byrne ou August Darnell, sua praia é outra, a poesia. Patti poderia ser uma chata. Não é. Ingenua sempre. Uma pessoa adorável.
Sam Sheppard namorou Patti Smith! Isso é incrível! Para quem não lembra, Sam escreveu o roteiro de PARIS/TEXAS, fez o papel de Chuck Yeager em OS ELEITOS, e é marido de JESSICA LANGE desde os anos 80.
Não espere ler aqui sobre rock. Ele é sobre boemia. Sobre um casal apaixonado. Sobre o estranho Mapplethorpe e a boazinha Patti Smith. A Esta ira, e o modo como Rimbaud, Keith Richards e JESUS CRISTO guiaram a vida dessa menina sem igual.
O livro também mostra o contraste entre a década de 60 e a de 70. A primeira foi utópica, trágica e infantil. A dos 70 foi cínica, egocêntrica e centrada no culto às celebridades.
Eu lembro de quando saiu Horses. Causou surpresa por ser sem rótulo. Não era folk, nem hard, prog ou pop. Lançado em ano de transição, foi, ao lado de Born to Run, de Springsteen, disco do ano. Depois inventaram que ela era punk!???!!! Nunca foi! Patti ignora Stooges, MC5 E OS DOLLS. PATTI foi da mesma matriz de Lou Reed, arte, Andy Warhol, beats, cinema, franceses.
França... Faz falta essa influência boemia/Montmartre no rock de hoje. Ambição...
Devore o livro! É bom pacas!
DAVID BOWIE REVISITED ( A SEGUNDA VISITA A EXPO BOWIE, UMA REFLEXÃO SOBRE NOSSO MUNDO )
Uso propositalmente o título de livro de Evelyn Waugh. Waugh é um dos autores que Bowie ama e Brideshead Revisited, embora esteja longe de ser o melhor livro de Waugh é o mais famoso graças a série da BBC de 1982. Bowie copiou o visual Brideshead em Let`s Dance. Na verdade o estilo espiritual do livro, uma nostálgica incursão por uma Inglaterra em extinção, foi um dos guias da carreira de David desde sempre. Um dos, veja bem. Ele tem vários e talvez o melhor momento tenha sido o encontro com a Berlin de Isherwood em 1977. Uma Berlin que era pura ficção e por isso atemporal.
Volto a exposição, e agora sem expectativas exageradas, me divirto. Relaxo e flutuo entre a memorabilia de Ziggy. É 2014, faz 40 anos que meu irmão, na época com 9 anos, comprou Diamond Dogs ( que não é o melhor disco de Bowie mas é aquele que mais adoro ). Na verdade foi em dezembro de 1974. Ele comprou Dogs enquanto eu comprava Caribou, do Elton John. São dicas de nossas diferenças. Ele em música sempre mais radical e eu sempre mais pop. Em música, fique bem dito.
A sala que fala de Berlin exerce fascínio em mim. Objetos que são expostos como reliquias para aqueles que foram catequisados na Bowie-fé. A capa de LOW é o Santo Graal. Ninguém nascido após 1970 pode imaginar o impacto daquele disco. Tento explicar para minha amiga. Em um mundo que esperava de um rock star roupas tipo Robert Plant/ Keith Richards, os ternos de Bowie e o cabelo curto causavam muita estranheza ( apesar do dinner jacket de Bryan Ferry ter surgido em 1974 ). Mais esquisitice e risco era Bowie gravar Young Americans, um disco que louvava tudo aquilo que um rocker mais odiava: a música semi-disco da Philadelphia. Não era o som negro de Sly ou de James Brown. Não era Stevie Wonder ou Marvin Gaye. Esses os Stones desde sempre idolatravam. Era o som de Harold Melvin, Stylistics, Billy Paul. E isso foi um risco gigantesco. Ele poderia ter perdido seu público tipo Ziggy e fracassado em alcançar o povo fashion. Acertou. Chegou aos píncaros da Billboard em 1975. Pois bem, LOW foi esse risco levado ao extremo. Lá ele corre outro tipo de risco, o risco de ser futurista. Abraça o rock alemão, que vendia quase nada, e aponta o que seria a arte dos anos 80: gélido, super sintético, jogo de máscaras. Sempre teria sido mais fácil repetir Ziggy ao infinito. repetir Young Americans por 30 anos. Passar toda a década de LOW refazendo LOW. Mas não. Changes forever.
Nos anos 90 ele se daria muito bem se voltasse a ser Alladin Sane. E neste século ele seria rei-again se refizesse Scary Monsters ao infinito. ( com as participações de Johnny Greenwood e Bobby Gillespie ). Mas não.
Vejo agora uma sala que não visitei da outra vez. Sem fones, é a sala de pura música. Suas influências. Uma coisa mágica: a sala de visitas de uma casa inglesa de 1960 que vai se modificando conforme o assunto que Bowie fala. Imagine, em 1967 ele fundou uma associação em defesa dos cabeludos e foi entrevistado pela BBC. Tá lá, numa tela. E em meio a seu sax, os singles, um violão lindo...o acetato original do primeiro disco do Velvet Underground. Ora...Aqui, em março de 2014, em SP, as 14 horas, encontro o Santo Graal. De sua negra plasticidade emana todo um novo mundo de dor, de liberdade e de falsa emoção: nosso mundinho... Ah....se eu pudesse me ajoelhar sem parecer fake!
Saio para o calor do mundo irreal e sorrio.
David e seus amigos benzem meu destino.
Amém.
Volto a exposição, e agora sem expectativas exageradas, me divirto. Relaxo e flutuo entre a memorabilia de Ziggy. É 2014, faz 40 anos que meu irmão, na época com 9 anos, comprou Diamond Dogs ( que não é o melhor disco de Bowie mas é aquele que mais adoro ). Na verdade foi em dezembro de 1974. Ele comprou Dogs enquanto eu comprava Caribou, do Elton John. São dicas de nossas diferenças. Ele em música sempre mais radical e eu sempre mais pop. Em música, fique bem dito.
A sala que fala de Berlin exerce fascínio em mim. Objetos que são expostos como reliquias para aqueles que foram catequisados na Bowie-fé. A capa de LOW é o Santo Graal. Ninguém nascido após 1970 pode imaginar o impacto daquele disco. Tento explicar para minha amiga. Em um mundo que esperava de um rock star roupas tipo Robert Plant/ Keith Richards, os ternos de Bowie e o cabelo curto causavam muita estranheza ( apesar do dinner jacket de Bryan Ferry ter surgido em 1974 ). Mais esquisitice e risco era Bowie gravar Young Americans, um disco que louvava tudo aquilo que um rocker mais odiava: a música semi-disco da Philadelphia. Não era o som negro de Sly ou de James Brown. Não era Stevie Wonder ou Marvin Gaye. Esses os Stones desde sempre idolatravam. Era o som de Harold Melvin, Stylistics, Billy Paul. E isso foi um risco gigantesco. Ele poderia ter perdido seu público tipo Ziggy e fracassado em alcançar o povo fashion. Acertou. Chegou aos píncaros da Billboard em 1975. Pois bem, LOW foi esse risco levado ao extremo. Lá ele corre outro tipo de risco, o risco de ser futurista. Abraça o rock alemão, que vendia quase nada, e aponta o que seria a arte dos anos 80: gélido, super sintético, jogo de máscaras. Sempre teria sido mais fácil repetir Ziggy ao infinito. repetir Young Americans por 30 anos. Passar toda a década de LOW refazendo LOW. Mas não. Changes forever.
Nos anos 90 ele se daria muito bem se voltasse a ser Alladin Sane. E neste século ele seria rei-again se refizesse Scary Monsters ao infinito. ( com as participações de Johnny Greenwood e Bobby Gillespie ). Mas não.
Vejo agora uma sala que não visitei da outra vez. Sem fones, é a sala de pura música. Suas influências. Uma coisa mágica: a sala de visitas de uma casa inglesa de 1960 que vai se modificando conforme o assunto que Bowie fala. Imagine, em 1967 ele fundou uma associação em defesa dos cabeludos e foi entrevistado pela BBC. Tá lá, numa tela. E em meio a seu sax, os singles, um violão lindo...o acetato original do primeiro disco do Velvet Underground. Ora...Aqui, em março de 2014, em SP, as 14 horas, encontro o Santo Graal. De sua negra plasticidade emana todo um novo mundo de dor, de liberdade e de falsa emoção: nosso mundinho... Ah....se eu pudesse me ajoelhar sem parecer fake!
Saio para o calor do mundo irreal e sorrio.
David e seus amigos benzem meu destino.
Amém.
DANGEROUS GLITTER- DAVE THOMPSON, E O MUNDO NUNCA MAIS FOI COMO ANTES
Tudo começa com Andy Warhol. Ele queria uma banda "assim tipo essa coisa, hum....rock" e um dos caras da Factory achou a tal banda. Era a banda de um tal de Lewis Reed, um cara que tomara eletrochoques aos 17 anos, por ordem do pai milionário, pra ver se "ele deixa de ser viado". Reed gostava de Bob Dylan e compunha folks. E o melhor, era vaiado sempre.
Nico era alemã e foi topar na Factory. Era o molde do que viria a ser uma descolada hoje. Namorada de Bob Dylan, atriz, modelo, cantora, atuara com Fellini. Andy resolveu botar Nico pra cantar as músicas "....uh....do Lou Reed, nada de Lewis..."
Na Factory morava todo mundo: bichas, travestis, bandidos, cineastas, drogados, poetas, e os bobos também. Um cara de Gales apareceu por lá...John Cale era músico erudito, tão louco quanto Reed, com uma diferença, Cale detestava Bob Dylan. Andy botou ele na banda com sua viola torta e uns teclados ""tipo uh....Cage... John Cage. John e Lou se gostaram. Ambos liam as mesmas coisas.
O primeiro show foi num congresso de psiquiatras. Foram vaiados. Nico ensinou Reed a ser cínico. a ter raiva, a ser cool. Vestidos de preto, eles queriam matar os hippies. Odiavam a costa oeste.
Nico passou a namorar Brian Jones. E um dia levou a um show um outro namorado, um cara meio tosco de Detroit, um tal de James Osterberg. Ele tinha uma casa chamada Fun House, no mato, vivia lá com uns amigos. Nico foi pra lá e mudou o cabelo de James, lhe deu uns toques sobre atitude, e foi embora sem olhar pra trás. Foi dormir com Jim Morrison.
O cara virou Iggy Pop e John Cale produziu seu primeiro disco. Iggy era uma besta. Um idiota. Genial.
Lou Reed se achava o máximo. E por causa disso John Cale se foi. E com Cale se foi todo o ruído. E depois se foi Andy Warhol, e com ele se foi o fascínio chic. Lou ficou mais Dylan. E então, cansado de ser vaiado, de ser agredido, cansado do fracasso, foi pra casa.
Na Inglaterra um cara metido a ator não sabia se queria ser Brando ou Elvis. Foi levado a New York para conhecer Andy Warhol. Estava doido para encontrar Lou Reed. Reed não lhe deu bola, foi snob com ele. Voltou pra Londres e continuou sendo um fracasso. Ele compunha canções lindas, mas era um tempo em que todo cara novo tinha de seguir o estilo progressivo ou hard rock. E ele, David Bowie, era apenas pop. Mas um pop esquisito, pop feito por quem tinha pretensão, cultura, gosto. E era poeta. David Bowie tentava fazer sucesso sem fazer concessão. E nada.
Well....Marc Bolan era amigo de Bowie, e Marc abriu um caminho psicodélico. Violão e voz. Até que Tony Visconti insistiu para que ele usasse uma guitarra elétrica e Marc botou o glam nas paradas. Nascia o auge do rock inglês. A ilha nunca mais seria a mesma.
Mas nesse momento, 1971, em que T.Rex estoura, Bowie ainda era um nada, Lou voltara a morar com os pais e Iggy estava morto para as gravadoras.
E então Bowie encontra Tony Visconti. E conhece o novo Jeff Beck, um tal de Mick Ronson...E então Bowie tem a ideia, fazer uma Factory inglesa!!!!!
E o resto conto depois....
Nico era alemã e foi topar na Factory. Era o molde do que viria a ser uma descolada hoje. Namorada de Bob Dylan, atriz, modelo, cantora, atuara com Fellini. Andy resolveu botar Nico pra cantar as músicas "....uh....do Lou Reed, nada de Lewis..."
Na Factory morava todo mundo: bichas, travestis, bandidos, cineastas, drogados, poetas, e os bobos também. Um cara de Gales apareceu por lá...John Cale era músico erudito, tão louco quanto Reed, com uma diferença, Cale detestava Bob Dylan. Andy botou ele na banda com sua viola torta e uns teclados ""tipo uh....Cage... John Cage. John e Lou se gostaram. Ambos liam as mesmas coisas.
O primeiro show foi num congresso de psiquiatras. Foram vaiados. Nico ensinou Reed a ser cínico. a ter raiva, a ser cool. Vestidos de preto, eles queriam matar os hippies. Odiavam a costa oeste.
Nico passou a namorar Brian Jones. E um dia levou a um show um outro namorado, um cara meio tosco de Detroit, um tal de James Osterberg. Ele tinha uma casa chamada Fun House, no mato, vivia lá com uns amigos. Nico foi pra lá e mudou o cabelo de James, lhe deu uns toques sobre atitude, e foi embora sem olhar pra trás. Foi dormir com Jim Morrison.
O cara virou Iggy Pop e John Cale produziu seu primeiro disco. Iggy era uma besta. Um idiota. Genial.
Lou Reed se achava o máximo. E por causa disso John Cale se foi. E com Cale se foi todo o ruído. E depois se foi Andy Warhol, e com ele se foi o fascínio chic. Lou ficou mais Dylan. E então, cansado de ser vaiado, de ser agredido, cansado do fracasso, foi pra casa.
Na Inglaterra um cara metido a ator não sabia se queria ser Brando ou Elvis. Foi levado a New York para conhecer Andy Warhol. Estava doido para encontrar Lou Reed. Reed não lhe deu bola, foi snob com ele. Voltou pra Londres e continuou sendo um fracasso. Ele compunha canções lindas, mas era um tempo em que todo cara novo tinha de seguir o estilo progressivo ou hard rock. E ele, David Bowie, era apenas pop. Mas um pop esquisito, pop feito por quem tinha pretensão, cultura, gosto. E era poeta. David Bowie tentava fazer sucesso sem fazer concessão. E nada.
Well....Marc Bolan era amigo de Bowie, e Marc abriu um caminho psicodélico. Violão e voz. Até que Tony Visconti insistiu para que ele usasse uma guitarra elétrica e Marc botou o glam nas paradas. Nascia o auge do rock inglês. A ilha nunca mais seria a mesma.
Mas nesse momento, 1971, em que T.Rex estoura, Bowie ainda era um nada, Lou voltara a morar com os pais e Iggy estava morto para as gravadoras.
E então Bowie encontra Tony Visconti. E conhece o novo Jeff Beck, um tal de Mick Ronson...E então Bowie tem a ideia, fazer uma Factory inglesa!!!!!
E o resto conto depois....
UMA RESPOSTA A QUEM NÃO GOSTOU DE MEU TEXTO SOBRE LOU REED ( E SIM, SOU UMA CONTRADIÇÃO )
Escrevem dizendo da influência nefasta do Velvet e de Lou Reed sobre o rock. De que assim como Dylan, eles estragaram o rock ao deixá-lo pretensioso. OK. Vou deixar as coisas claras.
Adoro todos os discos do Velvet Underground, menos a faixa All Tomorrow Parties. E de Lou penso que Transformer é imbatível. E gosto pacas de New York, Songs for Drella e bastante de Coney Island Baby e de algumas músicas de álbuns diversos. E concordo, a influência deles é nefasta. A primeira leva de influenciados ( Bowie, Roxy, Iggy ) é genial, mas a partir do Television a coisa começa a ficar hiper deprê. Basta dizer que na década de 80 os Velvets eram considerados maiores que Stones ou Who e tão fundamentais como Beatles. Não por acaso é a década da depressão. 99% das bandas influenciadas por Lou que citei estão longe de minha preferência. Como acontece com o Led Zeppelin, outro ícone que deixou nefasta herança, Lou não tem culpa por seus filhotes. A turma dos desesperados soturnos que vá se curar.
Mudei nesses anos. Após passar meu desbunde pelo Velvet revalorizei a black music e lembrei de dançar. E prefiro hoje ser um hippie utópico que um niilista inutil. Conheci bandas como Love, Flying Burrito, Soft Machine, The Band, que são tão boas e tão influentes ( o The Band mais ) que os Velvet. Claro que sem o chique citadino glam dos Velvet...
Meu amor e minha tristeza é pelo cara que esteve no Velvet e fez Transformer ( que é tão de Bowie e Mick Ronson e Tony Visconti quanto de Lou ). Quanto ao fato de Lou Reed ser um sacana ruim invejoso e mau...So what?
Falei.
Adoro todos os discos do Velvet Underground, menos a faixa All Tomorrow Parties. E de Lou penso que Transformer é imbatível. E gosto pacas de New York, Songs for Drella e bastante de Coney Island Baby e de algumas músicas de álbuns diversos. E concordo, a influência deles é nefasta. A primeira leva de influenciados ( Bowie, Roxy, Iggy ) é genial, mas a partir do Television a coisa começa a ficar hiper deprê. Basta dizer que na década de 80 os Velvets eram considerados maiores que Stones ou Who e tão fundamentais como Beatles. Não por acaso é a década da depressão. 99% das bandas influenciadas por Lou que citei estão longe de minha preferência. Como acontece com o Led Zeppelin, outro ícone que deixou nefasta herança, Lou não tem culpa por seus filhotes. A turma dos desesperados soturnos que vá se curar.
Mudei nesses anos. Após passar meu desbunde pelo Velvet revalorizei a black music e lembrei de dançar. E prefiro hoje ser um hippie utópico que um niilista inutil. Conheci bandas como Love, Flying Burrito, Soft Machine, The Band, que são tão boas e tão influentes ( o The Band mais ) que os Velvet. Claro que sem o chique citadino glam dos Velvet...
Meu amor e minha tristeza é pelo cara que esteve no Velvet e fez Transformer ( que é tão de Bowie e Mick Ronson e Tony Visconti quanto de Lou ). Quanto ao fato de Lou Reed ser um sacana ruim invejoso e mau...So what?
Falei.
UMA CARTA PARA LOU
Eu nunca consegui ser Mick Jagger. Nem mesmo Rod Stewart ou Iggy Pop. Mas voce Lou Reed me revelou que eu podia ser o que eu era. Uma fauna havia pelas ruas. E o lance era saber ver/ saber olhar. E todo mundo nascia, todo mundo um dia ia morrer, mas muito pouca gente vivia. Naquele tempo o Paulinho Boca de Cantor cantava "Quando eu pirar pra lá de Lou Reed". Mas voce nunca pirou! Sua esquisitice, que era muita, estava sempre sob controle. Sua estirpe era a de gente como Bogey. Frio debaixo de uma enorme pressão. Aliás na real voce não tem canções confessionais. Escreve como autor de livro policial. Conta um conto, voce estava nas entrelinhas.
Diziam que voce era um chato. Marrento, vaidoso. E daí? Quem não é? Uma riqueza interior imensa dá de troco uma dificuldade em ser e estar. Caramba Cara! Gente como voce devia viver pra sempre! Mas talvez a coisa já estivesse concluída. Como diz o Bardo "Devemos uma Morte para a Vida." Voce pagou sua dívida ontem.
A Factory....o sonho/pesadelo de todo artista destes tempos frios. Usina de produtos que eram arte-empacotada como ironia ao mundo. E a trilha sonora era sua. Viva, Dalessandro, Andy, Jim, John, Nico, Mary, Stirling, Maureen, Paul.... Moda, imagem, parecer ser, ser ao parecer, a imagem como fim...Voces inventaram o mundo das virtualidades, Parecer sendo mais importante que Ser. POP.
Como alguém como voce morre? A serenidade terá vindo? A nova sensação? O anjo secreto do fim? Ou foi a escuridão suprema e vencedora? Andy está aí? Quando Bowie irá?
Eu larguei as ruas Lou. Elas se fizeram cinzas. Não têm mais o compromisso do preto. É um tempo de ocres, de pastéis. Tudo o que Rauschemberg não queria. Por falar nisso, já achou Keith e Basquiat por aí? O céu é grafitado? Ele tem um Wild Side?
Sinto sua falta.
PS. Agora para nós que ficamos faz mais sentido cantar Satellite of Love.
Amor, Tony Roxy.
Diziam que voce era um chato. Marrento, vaidoso. E daí? Quem não é? Uma riqueza interior imensa dá de troco uma dificuldade em ser e estar. Caramba Cara! Gente como voce devia viver pra sempre! Mas talvez a coisa já estivesse concluída. Como diz o Bardo "Devemos uma Morte para a Vida." Voce pagou sua dívida ontem.
A Factory....o sonho/pesadelo de todo artista destes tempos frios. Usina de produtos que eram arte-empacotada como ironia ao mundo. E a trilha sonora era sua. Viva, Dalessandro, Andy, Jim, John, Nico, Mary, Stirling, Maureen, Paul.... Moda, imagem, parecer ser, ser ao parecer, a imagem como fim...Voces inventaram o mundo das virtualidades, Parecer sendo mais importante que Ser. POP.
Como alguém como voce morre? A serenidade terá vindo? A nova sensação? O anjo secreto do fim? Ou foi a escuridão suprema e vencedora? Andy está aí? Quando Bowie irá?
Eu larguei as ruas Lou. Elas se fizeram cinzas. Não têm mais o compromisso do preto. É um tempo de ocres, de pastéis. Tudo o que Rauschemberg não queria. Por falar nisso, já achou Keith e Basquiat por aí? O céu é grafitado? Ele tem um Wild Side?
Sinto sua falta.
PS. Agora para nós que ficamos faz mais sentido cantar Satellite of Love.
Amor, Tony Roxy.
LOU REED, MEU HERÓI
Todo mundo morre baby, alguns não vivem. Oh God, Lou Reed também morreu!
A história de Lou em minha vida está toda viva em minha memória. Isso porque eu o conheci já aos 18 anos. Até então, naquele mundo sem internet, eu vira fotos de Lou e sabia do Velvet, mas não tivera a chance de ouvir. Então, em 1981, eu e meu irmão compramos no Museu do Disco, sábado de noite, no Iguatemi, White Light/White Heat. Eu era então um fã de Hendrix, Stones, Traffic, meu irmão, mais antenado, era de Clash, Police e B`52`s. Nossos gostos não batiam. Mas o Velvet nos uniu. Porque aquilo era arte, mas também era punk. Era muito simples, e também muito sofisticado. E tinha a arrogância corajosa do verdadeiro talento. Minha vida mudou naquela noite. Lembro de ter criado em minha cabeça a ideia de que ser um maldito podia ser bom. Comecei a me vestir de preto, e o principal, nada mais me parecia louco o bastante. Perto do lado 2 deste disco, tudo parecia pop. Tive viagens memoráveis ouvindo o disco inteiro, noite após noite. E o melhor de tudo, nada era menos hippie que Lou. E súbito eu me fiz um anti-hippie. Um mundo de arte avant-garde se abriu para mim. O Velvet ia do dadaísmo a arte-pop, de John Cage a Stockhausen. Perto deles os Stones eram castos, os Beatles hiper-conservadores e Zappa um chato.
Esse meu desabrochar ingênuo me levou a bad trips e a um tipo de niilismo insuportável. Mas logo passou. E então descobri Transformer e o que era bom ficou melhor.
Nestes anos de Trombone com Vara devo ter falado duas vezes de "melhor disco da história". Dei esse título a Low de Bowie e me contradisse ao lembrar de Exile on Main Street dos Stones. O mais constante em meu coração é Transformer, porque ele mistura os dois, Low e Exile, e ainda oferece algo mais. A ironia glitter. O disco tem rocknroll como Exile, guitarras rascantes e razantes como Keith, mas também tem aquela coisa fria e sob controle de Bowie e o som chique, limpo, sexy e noturno que Lou desenvolveu na época. De Vicious até Good Night Ladies, tudo lá é arte, é rock, é glam e é ironia. A capa de Mick Rock, a guitarra de Mick Ronson, os backing vocals de Bowie, tudo é superlativo. Como diria Ezequiel Neves, "descaralhante"!
Foi o disco que abriu o caminho para o nascimento de minha persona TONY ROXY. As noites no Satã, vodka e lixo, eram Transformer.
Falar dos filhos do Velvet e de Lou? Quantas laudas? De Television a Joy Division, de Cars a Roxy Music, de Smashing Pumpkins a Talking Heads, Cowboy Junkies e Echo, Jesus and Mary Chain, Ultravox, Suede...Bandas de preto, moços contidos e cool, baladas com sons desafinados, barulho, confusão, escuro, niilismo e poesia, muito noise...Sonic Youth, Pixies....
Meus amigos sempre piravam quando eu lhes tocava The Gift ou Waiting from my Man...ou viravam fãs ou abominavam. Mas nunca a indiferença. Mal eu sabia que a reação era a mesma em todo o mundo. E que, como disse um repórter da Rolling Stone em 1981, pareceu sempre que os poucos caras que ouviam Velvet Underground montavam sempre uma banda. Porque Lou nos liberava, fazia com que a gente botasse tudo pra fora, pirasse a caísse na estrada.
Lou agora foi pro céu de Rimbaud, de Poe e de Leadbelly.
E a gente fica aqui. Waiting From My Man...
A história de Lou em minha vida está toda viva em minha memória. Isso porque eu o conheci já aos 18 anos. Até então, naquele mundo sem internet, eu vira fotos de Lou e sabia do Velvet, mas não tivera a chance de ouvir. Então, em 1981, eu e meu irmão compramos no Museu do Disco, sábado de noite, no Iguatemi, White Light/White Heat. Eu era então um fã de Hendrix, Stones, Traffic, meu irmão, mais antenado, era de Clash, Police e B`52`s. Nossos gostos não batiam. Mas o Velvet nos uniu. Porque aquilo era arte, mas também era punk. Era muito simples, e também muito sofisticado. E tinha a arrogância corajosa do verdadeiro talento. Minha vida mudou naquela noite. Lembro de ter criado em minha cabeça a ideia de que ser um maldito podia ser bom. Comecei a me vestir de preto, e o principal, nada mais me parecia louco o bastante. Perto do lado 2 deste disco, tudo parecia pop. Tive viagens memoráveis ouvindo o disco inteiro, noite após noite. E o melhor de tudo, nada era menos hippie que Lou. E súbito eu me fiz um anti-hippie. Um mundo de arte avant-garde se abriu para mim. O Velvet ia do dadaísmo a arte-pop, de John Cage a Stockhausen. Perto deles os Stones eram castos, os Beatles hiper-conservadores e Zappa um chato.
Esse meu desabrochar ingênuo me levou a bad trips e a um tipo de niilismo insuportável. Mas logo passou. E então descobri Transformer e o que era bom ficou melhor.
Nestes anos de Trombone com Vara devo ter falado duas vezes de "melhor disco da história". Dei esse título a Low de Bowie e me contradisse ao lembrar de Exile on Main Street dos Stones. O mais constante em meu coração é Transformer, porque ele mistura os dois, Low e Exile, e ainda oferece algo mais. A ironia glitter. O disco tem rocknroll como Exile, guitarras rascantes e razantes como Keith, mas também tem aquela coisa fria e sob controle de Bowie e o som chique, limpo, sexy e noturno que Lou desenvolveu na época. De Vicious até Good Night Ladies, tudo lá é arte, é rock, é glam e é ironia. A capa de Mick Rock, a guitarra de Mick Ronson, os backing vocals de Bowie, tudo é superlativo. Como diria Ezequiel Neves, "descaralhante"!
Foi o disco que abriu o caminho para o nascimento de minha persona TONY ROXY. As noites no Satã, vodka e lixo, eram Transformer.
Falar dos filhos do Velvet e de Lou? Quantas laudas? De Television a Joy Division, de Cars a Roxy Music, de Smashing Pumpkins a Talking Heads, Cowboy Junkies e Echo, Jesus and Mary Chain, Ultravox, Suede...Bandas de preto, moços contidos e cool, baladas com sons desafinados, barulho, confusão, escuro, niilismo e poesia, muito noise...Sonic Youth, Pixies....
Meus amigos sempre piravam quando eu lhes tocava The Gift ou Waiting from my Man...ou viravam fãs ou abominavam. Mas nunca a indiferença. Mal eu sabia que a reação era a mesma em todo o mundo. E que, como disse um repórter da Rolling Stone em 1981, pareceu sempre que os poucos caras que ouviam Velvet Underground montavam sempre uma banda. Porque Lou nos liberava, fazia com que a gente botasse tudo pra fora, pirasse a caísse na estrada.
Lou agora foi pro céu de Rimbaud, de Poe e de Leadbelly.
E a gente fica aqui. Waiting From My Man...
OS 100 MELHORES DISCOS DE ESTRÉIA PELA REVISTA ROLLING STONE ( JAMAIS EU ).
Eu até posso compreender que o primeiro disco dos Beastie Boys seja o mais importante disco de estréia da história. Afinal ele trouxe o rap para os brancos e o rap é a última coisa inovadora criada no rock. Lembro em 1985 como a gente achava esquisito aquele sampler de John Bonham, roubarem os riffs de Eddie Van Halen e Jimi Page, os vocais que não cantavam. Era coisa nova, realmente nova. Mas...não era simples cópia de Public Enemy e de Run DMC? ...
O segundo melhor disco de estréia é o Ramones. Ok, o modo de tocar a guitarra deles mudou o rock, mas em 1977 eles não causaram a menor comoção. A gente se ligava muito mais nos Pistols e no Clash. Segundo melhor? Acho que o critério de influência, de novidade começa a fazer água quando a gente vê que o disco de estréia de Elvis Presley está em 79...79!!! Se for por influência nenhum é mais importante e se for por qualidade...então Ramones não pode ser o segundo melhor.
Jimi Hendrix, Are You Experienced?, é o terceiro. Aí sim, o disco une qualidade com influência. Hendrix fez com que todo guitarrista de repente ficasse velho e o disco é uma obra-prima em criação. Mas Guns and Roses em quarto lugar só pode ser piada. Ou pior, provocação boba.
O disco de estréia mais importante da história, o disco que criou de Radiohead a Rem, de Stooges a Bowie está em quinto lugar: Velvet Underground e o disco da banana. Esse seria o justo número um, pelo simples fato de que ele criou sózinho todo um modo de fazer e de ouvir rock. Da capa do disco às roupas dos caras, tudo no disco é influente. E atemporal. Axl estar à sua frente é uma piada.
Depois temos NWA em sexto e na sequencia Sex Pistols ( pra mim é o segundo disco mais importante ), Strokes ( what? ), e que bela surpresa: o disco da estréia de The Band em nono lugar. Se o Velvet criou o rock artístico, o rock anti-pop e anti-social, The Band inventa em 1968 o rock suave da recuperação da sanidade. Fazem a ponte do folk com o pop, da música de bom gosto com a sinceridade da solidão.
O resto da lista? Em ordem: Patti Smith, Nas, Clash, Pretenders ( que beleza! O disco Pretenders I é uma bomba de criação e de raiva ), Jay Z, Arcade Fire, The Cars, Beatles, REM, Kanye West, Joy Division, Elvis Costello.... Lembraram do ótimo disco do B'52's e o colocaram em 28. The Doors, que seria o melhor pra muita gente, ficou em 34, The Police em 41 e Television em 40.
Se está a se pensar em influência o primeiro disco do Black Sabbath não mereceria melhor posição que a 44? Os Smiths surgem em 51 e o maravilhoso, arrojado, soberbo, enigmático e lindo Roxy Music I fica num 62. Vixe!!!! O Roxy é hors concours....
Temos ainda Pink Floyd em 47, The Beat em 64, Stooges em 66 e o primeiro dos Talking Heads em 68. Byrds em 80 e lembraram dos Flying Burrito Brothers, em 99.
Acima eu falei que o Velvet seria o melhor disco de estréia da história por ser o mais influente. Esquece! Led Zeppelin I é o mais influente disco de estréia da história. Um disco que mudou o modo como um guitarrista deveria solar e um baterista deveria tocar. Na lista da Rolling Stone ele é o 72. Quem assistiu o filme Quase Famosos sabe que por toda a década de 70 a revista RS ignorou o Led. Toda crítica de novo disco era negativa e as excursões eram cobertas por jornalistas novatos com pouco espaço nas páginas de uma revista que preferia apostar em Boston, Steely Dan ou Dr. Hook.
Certas coisas nunca mudam....
A AURA DE WALTER BENJAMIN
Os homens andavam durante dias para ver uma pintura numa igrejinha em cidadezinha da Toscana. Olhavam, e sabiam que apenas lá, naquele lugar havia a chance de ter tal experiência. O ambiente da igreja, seu clima e seu lugar eram parte da experiência. Ao ir embora o homem sabia que não teria essa visão em nenhum outro lugar. Aquela visão era carregada viva na memória.
Os homens iam ver Beethoven reger ou Schubert tocar. E sabiam que não escutariam a sexta ou a quinta em nenhum outro lugar. Eles escutavam e tiravam daquele momento o máximo possível. Era um momento único na história de uma vida.
É disso que fala Benjamim, da aura. Por mais distante que um artista ou uma obra pareça do mundo da aura, toda manifestação artística traz em-si a herança de algo que foi criado como manifestação religiosa. Fazer arte é tentar sair do cotidiano, do aparente e óbvio e procurar criar uma visão original, única, transcendente. Por mais biológico ou corporal que um artista seja ele no fundo é herdeiro dessa tradição humana. Mas, e é essa a sacada de Benjamin, uma arte que pode ser levada pra casa perde completamente sua aura. Deixa de ser um tipo de experiência única e particular e passa a ser produto consumível e sem nada de sagrado ou secreto. Explico.
Quando criança nunca esqueço de uma manhã em que perdido no Morumbi, encontrei em meio a um capinzal, restos de cerâmica no chão. Em meio ao mato eu achei desenhos geométricos no chão. Meus desenhos, vistos só por mim, escondidos lá para mim. A sensação que tive foi de desvendamento de um segredo.
Na adolescência lembro dos primeiros clips que chegavam ao Brasil. Queen, Stones, Floyd...Todos me emocionava e eu achava que só eu os conhecia e só eu assistia. Mais que tudo, não existiam videos do Led Zeppelin. Espertamente, eles não se deixavam filmar. Formava-se um mistério, imaginávamos como seria o Led em movimento, eis a aura de Benjamin. Quem os assistia ao vivo sabia que aquilo era só para eles. Não seria gravado, transmitido ou vendido. O Led ali, sobre o palco era experiência só do público fã. Os Smiths no começo fizeram o mesmo.
Um livro com aura é um livro que voce pensa que só voce o lê. Filmes censurados e proibidos tinham essa aura e vê-los finalmente liberados era uma sessão religiosa. Poder ver O Atalante de Jean Vigo, filme pouco conhecido e pouco visto, foi uma experiência de aura. Eu sentia que só eu em todo o mundo o amava.
A aura se cria quando há um sentimento de intimidade entre voce e a obra. Quando voce sente que ela é sua, completamente sua, e que então ela passa a fazer parte de voce. E principalmente quando há um sacrifício para vê-la, um momento decisivo, ou voce vê ali e agora ou nunca mais.
Havia aura na dificuldade em se ver um Mizoguchi ou um Cocteau. No Dante que li numa cabana no mato. Naquele video em super 8 de Woodstock.
O que pode haver de aura num filme com mil cópias e dez milhões de olhos? Em pilhas de Dickens recém reeditado? No cd de Schubert tocado no carro e escutado no dentista? Que arte sobrevive a Van Gogh em calendários e Mozart em filminho de arte? Que aura pode haver em coisas baixadas aos milhões? Fáceis e desvendadas, sem segredos e sem a experiência do intimo?
O meu disco raro do Velvet Underground atingiu 12 milhões de visualizações. Não é mais o meu Velvet. Nunca mais será. É do mundo. É real e corriqueiro. Continua maravilhoso como sempre foi, mas sem aura, sem mistério e sem o amargo/doce gosto do único. São milhões de ouvintes, milhões de opiniões, milhões de audições.
Aura? Nunca mais.
Os homens iam ver Beethoven reger ou Schubert tocar. E sabiam que não escutariam a sexta ou a quinta em nenhum outro lugar. Eles escutavam e tiravam daquele momento o máximo possível. Era um momento único na história de uma vida.
É disso que fala Benjamim, da aura. Por mais distante que um artista ou uma obra pareça do mundo da aura, toda manifestação artística traz em-si a herança de algo que foi criado como manifestação religiosa. Fazer arte é tentar sair do cotidiano, do aparente e óbvio e procurar criar uma visão original, única, transcendente. Por mais biológico ou corporal que um artista seja ele no fundo é herdeiro dessa tradição humana. Mas, e é essa a sacada de Benjamin, uma arte que pode ser levada pra casa perde completamente sua aura. Deixa de ser um tipo de experiência única e particular e passa a ser produto consumível e sem nada de sagrado ou secreto. Explico.
Quando criança nunca esqueço de uma manhã em que perdido no Morumbi, encontrei em meio a um capinzal, restos de cerâmica no chão. Em meio ao mato eu achei desenhos geométricos no chão. Meus desenhos, vistos só por mim, escondidos lá para mim. A sensação que tive foi de desvendamento de um segredo.
Na adolescência lembro dos primeiros clips que chegavam ao Brasil. Queen, Stones, Floyd...Todos me emocionava e eu achava que só eu os conhecia e só eu assistia. Mais que tudo, não existiam videos do Led Zeppelin. Espertamente, eles não se deixavam filmar. Formava-se um mistério, imaginávamos como seria o Led em movimento, eis a aura de Benjamin. Quem os assistia ao vivo sabia que aquilo era só para eles. Não seria gravado, transmitido ou vendido. O Led ali, sobre o palco era experiência só do público fã. Os Smiths no começo fizeram o mesmo.
Um livro com aura é um livro que voce pensa que só voce o lê. Filmes censurados e proibidos tinham essa aura e vê-los finalmente liberados era uma sessão religiosa. Poder ver O Atalante de Jean Vigo, filme pouco conhecido e pouco visto, foi uma experiência de aura. Eu sentia que só eu em todo o mundo o amava.
A aura se cria quando há um sentimento de intimidade entre voce e a obra. Quando voce sente que ela é sua, completamente sua, e que então ela passa a fazer parte de voce. E principalmente quando há um sacrifício para vê-la, um momento decisivo, ou voce vê ali e agora ou nunca mais.
Havia aura na dificuldade em se ver um Mizoguchi ou um Cocteau. No Dante que li numa cabana no mato. Naquele video em super 8 de Woodstock.
O que pode haver de aura num filme com mil cópias e dez milhões de olhos? Em pilhas de Dickens recém reeditado? No cd de Schubert tocado no carro e escutado no dentista? Que arte sobrevive a Van Gogh em calendários e Mozart em filminho de arte? Que aura pode haver em coisas baixadas aos milhões? Fáceis e desvendadas, sem segredos e sem a experiência do intimo?
O meu disco raro do Velvet Underground atingiu 12 milhões de visualizações. Não é mais o meu Velvet. Nunca mais será. É do mundo. É real e corriqueiro. Continua maravilhoso como sempre foi, mas sem aura, sem mistério e sem o amargo/doce gosto do único. São milhões de ouvintes, milhões de opiniões, milhões de audições.
Aura? Nunca mais.
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