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MALLE E GODARD, DE VOLTA À FRANÇA

Volto à pensar na França e lembro o quanto eu amava sua cultura. Isso por causa de alguns filmes policiais que vi, feitos nos anos 50 e 70. Lembrei, os vendo, dos Gitanes que eu fumava. Fiz as pazes com parte do meu passado então. E revejo dois filmes da Nouvelle Vague. ---------------------- ASCENSOR PARA O CADAFALSO é de Louis Malle. É o filme que tem uma trilha sonora, sublime, de Miles Davis. A única que ele fez na vida. Malle lhe mostrava as imagens e ele ia improvisando. Miles sabia que na França, desde os anos 20, músicos de jazz tinham o respeito que não tinham nos EUA. O filme fala de um crime que não dá certo. Tem muito suspense e é moderno. Jeanne Moreau e Maurice Ronet. As ruas de Paris de 1959 transpiram poesia, uma poesia dura, cinza, fria, maravilhosa. Os carros pequenos, os sobretudos escuros, as janelas abertas. Malle teve uma carreira invulgar. Nunca se repetiu, sabia filmar, sabia dirigir atores. A partir de 1977 virou um diretor americano. Fez obra POP e outras de absoluta vanguarda. Casou com Candice Bergen. Nasceu e morreu rico. ------------------ A BOUT DE SOUFLE, ACOSSADO de Godard. O maoísmo matou o cinema de Godard. Sua militância, feroz, castrou o cineasta que respirava amor ao cinema neste seu primeiro e disparado melhor filme. Ainda, mais de 60 anos depois, parece filme de alguém muito jovem. Ele faz o que quer, se exibe como diretor dono de sua obra, por isso, por essa liberdade de fazer e criar, é ele tão influente. Cortes abruptos que até então seriam considerados um erro fatal, atores que saem do personagem, a flagrante consciência de que aquilo que vemos é um filme, não é real, a quebra do ritmo, hora rápido hora lento, e Belmondo, exalando charme como o heroi que é um ladrão. Todo cinema brasileiro chupou TUDO desta hora e meia de Godard. Voce aponta, em cada cena, um filme brasileiro plagiando Acossado. Toda a turminha deve ter visto isto dúzias de vezes. Me divirto, é um filme bom. Detalhe, em 1960 Bogart ainda não era um mito. Belmondo quer ser ele no filme e isso foi uma percepção de Godard, a de que Bogart era um possível heroi existencial. A moda pegou. Bogart desbancaria James Dean e Marlon Brando como maior mito do cinema. A trilha sonora é perfeita e Raoul Coutard foi um monstro na câmera flutuante, isso antes da invenção da steady cam. Tivesse uma câmera leve ele voaria com ela. ------------------ Pena que a partir de 1962 Godard ficaria muito mais ligado em discurso político que em cinema. Dois bons grandes filmes. Malle é melhor.

The Roaring Twenties (1939) - Here's One Rap Ya Won't Beat Scene (7/8) |...

CINEMA GANGSTER

Vejo seis filmes de gangster da Warner. Todos feitos nos anos 30. Se voce nunca viu esse tipo de filme corra pra ver. Foi um dos modismos mais fortes do cinema americano. ------------------- Dá pra dizer que a coisa começou em 1930 com O INIMIGO PÚBLICO. Em estilo semi documental, eram filmes com roteiros baseados em notícias de jornal e as notícias eram sobre criminosos, gangsters. Mostrava-se a ascensão de um chefão, seu apogeu, seus crimes, amores e seu fim. Os filmes eram duros, nada sentimentais, viris. As imagens eram cheias de carrões, metralhadoras, ternos listrados, charutos, boates, ruas escuras. Barulhentos, violentos, esses filmes fizeram a riqueza da Warner, viraram mania, e assim passaram a influenciar os jovens. Os gangsters ( como acontece hoje no RAP ), se tornaram fetiche, alvo de vida, comportamento a ser imitado. A censura começou a agir a partir de 1935. Mas mesmo assim alguns dos melhores filmes de gangster são de 1938, 39. ---------------- James Cagney era o melhor e o maior. Os bandidos que ele faz são como bombas prestes a detonar. Ele tinha o gestual certo, a voz perfeita, foi o molde do bandido perverso, perigoso e ao mesmo tempo charmoso. ROARING TWENTIES é seu apogeu. Lá está sua energia sem fim, sua humanidade impefeita, o fogo em cada gesto que queima nosso olhar. Há Humphrey Bogart também, o Bogart antes de O FALCÃO MALTÊS, o Bogey bandido, mal, que as pessoas queriam ver morto, o coadjuvante de luxo, o vilão. Humphrey Bogart trai, conspira, atira pelas costas, é covarde. Cagney não. É um assassino que tem um código. --------------- RAOUL WALSH, MICHAEL CURTIZ, MERVYN LE ROY, ARCHIE MAYO, HOWARD HAWKS, são esses os diretores. Em comum, eles são rápidos, machos, não enrolam, não enganam, exibem a coisa inteira, são econômicos. Chegam a fazer quatro, sim, quatro filmes por ano. Se vêm como trabalhadores, artesãos, produtores de histórias. Um filme em 45 dias. E pasmem, são grandes filmes, duram até hoje, 90 anos depois. ------------------- ANJOS DE CARA SUJA é talvez a obra prima do estilo. É de Michael Curtiz. Tem Cagney. Ele é um gangster que vira ídolo da molecada que vive na rua. Tenho uma história com esse filme. Eu devia ter uns 7 anos e meus pais viram esse filme na TV. Sou velho meus queridos...eu vivi no tempo em que a TV passava filmes dos anos 30. Pois bem...fiquei apavorado com o fim do filme. Jamais esqueci. Cagney caminha para a cadeira elétrica. E berra. NÃO QUERO MORRER! NÃO! NÃO ME MATEM! Esse berro ficou marcado em mim. É junto com SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO, outro filme dos anos 30, também da Warner, também com Cagney, visto mais ou menos na mesma época, as lembranças mais antigas de filmes que eu tenho em mim. Só que a memória infantil de SONHO DE UMA NOITE é pura magia, encanto, quase um enfeitiçamento; já ANJOS DE CARA SUJA é uma lembrança dura, terrível. Revendo hoje, tantas décadas depois, observo a perfeição do filme. ------------------- Por fim uma história de Scorsese. Ele, quando fazia o filme sobre Howard Hughes, passou um filme de James Cagney para seu elenco. Martin Scorsese diz que os atores aplaudiram o fim do filme e na cena em que James Cagney entra se ouviu um ator dizer: Eis uma atuação realmente moderna. Esse cara criou aquilo que fazemos hoje. ------------------- São divertidos. São POP. E são cinema perfeito.

O TESOURO DE SIERRA MADRE E A ARTE COMO SIMBOLO DE VIRILIDADE

   Nunca mais teremos alguém como John Huston. Ou Humphrey Bogart. Eles, assim como Heminguay e John Ford, são homens fora de moda. Figuras patriarcais. Interessante observar que Cary Grant é um modelo perfeitamente condizente com os tempos de hoje. George Clooney sabia disso e seguiu o modelo até onde pode. Spencer Tracy cabe em 2020. Mas John Wayne jamais. Scott Fitzgerald é admirado como homem sensível. Henry James como personalidade complexa. Mas Mark Twain não.
  Roger Scrutton defendia a caça à raposa, esporte que eu considero absurdo. E temos um presidente que defende armas como garantia de liberdade civil. Eu vivi nos anos 70, época em que se comprava um 38 na Mesbla. A liberdade não era maior por causa disso. Mas... há sempre um "mas" não é?
  Scrutton estava longe de ser um idiota e ele sabia que tudo era uma questão de símbolo. O simples fato de se ter a liberdade de caçar ou de se ter uma arma, de forma aberta e clara, é uma afirmação de poder, e portanto, de liberdade individual. Toda a constituição americana se baseia nisso. E se nas democracias inglesa e japonesa não há essa garantia, isso se deve ao fato de que lá nem polícia e nem bandidos possuem armas. A igualdade é plena. Uma das características do artista viril, o tipo que hoje é impossível, é o fato de ele ter sempre uma arma por perto. Cary Grant muito raramente usa uma arma. Muito menos posa com uma.
  Uma das várias armadilhas em que a esquerda se colocou é a questão das armas. Ao se feminilizar, eles chutaram as armas para longe. E esqueceram assim, pasmem, que homens como Heminguay e Huston foram de esquerda. E que tanto Fidel como Che Guevara, Mao e Stalin, estavam sempre armados. Não se faz revolução sem armas. O que se faz é perfumaria.
  Eu sou muito mais Cary Grant que John Huston. E não é surpresa nenhuma o fato de nenhum dos dois jamais ter cogitado em trabalhar juntos. Mas eu adoraria ser John Huston. E fosse eu um diretor de cinema, amaria ter tido a capacidade de fazer um filme como O Tesouro de Sierra Madre. Ele tem toda a virilidade que Clint Eastwood procurou por toda a vida. E é seco, duro, direto como Tarantino jamais conseguiu ser.
  Três fracassados, no México dos anos 1920, partem para a busca de ouro. Nada mais que isso. Nada de romance. Nada de diálogos bacaninhas. Nada de filosofia barata. É sobreviver. Sair da merda. Como voce reage? Com o fígado. Entra na coisa em dois minutos de filme. Huston te fisga. E pronto.
  Bogart tem a maior atuação de sua vida. Faz de um tipo banal um ser humano completo. Walter Huston cativa como o velho minerador. É uma performance icônica. A gente sente que o filme foi feito entre goles de tequila e baforadas de charutos. Ele transpira virilidade. É arte. Do mais alto nível. Mas infelizmente é um filme inviável hoje. Duvido que muita gente ainda o assista. De Huston andam vendo muito mais os filmes problema: aqueles sobre Lautrec, Freud e o que tem Marlon Brando.
  O cinema viril de hoje é sempre uma caricatura. Não exibe homens patriarcais, são na verdade adolescentes brincando de bandido. São filmes às vezes deliciosos, como os primeiros de Guy Ritchie ou os melhores de Tarantino. Mas são fantasias de adolescente. São homens como garotos imaginam que homens são. Não são pais. São filhos.
  Sem as figuras guias, os modelos de masculinidade, nossa sociedade se torna cada vez mais aquilo que ela já é agora: um mundo de filhos sem rumo. Filhos de 20, 40, 60 anos de idade. As mulheres, obrigadas a fazer papel duplo, provedora e mãe, arcam com uma responsabilidade desumana. E enlouquecem. Homens que fogem da vida e mulheres que brigam com a hiper realidade da natureza. Nunca os dois estiveram tão distantes.
  Fui longe não é? Divaguei. E provavelmente falei muita asneira. Coisa de homem falar asneira. Mas eu digo que às vezes falta na vida um John Huston que grite com a gente. E fale: Garoto! Se joga nesse lago gelado e cura essa gripe na marra! Deixa de frescura e vai logo se alistar na porra dessa guerra. A guerra é a pior merda do mundo, mas voce não pode se omitir. Garoto! Vai até essa menina e fala logo o que voce quer. Se ela não quiser azar o dela e bola pra frente. E por favor, come esse bife e deixa de pensar na morte da bezerra! Shit!

BILLY WILDER ESTRAGA MAIS UM FILME: SABRINA.

   Sabrina começa com...era uma vez...e termina bonitinho, daquele modo que Billy Wilder sabia fazer. Esperto, ele sempre se superava em finais. Assinava seus filmes. Revejo este filme após 10 anos. Gosto? Sim. É um belo filme azedo. Mas, como todo filme do austríaco, ele é cheio de defeitos que hoje me incomodam bastante.
  Como voce sabe, Sabrina é uma menina que cresceu numa casa terrivelmente rica. Filha do chauffeur, ela se apaixona por David, o herdeiro playboy da casa. Com seu amor frustrado, ela tenta se matar, é salva por Linus, o irmão que vive pelo trabalho. Sabrina vai para Paris fazer um curso de gastronomia. ( Moderno o filme, em 1954 ninguém fazia isso ). Volta dois anos depois transformada em Audrey Hepburn vestida por Givenchy. David se apaixona por ela, Linus a seduz para que o irmão se case com uma moça rica, e no fim, Sabrina e Linus ficam juntos. Conto de fadas típico né? Não. É um filme quase tétrico.
  Billy Wilder se mete no roteiro e faz com que, sutilmente, como em todos os seus filmes, o que parecia simples se revele "vienense". Sabrina é inocente? Ela ama David ou ama o luxo daquela casa? Ela se apaixona por Linus ou não será pelo irmão mais rico? Não há um só amor no filme que convença, e isso é proposital. Wilder sabe que amor e poder, sexo e medo andam sempre misturados.
  David se apaixona ou quer transar com Sabrina? O caso de Linus é mais estranho ainda. Nada nele demonstra amor. A impressão que temos é que ele parte com Sabrina apenas com o intuito de descansar uns cinco dias e voltar ao trabalho, seu amor de fato.
  Humphrey Bogart, que faz Linus, odiou trabalhar com Wilder. Bogey tinha um modo seco e impessoal de trabalhar. Ele aparecia no set, fazia seu papel e voltava para sua mulher e seu iate. Billy gostava de formar famílias no set. Todo o elenco se tornava uma máfia fechada, as filmagens eram cheias de piadas, risos e casos amorosos entre o elenco. Bogey odiava isso e ficava à parte. Linus é feito com extremos mal humor. Bogey não está nem aí para o filme. Isso prejudica todo o roteiro. Sabemos que é IMPOSSÍVEL Sabrina amar aquele senhor feio e sem charme. Bogart parece o contador da empresa. Não há glamour. Há um momento em que o filme ronda a pedofilia, tamanho o desconforto.
  William Holden faz David. Apesar de ser 20 anos mais velho que Audrey, o flerte convence. Holden era bonito e na vida real os dois tiveram um caso durante o filme. Vejo nos extras que CARY GRANT iria fazer o papel de Bogey. Mas ele desistiu na última hora. Com Cary Grant todo o filme pareceria real e o humor seria soberbo. Linus era Cary Grant, maduro, charmoso, bonito e meio bobo, sem Grant jamais se deveria ter convocado Bogart.
  Muitos filmes de Billy Wilder são menos bons por um erro de casting. Billy amava trabalhar com atores amigos e isso danificava a credibilidade de certos papeis. Sabrina é um filme muito famoso, mas é apenas um bom filme. Meu incômodo é que ele deveria ter sido grande, muito grande. Cary Grant melhoraria todos os filmes já feitos, mas aqui sua falta afunda o barco.

EU QUERO SER AMIGO DESSE CARA! BEAT THE DEVIL.

   Uma das coisas mais chatas de 2020 é que, apesar de ainda admirarmos alguns artistas, são poucos, ou quase nenhum, que adoraríamos passar ao lado três meses de férias bancadas por eles mesmos. Admiro Tarantino, mas não teria saco pra ficar 12 semanas vendo filmes dos anos 70 e conversando sobre artes marciais. Scorsese não me parece muito divertido e Wes Anderson é do tipo que me proporia brincar com trenzinhos. Muitos passariam esses meses de férias drogados e outros em clínicas de repouso. Talvez fosse divertido passar esses meses com Coppola na sua vinícola. Ou com Clint Eastwood. Posando de cowboy em Carmel. Mas não me parecem boas companhias. Os filhos chatos de Francis Ford logo iriam encher o saco e Clint deve estar cercado de enfermeiras.
   Três meses com John Huston seriam um sonho. Como era moda em seu tempo, artistas faziam coisas. Tinham a tal da "ansiedade por viver". Hoje há a tal "depressão por ter de estar vivo". John Huston criava atividades. Uma viagem ao Japão, caçar raposas na Irlanda, pescar no Pacífico, beber em Roma. Jogar em Cannes, andar pela França, ver toureiros na Espanha, nadar no Canadá. Ir em festas em Londres. E falir mais uma vez. Não importa, a vida é curta e só nos resta viver bem.
   Huston pegou uma grana de seu amigo, Bogart, e foi pra Itália em 1953 fazer Beat The Devil. Chamou Humphrey e ainda a big star Jennifer Jones. Mais Peter Lorre, Gina Lollobrigida, Robert Morley e botou atrás das câmeras Oswald Morris. Chegam todos na Itália prontos pra filmar. E descobrem que não há roteiro. A grana foi gasta com bebida, comida, hotel, jogo e mulheres. Huston chama um garoto de nome Truman Capote e juntos escrevem no hotel aquilo que será filmado no dia seguinte. O trabalho começa sem roteiro. Huston e Capote dão gargalhadas enquanto imaginam um bando de mentirosos tentando dar um golpe na Africa. Algo a ver com uranio. Bogart logo percebe que sua grana foi pro ralo. Briga com Huston e a amizade se desfaz. Os outros atores, sem terem posto dinheiro na coisa, aproveitam o sol italiano. O filme é lançado, a crítica odeia e o chama de lixo mal acabado e o público foge. Nos anos 80, três décadas depois, vira cult. É um dos meus 50 filmes favoritos.
   Demorou pra que eu gostasse dele. Só na quarta vez eu o aceitei. Na primeira achei-o chato. Na segunda incompreensível. Na terceira vi que era interessante. Na quarta me apaixonei. Ontem o revi. É uma  festa!
  Nada no filme é sério. Todos os personagens mentem uns para os outros. E Capote mais Huston mentem para os atores. A gente sente os dois rindo enquanto enrolam seus astros. É o mais malandro dos filmes. É sobre a mentira engraçada. É a alma de John Huston na tela.
  Três ladrões, Morley, Lorre e Ivor Barnard. Nunca no cinema houve um trio tão lamentável. Você ri olhando para eles. Lorre finge ser irlandês. Morley finge ser esperto. Ivor finge ser humano. Bogart é empregado deles. Finge ser Bogey. Jennifer mente o tempo todo. E finge para si mesma estar apaixonada por Bogey. Gina é a mulher de Bogey. Finge ser inglesa. E Jennifer tem um marido que finge ser rico. Pegue esses tipos e faça um roteiro. Minta para os atores. Minta para o produtor. Minta para o público que for ao cinema. E se divirta muito fazendo este carnaval em preto e branco.
  John Huston não foi o melhor diretor de cinema. Mas caramba! Não houve nenhum mais legal que ele.

FILMES NOIR, ALTMAN, DR WHO E OUTRAS COISINHAS MAIS

   RINCÃO DAS TORMENTAS de John Boulting com Richard Attenborough
Graham Greene escreveu uma obra-prima sobre um psicopata bandido que espalha violência em Brighton. É um filme extremamente invulgar. Richard tem uma atuação brilhante e o filme é perturbador. Greene gostou do filme e ele se tornou um pequeno clássico inglês.
   O AMANHÃ QUE NÃO VIRÁ de Gordon Douglas com James Cagney
Rápido e direto, eis um filme policial do velho estilo, simples e cheio de fúria. Cagney dá um show como um bandido que foge da prisão e volta logo a vida de crime. Vaidoso e violento, seu personagem é repulsivo. O filme é muito divertido.
  SANGUE DO MEU SANGUE de Joseph L. Mankiewicz com Edward G. Robinson, Richard Conte, Susan Hayward.
Quase uma obra prima. Mankiewicz foi roteirista e produtor nos anos 30 e 40, e esta é uma de suas primeiras direções. Um drama realista com altas doses de simbolismo, ele fala de um pai-mafioso que tem um filho favorito. Esse filho é preso e ao sair da prisão enfrenta a traição dos irmãos invejosos. Os atores brilham e o filme nos prende, é grande, sério, magistral. Um ano depois Mankiewicz receberia seu segundo Oscar por A Malvada.
  SEM SOMBRA DE SUSPEITA de Michael Curtiz com Claude Rains
O box 9 de Filmes Noir continua em alto nível com este filme do diretor de Casablanca. Rains é um radialista que é suspeito de assassinato. Um filme de suspense, cheio de clima. Muito bom.
  CILADA MORTÍFERA de Irving Lerner com Vince Edwards
Eis um filme duro de classificar. Voce vai achar que ele é um lixo ou uma maravilha. Lerner fez um filme barato que bebe nos filmes franceses policiais que se faziam então. É um filme boêmio, jazzy, cheio de estilo, seco e muito cool. Ou talvez seja apenas um filme muito amador.
  O PERIGOSO ADEUS de Robert Altman com Elliot Gould e Sterling Hayden.
Talvez seja este o melhor filme de Altman. Há uma alegria que paira sobre este filme, uma leveza que ilumina cada cena. Altman pega Philip Marlowe e o imagina na California de 1974. Ou seja, é o detetive moral de Chandler em meio ao sexo livre e às drogas da época. A primeira cena do filme, Marlowe e seu gato fujão, é deliciosa! Elliot Gould faz um detetive que transita pelo mundo new age da época como se estivesse sonâmbulo. Ele fala sozinho, não toca em mulheres e não gosta da violência. O filme, grande como todo filme de Altman, é original.
  RENEGADOS ATÉ A ÚLTIMA RAJADA de Robert Altman com Keith Carradine
Um bando de caipiras ladrões dos anos 30. Altman foca no dia a dia banal deles. São burros, são pobres, são limitados. E sujos. O filme tem ar de saudade, de foto amarelada. É bonito e é diferente, bem diferente. Feito em 1974, ele tem o estilo dos filmes feitos 40 anos depois.
  DENTRO DA NOITE de Raoul Walsh com George Raft, Ida Lupino, Humphrey Bogart e Ann Sheridan.
Uma obra prima. Raft é o ator principal, Bogey na época ainda não fizera O Falcão Maltês. Os dois são irmãos donos de um caminhão e a primeira parte do filme é um maravilhoso quase doc sobre a vida nas estradas. Bem realista, o filme mostra lanchonetes, policiais, cargas, toda a vida de trabalhadores pobres das rodovias. Depois Walsh se concentra numa trama de assassinato e ciúmes, o filme vira um drama noir. É um dos melhores filmes de um cara que dirigiu mais de 80 produções. Grande diversão!
  DR WHO E A GUERRA DOS DALEKS de Gordon Flemyng com Peter Cushing
Feito em 1965, este filme aproveita o sucesso da série da BBC. Mas é um filme pobre e meio brega. Uma decepção colorida.
  A DIVORCIADA de Robert Z. Leonard com Norma Shearer, Chester Morris e Robert Montgomery
Uma esposa pega o marido no flagra e  se divorcia dele. Este dramalhão deu um Oscar à Norma Shearer, uma das estrelas dos anos 30 menos lembradas hoje. Mas ela foi grande! Se casou com o produtor Thalberg e ao ficar viúva desistiu do cinema aos 30 anos. Ela era sexy e pudica ao mesmo tempo, a voz era linda e seu estilo ainda era meio cinema mudo. Exagerado. O filme é bem antiquado.
  UMA ALMA LIVRE de Clarence Brown com Norma Shearer, Lionel Barrymore e Clark Gable.
Uma moça mimada, filha de um juiz, tem um caso com um bandido. Gable esbanja mal caratismo e machismo e Norma está bem sexy. O filme é moralista, claro, mas ao mesmo tempo estranhamente safado. Não é muito bom.
 

FILME NOIR E WESTERN

   CHISUM de Andrew V. McLaglen com John Wayne
Wayne defende suas terras de um "barão de terras". Surpreendentemente bom, visto que o diretor se tornou famoso por estragar boas produções. O filme é de 1970, da fase final de Wayne, quando ele fazia 3 ou até 4 filmes por ano para pagar suas contas ( ele falira em 1960 ). Pode ver este, ele é bem bom.
   A QUADRILHA MALDITA de Andre de Toth com Robert Ryan e Tina Louise.
Lembra de Os Oito Odiados do Tarantino? Pois é, aqui está ele. Dentro de um barracão-hotel, no fim do mundo, entre sujeira e gelo, um cara do bem tenta livrar o lugar de um bando de estupradores e ladrões imbecis. Eu não gostei do filme, mas talvez esteja errado. Ele é muito crú e não parece ser um filme de 1959, tem cara de 1979. Robert Ryan é talvez o maior ator americano de seu tempo...e o menos lembrado.
   UM PECADO EM CADA ALMA de Rudolph Maté com Glenn Ford e Barbara Stanwyck
Um pacato dono de terras resolve vender sua propriedade para um vizinho rico e ganancioso. Mas muda de ideia e organiza um bando para não ser "convencido" a vender. Maté, dinamarquês, foi diretor de fotografia de Dreyer. Nos EUA, se tornou um dos grandes diretores de imagens do cinema, mas apenas um diretor de filmes ok. A gente adora odiar Stanwyck.
   À BORDA DA MORTE de Richard D. Webb com Robert Ryan e Jeffrey Hunter
Numa cidade corrupta, um xerife tem de lutar mesmo sofrendo de crises de cegueira. Cá está o grande Ryan em mais um western. E, tenho certeza, voce vai se deixar envolver pela sua dureza frágil. Um western médio, daqueles que eram feitos às centenas para lotar os cinemas de bairro e do interior. Hoje a gente tem saudade deles.
   HOMENS INDOMÁVEIS de Allan Dwan com John Payne, Lizabeth Scott e Dan Dureya.
Um dos motivos do fim do filme de faroeste foi a TV. Mas o principal foi o limite claro que existe no gênero. Assim como o filme de HQ, o western tem pouca chance de criação. Ele possui um número restrito de temas, de ambientes e de assuntos. Quando deixa isso tudo de lado não é mais um western, vira outra coisa. Com o filme noir isso não aconteceu e por isso ele sobrevive até hoje. Os temas e os ambientes do noir podem ser modificados à vontade, já o western não. Este é um filme ruim.
   A RENEGADA de Allan Dwan com Audrey Totter e John Lund.
Críticos franceses descobriram Dwan nos anos 50. Ele é apenas ruim. Um diretor de muita ambição e pouca realização. Detestei este filme.
  UM PREÇO PARA CADA CRIME de Bretaigne Windust com Humphrey Bogart
Bogey é um promotor que vê suas testemunhas sendo eliminadas. Zero Mostel é sua última chance e ele não pode deixar que ele morra ou desista de testemunhar. Muito bom. Bogey está frio como aço e a fotografia é linda, sombras numa cidade úmida. Um noir dos bons.
  SOMBRAS DO MAL de Jules Dassin com Richard Widmark
Já tendo fugido para a Inglaterra, Dassin chama Widmark e filme este triste drama noir. Widmark é um pequeno malandro que sonha em dar um grande golpe. Mas ele falha e o filme é de um pessimismo total. Tudo funciona aqui: Londres, as ruas, os atores, a trilha sonora.
  A MALETA FATÍDICA de Jacques Tourneur com Aldo Ray e Brian Keith
Uma maleta cheia de dinheiro cai na mão de um cara. Mas esse dinheiro é da máfia. Ele passa a ser caçado. Tourneur sabia fazer qualquer tipo de filme. Só musical ele não fez. Filme de guerra, piratas, westerns, noirs, comédia, filme de terror...Este é dos bons.
  DO LODO BROTOU UMA FLOR de Robert Montgomery com ele e Wanda Hendrix
Montgomery, ator famoso desde os anos 30, vai ao Mexico fazer este filme estranho. E belo. O tema é a chantagem e o azar. Como ator, Montgomery brilha em sua frieza desiludida, como diretor, ele funciona: o filme é diferente.
  MERCADO HUMANO de Anthony Mann com Ricardo Montalban
Anthony Mann, um grande diretor, dos maiores, começa sua carreira no filme noir. Este fala dos mexicanos que cruzam a fronteira como ilegais. Um agente americano se infiltra nos grupos de chicanos para tentar descobrir os vendedores de passagens. Um tema ainda atual. O filme é quase um documentário.
  PRECIPÍCIOS D'ALMA de David Butler com Joan Crawford, Jack Palance e Gloria Grahame
Mio Dio!!! O filme começa como um inacreditável novelão com um canastríssimo Palance. Ele é um ator que se casa com uma famosa escritora. Mas então...o filme muda e vira um noir em que ele tenta a matar. Gloria, sempre sexy, faz a amante. Um filme muuuuito esquisito e meio doentio.
  NA NOITE DO CRIME de Norman Foster com Ann Sheridan e Dennis O'Keefe
Um cara foge em San Fran. Apenas isso. E que "isso"! Um pequeno filme noir com excelente direção e clima de sobra. O legal dessas caixas de filme é que, como já estamos na caixa 8, os filme óbvios já foram editado e agora surgem as surpresas. Como este, que estava completamente esquecido.
  A CICATRIZ de Steve Sekely com Paul Henreid e Joan Bennett.
Nunca na vida ouvi falar deste diretor! Mas conheço bem os atores e o fotógrafo, John Alton. Um ex prisioneiro, após cumprir pena parte para o crime. E para isso, ele toma o lugar de um psiquiatra parecido com ele. O tema é o duplo, o roteiro é inverossímil, mas é daí...o filme tem suspense e é bom pacas!
  TRÁGICO DESTINO de John Farrow com Robert Mitchum e Claude Rains.
Uma obra prima! O grande ator do noir, Bob Mitchum, é um médico que sem querer, se envolve no mundo do crime. Faith Domergue, uma atriz ruim, aqui faz a mulher fatal, e está ótima! O filme se parece com um pesadelo. É uma diversão cruel.
  A MORTE RONDA O CAIS de Phil Karlson com John Payne
A esposa de um taxista é morta pelo amante. O marido é dado como suspeito e foge da policia. Excelente filme B. Rápido e ágil, ficamos envolvidos pelo destino do pobre "trouxa". Veja!!!
 

HUMPHREY BOGART- 6 FILMES...LAURENCE OLIVIER- 1 FILME.

  Ando lendo um livro que em certo momento conta que o cinema popular mudou todo o conceito que se tinha do que seria arte. Foi através de filmes populares que se percebeu que o aparentemente comum poderia esconder coisas perturbadoras, profundas e originais dentro de si. Faço para mim mesmo um pequeno festival Bogart. Todos os filmes feitos entre 1941-1948.
THE BIG SLEEP ( A BEIRA DO ABISMO ) de Howard Hawks com Lauren Bacall e Martha Vickers.
A prosa de Raymond Chandler é considerada hoje alta arte, mas em 1944 era chamado de pulp, lixo. Bogart vira Philip Marlowe, detetive mais leve que Spade. O crime que ele investiga é apenas uma desculpa para um exercício típico de Hawks, ou seja, um filme que lança seu olhar sobre aquilo que quase ninguém repara: chistes, conversas fúteis, movimentos aparentemente banais. O centro de tudo é o flerte entre Marlowe e duas irmãs, uma ninfomaníaca e outra fria como gelo. O filme não tem uma só cena "sensacional", e ao mesmo tempo ele é inteiramente memorável.
KEY LARGO de John Huston com Lionel Barrymore, Lauren Hutton, Edward G. Robinson.
Um grupo de bandidos está isolado em um hotel na Florida. Um furacão se aproxima e Bogey é um ex-soldado que vai lá conhecer a viúva de um colega morto na Italia. A tensão cresce sem parar, os bandidos humilham e pressionam os outros hospedes. Huston faz um de seus filmes sérios e isso torna-o desagradável. O ar de denuncia, de simbolismo politico o destrói. Não é um grande filme, mas tem um final bem legal em termos de aventura.
O ÚLTIMO REFÚGIO de Raoul Walsh com Ida Lupino.
Maravilhoso filme! Bogey é um gangster que ao sair da prisão percebe que o mundo mudou, ele não é aceito pelo modo de se cometer crimes nos anos 40. É uma das melhores atuações da vida de Bogart. Nada glamuroso, ele mostra um rosto de raiva, aturdimento e inadaptação. Walsh foi grande diretor de épicos no cinema mudo. Depois se tornou mestre em aventuras e westerns. Sua carreira, sempre interessante, começa em 1922 e vai até 1964. Este é um filme imperdível.
PRISIONEIRO DO PASSADO de Delmer Daves com Lauren Bacall.
Os moderninhos adoram este filme. Talvez por ser tão absurdo. Bogey faz uma cirurgia para mudar de rosto e assim escapar da policia. O filme, maneiroso, cheio de toques esquisitinhos, é bem bobo, mas nunca fica chato.
UMA AVENTURA NA MARTINICA de Howard Hawks com Lauren Bacall e Walter Brennan.
Hawks em sua raiz mais típica, um filme onde coisas acontecem, mas nenhuma delas tem muita importância. O que interessa são as relações, os diálogos, e todos parecem comuns, banais. Mas não são. O que Hawks faz é dar relevo à vida nossa de cada dia, mesmo que o cenário pareça exótico, o que mostra é a vida de quem assiste o filme. Uma vida simples, de pouco alcance e mesmo assim encantadora, cheia de significado. Bogey, relax como nunca, é um pescador. Bacall uma prostituta. Brennan um bebum. Eles se envolvem em algo a ver com nazis. O filme é o oposto de Casablanca. Tem quase o mesmo elenco, mas se naquele o clima é de heroísmo e renuncia, aqui tudo é indecisão e preguiça.
O FALCÃO MALTÊS de John Huston com Mary Astor e Peter Lorre.
O mítico noir de Dashiell Hammett recebe tintas escuras na estreia de Huston como diretor. O foco é na relação entre Astor e Bogey, um duelo de mentiras. O filme foi revolucionário na época por ser amoral, ninguém é bom e nenhuma moral é esposada. Visto hoje fica longe de ser uma obra-prima, mas continua interessante, o nascimento de um tipo de filme dark que sobrevive até hoje.
HAMLET de Laurence Olivier
E aqui o anti-Bogart, o artista que se pensa artista, que arrota arte e filme Shakespeare em viés Freudiano. O filme, longo, solene, belo, pesado, rígido, nunca nos dá prazer. As imagens são lindas, mas o ritmo é frouxo e não há um segundo em que Olivier não grite: Olhem como sou incrível!

LOGAN - ANTHONY MANN - KIRK DOUGLAS - BOGART

   UMA NOITE COM MEU EX-SOGRO de Gavin Wiesen com J.K. Simmons e Emile Hirsch.
Parece mas não é uma comédia boba. O filme narra a odisseia de um dia de um pai procurando sua filha. Ele é um milionário cinquentão, seguro e objetivo, e para a encontrar conta com a ajuda do ex namorado da filha, um jovem inseguro, alternativo e sem rumo. Há aqui uma leve crítica aos atuais jovens da geração nascida em 1991-1997. O cara é um vegano alérgico militante solitário loser. Já o pai é o cara dos anos 80: seguro materialista forte bem sucedido. Dá pra assistir. Apesar de não fazer rir, não tem nenhuma cena constrangedora. O cinquentão lembra muito meus amigos dos anos 80.
  LOGAN de James Mangold com Hugh Jackman e Patrick Stewart.
Este filme exibe a morte do cinema. Enquanto o tal "cinema" se ocupa de seus filmecos relevantes ( que nada mais são que vírus fatais para o cinema ), filmes maravilhosos como este são esnobados pelos "críticuzinhos". Logan é um grande filme visto sob qualquer ponto de vista. É grande como história, como interpretações, como diversão séria e como peça de arte. Será solenemente esquecido pelo oscarzinho. O tempo irá o preservar. É pra sempre.
  VELOZES E FURIOSOS 8 de F.Gary Gray com Vin Diesel, Dwayne Johnson, Jason Statham e Charlize Theron.
O criticuzinho joga Logan no mesmo saco de lixo que este filme. O que mostra o preconceito asqueroso do tal escriba. Este é um filme mal escrito, mal interpretado e com várias cenas chatas. Os americanos não entendem porque esta série faz tanto sucesso no mundo fora dos USA. Simples: ele mostra um mundo que para os USA é banal, mas que para o resto do mundo é fascinante. O mundo dos carros top, da ação top e das ruas top.
  NO SILÊNCIO DA NOITE de Nicholas Ray com Humphrey Bogart e Gloria Grahame.
O que se pode falar de um filme que é perfeito...Bogey está em seu auge neste drama tristíssimo sobre um roteirista de cinema violento. Gloria é a mulher que poderia o salvar, mas ela não segura a barra. Ray dirige com amor e com tato, muito tato, e nós vemos as imagens como um tipo de sonho ruim. Este filme foi considerado banal em seu tempo, hoje é uma obra-prima. Penso que o tempo é o grande justiceiro da arte. Quem nunca o viu não faz ideia do que está a perder.
  O CAMINHO DA TENTAÇÃO de Andre de Toth com Dick Powell, Lizabeth Scott e Raymond Burr.
Um cara comum, pai de família, tem um caso fora do casamento. Ele o termina, mas mesmo assim esse caso continua a o assombrar. É moralista, mas é bom. Tem suspense, Powell está ótimo e Scott não é uma femme fatale. A amante é a mais inocente na história. Belo filme.
  ATÉ A VISTA, QUERIDA de Edward Dmytryck com Dick Powell e Claire Trevor.
Há quem o ache o melhor Raymond Chandler do cinema. Eu acho-o muito confuso. De qualquer modo tem a fotografia mais noir da história. E Powell faz o Marlowe que Chandler mais gostou. Reviravoltas a granel e muitas cenas de desmaio.
  O INVENCÍVEL de Mark Robson com Kirk Douglas e Arthur Kennedy.
É o filme que influenciou Scorsese e seu Raging Bull. Kirk virou estrela aqui, fazendo um cara ambicioso que vira campeão de boxe. As cenas no ring são perfeitas, nervosas, ágeis. E o filme, como um todo é brilhante. Kirk Douglas cria sua persona neste filme e será para sempre este violento e passional barril de pólvora. Um clássico e um dos filme que fez do boxe o esporte do cinema.
  CONSPIRAÇÃO de Anthony Mann com Dick Powell e Adolphe Menjou.
Uma obra-prima de um diretor maravilhoso. Anthony Mann ficou famoso pelos seus westerns, mas antes disso, ele fez este suspense à Hitchcock. O presidente Lincoln poderá ser morto antes de assumir a presidência. Dentro de um trem, um detetive tenta chegar a Baltimore antes que Lincoln seja morto lá. Mas ninguém crê nele, e todos tentam o capturar achando que ele é um bandido. O filme fala de racismo, de politica, de guerra e de intolerância ideológica. E é uma aula de direção de cenas. Powell dá seu melhor desempenho.

UM FILME PERFEITO- IN A LONELY PLACE.

   Dixon Steele. Esse nome vai ficar na sua cabeça para sempre. Dix Steele é um roteirista em Hollywood. E é um homem violento. Faz tempo que ele não escreve um sucesso. Um produtor, num bar, pede que ele leia um livro e faça um roteiro a partir dele. Dix pede para que uma garota leia o livro e lhe conte a história. Essa moça vai à casa de Dix. E nessa mesma noite é encontrada morta.
  Uma mulher diz que Dix passou toda aquela noite em casa. É sua vizinha. Mas mesmo com esse álibi, a polícia fica em cima dele. Então a vida sorri: a vizinha se apaixona por ele e ele por ela. Mas acontecem coisas que estragam o amor: Dix é violento, ciumento, impulsivo. Ela começa a pensar que ele pode ser o assassino...
  O filme consegue fazer algo de muito raro: muda nosso foco. Antes o filme era Dix. Agora é dela, Laurel Gray. Tememos Dixon Steele ao lado dela. Ao final o assassino é pego. Mas o mal já foi feito. O amor foi quebrado. Dix e Laurel se perderam.
  Uma frase famosa do filme: Nasci quando te conheci. Morri quando te perdi. Fui vivo enquanto te beijava. Bogart cruza o portão da casa e se vai sozinho. Ela diz: Adeus Dixon Steele...
  Os filmes que fazem com que voce se apaixone pelo cinema não são os grandes filmes. São os filmes médios, comuns, que com o tempo se revelaram joias, lembranças, mementos da beleza que o cinema pode atingir. Este é um dos filmes, no lançamento considerado apenas mais um, que com o tempo se tornaram clássicos.
  É um dos filmes favoritos de alguns amigos meus, e hoje o vejo pela segunda vez. Ele me toca. Tanto quanto na primeira vez.
  Bogart nunca esteve mais real. É ele na tela. Seu desnudamento é completo. Gloria Grahame não fica atrás. Fascinante. O filme é de Nicholas Ray, o cara que descobriu James Dean. Tem de ser visto. É belo, é lindo, é inesquecível.

GÊNIOS DO CINEMA - GENE TIERNEY - FLYNN - BOGART - MACLAINE

   PATRULHA DA MADRUGADA de Edmund Golding com Errol Flynn, David Niven, Basil Rathbone e Donald Crisp.
Um dos melhores filmes de guerra já feitos. Na França de 1915, acompanhamos o dia a dia de uma base da RAF. Pilotos são mandados toda manhã para missões suicidas. Flynn, nunca melhor que aqui, comovente em seu estoicismo elegante, é o piloto que evita lamentações. Encara cada missão como um esporte e bebe como se fosse uma festa. Niven, excelente, é seu melhor amigo. O filme é pacifista e feito em 1938, encara a possibilidade de mais uma guerra. Este filme é nova versão de um filme anterior de Howard Hawks, feito em 1930. Sentimos ainda o foco que Hawks sempre dá a seus filmes, ou seja, a camaradagem entre homens que enfrentam uma missão dura. Nunca vi o original, mas imagino que seja mais lento e mais cheio de toques da vida comum. Golding foi um bom diretor e leva o filme para um tipo de drama que duvido que Hawks tenha tocado. É este um grande filme. As cenas de aviação são lindas, os aviões em malabarismos num céu sem fim e as manhãs em que eles decolam. Foi a última guerra em que os resquícios do cavalheirismo ainda existiam, creia, a cena com o alemão não é uma fantasia. Um belo filme sobre um valor esquecido: virilidade sem machismo.
   O PECADO DE CLUNY BROWN de Ernst Lubitsch com Charles Boyer e Jennifer Jones.
Este é uma obra-prima. O melhor filme de um dos grandes diretores do cinema. Lubitsch nasceu no império austro-húngaro e começou fazendo belos filmes chiques e maliciosos na Europa. Foi para Hollywood já famoso e poderoso e se tornou nos anos 30 um tipo de rei da Paramount. Mestre para diretores como Preminger e Billy Wilder, que o adorava. Morreu no fim dos anos 40 ainda antes dos 50 anos. Aqui ele tece uma sátira soberba ao sistema de classes inglês. O filme é maravilhoso. Os diálogos faíscam, os atores brilham, nosso prazer é completo. A história fala de um refugiado do nazismo que se aproveita da ingenuidade dos ingleses. Mas também fala de Cluny Brown, uma menina da classe trabalhadora, que sonha em ter uma vida melhor e ignora a divisão de classes. Seu pecado é ser da classe baixa, além de entender de encanamentos. O filme tem drama e humor e na verdade debaixo de todo riso ele é bem sério. Jennifer está adorável como sempre e Boyer dá uma aula de comédia elegante. Todo o filme é deslumbrante e serve como introdução a quem queria conhecer ao cinema de Lubitsch e também o cinema dos anos 30. Inesquecível. Já sinto desejo de o rever.
   A CONDESSA SE RENDE de Ernst Lubitsch com Betty Grable e Douglas Fairbanks.
Único fracasso de Lubitsch, é seu último filme. Ele estava doente quando o fez. Pura fantasia, conta a história de uma invasão a um reino da Itália. A condessa de Bergamo tenta convencer o invasor a partir e nisso é ajudada pelo fantasma de sua tatataravó. Há ainda um marido covarde. Não é ruim. Na verdade é leve, alegre, divertido. Uma atriz melhor melhoraria muito este filme.
  PASSAGEM PARA MARSELHA de Michael Curtiz com Humphrey Bogart, Claude Rains, Peter Lorre e Michele Morgan.
Mares em tempo de segunda guerra. Um navio francês recolhe náufragos. Ficamos sabendo sua história. São fugitivos da prisão. Irão se juntar à luta contra Hitler. O filme é completo. As cenas na prisão e a fuga no pântano são emocionantes. Fotografado por James Wong Howe, um mestre, ele tem riqueza visual. O elenco não podia ser melhor. É a turma de Casablanca metida em um navio. Uma aventura típica de Bogey, direta e muito bem feita. Ver Bogart na tela é sempre uma felicidade.
  ACONTECEU EM SHANGHAI de Josef Von Sternberg com Gene Tierney, Victor Mature, Walter Huston e Ona Munson.
Não dá pra ser pior. Este filme acabou de vez com a carreira de Sternberg. O descobridor de Dietrich, autor de cinco filmes originais e fantásticos nos anos 30, aqui, em 1941, encontra o desastre. É um filme mal feito, ridículo, feio, desagradável e hilário em seus diálogos inacreditáveis. Hoje virou cult, mas é bem ruim. Fala de um antro de jogo em Xangai. Centro de pecado, de sexo, de drogas. Tierney, inacreditavelmente linda, é uma inglesa rica que decai nesse centro de jogo. Vira prostituta. Huston é o pai. Ona é a cafetina, uma dona de bordel digna de carnaval. Mature faz um turco que seduz e usa mulheres...Nada faz o menor sentido. Creia, é pior do que voce imagina.
  CHARITY, MEU AMOR de Bob Fosse com Shirley MacLaine, Chita Rivera e Ricardo Montalban.
Bob Fosse já era famoso na Broadway quando fez este seu primeiro filme. Que foi um desastre de crítica e de bilheteria. Feito em 1968, Fosse só iria se redimir em 1972, com o super sucesso e os Oscars para Cabaret. A história é a de Noites de Cabiria. Bob Fosse sempre assumiu seu amor por Fellini, e presta a homenagem ao filme do italiano levando a saga da doce prostituta para a New York dos hippies. Em 1979 ele faria All That Jazz, o seu Oito e Meio. Shirley não é Giulieta Masina! A atriz de Cabiria não pode ser igualada. O desempenho da esposa de Fellini é o maior da história dos filmes. Ainda mais quando sabemos que Giulieta na vida real é uma mulher elegante e sofisticada. O oposto a Cabiria. Shirley é uma estrela e uma boa atriz, mas aqui seu desempenho vira caricatura e o filme afunda. Ela é uma prostituta que se apaixona pelos caras errados. Montalban é o ator famoso, e depois dele vem o desastre com um rapaz que parece de bom coração mas que tem preconceitos. O que de melhor há no filme, claro, são as canções de Cy Coleman. São todas belíssimas! E as cenas de dança, com a coreografia de Bob Fosse. O homem foi um gênio, o único até hoje a ter ganho no mesmo ano o Oscar, o Emmy e o Tony ( cinema, TV e teatro ). Além do Globo de Ouro ( tudo em 72, por Cabaret, Liza com Z e Pippin ). Todas as danças, leves, modernas, ousadas, sexy, são fantásticas e suas coreografias foram imitadas desde então. Repare na cena que posto acima. O modo como todo um modo de vida, uma moda, um comportamento é satirizado sem uma só palavra. E observe em como Fosse faz as mãos, os braços e até os dedos dançarem e falarem. É coisa de gênio!!!! O filme, cheio de falhas, tem de ser visto. E confesso que a cena final me fez derramar uma inesperada lágrima. Cabiria é uma personagem tão magnífica, que mesmo no filme errado, e com a atriz errada, ela acaba nos pegando. Veja este filme!

 

CARY GRANT- BETTE DAVIS-JAMES CAGNEY-COLIN FIRTH-UMA- NEIL SIMON

   A GAROTA DO ADEUS de Herbert Ross com Richard Dreyfuss e Marsha Mason
Foi uma das maiores zebras do Oscar a vitória de Dreyfuss em 1977. Mas vista hoje sua atuação é sensacional. O texto, de Neil Simon, é bem anos 70. Fala de uma mãe solteira que é obrigada a dividir o apto com um ator desconhecido. Eles se odeiam e aos poucos passam a se aceitar. Parece óbvio, mas os diálogos são maravilhosos! Engraçado perceber que o personagem de Dreyfuss é um típico estudante paulista de 2016! Até as roupas são atuais! Não conseguimos sair de 1977... Este é o típico filme adulto popular daquele tempo. Se comparados aos adultos pop de hoje vemos que regredimos muito. Assista. Nota 7.
   BE COOL, O OUTRO NOME DO JOGO de F. Gary Gray com John Travolta, Uma Thurman, Vince Vaughn, Cedric, The Rock e Danny de Vito.
O roteiro é pobre pacas! Chili Palmer, o personagem de Travolta no ótimo Get Shorty, ressurge aqui como produtor de música. Para lançar jovem cantora ele deve passar por cima de mafiosos russos, produtores bandidos e artimanhas do mal. A esperteza se foi, os golpes são primários e mal explicados. O filme se salva por The Rock, que rouba o filme como um capanga que quer ser cantor country. Hilário! Uma nunca esteve tão bonita. Travolta está com preguiça e Vince não tem a menor graça. Seu tipo é cópia descarada do Gary Oldman de Amor a Queima Roupa. Um filme bom de olhar, mas bem tolinho. Nota 5.
  HOPE SPRINGS de Mark Herman com Colin Firth, Heather Graham e Minnie Driver.
Parecia bom. Adoro Colin. Mas é um tédio. Ele é um inglês que vai parar no interior dos EUA. Quer esquecer um amor perdido. Heather, como sempre, é uma doidinha legal, eles se envolvem. Minnie é a megera. O filme é lento, chato, preguiçoso, sem nenhuma imaginação. Pior de tudo, é uma comédia triste! ZERO.
   G MEN CONTRA O IMPÉRIO DO CRIME de William Keighley com James Cagney
Um exemplar filme de gangster dos anos 30. Cagney é um advogado que abandona a profissão para ser um agente do que viria a ser o FBI. O que acompanhamos, no estilo rápido e objetivo da época, é sua escalada para se infiltrar na gang e destruir a organização criminosa. Um bom filme de macho. Nota 7.
  BALAS OU VOTOS de William Keighley com Edward G. Robinson e Humphrey Bogart.
Não tão bom, o filme também faz parte do estilo "gangster da Warner". Mas o roteiro é mais meloso e Robinson não é tão bom quanto Cagney. Bogey faz mais um bandido. Ele, em 1936, ainda era o cara que todo mundo ama odiar. Nota 5.
  SOMOS DO AMOR de Archie L. Mayo com Leslie Howard, Bette Davis e Olivia de Havilland.
Uma alegria voltar a ver os bons filmes pop dos anos 30. Este é mais um da Warner. Sobre um casal de atores que vive em guerra. E uma mocinha tola que se apaixona pelo ator. Leslie dá um show como o ator estrela, empoado e meio tonto. Bette brilha menos como a atriz nervosa. Olivia está excelente no papel da milionária doida. Tem ainda Eric Blore fazendo Eric Blore, ou seja, um delicioso mordomo afetado. Bom passatempo. Nota 7.
   SOLTEIRÃO COBIÇADO de Irving Reis com Cary Grant, Myrna Loy e Shirley Temple.
Decepção. Um filme com Cary e Myrna consegue não ser bom. Uma garota de 16 anos se apaixona por Cary Grant, solteirão de 37. A irmã da menina, Loy, obriga-o a namorar com ela para que ela se decepcione com ele. Mal dirigido, sem ritmo, mesmo assim fez imenso sucesso, graças aos nomes das estrelas. Cary está contido, só se solta na única cena boa, a da gincana estudantil. Myrna não tem nada a fazer a não ser parecer elegante. Nota 4.

BRIAN WILSON- BOGEY- JASON STATHAM- VINGADORES- JURASSIC- BETTE DAVIS

   OS VINGADORES-A ERA DE ULTRON com os vingadores
Não rola. Ele começa já com ação, desinteressante, e rola ladeira abaixo. A história é sobre um super ser que toma a mente do Homem de Ferro. O filme falha no principal: pouco ligamos para os heróis. O primeiro filme da série era bem bom. Este é uma coisa perdida.
  OS ÚLTIMOS CAVALEIROS de Kaz I Kirya com Clive Owen e Morgan Freeman
Você vai achando que se trata de um gostoso filme medieval. Você quer um pouco de ação, heróis e magia pop. Mas então você descobre que o filme foi feito em Taiwan e que desse modo se trata de uma visão oriental sobre a idade média. E que no oriente não houve uma idade média. E que portanto o que temos é um carnaval de misturas mal feitas que tornam a coisa insuportável. Alguns personagens parecem do século XII, outros são de 1700 e alguns de Star Wars. Os nobres são negros, há ainda samurais e odaliscas. Nem Stan Lee foi tão doido. Pior de tudo, a ação é pífia.
  JURASSIC WORLD de Colin Trevorrow com Chris Pratt e Bryce Dallas Howard
Então vocês acham que sou um snob que não gosta de filmes pop...pois eu gostei muito deste. Os efeitos são ótimos, a mensagem ecológica é boa, a ação é bem dosada. Divertido e com suspense. Eis um filme digno. Pode ver que é bem legal.
  JOGO DURO de Megaton com Jason Statham e Hope Davis.
Um cara que trabalha em cassino ganha e perde uma fortuna. No meio tempo ele se mete em várias encrencas. Um filme de ação com aquele tipo de herói perdedor que era moda nos anos 90. Eu adoro. Jason é o melhor ator para esse tipo de filme. Ele nunca parece perfeito e sua voz demonstra fraqueza. Isso o humaniza. É um filme em que tudo é chavão, mas por causa de sua falta de pretensão nós desculpamos e relaxamos. Muito bom.
  AMOR E MISERICÓRDIA de Bill Pohlad com Paul Dano, John Cusak, Paul Giamatti e Elizabeth Banks.
Desde a obra-prima sobre Dylan é este filme a melhor bio sobre um rock star. Cusak e Dano dão um show fazendo Brian Wilson em idades diferentes. O filme não tenta mostrar tudo sobre o líder dos Beach Boys, ele se detém em dois momentos de sua vida: o auge em 1966 e o inferno nos anos 80. Todas as cenas no estúdio de gravação são fascinantes. O que vemos é um gênio louco criando magia. O filme consegue unir pesadelo à encanto. Brian conheceu o inferno e o psiquiatra feito por Giamatti é um dos piores vilões da história. E creia, foi isso mesmo o que aconteceu... Um filme que emociona e nos deixa nocauteados. Tem de ser visto. ( Cusak tem a melhor atuação de sua vida ).
  FLINT CONTRA O GÊNIO DO MAL de Daniel Mann com James Coburn e Lee J Cobb.
Quando James Bond se tornou em 1963, no seu segundo filme, uma mania mundial, imediatamente os USA começaram a procurar sua versão de 007. Dean Martin foi Matt Helm e James Coburn foi Flint. Os dois são gozações. Os USA não conseguiram jamais levar 007 a sério. A série de Martin é puro esculacho, esta é uma tentativa de ser engraçadinha com alguma dignidade. Não funciona. O filme em 1965 era moderninho e sexy, hoje é apenas museu vivo. James Coburn é um ator carismático, quem o viu em westerns jamais esqueceu, mas aqui ele parece apenas um adulto brincando com teenagers. Muito colorido, muito moderninho, ele parece agora apenas chato.
  O ROMANCE DE UM TRAPACEIRO de Sacha Guitry com Sacha Guitry e Jacqueline Delubac
Guitry foi um star na França dos anos 30. Ator, cantor, escritor, dramaturgo, diretor de cinema e compositor. Fez alguns filmes muito relax e muito originais. Veja esta pequena maravilha....Com humor soberbo, conta a saga de um trapaceiro. Da infância até a idade madura. O filme não tem um só diálogo, ele é todo narrado por ele mesmo, à mesa de um bar. Dessa forma, vemos as cenas enquanto escutamos sua narrativa. O efeito, que poderia ser chatérrimo, funciona muito bem. Os motivos: a história é excelente e a voz de Guitry é charmosa. O filme tem cenas sensacionais e dá um prazer imenso. Como sempre falei, a França fez os mais metidos e chatos filmes da história. E também os mais leves e bonitos dos filmes. Este é um souflé! Nota 9.
  3 ON A MATCH de Mervyn Leroy com Joan Blondell, Ann Dvorak, Bette Davis e Humphrey Bogart.
De 1932, da Warner, o filme conta a história de 3 amigas de escola. Uma vira cantora, outra vira manicure e outra alcoólatra. O filme é mal desenvolvido. O roteiro é bem tolo. O mais interessante é que Bette Davis, ainda uma novata, faz escada para Ann Dvorak e Joan Blondell. Pior ainda é Bogey, que aparece só em duas cenas, já fazendo o tipo de bandido que ele tão bem sabia fazer. Os dois parecem de outro mundo em meio a um filme tão datado. Parecem atemporais. Há um menino neste filme, que deveria parecer doce, que me deu instintos assassinos!
 

MANKIEWICZ/ BETTE DAVIS/ AVA/ BOGEY/ REDGRAVE/ ALEC GUINESS

PELE DE ASNO de Jacques Demy com Catherine Deneuve, Jean Marais e Jacques Perrin
Um rei viúvo, que prometeu a esposa se casar apenas com uma mulher que fosse mais bela que a rainha, descobre que a filha é essa pessoa. O conto de Perrault adaptado em 1970 por Demy, tem música de Legrand e fotografia de Cloquet. E mesmo assim é de uma bobice exemplar. Demy foi um deslumbrado. Se apaixonou pela nouvelle vague e depois pelos hippies que conheceu em LA. Une aqui o pior desses dois mundos. Claro, é um prazer ver Marais, o ator de Cocteau, mas é pouco. Nota 2.
ESCRAVOS DO DESEJO de John Cromwell com Bette Davis, Leslie Howard e Frances Dee.
O romance de Maugham fez de Bette uma estrela. Passado em Londres, o filme conta a história do médico, de pé deformado, que se apaixona por uma garçonete, que o usa e joga fora. O filme foi um sucesso e é bom, apesar de Bette. Porque apesar deste papel ter feito dela a estrela da Warner, seu desempenho é fake. Um sotaque cockney exagerado e uma vulgaridade de carnaval. Mas vale pela boa produção. Nota 5.
QUEM É O INFIEL? de Joseph L. Mankiewicz com Jeanne Crain, Linda Darnell, Ann Sothern, Kirk Douglas e Paul Douglas.
O roteiro, do diretor Mankiewicz, ganhou o Oscar de 1949. E é brilhante! Três amigas, casadas, vão passar um fim de semana numa ilha. Longe de telefones, elas recebem de um amigo uma carta. Essa carta diz que nessa hora, o marido de uma delas está fugindo com outra. Essa outra é a estrela da escola, antiga amiga das três. Essa carta faz com que cada uma delas se recorde do seu casamento, de um momento de crise, de alguma injustiça cometida. Qual deles fugiu? Mankiewicz dirige de sua maneira segura, pausada, firme de sempre. O filme, visto pela terceira vez, se mantém como diversão de primeira. Ainda atual, ele une drama, humor e muito suspense. O elenco, como em todos os filmes do diretor, se destaca. É este o primeiro papel de Kirk Douglas. Pode ver. É ótimo. Nota 9.
A MALVADA de Joseph L. Mankiewicz com Bette Davis, Anne Baxter e George Sanders
Um dos mais famosos filmes de Hollywood, conta a história da atriz veterana que é usada por uma fã que inveja seu status. O roteiro, do diretor, tem algumas das melhores falas wit da história. E há Bette, num de seus grandes momentos que não lhe deu um merecido Oscar. Ela consegue transmitir vulnerabilidade e vaidade ao mesmo tempo. Sua voz, rouca, traz sensualidade decadente. É um papel de genialidade. Mas o filme tem mais. Tem George Sanders exalando maldade, tem suspense e uma Anne Baxter quase ao nível de Bette. É um filme maravilhoso, perfeito, histórico e deu um Oscar a Mankiewicz como diretor. E mais um como escritor. Obrigatório para quem queira saber o que significa um bom diálogo. Nota DEZ!
A CONDESSA DESCALÇA de Joseph L. Mankiewicz com Humphrey Bogart, Ava Gardner e Edmond O`Brien
A história, cheia de fel, de um diretor humilhado por um produtor. Também é a história de uma atriz, ninfo, que não dá a mínima para a fama e que se casa com um milionário impotente. O filme deveria ser forte, mas não é. Ele quer ser tão irado que passa do ponto. O drama é exagerado, as cenas na Espanha parecem falsas e até Bogey se perde. Ele não combina com o papel. Talvez seja o pior filme do diretor, apesar de ser uma obra bastante famosa. Nota 4.
O AMERICANO TRANQUILO de Joseph L. Mankiewicz com Michael Redgrave, Audie Murphy e Bruce Cabot
Um filme fascinante que encerra o pequeno festival Mankiewicz que montei para mim mesmo ( eu sei que faltaram muitos outros....fica pra outra ).  O tema é fascinante! No Vietnã de 1954, vemos um repórter inglês, frio e distante, que tenta não se envolver na guerra, se envolver com um americano comum, que surge em Saigon para fazer comércio. Os dois viram conhecidos, disputam a mesma mulher e tudo vira um pesadelo em meio a guerra dos vietcongs contra a França. Well...para quem não sabe, o Vietnã lutou contra a França até os anos 60 e quando venceu teve de lutar contra os EUA por mais dez anos. E venceu. Este filme foi filmado em Saigon, e só isso já faz dele experiência invulgar. Foi nesse ano e nessa guerra que Robert Capa morreu. Redgrave, pai de Vanessa, dá seu show costumeiro. Vemos o inglês perceber o quanto ele foi covarde, mole, inativo. Todo o filme tem jeito de documentário e na rica filmografia do diretor é um dos melhores. Foi um fracasso na época, e nesta era do dvd está sendo redescoberto. A fotografia de Robert Krasker é excelente. Nota DEZ.
A VIDA PRIVADA DE SHERLOCK HOLMES de Billy Wilder com Robert Stephens, Colin Blakeley e Genevieve Page.
Billy num de seus últimos filmes, falha terrivelmente nesta tentativa patética de filmar um caso de Holmes como um tipo de comédia realista. O filme não pega fogo. E o roteiro, algo sobre um submarino, tem um interesse nulo. Nota 1.
VIVA A LIBERDADE de Roberto Andó com Toni Servillo e Valeria Bruni Tedeschi
Lixo. Um infantil e absurdo conto sobre um senador deprimido que é substituído por seu irmão doido. Claro que ele vira um sucesso! O que há de novo aqui? Porque fazer isso de novo? Peter Sellers o fez. Jack Lemmon fez. Eddie Murphy fez. E todos foram melhores. Nota ZERO.
O PRÍNCIPE de ....com Jason Patric, Bruce Willis e John Cusak
Uma menina se envolve com drogas e o pai vai salvar ela. O pai não é Bruce. É Patric. Cenas de ação frouxas e um roteiro com falas de analfabetos. Sem nota.
UM MALUCO GENIAL de Ronald Neame com Alec Guiness
Guiness escreveu o roteiro. É sobre um pintor genial que pobre, vive de aplicar golpes nos amigos. O personagem é feio, sujo, mentiroso, mal humorado e antipático. É um filme estranhíssimo. Nada nele nos seduz. E é um filme importante e bom. Vemos a Londres suja de 1957. Uma cidade ainda em ruínas, escura, pobre, com seus primeiros mods. O ambiente salva o filme. Nota....hmmm....5.
CRIME É CRIME de George Pollock com Margareth Rutherford e Ron Moody
Uma agradável aventura da velhinha Miss Marple, a detetive amadora criada por Agatha Christie. Crimes entre um grupo de teatro, num cidade do interior inglês. Nota 5.

BACALL

   E Lauren Bacall também parte e o mundo perde muito. Acho que era o último mito vivo. A última pessoa a ter feito parte da Hollywood de sonhos. Filmou com Hawks, com Huston. E foi a esposa de Humphrey Bogart. Era ela que ele chamava de kid. 
  Bacall foi modelo. E aos 19 foi descoberta pela esposa de Hawks na capa de uma revista. De cara ela estreou como estrela. E com Bogey. Se apaixonaram. E casaram. 
  O estilo dela era andrógino. A voz era masculina, a atitude era independente. Ela parecia capaz de levar um homem pra cama. Ela enfrentava Humphrey Bogart cara a cara. O que ele fazia ela podia fazer. Virou estrela. O cabelo e os olhos, a voz e o jeito de fumar. O assobio. 
  O glamour do mundo, que já estava diminuto, agora está microscópico.
  Adeus Lauren. Bogey a esperou por seis décadas!

SCHLESINGER/ POLLACK/ GILLIAN/ BOGEY/ TOM COURTNEY

   BILLY LIAR de John Schlesinger com Tom Courtney e Julie Christie
Assisti na Tv Cultura, talvez em 1978. Depois nunca mais. Lembrava apenas de Julie andando pelas ruas e de Tom mandando a avó calar a boca. Revi ontem. É um filme maravilhoso. Billy, feito de maneira absolutamente mágica pelo grande Tom Courtney, é um jovem sonhador. Mas não o tipo sonhador-poético. Ele é um sonhador covarde. Sonha acordado toda vez que surge alguma dificuldade. Sonha matar os pais, ser um grande general, um escritor, um duque de sangue azul... Sua vida é uma confusão. Faz um medíocre roubo em seu emprego, tem duas namoradas ridiculas, uma familia banal e vive em Newcastle. Sua única chance é Julie, em seu primeiro papel de estrela, uma garota livre, andarilha, que o convida para ir viver em Londres. Ele irá? O filme é de 1962 e vemos a Inglaterra prestes a pirar. Jovens entediados, reprimidos, doidos para viver em cidades demolidas, sujas. Penso no que seria de Billy dali a 5 anos. Doido de LSD? E a personagem de Julie? Morta? Schlesinger foi entre 1960 e 1976 um grande diretor. Depois se perdeu em projetos loucos e numa vida perdida em drugs. Ele filma livremente, criativamente, solto. É quase Nouvelle Vague, mas nunca perde o rumo do roteiro e jamais deixa de ser irônico. O filme é obrigatório. Consegue ser divertido e instigante. Billy é apaixonante. Nota DEZ!!!!
   A NOITE DOS DESESPERADOS de Sidney Pollack com Jane Fonda, Michael Sarrazin, Gig Young, Susannah York e Bruce Dern
Pauline Kael dizia que entre 1965/1977 os americanos iam ao cinema para serem deprimidos. Grandes hits terminavam sempre em dor, morte e falência total ( O Poderoso Chefão, Serpico, Butch Cassidy, Exorcista, Operação França e um etc sem fim ). Este filme, que muitos acham ser a obra prima de Pollack, é dos mais tristes. Miséria pra todo lado. Estamos em 1932, e acontece mais uma maratona de dança. Para quem não sabe, essa maratona era um tipo de Big Brother dos desesperados. Casais dançavam sem parar, por dias e dias, com intervalos de dez minutos a cada quatro horas. A coisa chegava a durar meses e era transmitida por rádio. Raras vezes o cinema mostrou gente sendo massacrada com tanta explicitude. Jane é uma suicida, Michael um ingênuo, York uma atriz falida e Dern um pai morto de fome. Gig Young ganhou o Oscar de ator coadjuvante fazendo o mestre de cerimônias, cínico, cruel e eficiente. O filme, como apontava Kael, não faz a menor concessão. É de uma melancolia tétrica. E é bom cinema. Tem ritmo, tem grandes atuações, tem interesse. E não envelheceu nada. Nota 7.
   AFTER THE THIN MAN de W.S.Van Dyke com William Powell, Myrna Loy e James Stewart
Em 1934 se lançou, baseado em Dashiel Hammett, The Thin Man. O sucesso fez com que dois anos depois se lançasse este filme. Mais cinco viriam. Mas em dois anos uma coisa mudou para pior, a censura. No primeiro Powell fazendo Nick Charles passava todo o filme bêbado e soltando piadas ácidas. Aqui ele quase não bebe e faz humor mais familiar. Mas o filme ainda é bom. O prazer em ver o casal Powell e Loy não tem fim. Como no outro filme, eles resolvem um caso de assassinato. Stewart antes de ser uma estrela está por perto. Asta, o cachorro rouba o show. Nota 6.
   COMBOIO PARA O LESTE de Lloyd Bacon com Humphrey Bogart e Raymond Massey
O tema é ótimo. Navios mercantes tentando cruzar o Atlântico rumo a Inglaterra na segunda-guerra. Bogey é o capitão de um navio. O filme é ok, mas nada especial. Nota 5.
   BRAZIL de Terry Gillian com Johathan Pryce, Bob Hoskins e Robert de Niro
Gillian fez parte do Monty Python. Ninguém pode lhe tirar esse mérito. Mas seus filmes são sempre decepcionantes. Nos anos 80 este filme foi chamado por críticos moderninhos de obra-prima kafkiana. Hoje tem o lugar que merece: esquecimento. Muito ruim. Nota ZERO.
   DAQUI A CEM ANOS de William Cameron Menzies
Baseado em HG Wells, este filme passou décadas esquecido e hoje, de volta em DVD, é reavaliado como obra-prima e considerado cult. Eu não gostei tanto. Fala de uma sociedade do futuro que vive em função da guerra. É frio, distante, não emociona. Nota 4

AMERICAN HUSTLE ( TRAPAÇA )/ MICHAEL CURTIZ/ TYRONE POWER/ STURGES/ ANDY WARHOL

   TRAPAÇA de David O. Russell com Christian Bale, Bradley Cooper, Jeremy Renner, Amy Adams, Jennifer Lawrence
Incrível como na comparação com o filme de Scorsese este filme parece pudico. Eu detestei. Tudo nele me pareceu fake. Na verdade ele é nada mais que um desfile de brechó dos anos 70 ( que não eram desse jeito, parte de seu fake passa pelo carnaval anos 70 feito em 2013 ). Nesse brechó também cabe uma trilha sonora óbvia ( o filme consegue usar músicas dos anos 70 e mesmo assim errar todas ). A trilha vai do muito cool ( Steely Dan, Todd Rundgreen ) ao muito brega ( America, Bee Gees ). O estilo de filmagem é um tipo de exibição: Hey! Vejam! Sei copiar os estilos de Scorsese/ De Palma e Friedkin!!! Uma chatice sem fim com diálogos pseudo-dramáticos. Devo falar que continuo achando o sr. Bale um ator medíocre. Aqui ele faz comédia todo o tempo. Sua interpretação parece John Travolta imitando De Niro. Se ele quis nos fazer rir, ótimo, mas temo que essa não foi a intenção. Um sotaque irritante digno de peça colegial. E ele continua confundindo ser ator com ser transformista. Já Bradley Cooper está excelente. Inclusive o visual, esse sim nada brechó. Amy Adams é sempre ótima. E Jennifer é sempre over. A famosa cena de Live and Let Die é amadora. Péssima até para o humor tipo Pânico. 10 indicações para o Oscar? Nota 3.
   DRÁCULA DE ANDY WARHOL de Paul Morrissey com Joe Dalessandro, Udo Kier, Vittório de Sica
Porque "de Andy Warhol se ele não dirige?" Porque a turma toda é da Factory. Joe é estrela de 90% dos filmes de Andy, e Morrissey foi dançarino com chicote do Velvet e cameraman da Factory. Mas o filme é um lixo. Tenta ser erótico e é apenas frio, tenta ser lúgubre e é apenas chato. Os atores têm cara de clip do Bauhaus e essa é a única graça desta chatice. Nota ZERO>
   A FERA DO FORTE BRAVO de John Sturges com William Holden e Eleanor Parker
Um bom western. Holden é um tenente do norte durante a guerra civil. Durão e mal, ele cuida de prisioneiros sulistas e precisa capturá-los numa fuga. Mas os indios atacam. Sturges dirigiu alguns dos melhores filmes de Steve McQueen, Kirk Douglas e Lancaster. Aqui, ainda em seu começo, ele usa bem os cenários e mantém o interesse. Para quem gosta de western, um belo filme. Nota 7.
  KID GALAHAD de Michael Curtiz com Edward G. Robinson, Bette Davis, Humphrey Bogart
Ainda a milhas de seu estrelato, Bogey faz um papel secundário de vilão. Robinson é um promotor de boxe. Lança novato, mas sua garota se apaixona pelo lutador. Curtiz dirige de seu modo habitual, crú, direto, sem firulas. Conta a história de modo cirúrgico e entrega uma diversão sem uma cena a mais. Exato. Bette Davis rouba o filme. Sua personagem exala sabedoria. Um grande filme. Nota 8.
   O BECO DAS ALMAS PERDIDAS de Edmund Goulding com Tyrone Power, Joan Blondell e Colleen Gray
Surpreendente. Hollywood não fazia filmes assim em 1947. Mas Tyrone pressionou a Fox a produzir este roteiro. Fala de um vigarista que usa todos para ser famoso. Como? Com um número de vidência. O filme mostra miséria, desespero e muita sujeira. Começa numa feira mambembe e termina de forma terrível. Tyrone está muito bem. Além de todo preconceito ( ele não era levado a sério por ser bonito ), ele era bom ator. Gray é uma linda atriz e o filme precisa ser visto por aqueles que se interessam por cinema. Nota 7.

FRANK- JAMES KAPLAN, O INFERNO

   Abaixo eu escrevi sobre toda a primeira parte do livro de James Kaplan sobre Frank Sinatra. A segunda parte é o inferno. A partir de 1946, ou seja, após a guerra, o gosto médio americano muda. O grande centrão do país, o interior profundo, passa a ditar as regras e o que faz sucesso é menos sofisticado, menos urbano, mais simples. Cantores como Perry Como, Eddie Fisher, Frankie Laine...Como aconteceu com o Brasil a partir de 1990, o povão começa a ter acesso a cultura, e a cultura que eles consomem é a mais simples possível, quase infantil. Sinatra não quer e não pode se encaixar nesse mundo. Então ele desaba. E como nada vem só, tudo começa a desmoronar.
 Ele se apaixona por Ava Gardner. No começo tudo é lindo. Mas logo começam as brigas. Nesse terremoto, ele se separa de sua esposa ( o que gera a ira de 90% das mães americanas ), estreia um show de TV que é um fiasco, perde seu contrato de cinema e é acuado pela imprensa por suas ligações com a máfia e com a esquerda americana. Capacho de Ava, falido e sustentado por ela, despedido da gravadora, desesperado. Tenta se matar duas vezes, vaga solitário pelas ruas...
 Ava desiste dele. Dorme com contra-regras, atores, atletas e toureiros. Principalmente toureiros. Frank tenta a reconquistar. Patético. Ela faz dois abortos que o revoltam. ( O segundo não era dele, mas ela não conta...). Ava se torna a atriz mais quente do mundo. Sinatra o cantor que ninguem mais quer. 
 ( Uma frase de Humphrey Bogart para Ava nos bastidores de um filme que fizeram juntos: " Todas as mulheres querem dar pra Sinatra e voce prefere dormir com um cara que usa capa e sapatilhas!").
 Uma nova gravadora, a Capitol, tem um jovem diretor. Com menos de 30 anos, esse garoto fez a moral ao ser incumbido de criar um selo de discos infantis. O cara cria o Bozo! E estoura. Em seguida ele chama Nat King Cole, e faz dele um sucesso. E Frank Sinatra aparece, o cantor que ninguem mais queria. Alan Livingston, esse o jovem produtor, traz Sinatra e Nelson Riddle para os arranjos. E a coisa acontece. Nasce o cantor que conheceu o inferno, a dor,   nasce o homem forte, o cara que venceu o mal. Las Vegas, que nasce naquele tempo, se torna seu QG, Sinatra passa a ser o icone do big boss, o modelo a ser copiado, o cara que pode tudo, o adulto, o juiz, o fodao.
 Sinatra renasce. A maior volta por cima da historia da musica popular. Do desemprego ao topo do mundo. De novo.
   Ao mesmo tempo vem o cinema. Ele ganha o papel em A Um Passo da Eternidade ( sem a ajuda da mafia, com ajuda de Ava ), e leva o Oscar. O cara que toda Hollywood gostava de odiar vence. Porque ele mereceu, apenas por isso. As pessoas sabem que Sinatra tem tudo de um filho da puta: vaidade, infidelidade, teimosia, egoismo; e tambem genialidade, vulnerabilidade, timidez, generosidade e a VOZ. The Voice. Ele.
  A ultima cena do livro: Frank com seu Oscar, em 1954. Anda pelas ruas de Los Angeles, madrugada, com o Oscar em maos. Sozinho. Feliz. Novo. Aos 39 anos. 
  Um grande livro.