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INSUPORTÁVEL, SALOMÉ DE RICHARD STRAUSS

Eis o moderno do começo do século XX. Serei eu um retrógrado? Mas como, se amo Bartok, compositor bem mais radical que Strauss? Posto isto, eu positivamente odiei Salomé. Mais que isso, parei aos 40 minutos. Não aguentei continuar a escutar essa massa histérica de vozes em briga alucinada. Que coisa sem sentido! Strauss, compositor de algumas coisas que gosto, mas sempre dando a sensação de ser hiper valorizado, apresenta aqui uma ópera que não apenas faz barulho, ela enerva. ------------------ Sempre em velocidade, a orquestra ataca literalmente. São os sons cacofônicos dos cartoons de Tom and Jerry. Porém, sem humor ou jazz. E acima de tudo, vozes que gritam, que discutem, que desarmonizam. Te parece bom? Não, não é. Pois inexiste o ponto que faz sentido. Seria bom se toda essa gororoba fosse temperada com um contraste, algum momento que nos dissesse: eis a coisa! Mas não... é confusão sem fim. E que parece não ter começo. ---------------- Salomé é inescutável e indesculpável. A tentativa, tola, de se fazer sobressair no tempo de Stravinski e Schoenberg. Não rolou. Fim.

DIETRICH FISCHER DIESKAU CANTA SCHUBERT E STRAUSS

São dois cds da DG. Em um deles, o grande barítono alemão canta Schubert. As letras, poemas, são de Goethe. O piano é tocado, de forma sublime, por Gerald Moore e por Jorg Demus. Schubert nasceu para compor lied, essa forma tão alemã de canção. Ganymed é minha faixa favorita. O poema de Goethe, conheço-o em tradução, encaixa à perfeição com a força musical de Franz Schubert. Se a civilidade tem uma forma ela se encerra nesta obra. Dieskau, como todo mestre vocal, canta se fazer a menor força. Se apruma, respira, e solta a laringe como se fosse isso a coisa mais simples da vida. É a voz que mais admiro. Jamais perde o controle. Não procure nele a emoção explícita dos italianos. Aqui voce deve recolher os momentos e os compreender. ------------ No outro CD, Dieskau canta Richard Strauss e os poemas musicados vão de Heine e Goethe até MacKay e Schack. É outro mundo. É a cultura alemã-vienense de 1900. Sensual, há nas melodias algo de inefável, solto, inacabado. Quem está ao piano é Wolfgang Sawallich, futuro maestro dos grandes. É perfeito. Se Schubert parece sempre cômico e trágico, variando entre esses dois polos com leveza de sátiro, Strauss parece eternamente um erudito. Mesmo em seus momentos sensuais, vários, há a intenção de atingir uma meta. Cerebral portanto. Nada ao acaso, nada por inspiração, tudo com um fim. ----------------- Será que alguém ainda se recorda que a música é educação? E portanto, mais que um prazer, ela é um refinamento?

Richard Strauss - Till Eulenspiegels lustige Streiche (Op. 28)

RICHARD STRAUSS, DON JUAN + TILL EULENSPIEGELS

Talvez eu tenha sido injusto com Strauss em meu último post. Sim, ele não é um gênio, mas sem dúvida é um dos grandes dos últimos 100 anos. Ao contrário da música POP ou do jazz, no reino da música clássica, uma obra dificilmente pode ser bem avaliada na primeira escuta. O ideal é emitir opinião após a terceira ou quarta audição. Desse modo, sim, confesso que ao reescutar UMA VIDA DE HEROI, percebi que a obra é bem melhor do que eu escrevi abaixo. Há nela duas ou três melodias que são absorventes e instigantes. E também há ritmo, algo de que Strauss entende muito bem. ------------------------ Well....falando agora das duas obras acima, ouço DON JUAN pela terceira vez, e TILL pela quarta. Juan tem o sabor da aventura. Nesta versão de 1957, da ORQUESTRA DE CLEVELAND, sob George Szell, uma lenda esse maestro, a música corre, pula, foge e retorna mais ousada. Há em tudo o clima de uma festa, pausas amorosas, e a volta de brindes e risos. TILL é ainda mais esfuziante. Alegria plena, a música pipoca entre altos e planos, vales e rios. Flui no ritmo de Strauss, a melodia súbito se esvai e um novo motivo nasce do vazio. É música explosiva, viva, que busca a constante invenção. ------------------- Das grandes orquestras americanas do século da gravação, Cleveland era considerada a melhor pelos conhecedores. Não tinha a fama e o fulgor de New York e Chicago, mas era a mais confiável em excelência. É uma gravação sublime.

UMA VIDA DE HEROI, POEMA SINFÔNICO PARA GRANDE ORQUESTRA, RICHARD STRAUSS

Gravação CBS de 1960. Orquestra da Philadelphia sob a direção de Eugene Ormandy. Ormandy foi um dos mais famosos maestros e 1960 é, talvez, o ano máximo das gravações de música clássica. ------------------ Strauss tinha 35 anos quando lançou esta obra em 1899. Já famoso, tanto como compositor quanto como maestro, Strauss foi duramente criticado por esta obra. O tal heroi da obra é ele mesmo. É um trabalho que transpira vaidade. ------------- Eu gosto de Strauss. Não é dos meus 10 favoritos, mas gosto de sua música. Ela tem sempre um brilho fresco, ritmos que se quebram, volumes que se adensam. Então coloco este disco para rodar. E já em seus primeiros minutos me decepciono. Strauss excessivo. Penso numa palavra para definir o que escuto, encontro: Desagradável. É música desagradável sem ser excitante. Sim, pois há música ríspida, incômoda que se faz inspiradora, que move sua alma. Mas não aqui. São ritmos que explodem e desaparecem sem causar emoção maior que repulsa. Tudo parece fora do ponto: alto demais, rápido demais, melodramático demais, selvagem demais, sempre demais! --------------------- A impressão que tive é a de que Strauss quis contar tanta coisa que acabou contando quase nada. Há tantas ideias que todas se perdem incompletas. O heroi é um engodo. ---------------- Ouvirei mais duas obras de Strauss. Conto depois.

ASSIM FALA ZARATHUSTRA - RICHARD STRAUSS

De forma básica a filosofia de Nietzsche diz que todos nós somos seres vivos, mas nem todos são homens. A maioria é um pato, uma ovelha ou um cão, mas para ser um homem é preciso ser livre, independente e trágico. Ser trágico significa ter consciência e de certo modo amar a precariedade da vida. Nosso destino é morrer, mas no caminho podemos ter a sabedoria de nos tornar homens. Essa filosofia, como todos sabem, é muito, muito perigosa. Na mente errada ela se transforma numa espécie de vaidade esnobe. Aquele que se considera um ser superior, um homem, olhará para os outros como meros animais. No extremo esse modo de pensar deu no Nazismo, mas toda tirania, inclusive todas de esquerda, tende a ver a massa como conjunto de bichos, burros e prontos para o abate, que precisam ser guiados rumo à verdade por algum ser iluminado, seja esse líder um general ou um intelectual. A filosofia de Nietzsche não tem culpa, pois todos esses assassinos não percebem ou não querem perceber o âmago de Nietzsche: O Individualismo. O homem que vê não vive dentro da sociedade, ele se isola mesmo entre outros seres. Guiar o rebanho é a negação absoluta de Nietzsche. O tal Super Homem volta as costas para a sociedade. Ele sabe que o caminho para a sabedoria é posse de cada um. O super homem está focado em seu percurso. Fazer política ou procurar formatar uma nação é coisa de lobo entre ovelhas, nada tendo a ver com a profunda humanidade do filósofo alemão. Tanto que ao perceber em Wagner o desejo de comandar uma revolução Nietzsche imediatamente rompe com ele. Não se iluda com o desserviço que seus herdeiros fizeram. A filosofia dele é irmã do budismo: cada um que encontre SEU guru e SEU caminho. ----------------- Richard Strauss não entendeu nada disso. Tão vaidoso quanto Wagner, de quem pegou muita influência, Strauss se via como um ser especial, superior, refinado, um heroi. Tanto que uma de suas obras fala das aventuras de um heroi, no caso, ele mesmo. No começo do século XX Strauss encarou colocar o livro de Nietzsche em música. Felizmente o filósofo já havia morrido. -------------------------- Não estou dizendo que a música é ruim. Strauss é um orquestrador maravilhoso. Aqui há música, muita música. É excitante, é instigante e jamais é entediante. É potente. Voce conhece seus primeiros acordes, a alvorada do homem. O modo como Strauss consegue levar adiante uma melodia que parece se encerrar em si mesma, é soberbo. Mas nada há de Nietzsche aqui. Strauss acha que o Super Homem é um tipo de alemão com espada e elmo, martelo e clava. Um homem que vence a neve, a fome e os inimigos. Nietzsche odiaria isso. O super homem de seua filosofia é um grego ou um romano, vive nú ao sol e bebe vinho. Ele dança. Ele navega. Ele pesca. A música de Zarathustra é mediterrânea. Jamais nórdica. Ela usa flauta, ela é leve e sensual, ela é quente. E trágica, claro, muito trágica. Ela dança à beira do vulcão, nunca à beira de uma geleira. Debussy está muito mais próximo de Nietzsche que Strauss. Ravel também. Alemães se irritam ao saber, mas França e Itália são mais super homem que a Alemanha. --------------- O cd que ouço tem a orquestra de Cleveland regida por Geroge Szell. Nota mil. Decca é a gravadora. Para completar o cd, temos Don Juan e As Alegres Aventuras de Till. Ambas são melhores que Zarathustra. São felizes. São sexy. São cheias de som. Ribombantes. Ouça.