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Al Green - Love And Happiness *LIVE*

A VOZ MAIS LINDA

A voz de Al Green é uma das provas de que Deus existe. E ciumento, Ele o requisitou e o levou para a igreja, onde Al Green prega desde então. Sim, voce jamais vai entender a música popular americana se não pensar nas igrejas. Seja soul, blues, rock ou country, a coisa se dá sobre um altar ( palco ), onde se prega para fieis em transe ( voce ). É uma raiz que os ingleses não possuem, a deles é o pub ( sem piada aqui ). Rolling Stones ou David Bowie nunca pregam. Bruce Springsteen é um pastor em extase religioso. O mesmo vale para todos os outros. -------------- Na música negra a igreja está sempre mais próxima. E mesmo o rap, que parece tão blasfemo, sempre termina numa espécie de cerimônia onde se pede proteção aos manos e as minas. -------------------------- A voz de Al Green é a melhor porque ela consegue ter três linhas de som ao mesmo tempo. Ela é rouca ao fundo, na base; tem um falsete que jamais parece forçado ou exibicionista, lá no alto; e ao centro é firme e sexy, sem nunca perder a virilidade. Entre 1971 e 1977 ele lançou 11 discos. Nenhum tem uma faixa fraca. --------------- Willie Mitchell, em Memphis, era o seu produtor. Time de Otis Redding. O som de Green tinha um diferencial: era mais nu. Bateria e baixo bem na frente, pouca guitarra, country, e um quase nada de teclados. Riffs de metais e só isso. Era uma cama de ritmo para que Al Green deitasse e dominasse a coisa. Deu certo. Deu muito certo. ---------------- Ouça love and happiness e saque o que digo. Cantores dariam a alma por essa voz. A canção é exemplo de simplicidade enganadora. Ela tem tudo. Ela é perfeita.

Al Green ~ Simply Beautiful {Live Acoustic}

GASOLINE ALLEY - ROD STEWART. CREIA EM MIM PEQUENO MILLENIAL, ELE FOI UM DIA UM GRANDE, GRANDE POETA

   O Rod Stewart que existiu entre 1969-1975 era acima de tudo um cantor folk com voz de negro da soul music. Foi a melhor voz do rock. E logo no início, neste disco de 1970, seu segundo disco solo, voce já percebe tudo isso.
  Há um acorde de violão. E um acorde slide guitar. E em seguida a voz. Imediatamente voce entende o recado. E é transportado para aquele mundo. Chão de pedras, garoa, pobreza, melancolia viril, beleza entre o vazio. Lembro a primeira vez que escutei essa canção. Era 1982 e eu tava beeeem mal. Ela soou então como um tipo de consolo. Havia uma mensagem clara naquela voz: Resista. Ronnie Wood me ensinou então onde estava a beleza do slide. Ele era mais que blues, ele era uma afirmação. Um imenso ponto de exclamação: Eu estou aqui. É muito difícil encontrar um disco que comece melhor que este.
   Depois vem a festa: Its All Over Now, um dos muitos covers que Rod fez a vida toda. Versões que são sempre ou quase sempre melhores que a verão original. Em seu disco de estreia, Rod conseguiu gravar uma versão de Street Fighting Man que é melhor que a original dos Stones. E isso foi quase um milagre. Pois aqui ele gravou Only a Hobo, e sua versão de Bob Dylan mostra uma beleza que Dylan apenas sugere. Rod Stewart tem a voz para revelar todo o potencial que uma canção pode ter. O que ele faz com Country Comfort de Elton John é sublime. Rod dá voz à uma multidão de perdidos. Nossa alma, em sua profunda imensidão, agradece.
  O que posso acrescentar sobre CUT ACROSS SHORTY? Em outros posts falei muito dela. Descrever? Uma bateria surpreendente ( Mick Waller ), tropeçando bêbada entre o som do violino cigano que promete banditismo. O suspense do violão em seu acorde que lembra uma cascavel. O contra baixo ( Pete Sears ), é uma locomotiva que resolve o Kaos inicial e faz a música avançar. Rod começa a cantar e nós seguimos a saga. É uma saga, uma lenda, um conto, uma oferenda. Desde a primeira vez que a ouvi ( dizem que as grandes músicas se gravam de tal modo em nós, que sempre vamos lembrar da primeira vez que as ouvimos, onde estávamos, que clima fazia, como nos sentimos ), cut across shorty é das minhas cinco favoritas em qualquer tipo de escolha. Ela ergue o espírito. Fala direto à ele. Carrega-o.
 Jo's Lament é de uma tristeza aceita. O disco todo tem um caráter melancólico. Sempre impressiona o fato de como pode esse compositor se perder. Não há exemplo maior de dinheiro em excesso e mulheres erradas como agentes de corrupção do talento. Tento escapar desse chavão, mas é exatamente o que aconteceu com Rod. Na história do rock, apenas Al Green teve uma transformação para pior tão absoluta. No caso de Green foi seu encontro com Deus que o desviou da música sexy e secular que ele fazia. Green se tornou ministro da fé e cantor de gospel. No caso de Rod foi a auto satisfação que o desviou de seu talento de compositor de hinos aos pobres perdidos e cronista do cotidiano redescoberto. Ninguém escrevia melhor que ele sobre o comum. Um pente encontrado, uma foto perdida, uma rua revisitada. Ele fazia poesia de qualquer coisa, e com a ajuda de Ron Wood e de Martin Quinteton, dava melodia adequada a essas joias da alma.
  Gasoline Alley não é o melhor disco solo de Rod. O primeiro é o mais bonito e Every Picture Tells a Story é o album mais genial. Mas Alley foi meu primeiro Rod da fase heroica.  Eu tinha os LPs de 1975, 1976, 1977, conhecia o Rod que era um mix de Chuck Berry com Sam Cooke, o Rod bem sucedido e hiper profissional. Quando descobri o artista primitivo foi um choque. E foi Alley quem primeiro me mostrou isso.
  Então querido millenial, jogue teu preconceito no lixo e aprenda que o senhor que hoje canta Cole Porter e o playboy que cantava disco music teve uma alma. Ele a deu de presente à uma centena de louras, mas felizmente essa alma ficou gravada em discos.
  Poder ouvir esse cara é um imenso privilégio.

Al Green - Let's stay together (live at jools holland - 8-11-2008)



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O TAL DO POP PERFEITO. BEACH BOYS, 10 CC, ALGREEN E THE KILLERS

    O segredo se chama textura. A textura da voz e dos instrumentos, a riqueza do som. Um dos melhores discos que descobri este ano ( THE BELLE ALBUM, AL GREEN ) usa apenas baixo e bateria para conseguir uma complexidade sonora inebriante. Um contra-baixo que soa e pulsa com surpresa e charme baby. Isso é tudo.
    SMILE dos BEACH BOYS abusa de ser rico em textura. O disco talvez seja melhor que PET SOUNDS. Apesar de detestar a assexualidade de Brian Wilson, seus arranjos são tão criativos, têm tanta informação que só uma besta poderia dizer que aquilo não é genial. Instrumentos sobre instrumentos, efeitos sobre efeitos criando um mundo que é música pura.
    Postei I'M NOT IN LOVE a irônica canção do 10 CC que foi um hiper hit pop em 1976 e nunca mais foi esquecida. Em 76 eu detestava, desde 86 eu a adoro. Eis a textura do pop perfeito. A banda era uma reunião de compositores e produtores dos anos 60. Gente como Graham Guldman que havia composto e produzido por exemplo os Easybeats. Os ingleses adoravam o 10 CC desde 1973, os USA só a partir de I'M NOT IN LOVE. A banda acabou a seguir e os caras viraram produtores de clips. Pois bem, essa canção tem arranjos que conduzem a sonho. A progressão dos teclados sobem ao reino onírico e os vocais, hiper-sintetizados, são construídos em camadas sobre camadas. O arranjo vê a canção como uma tela impressionista, fria, e todos os sons se fazem pinceladas. O final é um arranjo onde todas as texturas se encontram. Harmônico.
   Para finalizar, assisti o JOOLS HOLLAND e nele tive a honra de ver AL GREEN. A voz não é mais a mesma. Ele engordou. Mas é um gênio. Lindo ver o público entrar em êxtase. Foram dos maiores aplausos que presenciei no programa de Jools. Porque? Porque é o pop perfeito. Tem voz, tem arranjos e é rico. Em seguida vieram The Killers e o choque é educativo. Simples balanço quadrado em 2/4 com os uh uh uh de sempre. Pobre pobre pobre. Parecia que eu já escutara aquilo mais de 3000 vezes. A primeira lá por 1980.
  

AL GREEN-TAKE ME TO THE RIVER. LIVE 1975...o segredo está no soul



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THE BELLE ALBUM- AL GREEN

   Ao olhar a obra de Al Green, normalmente as pessoas escolhem Let's Stay Together, Green is Blue ou Call Me. Gosto de todos, mas The Belle Album é meu disco favorito. Gravado já na decadência de Green, este é o disco em que ele se apresenta mais livre, solto, perto do erro. Seu extremo profissionalismo dá uma cochilada. O som é quase o de uma jam.
   Al Green estourou em 1971 com seu soul sexy. Sua voz não tinha a fragilidade de Marvin Gaye e nem o alcance de Stevie Wonder. Ele também era menos ambicioso que os dois. Jamais tentou gravar uma obra-prima, ou ser um tipo de guru da causa black. Fazia belos discos, cheios de groove, intercalados com baladas que nunca eram de rasgar o coração. Sua banda, exuberante, tinha uma dupla de baixo e batera que beirava o inenarrável. Sacudiam tudo, botavam tudo pra ferver, ebulição absoluta. Na época da super-black-music, Al Green era um dos deuses. Entre 71/74 mandou e desmandou, um cantor sexy, macho e muito vaidoso. Mas aí veio o tiro...
   Num hotel, em 74, Green foi atacado por uma fã. Fã que acabou por atirar em si-mesma, na frente de Al Green. Em crise, Al Green acabou por voltar à igreja e se fez pastor. The Belle Album, em que pese seu som com influências de Sly Stone e seu sacolejo funk, é um disco do Al Green espiritual. Recolhido.
   O som é menos rico que nos outros albuns. Metais e cordas comparecem menos. O que se destaca é o teclado estilingado, um par de guitarras discretas e um baixo que assume o centro do som. Enfeitando e tascando fogo na melodia vem a bateria suingada e coruscante. O disco é uma delicia de ritmo e de leveza.
   Al Green continua na ativa. Grava e faz shows, é reverenciado por cantores de r and b. Mas perdeu a vontade de ser o rei. O tiro dado pela fã paralisou sua carreira. The Belle Album é como um rastilho de pólvora que sobrara da arrancada inicial. E que poderoso rastilho.

TRANSFORMER, FUTEBOL, SEXO E AL GREEN

   Parece que afinal foi descoberto o óbvio, 1972 foi o melhor ano do rock. Uma série de shows, inclusive no Brasil, comemoram os 40 anos do ano que enterrou o passado e definiu o futuro do futuro. 1972 acabou de vez com as ilusões hippies mostrando ao universo a cara cínica, hiper-profissional e metida a besta do rock. Foi ano que deu aos tempos vindouros o caminho em estilo e produção.
   Harold Bloom, que não gosta de rock mas entende de mundo, diz que durante quinze anos o rock foi uma experiência mistica-transcendental. Seus amigos e alunos iam a shows de Grateful Dead ou Jefferson Airplane como quem ia a um momento decisivo em termos de existência. Procuravam uma reviravolta, um renascer. Em 1972 esse povo botou as botas na Terra. A experiência passa a ser carnal: sexo, drogas e ação.
   Exile on Main Street dos Stones, Harvest de Neil Young, Transformer de Lou Reed, Roxy Music 1, Let's Get It On de Marvin Gaye, Music of My Mind de Stevie Wonder, Catch a Fire de Bob Marley, Ziggy de Bowie, Slider de T.Rex, Superfly de Curtis Mayfield, Gram Parsons, o primeiro do Kraftwerk, Honky Chateau de Elton John, Funkadelic.... uma multidão de discos que ecoam sem parar nessas quatro décadas. Não há nada feito nos últimos milênios que não beba dessa fonte.
   Os Vingadores batem o recorde de bilheteria....em 1972 esse recorde foi batido pelo Poderoso Chefão....alguma coisa ruiu desde então. Falar de cinema hoje é falar de saudade ou de futilidade.
   O Bandido da Luz Vermelha é o maior filme já feito neste Brasil. Hoje estréia sua tardia continuação. Não vi ainda mas já adorei. Tem o sublime Ney Matogrosso fazendo o Luz Vermelha. Segundo Ney, o bandido passou 40 anos na prisão lendo Baudelaire, Nietzsche e Kant. O filho do Luz segue os passos do pai. Faz tudo o que ele fez...em 2012. Não conheço melhor definição do mundo de hoje. Fazemos tudo aquilo que em 68/72 foi feito. As mesmas passeatas, as mesmas rebeldias, as mesmas caretices, as mesmas bandas, as mesmas atitudes. Mas com rostos sem rugas e sem marcas de história. Vazio portanto. Apenas cópias.
   No youtube tem uma cena em que George Best solta gargalhadas enquanto joga bola pelo United em 1968. Ele vai bater uma falta e um amigo do mesmo clube lhe rouba a bola e o dribla. Entendeu porque descrevo esta cena aqui?
   Dylan veio ao Brasil e fez o melhor show da década. Pouca gente viu. Em 1965 ele dizia que o mundo estava empenhado em morrer e que ele estava empenhado em viver. Em 2012 ele continua vivo. Recria suas músicas em cada show, percorre a estrada e renasce a todo dia. Dylan é a prova viva de que viver é possível.
   Ando com um amigo por ruas escuras. Um insight: Dylan repete Rimbaud e Whitman. Renascimento. Morte em vida, mortes em vida e a ressurreição antes da morte. Dylan é um exemplo de gnose.
   Neymar nos recorda que o futebol é uma brincadeira. Ele chega ao limite do jogar por jogar, onde a vitória é um detalhe e o gol uma celebração. Neymar não é um turista. É um peregrino.
   Quando aquela menina anda com seus jeans esfarrapados grudados nos quadris eu sinto que o sexo é uma chance para se deixar de ser bobo. Eu me afundo nela, me esqueço de mim nela, me engulo nela e me perco de mim nela. E depois volto pra mim-mesmo mais eu do que nunca. Quero que ela faça o mesmo. Ela faz. O sexo existe pra gente morrer nele. E aprender a reviver nele. Carne e suor também é religião.
   1972 teve Al Green. E quando se tem Al Green não se precisa de mais nada.