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A TERRA INTEIRA E O CÉU INFINITO- RUTH OZEKI

   Um livro de uma tristeza sem fim, longo e melancólico, representou para mim uma luta para ser lido. Ele é belo, mas é um buraco fundo, pois seu assunto mais fremente é o suicídio e todos os personagens, em crise, rodam nesse questionamento: até onde vale a pena persistir.
   No Canadá, uma escritora chamada Ruth, encontra na praia um diário abandonado. O diário era de uma adolescente japonesa em crise. Essa menina, chamada NAO, morava nos EUA e o pai, despedido na crise econômica de 2000, volta ao Japão. Na escola, a menina sofre bullying.  Frequenta um bar "francês" e passa as férias com sua bisavó de 110 anos, uma monja zen. O pai tenta se matar 3 vezes, a menina é estuprada, e o tio do pai foi piloto kamikaze na segunda-guerra. Esse o enredo do livro, mas seu tema central acaba por ser a física quântica e o zen-budismo.
  Seria uma tremenda mancada se eu revelasse a chave do livro. Espero que você passe pela árdua leitura. Ele não é fácil, mas compensa. O que posso dizer é que ele acaba por filosofar sobre escolha, tempo e claro, a vida. O que posso revelar é o choque que foi para mim tomar contato com a podridão do Japão de hoje. A menina sofre coisas inimagináveis por ser uma "estrangeira". Diz a autora que lá não existe a possibilidade de imigração, uma vez estrangeiro, estrangeiro sempre. É uma molecada competitiva, agressiva, vaidosa e mais que tudo materialista. Há um imenso vale que divide o país entre o tempo da guerra e o tempo de 1980 em diante. E nessa amnésia, até o profundo instinto guerreiro do Japão é renegado. Para os jovens, é uma lugar de paz e de calma, quando na realidade sempre foi um país de guerra e de crueldade.
  A vida no Canadá também se revela fraturada. As pessoas são apáticas, caladas e bastante intrometidas. O marido de Ruth, Oliver, é um homem do mato. A floresta e seus seres ameaçam sempre invadir tudo e todos.
  Livro forte.
  PS: Estudantes americanos de Stanford tentam banir do currículo todos os livros que "fazem mal". Virginia Woolff, Joyce e Proust, dentre vários, trazem depressão e tristeza para as pessoas, e por isso atrapalham a vida. É a primeira vez na história que a censura vem dos estudantes e também é a primeira vez que se fala em censura por questões de saúde mental e não moral.
  O livro de Ruth Ozeki, escuro e triste, é um alvo dessas crianças que negam o lado escuro da força.