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SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN - HISTÓRIAS DA TERRA E DO MAR

Poeta imensa, tenho aqui um livro com alguns contos de Sophia. HISTÓRIA DA GATA BORRALHEIRA é uma versão moderna pós Freud do conto clássico. A grande ideia aqui é a de que Cinderela é quem humilha a ela mesma. Ela, como nós, vemos no espelho aquilo que achamos que somos. Cinderela imagina o que falam dela, se observa como imagina que todos a observam e acaba por se condenar, mesmo em seu sucesso final. É um conto de horror gótico. O SILÊNCIO traz a ideia de como é fácil se perder a harmonia das coisas. Basta um nada para que tudo pareça virar de ponta cabeça. A CASA DO MAR é uma pequena obra prima. Sophia descreve uma casa que foi feita na praia, às dunas. Nada mais que isso. Porém, quanta beleza nessa descrição! Ao ler me pego pensando em como são bonitas as palavras, no poder que elas têm de criar mundos. SAGA narra a história de um dinamarquês que deseja ser marujo. Para isso foge de casa e nunca mais consegue voltar ao lar. Na velhice, rico e com família grande, sente que despediçou sua vida, pois nunca mais pode retornar. Ateus não vão perceber que esta é uma parábola sobre a religião. VILAS D'ARCOS é menos que um conto, quase um pensamento. O que se pensa? Que a vida não se vive, é um desarranjo. --------------------- O mundo seria melhor se Andresen tivesse ganho o Nobel e não o chatíssimo e vaidoso Saramago. Porque ela resume o melhor de Portugal enquanto Saramamgo exibe o pior aspecto da raça lusitana. Ela é o mar, a mudança, a impressão que quase diz e não diz, o jogo de palavras e principalmente a nobre elegância de um texto limpo e preciso. Saramago é verborragia que pensa dizer tudo e acaba por perder tudo. É um texto que exala pedantismo e obriga seriedade enfadonha. Um porre. Minha língua, a de Portugal, é feita para canção, para poesia e sonhos de delírios, e menos, bem menos, para prosa ou filosofia. ----------------- Que beleza Sophia.

DÉCADAS

Vivi já as quatro décadas centrais da minha vida. Todo mundo as vive se não morrer antes dos 50. São as décadas do apogeu de seu amor às novidades da vida. Depois dessa fase, voce usufrui com mais calma aquilo em que se sente "em casa". Minha décadas foram os anos 80, 90, 2000 e 2010. Uma pena. O tempo que os deuses me deram não foi dos mais ricos. Interessante sim, rico, não. --------------- O momento mais importante desses quarenta anos foi a queda do muro de Berlin. E disso não há dívida alguma. O grande avanço da ciência foi a internet. Imenso avanço. Mas me parece que se eu fosse vinte anos mais velho eu poderia dizer que a chegada do homem à Lua e a televisão eram os tais momentos top. A geração do meu pai, as décadas dele foram os anos 40, 50, 60 e 70, foi mais dramática. Para eles o maior momento foi a bomba sobre o Japão. E o avanço da ciência, a invenção dos antibióticos. Mas é de arte que vou falar, e sem saudosismo, digo que pra minha geração a coisa foi de uma pobreza extrema. --------------------- Qual o grande escritor que escreveu seus mais importantes livros entre 1980-2019? Difícil né? Existem dezenas de bons escritores. Dezenas. Li nesses anos muito contemporâneos. Gente boa como Cees Noteboom, Le Clézio ou Transtromer. Há muito mais. Mas o único que me impressionou como gênio, que eu colocaria na altura de Nabokov, Saul Bellow ou Kawabata, é o alemão Sebald. Em seus livros topamos com a inteligência criativa que faz de um ótimo escritor um ser genial. Não há mais ninguém desse naipe. Temo que no futuro algum idiota diga que minhas décadas foram as de Saramago ou Mia Couto. Jamais! Se a inteligência ainda existir em 2050, meu tempo será de Sebald. ------------------ Já o tempo de meu pai foi de Nabokov, Bellow, Murdoch e Greene. E de um monte de poetas eternos. Não citarei mais seu tempo. Deixe meu pai em paz. ( Ele nasceu em 1926 e se foi em 2008 ). ---------------------- De 1980 até 2019 vários diretores de cinema tiveram auges de cinco ou dez anos e depois se foram. Infelizmente sou obrigado a dizer que Spielberg é o único que esteve no topo por todo esse tempo. Scorsese vem perto. E é só. Não me diga que Bergman ou Kurosawa fizeram ainda grandes filmes em 1983 ou 1985. Suas obras são dos anos 40 até os anos 80. Falo de quem se fez nos anos 80 em diante. Não há muito o que olhar. Adoro Eastwood, mas ele não é um gênio. Adoro Tarantino ou os Coen, mas eles são terrivelmente irregulares. Em 2050 dirão, se ainda houver algo parecido com cinema, aquela foi a época de Spielberg. ------------------ Não dirão ter sido, minha época, a era do jazz e nem a do rock. Todos pensarão que todo mundo ouvia rap. Voce pode me dizer que Basquiat ou Bacon ou Freud foram os artistas plásticos deste tempo. Mas há aí um problema que já se fazia sentir em 1960-1970 e que hoje se hiper amplificou: o mundo tem tanta imagem, tanta foto, gravação, reprodução, cópia, colagem, edição, que nenhum artista que lide com imagem conseguirá ser o retratista de uma época. Não haverá o Klimt de 1990 ou o Matisse de 2006. Em 2050 pouco valor se dará a qualquer foto ou pintura de 2020. Pois tudo será demasiado. ------------------------- Queda do muro, torres gêmeas e a tal Pandemia. Mais nada. Quedas. Três quedas. A invenção da internet e sua popularização. Observe: é uma invenção que não é criada para salvar vidas ou alimentar o mundo. É informação e diversão. Pobre por si mesma. E anuncia mais algumas quedas: jornais. Grandes redes de midia. Meu tempo será lembrado como época de muitos finais. ----------------------- A geração de meu pai sofreu mais. Mas me parece que também sonhou mais e fez mais. Não há progresso real e coragem inovadora em sociedades bem alimentadas. A fome nos faz desejar e tentar. Minha época teve estômagos cheios como nunca antes na história do mundo. E desejos futeis. Tripa cheia esvazia o cérebro. É isso aí.