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Dave Brubeck - Take Five

TIME OUT - DAVE BRUBECK ( E O ESTILO BRIAN ENO DE SER )

Jazz já foi mania minha. Passei um ano ouvindo jazz e só jazz. 1988. Eu procurava na música um tipo de elegância que não encontrava no pop. E Time Out foi, naquele ano, o primeiro disco de jazz que ouvi sem cessar. Durante dias e dias eu o escutava. Não me cansava dos acordes eruditos e cheios de molejo de Brubeck, o baixo infalível de Eugene Wright, o sax de timbre inesquecível do genial Paul Desmond e a bateria exata, matemática de Joe Morello. Era e é perfeito. Apesar do desgaste, é o disco de jazz que as pessoas que não gostam de jazz possuem, este disco é uma obra prima. É uma dessas gravações que definem o século XX. O século da gravação. ( Quem diria... ele é o único século de gravação, de fetiche por coleções de música gravada. De capas como arte. ) ----------------------- Do primeiro acorde, Blue Rondo a La Turk, ao úmtimo, é um LP perfeito. O groove está sempre lá, mas ele possui um rigor, uma exatidão clean que era novidade na época. Era 100% jazz, mas tinha a seriedade do erudito. Jamais mal humor, não confunda, Brubeck é divertido, leve, irônico, mas ele tem algo da partitura, do fazer perfeito, do não erro, ausência de acidentes. O famoso solo de bateria de Joe Morello demonstra isso. É, talvez, o mais famoso solo de bateria do século, mas é ao mesmo tempo um exemplo de solo que não é jazz. Não tem a fúria de Krupa, nem a pegada anarquista de Rich, é frio, belo, matemático. E por isso, histórico. Talvez seja meu solo mais amado em qualquer gênero, inclusive rock. ------------------- Já falei em outros posts que o timbre é aquilo que em música mais me interessa. E nisso sigo o que Brian Eno diz. Posso citar dezenas de exemplos de amores musicais meus que se devem ao timbre único. A voz de Lou Reed. A mixagem de certos discos de Bryan Ferry. A guitarra de J.J. Cale. A bateria de Ginger Baker. As produções de Eno sempre buscaram isso. Devo ou Talking Heads, Bowie ou Ultravox, ele tinha como objetivo dar a produção um timbre estranho, diferente, uma marca diferente. A partir do Coldplay a produção de Eno virou preguiça, mas mesmo neles há a bateria em timbre exaltado e a massa de teclados "gelados", marca registrada de Eno. ------------ Pois o sax de Paul Desmond é assim. Ele possui um timbre frio, limpo, apurado que é o refinamento máximo do que Lester Young fazia. O sax de Desmond arruma o mundo, coloca tudo no lugar, limpa a sujeira, toda sujeira. Não haveria Brubeck sem Desmond, é uma união perfeita. A magia deste LP é Paul Desmond. Ele faz seu sopro soar como uma estrela no espaço. Luz sinuosa, não reta, brilha como laser, é gelado e sem emoção, ou melhor: emoção sob controle. ùnico. E jamais cansativo. Um milagre.