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O NOVO PARAÍSO ( ASSISTINDO GREASE )

Voce deve saber mas vou contar: ao fim da guerra, 1945, houve o tal do baby boomer. Soldados de volta pra casa tiveram filhos, muitos filhos e a população em geral, tomada por otimismo, botaram crianças no mundo. Nunca nasceu tanta gente em tão pouco tempo. Assim, em 1950, 1951, montes de crianças brincavam nas ruas e a sensação era de que o planeta havia se tornado um playground. Em seguida elas se tornaram adolescentes e o mercado logo começou a vender milkshakes, camisetas e bicicletas como nunca. Os pais enriqueceram ( no primeiro mundo....aqui no Brasil esse salto se deu com atraso, mais ou menos em 1969-1976 ), e pais com melhores salários instituiram a mesada para os moleques. A mesada era gasta em cinema, lanchonetes, bolas, tênis e em discos. Nasce aqui o rock, o primeiro gênero musical específico para adolescentes. Cria-se uma imagem: ser adolescente é a melhor coisa que existe. Celebre isso. Tenha orgulho de ter 16 anos. Não é preciso FAZER nada, basta SER um teenager. ------------- Como consequência vieram o ódio à autoridade, a raiva dos pais e o medo de ser adulto, pois se ter 16 anos era o máximo, dali pra frente só poderia vir o inferno. Ser adulto era sofrer em vida. ------------- Freud e Jung não tinham como prever isso, mas a psicologia só pode ser levada a sério se colocar como ponto central o fato de que ter 16 anos é o cume da montanha. A partir daí observamos, cada vez mais, que essa idade, de forma ilusória, se estica, e hoje vemos gente de 50 anos vivendo e pensando como se tivesse 16. Há até presidentes assim ( Macron e Trudeau ). Toda a arte passou a ter espírito teen, seja cinema seja literatura. Mesmo filmes que parecem sérios possuem a seriedade de um adolescente deprimido. Observe que não há mais filmes sobre casais adultos com filhos. ------------------ A Europa e os EUA na atual guerra se comportam como teens birrentos. " Vou me vingar da Russia lhe proibindo de usar o Facebook e de comer no Mac ". ----------------- GREASE, o delicioso filme de 1978 vende esse paraíso adolescente a perfeição. Tudo nele é celestial e voce deseja ser como eles e viver dentro daquele mundo. ( Okay, se voce se acha mais sofisticado talvez queira viver dentro dos filmes de Wes Anderson ou de Tim Burton....muito adultos eles são, não é? ). --------------- A cena que posto exemplifica o que falo de forma linda. Tudo ali, a dança, os rostos, a canção, nos traz a certeza de que aquela é a felicidade suprema e possível. Para ter esse paraíso basta ser uma pessoa de 16 típica. E é aí que vive a armadilha. Isso porque o Paraíso sempre foi um lugar e um estado de alma e desde os anos 50, o paraíso é um TEMPO. E o tempo muda, passa, não se pode obter. Então somos um mundo em que nosso paraíso escorre, escapa, se vai. Pior, sabemos disso. É um paraíso com data de vencimento: os cabelos brancos, a barriga, a careca, as contas pra pagar. Por isso a louca mania de tentar esticar o tempo. Não envelhecer, não amadurecer, jamais sair dos 16 anos. ---------------- Eis o porque do sucesso tão grande dos herois de quadrinhos, Harry Potter, música POP, jeans e tênis, academias, professores moderninhos de filosofia, partidos libertários, drogas. Todos prometem a mesma coisa: me siga e tenha 16 anos para sempre. Caramba! Haja depressão!!!! A disputa estará perdida sempre! Não se vence a biologia. Não se vence o tempo. ( Hey! Mas há uma NOVA ciência que promete acabar com a biologia e com o tempo! Wow! É tudo que queremos não é? Eterna juventude! Obaaaa! ). Aliás a palavra NOVO ou NOVIDADE designa um bem em si. Se tornaram a qualidade máxima. Nada, nem o BEM ou o JUSTO é mais valoroso que o NOVO. -------------------------- E pensar que em 1930 o desejo de todo garoto de 14 anos era ser adulto como seu pai era....Hoje o pai inveja o filho. --------------- Tudo isso não valia para o mundo árabe ou russo e nem para a China ou Africa. Por questões religiosas ou financeiras, a maior parte do planeta não conheceu esse novo pseudo paraíso. Mas tiveram a ilusão de que americanos eram mais felizes. ----------------- Em 1978, ano de Grease, eu tinha 16 anos. E vi TODO MUNDO usar a camiseta preta com taxas de John Travolta. A febre não foi menor que a que voce, jovem, viu com Harry Potter ou Homem Aranha. Todos tentavam viver a vida de Grease. Porque aquela parecia ser a melhor vida possível. Um segredo: eu não era feliz. Meus 16 foram a cobrança, imposta por mim mesmo, de ser feliz. ---------------- Pensando melhor, no mundo de hoje não se quer ter 16 anos para sempre. Os 11 anos são o novo paraíso. Aos 16 meninos são meninos e meninas são meninas. Aos 11 a diferença entre os sexos não se afirmou. Melhor ter 11. Sexo como brincadeira inocente, arte como fantasia de contos de fadas, a vida como um parque da Disney. --------------- Quem for adulto domina essa população com facilidade.

BE COOL

Em 2005 lançaram a continuação do ótimo filme Get Shorty, o nome era Be Cool. Foi, ao contrário do filme de 1995, um fracasso em box office e crítica. Quanto ao espírito cool, foi perdido. Escrevi no post abaixo sobre a bela fase dos filmes cool feitos nos anos 90. Foi uma década em que o ponto exato desse tipo de produção foi acertada. A raiz do estilo cool são os filmes de assalto e de "golpes" feitos no final dos anos 60 e começo dos anos 70. Trilha sonora, diálogos, tipo de ator, ambientes, tudo é reciclado para o clima do fim do século. Mas, neste bobíssimo filme de F. Gary Gray, a referência deixa de ser Bullit ou O Golpe de John Anderson e se torna o espírito do rap. E o rap ama acima de tudo o Scarface de Al Pacino. Sai Steve McQueen e assume o Pimp. John Travolta é um péssimo ator sempre que se envolve em um péssimo roteiro. Ele não é o tipo que salva um filme. Seu personagem, Chili Palmer, tão genial no filme anterior, é quase um idiota aqui. Não fala nada que se aproveite, não tem muito o que fazer, serve de escada para uma cantora comum ( Cristina Milian ). Uma Thurman tem ainda menos o que fazer. Os dois têm uma cena de dança medíocre ao som de Sergio Mendes. Homenagem constrangedora à Pulp Fiction. Vince Vaughn faz um produtor de discos que pensa ser um negro. Vice imita Gary Oldman no filme de Tony Scott, aquele com roteiro de Tarantino. Porém, Oldman dá uma atuação de gênio naquele belo filme de 1993. Aqui Vince é Vince, um humorista sem graça. O filme tem ainda Cedric The Entertainer, André do Outkast, e The Rock fazendo um guarda costas gay. Steven Tyler aparece no filme. E rolam 3 clips da tal Milian. Sentiu o anti cool de Be Cool? Um filme cool jamais faz força para ser engraçado. Nunca tem frases que parecem propositalmente cool. A discrição e o comedimento são a regra. Aqui tudo é festivo. Um desastre.

FILME COOL

No momento em que o Oscar comete seu definitivo harakiri, quero lembrar de um momento genial na história de Hollywood. O filme cool dos anos 90. Assisti ontem GET SHORTY e ele simboliza bem tudo que foi feito nesse estilo durante a década. Uma trilha sonora esperta e brilhante ( John Zorn mais Morphine com Booker T e US3 ), roteiro baseado em Elmore Leonard, atores carismáticos em papéis malandros e acima de tudo diálogos brilhantes. O filme fala de um agiota que sai de Miami para ser produtor de cinema em LA. Mas, como em todo bom filme cool, o tema não importa, o que vale ouro são os toques, os temperos, os momentos de imenso prazer. Posso falar da barbearia em Miami, a cena, de gênio, de Chili Palmer vendo A Marca da Maldade no cinema, Chili ensinando Martin Weir a interpretar um gangster, o modo como Chili anda e fuma, a morte de Yayo, o diretor B dando nos dentes...são várias cenas que misturam cenários e roupas, som e atores em perfeição. Mas acima de tudo são diálogos inteligentes, que revelam o personagem em ação. John Travolta tem seu segundo melhor desempenho da vida. O melhor foi em 1977, voce sabe em que filme. Chili Palmer é rei do cool sem parecer caricato. Danny de Vito é o ator narciso, tolo e seguro, bobo e bem sucedido, Gene Hackman está estupendo como o diretor B, é uma mistura de ousadia mentirosa e covardia histérica. Há ainda Rene Russo, bonita e centrada e Delroy Lindo, um bandido que se perde. James Gandolfini tem ótimas cenas como um capanga. Barry Sonnenfeld acerta o tom, nunca tenta ser engraçado, não exagera a violencia, dá ritmo sem jamais correr. Esse tipo de filme teve seu momento entre 1993-2002. Depois saturou. Começaram a forçar o humor, a encher tudo com sangue, a errar no casting.

CARY GRANT- BETTE DAVIS-JAMES CAGNEY-COLIN FIRTH-UMA- NEIL SIMON

   A GAROTA DO ADEUS de Herbert Ross com Richard Dreyfuss e Marsha Mason
Foi uma das maiores zebras do Oscar a vitória de Dreyfuss em 1977. Mas vista hoje sua atuação é sensacional. O texto, de Neil Simon, é bem anos 70. Fala de uma mãe solteira que é obrigada a dividir o apto com um ator desconhecido. Eles se odeiam e aos poucos passam a se aceitar. Parece óbvio, mas os diálogos são maravilhosos! Engraçado perceber que o personagem de Dreyfuss é um típico estudante paulista de 2016! Até as roupas são atuais! Não conseguimos sair de 1977... Este é o típico filme adulto popular daquele tempo. Se comparados aos adultos pop de hoje vemos que regredimos muito. Assista. Nota 7.
   BE COOL, O OUTRO NOME DO JOGO de F. Gary Gray com John Travolta, Uma Thurman, Vince Vaughn, Cedric, The Rock e Danny de Vito.
O roteiro é pobre pacas! Chili Palmer, o personagem de Travolta no ótimo Get Shorty, ressurge aqui como produtor de música. Para lançar jovem cantora ele deve passar por cima de mafiosos russos, produtores bandidos e artimanhas do mal. A esperteza se foi, os golpes são primários e mal explicados. O filme se salva por The Rock, que rouba o filme como um capanga que quer ser cantor country. Hilário! Uma nunca esteve tão bonita. Travolta está com preguiça e Vince não tem a menor graça. Seu tipo é cópia descarada do Gary Oldman de Amor a Queima Roupa. Um filme bom de olhar, mas bem tolinho. Nota 5.
  HOPE SPRINGS de Mark Herman com Colin Firth, Heather Graham e Minnie Driver.
Parecia bom. Adoro Colin. Mas é um tédio. Ele é um inglês que vai parar no interior dos EUA. Quer esquecer um amor perdido. Heather, como sempre, é uma doidinha legal, eles se envolvem. Minnie é a megera. O filme é lento, chato, preguiçoso, sem nenhuma imaginação. Pior de tudo, é uma comédia triste! ZERO.
   G MEN CONTRA O IMPÉRIO DO CRIME de William Keighley com James Cagney
Um exemplar filme de gangster dos anos 30. Cagney é um advogado que abandona a profissão para ser um agente do que viria a ser o FBI. O que acompanhamos, no estilo rápido e objetivo da época, é sua escalada para se infiltrar na gang e destruir a organização criminosa. Um bom filme de macho. Nota 7.
  BALAS OU VOTOS de William Keighley com Edward G. Robinson e Humphrey Bogart.
Não tão bom, o filme também faz parte do estilo "gangster da Warner". Mas o roteiro é mais meloso e Robinson não é tão bom quanto Cagney. Bogey faz mais um bandido. Ele, em 1936, ainda era o cara que todo mundo ama odiar. Nota 5.
  SOMOS DO AMOR de Archie L. Mayo com Leslie Howard, Bette Davis e Olivia de Havilland.
Uma alegria voltar a ver os bons filmes pop dos anos 30. Este é mais um da Warner. Sobre um casal de atores que vive em guerra. E uma mocinha tola que se apaixona pelo ator. Leslie dá um show como o ator estrela, empoado e meio tonto. Bette brilha menos como a atriz nervosa. Olivia está excelente no papel da milionária doida. Tem ainda Eric Blore fazendo Eric Blore, ou seja, um delicioso mordomo afetado. Bom passatempo. Nota 7.
   SOLTEIRÃO COBIÇADO de Irving Reis com Cary Grant, Myrna Loy e Shirley Temple.
Decepção. Um filme com Cary e Myrna consegue não ser bom. Uma garota de 16 anos se apaixona por Cary Grant, solteirão de 37. A irmã da menina, Loy, obriga-o a namorar com ela para que ela se decepcione com ele. Mal dirigido, sem ritmo, mesmo assim fez imenso sucesso, graças aos nomes das estrelas. Cary está contido, só se solta na única cena boa, a da gincana estudantil. Myrna não tem nada a fazer a não ser parecer elegante. Nota 4.

Pulp Fiction - Bruce Willis kills John Travolta



leia e escreva já!

VINTE ANOS DE PULP FICTION ( SIM, VI O PÂNICO ONTEM )

   Eu não sei se Pulp Fiction é o melhor filme dos últimos vinte anos, o que sei é que nenhum outro filme me deu tanto prazer.
 Lembro bem de quando o vi pela primeira vez. Foi em maio de 1995. Uma amiga me emprestou o filme e a trilha sonora. O impacto foi tão grande que me apaixonei por ela. Sim, pela menina. Desde a primeira cena até a última eu gozei um prazer que misturava esteticismo, humor, citações e amor ao cinema. Seus atores nunca mais foram os mesmos. Travolta, Jackson, Uma, Keitel, todos se tornaram ícones de um filme que passou a simbolizar uma geração, a minha. ( Bruce Willis passou ileso. De certo modo ele já era desde sempre o cara que fala "Zed is Dead")
 Diálogos do filme eram repetidos entre amigos, as músicas tocavam em festas, e assisti o filme 3 dias seguidos. Sempre com prazer. Cada vez maior. 
 Não sei se ele é o melhor porque me lembro de A Grande Beleza, Branca de Neve, os filmes dos irmãos Coen, me lembro de Todd Haynes, de Resnais, Cidade de Deus, e mesmo de Kill Bill. Mas eu tenho a certeza que já há quem olhe para o Oscar de 1995 e pense: O que???? Coração Valente venceu Tarantino? Ele é o nosso Citizen Kane.
 Porque tudo nele foi uma zebra. Ele passou em Cannes e causou espanto. Surpresa. Era um filme independente. Tarantino abriu caminho para uma onda de filmes jovens com ideias jovens. Onda que logo virou marola, mas que teve méritos enquanto durou. Produtores jogaram grana na mão de uma galera esperta na esperança de ter um novo Tarantino em produção. Nunca surgiu. Mas foi legal pacas.
 1994 foi um momento de TRANSIÇÃO no cinema. Antes de Matrix e antes dos X Men. Não havia a onda Marvel e nem a onda de efeitos exagerados. Um filme barato ainda podia render muita, muita grana. E Pulp Fiction ficou meses em cartaz. Não nos esqueçamos, John Travolta estava em baixa e Jackson era apenas um ator cult. Travolta, que adoro, teve a honra de fazer cenas icônicas para duas gerações, as cenas de Saturday Night Fever/ Grease e aqui. Hoje ele voltou a ser um ator "do passado". Mas é um cara que todo mundo que ama cinema respeita e tem carinho. É um grande cara. Neste filme ele está brilhante. Mas...quem não está? Há ator melhor que Samuel L. Jackson citando a bíblia? 
 No mundo de 2014 Tarantino é o Scorsese, o Eastwood e o Godard que nos resta. E não cito eles a toa. Pulp Fiction cita os três ( mais Leone, Woo, Hawks e uma porrada de filmes de Hong Kong ). Quentin é um nerd de cinema. Como eu. Ele ama o que faz e mais importante, tem prazer em filmar. Isso faz enorme diferença. Porque vivemos hoje a era de diretores que filmam como se estivessem em trabalho de parto. Ou em confissão numa igreja. Argh!
 Nos anos seguintes a 1994 virou moda falar que Tarantino era diretor de um filme só. Não quiseram ver que Jackie Brown era ótimo. Esperavam outro Pulp Fiction. Ora, jamais teremos outro Pulp como nunca veio outro Taxi Driver, outro Rio Bravo ou um novo Josey Wales. São filmes que espelham um momento do mundo e da vida de quem os escreve. São únicos. Quando Quentin lançou Kill Bill e afirmou para todos sua grandeza, provou que Pulp não era filho único, o momento já era outro e Kill Bill é filho deste século artificial. Virtual. 
 Pulp Fiction faz vinte anos e o mundo está completamente diferente. Em 1994 eu não tive como partilhar minhas impressões. O sucesso de Tarantino foi sem net. Nisso melhoramos. Adoro poder escrever aqui. Mas que filme feito em 2014 chega perto de seu poder? Da alegria jovem de uma descoberta? Da festa criativa que nos surpreendeu cena sobre cena? Cada tomada sendo uma aula de liberdade, de inventividade, de se ir sempre contra a expectativa. 
 Cada geração tem o filme que merece. Talvez esta tenha a tristeza dos filmes de Von Trier ou a cor fake dos filmes de Wes Anderson. Eu prefiro a viril auto-confiança de Quentin Tarantino.  Tenho orgulho de ser de sua fornada.

PRESTON STURGES/ VICTOR FLEMING/ JOHN TRAVOLTA/ JERRY LEWIS/ GENE TIERNEY/ HENRY JAMES

   MARUJO INTRÉPIDO de Victor Fleming com Freddie Bartholomew, Spencer Tracy, Lionel Barrymore, Melvyn Douglas e Mickey Rooney
Se voce não conhece o cinema americano dos anos 30 e deseja saber porque ele é tão valorizado, comece por este filme. Baseado em obra de Kipling, conta a saga de um menino mimado, egoísta, milionário, que ao ser resgatado no mar por pescador de bacalhau, aprende a viver e a ser parte de uma equipe. O filme tem cenas documentais da pesca em mares frios que são fantásticas. A procução tem o luxo da Metro e a direção é de Fleming, o diretor que fez E O Vento Levou e OMágico de Oz, só isso. O elenco chega a ser covardia. Tracy, como o pescador Manuel, levou  o Oscar, mas todos os atores são o máximo dos máximos. O segredo desse tipo de cinema é aqui explicitado: cinema sem vergonha de ser Pop, mas esse Pop é feito com gosto, baseado em roteiro e estrelas. O modo econômico e direto com que se narra o roteiro é uma aula de direção e de produção. È um filme perfeito. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
   PELOS OLHOS DE MAISIE de McGehe e Slegel com Julianne Moore, Steve Coogan, Alexander Skarsgard e Onata Aprile
Livremente baseado em Henry James ( é seu livro mais seco e cruel ), o filme fala de uma menina jogada ao sabor das emoções de sua familia. A mãe é uma rockeira cheia de dinheiro que vive em meio a histeria e carência. O pai é um hedonista egoísta. O filme se põe no ponto de vista da menina. Vemos sua solidão e meio a casa imensa mas desleixada, os pais ocupados em serem felizes e o desarranjo geral. É um bom filme? Não. Tudo isso é temperado com musicas fofinhas, cenas infantilóides e uma sensibilidade gracinha que é irritante. Retrato de nosso tempo, é sintoma daquilo que denuncia, um mundo onde todos estão largados e perdidos em meio a prazeres sem valor. Nota 2.
   NATAL EM JULHO de Preston Sturges com Dick Powell e Ellen Drew
Segundo filme de Sturges, dura apenas 62 minutos. Mas que bons minutos! Um cara concorre num concurso de slogans. Colegas lhe pregam uma peça, mandam aviso dizendo que ele venceu. O trouxa passa a gastar o dinheiro que não tem. O roteiro de Sturges não poupa ninguém, todos são idiotas, e humanos. Na época, 1940, não se deixava um roteirista dirigir, Preston Sturges quebrou essa regra, abriu o caminho para Wilder e Huston. Finalmente recebendo hoje o valor que lhe é devido, ele foi um mestre da comédia. O filme tem um final tão bem preparado que é impossível não rir. Nota DEZ.
   BORN FREE de James Hill com Virginia McKenna e Bill Travers
A trilha do gênio John Barry levou Oscar. Não há quem não a conheça. O filme mostra um casal na África criando um filhote de leão, uma leoa. Nada de gracinhas, em 1966 animais ainda eram filmados como bichos e não como bebês. O filme, cheio de falhas, tem ainda encanto. Nota 6.
   TEMPORADA DE CAÇA de Mark Steven Johnson com Robert de Niro e John Travolta
Os primeiros vinte minutos prometem um bom filme. De Niro vive isolado no campo, vemos seu cotidiano. Um tipo de Jheremiah Johnson. Mas como o filme é de 2013, logo surge o super-mal, na figura de Travolta, um sérvio que deseja se vingar do ex-soldado De Niro. Travolta vai ao campo e começa a ação. O filme passa a exibir cena sobre cena de torturas, sangue, sadismo e exageros. Porque? Porque esta é a cultura do sensacional, e também porque estamos sendo educados a tolerar a violência. De Niro está ok, Travolta está ridiculo. Usa um sotaque hilário, maquiagem pesada, tudo errado. Adoro Travolta quando ele é apenas Travolta, um tipo, como Willis ou Gibson. Quando tenta atuar vem o desastre. O filme é pior que lixo, é mal intencionado. Nota ZERO.
   ALLOSANFAN de Paolo e Vittório Taviani com Marcello Mastroianni e Lea Massari
Um homem no tempo imediatamente pós revolução francesa. Ele é um tipo de ex-terrorista. Tenta voltar a ser um homem tranquilo de familia, mas o passado o persegue e lhe cobra ação. Começa muito bem e Marcello é sempre ótimo, mas os Taviani se perdem do meio para o final. Bela fotografia. Nota 5.
   VELOZES E FURIOSOS 6 de Justin Lin com Vin Diesel, Michelle Rodriguez e Paul Walker
Gostei do primeiro e do terceiro. O quinto foi um lixo, este é ainda pior. Tentam fazer drama, tentam dar alguma profundidade ao que era apenas diversão sem peso. Erram. O roteiro é cheio de furos, voce tem de aceitar decisões sempre erradas. Posso dizer que é uma porcaria de filme. Diesel começa a envelhecer e ao contrário de Willis, envelhece mal. Nota ZERO.
   A FARRA DOS MALANDROS de Norman Taurog com Jerry Lewis, Dean Martin e Janet Leigh
Ruy Castro diz que em 1956, para sua geração, a separação da dupla Martin e Lewis foi tão doída quanto seria a separação Lennon e MacCartney em 1969. Eles foram os ídolos top dos teens de então. Essa popularidade é atestada, hoje se fazem filmes na TV sobre a dupla. E quando fui um teen, nos anos 70, Jerry Lewis ainda era uma hiper-estrela, um Will Smith exagerado. Seu estilo é puro Jim Carrey, mas um Carrey ainda mais infantil. Martin era o rei do cool, sempre calmo e paquerador. Envelheceu melhor. Este filme não é bom. Jerry finge estar contaminado por radiação e é mimado pela imprensa. Nota 3.
   THE GEISHA BOY de Frank Tashlin com Jerry Lewis
Porque Jerry não ousou crescer? Ele era tão bom, inventivo, mas sempre insistiu em não sair dos 12 anos. E essa mania de agradar, de imitar o pior de Chaplin, a melança... Este tem seus momentos, mas quando ele começa a tentar nos comover...socorro! Nota 4.
   ELA QUERIA RIQUEZAS de Rouben Mamoulian com Gene Tierney e Henry Fonda
Às vezes me perguntam: Qual a atriz mais bonita do cinema? Respondo, Grace Kelly. Mas falo isso porque esqueço de Gene Tierney. Ela foi a mais linda e aqui está divina, mais simples e menos fria. Não é um grande filme apesar dos nomes envolvidos. Na verdade ninguém queria fazer esta obra farsesca. Gene dá golpes em namorados ricos, Fonda não é rico, o resto é facil de prever. Mamoulian fez filmes deliciosos, não é este o caso. Fonda está distante, este filme fez com que ele começasse a desistir do cinema. Sobra Gene, que parece se divertir. Nota 4.
   O CAPANGA DE HITLER de Douglas Sirk
Muito pobre, é um dos primeiros filmes americanos de Sirk. Sem Nota.

SATURDAY NIGHT FEVER ( NADA FOI MAIS ODIADO, PORQUE SERÁ ? )

Em 1977 tivemos o punk, com seu ódio a Yes/ Floyd e Led. Mas quem ouviu Sex Pistols e Clash sabe : punk era/é rocknroll. São guitarras altas e vocal macho cuspindo rebeldia sincera ou não. A turma da velha-guarda ( que tinha só 28/30 anos ) se ressentia do punk, mas o entendia.
Em 1977 tivemos a disco music e aí é que a coisa pegou. Em todos esses anos eu nunca mais ví nada em música ser tão odiado. Nem funkdorio ou axé foi tão perseguido pelos "inteligentes" roqueiros sinceros. Queimavam-se discos de discoteque em estádios, faziam-se protestos, festas anti-disco, discos contra a música dançante.
Porque ?
Eu lembro que adorava Led/Stones e Rod. Portanto deveria odiar a disco. Mas eu sentia que alguma coisa não estava certa. Algumas músicas eram muito boas e era tudo tão divertido ! Demorou para que eu percebesse o que se passava : o libertário e jovem rocknroll se aburguesara. Ele odiava a disco por ser coisa de preto/pobre/gay e inculto. Tudo era preconceito.
Rock era guitarra e dor. Disco era ritmo ( feito por montes de instrumentos ) e prazer.
Rock era branco e inteligente. Disco era mestiço e alienado ( era ? )
Rock cantava desejo como violencia e machismo. Disco cantava desejo como frescura e festa.
E o principal : pela primeira vez surgia uma música pop e jovem que não era filha dos velhos caras do blues e do folk, ela nascia do gueto chicano, da favela do Harlem, de Miami. Toda a raiva roqueira era a raiva do filho mais velho que vê o irmão caçula ignorá-lo. Ao contrário dos punks, que ao "odiar" o rock lhe davam valor, a disco ignorava-os.
Assiti o filme de John Badham oito vezes no cinema. Matando aula com amigos no Gazeta ( devo ser do tempo de Ramsés...fomos de carona !!!! Pedíamos carona na rua, e conseguíamos ! ) com minha mãe no Cal-Center, no Iguatemi sózinho, com os mesmos amigos no Gazetão.... cheguei a decorar os diálogos e na sala as pessoas se levantavam e dançavam durante as cenas de dança.
Sim, eu sabia todos os passos e cheguei a ter meu colete branco, a calça com vinco, o paletó de lapelas largas, a corrente de ouro no peito de camisa aberta... Ficava horas me preparando para sair. E com o cabelão de fã do Led Zeppelin !!!!!
Porque eu tinha esse problema : via o filme de Travolta oito vezes mas continuava ouvindo Sabbath e Johnny Winter. E detestava o conformista John Travolta, o moleque que destronara Steve McQueen, Redford e Pacino.
O sucesso de filme e disco foi avassalador. Durante dois anos só se falava nisso. Os críticos ignoraram tudo. Na época crítica e bilheteria eram coisas distintas. Hoje o filme seria indicado a prêmios e levado a sério. Na época não. Filme pop tinha de ser filme ruim.
E música pop tinha de ser lixo. Será ?
Em 1980 já falavam que a disco estava morta e esquecida. Mas penso em Madonna, Michael Jackson e Prince. Eles tinham o visual e a sexualidade de Sylvester, Jimmy Bo Horne e esse inacreditável Rick James. E vieram os Mantronix, Duran Duran, e depois a onda pop do final dos anos 80 com Soul to Soul e C and C Music Factory. E mais..... Rick Astley, Dee Lite....
Quem me lê sabe que não consigo seguir as "novas" bandas. Tudo o que vem do pós-punk, new folk, psicodelismo, indie, etc me dá um sono danado. É música boa pra quem tem menos de 25 anos, quem começa agora a ouvir rock. É a música de guitarra/baixo e batera de sempre.
Mas a linha evolutiva que vem do funk, do som da Philadelphia e da disco, da disco de New York com seu baixo pesado e seus vocais gritados, da euro-disco, cheia de synths e de vocal gelado, isso ainda me interessa. São os caras que adoram a paixão viril do rock ( quando há ) mas são também seduzidos pela doce sensualidade hermafrodita da discoteque.
O filme é muito melhor do que voce pensa. E Travolta está excelente. Mostra-se o mundo pobre de NY. Gente sem governo, sem país e sem família funcional. E que joga tudo pra fora sendo um rei numa pista de dança. O filme mostra então o nascimento de uma cultura de club que existe e existirá ainda por muito tempo. Mais vaidosa, mais hedonista que a de hoje. Menos deprimida e mais pobre. Feliz.
SATURDAY NIGHT FEVER é dos meus filmes "calcanhar de aquiles". Filmes que adoramos mesmo sabendo que tanta gente "culta" os despreza. Filmes como UM TIRO NO ESCURO, PRIMAVERA PARA HITLER, VIAGEM AO CENTRO DA TERRA, GOLDFINGER ou DURO DE MATAR.
Eu adoro SATURDAY NIGHT FEVER. Adoro Travolta e adoro até os BEE GEES. Parte de mim está lá. E talvez seja a melhor parte.