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PRIMAL SCREAM E THE MOODY BLUES, O PROBLEMA DA CRÍTICA INGLESA
GIVE OUT BUT DON'T GIVE UP, disco do Primal Scream lançado após Screamadelica, comete o maior dos pecados, na visão de um crítico inglês: ele lembra os Rolling Stones. Talvez, para esses ditadores do gosto, só o Led Zeppelin pode ser mais pecaminoso que os Stones. Todo e qualquer disco que tiver um cheiro de Jagger e Richards será escutado com imensa má vontade. Na verdade eu imagino que eles nem escutam. Dão uma opinião a priori após dois minutos de riffs. ------------------ Screamadelica foi produzido por Jimmy Miller, produtor dos Stones entre 68-73. Só uma besta não percebia que Bobby Gillespie ama Jagger e etc. Tudo em Screamadelica recorda Beggars Banquet. Só que um bando de mixers deu um banho de beats e bytes na coisa e os críticos, tolinhos, amaram essa homenagem rave aos associados de Jimmy Miller. ----------------- Se voce quiser os favores da crítica inglesa, imite Kinks e Small Faces. Ou então mergulhe numa deprê pós Joy Division. Tudo que escapar desse canone será atacado. -------------- Give Out foi feito nos EUA, pior, no sul dos EUA e Bobby não é o primeiro inglês que ao ir aos EUA fica maluco com o que vê. U2 e Stones Roses são outro exemplo. A não ser que voce seja muito tapado, a América vai mudar sua vida. Até os Kinks sentiram a coisa e os Small Faces, após os EUA, viraram The Faces e Humble Pie. Bobby se juntou ao povo de Memphis-Tennessee, e fez um disco de rock que só não é ótimo porque ele não tem voz. Esse som, uma mistura de rock-gospel e soul exige grande voz. Van Morrison vem à cabeça ( Van é mais um que mudou nos EUA. Them era uma banda british, nos EUA ele virou quase um folk american singer ). ------------------- Se voce cresceu amando a música dos USA não tem como não desbundar ao ver Chicago, New Orleans e a casa do Elvis. Se o cara alugar um Cadillac e pegar a highway 61, bem, Cream era bem inglesa, Layla era puro USA. John Lennon foi morar em NY. Do you know what i mean? -------------------- DAYS OF FUTURE PASSED dos Moody Blues fez o caminho inverso. A banda até 1967 era um tipo de cover dos EUA, em 67 virou o molde do som made in England. É um poço de pretensão. Dizem que é o disco que inventou o prog rock. Observe, bandas prog, por mais que viagem aos EUA, nunca sofrem influência da América. Isso porque eles se acham artistas. Nesse sentido os Moody são avôs do prog. --------------------- Eles se trancaram no estúdio da Decca, e com uma orquestra gravaram esta coisa. É música erudita com banda de pop rock. Mas entenda, não é erudito tipo vanguarda, é orquestra tocando algo tipo trilha sonora de Spielberg ou desenho Disney. Xarope. Dá um choque porque é muito bobo. Em 1967 parecia estranho, hoje parece tolo. Então, depois da orquestra e até de um narrador, sotaque mega BBC, vem o melotorm. Um melotrom!!!!! O melotrom é o avô do synth. Uma coisa que usava fita para armazenar sons. Sempre que eu ouço um melotrom imagino um cara de gola rulê e óculos roxo. É um timbre doentio. ADORO!!!! Space Oddity tem melotrom. O album Satanic dos Stones é todo melotrom. Parece som de inferno em technicolor. --------------- As faixas POP sem orquestra são boas. Ótimas até. Mas pra chegar nelas voce tem de aguentar 15 minutos de xaropada. Ah sim, a crítica inglesa falou na época: Oh!!!!! Influência dos Beatles!!!! Nada disso! O disco é filho do Pet Sounds. Mais um.
SCREAMADELICA - PRIMAL SCREAM
Anos atrás, em um momento de caixa baixa, vendi meu vinil de Screamadelica. Consigo o cd e ouvi ontem. Fazia mais de década que não o ouvia inteiro. Claro que é bom, mas não é um disco normal, é na verdade uma coleção de remixes, por isso o fato de ser um album com cara de greatest hits. Para os ingleses é um dos 10 maiores discos dos anos 90, para os americanos ele nem existe. É antiga essa diferença entre EUA e UK. Tudo que é americano vende muito bem na Ilha, até mesmo Willie Nelson e Garth Brooks. Já americanos deixam de consumir verdadeiras joias do rock inglês. Isso desde 1964. Posso citar Status Quo, Gary Glitter, Gentle Giant, Small Faces, The Jam, Happy Mondays, como exemplo de gente que é hiper estrela em UK e mal chegam aos 100 primeiros postos na Billboard. Há também aqueles que são razoáveis nos USA, mas que na Ilha são smash hits: Kinks, Traffic, T.Rex, Roxy Music, Smiths, Style Council, Ultravox, Blur, são todos BIG na Inglaterra e medianos em vendas nos USA. ------------- Na onda baggy de 1988-1992, Stone Roses, Happy Mondays e Primal Scream eram os maiorias e nenhum estourou nos EUA. O movimento do clube Hacienda em Manchester nem passou perto de se tornar popular na América. Em 88 a Billboard descobria o RAP e o eletro de Detroit e em 92 era a vez do grunge. Nesse meio tempo houve o estouro dos Red Hot e o fenômeno Metallica. Não havia espaço para o rock viajante dos Primal Scream. Screamadelica é psicodélico até a medula, e como disse em outro post, os anos 90 inauguraram o saudosismo como fenômeno hype. Pela primeira vez escutar coisas velhas era cool. Doors e Love, Hendrix e Cream, todos deixaram o mofo para trás. Cabelos longos, sons meio prog meio hard rock, guitarras, blusas coloridas, valia reciclar tudo. O Primal Scream reciclava um album antigo apenas: Beggars Banquet dos Rolling Stones. Screamadelica inteiro tem acordes de piano chupados de Sympathy for The Devil. Nicky Hopkins é o dono dos acordes originais. Jimmy Miller produziu o Beggars Banquet e surpresa! Foi Jimmy quem produziu algumas das faixas daqui. A guitarra, presente em vários momentos, sempre bem vinda, repete também os acordes keithrichardianos de Sympathy for The Devil. Não, nada de plágio!!!! Primal Scream usa influências, assume esse ato, e as rejuvenesce com batidas de acid house. Acontece então um fenômeno que se repetiu por toda a década de 90: O passado casado com o presente, o rock dos anos 60 e 70 recauchutado. O Nirvana usou um hit do Boston para estourar mundialmente, riffs do Black Sabbath fizeram a vida de metade dos grupos de Seattle e o Led Zeppelin parecia ser, outra vez, o maior grupo de rock do universo. Grandes anos 90! Beck misturou RAP com John Fogerty, STP era Led Zeppelin com Beatles e Janes Addiction citava toda uma discografia em apenas quatro minutos de som. Pode-se dizer que foi uma década onde toda coleção de discos era usada todo o tempo em todo disco. Os anos 90 foram o paraíso para quem tinha conhecimento nerd de rock. ( Todos os grandes rock stars da época foram grandes colecionadores ). --------------------- O rock viveu momentos brilhantes. 1968-1972....1978-1982....1988-1993....talvez 1997-2002. E então o fim. O rock perde o posto de protagonismo e se torna apenas mais um gênero. Bandas sempre haverão, mas nunca mais haverá um rock star como "maior estrela do mundo". Esse posto é, faz vinte anos já, do RAP, do POP, do R and B, do cinema. Screamadelica é um disco que nos faz viajar de volta a seu tempo, é uma capsula temporal. Atemporal? Em tempos virtuais, tudo é atemporal e nada parece eterno. Falar em atemporalidade na arte hoje é absurdo. O fato de eu estar falando deles para voce AGORA faz deste disco atemporal. E é um prazer poder o escutar.
PRIMAL SCREAM - VANISHING POINT
A ideia de se fazer um disco inteiro sobre um filme não é original, mas para mim, é sempre boa. Eu adoraria fazer um disco sobre MASH do Altman por exemplo. Bobby Gillespie e seus comparsas resolveram fazer sobre o filme cult de Richard Sarafian de 1971. Ouvindo o disco eu observo que para eles o filme é outro que aquele que eu vejo. Para mim é um quase western, para eles é uma viagem lisérgica. Não é um disco ruim. É apenas incompleto. ----------------- Espertamente, cada faixa traz um tempero da época em que o filme foi feito. Há psicodelismo aqui, uma guitarra wah wah lá. Percussão primitiva-eletrônica tipo 1971 à Timmy Thomas numa faixa, riffs à Sticky Fingers em outra ( Bobby tem fixação por músicas como Sway e Cant you hear me knocking ). Falta voz, claro. O Primal Scream sempre deveu um vocal que fugisse da vala comum dos filhos dos Stone Roses. Bobby Gillespie é mais uma voz da geração Baggy Trousers que parece fazer imitação de Ian e Shawn. O irônico é que Primal Scream é mais velho que Stone Roses e Happy Mondays. ---------------- A melhor faixa é Kowalski, um eletrônico safo típico do fim dos anos 90. As piores são aquelas em que Bobby inventa de viajar num tipo de embalo orientalista psico colorido incenso e velas que corta qualquer chance de tesão. É um disco muuuuuito irregular. As faixas variam: uma boa, uma ruim, uma ruim, uma boa. ------------- Por fim: que filme é esse? Eu o vejo como um western dos mais simples transportado para 1971. Um cara leva uma carga, a diligência é um carro veloz. Para Bobby é uma viagem doida movida à LSD e maconha. Tudo um tipo de ilusão onde ao final se encontra o tal "ponto de desvanecimento", uma passagem para outro mundo. Para mim, esse tal ponto é apenas a morte do motorista. Sim, ele é morto ao fim, e em super velocidade, ele leva o carro com ele. --------------- Qual versão está certa? Nenhuma! Vanishing Point é apenas um filme feito no estilo em moda então: O filme de carro e estrada. Um filme POP feito para agradar os caras de 18 anos de 1971. Décadas mais tarde ele pode parecer "arte", mas não é. E talvez Bobby, como eu, não veja arte alguma nele ( o que é uma benção ), mas tão somente uma diversão bem doida que nos remete, eu e Bobby, à nossa infãncia. --------------- Crescemos, eu, Bobby, Ian e Shawn no mesmo caldeirão POP. E Vanishing Point nos fala desse tempero todo. -------------- Can you dig it?
ESSES CRÍTICOS PRESOS PRA SEMPRE EM 1982...
A crítica de rock americana pode ser chamada de preguiçosa. Em suas listas de melhores há sempre o óbvio. Mas a crítica inglesa deve ser chamada de burra. Eles, que em sua maioria foram adolescentes nos anos 80, estão presos, sem perceber, nos dogmas de 1982: tudo o que lembra o rock hedonista de 1974 deve ser jogado fora. Em seu modernismo velho, eles repetem sem parar os preconceitos, que em 1982 faziam sentido, contra aquilo que soe como Stones ou Led Zeppelin. É uma maneira grosseira de ser muito velho tentando ser sempre jovem.
Ouço dois discos do Primal Scream. Xtrmnt foi elogiado em seu tempo. Riot City Blues foi mais que criticado, foi chamado de fiasco, vergonha. Riot vendeu bem, Xtr nem tanto. O grande pecado de Riot é lembrar muito tudo aquilo que em 1982 era vergonhoso e pouco chique: Faces, Status Quo, Deep Purple, Stones. Criticar com dogmas dá nisso: um desarranjo com a justiça e um distanciamento do gosto pop. Riot é um bom disco de rocknroll, e nisso não há pecado. Já Xtrm soa já estranhamente datado. O que é moderno sempre envelhece rápido. É um disco bacana, bom de ouvir, mas sua sonoridade é 100% virada de milênio. Nenhum problema em parecer ser de 2000, como não há problema em parecer ser de 1974. O que interessa é a criatividade. Ou a fé naquilo que se faz. A verdade que vive e respira no ato de criação. Riot é mais vivo. Parece de verdade.
Escuto também um disco muito odiado em 1977, o Barry White daquele ano, que tem o single Ecstasy. Engraçado é que o mesmo tipo de crítico preso a 1982, hoje elogia Barry White. Exatamente por ele ter sido tão detestado nos anos 70. Justiça seja feita, o som orquestral de mr. White é de uma beleza sublime. Bateria, baixo, violinos e piano soam como se tocados por anjos negros. Ecstasy é tudo aquilo que os caras do lounge querem fazer e nunca conseguem. O sonho do Brand New Heavies e do Tricky.
Por fim, 1974 é o ano do Status Quo e justiça seja feita: Quo é um disco do caralho!
Ouço dois discos do Primal Scream. Xtrmnt foi elogiado em seu tempo. Riot City Blues foi mais que criticado, foi chamado de fiasco, vergonha. Riot vendeu bem, Xtr nem tanto. O grande pecado de Riot é lembrar muito tudo aquilo que em 1982 era vergonhoso e pouco chique: Faces, Status Quo, Deep Purple, Stones. Criticar com dogmas dá nisso: um desarranjo com a justiça e um distanciamento do gosto pop. Riot é um bom disco de rocknroll, e nisso não há pecado. Já Xtrm soa já estranhamente datado. O que é moderno sempre envelhece rápido. É um disco bacana, bom de ouvir, mas sua sonoridade é 100% virada de milênio. Nenhum problema em parecer ser de 2000, como não há problema em parecer ser de 1974. O que interessa é a criatividade. Ou a fé naquilo que se faz. A verdade que vive e respira no ato de criação. Riot é mais vivo. Parece de verdade.
Escuto também um disco muito odiado em 1977, o Barry White daquele ano, que tem o single Ecstasy. Engraçado é que o mesmo tipo de crítico preso a 1982, hoje elogia Barry White. Exatamente por ele ter sido tão detestado nos anos 70. Justiça seja feita, o som orquestral de mr. White é de uma beleza sublime. Bateria, baixo, violinos e piano soam como se tocados por anjos negros. Ecstasy é tudo aquilo que os caras do lounge querem fazer e nunca conseguem. O sonho do Brand New Heavies e do Tricky.
Por fim, 1974 é o ano do Status Quo e justiça seja feita: Quo é um disco do caralho!
UM GRANDE DISCO: PARKLIFE - BLUR
Lançado em 1994, no auge do britpop, este terceiro disco do Blur é melhor que o mais famoso What's The Story dos rivais plebeus do Oasis. Não que o disco do irmãos desunidos seja fraco, ele é histórico. Mas Parklife é muito mais aventuroso.
Muito se disse na época que a crítica inglesa, sempre sensacionalista, queria forçar um embate tipo Stones x Beatles, entre as bandas de Londres e de Manchester. Mas, assim como nunca houve uma rivalidade entre Jagger e Lennon, os rivais dos Beatles eram todos americanos, a rivalidade entre Blur e Oasis sempre soou artificial. Os rivais dos Gallagher eram eles mesmos. E a referência do Blur nunca foram os Stones, eram os Kinks, o Yardbirds na fase Jeff Beck e Bowie.
Parklife começa com dance music muito boa e termina com colagens à la Lodger de David Bowie. Suas melhores faixas são comentários sociais carinhosos ao modo Ray Davies, e a obra-prima Village Green sempre paira no horizonte de Damon Albarn.
Albarn é o mais esperto dos caras de sua geração, e seu gosto é sempre exemplar. Blur transpira informação, e em que pese sua voz ruim, a gente se acostuma até com ela e acaba aceitando. O disco, caleidoscópio vermelho e azul, jamais poderia ser aceito nos EUA. É inglês, tão chá com leite como The Fall ou Pulp. E os Kinks pós 1966.
O britpop nunca existiu. Era apenas um rótulo feito para vender como novo algo que era continuação tradicionalista. Oasis, Pulp, Verve e que tais eram apenas a manutenção do bom e velho rock inglês guitarreiro. Um bando de garotos nascidos no auge do pop que, como eu, souberam endeusar a música feita durante sua estadia no berço. Depois, aos 14-16 anos, viram o segundo auge inglês entre 77-83, com Bowie, Clash e The Jam e o resto é o resto.
Se voce quiser ter em sua coleção só cinco discos desse tal brit, Parklife deve ser o primeiro a ser comprado. Depois pegue o Oasis de praxe, um Pulp e complete com o primeiro do Elastica. Tá feito.
PS: Não, Primal Scream não é britpop. Mas são os Stones da coisa.
Muito se disse na época que a crítica inglesa, sempre sensacionalista, queria forçar um embate tipo Stones x Beatles, entre as bandas de Londres e de Manchester. Mas, assim como nunca houve uma rivalidade entre Jagger e Lennon, os rivais dos Beatles eram todos americanos, a rivalidade entre Blur e Oasis sempre soou artificial. Os rivais dos Gallagher eram eles mesmos. E a referência do Blur nunca foram os Stones, eram os Kinks, o Yardbirds na fase Jeff Beck e Bowie.
Parklife começa com dance music muito boa e termina com colagens à la Lodger de David Bowie. Suas melhores faixas são comentários sociais carinhosos ao modo Ray Davies, e a obra-prima Village Green sempre paira no horizonte de Damon Albarn.
Albarn é o mais esperto dos caras de sua geração, e seu gosto é sempre exemplar. Blur transpira informação, e em que pese sua voz ruim, a gente se acostuma até com ela e acaba aceitando. O disco, caleidoscópio vermelho e azul, jamais poderia ser aceito nos EUA. É inglês, tão chá com leite como The Fall ou Pulp. E os Kinks pós 1966.
O britpop nunca existiu. Era apenas um rótulo feito para vender como novo algo que era continuação tradicionalista. Oasis, Pulp, Verve e que tais eram apenas a manutenção do bom e velho rock inglês guitarreiro. Um bando de garotos nascidos no auge do pop que, como eu, souberam endeusar a música feita durante sua estadia no berço. Depois, aos 14-16 anos, viram o segundo auge inglês entre 77-83, com Bowie, Clash e The Jam e o resto é o resto.
Se voce quiser ter em sua coleção só cinco discos desse tal brit, Parklife deve ser o primeiro a ser comprado. Depois pegue o Oasis de praxe, um Pulp e complete com o primeiro do Elastica. Tá feito.
PS: Não, Primal Scream não é britpop. Mas são os Stones da coisa.
FESTAS, DROGAS E ROCK`N`ROLL, A SAGA DA CREATION E O FIM DO ROCK INDIE
No começo dos anos 80 o mundo pedia por gravadoras indies. As grandes ( Sony, RCA, Polygram, EMI ) estavam fazendo a festa com MJ, Queen, Bowie, Police, Dire Straits e Bruce, dentre dezenas de outros. E o povo antenado consumia euforicamente os selos indies. Lembro que eu adorava o catálogo da Sire, mas havia a IRS, a Virgin, a Rough Trade, a Factory...e na Escócia um doido ruivo chamado Alan McGhee fundou uma das menores, a Creation. Logo em seu segundo ano eles chamaram a atenção, Jesus and Mary Chain eram a ressurreição do Velvet Underground ( mais uma ), microfonia e doçura. Paralelamente veio o Primal Scream, que ainda não era o PS que voces conhecem. O grupo de Bobby Gillespie era bem mais melódico.
Conforme o fim da década foi chegando mais as indies se afirmavam. A Creation tinha meia dúzia de funcionários e todos eram completamente loucos. Sempre no vermelho, gastavam por conta dos lançamentos futuros. My Bloody Valentine era a bola da vez e Kevin Shields se tornou um ídolo na Inglaterra. Lembro que aqui no BR a revista BIZZ tinha um fanatismo pela Creation que me irritava. Na época eu adorava os californianos tipo Jane`s Addiction e Red Hot Chili Peppers, e nada menos "sol, esporte e go for it"que as melancólicas bandas de Glasgow. House of Love foi a primeira banda deles a chegar ao number one das ilhas...e então tudo mudou, para a Creation, para a GB e para mim.
Se pensarmos friamente todo movimento dentro do rock se originou da droga da hora. Os Beatles se soltaram ao conhecer a maconha e o rock ficou viajandão com o LSD. A heroína deu o gas e o tema para Lou Reed e todos os que daí vieram. Álcool e anfetaminas criaram o rock de garagem e a cocaína deu aos anos 70 seu aspecto de ego inflado e "tudo é lindo". Well...por volta de 1988 começou a cultura do ecstasy e a Creation é apresentada a nova droga em 89. Alan McGhee mergulha fundo e leva as bandas do selo com ele. O estúdio, que sempre fora zona livre para gente junk, se transforma numa rave que nunca termina. Um disco muda tudo e para os ingleses se torna a coisa mais influente da época: Screamadelica do Primal Scream. Gillespie leva meses para terminar o disco, ele é todo gravado sob efeito de ecstasy. A mistura se faz: Creation plus dance= anos 90. Primal Scream é a primeira banda do selo a ir ao Top Of The Pops. Chapados.
Foi um dos melhores momentos da história do Pop inglês. Stone Roses, Happy Mondays, Blur, Charlatans. Nenhum deles era da Creation. Alan tinha o Super Furry Animals e lançaria em 94 o Oasis, a banda que segundo Alan, mataria o rock indie.
Primeiro um adendo que muita gente aqui no BR ignora ( colonizado que somos por criticos pró-ingleses ), é muito, muito dificil um inglês fazer sucesso nos EUA. Todas essas bandas inglesas que citei aqui NUNCA estouraram nos EUA. O Oasis será a única. A coisa lá é muito dura. Quando em 64 os Beatles pegaram os EUA trouxeram com eles o Dave Clark Five, o Animals e os Hermann Hermits. Os Stones só estourariam em 65, os Kinks, que venderiam pacas na GB por toda a vida, só tiveram de hits nos EUA, You Really Got Me e Lola bem mais tarde. Yardbirds, Spencer Davies ou Hollies, necas. Em 68, com a segunda invasão britânica, Bee Gees e Cream seriam os únicos. Bandas que causavam histeria nas ilhas, como Small Faces ou Traffic, nada conseguiam nos EUA. Lendo a parada de 72 da Inglaterra vejo os nomes de T.Rex, Roxy Music, Slade, Sweet, Gary Glitter e Status Quo nos 6 primeiros lugares, uma parada maravilhosa, mas TODOS jamais fizeram sucesso nos EUA. O rock inglês dos anos 70 que era hit na América se resume a Elton John, Rod Stewart e Led Zeppelin. Bandas como Smiths, Jam, Ultravox, passaram em branco e mesmo David Bowie só estourou muito depois de Ziggy Stardust, em 75 com Fame. O Queen fez sucesso nos EUA, assim como o Police, mas muuuuuito menos que na Inglaterra ( e que aqui, onde até o Clash sempre foi muito mais popular que nos EUA ).
Em 83 houve uma terceira invasão: Culture Club, Duran Duran, Human League pegaram os primeiros lugares... até surgir Prince e Madonna e levarem tudo de roldão. O U2 reinaria sózinho, única banda britânica a estourar na América pelos anos 80 inteiros. Até o Oasis. Alan McGhee foi ver os caras num bar e assinou na hora ( ele fala hoje que se soubesse que Noel era fã do U2 jamais teria aceitado ). O resto todo mundo recorda. Mas porque eles fizeram tão mal as indies? Por 3 motivos: Primeiro a Sony comprou a Creation, deixando Alan como mera peça de decoração, Segundo, todas as indies passaram a sofrer assédio das grandes gravadoras, e todas foram obrigadas a procurar e trabalhar "novos Oasis", Terceiro, o espaço para bandas como Primal Scream acabou. Seus discos começaram a ser muito mal trabalhados, e o Jesus and Mary Chain chegou a ser demitido. E chegamos então a situação de hoje, a pulverização da cena e a transformação do público em nichos que mal se tocam.
É um final melancólico e desde o Oasis ( que não tem culpa e sofreu com o processo ), apenas o Coldplay conseguiu entrar no mercado da América. A Inglaterra jogou fora N bandas que poderiam ter tido uma longa carreira e em troca ganhou o Coldplay.
Chato né?
Conforme o fim da década foi chegando mais as indies se afirmavam. A Creation tinha meia dúzia de funcionários e todos eram completamente loucos. Sempre no vermelho, gastavam por conta dos lançamentos futuros. My Bloody Valentine era a bola da vez e Kevin Shields se tornou um ídolo na Inglaterra. Lembro que aqui no BR a revista BIZZ tinha um fanatismo pela Creation que me irritava. Na época eu adorava os californianos tipo Jane`s Addiction e Red Hot Chili Peppers, e nada menos "sol, esporte e go for it"que as melancólicas bandas de Glasgow. House of Love foi a primeira banda deles a chegar ao number one das ilhas...e então tudo mudou, para a Creation, para a GB e para mim.
Se pensarmos friamente todo movimento dentro do rock se originou da droga da hora. Os Beatles se soltaram ao conhecer a maconha e o rock ficou viajandão com o LSD. A heroína deu o gas e o tema para Lou Reed e todos os que daí vieram. Álcool e anfetaminas criaram o rock de garagem e a cocaína deu aos anos 70 seu aspecto de ego inflado e "tudo é lindo". Well...por volta de 1988 começou a cultura do ecstasy e a Creation é apresentada a nova droga em 89. Alan McGhee mergulha fundo e leva as bandas do selo com ele. O estúdio, que sempre fora zona livre para gente junk, se transforma numa rave que nunca termina. Um disco muda tudo e para os ingleses se torna a coisa mais influente da época: Screamadelica do Primal Scream. Gillespie leva meses para terminar o disco, ele é todo gravado sob efeito de ecstasy. A mistura se faz: Creation plus dance= anos 90. Primal Scream é a primeira banda do selo a ir ao Top Of The Pops. Chapados.
Foi um dos melhores momentos da história do Pop inglês. Stone Roses, Happy Mondays, Blur, Charlatans. Nenhum deles era da Creation. Alan tinha o Super Furry Animals e lançaria em 94 o Oasis, a banda que segundo Alan, mataria o rock indie.
Primeiro um adendo que muita gente aqui no BR ignora ( colonizado que somos por criticos pró-ingleses ), é muito, muito dificil um inglês fazer sucesso nos EUA. Todas essas bandas inglesas que citei aqui NUNCA estouraram nos EUA. O Oasis será a única. A coisa lá é muito dura. Quando em 64 os Beatles pegaram os EUA trouxeram com eles o Dave Clark Five, o Animals e os Hermann Hermits. Os Stones só estourariam em 65, os Kinks, que venderiam pacas na GB por toda a vida, só tiveram de hits nos EUA, You Really Got Me e Lola bem mais tarde. Yardbirds, Spencer Davies ou Hollies, necas. Em 68, com a segunda invasão britânica, Bee Gees e Cream seriam os únicos. Bandas que causavam histeria nas ilhas, como Small Faces ou Traffic, nada conseguiam nos EUA. Lendo a parada de 72 da Inglaterra vejo os nomes de T.Rex, Roxy Music, Slade, Sweet, Gary Glitter e Status Quo nos 6 primeiros lugares, uma parada maravilhosa, mas TODOS jamais fizeram sucesso nos EUA. O rock inglês dos anos 70 que era hit na América se resume a Elton John, Rod Stewart e Led Zeppelin. Bandas como Smiths, Jam, Ultravox, passaram em branco e mesmo David Bowie só estourou muito depois de Ziggy Stardust, em 75 com Fame. O Queen fez sucesso nos EUA, assim como o Police, mas muuuuuito menos que na Inglaterra ( e que aqui, onde até o Clash sempre foi muito mais popular que nos EUA ).
Em 83 houve uma terceira invasão: Culture Club, Duran Duran, Human League pegaram os primeiros lugares... até surgir Prince e Madonna e levarem tudo de roldão. O U2 reinaria sózinho, única banda britânica a estourar na América pelos anos 80 inteiros. Até o Oasis. Alan McGhee foi ver os caras num bar e assinou na hora ( ele fala hoje que se soubesse que Noel era fã do U2 jamais teria aceitado ). O resto todo mundo recorda. Mas porque eles fizeram tão mal as indies? Por 3 motivos: Primeiro a Sony comprou a Creation, deixando Alan como mera peça de decoração, Segundo, todas as indies passaram a sofrer assédio das grandes gravadoras, e todas foram obrigadas a procurar e trabalhar "novos Oasis", Terceiro, o espaço para bandas como Primal Scream acabou. Seus discos começaram a ser muito mal trabalhados, e o Jesus and Mary Chain chegou a ser demitido. E chegamos então a situação de hoje, a pulverização da cena e a transformação do público em nichos que mal se tocam.
É um final melancólico e desde o Oasis ( que não tem culpa e sofreu com o processo ), apenas o Coldplay conseguiu entrar no mercado da América. A Inglaterra jogou fora N bandas que poderiam ter tido uma longa carreira e em troca ganhou o Coldplay.
Chato né?
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