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CHARME, NOBREZA, HUMOR E JOIE DE VIVRE

Um amigo me fala da recente entrevista na TV francesa da baronesa Nadine de Rothschild, viúva do barão Edmond. Ela, hoje com 92 anos, escreve livros sobre a arte de seduzir. Nadine nasceu pobre, se tornou cantora de boate, e seduziu Edmond, um dos homens mais ricos da Europa, vindo a se casar com ele e herdando seu título. Apesar de não ter sangue azul, Nadine é, talvez, a mais nobre das figuras da Europa hoje. Uma das últimas. -------------- Ela não é e nunca foi bonita. Mas ela atrai. Como todo nobre verdadeiro, aquele que o é por alma, Nadine esbanja bom humor, charme, savoir faire. A tal joie de vivre, expressão que na minha geração ainda era muito usada, mas que hoje deve parecer uma língua obscura para quase todos. Conversar com alguém como Nadine é se apaixonar por ela. Mesmo aos 92. --------------- Sobre a tal joie de vivre: é uma expressão francesa que significa alegria de viver, prazer em estar vivo. Mas é mais que isso. Uma tradução mais apurada teria de dizer algo como uma alegria em se descascar uma maçã no inverno e observar sua cor e sua textura e sentir o ar frio entrar no nariz e ser feliz por poder sentir e fazer aquilo que se faz. Entendeu? Joie de vivre é tirar da vida aquilo que ela dá, e observe, não significa correr atrás do prazer, mas sim saber o receber. Não é uma atitude passiva, mas é uma atitude de calma e volúpia. E que tal falar agora da tal nobreza, a aristocracia, qualidade que os herdeiros ingleses não possuem mas que a família real da Espanha tem. Na minha vida eu conhecia duas pessoas que tinham o dito sangue azul ( expressão racista? so what... ). Um era italiano e o outro português. Ambos tinham o mesmo modo light de viver. Sorriam. Sorriam muito, principalmente para estranhos. Foram treinados desde cedo a sorrir. Nunca os vi rir, muito menos gargalhar, sorriam. Jamais erguiam a voz, falavam num tom médio, nem lento e nem rápido e escolhiam o que dizer antes de dizer. Não se vestiam para chamar a atenção, nem mesmo o bom gosto era exibido. As roupas pareciam velhas, porém bem tratadas. Discretos, em tudo discretos. Uma camisa creme, uma calça jeans, um sapato marrom. Mas a pessoa observadora notava: o relógio, pequeno, era um Patek Philippe. O óculos de sol era Persol. O anel era herança do avô. Nada era usado para brilhar, mas tudo tinha o perfume do raro e do caro. O andar era sempre calmo, jamais com pressa e se dirigiam a todos os chamando de senhor e senhora, mesmo que fosse o taxista ou um garçon. Mais importante, espalhavam ao redor tudo o que sabiam, ensinavam que vinho tomar com aquela carne, que copo utilizar, onde ir e o que ler. Tudo sempre com o tal sorriso. Um deles trabalhou comigo numa escola pública e jamais me contou ser de origem nobre italiana. Me contaram depois. Em meio a alunos muito pobres, muito barulhentos e muito tolos, que o olhavam como se ele fosse um morador de favela, esse homem sempre manteve a calma, andando em meio ao Kaos como se ele jamais pudesse o atingir. Sorria e tratava os alunos com profundo respeito. E mesmo sendo simpático, havia a distância de uma galáxia entre ele e os alunos. Era como se uma redoma de vidro o protegesse. Os garotos riam, entre eles, de seus sapatos, achavam eles baratos não desconfiando que custavam mais que 5 tênis Nike. Riam de seu cashmere, desprezavam seu relógio pequeno. O amigo nobre não exibia marcas de roupas, e eles entendiam isso como pobreza. ------------------------- O outro que conheci, português, era um fidalgo em 100%. Sopa antes do jantar, pratos herdados do bisavô, silêncio à mesa, sorrisos e frases longas. Foi a única pessoa que conheci que trocava de roupa 3 vezes ao dia. E todas as 3 pareciam velhas e usadas. Tinha uma governanta que parecia mais rica que ele mesmo. Mas claro que não era. Era minha tia. Em 20 anos de convívio ela continuava a ser Senhora isso e Dona aquilo. O homem tinha uma linda coleção de livros simbolistas que ele mandara encardenar em couro. E era massom. Me convidou para o grupo mas eu nunca me interessei. E que tal voltar à Nadine? ----------------- Ela ensina que seduzir é estar atento à sedução. E a sedução se dá pelo humor. Um sedutor, um grande sedutor, faz rir. Homens feios têm sua aparência obscurecida pelo humor. Eles fazem rir e riem, eles alegram e parecem alegres. E são diferentes. Esqueça o "sedutor misterioso calado". Esse vai para a cama uma noite e é logo esquecido. Não conquista. O que seduz traz prazer à vida de quem com ele convive. E nunca esqueça, esse senso de humor NÃO SIGNIFICA CONTAR PIADAS OU FAZER GESTOS CÔMICOS. É a ironia, a maior prova de charme e inteligência que existe. É o tal distanciamento aristocrático, o dom de se observar o Kaos da vida e sorrir dele. E compartilhar esse talento com sua escolhida. ---------------------------- Eu já amei uma mulher não bonita que tinha esse dom. E ela era de uma atração irresistível. ------------- Por fim, Nadine diz que na contramão dos nobres aristocratas, não existe povo mais desprovido de charme que os acadêmicos. São de uma falta de brilho, de humor, de sorrisos que dá vontade de correr deles. Penso que o motivo é uma dose imensa de rancor. O rancoroso não sorri, gargalha como uma gralha, e não tem charme, se exibe. Por isso intelectuais odeiam aristocratas, questão de inveja rancorosa. Em 15 anos convivendo com professores, nunca vi um só com uma gota de charme. Bem...talvez duas... Inclusive eu, devo confessar, perdi 90% de meu joie de vivre ao conviver com eles. ----------------- Por fim....nosso mundo é apressado, histérico, pornográfico e prático. Se antes nossos modelos de elegância eram atores hollywoodianos e cantores que se baseavam na nobreza ( Cary Grant, Fred Astaire, Gary Cooper,Sinatra, todos eram proletários que aprenderam , com disciplina, a parecer nobres ), hoje nossos modelos são gigolôs que cantam RAP ou atores que se lamentam e têm rosto de quem frequenta os AA. Para as mulheres é pior, seus modelos são prostitutas, e nem mesmo são putas de alto luxo, são as que fazem strip em boates do cais. A situação é uma vitória dos acadêmicos que vêm assim os aristocratas esquecidos e desprezados. Mas o que pergunto é: os acadêmicos estão felizes com sua vitória? ------------------------ Charme? Voce quer saber o que é charme? Ora meu querido....assista Alain Delon em O SOL POR TESTEMUNHA e volte a ler isto. Oh sim....ele não tem humor!...mas o filme é todo ironia baby. Pura ironia.