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A FILHA DO CAPITÃO - PUSHKIN
Tenho uma amiga escritora. Ela disse que um de seus professores na PUC RIO criticou um texto seu por ela exaltar a literatura russa. Esse professor, de estética, não sabia que a Russia tinha uma grande literatura. ---------------- Estudei no ensino público entre os anos de 1969-1978. Não líamos Tolstoi ou Gogol, lógico, mas desde os 11 anos devíamos fazer resumos sobre livros de Poe, Mark Twain, Julio Verne e Stevenson. Também líamos Monteiro Lobato, Rachel de Queirós e José J. Veiga. No ensino médio era a vez de Salinger, Kafka e Orwell. Weellll.... em 2023 não vejo um só livro indicado aos alunos do ensino público e falo mais, como professor, se eu indicar algo fora do currículo serei advertido. ---------------- Li Pushkin aos 15 anos e reli estes dias. Pushkin é chamado do desbravador do romance russo, o primeiro da linhagem. Ele não é o primeiro, mas ficou a fama. Romance russo é um milagre do século XIX. É tão inexplicável como é admirável. A Russia em 1830, 1880 era um país medieval. Violento, analfabeto, obscuro. Mas, e talvez aí esteja a explicação, tinha uma das elites mais cultas da Europa. Eram cultos e eram indiferentes ao povo. Elite culta é uma raça em extinção no século XXI. Elite que realmente lê, que ama a arte e a filosofia, que viaja para se educar; isso acabou. Por isso a alta cultura morreu. ---------------- Esta novela de Pushkin, uma das obras mais populares do autor russo, tem duas partes bem marcadas. A primeira metade é o amadurecimento de um jovem russo, rico, que é mandado para o exército pelo pai severo. Na segunda parte, já integrado à vida, ele se envolve na revolta dos cossacos. Livro de aventura, de amor, de formação de caráter, é aquele romance-novela típico do século XIX, vasto, ambicioso, tempo em que um escritor queria sempre dizer muito e dizer tudo. A criação de personalidades ficcionais é perfeita e os ambientes são fascinantes. Mundo de escuridão fria, de estepes e de costumes violentos. Um belo livro.
EUGÊNIO ONEGUIN- PUSHKIN
Existem livros que lemos no momento exato. Falam diretamente ao momento que vivemos então. Eu não sei porque, entre tantas opções, resolvi reler este livro. Pushkin é o maior poeta russo. Um romântico típico, mas um romântico que conseguiu sobreviver em nossos tempos cínicos. Porque Pushkin é um gênio, e o gênio sobrevive a modas.
Dostoievski o adorava. Nabokov o ama. E se Nabokov ama alguma coisa essa coisa merece muita atenção.
Li esta obra-prima pela primeira vez dois anos atrás, apenas. Gostei, mas senti que aquele não era seu momento. Este é. A névoa do poema, do romance, da narração cai sobre mim. Romantismo. Belo romantismo. Todas as características do melhor romantismo estão presentes. O spleen. Os personagens sofrem de tédio. Vivem sem interesses, isolados, presos de uma sensação de que nada vale a pena. Indiferentes. Ao mesmo tempo há um amor sublime à natureza. Descrições apaixonadas de estações do ano, de bosques, de céus. Um agudo senso de psicologia. A alma das pessoas se desnuda. E, súbito, o amor surge e é feita a escolha, esse amor será frustrado.
No deserto que é a vida, Eugênio, um seguidor de Byron, mata em duelo seu único amigo. E depois se apaixona pela menina que antes recusara. O final, seco e abrupto, é magistral.
O estilo de Pushkin é simples. Um poema em rimas que é um romance. Pois o poeta não escreve poesia, ele narra uma história. Lemos em seu ritmo, rápido, musical, leve, vibrante. Um soberbo prazer nos invade. Parece que estamos nas estepes russas, sentimos a luz, vivemos a vida dos personagens.
Se voce está in love, eis seu livro.
Dostoievski o adorava. Nabokov o ama. E se Nabokov ama alguma coisa essa coisa merece muita atenção.
Li esta obra-prima pela primeira vez dois anos atrás, apenas. Gostei, mas senti que aquele não era seu momento. Este é. A névoa do poema, do romance, da narração cai sobre mim. Romantismo. Belo romantismo. Todas as características do melhor romantismo estão presentes. O spleen. Os personagens sofrem de tédio. Vivem sem interesses, isolados, presos de uma sensação de que nada vale a pena. Indiferentes. Ao mesmo tempo há um amor sublime à natureza. Descrições apaixonadas de estações do ano, de bosques, de céus. Um agudo senso de psicologia. A alma das pessoas se desnuda. E, súbito, o amor surge e é feita a escolha, esse amor será frustrado.
No deserto que é a vida, Eugênio, um seguidor de Byron, mata em duelo seu único amigo. E depois se apaixona pela menina que antes recusara. O final, seco e abrupto, é magistral.
O estilo de Pushkin é simples. Um poema em rimas que é um romance. Pois o poeta não escreve poesia, ele narra uma história. Lemos em seu ritmo, rápido, musical, leve, vibrante. Um soberbo prazer nos invade. Parece que estamos nas estepes russas, sentimos a luz, vivemos a vida dos personagens.
Se voce está in love, eis seu livro.
EUGÊNIO ONEGUIN- ALEXANDR PUSHKIN ( O MAIS AMADO AUTOR RUSSO )
Muito mais que Tolstoi, Dostoievski ou Tchekov, russos amam Pushkin. Eugênio Oneguin está para a literatura de lá como o Quixote para a Espanha ou Brás Cubas para o Brasil. É um centro, retrato de alma nacional. Dario Moreira de Castro Alves, tradutor do livro, diz que na Russia, taxistas, professores ou policiais, todos sabem trechos de Eugênio Oneguin na ponta da lingua.
Pushkin é pouco traduzido. Esta tradução, de 2010, é a primeira para o português de sua obra-prima. Foi saudada com os louvores devidos. Dario foi diplomata. Aposentado, dedica-se a seu grande amor: as letras. Tem trabalhos sobre Eça e Camilo. E esta tradução trabalhosa. Trata-se de um romance em versos. É um romance por descrever ações, por conter personagens que agem no tempo; e é um poema, por ser todo escrito em versos de oito linhas, rimados.
Pushkin é dos mais românticos dentre os românticos. Seu bisavô foi um negro etíope. Dado de presente a um nobre russo, esse antepassado foi educado e feito militar. O pai de Pushkin é neto desse etíope.
Há um dito russo que fala que o czar Pedro lançou à Russia o desafio de se fazer moderna. E a Russia respondeu com Pushkin, o primeiro russo moderno. Nascido em 1799, é o poeta um homem da Europa. Cheio de ideais do romantismo, cheio de ansia por viver, e tombado pelo tédio/spleen. Mas ao mesmo tempo é Pushkin um russo. Para vencer esse nada, esse vazio existencial, ele mergulha nas raízes russas, no povo, no folclore, na alma única de seu país. Mais que europeu, um russo sempre.
Viveu apenas 38 anos, foi morto em duelo. Deixou vários romances puros, sem verso, e este Eugênio.
Eugênio é um nobre que descobre que a vida lhe é estranha. Tomado pelo tédio, ele ama as mulheres sem se envolver e acaba por tomar a decisão de se recolher. Irá viver só, estudando e observando. Tatiana é uma adolescente simples, mas jamais simplória, que se apaixona por ele. Lhe escreve carta onde se declara e ele lhe responde pessoalmente com frieza. Eugênio lhe explica que com alguém como ele, tão amargo, ela só poderá ser infeliz. Que ele não nasceu para casar-se. O tempo irá passar e ele se verá apaixonado por ela. Mas Tatiana já se casou então, e irá o rejeitar. A vida de Eugênio se resolverá em duelo.
Como personagem Eugênio Oneguin é apaixonante. Imerso em Byron e Scott, tudo o que ele percebe da vida é sua própria face. Ele pensa apenas em si-mesmo, dialoga com seu coração, preocupa-se com sua vida. Mas não é um egoísta. Na verdade ele abre mão de tudo. Nada retém de seu, nada deseja, e acaba por se derrotar. Pior que isso, o livro mostra que Eugênio é um homem indesejado na sociedade russa. Seus questionamentos perturbam.
Maravilhosamente romântico, todo o texto exala sensibilidade, consciência temporal, e aquela raiva contida, tão particular aos românticos de todos os tempos. Eugênio ama tanto ao amor que é incapaz de amar uma mulher. É tão ligado à vida que se abstém de viver. Livre, se prende ao seu mundo criado. É belo. É Pushkin.
Pushkin é pouco traduzido. Esta tradução, de 2010, é a primeira para o português de sua obra-prima. Foi saudada com os louvores devidos. Dario foi diplomata. Aposentado, dedica-se a seu grande amor: as letras. Tem trabalhos sobre Eça e Camilo. E esta tradução trabalhosa. Trata-se de um romance em versos. É um romance por descrever ações, por conter personagens que agem no tempo; e é um poema, por ser todo escrito em versos de oito linhas, rimados.
Pushkin é dos mais românticos dentre os românticos. Seu bisavô foi um negro etíope. Dado de presente a um nobre russo, esse antepassado foi educado e feito militar. O pai de Pushkin é neto desse etíope.
Há um dito russo que fala que o czar Pedro lançou à Russia o desafio de se fazer moderna. E a Russia respondeu com Pushkin, o primeiro russo moderno. Nascido em 1799, é o poeta um homem da Europa. Cheio de ideais do romantismo, cheio de ansia por viver, e tombado pelo tédio/spleen. Mas ao mesmo tempo é Pushkin um russo. Para vencer esse nada, esse vazio existencial, ele mergulha nas raízes russas, no povo, no folclore, na alma única de seu país. Mais que europeu, um russo sempre.
Viveu apenas 38 anos, foi morto em duelo. Deixou vários romances puros, sem verso, e este Eugênio.
Eugênio é um nobre que descobre que a vida lhe é estranha. Tomado pelo tédio, ele ama as mulheres sem se envolver e acaba por tomar a decisão de se recolher. Irá viver só, estudando e observando. Tatiana é uma adolescente simples, mas jamais simplória, que se apaixona por ele. Lhe escreve carta onde se declara e ele lhe responde pessoalmente com frieza. Eugênio lhe explica que com alguém como ele, tão amargo, ela só poderá ser infeliz. Que ele não nasceu para casar-se. O tempo irá passar e ele se verá apaixonado por ela. Mas Tatiana já se casou então, e irá o rejeitar. A vida de Eugênio se resolverá em duelo.
Como personagem Eugênio Oneguin é apaixonante. Imerso em Byron e Scott, tudo o que ele percebe da vida é sua própria face. Ele pensa apenas em si-mesmo, dialoga com seu coração, preocupa-se com sua vida. Mas não é um egoísta. Na verdade ele abre mão de tudo. Nada retém de seu, nada deseja, e acaba por se derrotar. Pior que isso, o livro mostra que Eugênio é um homem indesejado na sociedade russa. Seus questionamentos perturbam.
Maravilhosamente romântico, todo o texto exala sensibilidade, consciência temporal, e aquela raiva contida, tão particular aos românticos de todos os tempos. Eugênio ama tanto ao amor que é incapaz de amar uma mulher. É tão ligado à vida que se abstém de viver. Livre, se prende ao seu mundo criado. É belo. É Pushkin.
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