Uma poltrona junto à janela. A lareira. Abajures. Mesa com um Porto. Aparelho de chá. Um cão fiel. Flores. Cartas. O ursinho Teddy Bear. Beatrix Potter. Peter Pan. Charutos e brandy. Holmes e Drácula. Bigode. Chess. Manta e cachecol. Atkinsons. Tecido xadrez. Trens. Planos e táticas. Diplomacia. Espiritismo. Pragmatismo e fotografia. China. Fabergé. Cavalos.
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O VENTO NOS SALGUEIROS- KENNETH GRAHAME, O LUGAR DA FELICIDADE
Em seu ótimo livro, OS LIVROS E OS DIAS, relato em que Alberto Manguel fala dos doze livros escolhidos para simbolizar os doze meses do ano, O Vento Nos Salgueiros é colocado às alturas.
Finalmente encontro esse livro em edição nacional. Traduzido por Ivan Ângelo, editora Richmond, este livro é para as crianças anglo-saxãs aquilo que O Sitio do Pica-Pau Amarelo era para nós. Lugar de encontro, romance de formação, canto sobre o que seja ser criança, encanto e liberdade. A diferença é que os valores do livro de Monteiro Lobato remetem a familia, o livro de Grahame fala do maior dos valores vitorianos: a casa, o canto, o lar. Escrito em 1904, na era que nos deu o Peter Pan de Barrie, o que as aventuras de O vento podem dizer a um adulto de 2013? Segundo Manguel, uma magia de paz e de conforto. A obra tem um apelo irresistível, ela nos mostra aquilo que mais precisamos ter: proteção.
O livro é maravilhoso. Fala de uma Toupeira que resolve sair da toca e ver o mundo. O mundo, diga-se, de uma Toupeira, mundo bem curto e pequeno. Ela encontra o Rato D'Água e logo são amigos. Nesse encontro ficamos sabendo da casa onde vive o Rato. E então percebemos do que trata o texto. Da doçura do lar. De lareiras quentes e de de sofás macios. Das janelas e das portas. E da amizade entre seres comuns, banais até. Não há um herói. São seres com medo, com curiosidade e que têm o dom dos animais: sabem sentir as coisas. Esses lares são escolhidos por seu cheiro.
Momento de maestria ( e de simplicidade ) se sucedem. Há a tempestade de neve que surpreende os amigos. A casa do Texugo é encontrada e podemos sentir o alivio dos dois ao entrar na casa quente e tomar a sopa farta na mesa da sala. Um outro momento, esse tão forte em magia como aquele do lago em O LAGO SAGRADO de Atwood, acontece quando um filhote de Lontra é resgatado no bosque. Nessa busca o Toupeira entra em transe e é guiado por Pan, o deus grego da floresta. É um capitulo maravilhosamente bem escrito, deliramos no delirio do Toupeira, páginas que nos fazem ansiar por mais cenas como essa. Pena, elas não surgem.
O final do livro traz as aventuras do Sapo, um aventureiro milionário, hedonista, viciado em carros, gastador. Confesso que é um personagem "menos bom". Não gostei do Sapo como adorei o Toupeira, O Texugo e o Rato.
Kenneth Grahame criou os personagens e suas aventuras de improviso, inventando tudo no quarto do filho, tentando fazê-lo dormir. Lançando esse material em livro, três anos mais tarde, O Vento Nos Salgueiros se tornou rapidamente um ícone da literatura infantil inglesa. Surgido na hora certa e no lugar certo, o livro faz parte do movimento que valorizou a infância e o lar, o conforto e a segurança na mente inglesa. De Alice à Peter Pan, de Roger Rabbit à Mogli, este é o momento chave das letras para crianças.
Grahame descreve o lar do Rato pronto para o inverno. Comida, ordem, paz, quietude. Concordo com Manguel. Kenneth Grahame era um mestre na descrição do que seja o bem-estar.
Ler este livro é um grande "bem-estar".
OLIVER REED/ STEVE CARELL/ SCOLA/ NICHOLAS RAY
DEPOIS QUE TUDO TERMINOU de Michael Winner com Oliver Reed, Carol White, Orson Welles
Um publicitário bem sucedido larga tudo e volta a seu emprego antigo, editor de uma pequena revista literária. No processo ele abandona esposa, filha e duas amantes. Mas antigos contatos são insistentes...Os primeiros 50 minutos deste filme são gloriosos! Winner filma com vida, calor, dá movimento a tudo, surpreende com cortes magníficos. Mas ele não é um gênio e portanto não pode manter esse ritmo. O filme cai em seu tempo final. Mesmo assim jamais se torna banal, é um dos grandes filmes de seu tempo. Belo retrato da Londres de 1966, tem montes de cenas nas ruas. Winner prometia muito em seus primeiros filmes, mas naufragou. Nos anos 70 filmaria coisas com Charles Bronson. Oliver Reed era um dos atores não-shakespeareanos da época. Ele e Michael Caine trouxeram as ruas inglesas para as telas. Carol White era adorável. O filme dá vontade de ver outra vez. Nota 9.
A TERRA DO NUNCA-A ORIGEM de Nick Willing com Rhys Ifan
Conversei com um amigo sobre a "falta da mentira", teoria de Wilde que na verdade é de Ruskin. Veja: o realismo mata o futuro. Explico. Quando um cineasta faz um filme que é "real", ele comete dois erros: primeiro que o real é incapturável. Segundo que o real é estéril. Ele pode até ser impactante, mas não fertiliza mentes. Umberto D é magnífico, mas De Sica é eterno pela poesia real e mentirosa de Ladrões de Bicicleta. O cinema de hoje morre em realidades tolas. Veja este filme. Pegaram Peter Pan e resolveram reescrever. O que fizeram? Deram explicações para tudo. Mataram o mito. Acho que foi Jung quem disse que o mundo moderno caça e mata mitos. Aqui Peter é um ladrão de rua. Gancho é o chefe do bando. E Neverland é um globo que caiu do céu. Ou seja, tudo é explicado da forma menos "mentirosa" possível. O nome disso? Falta de coragem. O efeito? Pasmaceira. Peter Pan, o livro, o desenho, tem milhares de significados, de possibilidades. Aqui temos apenas uma verdade. É isso e fim. A nota? É Zero e cale a boca.
O HOMEM DO SPUTNIK de Carlos Manga com Oscarito, Jô Soares e Norma Bengell
O satélite russo cai no galinheiro de um caipira. Ele passa a ser paparicado por todos, russos, americanos e franceses. Jô Soares, jovem, faz uma soberba imitação do que seria um americano típico. Quem rouba o filme é Norma. Imita Brigitte Bardot e compõe uma das mulheres mais sensuais que o cinema já mostrou. Suas cenas explodem de lascívia ( nunca usei essa palavra ). O filme vale por ela. Nota 5.
A VINGANÇA DE MILADY de Richard Lester com Michael York, Faye Dunaway, Oliver Reed, Richard Chamberlain
É uma grande produção e é um grande desastre. Em meio a ação, Lester, diretor dos filmes dos Beatles, não consegue manter nenhum interesse. Além do que York é um herói fraco. Faye se salva, está bonita e transpira maldade. A impressão é que ela está no filme errado. Ah sim, o tema são Os 3 Mosqueteiros. O filme vale um zero.
PROCURA-SE UM AMIGO PARA O FIM DO MUNDO de Lorene Scafaria com Steve Carell e Keira Knightley
Faltam 3 semanas para o fim do mundo. Steve, faz um cara down como sempre, é abandonado pela esposa. A população pira. Pessoas se drogam, crianças bebem, muita gente rouba. Ele conhece uma moça doidinha ( como sempre. Hal Ashby criou uma tradição ). Ela quer ir ver os pais, vão juntos. É um filme tipico dos anos 70, fala de estradas novas e de romper laços; mas claro, tem o estilo de 2012, é vazio e nada tem a dizer. Mas se mantém, por um fio não afunda. Triste, tem uma cena linda ao som de The air that i breathe dos Hollies. A moça é fã de vinis e fala uma frase bonita sobre o que eles significam. Mas é gozado: isso é tudo o que ela tem, seus discos, mais nada. O final não é feliz, é o fim. Este filme passou por aqui? Não lembro. Vale a pena. Nota 6.
A VIAGEM DO CAPITÃO TORNADO de Ettore Scola com Massimo Troisi, Ornela Mutti, Emmanuelle Beart e Vincent Perez
Que lindas são Ornella e Beart!!!! O filme fala de uma troupe de atores, que em carroça se apresenta em meio ao kaos do século XVI. Todo filmado em cenários fechados, ele tem um clima de sonho. Troisi, que morreria jovem logo após fazer O carteiro e o Poeta, domina o filme. É um ator maravilhoso. Tinha o dom de parecer comum, o que é raro em atores. Nota 7.
A BELA DO BAS-FOND de Nicholas Ray com Robert Taylor, Cyd Charisse e Lee J. Cobb
Voce se lembra de Os Intocáveis de De Palma? Lembra da cena do taco de beisebol? Foi tirada daqui. Lee J. Cobb numa reunião mata com um pedaço de ferro um dos mafiosos da familia. A cena é a mesma. Este fala de um advogado que trabalha para a máfia. Seu mundo muda ao se apaixonar por garota de programa. Taylor tem o papel de sua vida. Duro como pedra, amoral, vemos lentamente, dia a dia, sua consciência começar a rugir. Ray dirige de forma explêndida. O filme não cessa de caminhar em sua trilha feita de crueldade e de cinismo. De ruim, as cenas musicais, são 3 cenas chatas. Mas duram apenas dois minutos, os outros cem compõe um dos fortes filmes noir. O tema de Ray está todo aqui: seus filmes falam de gente torta no lugar errado. Nota 8.
Um publicitário bem sucedido larga tudo e volta a seu emprego antigo, editor de uma pequena revista literária. No processo ele abandona esposa, filha e duas amantes. Mas antigos contatos são insistentes...Os primeiros 50 minutos deste filme são gloriosos! Winner filma com vida, calor, dá movimento a tudo, surpreende com cortes magníficos. Mas ele não é um gênio e portanto não pode manter esse ritmo. O filme cai em seu tempo final. Mesmo assim jamais se torna banal, é um dos grandes filmes de seu tempo. Belo retrato da Londres de 1966, tem montes de cenas nas ruas. Winner prometia muito em seus primeiros filmes, mas naufragou. Nos anos 70 filmaria coisas com Charles Bronson. Oliver Reed era um dos atores não-shakespeareanos da época. Ele e Michael Caine trouxeram as ruas inglesas para as telas. Carol White era adorável. O filme dá vontade de ver outra vez. Nota 9.
A TERRA DO NUNCA-A ORIGEM de Nick Willing com Rhys Ifan
Conversei com um amigo sobre a "falta da mentira", teoria de Wilde que na verdade é de Ruskin. Veja: o realismo mata o futuro. Explico. Quando um cineasta faz um filme que é "real", ele comete dois erros: primeiro que o real é incapturável. Segundo que o real é estéril. Ele pode até ser impactante, mas não fertiliza mentes. Umberto D é magnífico, mas De Sica é eterno pela poesia real e mentirosa de Ladrões de Bicicleta. O cinema de hoje morre em realidades tolas. Veja este filme. Pegaram Peter Pan e resolveram reescrever. O que fizeram? Deram explicações para tudo. Mataram o mito. Acho que foi Jung quem disse que o mundo moderno caça e mata mitos. Aqui Peter é um ladrão de rua. Gancho é o chefe do bando. E Neverland é um globo que caiu do céu. Ou seja, tudo é explicado da forma menos "mentirosa" possível. O nome disso? Falta de coragem. O efeito? Pasmaceira. Peter Pan, o livro, o desenho, tem milhares de significados, de possibilidades. Aqui temos apenas uma verdade. É isso e fim. A nota? É Zero e cale a boca.
O HOMEM DO SPUTNIK de Carlos Manga com Oscarito, Jô Soares e Norma Bengell
O satélite russo cai no galinheiro de um caipira. Ele passa a ser paparicado por todos, russos, americanos e franceses. Jô Soares, jovem, faz uma soberba imitação do que seria um americano típico. Quem rouba o filme é Norma. Imita Brigitte Bardot e compõe uma das mulheres mais sensuais que o cinema já mostrou. Suas cenas explodem de lascívia ( nunca usei essa palavra ). O filme vale por ela. Nota 5.
A VINGANÇA DE MILADY de Richard Lester com Michael York, Faye Dunaway, Oliver Reed, Richard Chamberlain
É uma grande produção e é um grande desastre. Em meio a ação, Lester, diretor dos filmes dos Beatles, não consegue manter nenhum interesse. Além do que York é um herói fraco. Faye se salva, está bonita e transpira maldade. A impressão é que ela está no filme errado. Ah sim, o tema são Os 3 Mosqueteiros. O filme vale um zero.
PROCURA-SE UM AMIGO PARA O FIM DO MUNDO de Lorene Scafaria com Steve Carell e Keira Knightley
Faltam 3 semanas para o fim do mundo. Steve, faz um cara down como sempre, é abandonado pela esposa. A população pira. Pessoas se drogam, crianças bebem, muita gente rouba. Ele conhece uma moça doidinha ( como sempre. Hal Ashby criou uma tradição ). Ela quer ir ver os pais, vão juntos. É um filme tipico dos anos 70, fala de estradas novas e de romper laços; mas claro, tem o estilo de 2012, é vazio e nada tem a dizer. Mas se mantém, por um fio não afunda. Triste, tem uma cena linda ao som de The air that i breathe dos Hollies. A moça é fã de vinis e fala uma frase bonita sobre o que eles significam. Mas é gozado: isso é tudo o que ela tem, seus discos, mais nada. O final não é feliz, é o fim. Este filme passou por aqui? Não lembro. Vale a pena. Nota 6.
A VIAGEM DO CAPITÃO TORNADO de Ettore Scola com Massimo Troisi, Ornela Mutti, Emmanuelle Beart e Vincent Perez
Que lindas são Ornella e Beart!!!! O filme fala de uma troupe de atores, que em carroça se apresenta em meio ao kaos do século XVI. Todo filmado em cenários fechados, ele tem um clima de sonho. Troisi, que morreria jovem logo após fazer O carteiro e o Poeta, domina o filme. É um ator maravilhoso. Tinha o dom de parecer comum, o que é raro em atores. Nota 7.
A BELA DO BAS-FOND de Nicholas Ray com Robert Taylor, Cyd Charisse e Lee J. Cobb
Voce se lembra de Os Intocáveis de De Palma? Lembra da cena do taco de beisebol? Foi tirada daqui. Lee J. Cobb numa reunião mata com um pedaço de ferro um dos mafiosos da familia. A cena é a mesma. Este fala de um advogado que trabalha para a máfia. Seu mundo muda ao se apaixonar por garota de programa. Taylor tem o papel de sua vida. Duro como pedra, amoral, vemos lentamente, dia a dia, sua consciência começar a rugir. Ray dirige de forma explêndida. O filme não cessa de caminhar em sua trilha feita de crueldade e de cinismo. De ruim, as cenas musicais, são 3 cenas chatas. Mas duram apenas dois minutos, os outros cem compõe um dos fortes filmes noir. O tema de Ray está todo aqui: seus filmes falam de gente torta no lugar errado. Nota 8.
LORAX/ BETTE DAVIS/ NICHOLAS RAY/ SIRK/ STATHAM/ WENDERS
O INTOCÁVEL de Boaz Yakin com Jason Statham
Adoro os filmes de Jason. Não são hiper produzidos, eles têm ação real e Jason luta como um chinês. Sabe se mover e tem leveza. Aqui ele é um lutador a beira do suicidio que é salvo ao se involver com uma menina chinesa que está sendo usada por mafiosos russos. Nada de especial no roteiro, mas a ação é de primeira. Uma diversão sem culpa. Nota 6.
O LORAX de Chris Renaud
É bom. Como todo desenho, tem uma mensagem certeira. No futuro tudo é de plástico e tudo é bonito e limpo. Mas por detrás disso, há um mundo destruído e morto. O ar é vendido por uma corporação que deseja manter tudo como está. Bem... como escrevi em outro lugar, crianças hoje carregam a missão de nos resgatar. Vejam o que fizemos kids! Reajam, pois nós desistimos. Eis a mensagem. É uma bela mensagem, claro. Melhor isso que o niilismo acomodado dos filmes adultos. Mas caramba! Um dia voltarão a fazer desenhos bobos e infantis? Nota 6
PETER PAN de Wilfred Jackson e Disney
Mítico. São dezenas de mensagens cifradas, montes de possibilidades poéticas. O menino que não quer crescer e a menina que não pode deixar de crescer. Alguém se vê neles? Bem vindos ao mundo de 2012. Não é uma obra-prima, mas é um ícone. Nota 8.
UM AMOR DE TESOURO de Andy Tennant com Mathew McConaughey, Kate Hudson e Donald Sutherland
Um casal brigado acha tesouro. Mas tem de disputar a descoberta com rivais "do mal". O cenário é estupendo. O filme é um café. Voce vai em um restaurante com sua namorada, vê umas vitrines e por fim assiste este filme. Um café: gostoso e tirado às dúzias toda hora. Mathew é simpático. Em tempos de melhores filmes pop ele seria rei. Kate envelhece mal. Sua mãe era melhor em tudo aquilo que ela tenta fazer. Donald apenas está lá. O filme não é ruim, é bobo. Nota 4.
ALMAS MACULADAS de Douglas Sirk com Rock Hudson, Dorothy Malone e Robert Stack
Um repórter alcoólatra se envolve com casal de aviadores de circo. São aqueles pilotos que se exibem em circos, fazem corridas e se arriscam. O filme mostra a condição patética do repórter. Ele ama sem ser amado, é desprezado pela mulher que ele ajuda. Se destrói. Mas ao final, é ele quem dá a volta por cima. Não é dos melhores Sirk, mas tem um Rock Hudson bem dirigido ( quem falou que ele era mal ator? ) e aquele clima fatalista que esse excelente diretor sabia tão bem criar. Nota 7.
PINA de Wim Wenders
Assisto mais uma vez e gosto mais ainda. Acachapante. A primeira cena com Stravinsky já te deixa zonzo. O filme não é apemas bom. Ele é uma aula emocionante sobre arte. O limite, a expressão e o risco. Pina Bausch ousava, errava, repetia, acertava. Os dançarinos-atores são magos. Cenas com água, humor com cachorro que late, mulheres que caem, retratos de sofrimento e de alegria. O filme te derruba, te impressiona. Os corpos vão ao limite. A alma se entrevê. Lindo. Nota 9.
AMARGA ESPERANÇA de Nicholas Ray com Farley Granger e Cathy O'Donnell
Famoso filme de Ray que antecipa a Nouvelle Vague. Godard amava este filme e há muito de Acossado nele. Sobre um ladrão que não consegue sair do mundinho podre onde ele vive. Mas o filme não é centrado em roubos ou em tiros, o que vemos é uma hiper triste história de amor. Amor tragédia, fadado ao absoluto fracasso. Nos incomoda ainda. É invulgar, original e melancólico. Nota 7.
MULHER MARCADA de Lloyd Bacon com Bette Davis e Humphrey Bogart
Atenção. Não é um tipico filme de Bogey. Ele aparece pouco e faz um promotor do bem. O filme é de Bette, ainda bonita e sexy, que faz uma prostituta que é usada por gangster. O que vemos é sua conscientização. O filme é esquemático e sem muito apelo. Mas é um prazer ver Bette em ação. Uma diva imensa, a única que poderia trombar com Kate Hepburn e vencer. Um filme curto, grosso e direto. Típico Warner anos 30. Nota 6.
Adoro os filmes de Jason. Não são hiper produzidos, eles têm ação real e Jason luta como um chinês. Sabe se mover e tem leveza. Aqui ele é um lutador a beira do suicidio que é salvo ao se involver com uma menina chinesa que está sendo usada por mafiosos russos. Nada de especial no roteiro, mas a ação é de primeira. Uma diversão sem culpa. Nota 6.
O LORAX de Chris Renaud
É bom. Como todo desenho, tem uma mensagem certeira. No futuro tudo é de plástico e tudo é bonito e limpo. Mas por detrás disso, há um mundo destruído e morto. O ar é vendido por uma corporação que deseja manter tudo como está. Bem... como escrevi em outro lugar, crianças hoje carregam a missão de nos resgatar. Vejam o que fizemos kids! Reajam, pois nós desistimos. Eis a mensagem. É uma bela mensagem, claro. Melhor isso que o niilismo acomodado dos filmes adultos. Mas caramba! Um dia voltarão a fazer desenhos bobos e infantis? Nota 6
PETER PAN de Wilfred Jackson e Disney
Mítico. São dezenas de mensagens cifradas, montes de possibilidades poéticas. O menino que não quer crescer e a menina que não pode deixar de crescer. Alguém se vê neles? Bem vindos ao mundo de 2012. Não é uma obra-prima, mas é um ícone. Nota 8.
UM AMOR DE TESOURO de Andy Tennant com Mathew McConaughey, Kate Hudson e Donald Sutherland
Um casal brigado acha tesouro. Mas tem de disputar a descoberta com rivais "do mal". O cenário é estupendo. O filme é um café. Voce vai em um restaurante com sua namorada, vê umas vitrines e por fim assiste este filme. Um café: gostoso e tirado às dúzias toda hora. Mathew é simpático. Em tempos de melhores filmes pop ele seria rei. Kate envelhece mal. Sua mãe era melhor em tudo aquilo que ela tenta fazer. Donald apenas está lá. O filme não é ruim, é bobo. Nota 4.
ALMAS MACULADAS de Douglas Sirk com Rock Hudson, Dorothy Malone e Robert Stack
Um repórter alcoólatra se envolve com casal de aviadores de circo. São aqueles pilotos que se exibem em circos, fazem corridas e se arriscam. O filme mostra a condição patética do repórter. Ele ama sem ser amado, é desprezado pela mulher que ele ajuda. Se destrói. Mas ao final, é ele quem dá a volta por cima. Não é dos melhores Sirk, mas tem um Rock Hudson bem dirigido ( quem falou que ele era mal ator? ) e aquele clima fatalista que esse excelente diretor sabia tão bem criar. Nota 7.
PINA de Wim Wenders
Assisto mais uma vez e gosto mais ainda. Acachapante. A primeira cena com Stravinsky já te deixa zonzo. O filme não é apemas bom. Ele é uma aula emocionante sobre arte. O limite, a expressão e o risco. Pina Bausch ousava, errava, repetia, acertava. Os dançarinos-atores são magos. Cenas com água, humor com cachorro que late, mulheres que caem, retratos de sofrimento e de alegria. O filme te derruba, te impressiona. Os corpos vão ao limite. A alma se entrevê. Lindo. Nota 9.
AMARGA ESPERANÇA de Nicholas Ray com Farley Granger e Cathy O'Donnell
Famoso filme de Ray que antecipa a Nouvelle Vague. Godard amava este filme e há muito de Acossado nele. Sobre um ladrão que não consegue sair do mundinho podre onde ele vive. Mas o filme não é centrado em roubos ou em tiros, o que vemos é uma hiper triste história de amor. Amor tragédia, fadado ao absoluto fracasso. Nos incomoda ainda. É invulgar, original e melancólico. Nota 7.
MULHER MARCADA de Lloyd Bacon com Bette Davis e Humphrey Bogart
Atenção. Não é um tipico filme de Bogey. Ele aparece pouco e faz um promotor do bem. O filme é de Bette, ainda bonita e sexy, que faz uma prostituta que é usada por gangster. O que vemos é sua conscientização. O filme é esquemático e sem muito apelo. Mas é um prazer ver Bette em ação. Uma diva imensa, a única que poderia trombar com Kate Hepburn e vencer. Um filme curto, grosso e direto. Típico Warner anos 30. Nota 6.
PETER PAN E O LORAX, DOIS MODOS DE PENSAR SOBRE A INFÂNCIA
Em meio a um céu de Technicolor, o pai de Wendy, Miguel e João, vê finalmente o navio de Gancho, navio em que agora Peter Pan navega. Então o pai, modelo de praticidade e de "adultêz", conta que aquilo no céu faz com que ele quase lembre de alguma coisa de seu passado...
Peter Pan tem tanto material poético que daria para se criar toda uma filosofia sobre a infância. Ou se preferirmos, sobre a idealização da infância pelos adultos do século XX. Não importa, a obra de James Barrie é uma das jóias do século e sobrevive muito bem ao icônico desenho da Disney. Vamos ao começo.
Wendy é avisada de que deverá mudar de quarto, não poderá mais dormir com seus irmãos. Amanhã ela começará a ser adulta. Óbvio que Wendy menstruou. Mas ela insiste em esperar Peter Pan, em deixar a janela aberta e conta ao pai não querer jamais crescer. Peter virá e Wendy irá costurar a sombra que ele perdera. Sombra que pode ser tanta coisa... o medo de Peter, seu interior, seu gêmeo...
Os dois, mais os irmãos, partem à Terra do Nunca e voam sobre uma deslumbrante Londres vitoriana. Não nos esqueçamos, Peter nunca teve mãe e Wendy deverá cumprir esse papel. Para Peter, mãe é quem conta histórias, geralmente sobre ele mesmo. Na terra de Peter existem sereias que o adoram, indios que lhe têem respeito e os piratas... tudo gira ao redor desse Peter, orfão que não cresce e que se ama em tudo que o cerca.
Gancho é o contrário absoluto de Peter. Ele jamais brinca, nunca fantasia e vive com ódio e medo. Ele está preso no tempo, um jacaré-relógio, com seu tic tac neurotizante deseja o engolir. E Gancho vive assim, no medo do tic tac e no ódio a Peter Pan. Peter é tudo aquilo que ele não pode ser: criança. Em Gancho dói a fuga do tempo.
Wendy tem pai e mãe, precisa voltar, precisa crescer. E volta. E é nesse final melancólico que o pai quase lembra do que foi um dia.
O Lorax, já um exemplo seguro do que é o século XXI, joga a criança no mundo em que devemos ter um papel a cumprir. Uma responsabilidade. O desenho é ótimo e eu concordo com tudo o que ele advoga, mas que diferença imensa do mundo de Peter Pan! Se antes o que se tentava era descobrir o mundo secreto e mágico da infância, se antes tudo era voltado ao simbólico, ao interior; agora o que vemos é pura exterioridade, a chamada a ação, a intervir no real. Nesse sentido, nada mais Gancho que Lorax.
A Terra virou plástico, e num estilo Matrix, todos vivem num tipo de "mundo fake". O ar é vendido em garrafões e tudo precisa ser mantido assim, porque é assim que a grande empresa quer. Mas um menino descobre o que aconteceu no passado e tenta plantar uma árvore...
O desenho é todo do bem e isso não me irrita. Ele fala das coisas mais importantes e sérias do mundo de hoje. E essas coisas devem ser defendidas com força e sem concessões. Pagamos por água, e me creiam, água já foi de graça um dia. Pagamos por TV, que também já foi grátis. E pagamos por escola, hospital, poder cruzar uma estrada...estacionar. E não notamos o absurdo de tudo isso. Um dia haverá a taxa do ar. E assim, as árvores se tornarão dispensáveis.
É fato já antigo de 15 anos que enquanto os filmes de adultos se ocupam com o mundo irreal, os desenhos cada vez mais se ocupam do mundo real. Serial killers, heróis de HQ, casos médicos e viagens mentais, com raras excessões, o cinema adulto só fala desses temas. Já os desenhos se ocupam de ecologia, vida familiar, honra, passagem do tempo e modos de viver. São temas muito mais vastos, menos particulares, mais sociais. Adoro-os e considero que na média os desenhos dão de dez a zero nos filmes que são lançados.
Mas o que falo aqui é: Não seria uma tentativa muito esquisita essa de se jogar na criança toda essa educação? Parece que desistimos dos adultos ( um bando de tarados que só quer a pornografia de corpos dilacerados e de mentes confusas ), e tentamos desesperadamente salvar a próxima geração, dando a elas a percepção do mal que fizemos e do quanto elas devem fazer. Salvem a natureza crianças! Salvem a familia! E deixem o papai com seus filmes cheios de sangue, maldade e niilismo cego.
Peter Pan fazia com que adultos desejassem ser crianças. Lorax reza para que as crianças sejam adultas logo.
Há algo de muito podre neste nosso mundo.
Peter Pan tem tanto material poético que daria para se criar toda uma filosofia sobre a infância. Ou se preferirmos, sobre a idealização da infância pelos adultos do século XX. Não importa, a obra de James Barrie é uma das jóias do século e sobrevive muito bem ao icônico desenho da Disney. Vamos ao começo.
Wendy é avisada de que deverá mudar de quarto, não poderá mais dormir com seus irmãos. Amanhã ela começará a ser adulta. Óbvio que Wendy menstruou. Mas ela insiste em esperar Peter Pan, em deixar a janela aberta e conta ao pai não querer jamais crescer. Peter virá e Wendy irá costurar a sombra que ele perdera. Sombra que pode ser tanta coisa... o medo de Peter, seu interior, seu gêmeo...
Os dois, mais os irmãos, partem à Terra do Nunca e voam sobre uma deslumbrante Londres vitoriana. Não nos esqueçamos, Peter nunca teve mãe e Wendy deverá cumprir esse papel. Para Peter, mãe é quem conta histórias, geralmente sobre ele mesmo. Na terra de Peter existem sereias que o adoram, indios que lhe têem respeito e os piratas... tudo gira ao redor desse Peter, orfão que não cresce e que se ama em tudo que o cerca.
Gancho é o contrário absoluto de Peter. Ele jamais brinca, nunca fantasia e vive com ódio e medo. Ele está preso no tempo, um jacaré-relógio, com seu tic tac neurotizante deseja o engolir. E Gancho vive assim, no medo do tic tac e no ódio a Peter Pan. Peter é tudo aquilo que ele não pode ser: criança. Em Gancho dói a fuga do tempo.
Wendy tem pai e mãe, precisa voltar, precisa crescer. E volta. E é nesse final melancólico que o pai quase lembra do que foi um dia.
O Lorax, já um exemplo seguro do que é o século XXI, joga a criança no mundo em que devemos ter um papel a cumprir. Uma responsabilidade. O desenho é ótimo e eu concordo com tudo o que ele advoga, mas que diferença imensa do mundo de Peter Pan! Se antes o que se tentava era descobrir o mundo secreto e mágico da infância, se antes tudo era voltado ao simbólico, ao interior; agora o que vemos é pura exterioridade, a chamada a ação, a intervir no real. Nesse sentido, nada mais Gancho que Lorax.
A Terra virou plástico, e num estilo Matrix, todos vivem num tipo de "mundo fake". O ar é vendido em garrafões e tudo precisa ser mantido assim, porque é assim que a grande empresa quer. Mas um menino descobre o que aconteceu no passado e tenta plantar uma árvore...
O desenho é todo do bem e isso não me irrita. Ele fala das coisas mais importantes e sérias do mundo de hoje. E essas coisas devem ser defendidas com força e sem concessões. Pagamos por água, e me creiam, água já foi de graça um dia. Pagamos por TV, que também já foi grátis. E pagamos por escola, hospital, poder cruzar uma estrada...estacionar. E não notamos o absurdo de tudo isso. Um dia haverá a taxa do ar. E assim, as árvores se tornarão dispensáveis.
É fato já antigo de 15 anos que enquanto os filmes de adultos se ocupam com o mundo irreal, os desenhos cada vez mais se ocupam do mundo real. Serial killers, heróis de HQ, casos médicos e viagens mentais, com raras excessões, o cinema adulto só fala desses temas. Já os desenhos se ocupam de ecologia, vida familiar, honra, passagem do tempo e modos de viver. São temas muito mais vastos, menos particulares, mais sociais. Adoro-os e considero que na média os desenhos dão de dez a zero nos filmes que são lançados.
Mas o que falo aqui é: Não seria uma tentativa muito esquisita essa de se jogar na criança toda essa educação? Parece que desistimos dos adultos ( um bando de tarados que só quer a pornografia de corpos dilacerados e de mentes confusas ), e tentamos desesperadamente salvar a próxima geração, dando a elas a percepção do mal que fizemos e do quanto elas devem fazer. Salvem a natureza crianças! Salvem a familia! E deixem o papai com seus filmes cheios de sangue, maldade e niilismo cego.
Peter Pan fazia com que adultos desejassem ser crianças. Lorax reza para que as crianças sejam adultas logo.
Há algo de muito podre neste nosso mundo.
PETER E WENDY- JAMES M. BARRIE, UMA OBRA-PRIMA
James Barrie nasceu em 1860. Aos sete anos sofreu um trauma: a morte do irmão David, aos treze, e a consequente tristeza da mãe. Barrie se tornaria muito famoso com uma peça: Peter Pan, que estreou em 1908. Ele viria a falecer em 1937, após um casamento infeliz e uma vida de sucesso literário. PETER E WENDY é a adpatação em prosa da peça PETER PAN, feita pelo próprio Barrie. É, sem a menor dúvida, uma obra-prima. Superlativa em termos de criação, invenção, estilo e profundidade. É ainda um testemunho do que foi a infância no século XX, e do que ela não é no século XXI.
O livro começa já em alto nonsense. Nana é a babá, e ela é uma cadela. O pai só pensa em ações e dividendos e a mãe se anula em seu amor materno. Wendy, John e Michael são os filhos e numa noite, Peter Pan invade o quarto e os leva para a Terra do Nunca. Esqueça o desenho Disney, o filme de Spielberg ou o drama sobre Barrie com Johnny Depp ( todos são bons, mas nenhum o é como aqui ), esta novela tem tons de maravilhamento, de sombras e de dor que nenhum dos veículos nomeados acima pode tocar.
Algumas falas são estupendas, e quando Peter diz: "Morrer deve ser uma maravilhosa aventura!" o livro se torna gigantesco. Raros autores conseguem espelhar a vida de forma tão profunda e tão simples. James Barrie vai se aprofundando em arquétipos sobre arquétipos, e tudo parece incrivelmente natural.
Peter não tem memória. Ele se esquece. E tudo o que ele vê é a si-mesmo. Ele se ama, se gaba e crê em sua invenção. Peter cria seu mundo todo o tempo. E a contagem de dias e meses não existe. Cada dia é uma dia encadeado no dia anterior. E cada um desses dias será igual ao anterior e ao mesmo tempo totalmente novo. Peter se move em vôo porque crê poder voar. Assim como tem contato com as fadas porque deseja ter. O mundo onde ele vive é criação sua e quem lá vive deve segui-lo e adorá-lo. E todos amam Peter Pan. Barrie não tem pudor em dizer isso: a juventude é a única sedução. Ser jovem é tudo o que importa. Envelhecer é a morte. Peter Pan atrai por ser o espirito da eterna juventude, e sendo sempre criança, ele é alegre, ágil, vivo, criativo, irriquieto e desmemoriado. Ele faz coisas, não pensa coisas, ele age por impulso, nunca planeja, ele não agrada, é agradado, ele não ama, se ama.
Wendy é a mulher, e mulheres amam Peter. Elas amam seu jeito infantil que promete fragilidade. E se surpreendem com sua força e coragem. Peter tira-as da vida tola e maçante, leva-as ao mundo da não-regra, mas tudo o que ele deseja é que ela seja SUA MÃE. Peter não tem mãe, ele nem sabe o que é uma mãe, mas ele sente precisar de uma. Ela cuida de sua casa, conta histórias e remenda suas roupas. Sininho é uma fada. Ela depende de Peter. Sem sua fé ela não pode existir. É ciumenta e vingativa. Temos aí as duas mulheres que atraem Peter, a mãe e a irmã.
Com ele vivem os Meninos Perdidos. São filhos que se perderam dos pais. Peter é seu lider, seu chefe, seu ídolo. Mas o que eles realmente querem é um lar. Têm uma vaga ideia do que seja isso.
E surge Gancho. Uma criação genial, o CAPITÃO GANCHO é vitima de uma terrível melancolia. No tic-tac do jacaré que o segue há a consciência terrível do tempo que passa e da morte que virá o comer. Gancho odeia Peter porque Peter não se preocupa com nada. Peter zomba de tudo. Gancho é preocupado com etiqueta, com bons modos e ao pensar ter vencido Peter tem seu momento shakespeareano: sente o vazio da vitória. Dois breves momentos revelam um horror subjacente a história: Wendy sente atração por Gancho, e Peter sente-se como ele ao matá-lo. Gancho é o Peter Pan que cresceu.
Wendy volta a casa e reencontra os pais. Esse reencontro é feito com maravilhosa delicadeza por Barrie. E me comove o momento em que Peter olha esse reencontro pela janela e sente que aquilo não é para ele. Peter não tem casa, lar, pais. Ele voa.
Peter visitará Wendy todo verão. Mas seu tempo não se conta e ele desaparece por vários verões. Reencontra Wendy velha, que se envergonha. Ele mal percebe que ela envelheceu, só tem olhos para si. A filha de Wendy se encanta por Peter e parte com ele. A neta irá com ele também e por todo o sempre assim será...
John se torna um homem de guarda-chuva e pasta, Michael um juiz soberbo. O dom de voar e a Terra do Nunca um vago brilho esquecido.... Será?
O livro tem tantas frases belíssimas que sinto a tentação de ficar citando e citando. Não o farei. Leiam. É lançamento recente da LPM, fácil de achar e barato. O que desejo dizer é que não sei se as crianças de agora ainda são Peter Pan. Temo que não. Elas caem logo no mundo real e são engolidas pelo tic tac do jacaré. Gancho as vence e seduz com rapidez. Porque Peter não tem horário, não segue normas, cria seu mundo e sua história, corre, voa, pula e briga. Dança e canta todo o tempo e ignora todo o mundo, menos o seu desejo. Medo? Apenas um: crescer. Observe, ele não teme morrer, ele teme crescer. Crescer seria ficar em casa, obedecer, se adaptar, deixar de voar. Peter Pan tem um limite, não pode amar de verdade. Amor seria submissão. Ele é livre.
Eu diria que hoje todo homem pensa e tenta ser Peter Pan. Mas as crianças deixaram ele e Sininho para trás. Quanto as mulheres.... elas sempre são e serão as Wendys, aventureiras que nunca se esquecem da hora do remédio, da hora de dormir e do momento de voltar pra casa.
Puxa! É um livro triste pra caramba!!!!!! Mas eu amo esse Peter Pan!!!! É a melhor parte de mim, a única que me faz feliz. E quando fecho os olhos e me sinto contente é sempre ele que me faz voar e me leva por aí. Ah! Viver, Morrer, Matar ou Perder....tudo é uma imensa aventura!!!!
O livro começa já em alto nonsense. Nana é a babá, e ela é uma cadela. O pai só pensa em ações e dividendos e a mãe se anula em seu amor materno. Wendy, John e Michael são os filhos e numa noite, Peter Pan invade o quarto e os leva para a Terra do Nunca. Esqueça o desenho Disney, o filme de Spielberg ou o drama sobre Barrie com Johnny Depp ( todos são bons, mas nenhum o é como aqui ), esta novela tem tons de maravilhamento, de sombras e de dor que nenhum dos veículos nomeados acima pode tocar.
Algumas falas são estupendas, e quando Peter diz: "Morrer deve ser uma maravilhosa aventura!" o livro se torna gigantesco. Raros autores conseguem espelhar a vida de forma tão profunda e tão simples. James Barrie vai se aprofundando em arquétipos sobre arquétipos, e tudo parece incrivelmente natural.
Peter não tem memória. Ele se esquece. E tudo o que ele vê é a si-mesmo. Ele se ama, se gaba e crê em sua invenção. Peter cria seu mundo todo o tempo. E a contagem de dias e meses não existe. Cada dia é uma dia encadeado no dia anterior. E cada um desses dias será igual ao anterior e ao mesmo tempo totalmente novo. Peter se move em vôo porque crê poder voar. Assim como tem contato com as fadas porque deseja ter. O mundo onde ele vive é criação sua e quem lá vive deve segui-lo e adorá-lo. E todos amam Peter Pan. Barrie não tem pudor em dizer isso: a juventude é a única sedução. Ser jovem é tudo o que importa. Envelhecer é a morte. Peter Pan atrai por ser o espirito da eterna juventude, e sendo sempre criança, ele é alegre, ágil, vivo, criativo, irriquieto e desmemoriado. Ele faz coisas, não pensa coisas, ele age por impulso, nunca planeja, ele não agrada, é agradado, ele não ama, se ama.
Wendy é a mulher, e mulheres amam Peter. Elas amam seu jeito infantil que promete fragilidade. E se surpreendem com sua força e coragem. Peter tira-as da vida tola e maçante, leva-as ao mundo da não-regra, mas tudo o que ele deseja é que ela seja SUA MÃE. Peter não tem mãe, ele nem sabe o que é uma mãe, mas ele sente precisar de uma. Ela cuida de sua casa, conta histórias e remenda suas roupas. Sininho é uma fada. Ela depende de Peter. Sem sua fé ela não pode existir. É ciumenta e vingativa. Temos aí as duas mulheres que atraem Peter, a mãe e a irmã.
Com ele vivem os Meninos Perdidos. São filhos que se perderam dos pais. Peter é seu lider, seu chefe, seu ídolo. Mas o que eles realmente querem é um lar. Têm uma vaga ideia do que seja isso.
E surge Gancho. Uma criação genial, o CAPITÃO GANCHO é vitima de uma terrível melancolia. No tic-tac do jacaré que o segue há a consciência terrível do tempo que passa e da morte que virá o comer. Gancho odeia Peter porque Peter não se preocupa com nada. Peter zomba de tudo. Gancho é preocupado com etiqueta, com bons modos e ao pensar ter vencido Peter tem seu momento shakespeareano: sente o vazio da vitória. Dois breves momentos revelam um horror subjacente a história: Wendy sente atração por Gancho, e Peter sente-se como ele ao matá-lo. Gancho é o Peter Pan que cresceu.
Wendy volta a casa e reencontra os pais. Esse reencontro é feito com maravilhosa delicadeza por Barrie. E me comove o momento em que Peter olha esse reencontro pela janela e sente que aquilo não é para ele. Peter não tem casa, lar, pais. Ele voa.
Peter visitará Wendy todo verão. Mas seu tempo não se conta e ele desaparece por vários verões. Reencontra Wendy velha, que se envergonha. Ele mal percebe que ela envelheceu, só tem olhos para si. A filha de Wendy se encanta por Peter e parte com ele. A neta irá com ele também e por todo o sempre assim será...
John se torna um homem de guarda-chuva e pasta, Michael um juiz soberbo. O dom de voar e a Terra do Nunca um vago brilho esquecido.... Será?
O livro tem tantas frases belíssimas que sinto a tentação de ficar citando e citando. Não o farei. Leiam. É lançamento recente da LPM, fácil de achar e barato. O que desejo dizer é que não sei se as crianças de agora ainda são Peter Pan. Temo que não. Elas caem logo no mundo real e são engolidas pelo tic tac do jacaré. Gancho as vence e seduz com rapidez. Porque Peter não tem horário, não segue normas, cria seu mundo e sua história, corre, voa, pula e briga. Dança e canta todo o tempo e ignora todo o mundo, menos o seu desejo. Medo? Apenas um: crescer. Observe, ele não teme morrer, ele teme crescer. Crescer seria ficar em casa, obedecer, se adaptar, deixar de voar. Peter Pan tem um limite, não pode amar de verdade. Amor seria submissão. Ele é livre.
Eu diria que hoje todo homem pensa e tenta ser Peter Pan. Mas as crianças deixaram ele e Sininho para trás. Quanto as mulheres.... elas sempre são e serão as Wendys, aventureiras que nunca se esquecem da hora do remédio, da hora de dormir e do momento de voltar pra casa.
Puxa! É um livro triste pra caramba!!!!!! Mas eu amo esse Peter Pan!!!! É a melhor parte de mim, a única que me faz feliz. E quando fecho os olhos e me sinto contente é sempre ele que me faz voar e me leva por aí. Ah! Viver, Morrer, Matar ou Perder....tudo é uma imensa aventura!!!!
PETER PAN FALA COM JAMES BARRIE
Quantos dedais foram dados ? E quantas avelãs em troca ? Dedais e avelãs não podem saciar a fome de beijos. Peter Pan com mais de quarenta nunca dá certo.
Ironia é. Na Terra do Nunca tudo tem de ser para sempre. Principalmente brincar. E se você disse pra mim, um dia, "Eu te amo", esse "Eu te amo" tem de ser para sempre.
Peter Pan com quarenta idos vê os amigos envelhecerem. E se recolhe com dor : Onde a loucura deste ? Cadê a coragem deste outro ? Melhor seria não os ver nunca mais.
Quantas Sininhos surgiram ? Voando, tão leves, ao redor do seu rosto e capturando seu coração incapturável ? E todas elas, em tarde de horror, transformaram-se em Wendys. Aquela que voava e espalhava brilho, tarde, cobrou os seus dedais.
Patético Peter. Você espera o que neste parque onde vive ? -" Eu nada espero. Não espero. Quero que nada mude, sempre."
Mas existe um tic tac, e existe um Gancho ( existia ).
Peter, Gancho morreu ! O crocodilo partiu e surpresa : o relógio correu.
Com mais de quarenta, voar ainda ? Não há mais contra quem lutar...
As Sininhos ainda lhe procuram. Elas surgem com seu brilho de pó e seus sorrisos de fadice. E como vocês riem ! Viver pode ser uma grande amizade, e vocês são amigos de tudo da vida.
Mas hoje você sabe, Sininho será Wendy e Wendy quer uma casa de tijolos, ela não pode viver no bosque dos Garotos Perdidos. Ela envelhece, Peter Perdido.
Sua vida foi gasta com Sininhos e suas palhaçadas, com Wendys e seus dedais.
E tudo o que você queria era voar.
Voou Peter ? Tanto quanto podia ? -"Eu voei e vôo ainda !"
Seu rosto Peter, está pesado, seu riso, tem algo de Gancho nele... você pode ouvir seu tic tac ?
-" Eu continuo na Terra do Nunca, e todas as Sininhos continuam comigo. Eu sei, eu sei e saberei sempre, um eu te amo é para sempre !"
Peter Pan com mais de quarenta jamais pode dar certo.
Mas quem viu o mundo lá do alto e lutou com Gancho e Índios, não poderá jamais esquecer. Seus olhos viram o que vale ser visto. Quem pode condenar sua magia ?
-"Então pegue minha mão e comece a voar. Pense apenas em coisas boas e não me largue. Esqueça sua casa, esqueça o tempo. Conte-me histórias de fantasia, eu não quero saber da realidade. Porque o mundo dos homens é mentira e eu sou de verdade."
Crianças sabem. Bichos sabem. Homens nada sabem.
Peter Pan aos quarenta, mais, brinca do que ?
Brinca com palavras, brinca com teorias, procura o que não morre e voa com Sininhos. Peter rima tortas frases e nunca vê a realidade. Mas e daí ? Ele jamais matou uma fada !
A noite sobe pela manhã, e ele sabe que nada pode ser explicado.
A manhã adormece na tarde, e ele vê tudo que interessa.
Tarde que fecha os olhos de noite, onde ele adormece sabendo que tudo é sempre o de sempre.
Peter Pan -" Morrer deve ser a maior das aventuras !" Mas fique mais um pouco por aqui. Entre samambaias e o mar. Espere a chegada de nova Sininho ( que será mais uma Wendy ) e mantenha o tempo em suspensão.
Com mais de quarenta você já venceu. O cabo foi dobrado e o tempo lhe é amigo.
Ridículo Peter Pan com mais de quarenta, continue a voar.
SOBRE OS FILMES E DESENHO :
Hook de Spielberg - Tem elenco brilhante ( um Gancho-Dustin Hoffman perfeito ) mas Spielberg se perde num excesso de mel. Nota 6
Peter Pan de PJ Hogan - Uma chatice. Efeitos gratuitos e muito pouca poesia. Nota 2.
Peter Pan da Disney - Os primeiros trinta minutos são poesia magistral. As imagens de Londres noturna são imbatíveis. Depois vira aventura banal. Nota 8.
Ironia é. Na Terra do Nunca tudo tem de ser para sempre. Principalmente brincar. E se você disse pra mim, um dia, "Eu te amo", esse "Eu te amo" tem de ser para sempre.
Peter Pan com quarenta idos vê os amigos envelhecerem. E se recolhe com dor : Onde a loucura deste ? Cadê a coragem deste outro ? Melhor seria não os ver nunca mais.
Quantas Sininhos surgiram ? Voando, tão leves, ao redor do seu rosto e capturando seu coração incapturável ? E todas elas, em tarde de horror, transformaram-se em Wendys. Aquela que voava e espalhava brilho, tarde, cobrou os seus dedais.
Patético Peter. Você espera o que neste parque onde vive ? -" Eu nada espero. Não espero. Quero que nada mude, sempre."
Mas existe um tic tac, e existe um Gancho ( existia ).
Peter, Gancho morreu ! O crocodilo partiu e surpresa : o relógio correu.
Com mais de quarenta, voar ainda ? Não há mais contra quem lutar...
As Sininhos ainda lhe procuram. Elas surgem com seu brilho de pó e seus sorrisos de fadice. E como vocês riem ! Viver pode ser uma grande amizade, e vocês são amigos de tudo da vida.
Mas hoje você sabe, Sininho será Wendy e Wendy quer uma casa de tijolos, ela não pode viver no bosque dos Garotos Perdidos. Ela envelhece, Peter Perdido.
Sua vida foi gasta com Sininhos e suas palhaçadas, com Wendys e seus dedais.
E tudo o que você queria era voar.
Voou Peter ? Tanto quanto podia ? -"Eu voei e vôo ainda !"
Seu rosto Peter, está pesado, seu riso, tem algo de Gancho nele... você pode ouvir seu tic tac ?
-" Eu continuo na Terra do Nunca, e todas as Sininhos continuam comigo. Eu sei, eu sei e saberei sempre, um eu te amo é para sempre !"
Peter Pan com mais de quarenta jamais pode dar certo.
Mas quem viu o mundo lá do alto e lutou com Gancho e Índios, não poderá jamais esquecer. Seus olhos viram o que vale ser visto. Quem pode condenar sua magia ?
-"Então pegue minha mão e comece a voar. Pense apenas em coisas boas e não me largue. Esqueça sua casa, esqueça o tempo. Conte-me histórias de fantasia, eu não quero saber da realidade. Porque o mundo dos homens é mentira e eu sou de verdade."
Crianças sabem. Bichos sabem. Homens nada sabem.
Peter Pan aos quarenta, mais, brinca do que ?
Brinca com palavras, brinca com teorias, procura o que não morre e voa com Sininhos. Peter rima tortas frases e nunca vê a realidade. Mas e daí ? Ele jamais matou uma fada !
A noite sobe pela manhã, e ele sabe que nada pode ser explicado.
A manhã adormece na tarde, e ele vê tudo que interessa.
Tarde que fecha os olhos de noite, onde ele adormece sabendo que tudo é sempre o de sempre.
Peter Pan -" Morrer deve ser a maior das aventuras !" Mas fique mais um pouco por aqui. Entre samambaias e o mar. Espere a chegada de nova Sininho ( que será mais uma Wendy ) e mantenha o tempo em suspensão.
Com mais de quarenta você já venceu. O cabo foi dobrado e o tempo lhe é amigo.
Ridículo Peter Pan com mais de quarenta, continue a voar.
SOBRE OS FILMES E DESENHO :
Hook de Spielberg - Tem elenco brilhante ( um Gancho-Dustin Hoffman perfeito ) mas Spielberg se perde num excesso de mel. Nota 6
Peter Pan de PJ Hogan - Uma chatice. Efeitos gratuitos e muito pouca poesia. Nota 2.
Peter Pan da Disney - Os primeiros trinta minutos são poesia magistral. As imagens de Londres noturna são imbatíveis. Depois vira aventura banal. Nota 8.
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