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PRESTON STURGES/ VICTOR FLEMING/ JOHN TRAVOLTA/ JERRY LEWIS/ GENE TIERNEY/ HENRY JAMES

   MARUJO INTRÉPIDO de Victor Fleming com Freddie Bartholomew, Spencer Tracy, Lionel Barrymore, Melvyn Douglas e Mickey Rooney
Se voce não conhece o cinema americano dos anos 30 e deseja saber porque ele é tão valorizado, comece por este filme. Baseado em obra de Kipling, conta a saga de um menino mimado, egoísta, milionário, que ao ser resgatado no mar por pescador de bacalhau, aprende a viver e a ser parte de uma equipe. O filme tem cenas documentais da pesca em mares frios que são fantásticas. A procução tem o luxo da Metro e a direção é de Fleming, o diretor que fez E O Vento Levou e OMágico de Oz, só isso. O elenco chega a ser covardia. Tracy, como o pescador Manuel, levou  o Oscar, mas todos os atores são o máximo dos máximos. O segredo desse tipo de cinema é aqui explicitado: cinema sem vergonha de ser Pop, mas esse Pop é feito com gosto, baseado em roteiro e estrelas. O modo econômico e direto com que se narra o roteiro é uma aula de direção e de produção. È um filme perfeito. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
   PELOS OLHOS DE MAISIE de McGehe e Slegel com Julianne Moore, Steve Coogan, Alexander Skarsgard e Onata Aprile
Livremente baseado em Henry James ( é seu livro mais seco e cruel ), o filme fala de uma menina jogada ao sabor das emoções de sua familia. A mãe é uma rockeira cheia de dinheiro que vive em meio a histeria e carência. O pai é um hedonista egoísta. O filme se põe no ponto de vista da menina. Vemos sua solidão e meio a casa imensa mas desleixada, os pais ocupados em serem felizes e o desarranjo geral. É um bom filme? Não. Tudo isso é temperado com musicas fofinhas, cenas infantilóides e uma sensibilidade gracinha que é irritante. Retrato de nosso tempo, é sintoma daquilo que denuncia, um mundo onde todos estão largados e perdidos em meio a prazeres sem valor. Nota 2.
   NATAL EM JULHO de Preston Sturges com Dick Powell e Ellen Drew
Segundo filme de Sturges, dura apenas 62 minutos. Mas que bons minutos! Um cara concorre num concurso de slogans. Colegas lhe pregam uma peça, mandam aviso dizendo que ele venceu. O trouxa passa a gastar o dinheiro que não tem. O roteiro de Sturges não poupa ninguém, todos são idiotas, e humanos. Na época, 1940, não se deixava um roteirista dirigir, Preston Sturges quebrou essa regra, abriu o caminho para Wilder e Huston. Finalmente recebendo hoje o valor que lhe é devido, ele foi um mestre da comédia. O filme tem um final tão bem preparado que é impossível não rir. Nota DEZ.
   BORN FREE de James Hill com Virginia McKenna e Bill Travers
A trilha do gênio John Barry levou Oscar. Não há quem não a conheça. O filme mostra um casal na África criando um filhote de leão, uma leoa. Nada de gracinhas, em 1966 animais ainda eram filmados como bichos e não como bebês. O filme, cheio de falhas, tem ainda encanto. Nota 6.
   TEMPORADA DE CAÇA de Mark Steven Johnson com Robert de Niro e John Travolta
Os primeiros vinte minutos prometem um bom filme. De Niro vive isolado no campo, vemos seu cotidiano. Um tipo de Jheremiah Johnson. Mas como o filme é de 2013, logo surge o super-mal, na figura de Travolta, um sérvio que deseja se vingar do ex-soldado De Niro. Travolta vai ao campo e começa a ação. O filme passa a exibir cena sobre cena de torturas, sangue, sadismo e exageros. Porque? Porque esta é a cultura do sensacional, e também porque estamos sendo educados a tolerar a violência. De Niro está ok, Travolta está ridiculo. Usa um sotaque hilário, maquiagem pesada, tudo errado. Adoro Travolta quando ele é apenas Travolta, um tipo, como Willis ou Gibson. Quando tenta atuar vem o desastre. O filme é pior que lixo, é mal intencionado. Nota ZERO.
   ALLOSANFAN de Paolo e Vittório Taviani com Marcello Mastroianni e Lea Massari
Um homem no tempo imediatamente pós revolução francesa. Ele é um tipo de ex-terrorista. Tenta voltar a ser um homem tranquilo de familia, mas o passado o persegue e lhe cobra ação. Começa muito bem e Marcello é sempre ótimo, mas os Taviani se perdem do meio para o final. Bela fotografia. Nota 5.
   VELOZES E FURIOSOS 6 de Justin Lin com Vin Diesel, Michelle Rodriguez e Paul Walker
Gostei do primeiro e do terceiro. O quinto foi um lixo, este é ainda pior. Tentam fazer drama, tentam dar alguma profundidade ao que era apenas diversão sem peso. Erram. O roteiro é cheio de furos, voce tem de aceitar decisões sempre erradas. Posso dizer que é uma porcaria de filme. Diesel começa a envelhecer e ao contrário de Willis, envelhece mal. Nota ZERO.
   A FARRA DOS MALANDROS de Norman Taurog com Jerry Lewis, Dean Martin e Janet Leigh
Ruy Castro diz que em 1956, para sua geração, a separação da dupla Martin e Lewis foi tão doída quanto seria a separação Lennon e MacCartney em 1969. Eles foram os ídolos top dos teens de então. Essa popularidade é atestada, hoje se fazem filmes na TV sobre a dupla. E quando fui um teen, nos anos 70, Jerry Lewis ainda era uma hiper-estrela, um Will Smith exagerado. Seu estilo é puro Jim Carrey, mas um Carrey ainda mais infantil. Martin era o rei do cool, sempre calmo e paquerador. Envelheceu melhor. Este filme não é bom. Jerry finge estar contaminado por radiação e é mimado pela imprensa. Nota 3.
   THE GEISHA BOY de Frank Tashlin com Jerry Lewis
Porque Jerry não ousou crescer? Ele era tão bom, inventivo, mas sempre insistiu em não sair dos 12 anos. E essa mania de agradar, de imitar o pior de Chaplin, a melança... Este tem seus momentos, mas quando ele começa a tentar nos comover...socorro! Nota 4.
   ELA QUERIA RIQUEZAS de Rouben Mamoulian com Gene Tierney e Henry Fonda
Às vezes me perguntam: Qual a atriz mais bonita do cinema? Respondo, Grace Kelly. Mas falo isso porque esqueço de Gene Tierney. Ela foi a mais linda e aqui está divina, mais simples e menos fria. Não é um grande filme apesar dos nomes envolvidos. Na verdade ninguém queria fazer esta obra farsesca. Gene dá golpes em namorados ricos, Fonda não é rico, o resto é facil de prever. Mamoulian fez filmes deliciosos, não é este o caso. Fonda está distante, este filme fez com que ele começasse a desistir do cinema. Sobra Gene, que parece se divertir. Nota 4.
   O CAPANGA DE HITLER de Douglas Sirk
Muito pobre, é um dos primeiros filmes americanos de Sirk. Sem Nota.

HANSON/ DIANE LANE/ DICKENS/ BIG WAVES/WESTERNS RUINS/ PARKER

   PARKER de Taylor Hackford com Jason Statham, Jennifer Lopez, Nick Nolte
Hackford é o tipo do profissional pra toda obra. Ele pouco se preocupa em "provar" sua inteligência ou seu talento artistico. Ele filma em função do roteiro, ele conta uma história, narra. Foi assim com Ray, com A Força do Destino ou Advogado do Diabo. Aqui, usando o carismático Statham, o que se narra é uma ótima história de malandragem. Ação, suspense e humor. Que mais voce quer? Eis o cinema ao estilo Curtiz, Hawks e Sturges. Pura eficiência. Vamos deixar de ser idiotas. Cinema também é e sobretudo é, circo. Amar o cinema é amar tudo o que ele tem de mais vital, de mais verdadeiro. A emoção, o objetivo alcançado, a alegria do fazer, a satisfação do público que ainda crê nessa arte tão mal entendida. Há quem procure num filme filosofia. Ora, deixe de ser preguiçoso e vá ler Kant ou Hegel. Há quem procure no cinema Anna Karenina ou Morte em Veneza. Deixe de ser preguiçoso e vá ler os livros de Mann e Tolstoi. Cinema é imagem em movimento, cinema é fantasia, magia que pode ser alegre, triste, perturbadora ou futil, mas que deve ser sempre movimento, cinema. Hawks, Hitchcock e Ford me ensinaram isso. Nota 8.
   O VALE DA VINGANÇA  de Richard Thorpe com Burt Lancaster e Robert Walker
Um faroeste ruim. E assim como acontece com musicais, um faroeste quando é ruim é o pior tipo de filme que há. O que é um faroeste ruim? É um filme sem ação, sem nada de mitológico, arrumadinho, limpo, higiênico. Burt está mal utilizado e o filme é um tédio. Nota 2.
   OBRIGADO A MATAR de Joseph H. Lewis com Randolph Scott
Outro mal faroeste. Nada acontece nesta pseudo-aventura sobre ex-matador agora da paz. Lewis foi um diretor B que os Cahiers adoravam. Ele não é aquilo que os franceses gostariam que fosse. Nota 1.
   HERANÇA SAGRADA de Douglas Sirk com Rock Hudson e Barbara Rush
Ross Hunter produz na Universal este western em que Hudson faz um indio pacifico. Sua luta é contra seus companheiros comanches, ainda em guerra. Sirk dirige e carrega no drama familiar, sua especialidade. A fotografia é belíssima. O filme acaba poe ser comum, indefinido entre ação e drama. Nota 4.
   O AMANTE DA RAINHA
Filme dinamarquês. Indicado ao Oscar 2012. Fala de um rei meio insano e de sua rainha inglesa, do bem. Ela se envolve com um médico moderninho. Hum... e daí? O filme é horrivelmente tolo. Nada consegue mostrar da época observada. O rei é um maluquinho de 2012, assim como a rainha parece saída de algum café de Copenhaguen. Pior é o médico: sociólogo da Vila Madalena, nada nele é de verdade. Iluministas não eram como esse bobinho, reis loucos não eram como esse tontinho e rainhas esclarecidas não se portavam como essa dondoca do Arouche. Queres conhecer de verdade a época retratada? Barry Lyndon de Kubrick ou Ligações Perigosas de Frears é vosso filme. Ah sim! Este filme poderia ser uma deleitosa fantasia como o Anna Karenina de Joe Wright, um show de técnica que nunca tenta ser retrato fiel de 1880. Mas esta tolice nada tem de deleite, muito menos de show. Zero.
   TUDO POR UM SONHO de Curtis Hanson e Michael Apted com Gerard Butler, Abigail Spencer
História real sobre um garoto dos anos 80 que se torna um surfista de big waves ( Maverick ). Na verdade o filme tem o esquema de um western: o veterano amargo que ensina o novato empolgado. Butler está bem como o rei veterano e anti-social das big waves. Ele produziu o filme com Hanson. É um filme modesto, simples e sincero. Nada de especial, mas tem cenas no mar incríveis e sem efeitos digitais. Hanson foi o grande diretor de Garotos Incríveis e de LA Confidential. Apted teve fama nos anos 80 de muito bom diretor. Porque dois diretores? Brigas? Filme ok. Nota 5.
   SOB O SOL DA TOSCANA de Audrey Wells com Diane Lane e Raoul Bova
Li o livro e gostei. O filme foge do livro, muda tudo. Coisas do cinema.... Lane, sempre adorável e bonita, ( a acompanho desde 1979!!! Ela começou em Pequeno Romance com Laurence Olivier aos 13 anos.... ) bem, aqui ela é uma mulher que leva um pé do marido e acaba na Itália, onde compra casa caindo aos pedaços. Assim como acontece com os livros de Peter Mayle, vemos uma americana em contato com uma cultura mais antiga, mais relax, muito mais sensual. O filme é lindo de se olhar e nunca ofende a inteligência. Nota 6.
   GRANDES ESPERANÇAS de Adolfo Cuáron com Ethan Hawke, Gwyneth Paltrow e Anne Bancroft
Assisti em 2000 e não gostei. Dei mais uma chance ontem...Em 1945 David Lean fez um belíssimo filme sobre este livro de Dickens. E quando Lean fazia um filme belo, bem, era um filme muito belo! Cuáron refilma o livro colocando-o no sul dos EUA nos tempos de hoje. Cuáron se humilha... coitado. O filme é muito, muito ruim. Pior ainda, ele é risivel. Quando a grande Anne Bancroft começa a dançar em sua casa de mulher louca tudo o que queremos fazer é rir e desligar o DVD. Robert de Niro também comparece como um ladrão fugitivo. Um dos maiores fiascos da história dos filmes.

   

LORAX/ BETTE DAVIS/ NICHOLAS RAY/ SIRK/ STATHAM/ WENDERS

   O INTOCÁVEL de Boaz Yakin com Jason Statham
Adoro os filmes de Jason. Não são hiper produzidos, eles têm ação real e Jason luta como um chinês. Sabe se mover e tem leveza. Aqui ele é um lutador a beira do suicidio que é salvo ao se involver com uma menina chinesa que está sendo usada por mafiosos russos. Nada de especial no roteiro, mas a ação é de primeira. Uma diversão sem culpa. Nota 6.
   O LORAX de Chris Renaud
É bom. Como todo desenho, tem uma mensagem certeira. No futuro tudo é de plástico e tudo é bonito e limpo. Mas por detrás disso, há um mundo destruído e morto. O ar é vendido por uma corporação que deseja manter tudo como está. Bem... como escrevi em outro lugar, crianças hoje carregam a missão de nos resgatar. Vejam o que fizemos kids! Reajam, pois nós desistimos. Eis a mensagem. É uma bela mensagem, claro. Melhor isso que o niilismo acomodado dos filmes adultos. Mas caramba! Um dia voltarão a fazer desenhos  bobos e infantis? Nota 6
   PETER PAN  de Wilfred Jackson e Disney
Mítico. São dezenas de mensagens cifradas, montes de possibilidades poéticas. O menino que não quer crescer e a menina que não pode deixar de crescer. Alguém se vê neles? Bem vindos ao mundo de 2012. Não é uma obra-prima, mas é um ícone. Nota 8.
   UM AMOR DE TESOURO de Andy Tennant com Mathew McConaughey, Kate Hudson e Donald Sutherland
Um casal brigado acha tesouro. Mas tem de disputar a descoberta com rivais "do mal". O cenário é estupendo. O filme é um café. Voce vai em um restaurante com sua namorada, vê umas vitrines e por fim assiste este filme. Um café: gostoso e tirado às dúzias toda hora. Mathew é simpático. Em tempos de melhores filmes pop ele seria rei. Kate envelhece mal. Sua mãe era melhor em tudo aquilo que ela tenta fazer. Donald apenas está lá. O filme não é ruim, é bobo. Nota 4.
   ALMAS MACULADAS de Douglas Sirk com Rock Hudson, Dorothy Malone e Robert Stack
Um repórter alcoólatra se envolve com casal de aviadores de circo. São aqueles pilotos que se exibem em circos, fazem corridas e se arriscam. O filme mostra a condição patética do repórter. Ele ama sem ser amado, é desprezado pela mulher que ele ajuda. Se destrói. Mas ao final, é ele quem dá a volta por cima. Não é dos melhores Sirk, mas tem um Rock Hudson bem dirigido ( quem falou que ele era mal ator? ) e aquele clima fatalista que esse excelente diretor sabia tão bem criar. Nota 7.
   PINA de Wim Wenders
Assisto mais uma vez e gosto mais ainda. Acachapante. A primeira cena com Stravinsky já te deixa zonzo. O filme não é apemas bom. Ele é uma aula emocionante sobre arte. O limite, a expressão e o risco. Pina Bausch ousava, errava, repetia, acertava. Os dançarinos-atores são magos. Cenas com água, humor com cachorro que late, mulheres que caem, retratos de sofrimento e de alegria. O filme te derruba, te impressiona. Os corpos vão ao limite. A alma se entrevê. Lindo. Nota 9.
   AMARGA ESPERANÇA de Nicholas Ray com Farley Granger e Cathy O'Donnell
Famoso filme de Ray que antecipa a Nouvelle Vague. Godard amava este filme e há muito de Acossado nele. Sobre um ladrão que não consegue sair do mundinho podre onde ele vive. Mas o filme não é centrado em roubos ou em tiros, o que vemos é uma hiper triste história de amor. Amor tragédia, fadado ao absoluto fracasso. Nos incomoda ainda. É invulgar, original e melancólico. Nota 7.
   MULHER MARCADA de Lloyd Bacon com Bette Davis e Humphrey Bogart
Atenção. Não é um tipico filme de Bogey. Ele aparece pouco e faz um promotor do bem. O filme é de Bette, ainda bonita e sexy, que faz uma prostituta que é usada por gangster. O que vemos é sua conscientização. O filme é esquemático e sem muito apelo. Mas é um prazer ver Bette em ação. Uma diva imensa, a única que poderia trombar com Kate Hepburn e vencer. Um filme curto, grosso e direto. Típico Warner anos 30. Nota 6.

JACK WHITE, DUANE, INGLATERRA, XIMENES E CANNES

   Roy Rogers toca em SP. Slide guitar. Slide guitar é o som de Paris-Texas. Ry Cooder. Slide é som de homem. Apesar de Bonnie Raitt. É estrada e botas e carro velho com fedor de óleo. Se eu pudesse eu tocava slide mas eu sou uma múmia para todo instrumento musical. Sou incapaz de tirar um acorde em piano, violão ou pistão. Mas até que batuco bem. John Lee Hooker e Elmore James são slide. Mas o maior solo de slide que já ouvi é o de Duane Allman em Layla and Other Assorted Love Songs. Ele acontece na faixa Key To The Highway. Raios e trovões em vinil.
   E por falar em guitarra....Uma das coisas mais ridiculas dos anos 80 foram as guitarras. Elas se transformaram em piadas sem graça. De um lado viviam os clones de Eddie Van Halen, com seus solos sem sentido e sem sentimento algum. Uma disputa chata pra ver quem tocava mais rápido. E de outro lado um povinho fofo que amava guitarras "soft". Cheguei a ler, eu juro, que Johnny Marr era o maior guitarrista da história do rock. Arre!!!! Slash lembrou ao mundo que guitarra era Joe Perry e Marc Bolan. Riff e ritmo. E Jack White nos recorda que a guitarra é o rock. Jimi Page revive em seu modo de abordar o instrumento, mas ele vai mais fundo e nos devolve Robert Johnson. Seu disco solo é do balacobaco.
   Modigliani....eu já gostei. Ele é romantico e pega os adolescentes sedentos. As mulheres nuas que ele pintou prometem muito e sua vida foi um poema de dor e de ilusão. Mas hoje ele não me comove. E o MASP montou uma expo miserável... Prefiro esperar Caravaggio.
   Todas as publicações falam ( bem ) de Downtown Abbey. A série inglesa cult que foi escrita por Julian Fellowes. Ele escreveu um Altman legal, aquele do casarão inglês cheio de empregados. Como dizia Paulo Francis, amaericano adora ver a alta classe inglesa em ação. Por isso dão sempre um Oscar para ator britãnico ( menos Peter O'Toole...que pena! ). Eles amam o sotaque da BBC e ficam se sentindo mais classudos ao admirar aqueles casarões cheios de cortinas, veludos e chá com sanduiches de pepino. É um mundo que foi destruído na primeira guerra, mundo sólido onde o pobre era muito pobre e o rico sabia que morreria rico. Casas com trinta empregados e terras sem cobrança de impostos. Brideshead Revisited é citada como série que influenciou Downtown... Já quero ver. Brideshead é o máximo.
   O festival de Cannes ainda importa? Em 1976 deu Taxi Driver e em 1971 O Mensageiro. Alguém lembra quem venceu ano passado?
   Mariana Ximenes escreveu um belo texto sobre Douglas Sirk no Estadão. Mariana é o máximo!
   A revista da livraria Cultura tem belo texto sobre Bergman. Domingos de Oliveira fala do diretor sueco e Sergio Rizzo também. Leia que vale a pena.
   Pra terminar, os dez filmes que Ruy Castro mais assistiu nos últimos dois anos:
   Caligari de Wiene ( o filme que mais me deu medo na vida inteira ), Ladrão de Alcova de Lubistch, Ladrão de Bagdá de Powell, Contrastes Humanos de Sturges, Entre a Loura e a Morena de Bekerley, Milagre em Milão de De Sica, Monstro da Lagoa Negra de Arnold, Bob le Flambeur de Melville, Mabuse de Lang e Se Meu Apto Falasse de Wilder.

BERLINER ENSEMBLE, NEYMAR, BERGMAN, SHOPPING CENTER E CSN

   A BERLINER ENSEMBLE é uma das melhores instituições da Alemanha. Ela vem ao Brasil e é muito muito muito primordial que voce a veja. Com Bob Wilson na direção, eles irão apresentar A ÓPERA DOS 3 VINTÉNS e LULU. Mesmo que voce não entenda alemão, veja. E ouça também. Em A Ópera a música é de Kurt Weill. Música de Weill significa beleza e humor no mais alto grau de perfeição possível. Lulu, o texto enigmático-expressionista de Frank Wedekind, tem trilha de Lou Reed. Lulu fala de sexo como morte e de noite como sexo. Seria bom rever o filme de Pabst antes do espetáculo. Voce sabe, o filme com a feiticeira das telas, a felina Louise Brooks. A experiência deverá ser vitalmente arquetipica.
   Cee Lo Green esteve no Sónar. Se aquilo é uma amostra da atual música negra estamos muito mal. Ele canta pobremente, não tem sex-appeal e tem repertório sem sal. Um mundo negro que nos deu Al Green e Jackie Wilson viver agora de Cee Lo é mais frustrante que a literatura francesa depender de Houllebecq.
   Mais um monstrengo nasce em SP. O Shopping JK está pronto. No futuro haverá uma via elevada que unirá todos os shoppings de "gente bonita". Voce entrará num tubo de cristal e será levado por esteiras à todos eles, Iguatemi, Higienópolis e etc. Arquitetonicamente o tal complexo é aquilo de sempre, um caixotão com vidrinhos. Nossos arquitetos não pensam mais. Usam um programa que repete soluções.
   CARAVAGGIO virá ao Masp. Entre de joelhos no caixotão mediocre que não enfeita a Paulista. Caravaggio não é o melhor pintor da história. Esse posto é disputado por Rembrandt, Velazquez e Cézanne. Mas é o mais "instigante". Seus quadros são como flagrantes de feitiçaria. Ele foi um homem "do mal". Do submundo. Mas sua obra é elevada, explosiva em luz e sombra. Ninguém pintou sombras como ele. A obra-prima "São Francisco Meditando" virá ao caixotão. Como disse, se ajoelhe diante dela. Mas não ore. Olhe. Caravaggio em SP é honra que não sei se merecemos.
   Crosby, Stills and Nash passaram por aqui. O tempo é ironico. Em 1982 nada era mais passado e esquecido que os três menestréis. Seu som acústico, suave, gracinha, era a coisa menos Roxy e Bowie possível. Em 2012 eles são hiper-cult. O som que eles faziam em 1970 é o que 90% dos moços sensiveis sonha em fazer agora. A diferença é que Crosby tomava umas coisinhas que esses moços nem sabem o que é. E Stephen Stills é genial. Roxy e Bowie caem, James Taylor e Cat Stevens sobem. C'est la vie...
   Quem mora em SP deve estar vendo os filmes de Douglas Sirk no CCBB. Sirk é o idolo de Almodovar e Todd Haynes. Dramas deslavados, exagerados, quase ridiculos e maravilhosamente deliciosos. Ele nunca tem medo. Vai lá na ferida e a cutuca com vidro. Ou melhor, com cristal. Seus filmes são arrumados, engomados, bonitos como geladeiras brancas. Com postas de carne podre dentro.
   Mas quem mora no Rio pode soltar fogos. Ingmar Bergman tem 46 filmes sendo exibidos. E mais 5 documentários sobre o gênio da Suécia. Deram um jeito de trazer até mesmo os cinco comerciais de sabonetes que ele fez nos anos 50. Vai ser hilário ver Bergmaníacos como eu tentando achar nos comerciais um sinal do gênio do gênio. O mundo de hoje não merece Bergman. Ele ia ao fundo das coisas e hoje nós conseguimos ir só até onde os dogmas permitem. Mas eles estarão lá, 46 chances de crescimento espiritual.
   Dou a dica. Se voce já viu Morangos Silvestres e O Sétimo Selo, espero que sim, voce não é um analfabeto, não vá perder O ROSTO, NOITES DE CIRCO, FANNY E ALEXANDER e JUVENTUDE. Esses são imperdíveis. PERSONA, MONIKA E O DESEJO e A FONTE DA DONZELA vêm a seguir. Depois chegam em SP. Já estou no aguardo. Se voces perceberem algum careca histérico na sessão, esse sou eu.
   Neymar dá a toda uma geração, ou duas, acostumadas a ver futebol de verdade só pela TV, a chance de entender porque os quarentões falam com saudade de Zico, Sócrates e Falcão. Um jogador de gênio jogando em seu apogeu no Brasil é fato que não ocorria desde os tempos de Junior e Zico. Vimos os 4 erres brilharem na Europa, aqui, só um brilhareco. Ver Neymar no estádio é perceber o talento em ebulição plena, a mente pronta para o não-óbvio e a ambição sem limite nenhum. O ridiculo ou o sublime no fio de um cabelo. Coragem em jogar e em tentar. Um ego do tamanho do mundo. Aproveitem que logo acaba...

CARY GRANT/ AUDREY/ MUPPETS/ DOUGLAS SIRK/ GEORGE CLOONEY/ NICHOLAS RAY/ JOHN WAYNE/ GINA, ELKE, VIRNA, MONICA VITTI

   SANGUE DE REBELDE de Douglas Sirk com Rock Hudson
O alemão Sirk ( ídolo de Fassbinder e Almodovar ), tornou-se cult graças a série de dramas que fez nos anos 50 na Universal. São filmes exagerados, barrocos, que não temem a emoção e os fatos esquisitos da vida. Mas ao mesmo tempo, Sirk fez outros tipos de filmes, inclusive western. Este é uma aventura que fala da Irlanda revolucionária. Hudson, que sempre foi bom ator com Sirk, é um impulsivo irlandês procurado pela lei. O filme, todo feito em locações reais é muito bom. Tem suspense, tem ação, e tem muito clima. Fica a certeza de que Sirk foi um belo diretor em mais de um tipo de filme. Nota 7.
   A VIDA ÍNTIMA DE UMA MULHER de Nicholas Ray com Maureen O'Hara, Gloria Grahame e Melvyn Douglas
Ray, chamado de gênio por Godard e Truffaut, é dos mais irregulares dos diretores. Se é capaz de fazer filmes belos como Rebel Without a Cause ou Johnny Guitar, é capaz de coisas mal realizadas e capengas como este muito desagradável drama policial. Maureen tenta matar Gloria e assume a culpa. Porque, se tudo leva a crer que não foi ela? Gloria Grahame, que não era bonita, foi uma das mais sexys atrizes da América. Há algo nela de perverso, de doido, de proibido. Na vida real ela foi casada com Ray, que era homossexual, e se envolveu em escândalos sexuais na época. Este filme é quase salvo da vulgaridade por sua presença magnética. Mas na verdade é mais um irritante e mal feito filme do superestimado Ray. 3.
   TUDO PELO PODER de George Clooney com Paul Giamati
Clooney surgiu no meio dos anos 90 como a promessa de um novo Cary Grant. Ele tinha o dom de ser engraçado e de misturar esse humor a um charme raro. Mas a partir do século XXI ele começou a querer ser "mais", e se embrenhou na senda dos filmes "relevantes e úteis". Bem, um filme como este pode ser útil, e é bem dirigido. Mas não consigo me envolver com personagens que não me interessam e situações que nunca me comovem. Recordo de "Bom dia Boa Sorte" ( era esse o nome? ), uma das coisas mais insuportáveis que já vi. Há um tipo de filme feito hoje que bebe tudo no estilo que Lumet e Pakula faziam nos anos 70 ( década em que Clooney foi teen ), filmes tipo "Todos Os Homens do Presidente" ou " Network". Não consigo gostar. ( Apesar de Network ser uma obra-prima ). Nota 4.
   CHARADA de Stanley Donen com Audrey Hepburn, Cary Grant, Walter Mathau, James Coburn
Da primeira a última cena, este é um filme delicioso. A música de Henry Mancini começa nos coloridos letreiros de abertura, vem uma cena nos Alpes nevados e Audrey recebe um close em seu Givenchy. Cary entra em cena, rabugento e então... pronto! O filme te leva numa trama hitchcockiana sobre marido morto e montes de bandidos atrás da viúva. Todo mundo mente neste filme, e as cenas sempre misturam policial com humor, romance e suspense. Donen começou dirigindo musicais ( Cantando na Chuva, Sete Noivas Para Sete Irmãos ), e depois se tornou um grande diretor de filmes sofisticados. Ele faz com que as cenas dancem. Cary se achava velho demais para o papel ( era 25 anos mais velho que Audrey ) e isso acabou por dar um charme extra ao filme, acompanhamos Audrey tentando o seduzir e ele sempre a lembrando de sua idade e resistindo. Com a excessão de My Fair Lady, é este o filme onde ela está mais bonita e há ainda uma galeria de vilões espetaculares, todos originais e muito bem feitos por atores que se tornariam estrelas em seguida. Neste século ele foi refilmado por Johnathan Demme com Mark Wahlberg fazendo Cary e Thandie Newton em lugar de Audrey.... preciso dizer no que deu? Com suas cenas de uma Paris noturna, seus improvisos entre Audrey e Cary, seu clima chic, é um dos meus mais queridos filmes. Desde que o descobri, na verdade foi meu irmão que o viu antes e me deu a dica, é um caso de amor eterno e bem resolvido que tenho: entre eu e um filme chamado Charada. Nota Dez, claro.
   WONDER BAR de Lloyd Bacon com Al Jolson e Dolores del Rio
Ah....os anos 30....eis aqui um tipico produto pop da época: tolo, futil, vazio....e tingido de ouro. Esquecemos que a década de 30  é a década da grande depressão, então Hollywood fazia filmes para tentar curar essa deprê. E valia tudo. Aqui temos piadas, dança, sexo, música, romance e uma exagerada e encantadora breguice. Busby Bekerley coreografou dois números que são uma viagem de LSD cafona. No primeiro moças desfilam em formações geométricas, tudo com muito prata e plumas; no outro ( bastante racista ), um negro pobre morre e vai pro céu. Mas é um céu de negros, onde eles comem costelas de porco, jogam dados e dançam. Bem...nos EUA de hoje essa cena é censurada, mas não vi nada que Mussum ou Macalé não fizessem. Se a gente deixar isso pra lá, é um filme doido, ebuliente, mal interpretado, picareta e absolutamente delicioso!!!! Todo passado numa boate francesa, tem gigolôs, dançarinas, maridos em férias e etc etc etc. Dolores del Rio foi uma das piores atrizes do mundo, e ao mesmo tempo é uma das mais bonitas e sensuais já filmadas. Suas cenas com Ricardo Cortez ( adoro esses nomes ) são aulas de sexy camp. Relaxe e se divirta!!!!  Nota.... sem nota.
   IWO JIMA de Allan Dwan com John Wayne
É o filme que deu a primeira indicação de ator para Wayne ( ele só teve duas. A segunda só em 1969, que foi quando venceu. O fato de não ter sido indicado por Rastros de Ódio e Red River demonstra o preconceito de Hollywood com o western ). Aqui ele é um sargento durão, do tipo odioso, que treina jovens soldados para a guerra no Pacifico. Em seu gênero ele é OK. As cenas de guerra são muito boas, cheias de imagens da guerra real ( documentários misturados a cenas de ficção ). É sempre bom ver John Wayne nesse tipo de papel, o durão seco que tem um lado humano escondido. É neste filme que se filma a lenda: os soldados erguendo a bandeira em Iwo Jima, tema de filme de Clint. Nota 6.
   MAN OF THE WORLD de Richard Wallace com William Powell e Carole Lombard
Os filmes sonoros em seu começo foram combatidos por causa de filmes como este. Enquanto os filmes silenciosos tinham uma fluidez mágica ( como demonstra Aurora ), os falados, em seu primeiro ano, eram parados, sem movimento, congelados. Isso se devia ao problema de captar o som e ao equipamento pesado. Peter Bogdanovich diz que o som veio no pior momento, pois em 1929 o filme silencioso atingia seu auge. Powell é aqui um golpista que se apaixona por vitima de seu golpe. O filme é amargo, de final nada feliz. Mas está longe de ser bom, vale só como curiosidade. Nota 2.
   AS BONECAS de Dino Risi, Luigi Comencini, Franco Rossi e Mauro Bolginini com Virna Lisi, Elke Sommer, Monica Vitti e Gina Lollobrigida
No auge de seu cinema ( anos 40/70 ), a Itália, além de seus mestres tinha uma segunda divisão de diretores muito famosos. Gente como Lattuada, Campanille, Zampa, Petri e Indovina. E principalmente esses quatro citados acima. Essa segunda divisão está hoje esquecida, então se tem a impressão de que o cinema da época era só Fellini, Antonioni, Monicelli, De Sica, Pasolini, Visconti, Zurlini e Rosselini. Moda na época era a de fazer filme em episódios. Voce contava quatro histórias, totalmente independentes, com direção e elenco diferentes. Neste tipico exemplo do estilo, temos quatro histórias cujo tema seria o sexo. E quatro simbolos sexuais são escalados. O filme é, visto hoje, ingênuo. Pior, pouco engraçado. Na época já era um filme tolo, e o tempo o piorou. Virna Lisi foi das primeiras atrizes que idolatrei. Eu a achava a coisa mais linda do mundo. Vista agora mantenho a opinião, ela era belíssima! Elke Sommer, que era outra que eu adorava, já nem tanto. E Gina, a mais famosa dentre elas, continua o que sempre foi, bella!!! Mas é Monica Vitti que surpreende. Seu segmento é o melhor ( tem um ator que imita Brando que é impagável ) e ela é a mais bonita. Antonioni, que foi casado com ela, sempre conseguiu a deixar mais feia em seus filmes. Aqui, longe de seu marido, vemos o rosto de Monica como eu o recordava: magnificamente belo, uma perfeição de cabelos, olhos e boca. O rosto dela é o melhor desse filme tão chato. Nota 2.
   MUPPETS, O FILME de James Frawley
Atenção!!!! Não é o novo filme! Este é o primeiro, de 1979. Tem participações de Steve Martin, Orson Welles, Bob Hope, James Coburn, Telly Savallas, Mel Brooks e Richard Pryor. Caco é achado no pântano por um caçador de talentos. Vai para Hollywood, e no caminho vai se unindo a todo o grupo Muppet. As canções, excelentes e emocionantes, são de Paul Willians, uma delas ganhou o Oscar. Jim Henson criou a coisa toda e Frank Oz, hoje um grande diretor de comédias, o ajudou. O filme é deliciosamente on the road, Caco indo estrada afora até Hollywood.
Jim Henson foi um gênio. Revi o filme ontem. Ele pegava um pedaço de pano verde, enfiava a mão dentro, e só com isso conseguia nos fazer crer que aquilo era vivo, tinha personalidade e pensava. Na simplicidade em que ele trabalhava, os olhos dos bonecos não se movem, uma das mãos é paralisada, e mesmo desse jeito a gente embarca naquilo. Isso é genialidade! É o cara que pega um pedaço de madeira e um pincel e cria vida. Um cara que pega papel e pena e faz um universo. E é Henson, que pegava alguns metros de tecido e fazia um ser vivo.  Cresci vendo Vila Sésamo. Recordo em detalhes a estréia no Brasil. Eu voltei correndo da escola pra não perder e quando terminou fiquei contando as horas pra ver o próximo. Quando Muppet Show estreiou aqui, cinco anos depois, eu já me achava grande demais para Henson ( tinha 13 ). Minha paixão por ele é via Vila Sésamo. Os Muppets vim a descobrir já adulto, em vhs e em reprises na TV. Jim Henson sabia tudo sobre crianças, sobre o que elas pensam, querem e sentem. Sua morte fez com que o mundo ficasse muito mais pobre.
Todos aparecem aqui. Gonzo é meu favorito e até os dois velhos estão presentes. Emocione-se!

BILLY WILDER/ GAINSBOURG/ FORD/ OSHIMA/ SIRK/ HELEN MIRREN

CUPIDO NÃO TEM BANDEIRA de Billy Wilder com James Cagney
De todos os clássicos diretores de Hollywood ( Ford, Hawks, Wyler, Stevens, MacCarey ) ninguém tem tantos filmes decepcionantes como Billy. Sim, ele é um cara genial, quando acerta, mas seus filmes fracos são mais irritantes que os filmes menos bons da turma citada acima. Este fala de executivo da Coca-Cola que trabalha em Berlin nos dias da construção do muro. É uma comédia boba. As piadas vêm e erram o alvo. O resultado é histérico. Nota 3.
A ÁRVORE de Julie Bertuccelli com Charlotte Gainsbourg
Fujam! Na Austrália morre um jovem pai em ataque cardíaco junto a árvore. Essa enorme e belíssima árvore é o centro e interesse único do filme. Pena que nada de interessante ocorra depois dessa tragédia. Quem quiser que encontre um sentido nesta coisa chata e lenta, se encontrar, esse sentido será acidental, o filme é tão cheio de "arte" que tudo pode ter um significado. Inclusive o significado da picaretagem. Nota 1 ( um ponto pela bela árvore ).
DONOVAN'S REEF de John Ford com John Wayne e Lee Marvin
A vida de um dono de boteco em ilha do Taiti. Acontece a visita de uma herdeira e mais nada. Ford, após cinquenta anos filmando. mostra sinais de cansaço. O filme é flácido, solto demais. Uma bela paisagem, atores gostáveis, mas nada mais que isso. Nota 3.
O MERCADOR DE ALMAS de Martin Ritt com Paul Newman, Joanne Woodward, Orson Welles, Anthony Franciosa
Belo exemplo de cinema adulto dos anos 50. Newman faz seu tipo mais habitual: o cara malandro, egoísta e carismático. Esse cara penetra em família do sul e acaba por se tornar herdeiro do "dono" de toda a cidade: Welles. Filhos que odeiam o pai, sensualidade reprimida, poder do dinheiro, homossexualismo, há de tudo um pouco. É uma diversão completa, um prato rico e gorduroso. Joanne está muito bem como uma solteirona. Nota 8.
O TÚMULO DO SOL de Nagisa Oshima
Em Osaka, anos 60, gente das ruas vende sangue para comer. Mais prostituição, drogas e Oshima, um diretor sempre violento. O filme é representante da Nouvelle Vague japonesa. Cores berrantes, câmera nervosa e cortes abruptos, incisivos. Oshima seria o centro desse movimento. O filme, um dos primeiros dele, é irregular, mas supreende sua modernidade. Nota 5.
TUDO QUE O CÉU PERMITE de Douglas Sirk com Jane Wyman e Rock Hudson
Muito melhor do que eu esperava. Sirk, dinamarquês rei do melodrama em Hollywood, faz aqui um dilacerante retrato da classe média da época ( terá mudado tanto assim desde 1955 ? ). Jane Wyman é uma viúva com dois filhos, cheia de amigos porém solitária. Ela se envolve com seu jardineiro, um jovem livre, que tenta seguir a filosofia de Thoreau. Ninguém aceita isso e os filhos ( quase adultos ) impedem o casamento. Só, ( e é chocante se observar como na época ver tv era considerado ato de perdedores, de gente sem vida social ), ela vê que caiu numa armadilha, os dois filhos seguem sua vida e ela fica à parte de tudo. Todo esse drama é conduzido de uma forma tão leve, fina, vibrante que é impossível resistir. Voce embarca na novelona. Fassbinder o refilmou na Alemanha e Almodovar sempre o cita ( além de Todd Haynes ). Rock Hudson era um canastrão, mas ninguém sabe ser mais tão galã. Nota 8.
MANON de Henri-Georges Clouzot com Cecile Aubry e Serge Reggianni
Clouzot é um dos maiores diretores que a França já teve. Fez pelo menos quatro obras-primas, mas este não é uma delas. Conta a história de mocinha muito "livre" que trai seu amor com vários homens de poder. O namorado sempre descobre, e sempre a perdoa. O final, hiper-romantico, é em deserto. O filme se vê com interesse, mas está muito abaixo do melhor Clouzot. Nota 5.
A RAINHA de Stephen Frears com Helen Mirren e Michael Sheen
Pra que ver este filme? Qual o interesse em se rever os dias da morte e do enterro de Lady Di? Tudo visto pelo ponto de vista de Tony Blair e da Rainha...pra que? Bem...o filme é estupendo, uma aula de direção e de interpretação. Stephen Frears, diretor da geração de Ridley Scott, mas que ao contrário de Scott, optou sempre pelo risco ( é dele a obra-prima Ligações Perigosas e ainda Minha Adorável Lavanderia, Alta Fidelidade, e mais uma infinidade de pequenos filmes instigantes ), dirige com uma eficiência que beira o milagre. Penetramos na mente de Elizabeth, conseguimos sentir o absurdo daquilo tudo, e melhor, não sabemos o que pensar. Ficamos desorientados. Mas há Mirren. Talvez seja este o desempenho feminino da década. Em personagem dificílimo, contido, frio, distante ( e tão cotidiano ) Helen cria uma alma, não imita. A rainha que ela nos mostra vai lentamente tomando consciência de sua derrota, do fim de uma ilusão. ( " Eu me recolho e nada declaro, sou sincera, enquanto isso essas pessoas que jamais a conheceram estão morrendo de dor, e eu é que sou a doida" ). Pois o filme é sobre isso: os súditos passam a querer lágrimas, frases pomposas, a exibição pornográfica de luto. Quando Di morre e a rainha se esconde, pois essa é a tradição, luto não é show, sentimentos devem ser contidos e discretos; o povo passa a odiá-la. O filme tem duas cenas de antologia: a hora em que ela lê as mensagens nas flores colocadas nos portões do palácio ( todas ofensivas a ela ) e a maravilhosa cena com o cervo, quando ela percebe a beleza que mora nele e o risco de ser caçado. Esse animal, que será morto lentamente e decapitado ( decapitação é o fim de todo rei deposto ) representa a bela elegância de uma época que morrera muito tempo antes, época que Elizabeth só então percebe ter chegado ao fim. De certa forma, Blair a salva dessa decapitação e ele acaba tomando seu partido. O filme então, feito pelo esquerdista Frears, tem a sabedoria de reconhecer que perante os novos tempos de midia e falta de respeito, ( são magnificas as cenas de telejornais da época, que mostram Lady Di tão falsa em sua "dor" e o povo deseperado com sua morte; e ainda vemos no enterro o absurdo de Elton John, Tom Cruise e Spielberg serem mais "gostados" que a familia de Di e de Charles ) a rainha ainda representa algo de decente, correto e de verdadeiramente real. O filme torna-se então imenso. Que admirável surpresa! Nota 9.
TERRA BRUTA de John Ford com James Stewart e Richard Widmark
Ford chamava este seu filme de "bela porcaria". Longe disso. Apesar de ele quase não ter história ( fala algo sobre brancos resgatados de Comanches ), o filme tem um ar de improviso, de alegre camaradagem, que acaba por encantar. Há quem o chame de obra-prima. Não é. Mas ele sem dúvida é invulgar. Nota 6.

JACKIE CHAN/ OTTO PREMINGER/ GONDRY/ THOMAS ANDERSON/ PECKIMPAH/ CLINT

CITY HUNTER de Wong Jing com Jackie Chan
Um muito jovem Chan, num filme passado em navio. Ele luta pouco e o filme é Os Trapalhões made in Hong Kong. Tem cenas inacreditáveis! É o tipo de filme que quando resolve ser engraçado não teme a bobice. Eu me diverti. Mas está mais pra circo que pra filme. Nota 5.
SIDE STREET de Anthony Mann com Farley Granger
Noir de primeira. Um carteiro rouba grana de bandidão e se perde sem saber o que fazer depois. Devolve a grana? Gasta? Distribui? A vida do cara vira um inferno! Mann sabe tudo: o filme tem suspense, drama, ação e belas imagens. Pena Farley ser tão limitado ( mas não consegue estragar o filme ). É bom para quem ainda não descobriu o noir. Nota 8.
PASSOS NA NOITE de Otto Preminger com Dana Andrews e Gene Tierney
Cada vez mais me convenço que o paraíso do cinéfilo é o filme noir. Aqui, um policial psico mata um bandido e tenta esconder esse crime. Ao mesmo tempo se apaixona por moça simples. Há um soberbo clima de paranóia e Dana está muito bem. Seu rosto é maldoso e torturado. Preminger foi um muito bom diretor que Hollywood esnobava. Adoravam seus filmes, detestavam o homem. De todo gênero de filme, é o cinema noir o que menos envelhece. E é o mais difícil de ser refeito hoje. Um pequeno clássico. Nota 9.
PRIMAVERA, VERÃO, OUTONO, INVERNO...de Kim-Ki Duk
Vamos lá. Existem filmes, como os de Aldrich ou Tarantino, que nada nos ensinam, nada têm de nobre. Mas que são cinema de primeira. Puro cinema. Esses são os grandes diretores. Artistas que se apoiam apenas no próprio veículo, nada pegando da literatura, do teatro ou da tv. Gente como Hitchcock, Ford ou De Palma. Mas existem aqueles que não são tão afinados com o puro cinema, que não fazem filmes tão excitantes, mas que enchem a tela de referências, de toques filosóficos, poluem o cinema de literatura ou de filosofia. São esses que fazem os filmes mais chatos do mundo, mas que às vezes nos fazem pensar. Este filme, como cinema puro, é apenas uma bela coleção de fotos. Mas ele faz pensar, faz viajar em idéias. Para o que se faz hoje, tá bom demais. Nota 7.
ADÚLTERA de Claude Autant-Lara com Gerard Philipe e Micheline Presle
Eis o tipo de filme que Godard/Truffaut/Chabrol adoravam esculachar nos Cahiers du Cinema. Dá pra se imaginar suas páginas furiosas sendo escritas, enquanto esta lenga-lenga sonolenta rola na tela. O filme é pesado, morto, escuro, feminino ( no pior sentido ), velho, insuportável. E todo metido a arte, tem a ilusão do bom-gosto, tenta ser belo, superior.......Não é a toa que eles amavam tanto o cinema noir e o western!!!!!! Nada é menos western e noir que esta coisa modorrenta!!!!! Mereceu cada chibatada que os jovens cineastas lhe deram. Nota Zero.
REBOBINE POR FAVOR de Michel Gondry com Jack Black
Mas Gondry não era um gênio? Onde? Como desculpar um filme tão "esperto" como este? Seu humor parece piada de fim de festa de casamento, suas sacadas são as sacadas das pegadinhas do Faustão. Um lixo que chega a ser constrangedor. Parece um filme ao qual não fomos convidados a assistir, uma brincadeira entre amigos. BáaaaaH!!!! Nota Zero.
SANGUE NEGRO de Paul Thomas Anderson com Daniel Day-Lewis
Anderson, ex-assistente de Altman, diz ter assistido toda noite a O TESOURO DE SIERRA MADRE enquanto filmava este imenso mural sobre a ambição. Foram mais de sessenta vezes que Bogart e Huston acompanharam as noites de Anderson. Deu certo? Sem dúvida é um filme invulgar. É ambicioso, cinema puro, sem popices, sem falsos toques de "genialidade". Ele é doloroso, é bonito, e tem um ator em atuação inspirada. Mas para cinéfilos ele trai várias influências e isso o esvazia um pouco. A gente percebe de onde foi tirada cada cena. Mas... e daí? pelo menos ele tem o gosto de pegar essas cenas de fontes puras e não de video-games ou da tv. Um comentário: o povo mais animadinho adora os filmes de Fincher, Gondry e Nolan. Assim como os metidos adoram Trier, Lynch e Kar Wai. Prestem atenção em Joe Wright, Alexander Payne, Todd Haynes, Irmãos Coen e James Mangold. Em 2030 é o que ficará. E Paul Thomas Anderson também. Nota 8.
PISTOLEIROS DO ENTARDECER de Sam Peckimpah com Randolph Scott e Joel McCrea
Já ví crítico dizer que é este o melhor filme de Peckimpah. Só para quem não gosta de Sam !!!! Neste que é seu segundo filme, vemos esse estupendo diretor ainda preso, ainda contido em suas doideiras. Mas já dá pra entrever seu humor tétrico, sua violência gráfica, e seu amor pelos velhos perdedores. O que há de melhor é a relação entre os dois velhos cowboys. O filme mostra o fim de sua época. Mas perde tempo demais com jovem casal ! Repare que os coadjuvantes já se parecem com aquele tipo de cowboy sujo e meio louco dos westerns da época hippie. Este filme foi feito cinco anos antes dessa época. A forma como os bandidos morrem já é de nosso tempo, eles caem para trás, o sangue escorre e vemos que a dor existe. O poeta da violência já lutava por nascer. Nota 6.
IMPACTO FULMINANTE de Clint Eastwood com ELE e Sondra Locke
Quarta aventura de Harry Callahan. É aqui que está a famosa frase : GO AHEAD, MAKE MY DAY ! Estranho, após o maravilhoso primeiro Dirty Harry, todos os outros parecem pastiches, falsos, quase gozações. E este, o único dirigido por Clint, tem a cena mais amadora que já vi : um carro estaciona num bosque, um cara desce, e vemos refletido no vidro do carro um rosto sorrindo e uma câmera ao lado!!!!!!!! Sim!!!! O câmera foi refletido pelo vidro e aparece nítido e sorrindo no filme...Como Clint não viu isso? O editor é Joel Cox, de todos os filmes de Clint, a Warner produziu, como passou uma coisa tão amadora???? É inexplicável..... Após essa cena, perdi todo o interesse pelo filme, passei a vê-lo como uma brincadeira, e fim. Clint Eastwood, ídolo meu, é um cara inescrutável. Nota 4.
SUBLIME OBSESSÃO de Douglas Sirk com Rock Hudson e Jane Wyman
Um mês atrás assisti a versão anos 30 desta história. O filme é uma babaquice melosa e insuportável. Escrevi que se Douglas Sirk tivesse conseguido salvar aquela história ridicula na sua refilmagem de 1954, eu o chamaria de gênio. Pois eis um gênio: Douglas Sirk. Este ídolo de Almodovar, Fassbinder e Todd Haynes, com ritmo, economia e objetividade, salva a história melosa, e nos dá um drama envolvente, vivo, exagerado e fascinante. O filme é tudo aquilo que toda novela de tv tenta ser, viciante. Os atores estão perfeitos e a trama, sobre playboy que se apaixona pela ex-esposa de médico por cuja morte ele foi acidentalmente responsável, acaba nos pegando, apesar de todo seu não realismo. É cinema de verdade, sem afetação, uma história sendo contada com ritmo musical, sem falhas, com tudo no lugar certo. Sirk sabe. Nota 9.

CABARET/ POLANSKI/ WILL SMITH/ REED/ SIRK/ ZEFFIRELLI

DESEJOS HUMANOS de Fritz Lang com Gloria Grahame

Não funciona. Talvez por eu ter visto o original de Renoir. Falta alguma coisa neste drama noir sobre ferroviário traído pela esposa. Apesar da excelente Gloria os personagens estão perdidos. Não nos envolve. Uma pena. Nota 4.

EU SOU A LENDA de Francis Lawrence com Will Smith e Alice Braga

Refilmagem simplificada de um cult com Charlton Heston. Gostei muito ( apesar do final cretino ). Will é a grande estrela de nossa época. Em recente pesquisa foi descoberto ser ele o único ator vivo que garante bilheteria. Esta aventura cumpre tudo o que se propõe. E melhor: não se estica. O final bobíssimo estraga muito. Mas é bom dvd para tarde de chuva. Nota 7.

TARAS BULBA de J. Lee Thompson com Tony Curtis e Yul Brynner

Voce espera uma aventura e o que vem é um desajeitado filme romantico cheio de musica. Não tem clima, suspense e as cenas de batalha são mal filmadas. A canastrice de Yul é mal usada e Curtis não tem o que fazer. Nota 2.

OS PRIMOS de Claude Chabrol com Gerard Blain e Jean-Claude Brialy

Primeiro sucesso de Chabrol. Mas é um filme árido. Vemos um primo inocente que vem do campo. Vai morar com primo rico e depravado em Paris. Logo se apaixona por prostituta e assistimos sua lenta destruição. O final é cruel e perfeito, mas o filme não nos dá prazer nenhum. O que vemos são bebedeiras sem fim, sexo casual e gente mal caráter em geral. Nota 3.

IRMÃO SOL, IRMÃ LUA de Franco Zeffirelli

Deveria ser a história de São Francisco e de Santa Clara. Não é. Zeffirelli, como sempre, joga mel em tudo e o que temos é um muito colorido e belo festival de hippies sendo bons e canções pop ( sem inspiração ) de Donovan Leitch. Nada acontece no filme, e pior que isso, não há emoção nenhuma. São Francisco surge anódino, fraco, sem carisma. Um fiasco. Nota 1.

O ESCRITOR FANTASMA de Roman Polanski com Ewan McGregor e Pierce Brosnan

Ewan ficou maduro. E sua carreira não aconteceu. Seus grandes papéis não vieram. Aqui temos um típíco Polanski. Paranóia e medo. A história é meio boba, mas Roman salva o roteiro banal e sem bons diálogos, enchendo tudo com névoas, frio e seu velho Polanski touch. É um filme que nunca decola, e tem um final bastante previsível ( tipo Chinatown ). Nota 5.

WILD ANGELS de Roger Corman com Peter Fonda, Nancy Sinatra e Diane Ladd

Hells Angels andam de moto e fazem suas arruaças. O filme, tolo, é só isso. Peter Bogdanovich foi o assistente de direção. É um filme que mostra como Hollywood está sempre dez anos atrás das outras artes. Nota Zero.

TRAPÉZIO de Carol Reed com Burt Lancaster, Tony Curtis e Gina Lollobrigida

Aula de direção em cinema. História banal de trapezista ferido que ensina profissão a novato e briga com esse pupilo pelo amor de mulher ambiciosa. Mas essa baboseira funciona! E muito. Há algum mistério aqui e logo sentimos atração pelo herói veterano ( o sempre soberbo Lancaster ) e começamos a gostar daquele circo. O cenário parisiense é tudo aquilo que queríamos que Paris fosse e o filme se deixa ver com admirável prazer. O inglês Reed sabia tudo sobre filmes! Palmas pra ele!!!! Nota 8.

CABARET de Bob Fosse com Liza Minelli, Michael York, Joel Grey e Marisa Berenson

Gênio. Fosse, com simplicidade, consegue mostrar o clima nazi na Berlin de 1931. Mais que isso, nos convence que nosso mundo ainda é aquele. E, milagre, nos diverte! O filme é belíssimo. Fotografia de Geoffrey Unsworth, e músicas inesquecíveis de Kander e Ebb. Há uma cena com garoto nazista cantando que explica o porque da Alemanha ter caído nessa praga. Todos os atores estão excelentes. Mas a Sally de Liza brilha glamurosamente. É bíblia gay. Todo seu mundinho está criado neste filme glitter. Fosse, gênio bailarino hétero, sabia criar movimentos sexy, coreografias que contam o filme, tiradas demoníacas. Joel Grey é um mestre de cerimonias antológico. Filme obrigatório inclusive para quem não gosta de musicais. O final é pura genialidade. Nota UM MILHÃO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

ALMA EM PÂNICO de Otto Preminger com Robert Mitchum e Jean Simmons

Jean caminhava para ser uma super-star quando fez este filme produzido por Howard Hughes. Ao não seder a cantada de Hughes teve sua carreira truncada. Não valeu a pena. Jean e Mitchum são maravilhosos, mas o filme não funciona. É pesado, não flui. Tornou-se famoso pelo bom final ( ele melhora nos últimos vinte minutos ). Nota 2.

PALAVRAS AO VENTO de Douglas Sirk com Rock Hudson, Lauren Bacall, Robert Stack e Dorothy Malone

História: dois amigos, um trilionário, se apaixonam por moça. O mais rico casa com ela. Ele é alcoólatra e impotente. O mais pobre talvez seja gay. A irmã do milionário é apaixonada pelo pobre e é ninfomaníaca. Tudo termina em morte. Isso é Sirk, rei do melô. Mestre de Almodovar, Fassbinder, Haynes, Lee e Kar Wai. Cores exageradas, cenários fake, atuações canastronas, música dramática. Funciona maravilhosamente. O filme nunca deixa de correr. Coisas acontecem, voce se envolve, se diverte, vibra. Assistir este filme é um enorme prazer. Mas atenção : se em sua época o público o amava e a crítica o detestava, hoje é o público normal que não gosta e são os cinéfilos que vibram. Porque? Após anos de TV, o público verá nele apenas mais um Dallas ou Dinastia, enquanto o cinéfilo perceberá sua ironia macabra e seu deboche sutil. È um filme perfeito. Não tem um só minuto ruim. Nota DEZ!!!!!

FREUD x DOUGLAS SIRK

No cinema dos anos 50 Freud era rei. Os filmes ditos sérios eram todos freudianos. Impulsos, obssessões, traumas de infância, pulsões de morte, ninfomania. Todo drama humano era explicado pela cartilha freudiana, e nesses filmes "de conteúdo", nada nunca era inocente. Tudo tinha um porque, um sentido traumático, tudo era solene.
Peças de Tennessee Willians e de William Inge eram idolatradas e os filmes de George Stevens, Elia Kazan e William Wyler eram amados pelo público analisado, culto e sofisticado. Eram filmes que mostravam a tal vida real.
Douglas Sirk estava pouco se lixando para tudo isso. Seus filmes eram berrantemente coloridos e jogavam fora toda a cartilha freudiana. Ele exagerava traumas, idolatrava absurdos, amava frases pomposas e dispensava a verossimilhança. O negócio dele era o melodrama e nesse melô, como ninguém antes, ele escancarava a doença da elite americana. Sirk inventou a novela. Toda série séria bebeu em sua fonte e as novelas da Globo ainda o seguem. Mas ele, por ser o mestre, foi além: ele gargalhava com essa profusão de homos não assumidos, ninfo desesperadas e pais incestuosos. Canastralizava as atuações e falsificava os cenários. Fazia de tudo um grande fake e exibia assim o fake geral da América.
O público-povão da época o amava. Seus filmes estouravam bilheterias e os críticos o odiavam. Viam nesses filmes apenas a superficie: atuações caricatas e roteiros sem sentido. Não tinham o humor para ir além da aparencia.
Hoje ele é desprezado pelo público. Esse público vê nele apenas um autor de dramas bregas. E é amado por cinéfilos e cineastas, que vêem nele um mestre inteligentíssimo, sutil, ferino, letal.
Fassbinder dizia ter aprendido tudo com ele, e Almodovar diz amar seus filmes. Diz Pedro: "- Já assisti Palavras ao Vento milhares de vezes. E mal posso esperar pela próxima!"
Ainda se percebe sua influência nos filmes de Todd Haynes, Ang Lee e de Wong Kar Wai. Ontem assisti um filme seu pela primeira vez. E confesso, é viciante. O drama, divertidissimo, vai acontecendo sem ceder, coisas ocorrem sem parar, tudo é rápido, grandiloquente e colorido. Lindo. Entretenimento puro e perfeito.
Douglas Sirk começou na Alemanha dirigindo teatro sério. Fugiu de Hitler e em Hollywood fez faroeste, musical e noir, até se especializar em dramas da Universal. Super sucessos que foram atacados pelos criticos dos anos 50/60. A partir dos anos 80 foi reabilitado e hoje é considerado chic e genial.
Viciei. Uma delicia proibida que "não fica bem gostar". Um Almodovar americano/alemão. E ainda tem Rock Hudson! Haja ironia........