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TUMBLEWEED CONNECTION, ELTON JOHN. O MAIS BELO FILHO DE MUSIC FROM BIG PINK.
Primeira coisa que voce vai estranhar neste disco: não há nenhum hit. Todos os discos de Elton têm ao menos um hit, mesmo aqueles gravados em suas fases ruins. Alguns possuem até mesmo 5 ou 6 hits. Afinal, ele é, depois de Elvis Presley, o maior hitmaker solo da história. Mas não aqui. Em 1970 Elton lançou 3 albuns, sim, 3 fucking albuns, e este é o mais pessoal, o mais complexo e por que não?, o melhor. O clima do disco já começa pela capa, ela retrata em sépia a frente de um cinema de cidade pequena do sul dos USA. Feito antes de A ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA, o filme marco de Peter Bogdanovich, este album tem o espírito do filme melancólico e derrotista de Peter. É um disco feito por dois ingleses, Elton e Bernie Taupin, mais americano que existe. Bernie, o letrista que ama os USA, escreveu letras sobre western, sobre o sul, sobre amigos e solidão, sobre despedidas e sobre rock, tudo após ouvir o disco MUSIC FROM BIG PINK, de The Band ( há disco na história que tenha dado mais grandes filhos que este? O primeiro album de The Band é o progenitor de duzias de grandes sons ). Elton pega essas letras e as casa com melodias que remetem ao disco dos canadenses sem jamais deixar de parecer um disco de Elton John. São músicas plenas de sabedoria ( e pensar que Elton tinha apenas 23 anos ), cheias de beleza antiga, eterna, sólida, indestrutível. Não há uma só faixa que não brilhe como ouro e não há momento menos que sublime. Sim, é um disco perfeito. ------------------- Elton e Bernie sempre retornariam ao tema de Big Pink, o western, o cowboy, a estrada vazia, mas nunca mais de modo tão inteiro como aqui. Pode-se dizer que este é o único disco temático de Elton. E o tema é o maior: a vida.
TUPELO HONEY- VAN MORRISON, UMA VOLTA À VIDA
Penso em quantas pessoas que vivem por aí foram concebidas ao som de Van Morrison. O cantor irlandês ( de Belfast ) canta a trilha do amor, sempre, e este é seu disco mais feliz. Ouvir Tupelo Honey é escutar a mudança de vida, o encontro com um novo amor, a volta da crença que em realidade nunca se fora. Morrison está feliz e é um prazer ouvir isso.
O disco abre com um de seus hits, Wild Night vendeu bem em 1972 e em 1994 até mesmo John Mellencamp o regravou. Som veloz, dançável, saltitante. E é por aí que ele corre. Cada faixa conta um aspecto desse reencontro. Morrison encontra uma mulher, com ela vem a vida nova e ele se sente abençoado. Para contar isso ele se cerca de um time afiado de vinte músicos, dentre eles o venerável Connie Kay, que dá a obra um leve sabor jazzy.
Mas não pense que ele é jazz, o disco é filho do encontro de Morrison com The Band. Tupelo Honey soa como The Band em versão irlandesa, é folk com soul, mas um pouco mais melódico e bastante menos rock`n`roll. Onde o grupo do Canadá celebra a amizade, o irlandês festeja um casal. Robbie Robertson e seus amigos parecem sempre estar numa estrada, Morrison vive num quarto. Mesmo que aqui ele esteja acompanhado e de janelas abertas para o sol.
É um disco feito para se ouvir à lareira. Com calma, com sobriedade e com amor.
O que será concebido então depende de voces dois. Um filho, um poema ou uma bela recordação. Aproveitem.
O disco abre com um de seus hits, Wild Night vendeu bem em 1972 e em 1994 até mesmo John Mellencamp o regravou. Som veloz, dançável, saltitante. E é por aí que ele corre. Cada faixa conta um aspecto desse reencontro. Morrison encontra uma mulher, com ela vem a vida nova e ele se sente abençoado. Para contar isso ele se cerca de um time afiado de vinte músicos, dentre eles o venerável Connie Kay, que dá a obra um leve sabor jazzy.
Mas não pense que ele é jazz, o disco é filho do encontro de Morrison com The Band. Tupelo Honey soa como The Band em versão irlandesa, é folk com soul, mas um pouco mais melódico e bastante menos rock`n`roll. Onde o grupo do Canadá celebra a amizade, o irlandês festeja um casal. Robbie Robertson e seus amigos parecem sempre estar numa estrada, Morrison vive num quarto. Mesmo que aqui ele esteja acompanhado e de janelas abertas para o sol.
É um disco feito para se ouvir à lareira. Com calma, com sobriedade e com amor.
O que será concebido então depende de voces dois. Um filho, um poema ou uma bela recordação. Aproveitem.
O MAIS HUMANO DOS ROCK STARS. ERIC CLAPTON, A AUTOBIOGRAFIA.
Ler a bio de Clapton não é ler a bio de um rock star. Muito menos a de um guitarrista. É a biografia, muito sincera, de um homem. Desde o começo de sua vida Eric teve apenas uma coisa em mente: construir uma vida. Jamais ele desejou ser uma estrela. Nesse processo, doloroso, ele se desconstruiu sempre. Fugiu do estrelato, fugiu do virtuosismo instrumental e na pior das batalhas, fugiu de sua própria vida. Chegou a uma situação de absoluta destruição. E sobreviveu. O foco é na luta interior, o rock é a segunda, às vezes terceira linha.
Clapton nasceu pobre no subúrbio. Mato e espaço. Sua timidez vem do sentimento de se estar sobrando. Quem ele pensava ser sua mãe era na verdade sua avó. A verdadeira mãe lhe foi apresentada como irmã. O jogo só foi revelado na puberdade. A verdadeira mãe, fria, nunca baixou a guarda. Mas por sorte os avós eram ótimos.
Na escola Eric evitava brigas e fugia do centro das atenções. Péssimo aluno, melhorou quando foi estudar design. Bom desenhista, um dos assuntos favoritos de Clapton em todo o livro é a moda, as artes visuais. Ele descreve roupas, móveis, tapetes e quadros. Bom gosto, dom que se reflete nos acordes que ele sempre produziu em suas guitarras.
O blues ele descobriu no rádio. Sentiu-se no paraíso. Com violões ruins aprendeu a tocar sózinho, copiando discos. Além do blues, Buddy Holly. Bandas de bar, de pub e então vêm os Yardbirds, uma banda de blues. Purista, caiu fora quando a banda estourou fazendo um tipo de versão de blues- pop. Eric não queria ser como os Beatles, queria ser Muddy Waters. Com 19 anos as ruas já apareciam grafitadas: Clapton is God.
Grava com John Mayall. Os Bluesbreakers são puro blues. Mas ele adorava Jack Bruce e quando ele o convida para tocar se forma o Cream. Ginger Baker vem pra batera e Ginger e Jack se odeiam. Tocar é bom, e eles criam a jam session no rock. Por ter pouco repertório tocam versões de dez minutos de cada faixa. Os shows são hiper concorridos, sucesso em palcos, o Cream é a banda mais fashion em 67. Clapton começa a circular com Jimi Hendrix. Os dois vão a bares onde tocam juntos, de surpresa. Ao mesmo tempo Clapton circula com a nova invenção inglesa, os hippies de sangue azul. São os filhos de barões e duques que caem na estrada e se tornam um tipo de ciganos chiques. Para essa galera, Eric Clapton é a coisa mais "In" que existe. Ele se envolve com Alice Ormsby-Gore, uma das mais ricas herdeiras (há uma foto dela, fascinante ), mas já nesse tempo, o coração dele tem dona: Pattie, a esposa de George Harrison.
O primeiro disco da The Band faz Clapton sair do Cream. Ele quer fazer aquele som. Simples, não uma ego-trip como o Cream se tornou. Forma com seu amigo Steve Winwood o Blind Faith, uma tentativa errada de ser The Band. Ao mesmo tempo toca com Lennon, Harrison, Stones e quem mais vier. Pattie o rejeita e ele vai pros EUA. Faz papel de músico de apoio na banda de Bonnie Bramlet e conhece muito pó, muita heroina e grandes músicos de lá. Namora a irmã de Pattie, traça várias fãs on the road. Vem Layla com uma nova banda: Derek and The Dominos, uma tentativa de zerar tudo. Afunda. Layla, dedicado desesperadamente a Pattie não faz com que ela largue George.
Fica 3 anos em casa, entre álcool e drogas, casos vazios. Pete Townshend o obriga a sair e faz em 74 o show da sua volta. Grava o disco do retorno, o muito bom 461 Ocean Boulevard, onde descobre o reggae. Mas desde então ( 1974 ) até o fim dos anos 80 a vida de Clapton se resume a garrafas e mais garrafas.
Nesse torpor de bebida se casa com Pattie. O que foi o desejo de sua vida se torna um inferno. Eric Clapton exibe coragem, conta tudo. A patetice, a idiotice. Ao contrário de Keith Richards ele nunca glamuriza: é o inferno. E se diverte. Eis a dificuldade: beber é divertido. E pior que isso, parar de beber significa abrir mão do que dá sentido a vida, beber.
Começa a tocar mal, grava discos ruins, bate o carro, escala edificios, ofende amigos, perde tempo. Tenta um tratamento, falha. Tentará novamente bem mais tarde. Numa cena comovente, se ajoelha e se entrega. Desiste de lutar. Se salva nesse momento. A partir daí o livro é a reconstrução da vida de um doente. Eric diz, minha prioridade não é minha música ou meus filhos, é me manter sóbrio. ( Ele não bebe a mais de 25 anos ). Tem um filho com uma italiana, esse garoto morre ao cair de uma janela. Tears in Heaven. Seus amigos do AA agradecem por ele não voltar a beber mesmo com essa dor. Eric passa a trabalhar pelos AA do mundo todo.
Uma bela vida? Uma sábia vida.
Guardo dois momentos de Eric Clapton comigo. O show para George, no aniversário de um ano de sua morte. E aqui no Brasil, recentemente. Olhar para ele é ver um homem são. Um cara que esteve lá e voltou. E que não se faz de "louco profissional". Sério. E agora, calmo, muito calmo.
Nas amenidades, Carla Bruni foi namorada de Eric nos anos 90. E foi roubada dele por Mick Jagger. Desde então Eric passou a sentir aversão por Jagger ( Jagger é famoso por roubar namoradas de amigos ). Bob Dylan, que é descrito por Eric como um cara impossível de se conhecer. E que chegou a morar numa tenda num jardim, nos anos 70. Fala do quanto Paul e John esnobavam George. Sua praia sempre foi o blues, blues de Buddy Guy, John Lee Hooker, Muddy e BB King. Duane Allman e Stevie Ray. Há também belos elogios a Hendrix, e a JJ Cale, um cara que mudou seu som.
Ao contrário do que acontece com a bio de Keith, esta dá vontade de conhecer o cara, de conversar com ele. Ele fala dos outros, não só de si, fala das artes ebulientes de 1960, de bandas como Small Faces, Who e Traffic, de pintura, de Ferraris, de muitas mulheres. E fala pouco de sua técnica, de como toca ou canta.
Disse que em 1967, filhos de nobres, belos e ricos, começaram a se vestir como ciganos, a se entupir de ideias zen e cair na estrada. Disse que Eric era o rei entre eles. Foram sábios esses nobres. Eric Clapton é o mais nobre dos ciganos e o mais humano dos rock stars.
Clapton nasceu pobre no subúrbio. Mato e espaço. Sua timidez vem do sentimento de se estar sobrando. Quem ele pensava ser sua mãe era na verdade sua avó. A verdadeira mãe lhe foi apresentada como irmã. O jogo só foi revelado na puberdade. A verdadeira mãe, fria, nunca baixou a guarda. Mas por sorte os avós eram ótimos.
Na escola Eric evitava brigas e fugia do centro das atenções. Péssimo aluno, melhorou quando foi estudar design. Bom desenhista, um dos assuntos favoritos de Clapton em todo o livro é a moda, as artes visuais. Ele descreve roupas, móveis, tapetes e quadros. Bom gosto, dom que se reflete nos acordes que ele sempre produziu em suas guitarras.
O blues ele descobriu no rádio. Sentiu-se no paraíso. Com violões ruins aprendeu a tocar sózinho, copiando discos. Além do blues, Buddy Holly. Bandas de bar, de pub e então vêm os Yardbirds, uma banda de blues. Purista, caiu fora quando a banda estourou fazendo um tipo de versão de blues- pop. Eric não queria ser como os Beatles, queria ser Muddy Waters. Com 19 anos as ruas já apareciam grafitadas: Clapton is God.
Grava com John Mayall. Os Bluesbreakers são puro blues. Mas ele adorava Jack Bruce e quando ele o convida para tocar se forma o Cream. Ginger Baker vem pra batera e Ginger e Jack se odeiam. Tocar é bom, e eles criam a jam session no rock. Por ter pouco repertório tocam versões de dez minutos de cada faixa. Os shows são hiper concorridos, sucesso em palcos, o Cream é a banda mais fashion em 67. Clapton começa a circular com Jimi Hendrix. Os dois vão a bares onde tocam juntos, de surpresa. Ao mesmo tempo Clapton circula com a nova invenção inglesa, os hippies de sangue azul. São os filhos de barões e duques que caem na estrada e se tornam um tipo de ciganos chiques. Para essa galera, Eric Clapton é a coisa mais "In" que existe. Ele se envolve com Alice Ormsby-Gore, uma das mais ricas herdeiras (há uma foto dela, fascinante ), mas já nesse tempo, o coração dele tem dona: Pattie, a esposa de George Harrison.
O primeiro disco da The Band faz Clapton sair do Cream. Ele quer fazer aquele som. Simples, não uma ego-trip como o Cream se tornou. Forma com seu amigo Steve Winwood o Blind Faith, uma tentativa errada de ser The Band. Ao mesmo tempo toca com Lennon, Harrison, Stones e quem mais vier. Pattie o rejeita e ele vai pros EUA. Faz papel de músico de apoio na banda de Bonnie Bramlet e conhece muito pó, muita heroina e grandes músicos de lá. Namora a irmã de Pattie, traça várias fãs on the road. Vem Layla com uma nova banda: Derek and The Dominos, uma tentativa de zerar tudo. Afunda. Layla, dedicado desesperadamente a Pattie não faz com que ela largue George.
Fica 3 anos em casa, entre álcool e drogas, casos vazios. Pete Townshend o obriga a sair e faz em 74 o show da sua volta. Grava o disco do retorno, o muito bom 461 Ocean Boulevard, onde descobre o reggae. Mas desde então ( 1974 ) até o fim dos anos 80 a vida de Clapton se resume a garrafas e mais garrafas.
Nesse torpor de bebida se casa com Pattie. O que foi o desejo de sua vida se torna um inferno. Eric Clapton exibe coragem, conta tudo. A patetice, a idiotice. Ao contrário de Keith Richards ele nunca glamuriza: é o inferno. E se diverte. Eis a dificuldade: beber é divertido. E pior que isso, parar de beber significa abrir mão do que dá sentido a vida, beber.
Começa a tocar mal, grava discos ruins, bate o carro, escala edificios, ofende amigos, perde tempo. Tenta um tratamento, falha. Tentará novamente bem mais tarde. Numa cena comovente, se ajoelha e se entrega. Desiste de lutar. Se salva nesse momento. A partir daí o livro é a reconstrução da vida de um doente. Eric diz, minha prioridade não é minha música ou meus filhos, é me manter sóbrio. ( Ele não bebe a mais de 25 anos ). Tem um filho com uma italiana, esse garoto morre ao cair de uma janela. Tears in Heaven. Seus amigos do AA agradecem por ele não voltar a beber mesmo com essa dor. Eric passa a trabalhar pelos AA do mundo todo.
Uma bela vida? Uma sábia vida.
Guardo dois momentos de Eric Clapton comigo. O show para George, no aniversário de um ano de sua morte. E aqui no Brasil, recentemente. Olhar para ele é ver um homem são. Um cara que esteve lá e voltou. E que não se faz de "louco profissional". Sério. E agora, calmo, muito calmo.
Nas amenidades, Carla Bruni foi namorada de Eric nos anos 90. E foi roubada dele por Mick Jagger. Desde então Eric passou a sentir aversão por Jagger ( Jagger é famoso por roubar namoradas de amigos ). Bob Dylan, que é descrito por Eric como um cara impossível de se conhecer. E que chegou a morar numa tenda num jardim, nos anos 70. Fala do quanto Paul e John esnobavam George. Sua praia sempre foi o blues, blues de Buddy Guy, John Lee Hooker, Muddy e BB King. Duane Allman e Stevie Ray. Há também belos elogios a Hendrix, e a JJ Cale, um cara que mudou seu som.
Ao contrário do que acontece com a bio de Keith, esta dá vontade de conhecer o cara, de conversar com ele. Ele fala dos outros, não só de si, fala das artes ebulientes de 1960, de bandas como Small Faces, Who e Traffic, de pintura, de Ferraris, de muitas mulheres. E fala pouco de sua técnica, de como toca ou canta.
Disse que em 1967, filhos de nobres, belos e ricos, começaram a se vestir como ciganos, a se entupir de ideias zen e cair na estrada. Disse que Eric era o rei entre eles. Foram sábios esses nobres. Eric Clapton é o mais nobre dos ciganos e o mais humano dos rock stars.
DEPOIS QUE FIQUEI ADULTO ( E FOI UMA LONGA ESTRADA ), ESTA É MINHA BANDA
Roxy Music aos 30 anos.
Stones aos 20.
Mas depois dos 40 e até o dia em que me for, The Band.
Porque?
O som. É como andar um longo caminho e de repente chegar em casa. Rock feito de esperança, de verdade e de um estranho dom de amizade. Banda amiga.
Foram grupo de apoio de Dylan. Canadenses. Eram eles que estavam com Dylan na excursão à Inglaterra em 65, que mostrou a Lennon e Jagger o quanto eles eram bobos. Em 69, quando Bob deu um tempo, eles foram pro rancho dele e gravaram uma obra-prima: The Big Pink. Eric Clapton diz que esse disco salvou a vida de muito maluco perdido. Inclusive a dele. Desde de então, Clapton tenta soar como The Band.
Robbie Robertson era o guitar. Suave, delicado, sutil. É meu guitarrista favorito de todos os tempos.
Rick Danko tinha um baixo suingante.
Richard Manuel tocava teclado. E tinha voz de dor pura. Se enforcou nos anos 80. Heroína.
Garth Hudson parecia um lenhador. Tocava tudo: tuba, piano, acordeon, sax.
E havia Levon Helm, na batera e vocal. Mestre de ritmo e uma voz maravilhosa. Morreu ontem, aos 71. Este texto é pra ele.
De 2000 pra cá, eles são de longe a coisa que mais escutei. São perfeitos para quem está Middle of Road. Poesia de volta pra casa, de achar algo pra se amar, de virilidade discreta.
Em 1976 Scorsese fez o melhor filme de rock com eles. The Last Waltz. É o paradigma das gravações de show. Martin pegou os cinco melhores diretores de fotografia, deu uma câmera pra cada um e mandou bala. O show durou cinco horas! Editado, são duas horas de encanto. The best. A série de acústicos da MTV bebeu aqui.
Levon foi ator em alguns filmes muito bons. Filmes de Scorsese, Tommy Lee Jones e Kauffman. Dentre outros. Um cara que voce simpatiza de primeira vista.
Ficam os discos, tesouros, preciosidades.
É tudo.
Stones aos 20.
Mas depois dos 40 e até o dia em que me for, The Band.
Porque?
O som. É como andar um longo caminho e de repente chegar em casa. Rock feito de esperança, de verdade e de um estranho dom de amizade. Banda amiga.
Foram grupo de apoio de Dylan. Canadenses. Eram eles que estavam com Dylan na excursão à Inglaterra em 65, que mostrou a Lennon e Jagger o quanto eles eram bobos. Em 69, quando Bob deu um tempo, eles foram pro rancho dele e gravaram uma obra-prima: The Big Pink. Eric Clapton diz que esse disco salvou a vida de muito maluco perdido. Inclusive a dele. Desde de então, Clapton tenta soar como The Band.
Robbie Robertson era o guitar. Suave, delicado, sutil. É meu guitarrista favorito de todos os tempos.
Rick Danko tinha um baixo suingante.
Richard Manuel tocava teclado. E tinha voz de dor pura. Se enforcou nos anos 80. Heroína.
Garth Hudson parecia um lenhador. Tocava tudo: tuba, piano, acordeon, sax.
E havia Levon Helm, na batera e vocal. Mestre de ritmo e uma voz maravilhosa. Morreu ontem, aos 71. Este texto é pra ele.
De 2000 pra cá, eles são de longe a coisa que mais escutei. São perfeitos para quem está Middle of Road. Poesia de volta pra casa, de achar algo pra se amar, de virilidade discreta.
Em 1976 Scorsese fez o melhor filme de rock com eles. The Last Waltz. É o paradigma das gravações de show. Martin pegou os cinco melhores diretores de fotografia, deu uma câmera pra cada um e mandou bala. O show durou cinco horas! Editado, são duas horas de encanto. The best. A série de acústicos da MTV bebeu aqui.
Levon foi ator em alguns filmes muito bons. Filmes de Scorsese, Tommy Lee Jones e Kauffman. Dentre outros. Um cara que voce simpatiza de primeira vista.
Ficam os discos, tesouros, preciosidades.
É tudo.
BUFFALO SPRINGFIELD- AGAIN / THE BAND
Richie Furay, Neil Young e Stephen Stills. Este é o segundo disco e é uma delicia.
Urgência e um riff que lembra Jumpin Jack Flash. A voz é a de Young, com suas costeletas de Wolverine. Mr Soul é um rock meio psicótico, urgente e tem um solo da guitarra maníaca de Neil Young que é inesquecível. Um detalhe: não sou fã dele. Acho Stills melhor. Neil Young oscila demais, entre excessos de pretensão e algumas canções simples e realmente lindas. Mas não é o gênio que tanta gente diz. Mr Soul é das excelentes. Uma bela porrada.
Mas o melhor deste disco são as músicas de Stephen Stills. Com seu violão de cristal, às vezes uma guitarra escorregadia. O vocal rouco de estradeiro, uma pitada de dor, uma dose vasta de espaço vazio. Stills cria o rock made in California, que infestaria os anos 70 ( ele não tem culpa ) e em seu grupo seguinte, o Crosby, Stills, Nash and Young, seria ele também o salvador da pátria. Por causa da idolatria à Young, ficou Stills desvalorizado pela história. Mas suas músicas aqui são deliciosas, e melhor, envelheceram muito bem.
Esta banda que ainda tem Richie Furay, um baladeiro pop, nunca vendeu tanto assim. Mas acabou se tornando histórica pelo futuro de seus componentes, e por ter anunciado o som que seria dominante. Pegaram o legado dos Byrds e o amplificaram. Ouça que vale muito a pena. Além do que sua influência é sentida ainda agora, quarenta anos depois.
Mas quero falar do segundo disco do grupo de Robbie, Richard, Rick, Garth e Levon. The Band. A perfeição em forma de música. É este que os levou a capa da Time.
Across the great Divide abre com alegria. Muita alegria. Vocais unidos e um piano caminhante. Está feita a comunhão, coração à coração. Daí explode o rabecão de Rag mama Rag. Caraca! É como um cavalo bêbado de bourbon!!!!! E a voz de Levon é a voz de todo cowboy !!!! Se o disco continuar nesse nivel é de matar de tão bom... The Night they drove old dixie Down. Majestática. Aqui chega a melancólica tristeza. Eles descem a estrada rumo ao sul derrotado e consolam todos os losers do mundo. É uma obra-prima. Uma daquelas para se cantar berrando e em grupo de amigos. Eis um hino!!!!!! Up on Cripple Creek é alegre. E gruda no cérebro. Voce fica por aí a cantarolando. Não sei porque ela me lembra ressaca feliz. Aquelas manhãs em que voce sorri de sua dor de cabeça e do gosto azedo. Tem um vocal desafinado do cacete. É bom demais. Jemima Surrender, a mulher que geme como um porco e ama como um cão. É suja, bem suja. O riff inicial é pesado e caótico e o vocal é gemido em alto e bom som. Eles reclamam e nos dão pura diversão: música fun. Look out Cleveland é um apelo. O disco não cai de sua altura. Como pode? Jawbone é estranha. Tinha tudo pra dar errado. Ela entra atravessada, torta, e dá certo! Vira canção pop!!! King Harvest fecha o disco. Lá nas alturas. E fecha o círculo: tem o clima de Great Divide ( mas em nada se parece ). O disco é simples e muito rico, cheio de meandros e muito pop, parece banal e é inesgotável.
Pulei as canções de Richard Manuel. When you Wake, Whispering Pines...são tristes, tristes...Richard era um poeta da melancolia. São a outra cara de The Band, a cara que os fez parar sem brigar, se aposentar quando viram que a enganação podia chegar. São canções de tristeza verdadeira.
Na capa marrom estão os cinco. Todos com barbas e cabelos curtos. Parecem confederados ou mineradores do Alasca. Nada têm de meninos ( embora jovens então ). Eles trouxeram a dor e a alegria de adultos so rock.
Urgência e um riff que lembra Jumpin Jack Flash. A voz é a de Young, com suas costeletas de Wolverine. Mr Soul é um rock meio psicótico, urgente e tem um solo da guitarra maníaca de Neil Young que é inesquecível. Um detalhe: não sou fã dele. Acho Stills melhor. Neil Young oscila demais, entre excessos de pretensão e algumas canções simples e realmente lindas. Mas não é o gênio que tanta gente diz. Mr Soul é das excelentes. Uma bela porrada.
Mas o melhor deste disco são as músicas de Stephen Stills. Com seu violão de cristal, às vezes uma guitarra escorregadia. O vocal rouco de estradeiro, uma pitada de dor, uma dose vasta de espaço vazio. Stills cria o rock made in California, que infestaria os anos 70 ( ele não tem culpa ) e em seu grupo seguinte, o Crosby, Stills, Nash and Young, seria ele também o salvador da pátria. Por causa da idolatria à Young, ficou Stills desvalorizado pela história. Mas suas músicas aqui são deliciosas, e melhor, envelheceram muito bem.
Esta banda que ainda tem Richie Furay, um baladeiro pop, nunca vendeu tanto assim. Mas acabou se tornando histórica pelo futuro de seus componentes, e por ter anunciado o som que seria dominante. Pegaram o legado dos Byrds e o amplificaram. Ouça que vale muito a pena. Além do que sua influência é sentida ainda agora, quarenta anos depois.
Mas quero falar do segundo disco do grupo de Robbie, Richard, Rick, Garth e Levon. The Band. A perfeição em forma de música. É este que os levou a capa da Time.
Across the great Divide abre com alegria. Muita alegria. Vocais unidos e um piano caminhante. Está feita a comunhão, coração à coração. Daí explode o rabecão de Rag mama Rag. Caraca! É como um cavalo bêbado de bourbon!!!!! E a voz de Levon é a voz de todo cowboy !!!! Se o disco continuar nesse nivel é de matar de tão bom... The Night they drove old dixie Down. Majestática. Aqui chega a melancólica tristeza. Eles descem a estrada rumo ao sul derrotado e consolam todos os losers do mundo. É uma obra-prima. Uma daquelas para se cantar berrando e em grupo de amigos. Eis um hino!!!!!! Up on Cripple Creek é alegre. E gruda no cérebro. Voce fica por aí a cantarolando. Não sei porque ela me lembra ressaca feliz. Aquelas manhãs em que voce sorri de sua dor de cabeça e do gosto azedo. Tem um vocal desafinado do cacete. É bom demais. Jemima Surrender, a mulher que geme como um porco e ama como um cão. É suja, bem suja. O riff inicial é pesado e caótico e o vocal é gemido em alto e bom som. Eles reclamam e nos dão pura diversão: música fun. Look out Cleveland é um apelo. O disco não cai de sua altura. Como pode? Jawbone é estranha. Tinha tudo pra dar errado. Ela entra atravessada, torta, e dá certo! Vira canção pop!!! King Harvest fecha o disco. Lá nas alturas. E fecha o círculo: tem o clima de Great Divide ( mas em nada se parece ). O disco é simples e muito rico, cheio de meandros e muito pop, parece banal e é inesgotável.
Pulei as canções de Richard Manuel. When you Wake, Whispering Pines...são tristes, tristes...Richard era um poeta da melancolia. São a outra cara de The Band, a cara que os fez parar sem brigar, se aposentar quando viram que a enganação podia chegar. São canções de tristeza verdadeira.
Na capa marrom estão os cinco. Todos com barbas e cabelos curtos. Parecem confederados ou mineradores do Alasca. Nada têm de meninos ( embora jovens então ). Eles trouxeram a dor e a alegria de adultos so rock.
SONGS FROM THE BIG PINK - THE BAND
Não é pouca coisa.
Num tempo de doidos chapados, eles eram sóbrios.
Em era de solos de guitarra e gritos revoltosos, eles propunham a delicada atitude.
Quando todos eram terminais desesperados, eles trilhavam a esperança da amizade.
E em terra de artistas egocêntricos, tudo o que eles faziam era comunitário.
Não é pouco.
Como diz a Rolling Stone, salvaram almas perdidas na confusão pós-68.
E mais.
Mudaram os Beatles, que após ouvir este disco deixaram de lado o psicodelismo e passaram a fazer canções ( há uma famosa foto em que os fab four os homenageiam ). Desfizeram o Cream, fazendo com que Clapton jogasse fora seus solos e passasse a tentar cantar.
E deram novo significado a todo o rock americano, ao lembrar aos ídolos doidos que tudo na música americana é folclore, raiz, verdade.
Com este disco eles abrem caminho para Leonard Cohen, Neil Young, Van Morrison e Gram Parsons.
Não é pouca coisa eles terem sido a primeira banda a ser capa do Times.
E terem sido os primeiros a ser homenageados em show ( Dylan, Young, Morrison, Muddy Waters, Clapton, Joni Mitchell ) quando a moda de homenagens ainda não existia. Foram filmados por Scorsese e deixaram a banda de lado, se aposentaram, ao sentir que a inspiração se fora ( como Bergman faria no cinema ). Optaram por não explorar seus fãs.
Tudo isso é The Band. Robbie, que toca guitarra como quem toca a mulher amada, com maciez, tato, carinho; Rick e seu baixo sacolejante, Garth enfurnado em efeitos de teclado, Richard com os pianos de buteco e Levon e sua batera de ritmo estradeiro. Todos liderando, todos nos vocais, ninguém como frontman.
Neste seu primeiro disco, gravado na casa de fazenda Big Pink, onde Dylan se recuperava de acidente, eles são mais pó e solidão em grupo que nunca. Eles são o melhor equivalente que o rock já produziu dos filmes de John Ford e dos poemas de Whitman. Tudo é estrada, tudo é casa em comunhão, tudo é pra valer.
Quando a primeira faixa entra, Tears of Rage, voce já sente: nada aqui é comum, mas tudo lhe será familiar. Poucos discos têm uma faixa 1 tão pouco pop, tão pra baixo, tão íntima. Eles choram uma derrota, mas no resto do disco veremos que essa derrota não os destruiu. Faixa a faixa, são onze, eles vão se erguendo, se aprumando, reconstituindo o mito do herói, e dando injeção de ânimo ao combalido rocknroll.
Seu som, escutado hoje não te impressionará por sua originalidade. Foi tão copiado desde então ( e ainda é ) que parece apenas mais uma banda fazendo outra vez esse tipo de som pop. Mas na época de Beatles, Doors e Zappa, em que todo disco era psicodélico, eles foram os criadores desse som. Adulto, masculino e sensível sem ser frouxo.
O que irá te impressionar agora é a beleza das melodias, a nobreza das vozes e a sinceridade de um grupo que transpira verdade em cada segundo de som.
Quando a música Long Black Veil irrompe ( faixa 7 ) voce desaba. Nada em rock soa tão verdadeiro. E trágico.
Ouvir este disco é então ser testemunha de uma cerimônia onde a fé é na força do homem, na inspiração da raiz e na aventura da estrada. Vindos do Canadá ao mundo, The Band será sempre a lembrança do grau máximo de dignidade em música. Pois talvez existam bandas melhores (quais? ) mas nenhuma é tão amiga.
Num tempo de doidos chapados, eles eram sóbrios.
Em era de solos de guitarra e gritos revoltosos, eles propunham a delicada atitude.
Quando todos eram terminais desesperados, eles trilhavam a esperança da amizade.
E em terra de artistas egocêntricos, tudo o que eles faziam era comunitário.
Não é pouco.
Como diz a Rolling Stone, salvaram almas perdidas na confusão pós-68.
E mais.
Mudaram os Beatles, que após ouvir este disco deixaram de lado o psicodelismo e passaram a fazer canções ( há uma famosa foto em que os fab four os homenageiam ). Desfizeram o Cream, fazendo com que Clapton jogasse fora seus solos e passasse a tentar cantar.
E deram novo significado a todo o rock americano, ao lembrar aos ídolos doidos que tudo na música americana é folclore, raiz, verdade.
Com este disco eles abrem caminho para Leonard Cohen, Neil Young, Van Morrison e Gram Parsons.
Não é pouca coisa eles terem sido a primeira banda a ser capa do Times.
E terem sido os primeiros a ser homenageados em show ( Dylan, Young, Morrison, Muddy Waters, Clapton, Joni Mitchell ) quando a moda de homenagens ainda não existia. Foram filmados por Scorsese e deixaram a banda de lado, se aposentaram, ao sentir que a inspiração se fora ( como Bergman faria no cinema ). Optaram por não explorar seus fãs.
Tudo isso é The Band. Robbie, que toca guitarra como quem toca a mulher amada, com maciez, tato, carinho; Rick e seu baixo sacolejante, Garth enfurnado em efeitos de teclado, Richard com os pianos de buteco e Levon e sua batera de ritmo estradeiro. Todos liderando, todos nos vocais, ninguém como frontman.
Neste seu primeiro disco, gravado na casa de fazenda Big Pink, onde Dylan se recuperava de acidente, eles são mais pó e solidão em grupo que nunca. Eles são o melhor equivalente que o rock já produziu dos filmes de John Ford e dos poemas de Whitman. Tudo é estrada, tudo é casa em comunhão, tudo é pra valer.
Quando a primeira faixa entra, Tears of Rage, voce já sente: nada aqui é comum, mas tudo lhe será familiar. Poucos discos têm uma faixa 1 tão pouco pop, tão pra baixo, tão íntima. Eles choram uma derrota, mas no resto do disco veremos que essa derrota não os destruiu. Faixa a faixa, são onze, eles vão se erguendo, se aprumando, reconstituindo o mito do herói, e dando injeção de ânimo ao combalido rocknroll.
Seu som, escutado hoje não te impressionará por sua originalidade. Foi tão copiado desde então ( e ainda é ) que parece apenas mais uma banda fazendo outra vez esse tipo de som pop. Mas na época de Beatles, Doors e Zappa, em que todo disco era psicodélico, eles foram os criadores desse som. Adulto, masculino e sensível sem ser frouxo.
O que irá te impressionar agora é a beleza das melodias, a nobreza das vozes e a sinceridade de um grupo que transpira verdade em cada segundo de som.
Quando a música Long Black Veil irrompe ( faixa 7 ) voce desaba. Nada em rock soa tão verdadeiro. E trágico.
Ouvir este disco é então ser testemunha de uma cerimônia onde a fé é na força do homem, na inspiração da raiz e na aventura da estrada. Vindos do Canadá ao mundo, The Band será sempre a lembrança do grau máximo de dignidade em música. Pois talvez existam bandas melhores (quais? ) mas nenhuma é tão amiga.
THE LAST WALTZ - THE BAND & MARTIN SCORSESE
No tempo em que toda banda tinha de ser a mais louca, The Band surgiu como uma ilha de sanidade. Nesse mesmo tempo em que todo grande guitarrista dava solos de meia hora, The Band tinha o mais influente guitarrista e ele fazia solos de meio minuto. Na enciclopédia do rock, da Rolling Stone, é dito que este grupo salvou a vida de milhares de caras que haviam se perdido e não conseguiam voltar das loucuras psicodélicas. E acredite, ela foi a mais amada das bandas e o primeiro grupo de rock a aparecer na capa da Time ( em 69. Os Beatles só apareceram em 70. ) Foi o grupo que fez com que Clapton largasse o Cream, e com que montes de músicos lembrassem que o importante era uma boa canção.
Eles surgiram no Canadá e tocavam de tudo. Quando Dylan resolveu fazer rocknroll os chamou para excursionar... o resto é lenda. Meu amigo Fabio diz que são considerados musicalmente um exemplo de entrosamento. Todos são cobras, mas ninguém é líder de nada. The Band tem quatro vocalistas e nenhuma estrela. É desde 2000 minha banda favorita. Eles falam fundo para aqueles que tiveram o coração partido, mas que mesmo assim não se tornaram cínicos. Eles são cowboys, eles falam de fé, de amizade, de lendas da estrada, do que é ser homem.
The Band é para homens. Não serve para meninos.
Em 1976, num ato exemplar, resolveram terminar o grupo. Eles não tinham mais nada a dizer, viajar não era mais divertido, não queriam enganar ninguém. Chamaram o amigo Scorsese e fizeram um filme desse final. THE LAST WALTZ. Na época ninguém convidava ninguém para tocar em homenagens, o show foi inovador por trazer convidados especiais. E o cenário de palco foi a base estética dos MTV acústicos.
Martin Scorsese, fã, faz as entrevistas. Os caras esbanjam simpatia. O som que eles fazem é a cara deles : amigáveis sem jamais serem engraçadinhos. São adultos, e são muito rocknroll. É bom demais ver os caras tocando. Eles sorriem todo o tempo. Totalmente anti-afetação.
Os convidados... alguns são banais como Ronnie Hawkins, chamado por ser o cara que os lançou no Canadá. Eric Clapton é engolido por Robbie Robertson. Os solos de Robbie são como Miles Davis em rock. O menos que é muito. Seu timbre é único, a guitarra de Robbie nunca grita ou chora, ela balbucia, ela sussurra, enfeitiça.
Dr. John vem com seu boogie de Orleans e a coisa pega mesmo é com os Staples. A voz daquele negro velho, como um anjo de bondade... é pra chorar de alegria.
Mas tem mais. Tem Joni Mitchell. Joni fez música com Charles Mingus. A música que ela canta é um pop-jazz absurdo : pura delícia, pura genialidade. É tudo aquilo que o Style Council tentou fazer e nunca conseguiu. O tempo foi bom para Neil Diamond. Na época do show ele era a carta fora do baralho. O brega. Ouvindo-o hoje eu o sinto como um baladeiro maravilhoso ! E que voz ! Aliás, este show é uma aula de vocais.
E vem Van Morrison. Um pequeno elfo desajeitado. Soltando aquele vozeirão e dando chutes no ar. E tudo explode quando Muddy Waters traz o voodoo do Mississipi e manda Mannish Boy. Caraca!!!!! Que do cacete ! Que voz, que momento histórico, que tesão inigualável !
E ainda tem Neil Young, que parece realmente comovido por estar lá ( quantos canadenses ! Young, Joni, Hawkins e a Band ).
E no final, ele : Bob Dylan, o cara.
Aqui um adendo :
Em 1966 Dylan ia morrer. Anfetaminas demais. Mas ele sofre um acidente de moto sério que o faz convalescer com seus amigos em Woodstock, numa casa de fazenda, a tal BIG PINK. Nessa casa, eles andam, cavalgam, e cantam no porão. Dylan renasce. Os caras que moravam na BIG PINK eram Robbie Robertson, Rick Danko, Levon Helm, Garth Hudson e Richard Manuel : THE BAND. Dylan sai de lá com o disco THE BASEMENT TAPES e a Band com seu primeiro disco, MUSIC FROM THE BIG PINK, uma das mais belas coisas já gravadas.
Voltando... eis Dylan no palco e eis como é Bob com The Band. Dylan rí !!!!!!! E milagre : até diz thank you após os aplausos ! Ele está totalmente em casa, os caras são os únicos que se casaram com Dylan. Foi com eles que Dylan enfeitiçou a Inglaterra em 1965.
Todos voltam ao palco e vemos Neil Young, Van Morrison, Clapton e agora Ringo Starr com Ron Wood fazendo backing vocals para Bob Dylan. Mas vemos todos homenageando THE BAND. Inclusive Scorsese.
Mas apesar de todos esses convidados, o melhor é a própria banda. Rick toca baixo como se fosse da Motown e canta com imensa paixão. Levon é O baterista. Sua batera é básica, mas que riquesa em pratos e em ritmo, e que voz rascante, rouca, do pântano ( Levon Helm é o único americano ). Há ainda o teclado de Richard, que cantava em falsete e que morreu em 87 de heroína... e Garth, o pacato e sério Garth, que conta a real, que o "lance deles era ficar na BIG PINK, pintando uma porta, arrumando uma janela, pescando...que essa coisa de rocknroll, de celebridade torna a música impossível...." um belo momento pego pelo microfone de Martin.
Se houver um céu para onde os amantes do rock vão, com certeza Garth, Rick, Robbie, Richard e Levon estarão no portão nos esperando. São a coisa mais nobre do pop, a total honestidade de carreira e de filosofia. Fizeram discos que trazem para sempre a luz do fim do túnel, a flor no asfalto, o sorriso no abismo.
Assim como os Stones são o sexo do rock e os Beatles são o cérebro, The Band é o coração. THE LAST WALTZ maravilhosamente filmado por Scorsese com a mesma equipe de TAXI DRIVER é digna homenagem a quem a merece.
Um toque : Faltou Gram Parsons. Não tivesse morrido em 73, o maravilhoso Parsons estaria naquele palco. Mas a musa de Gram, Emmylou Harris cantou com a Band... lindo !
A foto famosa dos Beatles de 68, todos de preto, barbas e chapéus, é uma citação deles ao novo grupo que surgia : The Band....
Apesar de assinar Tony Roxy e de o Roxy Music ser a banda que mais gostei na vida, é na The Band que me vejo. Se eu pudesse voltar a vida e pudesse escolher, eu não queria ser Bergman e nem Fellini, não queria estar na guitarra dos Stones e nem no vocal do Led Zeppelin... eu queria segurar as baquetas de THE BAND e tocar CHEST FEVER....
É isso!
Eles surgiram no Canadá e tocavam de tudo. Quando Dylan resolveu fazer rocknroll os chamou para excursionar... o resto é lenda. Meu amigo Fabio diz que são considerados musicalmente um exemplo de entrosamento. Todos são cobras, mas ninguém é líder de nada. The Band tem quatro vocalistas e nenhuma estrela. É desde 2000 minha banda favorita. Eles falam fundo para aqueles que tiveram o coração partido, mas que mesmo assim não se tornaram cínicos. Eles são cowboys, eles falam de fé, de amizade, de lendas da estrada, do que é ser homem.
The Band é para homens. Não serve para meninos.
Em 1976, num ato exemplar, resolveram terminar o grupo. Eles não tinham mais nada a dizer, viajar não era mais divertido, não queriam enganar ninguém. Chamaram o amigo Scorsese e fizeram um filme desse final. THE LAST WALTZ. Na época ninguém convidava ninguém para tocar em homenagens, o show foi inovador por trazer convidados especiais. E o cenário de palco foi a base estética dos MTV acústicos.
Martin Scorsese, fã, faz as entrevistas. Os caras esbanjam simpatia. O som que eles fazem é a cara deles : amigáveis sem jamais serem engraçadinhos. São adultos, e são muito rocknroll. É bom demais ver os caras tocando. Eles sorriem todo o tempo. Totalmente anti-afetação.
Os convidados... alguns são banais como Ronnie Hawkins, chamado por ser o cara que os lançou no Canadá. Eric Clapton é engolido por Robbie Robertson. Os solos de Robbie são como Miles Davis em rock. O menos que é muito. Seu timbre é único, a guitarra de Robbie nunca grita ou chora, ela balbucia, ela sussurra, enfeitiça.
Dr. John vem com seu boogie de Orleans e a coisa pega mesmo é com os Staples. A voz daquele negro velho, como um anjo de bondade... é pra chorar de alegria.
Mas tem mais. Tem Joni Mitchell. Joni fez música com Charles Mingus. A música que ela canta é um pop-jazz absurdo : pura delícia, pura genialidade. É tudo aquilo que o Style Council tentou fazer e nunca conseguiu. O tempo foi bom para Neil Diamond. Na época do show ele era a carta fora do baralho. O brega. Ouvindo-o hoje eu o sinto como um baladeiro maravilhoso ! E que voz ! Aliás, este show é uma aula de vocais.
E vem Van Morrison. Um pequeno elfo desajeitado. Soltando aquele vozeirão e dando chutes no ar. E tudo explode quando Muddy Waters traz o voodoo do Mississipi e manda Mannish Boy. Caraca!!!!! Que do cacete ! Que voz, que momento histórico, que tesão inigualável !
E ainda tem Neil Young, que parece realmente comovido por estar lá ( quantos canadenses ! Young, Joni, Hawkins e a Band ).
E no final, ele : Bob Dylan, o cara.
Aqui um adendo :
Em 1966 Dylan ia morrer. Anfetaminas demais. Mas ele sofre um acidente de moto sério que o faz convalescer com seus amigos em Woodstock, numa casa de fazenda, a tal BIG PINK. Nessa casa, eles andam, cavalgam, e cantam no porão. Dylan renasce. Os caras que moravam na BIG PINK eram Robbie Robertson, Rick Danko, Levon Helm, Garth Hudson e Richard Manuel : THE BAND. Dylan sai de lá com o disco THE BASEMENT TAPES e a Band com seu primeiro disco, MUSIC FROM THE BIG PINK, uma das mais belas coisas já gravadas.
Voltando... eis Dylan no palco e eis como é Bob com The Band. Dylan rí !!!!!!! E milagre : até diz thank you após os aplausos ! Ele está totalmente em casa, os caras são os únicos que se casaram com Dylan. Foi com eles que Dylan enfeitiçou a Inglaterra em 1965.
Todos voltam ao palco e vemos Neil Young, Van Morrison, Clapton e agora Ringo Starr com Ron Wood fazendo backing vocals para Bob Dylan. Mas vemos todos homenageando THE BAND. Inclusive Scorsese.
Mas apesar de todos esses convidados, o melhor é a própria banda. Rick toca baixo como se fosse da Motown e canta com imensa paixão. Levon é O baterista. Sua batera é básica, mas que riquesa em pratos e em ritmo, e que voz rascante, rouca, do pântano ( Levon Helm é o único americano ). Há ainda o teclado de Richard, que cantava em falsete e que morreu em 87 de heroína... e Garth, o pacato e sério Garth, que conta a real, que o "lance deles era ficar na BIG PINK, pintando uma porta, arrumando uma janela, pescando...que essa coisa de rocknroll, de celebridade torna a música impossível...." um belo momento pego pelo microfone de Martin.
Se houver um céu para onde os amantes do rock vão, com certeza Garth, Rick, Robbie, Richard e Levon estarão no portão nos esperando. São a coisa mais nobre do pop, a total honestidade de carreira e de filosofia. Fizeram discos que trazem para sempre a luz do fim do túnel, a flor no asfalto, o sorriso no abismo.
Assim como os Stones são o sexo do rock e os Beatles são o cérebro, The Band é o coração. THE LAST WALTZ maravilhosamente filmado por Scorsese com a mesma equipe de TAXI DRIVER é digna homenagem a quem a merece.
Um toque : Faltou Gram Parsons. Não tivesse morrido em 73, o maravilhoso Parsons estaria naquele palco. Mas a musa de Gram, Emmylou Harris cantou com a Band... lindo !
A foto famosa dos Beatles de 68, todos de preto, barbas e chapéus, é uma citação deles ao novo grupo que surgia : The Band....
Apesar de assinar Tony Roxy e de o Roxy Music ser a banda que mais gostei na vida, é na The Band que me vejo. Se eu pudesse voltar a vida e pudesse escolher, eu não queria ser Bergman e nem Fellini, não queria estar na guitarra dos Stones e nem no vocal do Led Zeppelin... eu queria segurar as baquetas de THE BAND e tocar CHEST FEVER....
É isso!
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