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FILMES

   Faz duas ou três décadas que o cinema, como arte relevante, morreu. Ainda se fazem bons filmes, alguns geniais, mas eles todos além de não repercutirem, possuem a tristeza de saber que seu mundo, o universo do cinema, é passado. Como o jazz, a ópera, o rádio ou mesmo o teatro, ir ao cinema é apenas um modo de digerir o jantar, passar duas horas com a namorada ou, pior de tudo, tentar dar sobrevida à um costume. Filmes de TV são apenas isso: Filmes de TV. São filmes, mas não é cinema. Podem ser bons programas para se ver na cama. Podem ser boas séries para se ver após o futebol, Mas por serem TV, já nascem sabendo que em duas décadas estarão completamente mortos. Ninguém assiste Os Sopranos hoje. Menos ainda assiste Friends.
   Um rápido comentário sobre o que assisti no último mês:
   PORTO, UMA HISTÓRIA DE AMOR de Gabe Klinger
Passado na cidade do Porto ( estrangeiros nunca acertam o nome da cidade! Ela se chama O Porto, nunca se diz Porto apenas. ), conta o encontro de um cara muito chato e uma moça muito triste. .
Voce já viu esse mesmo filme umas mil vezes. A cidade é exibida, claro, em seu lado mais soturno.
   OS AVENTUREIROS de Robert Enrico com Alain Delon, Lino Ventura e Joanna Shimkus.
O cenário é lindo mas a aventura é chata. Dois homens se envolvem na busca de um tesouro. Com eles vai uma mulher que eles partilham. É longo e tem a modernice de um filme de 1968. Ou seja, cansa. Mesmo com uma fotografia bonita, não vale a pena. E a trilha sonora é insuportável.
   ILHA DOS CACHORROS de Wes Anderson
Eu vejo várias qualidades em Wes Anderson. Mas ele está mergulhando em uma emboscada. Seu estilo virou maneirismo e aqui desce ao cliché. Ele precisa de uma dose de adrenalina e sair desse mundinho feito de vozes sem emoção, ações sem impetuosidade e humor fofo. Mesmo adorando cães, achei este filme bobo, vazio e incrivelmente feio. Não há porque se fazer uma coisa assim. Parece apenas um desenho da TV Cultura dos mais banais. ( Doug é melhor ).
   SOMENTE O MAR SABE de James Marsh com Colin Firth, Rachel Weisz
Baseado numa incrível história real. Em 1967, na Inglaterra, se estipula um prêmio para o homem que conseguir quebrar o recorde de navegação solitária. Um cara cheio de dívidas, que navega só em fins de semana, se lança ao mar. E enlouquece. Com uma história tão boa, este filme, chato, consegue naufragar. Ele é boring boring boring boring boring so boring.
   MISTER ROBERTS de Melvyn LeRoy e John Ford com Henry Fonda, William Powell, Jack Lemmon e James Cagney.
Foi uma peça de enorme sucesso e marca a estreia de Lemmon no cinema. E ele é a única coisa que presta aqui. É um filme longo, que deveria ser engraçado e heroico, mas que é apenas chato e aborrecido. Fala de um capitão que trata mal seus marujos. Fonda é o oficial que o enfrenta. Tudo em clima de farsa leve. Quer dizer, deveria ser leve, fica travado na verdade. Le Roy assumiu o filme depois que Ford perdeu o interesse. Ou foi o contrário?
   ATOS DE VIOLÊNCIA de who cares? com Bruce Willis, Cole Hauser, Mike Epps
Um bom filme de ação como aqueles que Willis fazia nos anos 90...não é o caso. Ele é um tira que procura um assassino sequestrador. Mas é lento, calmo, e dois irmãos assumem o controle da busca. Pois é.
   SURPRESAS DO CORAÇÃO de Lawrence Kasdan com Meg Ryan, Kevin Kline, Timothy Hutton
Kline está magnífico como um francês malandro que se envolve com uma americana que tem medo de voar. Se passa em Paris e na Riviera, e, óbvio, tenta resgatar a beleza charmosa dos filmes de Cary Grant e Audrey Hepburn. Fica a milhões de anos luz. Mas tem belas canções, bela imagem e não tem nada de burro ou forçado. E tem um casal que funciona bem.
  DESEJO DE MATAR de Eli Roth com Bruce Willis
E esse desejo se satisfaz. Ele mata um monte de gente. Bruce é um cidadão pacato que resolve ir à caça dos bandidos. O filme é ruim? Não. É bom? Não. Não é ruim por nunca ser chato. Não é bom por ser de uma tolice atroz. Bruce não parece muito interessado na coisa. Aliás, desde Pulp Fiction ele não parece muito a fim de trabalho.
  ANDREI RUBLEV de Andrei Tarkovski.
Sentiu a coisa? Eis a tal aura da arte, aquilo que Benjamin dizia que o mercado e a repetição destruía. Este filme de mais de 3 horas, fala da vida de um pintor de ícones do século XV. É um filme sobre pintura que não fala de pintura. Fala do momento em que a Russia nasce como nação. Mas vai além. É sobre a violência crua. Por isso ele é bem duro de se ver. As cenas de crueldade são cruas, rudes, e os atos de violência são vistos como ato banal. Claro que por ser Tarkovski, o filme é bem mais que isso. Há um conflito entre ideal e real, e em meio às loucuras dos homens paira sempre a calma beleza da natureza. A cena final justifica todo o filme. Ao lado de uma aldeia arrasada, dois cavalos namoram numa ilha fluvial. Tarkovski foi um gênio, um dos 5 ou 6 do cinema, e no documentário que vem com o filme vemos que ele parecia ser uma pessoa adorável.
 

CARY GRANT- BETTE DAVIS-JAMES CAGNEY-COLIN FIRTH-UMA- NEIL SIMON

   A GAROTA DO ADEUS de Herbert Ross com Richard Dreyfuss e Marsha Mason
Foi uma das maiores zebras do Oscar a vitória de Dreyfuss em 1977. Mas vista hoje sua atuação é sensacional. O texto, de Neil Simon, é bem anos 70. Fala de uma mãe solteira que é obrigada a dividir o apto com um ator desconhecido. Eles se odeiam e aos poucos passam a se aceitar. Parece óbvio, mas os diálogos são maravilhosos! Engraçado perceber que o personagem de Dreyfuss é um típico estudante paulista de 2016! Até as roupas são atuais! Não conseguimos sair de 1977... Este é o típico filme adulto popular daquele tempo. Se comparados aos adultos pop de hoje vemos que regredimos muito. Assista. Nota 7.
   BE COOL, O OUTRO NOME DO JOGO de F. Gary Gray com John Travolta, Uma Thurman, Vince Vaughn, Cedric, The Rock e Danny de Vito.
O roteiro é pobre pacas! Chili Palmer, o personagem de Travolta no ótimo Get Shorty, ressurge aqui como produtor de música. Para lançar jovem cantora ele deve passar por cima de mafiosos russos, produtores bandidos e artimanhas do mal. A esperteza se foi, os golpes são primários e mal explicados. O filme se salva por The Rock, que rouba o filme como um capanga que quer ser cantor country. Hilário! Uma nunca esteve tão bonita. Travolta está com preguiça e Vince não tem a menor graça. Seu tipo é cópia descarada do Gary Oldman de Amor a Queima Roupa. Um filme bom de olhar, mas bem tolinho. Nota 5.
  HOPE SPRINGS de Mark Herman com Colin Firth, Heather Graham e Minnie Driver.
Parecia bom. Adoro Colin. Mas é um tédio. Ele é um inglês que vai parar no interior dos EUA. Quer esquecer um amor perdido. Heather, como sempre, é uma doidinha legal, eles se envolvem. Minnie é a megera. O filme é lento, chato, preguiçoso, sem nenhuma imaginação. Pior de tudo, é uma comédia triste! ZERO.
   G MEN CONTRA O IMPÉRIO DO CRIME de William Keighley com James Cagney
Um exemplar filme de gangster dos anos 30. Cagney é um advogado que abandona a profissão para ser um agente do que viria a ser o FBI. O que acompanhamos, no estilo rápido e objetivo da época, é sua escalada para se infiltrar na gang e destruir a organização criminosa. Um bom filme de macho. Nota 7.
  BALAS OU VOTOS de William Keighley com Edward G. Robinson e Humphrey Bogart.
Não tão bom, o filme também faz parte do estilo "gangster da Warner". Mas o roteiro é mais meloso e Robinson não é tão bom quanto Cagney. Bogey faz mais um bandido. Ele, em 1936, ainda era o cara que todo mundo ama odiar. Nota 5.
  SOMOS DO AMOR de Archie L. Mayo com Leslie Howard, Bette Davis e Olivia de Havilland.
Uma alegria voltar a ver os bons filmes pop dos anos 30. Este é mais um da Warner. Sobre um casal de atores que vive em guerra. E uma mocinha tola que se apaixona pelo ator. Leslie dá um show como o ator estrela, empoado e meio tonto. Bette brilha menos como a atriz nervosa. Olivia está excelente no papel da milionária doida. Tem ainda Eric Blore fazendo Eric Blore, ou seja, um delicioso mordomo afetado. Bom passatempo. Nota 7.
   SOLTEIRÃO COBIÇADO de Irving Reis com Cary Grant, Myrna Loy e Shirley Temple.
Decepção. Um filme com Cary e Myrna consegue não ser bom. Uma garota de 16 anos se apaixona por Cary Grant, solteirão de 37. A irmã da menina, Loy, obriga-o a namorar com ela para que ela se decepcione com ele. Mal dirigido, sem ritmo, mesmo assim fez imenso sucesso, graças aos nomes das estrelas. Cary está contido, só se solta na única cena boa, a da gincana estudantil. Myrna não tem nada a fazer a não ser parecer elegante. Nota 4.

ROBIN HOOD- AL PACINO- COLIN FIRTH- NICHOLAS BROTHERS- MIKE LEIGH- CAROL REED

   O CAMINHO DAS ESTRELAS de Carol Reed com David Niven e Stanley Holloway
Ingleses de várias camadas sociais são convocados e treinados para a guerra. A princípio são rancorosos, não compreendem a gravidade da guerra. O filme, muito simples, acompanha a transformação desses indivíduos numa unidade coesa. Bom filme. Carol Reed se tornaria em seguida o centro do cinema inglês do período 45-55. Nota 7.
   KINGSMAN, SERVIÇO SECRETO de Dave Gibbons com Colin Firth, Samuel L. Jackson
Firth é um agente secreto, elegante, conservador, um protótipo do inglês de guarda-chuva. Ele treina um garoto, típico garoto de 2015, para ser um novo agente. O filme tem a venerável presença de Michael Caine ( é o que restou... ), mas não diz a que veio. Veja bem, não é ruim, mas tudo nele é banal. Ele tenta resgatar o chique e o apelo dos velhos filmes de espiões, mas ao se dirigir aos teens de agora ele se trai. Fica num meio termo muito opaco. Nota 3.
   NÃO OLHE PARA TRÁS de Dan Fogelman com Al Pacino, Annete Bening, Jennifer Garner, Bobby Cannavale e Christopher Plummer
Mais um produto para consumidores de meia idade. Pacino é um cantor que em 1971 era uma grande promessa, mas que em 2015 é uma estrela, milionária, para velhos acomodados. Então seu empresário lhe dá uma carta perdida de 1971, uma carta que John Lennon lhe enviou e que nunca chegou. Essa carta muda sua vida. Ele tenta voltar a ser um cantor sério. Ok... a gente pode pensar em Rod Stewart, em Paul Simon...mas o cara é bem pior! Ele é Neil Diamond, um cantor que compôs canções geniais entre 1966-1971, e que desde então se contenta em ser o Roberto Carlos de Las Vegas. Eu achei o trabalho de Pacino péssimo! Preguiçoso, flácido, sem pique. O roteiro se fixa na velha ladainha do " desculpe meu filho por ter sido uma estrela "... Poderia ter sido um grande filme, o tema é excelente, mas não passa de um filme família bem comum. Nota 3.
   GRANDE JOGO de Jalmari Helander com Samuel L. Jackson
O diretor é finlandês. Samuel é o presidente americano. Ele cai no interior da Finlândia. Um menino o salva dos terroristas. Podia ser uma boa aventura. Mas tenta ser arte....Uma baboseira sobre entrada na vida adulta, compromisso, vida natural....Fuja!
   SEGREDOS E MENTIRAS de Mike Leigh com Brenda Blethyn e Timothy Spall
Escrevi sobre ele abaixo. Começa em enterro. Passa ao mundo banal de um fotógrafo, uma mãe solteira, uma filha à procura da mãe. Ninguém é bonito, nada é bacana. Tudo o que eles querem não é dito. Existem filmes que conseguem acertar o alvo. Capturam a verdade, uma verdade difícil de ser descrita. É um dos dez melhores filmes dos anos 90. O elenco faz milagres. O final é sublime. DEZ.
   E A FESTA ACABOU de W.L.Norton com Ron Howard, Cindy Willians e Paul Le Mat
American Graffitti transformou George Lucas em milionário em 1973. Ele contava um dia na vida de um bando de amigos em 1960. E é incrível como esse estilo de filme foi imitado desde então. Em 1979 foi feita sua continuação, este filme esquisito, dirigido por um dos amigos de Lucas que não deu certo. Lucas produziu. Eu o vi no cinema, na época, matando aula. Ele se passa em 1964-1967 e é todo centrado na guerra do Vietnã. Vemos o que foi feito daqueles moleques de quatro anos antes. O mundo muda demais e eles se perdem. A melhor história é a do soldado na selva, quase um tipo de Mash em sua loucura. Tem um retrato interessante de hippies em seus inícios, mas as histórias acabam parecendo mal desenvolvidas. É um filme simpático, gostoso de ver. Nota 6.
   SERENATA AZUL de Archie Mayo
Este filme é um forte argumento contra o racismo. Vejam: é um filme pavoroso, com atores ruins, cenas patéticas, roteiro bobo. E então, durante cinco minutos, ele cresce e se transforma numa obra-prima. São os cinco minutos em que os irmãos negros- Nicholas Brothers- podem se exibir. Meros cinco minutos de absoluta genialidade. Míseros cinco minutos, o tempo que o racismo permitiu. Nas cidades do sul esses cinco minutos eram cortados. Deus meu! O que perdemos!!!!!
   RIVAL SUBLIME de William A. Seiter com Deanna Durbin, Kay Francis e Walter Pidgeon
Uma bobagem gostosa. Um tipo de souflê leve e fofo. Uma menina, filha de atriz famosa, se envolve com homem mais velho que na verdade gosta da mãe. Tudo bem filmado, engraçadinho, fácil de gostar. Deanna era ótima! Nota 6.
   AS AVENTURAS DE ROBIN HOOD de Michael Curtiz com Errol Flynn, Olivia de Havilland, Claude Rains e Basil Rathbone.
A super colorida, super grandiosa e super feliz versão da Warner do clássico da aventura. Errol nasceu para ser Robin Hood, e todo o elenco tem tempo para seu solo de brilho e charme. A trilha sonora se tornou molde de vários filmes agitados e a ação escorre por todo lado. Mas...há um problema com este filme de 1938. Ele foi tão imitado, tão copiado, é tão conhecido ( mesmo por quem nunca o viu ), que a sensação de deja vu se torna pesada. O mais leve dos filmes se torna um peso... Outras aventuras de Flynn, como Dodge City ou Gentleman Jim, funcionam muito mais por serem menos conhecidas. Robin Hood tem o mesmo problema de Star Wars ou de Indiana Jones, mesmo aqueles que não os viram sabem tudo sobre o filme. Não há como se surpreender. Pena.

TS SPIVET/ WOODY ALLEN/ NICOLE KIDMAN/ WARREN BEATTY/ MARVEL/ PIERCE BROSNAN/ CARY GRANT

   THE YOUNG AND PRODIGIOUS T.S.SPIVET ( UMA VIAGEM EXTRAORDINÁRIA ) de Jeunet com Helena Bonham-Carter, Judy Davis, Kyle Catlett e Callum Keith Rennie.
Todos sabem o enredo: no meio da nada mora uma familia esquisitinha. O filho, aos 7 anos, cria um aparelho de moto-perpétuo. Ganha um prêmio do Smithsonian e viaja só para receber o prêmio. Well...os primeiros dez minutos são excelentes. E isso se deve a fotografia e ao ambiente. Depois o filme cai muito e fica até meio chato. A América que Jeunet mostra é um país francês. Ele não chega perto do que seja o ser americano. Assim como Wenders em Paris/Texas mostrou a América alemã, Jeunet esbugalha olhos franceses sobre o deserto. O filme ameaça emocionar, Descartes não deixa. O que seria um lindo filme bobo se fosse dirigido por um Tim Burton ou um Alexander Payne, se torna com Jeunet um filme travado. Tudo é quase aqui, quase bom, quase bonito, quase triste, quase engraçado. E quase ruim. Apesar de tudo eu gostei do filme. Porque? Porque ele é bonito. Porque eu gosto muito de Helena Bonham-Carter. Porque adoro filmes on the road. E porque em meio a toda aquela baboseirinha tristinha há uma nesga de verdadeiro afeto. Há amor pelos personagens, todos eles. O que trava é essa reticência de Jeunet, essa coisa de nunca deixar a coisa subir, aquecer, deixar o sentimento perder razão e aflorar. Não darei nota.
   NOVEMBER MAN de Roger Donaldson com Pierce Brosnan e Olga Kurylenko
Brosnan é um ex matador da CIA. Ele volta a ação em complicada trama de espionagem, traição e chantagem. O filme nunca ofende a inteligência e tem ação. Pierce tem fleugma, e incrivelmente consegue convencer. É o tipo de ator que gostamos de ver. Olga é belíssima! Mas estou cansado desses filmes cheios de batidas de carro, tiros e cenários cheios de russos frios e ruins e moças magrinhas e fatais. Nota 4.
   DIZEM QUE É PECADO de Joseph L. Mankiewicz com Cary Grant, Hume Cronyn e Jeanne Crain.
A poucas semanas vi 3 filmes de Mankiewicz e falei deles aqui. Todos excelentes. Pouca gente sabe que ele foi dos raros diretores a ganhar dois Oscars no mesmo ano, por roteiro e direção. Seu ponto fraco aparece todo aqui: a verborragia. Mankiewicz escreveu alguns dos melhores diálogos do cinema, mas às vezes passava do ponto. Este filme mostra Cary como um cirurgião de sucesso que desperta a inveja de um colega. O tema é ótimo, Cary se esforça e está ótimo, mas há diálogos muito longos, muito blá blá blá dispensável e uma cinematografia pobre. Parece TV. Nota 5.
   HEAVEN CAN WAIT ( O CÉU PODE ESPERAR ) de Warren Beatty com Warren Beatty, Julie Christie, Jack Warden, Dyan Cannon e Charles Grodin.
Um grande sucesso de 1978 que concorreu a vários Oscars e venceu apenas um. É a primeira direção de Warren Beatty e dá pra perceber isso. O filme tem sérios problemas de ritmo. Ele corre a de repente fica lento. A história é refilmagem de um lindo e muito melhor filme dos anos 40. Um homem morre por engano. É devolvido `a Terra em outro corpo e vemos então seu envolvimento com gente que não sabe que ele é outro. O tema daria uma comédia hilária, mas aqui o humor só funciona com Dyan Cannonm que está ótima. Julie está perdida, o filme não é para ela, e Warren, seu namorado então, desfila charme, mas não dá risos. O filme acaba sendo uma coisa estranha, uma comédia melancólica ou um drama leve. Assisti a ele na época, num cinema cheio na Paulista. O que senti então é o que voltei a sentir hoje, decepção. Nota 5.
   GRACE DE MÔNACO de Olivier Dahan com Nicole Kidman, Tim Roth e Frank Langella.
O filme me surpreendeu, ele é bastante bom. Isso porque nada tem de biográfico. Não se trata de vermos o casamento de Grace ou sua história. É a radiografia do momento crucial de uma nação, Monaco, de um planeta, a Terra e de uma mulher, ela. Grace sente falta do cinema, sente falta dos EUA e se sente negligenciada como mulher por seu marido, Rainier. Indecisa, ela tem de tomar uma decisão. Ou desiste e retorna ao cinema, ou se assume como princesa. O momento é terrível. A Argélia luta contra a França e De Gaulle quer se apossar do principado, a França precisa de dinheiro. Grace consegue, em golpe de estream sutileza, fazer com que De Gaulle não possa agir. Como? Veja o filme! Ele tem suspense, muito drama, realismo e atores excelentes. É uma das melhores atuações de Nicole. Aturdida, presa, com raiva, com medo, tudo misturado num pacote de beleza. Voces que são mais jovens saibam, Grace Kelly foi um mito. Maior que Angelina Jolie, Madonna... Lady Di chegou perto com uma diferença, Grace era muito mais bonita, inteligente e elegante. O filme é digno dela. Nota 7.
   MAGIA AO LUAR de Woody Allen com Colin Firth e Emma Stone.
Colin é um mágico na Europa de 1920. É levado por amigo à Riviera, onde ele deverá desmascarar uma vidente impostora. É mais um filme agradável de Woody Allen. Divertido, fácil de ver, gostoso. Mostra gente rica em lugares lindos, mostra bons atores em bons papéis. Demorou para Woody trabalhar com Colin Firth, meu ator favorito do cinema de agora. E Emma Stone é bonita e boa atriz. Mas Woody tem um grande problema: seu nome. Fosse o filme de um diretor novato, todos o elogiariam. Mas é de Woody...sabe como é, a gente espera um novo Hannah, Annie Hall, Manhattan....mas não! Woody é hoje um cara de bem com a vida, aproveitando para viajar, comer, beber e filmar. Ele filma apenas o que não lhe dá trabalho, apenas prazer. Seus filmes são como pequenos contos de um autor delicioso e de pouca ambição. São para usufruir. Nota 6.
   GUARDIÕES DA GALÁXIA de James Gunn com Chris Pratt e Zoe Saldana.
Muito, muito bom! Fazia tempo que não via uma aventura tão bem construída, tão cheia de humor, ação e prazer. Porque gostei tanto? Estava pronto para odiar! Mas os personagens são legais, as cenas nunca parecem bobas, e principalmente, não há medo de viajar, de se deixar levar pela fantasia. Uma delicia de filme. Espero pela continuação! Os Guardiões são muito legais! Nota 8.

BILLE AUGUST/ DIRK BOGARDE/ GUY RITCHIE/ BERTOLUCCI/ COLIN FIRTH/ SOPHIA LOREN

   TREM NOTURNO PARA LISBOA de Bille August com Jeremy Irons, Charlotte Rampling, Tom Courtenay, Melanie Laurent e Christopher Lee.
Em outro filme seria um elenco de tirar leite de pedra. Aqui, neste roteiro flácido, nada pode ser feito. É menos que pedra, é lama. Jeremy Irons foi um grande ator. Nunca me esqueço de sua melancolia em Brideshead Revisited. Nos anos 80 ele era considerado maior que Day-Lewis. Courtenay é mais velho e igualmente grande. Da geração genial de O'Toole, Finney, Hurt e Holm. Este filme é lixo. Parece novela das 9. Os atores, coitados, parecem quase fazer comédia. A gente não consegue crer em nada do que vê. E olhe que o tema é ótimo: a repressão salazarista em Portugal. Deve entrar em cartaz, afinal, um filme que vi a meses com Bill Murray que fala da visita do rei inglês a Roosevelt durante a guerra. Vejam! Eu já escrevi sobre ele e não vou escrever outra vez. Isto aqui, esqueçam. Nota zero.
   DUAS NOITES COM CLEÓPATRA de Mario Matolli com Sophia Loren e Alberto Sordi
Foram filmes como este, chanchada para o povão, que criaram o capital para que Fellini ou Pasolini pudessem filmar. O cinema funcionava assim. Hoje o dinheiro do cinema pop vai para o bolso dos acionistas. Evitem este dvd. A imagem está estragada. Não dá pra ver.
   JOGOS, TRAPAÇAS E DOIS CANOS FUMEGANTES de Guy Ritchie com Jason Statham, Vinnie Jones, Jason Flemyng e Sting
Ainda é o melhor filme de Guy Ritchie. E acho este filme melhor que Transpotting de Boyle, feito quase na mesma época. Puro Tarantino, menos cabeça ( Guy não tem nada de Leone ou de Godard ), muito menos violento. A trama, boa, fala de armas colecionáveis, dívida de jogo, roubo e vingança. O clima é quase de Monty Python. Ótima edição, ótima trilha sonora, os atores estão excelentes. Já dá pra ver o futuro, bom, de Statham. Um Steve McQueen de segunda. Quero mais filmes de Vinnie!!! Nota 8.
   BELEZA ROUBADA de Bernardo Bertolucci com Liv Tyler, Jeremy Irons, Rachel Weisz, Sinead Cusak e Jean Marais
Como é bom ver o grande Jean Marais! Pra quem não sabe, ele foi o muso de Cocteau, ator em seus filmes. E o vemos aqui, gloriosamente forte em 1996! Fora isso não há muito mais o que ver aqui. ( Talvez apenas a discreta nudez de Rachel Weisz ). Liv foi péssima escolha e o filme é arrastado, chato, sem porque. Não o via desde os anos 90. Continua o mesmo. Chato. Nota 2.
   ARTHUR NEWMAN de Dante Ariola com Colin Firth, Emily Blunt e Anne Heche.
Adoro Firth. É meu ator favorito de agora. Então consegui o filme, novo, pra ver. O tema prometia, um cara que abandona sua vida antiga, muda de nome, sai pelo mundo e encontra um mulher doida-down no caminho. Mas...o pretensioso diretor estraga tudo! Não há uma única cena que não grite em nossa cara: "Vejam! Isto é Arte!" O caramba de arte!!! É um lento, bobo, silencioso, vazio, sonolento filme. Blunt está bacana, mas fazer o que com um papel que já foi feito milhares de vezes só neste século? Firth fica sonolento em meio as falas ralas e vazias. Nota? Nada.
   A SOMBRA DO PECADO de Lewis Gilbert com Dirk Bogarde e Margaret Lockwood
Um pequeno filme inglês sobre um odiável malandro que mata sua esposa rica e muito mais velha. Se casa de novo e quer repetir a dose. Suspense e clima. Bogarde foi um ídolo do cinema inglês dos anos 50. Quando assumiu sua homossexualidade passou a filmar coisas como Morte em Veneza de Visconti. Gilbert iria dirgir alguns dos melhores James Bond. Nota 6.
  

CATHERINE KEENER/ HUGH LAURIE/ JANE FONDA/ MICHAEL CAINE/ BOB FOSSE/ BRANCA!!!!

   A FILHA DO MEU MELHOR AMIGO de Julian Farino com Hugh Laurie, Catherine Keener, Oliver Pratt e Leighton Meester
Tinha tudo pra dar muito errado. A história de duas familias amigas. Os pais fazem corrida juntos, as mães se visitam, tudo normal. Então a filha de uma dessas familias volta pra casa. E o pai de meia-idade da familia "amiga" começa a namorar com a garota. Vem a separação, o ostracismo, a pressão social. O filme começa mal, parece ser mais um filme gracinha e jovenzinho tipo Miss Sunshine. Mas não é. A forma como os dois ficam é muito simples e muito real. O casal funciona, parecem de verdade. O namoro dos dois faz com que tudo mude na vida de todos os envolvidos. A rotina das familias muda, eles têm de acordar. E me peguei torcendo para que o filme não brochasse, que fosse nessa linha, a mudança nascendo do inesperado. Mas não. No final, e vou contar, a menina sai perdendo. Ela não suporta a pressão e vai embora. Todos voltam ao normal, todos se dão bem, ela perde. O filme acaba sendo uma grande defesa do maior dos valores da América ( não, jamais foi a familia ), a amizade entre os homens. Os dois pais voltam a ser amigos, a camaradagem masculina vence. O filme tem atenuantes. A menina tem 24 anos, ou seja, longe da pedofilia. E o estilo é todo de "comédia familiar", apesar do tema é um filme doce. A atriz que faz a menina, Leighton Meester é apaixonante. Natural, linda, alegre. O elenco é todo ok, e o filme é bem melhor do que parece ( apesar dos defeitos aqui apontados ). Se o final fosse menos óbvio seria um filme bastante invulgar. Mas vale muito ver. Nota 7.
   PAZ, AMOR E MUITO MAIS de Bruce Beresford com Jane Fonda e Catherine Keener
Beresford não muda. Todos os seus filmes são assim: mais ou menos, legaizinhos, do bem, esquecíveis. Este é bem assim. O fim de um casamento. A mulher leva o casal de filhos para a casa da avó, para dar um tempo. Essa avó mora em Woodstock e é uma lenda lá. Hippie radical, ela vende maconha, pinta homens nús e namorou Leonard Cohen entre muitos outros. A filha odeia essa mãe doidona. Os netos são logo conquistados. Fumam, bebem, festejam. O filme tem de bom Jane Fonda, a beleza do lugar e o fato de nada ser tipo "hippie chic". A casa tem galinhas nos quartos e é de uma bagunça exemplar. Mas o roteiro é hiper-pobre. Nada acontece de errado. Não há atrito, não há erro. A gente sabe todo o tempo tudo o que vai ocorrer. Jane brinca de ser Jane Fonda. Alguém ainda lembra que em 1973 ela era uma Angelina Jolie perseguida pela CIA ? Famosíssima  e muito politizada, ela era odiada pela direita americana. Depois se casou, largou o cinema e passou a viver em função do marido ( que sonhava em ser presidente ). Toda uma geração a desconhece. Este filme serve apenas para quem já a conhece. Woodstock é uma cidade linda!!!  PS: que bela atriz é Catherine Keener! Nota 4.
   O PARCEIRO DE SATANÁS de Stanley Donen com Gwen Verdon, Tab Hunter e Ray Walston
O diabo vem a Terra e tenta um fã de beisebol. Se ele lhe vender a alma será rejuvenescido e se tornará o maior jogador da história do esporte. Ele aceita. O filme não é bom. Porque? Tab Hunter é um péssimo ator e o roteiro, baseado em show da Broadway, se perde. Fica chato até. Mas, quase ao final, um milagre acontece. Bob Fosse entra em cena e faz um número com Gwen Verdon. São três minutos da mais absoluta genialidade. É alegre, é sexy, é criativo, é esperto. Dá vontade de ver pra sempre. Grande Bob Fosse, um gênio! Fora isso, todo o resto é absolutamente falho. Bola fora do grande Stanley Donen. Nota 3.
   UM GOLPE PERFEITO de Michael Hoffman com Colin Firth, Cameron Diaz, Alan Rickman, Tom Courtney, Stanley Tucci.
Nos anos 60 era moda um tipo de filme que era chamado de "filme sofisticado pop". Falava de gente malandra, de gente bem vestida, mentirosa, cheia de tramóias e planos de roubos ou golpes mentirosos. Tinham trilha sonora chiquérrima, cenários vastos e atores bacanas e extra cool. Pois bem, todos esses filmes foram refilmados nos últimos quinze anos. Desde Charada até Get Carter, todos foram destruídos em refilmagens terrivelmente ruins. A única excessão foi Oceans Eleven, cuja versão de Soderbergh é muito superior a original. Michael Caine fez vários desses filmes "espertos" originais. Que eu me recorde, seis foram refilmados nos últimos dez anos. Michael Caine já foi reinterpretado por Jude Law, Matt Damon, Mathew McConaughey e agora por Colin Firth. O original deste filme é uma maravilhosa sacanagem. Cheio de humor, de malicia e muito chique. Tem ritmo, tem savoir faire, tem estilo. E faz rir. Esta versão, escrita pelos irmãos Coen, que devem adorar o original, foi malhada pela Folha. Esqueça a Folha! Apesar de estar a milhas do original, este filme faz rir, dá prazer e é uma gostosura. Firth está ótimo como um bobo que se acha infalível, Alan Rickman rouba o filme como a vítima e Courtney é um grande mito do palco inglês. Cameron está bem ( mas as mulheres realmente piraram....que corpo hiper malhado é esse??? ). O filme tem 3 ótimas cenas. E um final fraco. Vale ver. Nota 6.
   FOGO CONTRA FOGO de David Barrett com Josh Duhamel, Bruce Willis e Rosario Dawson
Sobre testemunha de crime que resolve matar o bandidão. Eis o tipo de aventura que odeio. Porque o estilo é "metido a arte". Tudo é escuro, sombrio, trêmulo, cheio de sons esquisitos. A gente nada vê, e acaba por nada mais querer ver. O filme é muito, muito ruim. Bruce Willis participa como um policial veterano. Nada faz no filme. ZERO!
   O EXPRESSO DE VON RYAN de Mark Robson com Frank Sinatra e Trevor Howard
Na Itália dominada pelos alemães, prisioneiros ingleses escapam de um trem que os levava para a Alemanha. O filme começa devagar, mas então ele acelera e não perde mais o rumo. É uma bela aventura de guerra, cheia de suspense e com boa produção. O final é amargo e pode desagradar. Eu gostei. Inclusive do final. A trilha sonora de Jerry Goldsmith é uma obra-prima. Feito em 1965, segundo a dupla francesa pop Air, este é o grande ano das trilhas de cinema. Ouça esta e entenda porque. Nota 7.
   BRANCALEONE NAS CRUZADAS de Mario Monicelli com Vittorio Gassman e Stefania Sandrelli
O primeiro Brancaleone é talvez a melhor das comédias de cinema. Este, feito cinco anos depois, não chega nem perto. Mas é um prazer rever Gassman nesse papel. Ele nunca teme o exagero, vai fundo na doidice inocente de Branca e exercita seu talento infinito. Amamos Brancaleone, mas agora não amamos o filme. A soberba criatividade do primeiro não se repete aqui. PS: a estrela Stefania Sandrelli... chega a doer de tão bela !!! Nota 5. 

WYLER/ EASTWOOD/ CRONENBERG/ STURGES/ CAPRA/ SODERBERGH/ PINA/ CARY GRANT

   SUBLIME TENTAÇÃO de William Wyler com Gary Cooper, Teresa Wright e Anthony Perkins
Concorreu  a seis Oscars em 1956 e perdeu todos. Mas é um muito bom filme realizado pelo mais profissional dos diretores da América. Wyler tem uma impressionante lista de filmes, de sucessos e de prêmios. Aqui ele fala de uma familia de Quacres, que nos EUA da época da guerra civil, se recusam a lutar. O filme é lindo de se ver, cor e cenários são imagens ideais de um passado bucólico. Mas esse bucolismo é manchado pelo mundo. Perkins, muito jovem, está comovente como o filho que parte para a guerra. Ainda sem os tiques de Norman Bates, ele realmente prometia ser um novo tipo de ator, frágil, hesitante. Cooper prova mais uma vez ser um grande ator. Vemos em seus olhos a confusão de um pai que não sabe mais como agir. Cinema grande, vasto e muito satisfatório. Nota 8.
   OS ABUTRES TÊM FOME de Don Siegel com Shirley MacLaine e Clint Eastwood
No México, Clint encontra uma freira e a salva de ser violentada. Juntos, eles cruzam um deserto e lutam contra as tropas de Maximiliano. A trilha sonora é de Ennio Morricone e a foto de Gabriel Figueroa. Tem um jeitão de western italiano, um ar de não seriedade, de pastiche. Uma diversão apenas ok, feito em tempo em que tanto Clint como Shirley não eram levados a sério. Nota 6.
   UM MÉTODO PERIGOSO de David Cronenberg com Michael Fassbender, Keira Knightley e Viggo Mortensen
O elenco é bom, mas o roteiro de Hampton é banal. Caretésimo, se parece muito com aquelas séries solenes que a BBC fazia nos anos 70. No fundo, se a gente trocar os nomes dos personagens, é a velha história do filho que quer ser independente do pai. E do pai que, com sua autoridade ameaçada, passa a exigir obediência do filho. Tudo recheado por sofrido caso de amor. A criatividade passou muito longe daqui. Enfadonho. Nota 4 dada ao belo trabalho dos 3 atores.
   MOÇA COM BRINCO DE PÉROLA de Peter Webber com Scarlet Johansson e Colin Firth
Revisto agora se revela uma quase ridicula recriação de um momento crucial na história da arte: a gênese da mais famosa pintura de Vermeer, o mais valorisado dos pintores. Firth, que como provou em O DISCURSO DO REI, é um dos melhores atores em atividade, nada tem a fazer aqui. O pintor é tão real quanto o é o Jung de Fassbender. Tem a profundidade de um boneco de palha. Scarlet nunca esteve tão bonita, na verdade o filme é dela. Lento, sem emoção, monótono. Nota 1.
   CONTRASTES HUMANOS de Preston Sturges com Joel McCrea e Veronica Lake
Recém lançado em DVD, mostra o talento esfuziante de Sturges.  Um diretor de filmes escapistas, resolve fazer uma obra relevante. Parte então à estrada, para conhecer e viver a vida dos pobres. Mas seus empregados seguem sua estrada e ele não consegue ser um pobre. Acaba conhecendo uma aspirante a atriz e é preso quando sem documentos é confundido com assassino. Na prisão é que ele dará valor a seu trabalho, em uma cena simples e inesquecível. Este filme foi homenageado pelos Coen em E AÍ MEU IRMÃO...Preston Sturges vive hoje um momento especial, sua obra é finalmente reavaliada. Nota 9.
   ESSE MUNDO É UM HOSPÍCIO de Frank Capra com Cary Grant
Uma dupla de adoráveis velhinhas mata seus hóspedes com veneno. Grant é o sobrinho delas que não sabe o que fazer. Relançado agora, a Veja elogiou muito, assim como o Estado. Apesar de eu ser fã de Cary Grant, eu não gosto deste filme. É exagerado, nervoso demais, passa do tom. Capra voltara da segunda guerra mudado. Se antes seus filmes eram odes otimistas ao homem comum, aqui ele se mostra confuso. Cary parece estar em filme de Hawks, sua atuação maluca não se casa com a dos outros atores. Nota 3.
   SAN FRANCISCO de WS Van Dyke com Clarck Gable, Jeannette MacDonald e Spencer Tracy
Imenso sucesso dos anos 30, é um filme quase insuportável. Uma baboseira sobre dono de bar que se apaixona por moça "certinha" que quer ser cantora. Gable faz seu papel padrão, um machão sorridente e levemente mal caráter. Jeannette canta demais. E Tracy faz um padre que a aconselha. O filme se redime em seu final, a cidade de SF é destruída pelo terremoto de 1906. Os efeitos, por incrivel que pareça, ainda impressionam. O terremoto é mostrado com cortes espertos, paredes que caem e multidões em pânico. Funciona e muito bem. Mas até chegar a esse final emocionante o filme é um nada. Nota 3.
   IRRESISTÍVEL PAIXÃO de Steven Soderbergh com George Clooney, Jennifer Lopez, Don Cheadle e Luiz Gusman
A trilha sonora de David Holmes é um show em si mesma. Uma recriação das trilhas cool dos anos 70, ela mistura Schiffrin com Hayes e funk tipo Clinton. Estupenda! O roteiro é sobre um ladrão de bancos que se envolve com policial feminina. Clooney está excelente. Ainda em sua fase galã, ele dá uma aula de estilo. Adoro esse tipo de filme que Soderbergh sabe tão bem fazer. O filme tipo "espertinho", uma recriação de Steve McQueen com Peter Yates e Norman Jewison. Foi com este filme que a carreira de Steven foi salva. Revisto agora, ele ainda diverte, Nota 7.
   PINA de Wim Wenders
Quando Wenders acerta ele faz filosofia ( ASAS DO DESEJO ), ou poemas visuais ( PARIS TEXAS ). Aqui ele faz uma filosofia poética em movimento. O cinema de agora pode ser salvo se assumir seu caráter de pesquisa visual. Os ótimos HUGO e O ARTISTA enfatizaram esse fato. O futuro está na imagem e não em dramaturgia.  Este filme nos convence do futuro possível. O deslumbre de imagens que se movem. O cinema jamais poderá se renovar ao repetir os passos de tanta gente que já esgotou a linguagem dos dramas e dos simbolos. Ele sobreviverá em seu aspecto de espetáculo plástico. Seja o movimento sem palavras ( eis a modernidade corajosa e radical de O ARTISTA ), seja em sonho de beleza ( o jogo de Scorsese em HUGO ). Wenders lança a opção do movimento puro. Poesia possível. Nota 9.

PREMINGER/ KUROSAWA/ KIM KI DUK/ COLIN FIRTH

DRIVER de George Tillman Jr. com Dwayne Johnson, Billy Bob Thorton e Carla Gugino
Inominável. Ação sem emoção nenhuma. Tenho visto muitos filmes atuais e eles têm me tirado toda a paixão que eu sentia pelo cinema. Um filme muito ruim de 1930 ou 1950 é tão vulgar e idiota como um filme ruim de 2010, mas a diferença é que ele é ruim "sem querer", por incapacidade ou por falta de recursos. O filme ruim atual é cínico, esperto, se vangloria de sua burrice, menospreza o público e destrói qualquer idéia de nobreza ou de verdade que voce podia ter sobre o cinema. É um verdadeiro estupro. Infelizmente já assisti a quase todos os grandes filmes do passado, e agora, vendo básicamente os filmes "novos" minha paixão é pisoteada e aviltada....
O DISCURSO DO REI de Tom Hooper com Colin Firth, Geoffrey Rush, Helena Bonham-Carter, Claire Bloom e Derek Jacobi
Tão bom quanto o filme anterior do diretor ( Maldito United ) e com o mesmo defeito: ele não consegue manter o ritmo. O que temos é um filme com uns poucos bons momentos e outros de tédio e vazio. O que jamais cai é a excelência do elenco. Vê-los é um prazer. Alguns críticos ficaram chateadinhos com a vitória deste filme no tal oscar....para mim a irritação deles é bom sinal. Dos concorrentes era o menos ruim. Como Carruagens de Fogo e Kramer x Kramer, este é um filme médio que ninguém recordará como oscarizado no futuro. Nota 6.
ESCÂNDALO de Akira Kurosawa com Toshiro Mifune
Kurosawa estava com problemas em relação a imprensa na época, quando fez este filme sobre paparazzis que perseguem estrela da música e pintor. O filme é em tom menor, Kurosawa é dos poucos diretores da história que cresce quando sua ambição aumenta. Mifune dá seu show naturalista e a realização é bastante competente, embora não haja nem sinal da genialidade do maior dos diretores. Nota 6.
BOM DIA TRISTEZA de Otto Preminger com Jean Seberg, David Niven e Deborah Kerr
Françoise Sagan escreveu este livro na adolescencia e logo se tornou o guia das jovens rebeldes de seu tempo. Este filme é infelizmente americano, então a acidez do original está totalmente perdida. Mesmo assim é um agradável e muito bonito filme. Vemos em preto e branco o presente da menina e em cores suas lembranças. A história é basicamente a história do ciúmes de uma filha pelo seu pai playboy. Os dois vivem em baladas e restaurantes ( na Provence ) juntos e felizes e ela é até mesmo amiga das namoradas do pai. Mas quando ele resolve se casar tudo desaba. Ela passa a ter namoros casuais e trama a destruição da pretendente. O elenco é bom e Otto sempre é um diretor forte, sabe, mesmo quando erra, o que deseja mostrar. O filme se passa entre os muito ricos dos anos 50, ou seja, é tudo muito chic. Nota 6.
O ARCO de Kim Ki Duk
Um velho cria uma menina em um barco. Ele traz pescadores para lá e quando algum deles se interessa pela menina é expulso. O velho usa o arco e flexa para adivinhar o futuro e para assustar esses pretendentes. Mas ela se apaixona por jovem e foge com ele. O velho quase morre, ela volta e os dois se casam. Quem assistiu esse filme coreano e pensou ter visto um filme budista sobre o desejo e o sexo nada entendeu. O centro do filme não é o velho e a menina, o centro é o velho e o arco. A menina é uma deusa, ela é a ponte que liga o velho, através do sofrimento, a sua realização plena: o arco. Ele se torna o grande arqueiro e pode então partir, sumir na água. Como ocorre com outro filme do diretor ( Inverno, Verão, Outono.... ) o ritmo é lentíssimo, mas o final compensa tudo: é belíssimo. A estranheza que ele causa é a mesma de quando vemos ou ouvimos algo genuinamente oriental, tomamos a consciencia de que quase nada sabemos ou entendemos. Nota 7.
QUANDO VOCE VIU SEU PAI PELA ÚLTIMA VEZ? de Anand Tucker com Colin Firth e Jim Broadbent
Certas pessoas gostam de falar mal de filmes que nos emocionam por apelar ao melô. Não entendem que emocionar é sempre um mérito, desde que se mantenha um mínimo de bom gosto. Pois bem, eis aqui um filme que apela muito e não consegue causar a menor emoção. Dois bons atores em roteiro sem sal que fala de filho e pai que nunca se deram bem, e agora o pai está com câncer e o filho tem a chance de se reaproximar. Cenas enfadonhas do filho criança com o pai, do filho adolescente com o pai e do agora, o filho adulto tornado poeta e o pai doente. Pai que foi sempre alegre e conquistador. Com tudo isso nas mãos, o filme consegue ser frio, distante, chato, impessoal. Aborrecido enfim. Nota 3.

O DISCURSO DO REI- TOM HOOPER ( E GEOFFREY RUSH + COLIN FIRTH )

No relançamento de VIOLÊNCIA E PAIXÃO de Visconti, o critico da Folha percebeu ao ver esse filme ( genial e contundente ) de 1975, quanto o cinema tem perdido, ano a ano, de ousadia e de profundidade. O cinema atual ( aquele feito de 1995 em diante ) exige quase nada de seu público e em troca dá migalhas de emoções superficiais e bem digestíveis. Dito isso é preciso dizer que todos os candidatos a melhor filme neste ano me decepcionaram. Eles variam dos muito falsos aos absolutamente banais. Este filme profundamente inglês é de todos eles o mais conservador, e não por acidente, aquele que dá o maior prazer.
Na relação do terapeuta de voz com um rei gago, há reflexos da relação de um psicólogo com seu paciente, de um padre com seu fiel e até de um artista com sua arte. O filme, longe de ser genial, mas digno e repleto de momentos radiantes, tem pelo menos uma cena maravilhosa: aquela em que o rei fala de sua relação com pai e irmão e se abre pela primeira vez. Vemos alí o milagre que existe no trabalho de um grande ator com um grande papel ( e sendo instigado por outro grande ator ). Colin Firth, ator que admiro desde 1994, ator que sempre cito e que meus amigos mal davam bola, ator que já fora genial em seu Darcy, que fora excelente até em filmes simples como Simplesmente Amor ou Mamma Mia, faz com voz e face uma sinfonia de dor. Mas Firth mostra a dor como peça de ourivesaria, esse ator completo consegue mostrar a dor em surdina, uma dor discreta, doída, gotejante, inconsciente. Geoffrey Rush o acompanha a altura. O seu tipo, um ator frustrado que ajuda os outros a ter voz, tem fragilidade e loucura, alegria e melancolia. O filme nos dá a dádiva de os poder admirar. ( E ainda tem Derek Jacobi, Anthony Andrews e Helena Bonham-Carter, todos maravilhosos. E em discreta passagem, a grande e fulgurante Claire Bloom ).
Tom Hooper, diretor do muito bom Malditos United ( critica escrita e catalogada por aí ), dirige com segurança, mas sem grande ousadia. Visualmente o filme se parece com tv. Tudo é pequeno e em close. É um filme deste tempo: pequeno. Mas os atores e o bom texto o levam para o alto. Conseguem me fazer recordar essa coisa chamada "cinema inglês". O que é o cinema inglês típico?
Recordo de O MENSAGEIRO. Foi o primeiro filme tipicamente inglês que ví. Aos 15 anos. O filme tipico inglês tem sempre excelentes atores. Dos protagonistas até o porteiro da mansão em seu papel sem falas, todos são perfeitos. Têm voz, sabem usar o olhar e conseguem parecer elegantes com roupas de operário ou à vontade de fraque e cartola. Nesse tipo de filme sempre há uma cena de chuva, de neblina e as bocas exalam vapor. As falas são ditas com cuidado, sem pressa, com gosto. Chá e táxis ( ou charretes ) e casas velhas mofadas. A fotografia é sempre amarelada, com raios de sol caindo entre folhas. E todos eles, sem excessão, propagam amor aos seus atores. Fernanda Montenegro sempre diz que todo ator inglês é genial. São pessoas que crescem declamando Shakespeare, lendo Dickens e Jane Austen, tendo uma tradição de segurança e autoridade nos palcos que vai de John Gielgud a Peter O'Toole, passando por Olivier, todos os Redgraves, Day-Lewis, Jeremy Irons, Richard Burton, Rex Harrison, James Mason, e mais uma lista infinita que engloba Helen Mirren e Judi Dench, Julie Christie e Vivien Leigh. Com Colin Firth e Geoffrey Rush, essa tradição ( que eles amam ) fica viva e bem representada. ( Rush é australiano. Mas caso voce não saiba, a Australia tem uma das mais ricas tradições "anglófilas" em teatro. Desde a época de Peter Finch. )
Voltando a este bom filme.
O que se passa com a monarquia? É o segundo filme em pouco tempo ( o outro é A RAINHA, magnífico ) a exaltar a figura do monarca. Me parece que a Inglaterra, adivinhando sua inerente irrelevância futura, começa, felizmente, a dar o justo valor a Elizabeth, George e Vitória. Símbolos de toda uma nação, de uma opção, de um modo de ser e de estar no mundo. Quando a monarquia inglesa se for, mesmo tendo tido Henriques, Eduardos e Charles medíocres, teremos a noção clara do que toda aquela aparente inutilidade queria dizer e assegurar.
Há uma cena perto do fim do filme que me emocionou profundamente. É uma fala do rei George, ao som do Quinto concerto para piano de Beethoven. Nessa cena há algo de doloroso, de constatação de fim, de glorioso e decadente. É cena para se rever e rever.
Antítese do filme do sempre oportuno ( oportunista? ) Fincher, este filme perderá seus prêmios Oscar para a tal rede. Mas se Colin perder, mesmo que seja para Jeff Bridges, haverá uma injustiça Richard Burtoniana na noite. O que ele faz neste papel me recordou Michael Redgrave. Não é pouco.

ZAZIE/STAR TREK/JULIA ROBERTS/KILLSHOT

SERESTEIRO DE ACAPULCO de Richard Thorpe com Elvis Presley e Ursula Andress
O mais famoso filme de Elvis. Uma chatice. Nunca tinha notado como Elvis tem caras e bocas idênticas as que fariam a glória de Bowie e Ferry. Glamour. Mas o filme é tão chato! nota 1.
O AMERICANO TRANQUILO de Joseph L. Mankiewicz com Michael Redgrave e Audie Murphy. Eis um grande desastre. Mankiewicz, excelente diretor e roteirista, erra totalmente neste filme baseado num soberbo livro de Graham Greene. Passa-se no Vietnã pré-americano, o Vietnã-francês. Trata de ciúmes, americanismo e europeísmo. No filme se perde tudo: não há politica, não há humor negro. Há uma versão de John Boorman, com Pierce Brosnam e Brendan Fraser que é igualmente ruim. O genial Redgrave está perdido aqui. nota 1.
KILLSHOT de John Madden com Mickey Rorke e Diane Lane.
Miss Lane continua absurdamente bonita. Rourke continua escolhendo mal seus filmes. E agora chega: filmes de FBI, petrodólares, ex-agentes...cansou!!!!! nota zero.
STAR TREK de JJ Abrams com uns caras.
Vamos falar a real ? Vamos parar de bobagem ? Uma diversão como esta não pode ser criticada por alguém que fala sobre cinema. Seu objetivo é o mesmo da TV ou do Hopi Hari : o máximo de emoção com o minimo de risco. Deve ser analisado não em termos de roteiro, atuações ou direção. Deve ser julgado como investimento e retorno. Voce gasta uma grana para ter bom acompanhamento para pipocas e Coca, para ter emoção fácil, saudável e limpa. Voce recebe o que pediu. Como num grande parque, num circo ou na Disney. Analisado como cinema, cinema pop, ele é previsível, idêntico a dúzias de filmes anteriores. Apenas um fato : pra que atores ? Desenhos animados fariam tudo o que eles fazem e melhor. nota... qualquer uma. Não faz a menor diferença. O que conta é que a sala estava cheia.
O EXTERMINADOR DO FUTURO de McG com Bale, Sam e Moon
Tudo que foi dito acima vale para este. Com um agravante : o diretor tenta fazer cinema, não consegue, irrita. Bale se tornou uma caricatura. Diverte pouco. Dou nota : zero.
DUPLICIDADE de Tony Gilroy com Julia Roberts e Clive Owen
Adorei o inicio. Promete muito. Parece que será aquilo que o filme ridiculo de Brad e Jolie deveria ter sido. Tem classe, agilidade e algum bom humor. O diálogo parece ser acima do nível rasteiro de hoje... mas então... o diretor se deslumbra e se perde. Começa a destruir tudo o que "parecia" e vemos o que o filme é : veículo para a volta de Julia, única real estrela de sua geração. Ela não compromete, já Owen começa a saturar : ele tem duas únicas expressões, usa-as com constância de relógio. Uma bela fotografia. nota 4.
BANDEIRANTES DO NORTE de King Vidor com Spencer Tracy
De Bogart à Brando, de Sean Penn à De Niro, todos dizem que Tracy é o maior. Eu não gosto de Tracy. Este filme, do muito importante Vidor, é aborrecido, racista, ultrapassado. nota 1.
ZAZIE NO METRÔ de Louis Malle com Catherine Demongeot e Philippe Noiret
Após tantos filmes ruins, algum alivio vem da França. Deste mítico filme de Louis. Faça-se justiça à Malle, ele foi o melhor cineasta da época da nouvelle vague. Tinha o anarquismo de Goddard com o apuro de Resnais. E uma poesia que remete a Clair e Cocteau. Que filme é este ? Impossível dizer!!!! É uma versão de Alice de Lewis Carrol passada na Paris de 1960? É uma homenagem à Keaton, Chaplin e aos irmãos Marx? É o pai dos melhores video-clips? E dos filmes dos Beatles? É um filme sem sentido nenhum ? É tudo isso junto! É o mundo visto pelos olhos de uma criança feliz. É a única tentativa na história do cinema de se fazer aquilo que seria um filme dirigido por uma criança. Por Zazie. Malle consegue. Viva!!!! nota 8.
VIRTUDE FÁCIL de Stephen Elliot com Jessica Biel e Colin Firth
Eu adorei este filme bobo. Ainda não passou em nossas telas e duvido muito que passe. É uma adaptação de um texto de Noel Coward pelo diretor de Priscilla, rainha do deserto. Jessica não compromete ( não gosto dela, acho-a esquisita, bocuda ) e Colin ( de quem sempre gosto ) está excelente. Trata de uma tradicional familia inglesa, que recebe o retorno de seu filho, casado com uma "moderna" americana. O conflito, em tom de ironia, se dá. A mãe não aceita a moça e ela não aceita a vida na mansão campestre. Coward obteve imenso sucesso com esta peça. Ela era tudo o que ingleses e americanos queriam assistir : cinica, leve e cheia de inteligencia. E hoje? Existe público para um filme onde tudo de melhor que acontece está vinculado àquilo que é dito e não àquilo que é feito ? Onde tudo é refinado, sutil, sub-entendido? Gostaria muito que sim, e é sintomático uma entrevista de Jessica em que ela diz ter sido "um prazer dizer aquele texto tão inteligente. Pena hoje não falarmos assim!" O público entendirá ou se entediará ? Músicas de Coward abrilhantam o filme ( e algumas de Porter também ) e todo o resto do elenco está delicioso ( com excessão do filho, um fraco e bobinho menino ). No fim, o filme vai se acinzentando e se torna um bom drama de final risonho ( mas não feliz ). Adorei. É um prazer, uma raridade e com certeza será um lindo fracasso. nota 8.

CARRIE/BETTE DAVIS/STEVE MCQUEEN

Tom Horn de William Wiard com Steve McQueen
o último filme de steve é um western de uma tristeza glacial. dá pra notar o avanço da doença que mataria o astro logo após o final das filmagens. ele tinha 50 anos, mas aparentava 70 naquela altura. é triste pensar no que ele poderia ter feito no futuro que não viveu. tinha carisma de sobra e um estilo calado e frio insuperável. mas este é apenas um filme pobre e de pouca razão de ser. 3.
Teu Nome é Mulher de Vincente Minelli com Gregory Peck e Lauren Bacall.
o roteiro de george wells ganhou o oscar daquele ano. é o avô das ditas comédias romanticas. aqui, feita com muita classe e diálogos adultos e leves. peck é um jornalista de beisebol e lauren uma snob designer. minelli leva com seu bom gosto de esteta. nota 7.
Domino de Tony Scott com Keira Knightley e Mickey Rourke.
foi scott, o irmão de ridley o culpado. foi ele quem nos anos 80 criou a mania de filmes cheios de truquezinhos de imagem. atores posando. camera dançando. ar de anuncio de tv. filmes como top gun, fome de viver, dias de trovão e maré vermelha. este filme é dos maiores lixos imagináveis. um monte de movimento que não vai a lugar nenhum, ação sem emoção, cores e sons que existem por existir. um vergonhoso retrato do quanto o cinema se tornou futil. Zero.
Mama Mia!!!!!!!!!!!! de Phyllida Lloyd com Meryl Streep, Pierce Brosnan, Colin Firth, Julie Walters.
produzido por tom hanks. e isto é muito importante : o filme tem o astral de the wonders. que imenso prazer o de se ver meryl streep brincar. que delicia assistir pierce brosnan esbanjar charme adulto pela ilha encantada onde o filme existe. e que deplorávelmente ruim roteiro temos aqui ! será que não podiam criar um mínimo de emoção, um minimo de surpresas ? temos neste a prova do porque de os musicais atuais não funcionarem : os números de canto e dança são jogados na tela sem preparação. o roteiro não cria um gancho, um motivo poético para que a canção se inicie, ela vem de repente. de sopetão. mesmo assim eu senti afeto pelo filme. por meryl, pierce e colin, e por que não ? pela muito subestimada música do abba, que desde a década passada vive sua vingança contra aqueles que não enxergavam nos anos 70 que aqueles suecos eram os herdeiros de phil spector. nota 6.
Vitória Amarga de Edmund Goulding com Bette Davis, Ronald Reagan e Bogey.
bette é uma frívola milionária. adoece. cancer cerebral. dramalhão ? é. mas nada revoltante. o filme flui e bette estraçalha. só vivien leigh em e o vento levou poderia lhe tirar o oscar daquele ano- e tirou. bette mostra egoismo, vaidade, medo, culpa, dor e coragem, ensinando como iluminar a tela. quando ela está em cena o filme brilha. brilha muito. felizmente ela está em todas elas. 7.
Depois do Ensaio de Bergman com Lena Olin e Gunnar Bjorstrand.
é um dos filmes que o genio fez após sua "aposentadoria". conversas sobre teatro, existencia, tempo, morte. não é filme de cinema, é feito para a tv sueca. 5.
Carrie de Brian de Palma com Sissy Spaceck, William Katt, John Travolta e Piper Laurie.
As pessoas que odeiam os anos 70 são aquelas tímidas personalidades que abominam a exuberancia louca que havia então. tudo era super-big nos 70 : carros imensos, cabelões gigantescos, sapatos e lapelas colossais, filmes egocentricos!!! e que felicidade a de uma época que em 3 anos assistiu : O chefão e a conversação/ taxi driver e alice não mora mais aqui / tubarão e contatos imediatos/ guerra nas estrelas e american graffitti/ annie hall e manhattan e nashville com um estranho no ninho. e carrie. um filme do mais exagerado e anos 70 dos diretores: de palma. um diretor que sempre vai ao limite, que não teme o mal-gosto, o exagero e a falta de tato. neste filme, se uma pessoa morre, mais 20 morrem; se uma cena é cruel, mais crueldade é adicionada. o roteiro é péssimo, os atores ( com excessão da comovente sissy ) estão à deriva, a trilha sonora compromete, o papel da mãe é caricatural... mas, funciona! funciona como uma homenagem aos filmes ruins, como uma diversão pop, e para mim, é uma deliciosa comédia de saudável humor-negro. a cena da corda segurando o balde com sangue é puro hitchcock : brian segue a dica do mestre : se o balde apenas caísse sem sabermos que ele iria cair teríamos apenas um susto- mas sabemos que o balde cairá, e vemos a agonia de carrie lá embaixo e esperamos-quando irá cair???? carrie é um filme que feito hoje mostraria visceras e explosões, a camera rodopiaria pelo cenário e os alunos seriam deprimidos sórdidos. de palma tem muito mal gosto, mas filma bem demais. nota 8.
Appaloosa de Ed Harris com Ed Harris, Viggo Mortensen, Jeremy Irons e Renee Zelwegger.
primeiro: o que aconteceu? Jeremy irons surgiu em 81 como possivelmente um novo olivier. após seu oscar em 88 foi relegado a apenas um tipo : o vilão fino e gelado. se tornou um desses atores excelentes e sub-utilizados, como gary oldman, malkovich, willem dafoe, terence stamp. dito isso...o western, de todo tipo de filme é o que mais depende de carisma. trata-se de um tipo de filme que expõe o ator : é seu corpo se movendo. aumentado, isolado, observado. esse ator tem que ser magnético. como o foram wayne, cooper, stewart, clint ou burt lancaster. viris e magnéticos. esse tipo de ator não se forma estudando teatro ou assitindo tv- ele se forma na vida. para o western são necessárias cicatrizes, rugas e uma voz que transmita solidão e coragem moral. no western não existe um homem numa estrada correndo ao sol- no western é O homem correndo NA estrada debaixo DO sol. tudo é amplificado e exposto na sua mais profunda e última realidade. meninos não gostem de westerns. eles não têm celulares/ carrões e computadores. mas o principal é: ele mostra aquilo que seremos ou já somos. este é um faroeste do tipo anthony mann- crepuscular. existe ação e companheirismo. mas é tudo mudo, surdo, meio em vão. ed e principalmente viggo têm bons rostos para westerns, mas falta um pouco de brilho ( quem teria hoje ? ) mas há aquele relacionamento direto, tipo john ford e dá pra ver que todos os envolvidos amam o que estão a fazer. digno, honesto e preciso. 7.