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DEUS E OS ESCRITORES
Um amigo me manda uma crônica escrita por Antonio Lobo Antunes. Nela, o português fala de ter revisto uma entrevista feita na BBC por Evelyn Waugh. No início, Antonio celebra a alegria de se ver um jornalista inteligente, coisa cada vez mais rara, entrevistando um escritor do tamanho de Waugh. O inglês foi um autor famoso, dono de um caráter muito dificil, e que produziu livros que adoro e que guardo como tesouros. Mal humorado, agressivo, Waugh era amigo de Graham Greene, outro inglês católico. Antonio conta que ao final da entrevista, o entrevistador pergunta, depois de morto, como Waugh gostaria que seus leitores o lembrassem. Segundo Antonio, Waugh faz cara de criança e repete duas vezes, "Que rezem por mim". -------------------------- Eis o momento em que Antonio se emociona. Ele nos conta que Aristoteles relata em certa obra seus 10 autores favoritos. Todos esses dez não têm uma só obra que sobreviveu até nosso tempo. Antonio, dizendo que aquela é a melhor entrevista que já viu, fala que Waugh não espera nada da posteridade. Tudo o que ele deseja é a salvação de sua alma. Em pura sinceridade ele se desnuda, e revela ser um homem antes de um autor. Antonio lembra-se então do momento em que teve uma epifania e sentiu sua eternidade. Como um grão, mas um grão eterno. Um grão sem obra e sem nome, porém eterno como grão, grão que sente paixão, sedento e sem fim.
AS NAUS- ANTÓNIO LOBO ANTUNES, Portugal, este pesadelo.
Quando era um miúdo, lá por 1975, lembro de uma portuguesa ir fazer faxina em casa. E de minha mãe comentar com meu pai como era triste esse povo que fugia corrido de Moçambique para não ser estripado pelos negros. Faz tempo.
Lobo Antunes toca nessa ferida. Num tempo que voa entre 1500 e 1977, Pedro Alvares Cabral, Diogo Cão, Vasco da Gama, Luis de Camões, entre outros, voltam da África e tentam sobreviver na Lixboa setentista e socialista. Tudo lhes parece sujo e louco e agora eles são anônimos. A narrativa, eliptica, tonta, é cheia de adjetivos, de imagens de pesadelo, de becos sem saída, imagens de sujeira, de sexo, doenças, fedor e uma melancolia quente e desesperada.
Portugal é o lugar onde todos pensam e querem crer ter sangue de fidalgo. E seus heróis andam sem saber onde estão, onde ficar, o que fazer. Miragem. Sofrem de saudades africanas. Querem as mulatas e o verão sem fim. O mar cheio de pestes, a fome e a violência.
Ler Lobo Antunes não é fácil. Ele exige muito do leitor. Quer atenção e quer cultura. Escrita espinhosa, complicada, exagerada, tortuosa. Quase barroca. Barroquismo ateu.
Lobo Antunes toca nessa ferida. Num tempo que voa entre 1500 e 1977, Pedro Alvares Cabral, Diogo Cão, Vasco da Gama, Luis de Camões, entre outros, voltam da África e tentam sobreviver na Lixboa setentista e socialista. Tudo lhes parece sujo e louco e agora eles são anônimos. A narrativa, eliptica, tonta, é cheia de adjetivos, de imagens de pesadelo, de becos sem saída, imagens de sujeira, de sexo, doenças, fedor e uma melancolia quente e desesperada.
Portugal é o lugar onde todos pensam e querem crer ter sangue de fidalgo. E seus heróis andam sem saber onde estão, onde ficar, o que fazer. Miragem. Sofrem de saudades africanas. Querem as mulatas e o verão sem fim. O mar cheio de pestes, a fome e a violência.
Ler Lobo Antunes não é fácil. Ele exige muito do leitor. Quer atenção e quer cultura. Escrita espinhosa, complicada, exagerada, tortuosa. Quase barroca. Barroquismo ateu.
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