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MARIO PEIXOTO, O ÚLTIMO DOS ESTETAS

   Na madrugada de 2015, com calor, sem querer me deparo com a imagem de nuvens que se dispersam no céu. E uma voz que fala. Que a realidade não o interessa. Que ele nem mesmo acredita na realidade. Sim, ele pode ver essa tal realidade. Mas ela não o atinge. Não lhe importa.
  O documentário sobre Mario Peixoto é lindo de doer. Poesia em forma de video. Tem até mesmo Satie na trilha sonora. Ao som de Satie até ler um jornal se torna poesia. Porém a poesia maior está em Mario. Nas cenas em que ele fala. Em sua vida. Em seu filme. E percebo, vendo-o falar, que Mario Peixoto, que morreu nos anos 90, foi das últimas provas. Ele provava que era verdade, as pessoas foram um dia mais poéticas, mais calmas e delicadas, as pessoas foram um dia, maiores.
  E mesmo assim Mario nasceu na hora errada. E, claro, no lugar errado. Mario poderia ter sido um austríaco de 1800.
  Tudo nele tem modos de aristocrata decaído. Ou melhor, anjo. E poderia ser personagem de Nabokov. Afinal, ele foi um desconsolado estudante inglês, odiando o clima e fazendo amizade com dois japoneses. Em Londres ele assiste Metrópolis, e isso muda sua vida. Apesar do fato de que ele é muito mais Murnau que Lang. Volta ao Rio e vira cineasta. Seu filme, Limite, é considerado o maior dos filmes feitos aqui. 
  O documentário de Sergio tem cenas de Limite. E sabemos que 1929 foi o apogeu da linguagem do filme silencioso. E que o cinema sonoro veio atrasar a arte dos filmes. Toda a linguagem moderna do silencioso foi abandonada. Para se criar um novo modo, com som. A imagem se desvalorizou. Limite é imagem. Ensina a ver.
  Depois vem o resto. Mario fracassa em seu segundo filme. Pode-se dizer que ele errou por delicadeza. E foi viver num sitio a beira mar. E fez nesse sitio sua maior obra, viveu. Os empregados dizem que ele levava um mês para plantar um pé de qualquer coisa. Why? 
  Mario explica: Porque o tempo, ele não existe. Passado e futuro, eles são invenções. E sem tempo, além do tempo, Mario criou seu mundo.
  Sensibilidade refinada, ver Mario falar é ter contato com a sensibilidade que não mais existe. Ele é um Tilacino, um Dodo, um babilônio. 
  Ver este documentário é um privilégio.
  Usei a palavra fracasso? O que significa fracasso para quem viveu o que quis?

Onde a Terra Acaba (Sérgio Machado, 2001)



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