Serge Gainsbourg - Des laids des laids (au Palace + videoclip)

Serge Gainsbourg - No comment

AMBROISE VOLLARD FALA DE SEUS ENCONTROS COM RENOIR

O amigo marchand, talvez o comerciante de arte mais mítico da história, escreve sobre suas conversas com Renoir. Agradáveis, reveladoras, solares. Como todo gênio, Renoir trabalha muito e ama seu trabalho. Para quem pensa que Renoir era um tipo de "amante da vida", uma surpresa: feliz ele foi, mas seu amor era pela pintura e ela tomava 99% do seu coração. Católico, Renoir dizia que os protestantes eram sombrios, enfadonhos, e que só conseguiam fazer coisas uteis. ( Não acho que ele estivesse errado. A alegria sensual em países como Alemanha ou USA é sempre um tipo de afronta ). Renoir, o homem que fez uma revolução, se mostra um conservador. Ele detesta carros, trens, a arte que vem depois dele, odeia a pressa, fábricas, barulho. Cercado de mulheres, principalmente a ex modelo que virou esposa, ele luta contra as visitas que não param de chegar, os compradores, a falta de tempo. Reumático, vemos o artista em sua cadeira de rodas, com os filhos Jean, o grande Jean Renoir, e Claude, que seria fotógrafo de cinema dos grandes. ------------------ Para quem não entende onde a revolução de Renoir: as cores. Eram consideradas erradas, fortes demais, não naturais. O desenho, era chamado de ruim, fraco, sem habilidade. Os temas eram chamados de vulgares. Mas ele logo venceu. Na maior parte de sua vida, quase 80 anos, foi rico. --------------------- Renoir foi o primeiro artista que chamei de favorito. Isso quando eu tinha 15 anos. Os nus voluptuosos conquistaram, óbvio, um adolescente que era meio tarado. As mulheres eram bonitas, alegres, felizes, radiantes. No livro Renoir não esconde o prazer de pintar uma bunda que reflete a luz. Seu horror era a pele opaca, sem brilho, sem cor. Depois eu descobri Gauguin, Matisse, Klee, mas Renoir foi o primeiro. ------------------- Outro fato interessante é pensar em como a pintura foi importante em certa época da história. E não foi por falta de riqueza na literatura ou na música. O impressionismo acontece no tempo de Flaubert, Mallarmée, Rimbaud, Debussy, Ravel, Bizet, isso para falar apenas da França. Entre 1860-1930, durante 70 anos, a pintura foi centro da vida intelectual. De Ingres e Delacroix até Picasso e Braque. Depois, talvez o cinema, as revistas, a popularização das câmeras fotográficas, mataram a pintura como arte central. Os novos pintores tentaram então expressar a alma ou o inconsciente e perderam o público. ------------------ Hoje volto a valorizar Renoir e não só eu. Ele se reabilita como clássico. Como monumento. Quem já viu uma tela de Renoir cara a cara sabe o efeito que ela causa. As cores parecem explodir, o desenho se move, ela nos chama, nos seduz, hipnotiza. E nos faz feliz. Era tudo o que ele queria. E venceu. Arte viva. Sensual, tem cheiro, canta, impressiona.

Complete performance: Schoenberg's Pierrot lunaire

PIERROT LUNAIRE - SCHOENBERG. NASH ESEMBLE- SIMON RATTLE.

Pleno modernismo do começo do século XX. A voz, de Jane Manning, paira como uma assombração. Música feita de fragmentos que pipocam como meteoros de ilusão. Ouço e sinto que tudo aqui é um ponto de interrogação. A música é não emocional ou pós emocional? De onde vem esse estilo de compor e mais importante: como devo a escutar? Fascina. Mas o prazer existe aqui? Talvez um outro tipo de prazer, pois a vontade de ouvir mais uma vez existe. É preciso penetrar nesta música, como? eu não sei. Schoenberg ainda é guia da música dita moderna, cem anos passados. Diziam que ela anunciava as guerras mundiais. Não. Ela anunciava nosso tempo. Aparente desordem que esconde ordem absoluta. Sim, há seus clichés: não há como ouvir isto sem pensar nos filmes expressionistas de então. Voce vê os postes com sombras negras e as ruas com pessoas sinistras. Desconfiança. E paranoia. Sim, é a trilha sonora da neurose, a velha neurose clássica, pesada, soturna, freudiana. Minhas neuroses soavam exatamente assim. Caminhar com frio nas noites de 1980, na avenida Paulista, era assim. Isso percutia na minha mente. Exatamente Schoenberg, que eu nunca ouvira até então. --------------- Necessário.

SINFONIA 9 DE GUSTAV MAHLER, SOB A REGÊNCIA DE ESCHENBACH COM A SINFÕNICA NDR.

Mahler não é fácil. Sua obra, hiper valorizada hoje, dá enfase à orquestração e nunca à melodia. Isso nos aliena. Precisamos de tanta concentração para a penetrar que acabamos por nos cansar. A Nona, mais de hora e meia de música, é uma massa pós romântica que o tempo todo parece ir mergulhar num wagnerismo século XX, mas escapa se fazendo universo de células sugestivas. De tudo que ouvi de Mahler, é a mais difícil e por isso confesso ter sentido tédio, um tédio digno de...Mahler. ----------------- Ele não comunica, é música que nasce e caminha da alma do artista para dentro da mesma alma. Ela como que cozinha nas profundezas do ego e não lança um anzol para fisgar outro coração. Eu sei que no mundo erudito de 2024, criticar Mahler parece heresia. Mas sou o que sou, e digo que dificilmente irei escutar esta obra novamente.

MEPHISTO - JOHN BANVILLE

Considero Banville um grande autor. Se voce ir ao índice verá que escrevi bastante sobre esse irlandês. Mas este livro me deixou insatisfeito. Na história de um jovem estranho que se torna um gênio matemático, nada acaba por nos interessar. Não há uma só personagem que fascine o leitor e o texto não tem o ritmo e a perspicácia esperada. Esqueça Mephisto mas não John Banville.

1975 - Raul Seixas - A Maçã

NOVO AEON - RAUL SEIXAS....SIM, É RAUL E É SEIXAS

Eu nunca ouvi Raul Seixas. Quer dizer, eu ouvi o que era obrigado a ouvir. Ele estava sempre na TV entre 1974-1977 e no rádio. Então eu ouvi muito dez ou doze canções dele que todo mundo ouvia. Mas eu não gostava dele. O achava sujo, feio, de mal gosto. Sim, sempre fui um esteta. Fresco até o umbigo. ------------------- Tenho uma amiga que tem um pai de 65 anos. Nascido no Ceará, pobre de doer, ele veio para São Paulo em 1980 e morou em barraco de tábuas. Passou fome. É do povão. Pois bem. Esse homem adora forró, música brega e Raul Seixas. Sabe tudo de Raul decorado. Canta Raul. ----------------- O rock brasileiro pós anos 80 sempre foi elitista. Salvo poucas excessões, era feito por jovens filhos da elite e escutado por jovens que se viam como elite. Nunca conseguiu atingir o povão. ( Mamonas Assassinas conseguiram e eles sempre me lembravam Raul Seixas em versão idiota ). Mas não é só isso. Cazuza, Renato Russo, os Titãs parecem terrivelmente pobres, em som e em letras, se os compararmos com este disco. Novo Aeon seria um disco perfeito se não fosse uma faixa muito ruim, Caminho II, mas mesmo assim é um disco que humilha Arnaldo Antunes ou Humberto Gessinger. É de uma riqueza de som e de verbo que somente um homem especial poderia atingir. Raul é o único gênio na história de nosso rock. E, esperto, atingiu o povão sem forçar nada. Sua arte era incrivelmente natural, portanto, brasileira. ------------------------ Fico espantado em imaginar que pessoas semi analfabetas escutassem algo tão belo e bem escrito como A Maçã, uma obra prima completa sobre a relação homem e mulher. Ou a anárquica mensagem de Fim de Mês, uma festa de rimas não óbvias em ritmo do nordeste do Brasil. Ele antecipa a mangue beat. Tente Outra Vez é heroico, Rock do Diabo é rock de primeira, Eu Sou Egoísta é grito de independência, e Tú És o MDC da Minha Vida tem uma letra que me deixou muito, muito surpreso: Caramba!!!!! O cara era bom!!!! O cara era muito muito bom!!!! --------------------- Descobrir Raul Seixas na idade em que estou, ver que uma faixa como Sunseed parece o indie dos anos 2000, faz de mim um provilegiado. Chegar aos 60 anos tendo a chance de ouvir a obra de Raul PELA PRIMEIRA VEZ não é pouca coisa. Portanto, TOCA RAUL! digo bem alto agora para quem estiver por aí.

SÍLVIA - GÉRARD DE NERVAL

Nascido no começo do século XIX e morto em 1848, Nerval simboliza como poucos o romantismo francês. E assim, ele viveu e morreu como romântico autêntico, louco e suicida. Sim, pois não há como ser romântico autêntico no mundo prático e real. Puro idealista, o romântico nega a realidade todo o tempo e vê seu Ego em tudo ao seu redor. Movimento que eu particularmente abomino, fui um romântico aos 15 anos, sei do que falo, meu romantismo era completo e exarcebado, esses partidários do Eu criaram tudo de mais abominável que existiu no século XX: o socialismo, o comunismo, o nazismo, o fascismo, o culto a celebridade, a contra cultura, todos movimentos baseados no idealismo, no compromisso com uma ideia mesmo que ela negue toda a prática. É no romantismo, graças a Rousseau, que a criança e o selvagem passa a ser vistos como seres sagrados, uma idiotice que pegou nas massas porque faz de qualquer idiota irracional um Ser Puro. ---------------- Era preciso estudo, trabalho e força para ser um Ser Superior no mundo clássico. Com o romantismo basta ser infantil ou selvagem. Weeeeellll.... voltando a Nerval, este livrinho simples, mal escrito, pobre, e por isso "puro", fala de um jovem que ama duas mulheres, uma atriz e uma moça do povo. No fim, claro, ele fica sem nenhuma e sentimos que ele amava apenas ele mesmo. Como bom romântico, nada existe no livro a não ser o narrador, personagens, paisagens, tudo existe como acessório ao grande narrador, o Ser Superior que sente mais que eu ou voce. Uma bobagem típica de adolescentes mas que em 1830, na França, passava por heroísmo. O narrador é bem bobinho, nada faz de excepcional, nada diz que pareça inteligente, mas sente, deus como ele sente! ---------------- Devo dizer que o romantismo alemão era bem menos tolo pois era místico, mais medieval e na Inglaterra ele tinha enredos melhores, pois era feito para as massas. Na França ele se tornou ARTE com A imensamente grande, esnobe, orgulhoso, sem qualquer compromisso com a realidade. Se imaginarmos que Balzac era contemporaneo de Nerval tomamos um susto. Balzac já antecipa o realismo com suas cifras, contas, lucros e perdas, jornais e fábricas. Nerval é 100% sentimentos, matas e luares. Um narcisista radical.

TODO O TEMPO DO MUNDO

leia e escreva já!

AQUI E AGORA. A TEORIA DO BLOCO.

Nada do que Einstein disse foi desmentido na prática. Tenha isso em mente. ---------------- Trabalho na escola onde estudei. Estive lá entre 1972-1978. A escola está no mesmo local neste planeta. Os anos a modificaram. O pátio era todo de terra, hoje não. As paredes eram brancas e o chão de madeira. As árvores cresceram e eu, bem, sou um velho em 2024. Pois bem, tudo se modificou ao sofrer a ação do tempo senhor da vida. ------------------------ Imaginemos agora que um astronauta foi enviado a uma posição que fica a 50 anos luz da Terra. Ou que exista um ser nessa posição. Digamos que ele aponte uma lente para a escola onde estou em 2024. Digamos que seja o dia 20 de fevereiro de 2024. O que ele verá? --------------- A imagem leva 50 anos para chegar a 50 anos luz daqui e isso voce já sabe. Imagem é luz-energia e isso voce sabe. Então esse ser está vendo uma imagem de 1974 e nessa imagem ele me vê aos 12 anos de idade. Não só isso. Se mover a imagem ele irá ver meu pai vivo. Imagens. -------------- Vamos complicar isso? Vamos afastar nosso ponto de vista e nos posicionar num posto onde podemos ver AO MESMO TEMPO o menino de 1974, o cara de 62 em 2024 e o ser que observa a Terra a 50 anos luz. Esse ponto de vista OBSERVA TODOS OS 3 SERES AO MESMO TEMPO. Ou seja, em um ponto de vista distante, o menino de 12 anos não é apenas uma luz-energia que chega atrasada, é uma realidade que dura ao mesmo tempo que o eu que aqui escreve. ------------------------ Bergson já intuia isso e a palavra era DURAÇÃO. ------------------- O menino não seria uma luz como um dvd antigo, mas ele existiria em 2024, 2024 que aliás nada significa fora da Terra. -------------------- Complicado? Não. Ondas de rádio emitidas aqui viajam pelo cosmo para sempre, isso se sabe desde 1930. O que a Teoria do Bloco diz é que tudo aquilo que existe ou existiu existe para sempre. Presos ao tempo que nos empurra para frente, percebemos seu desaparecimento aparente no tempo, mas, e sei que isso é incrível, o evento continua a reverberar eternamente no local onde ocorreu. É tudo uma questão de ponto de vista. Desse modo, o cosmos seria um bloco onde tudo é um AGORA QUE NÃO PASSA pois passaria para onde? Não há uma lixeira, um ONDE em que tudo evento fosse eliminado do cosmos. O Cosmos é tudo e portanto tudo nele permanece. Cada ação, cada segundo, cada ser, tudo se repete em looping sem fim. ------------------ Podemos dar o próximo passo? Eu disse sem fim? Sim, sem fim. Mas se não pode haver fim, não há começo possível. E então, se o Cosmos é um bloco, o futuro faz parte disso, ou seja, dependendo do ponto de vista, o Futuro já acontece agora e acontece sempre. Eu sei que agora a coisa ficou confusa demais, mas não há como dizer que algo não tem fim sem admitir que não houve início. E se não houve início NADA começa agora, não pode haver começo. Portanto tudo existe desde sempre e cada evento, macro ou micro, acontece desde sempre e acontecerá infinitamente. --------------------- O menino de 12 anos e o homem de 62 existem no mesmo local e ao mesmo tempo ( tempo? que tempo? ). Os dois sentem, pensam, reagem e são contemporâneos. Não se comunicam porque não possuem a FERRAMENTA para tal. Presos na MUDANÇA ETERNA APARENTE, não podem ver nada que seja exterior a aparência. Sua máquina cerebral é Newtoniana. Uma coisa de cada vez, ação e reação, dia e noite, o fim depois do começo, tudo tem seu tempo etc etc etc. ----------------- Nada disso faz sentido quando nos afastamos deste sistema solar.