Mostrando postagens com marcador oscar 2016. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador oscar 2016. Mostrar todas as postagens

STRAIGHT OUTTA COMPTON, O MELHOR FILME DO "OSCAR 2016"

   Agora entendo a ira dos negros. Este filme é muito mais relevante, interessante e divertido que qualquer outro filme do Oscar. ( Ok, Mad Max é mais divertido e filosófico ). O diretor F. Gary Gray dirige de forma quadrada, não inventa nada, e nem precisa: a história é muito boa. É a história da última grande revolução da música, uma revolução tão grande que ainda hoje, 30 anos depois, os mais conservadores ainda têm dificuldade em chamar de "música" aquilo que é ritmo com poesia, a mais visceral das músicas.
  Lembro bem do NWA. Li uma matéria irada na Rolling Stone gringa, em 1989. O autor, num canto de página, chamava atenção para a revolução do gueto. Fogo e ira em shows. Como não se via desde....nunca. O RAP se firmara em 1985, RUN DMC, Beastie Boys, Public Enemy. Depois LL COOL J, Fat Boys, EricB e Hakim. Eu estava lá e vi tudo. Roqueiros odiavam rap. Odiavam muito. Achavam fácil de fazer ( nunca conseguiram fazer igual ). Falavam tudo aquilo que seus pais haviam falado sobre o rock 30 anos antes. Não percebiam que eles estavam muito, muito velhos, e pior, inofensivos. O rap os ofendia por jogar sua bunda molice em sua cara. Entre 1985-1995 nada no mundo era mais vivo, jovem, influente e interessante que o rap. E o NWA, dentro do rap, foi a mais odiada das bandas.
  O mundo mudou com eles. Você que tem menos de 40 anos não sabe disso. Mas o mundo antes do hip hop era outro. Cabelos, roupas, modo de falar, a cultura DJ, mix, modo de se mover, dança, cinema, graffitti, a fala, tudo foi mudado por eles. Do tênis que você usa, do modo como você dança, a camiseta que você veste, o jeito como se produz um disco, as letras, o sotaque do inglês de rua, cortes de cabelo, e principalmente, o modo agressivo e intrusivo como os negros aprenderam a se afirmar. O rap anunciou Obama, mas também abriu caminho para Chris Rock e Will Smith.
   O NWA inventou a mais odiada forma de rap, o gangsta. Dr, Dre, um gênio musical, com Ice Cube, Eazy E e REN, criou o som em 1987. Era pra dar tudo errado. Na era Reagan, eles falavam em matar a policia e no orgulho em ser traficante, gigolô e ladrão. ( Sim, eles abriram caminho para o funk brasileiro ). Afirmavam ter um pênis maior, armas maiores e mulheres mais gostosas. Esse discurso, amoral, e muito verdadeiro, eles se diziam jornalistas, caiu feito bomba no meio musical. Ice Cube disse que eles nada elogiavam, apenas diziam o que todo mundo falava. Os brancos é que não sabiam disso. Essa a verdade. O gangsta quando chegou no Brasil virou funk. O funk não faz o crime maior. Ele o traz para os holofotes.
  Em termos musicais DR. Dre tem um bom gosto impressionante. Ele une batidas de George Clinton com acordes de Disco Music. Isso é arte. Tanto como Duchamp ou Mondrian. Ele pega o detalhe ínfimo e lhe dá relevância e estatuto de museu. Muda o que entendemos por "músico". Um bom DJ é muito melhor que um bom guitarrista. Os dois repetem fórmulas. Mas o DJ é muito mais livre e aberto. ( Falo dos bons DJs. Existem os enganadores. Como existem os guitarristas banais ).
  Drogas, muito sexo, muita policia, grana, brigas. O filme flui. O elenco dá conta. O ator que faz Eazy E. domina o filme. Ele é excelente. Pra finalizar:
  Perto deste filme, que nada tem de genial, aviso, o filme do caçador, o filme do padre e o filme do menino nada têm a dizer. São pálidos. Se você quer ver um filme que faça diferença, este é o filme.

POSTAGEM DIGNA DO OSCAR

   Leo venceu o filme que venceu é banal o diretor virou grife e o prêmio perdeu qualquer chance de glamour ou relevância. E é só.

O FUTURO CHEGOU: O NOVO FILME DE IÑARRITU O INAUGURA.

   George Lucas falou que o cinema do futuro seria apenas sensação, sem emoção. Um gato sendo torturado seria filmado. A perseguição ao gato, não.
   Sensação é aquilo que um bicho sente: dor, medo, asco, desejo. Emoção é mais complicada, uma mistura de asco com curiosidade, de desejo e medo, de alegria com horror. Tudo isso em meio a inteligência, a espera, ao suspense.
   O novo filme de Iñarritu mostra que esse futuro chegou. São duas horas de sensações. E a sensação, em seu ponto extremo, se chama pornografia. O oposto radical do erotismo.
   A história é banal. Caçadores de peles são atacados por índios. Fogem, e na fuga ocorre uma traição. Vem a vingança.
   Não pense em western. O filme está longe do mundo de Hawks, Ford e mesmo de Clint e Peckimpah. Esteticamente ele bebe nos filmes russos. Mas é moderno e artístico, então o que temos são imagens que vomitam esteticismo. O diretor tem ereções com sua "esperteza". Toda imagem deveria trazer um aviso: "Cuidado! Gênio filmando"
   A câmera voa pelos cenários, flui, vai e volta. O filme não tem uma cena de câmera parada. E, se nos primeiros dez minutos, isso até impressiona, depois a gente nota que é um vicio, um maneirismo que não existe em função do FILME, mas sim em função do AUTOR. E vem, em consequência o pior....Começamos a ver tudo aquilo como um filme. O foco deixa de ser o personagem e passa a ser a técnica. O filme desaba.
   Leonardo di Caprio foi grande em vários filmes. Aqui ele tem seu papel mais simples. Ele urra, suspira e geme muito. O rosto, escondido por barba e movimentos de câmera, mal se vê. É uma atuação muito mais de atleta que de ator. Deve vencer o Oscar pelo que fez no passado.
   Há uma cena com um urso que detona as intenções de seu deslumbrado diretor. Sem nenhum suspense, o urso nos dá um susto e ataca. Então, de um modo pornográfico, vemos o urso torturando Leo. A cena, boçal, não tem a menor função narrativa. Seu único objetivo é provocar uma sensação. Asco. Isso não é arte. É o tal gato sendo torturado.
   O filme, bobíssimo, é o alongamento dessa cena ao infinito.