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MONSIEUR GAINSBOURG, UMA HOMENAGEM
Bem tarde o rock inglês acordou e percebeu que Serge Gainsbourg fazia música instigante. Hoje, o francês é considerado extra cool e Melody Nelson está sempre na lista dos melhores discos da história. Se vivo Serge daria risadas disso tudo. Ele nunca jamais foi rock. --------------- Em 2006 um bando de músicos ingleses e alguns poucos americanos resolveram fazer um disco em homenagem a Serge. As versões vão de dignas à vergonhosas. Sem a voz de Serge se perde muito. Ofensiva, irônica e ao mesmo tempo sublime, sua voz temperada a alcool e cigarro faz muita falta. ------------- Franz Ferdinand abre a coisa e faz um som à FF com 0% de Gainsbourg. Voce pode dizer que eles mantiveram sua identidade. Eu achei apenas banal. Depois temos Cat Power destruindo je taime mois non plus. É muito, muito ruim. Jarvis Cocker faz de longe a melhor versão. Timbre de voz, interpretação, arranjos, ele entendeu tudo. De tudo que há no album, é o único digno do mestre. ------------ Portishead, Brian Molko, Tricky, todos fazem um som ok, mas nada muito memorável. Michael Stipe canta como se Serge fosse Jacques Brel, Stipe não entendeu nadaaaaaaa..... ----------- Marianne Faithfull, desde 1964 muito francesa, faz um reggae com Sly e Robbie. Ótimo!!!! Como Sly e Robbie tocaram com Serge, no sublime disco de reggae que ele fez, a coisa tem tarimba. Então vem Gonzales e depois o Placebo. É legal saber que todo esse povo é fã. Só isso. Já Marc Almond transforma Serfe em Soft Cell, e isso é um elogio. The Rakes é o pior. E The Kills escolheu a música errada para eles. Carla Bruni fecha o disco. Ela faz o mesmo que Cat Power, faz de Serge um cara para restaurantes bacaninhas. Horror baby. -------------- Vale ouvir como curiosidade.
LIFES RICH PAGEANT - REM E O GÓTICO AMERICANO
Um europeu, isolado em imenso novo mundo, olha aquele espaço e vê nele espírito pagão. Ao redor, cobras, corvos, lobos, ursos, florestas sem fim, névoas. Esse o gótico americano de Hawthorne, Poe, Melville. O Brasil não teve um gótico, infelizmente, porque não havia ninguém aqui para ler nada. Éramos todos analfabetos. ------------- Na Georgia, terra dos REM, o gótico foi muito forte. E no século XX ainda se viam velhos casarões abandonados, cercados de mato, estátuas em ruínas, janelas com fantasmas à escuta. FABLES OF RECONSTRUCTION, o maior e melhor disco do REM, é um mergulho nesse mundo. Mergulho tão profundo, tão próximo da loucura, que a própria banda tentou o renegar depois. Foram para a Inglaterra e o gravaram lá, sob a produção de uma lenda, Joe Boyd, o homem que produziu o folk inglês mais alucinado ( Incredible String Band ). Em algum ano perdido, aqui, neste blog, eu escrevia sobre essa obra prima. Procure. Espero que meu texto seja minimamente digno do disco. -------------- Após FABLES OF RECONSTRUCTION, o REM chamou Don Gehman, produtor de John Mellencamp, um cara que fazia alguns dos discos mais quentes da época, e é incrível como nos anos 80 eu escutava tanta música, e gravam LIFES RICH PAGEANT, o mais viril LP da banda americana. Begin the Begine já dá o tom, o som é forte, alto, afirmativo, decidido. Bateria lá em cima, Michael Stipe cantando de modo duro, sem choro nenhum. É um muito grande disco, não ao nível mágico de FABLES, nem tão perfeito e poético como MURMUR, mas um muito ótimo disco de rocknroll. E o REM quando queria fazia rock como ninguém. Hyaena é uma canção sublime e rebelde, assim como Swan, Fall on Me e todas a outras. Feito em 1986, no ano mais difícil e belo da minha vida, é trilha sonora de uma geração, a minha. ---------------- Infelizmente, com o correr do tempo, o REM se tornou pai de uma multidão de bandas chorosas muito ruins. E o próprio Stipe se transformou numa espécie de guru chorão do politicamente correto. O cara tão elétrico, cheio de adrenalina de 1983-1987 sumiu para sempre. Fica a obra. Murmur é histórico, um dos maiores discos de estreia de qualquer banda em qualquer tempo. Fables é uma das cinco ou seis maiores obras primas melancólicas do rock e Lifes é uma ressureição. Document viria a seguir e depois o conformismo de bom moço. --------------- Como disse em outro post, uma boa banda tem no máximo 3 grandes anos. Uma banda ótima tem 5. O REM teve seus 5 grandes, grandes anos, quando dividia com Smiths o posto de maior banda indie do mundo. Foi bom enquanto teve gas. Fica o testemunho gravado.
THE BYRDS.
Banda formada em 1965 por Roger McGuinn, o grupo tinha ainda Chris Hillman, David Crosby, Gene Clark. O sucesso veio grande e veio logo: Mr Tambourine Man, um cover de Bob Dylan que era melhor que o original. Com eles acontece então algo muito raro: o próprio alvo da homenagem, Dylan, se deixa influenciar pelos mais novos: Byrds, e passa a usar guitarras elétricas em seu som. Nasce o folk rock, invenção 100% de Roger McGuinn. --------------------- Roger, com sua Rickenbaker de 12 cordas, foi inspirado por George Harrison. Até ver o filme A HARD DAYS NIGHT, Roger era folk puro, anti rocknroll, estilo musical que ele achava ser alienado e escapista. Os Beatles mudaram sua visão e os Byrds mudaram o folk. A guitarra de McGuinn, um dos sons mais bonitos e influentes do rock, pairou como influência até os anos 80. TODO o indie rock americano da década de 1980, REM sobretudo, deveu seu som à guitarra de Roger McGuinn, influência sempre assumida por Peter Buck, o guitar player dos REM. ------------------ O primeiro disco, MR TAMBOURINE MAN chegou ao number one. O segundo TURN TURN TURN!, também. Mas a banda começou a se desfazer. Crosby saiu, depois Clark, por fim Hillman ( que foi fundar o estupendo Flying Burritto Brothers com Gram Parsons ). Acima de tudo, Roger era um insatisfeito. The Byrds, como aconteceu com tantas bandas da época, começou a atirar pra todo lado: influências de jazz, de música indiana, de eletrônica, de country de raiz. Em 1968, na década em que cada ano valia por dez, The Byrds já parecia uma banda muito, muito antiga. Isso com apenas 3 anos de estrada!!!! Não vendiam mais nada. Sweetheart At The Rodeo, de 1968, disco hiper country, com Gram Parsons no grupo, foi um fracasso de vendas. Roger nunca mais foi uma estrela de primeira. -------------- A cada década que passa, os Byrds ficam mais esquecidos. Mas não se engane, não há como entender os anos 60 sem ouvir The Byrds. Suas harmonias vocais são as mais perfeitas da história, sua guitarra é sublime e eles têm canções que viverão para sempre como testemunhos de nobreza. Talvez Younger Than Yesterday seja meu disco favorito, mas há ainda 5th Dimension...---------------- Posto 8 Mile High, último hit single deles. O solo de McGuinn foi inspirado pelos solos de sax de John Coltrane. É lindo e anuncia o psicodelismo californiano. Também nisso foram pioneiros. Tenho em minha coleção TUDO que eles gravaram até 1969, são 7 albuns que variam do perfeito ao razoável ( Mr Hyde é apenas razoável ). Nos anos 80 era chique ouvir The Byrds. Nos anos 90 já começaram a ser deixados de lado. Em 2022 são quase inexistentes. Faria bem ao que resta do rock reouvir The Byrds.
MUDA TUDO: 1985, O ANO MAIS SEM NOÇÃO DA MINHA VIDA
Então eu entro em 1985 com o coração partido. A mulher mais "roxy" que conheci se revelou uma frustração. Como reação
tipicamente imatura, joguei fora tudo que eu amara em 1984. Nunca mais as bandas do ano "roxy" me pareceram amáveis.
Tudo nelas me lembrava, e lembra ainda, tristeza.
Em janeiro de 1985 houve o Rock in Rio. A crítica desancou o festival. Diziam que só bandas mortas e lixo iriam vir.
Para a Folha e Estadão, Queen, AC\DC, Iron, eram a pior coisa do mundo. Mentiram muito. Diziam que em Londres ninguém
mais os escutava. A gente acreditava nisso. Mas eu assisti pela TV. O JN tirando uma da cara dos tais metaleiros.
Tratados como se fossem sub humanos. Para a Globo só Al Jarreau e George Benson eram legais. Vi o AC\DC querendo rir.
Vi para concordar com a Folha. Eles seriam a "banda decadente que só brasileiros ainda ouviam". Foi os asssitindo
que recordei do garoto do rocknroll que eu sempre fora. Não comprei disco algum do AC\DC. Mas 1985 nasceu vendo Angus
na Rede Globo.
Voce deve ter notado que 90% do que era "novo" nos anos 80, até 1984, era britânico. Os EUA continuavam vendendo mais,
mas musicalmente era uma cena árida. Havia Talking Heads e Ramones, Blondie e The Cars, Devo e B'52's, mas em quantidade
não se podia comparar às ilhas. Mas....a coisa tava mudando. Havia nos EUA um movimento anti afetação. Pela volta
da simplicidade. Em 1985 descobri isso. REM e RED HOT CHILI PEPPERS. Meus amigos acharam que eu havia pirado quando
falei que o futuro era deles. Não seria do Ultravox. Nem do ROXY. Seria do rock feito com guitarra.
FABLES OF RECONSTRUCTION eu comprei assim que saiu. É o disco menos querido pelos fãs da banda. É de longe meu
favorito. É gótico americano. É poético. Viril.
FREAKY STYLEY dos RED HOT. Vivo. Sexy.
Os dois eram o contrário de tudo que eu escutava antes. Eu intuí que eram a saída. A resposta.
Acertei.
THE HANGMAN'S BEAUTIFUL DAUGHTER- THE INCREDIBLE STRING BAND ( NO MUNDO SECRETO DAS FLORES )
Na Londres hype de 1968, Beatles eram tão velhos como Byrds ou Dylan, o que era muito in e só para poucos privilegiados eram os sons obscuros que bebiam nas fontes da canção folclórica das ilhas Britânicas. Essa corrente ia desde o pop meio fool de Donovan Leitch até o Fairport Convention e passava por Caravan, Steeleye Span, Pentangle e por que não? Traffic e Van Morrison. Todos têm em comum o desprezo pelo pop, a vida campestre, o excesso de drogas naturais e o absoluto fracasso nas paradas americanas. E lógico, um bando de fanáticos seguidores em Canterbury, Sheffield e Glasgow. Fãs que se espalharam logo por toda a GB e mais Holanda, Alemanha e França. O que fazia deles impossíveis para países fora da Europa é seu aspecto muito medieval, muito raiz celta, sem nada de africano.
Dentre todos esses nomes, a Incredible String Band é a mais pura. Ingênua inclusive, hippie. A trilha sonora de 68/72 é ISB. ( Eles inclusive tocaram em Woodstock e ficaram no chão da sala de edição. Foram cortados do filme, como o foram The Band, Johnny Winter, Creedence Clearwater e Grateful Dead. Penso que o que foi cortado é mais excitante que o que restou ).
Aviso para quem quiser escutar este disco que ele não é nada fácil de ouvir. Todas as canções começam perdidas, vagas, desagradáveis e de súbito, depois de um minuto ou dois, brilham e crescem se tornando maravilhosas. Se existissem ciganos ingleses seriam os ISB. Na capa do disco vemos árvores feias ao fundo num outono gelado. Sentados nas folhas caídas, dez pessoas muito ciganas...ou talvez leprechauns. Veludos sujos, chapéus esquisitos, mantos coloridos, máscaras da Oceania, um cachorro, duas crianças, barbas, cabelos sujos. O som é exatamente isso, rico, uma obra de complexa beleza acústica, quase sem nada de elétrico, plácido, perdido, enigmático.
Joe Boyd produziu o disco e devo dizer que Boyd produziu tudo de melhor que essa turma acima fez. Em 1985 Joe Boyd produziu o disco mais viajante do REM, Fables of Reconstruction. Michael Stipe sempre foi fã deste album. Vamos ao disco.
Antes devo dizer que o ISB é formado por Robin Williamson e Mike Heron. Os dois continuam juntos até hoje. Na alma de seu som há sempre uma procura pela pureza. Eles ansiam pela infância, por encontrar a fonte da inocência. Shelley, Keats, Burns podem ser sentidos em seu som, mas William Blake está mais forte nas entrelinhas. O ISB tem a mesma comunhão com a Lua e o profano, e procura saudosamente uma reunião, reencontro com o paraíso. Eles cantam as estrelas, a brisa da noite, a água dos lagos e dos riachos, as névoas da madrugada. É impossível ouvir este disco de dia, ele é madrugada, silêncio, vela acesa, janela sem paisagem, é das sombras, mas sem medo, sem susto, a noite é dos mistérios e os mistérios para eles são bons.
Koeeadi There é o nome da primeira música. Tensão no inicio, tensão que logo se resolve. Surge a beleza após a dúvida, e depois vem a alegria. A música faz com naturalidade esse circuito: tensão dúvida, beleza e alegria. E então vem o sonho bom. Lewis Carroll habita este espaço. Se voce penetrar este labirinto, cuidado, voce pode não mais sair.
The Minotaur's Song. É um hino de humor. Maravilhosa, foi usada pelo genial Monty Python como base de sketch. Uma sinfonia hippie espetacular.
Witches Hat. Começa hesitante, triste, mas então ela brota como vegetal ao som de uma flauta. Outra voz vem ao fundo, tudo começa a girar e a fazer sentido, lentamente a canção se ilumina, torna-se Lua no céu. O que começou vago afirma-se, brotam magias, uma obra-prima doida, uma aula de som acústico.
A Very Cellular Song. Voce sente o frio. A neve e o gelo. E então voce percebe que é uma canção religiosa! A luz vem em meio ao escuro do frio e da Lua negra. William Blake está aqui. Mas também John Donne. É a velha Inglaterra.
Mercy I Cry City. Uma afirmação de crença e de força. A alegria desliza, voa em meio a esta música. Vem uma gaita e a musica cai na estrada. Tem algo de festa aqui, de ciranda, de tempo que é celebrado. Linda.
Waltz On The New Moon. Uma vela na noite. Um local nú. Sombras de árvores na janela. Harpas na canção, e anjos. É uma canção perigosa, ela pode realmente te tocar fundo. Então algo se ergue, a chama da beleza se faz irresistível. Não temo o ridiculo em falar que existem fadas nesta canção, e poesia e flores e sementes alucinógenas.
The Water Song. Órgão e flauta. Água. Sons de água. Mas nunca o mar. São córregos. Ele canta a água. A fluidez, a cor e o cheiro, que existe, da água. A vida que é sempre e só, a água.
Three Is A Green Crown. O pecado. Uma prece verde. Como andar sózinho no mato, de noite. Tudo fala com voce, mas voce não quer escutar. As copas são vivas, as folhas falam.
Swift As The Wind. É a única que não consigo penetrar. Para mim ela estraga a perfeição do disco. Muito oriental ela desanda e quebra a sequência. Mas há quem veja nela a raiz do disco.
Nightfall. O nome diz tudo. Reflexão. Respiração. Beleza que eleva.
Este é o disco dos ciganos do norte. Ele é como uma promessa e uma prece. De cristal.
Dentre todos esses nomes, a Incredible String Band é a mais pura. Ingênua inclusive, hippie. A trilha sonora de 68/72 é ISB. ( Eles inclusive tocaram em Woodstock e ficaram no chão da sala de edição. Foram cortados do filme, como o foram The Band, Johnny Winter, Creedence Clearwater e Grateful Dead. Penso que o que foi cortado é mais excitante que o que restou ).
Aviso para quem quiser escutar este disco que ele não é nada fácil de ouvir. Todas as canções começam perdidas, vagas, desagradáveis e de súbito, depois de um minuto ou dois, brilham e crescem se tornando maravilhosas. Se existissem ciganos ingleses seriam os ISB. Na capa do disco vemos árvores feias ao fundo num outono gelado. Sentados nas folhas caídas, dez pessoas muito ciganas...ou talvez leprechauns. Veludos sujos, chapéus esquisitos, mantos coloridos, máscaras da Oceania, um cachorro, duas crianças, barbas, cabelos sujos. O som é exatamente isso, rico, uma obra de complexa beleza acústica, quase sem nada de elétrico, plácido, perdido, enigmático.
Joe Boyd produziu o disco e devo dizer que Boyd produziu tudo de melhor que essa turma acima fez. Em 1985 Joe Boyd produziu o disco mais viajante do REM, Fables of Reconstruction. Michael Stipe sempre foi fã deste album. Vamos ao disco.
Antes devo dizer que o ISB é formado por Robin Williamson e Mike Heron. Os dois continuam juntos até hoje. Na alma de seu som há sempre uma procura pela pureza. Eles ansiam pela infância, por encontrar a fonte da inocência. Shelley, Keats, Burns podem ser sentidos em seu som, mas William Blake está mais forte nas entrelinhas. O ISB tem a mesma comunhão com a Lua e o profano, e procura saudosamente uma reunião, reencontro com o paraíso. Eles cantam as estrelas, a brisa da noite, a água dos lagos e dos riachos, as névoas da madrugada. É impossível ouvir este disco de dia, ele é madrugada, silêncio, vela acesa, janela sem paisagem, é das sombras, mas sem medo, sem susto, a noite é dos mistérios e os mistérios para eles são bons.
Koeeadi There é o nome da primeira música. Tensão no inicio, tensão que logo se resolve. Surge a beleza após a dúvida, e depois vem a alegria. A música faz com naturalidade esse circuito: tensão dúvida, beleza e alegria. E então vem o sonho bom. Lewis Carroll habita este espaço. Se voce penetrar este labirinto, cuidado, voce pode não mais sair.
The Minotaur's Song. É um hino de humor. Maravilhosa, foi usada pelo genial Monty Python como base de sketch. Uma sinfonia hippie espetacular.
Witches Hat. Começa hesitante, triste, mas então ela brota como vegetal ao som de uma flauta. Outra voz vem ao fundo, tudo começa a girar e a fazer sentido, lentamente a canção se ilumina, torna-se Lua no céu. O que começou vago afirma-se, brotam magias, uma obra-prima doida, uma aula de som acústico.
A Very Cellular Song. Voce sente o frio. A neve e o gelo. E então voce percebe que é uma canção religiosa! A luz vem em meio ao escuro do frio e da Lua negra. William Blake está aqui. Mas também John Donne. É a velha Inglaterra.
Mercy I Cry City. Uma afirmação de crença e de força. A alegria desliza, voa em meio a esta música. Vem uma gaita e a musica cai na estrada. Tem algo de festa aqui, de ciranda, de tempo que é celebrado. Linda.
Waltz On The New Moon. Uma vela na noite. Um local nú. Sombras de árvores na janela. Harpas na canção, e anjos. É uma canção perigosa, ela pode realmente te tocar fundo. Então algo se ergue, a chama da beleza se faz irresistível. Não temo o ridiculo em falar que existem fadas nesta canção, e poesia e flores e sementes alucinógenas.
The Water Song. Órgão e flauta. Água. Sons de água. Mas nunca o mar. São córregos. Ele canta a água. A fluidez, a cor e o cheiro, que existe, da água. A vida que é sempre e só, a água.
Three Is A Green Crown. O pecado. Uma prece verde. Como andar sózinho no mato, de noite. Tudo fala com voce, mas voce não quer escutar. As copas são vivas, as folhas falam.
Swift As The Wind. É a única que não consigo penetrar. Para mim ela estraga a perfeição do disco. Muito oriental ela desanda e quebra a sequência. Mas há quem veja nela a raiz do disco.
Nightfall. O nome diz tudo. Reflexão. Respiração. Beleza que eleva.
Este é o disco dos ciganos do norte. Ele é como uma promessa e uma prece. De cristal.
FABLES OF RECONSTRUCTION- REM
Posso ver. Em meio ao capinzal, há um barracão de blocos cinzas. Cercado pela chuva caindo e entupido de teias de aranhas. Posso ver. Há um vazio em todo redor e uma imensa coragem. Eu vou só. Jamais estive tão só. Aquele disco estava rodando. Era 1985 e minha vida era uma merda. Era 1985 todo mundo queria ser David Bowie ou Bryan Ferry. Todo mundo era cool e as meninas queriam namorar Sting. E O REM queria ser Robbie Robertson!!!!!! Caraca!!!!! Todo mundo queria ser moderno e eles eram Byrds e Flying Burritos !!!!!! Eles estavam no barracão, ao meu lado, eles eram comigo, eles tinham a faca que abria minha casca e estraçalhavam o meu medo. Eles me apaixonaram. Eram eu.
Gravaram FABLES OF RECONSTRUCTION na Inglaterra, com Joe Boyd, produtor de folk dos merry 60's. Mas o disco é Atlanta, é Mississipi, é do céu, do céu, do céu, do céu... No barracão cheio de teias e vinho eu me apaixonei por uma menina solitária como eu e como este disco é. Rodando ela e eles no meu coração, e rasgando minha carapaça e minha febre e traçando rastros de ódio e sendas de paixão e loucura. E o heroísmo de se ir contra. Sempre contra, pois quando eles se tornaram mainstream perderam o tesão. Que está aqui inteiro.
A capa do disco dá medo como dava o descampado. Mas há o som de tantos violões juntos e de milhares de guitarras de 6 cordas e de uma bateria pesada e Stipe está cantando rouco e parece estar dormindo ou talvez tenha morrido e tudo neste disco seja uma mensagem para quem já viu o inferno. Mas o meu barracão começa a ser aberto e as teias se vão e sinto pena das teias. Maldita década onde até quem não queria ser Bowie e Ferry queria ser poeta romântico e este disco é Rimbaud. Rimbaud viu a verdade.
Eu não sabia que a América podia ser tão profunda e eu não sabia que amar podia ser tão só. Mas eu sabia que tudo se resolve na estrada e o barracão desaba e a rua pede que eu vá com ela. Vou. Pois este disco é um milhão de estradas cruzadas. Como ele é toda uma sinfonia de cordas quando o mundo só escutava uma sinfonia de teclados. Falando de paixão todo o tempo. Falando como uma faca fala.
Lá bem no final do disco tem uma estranha que me aguarda. E nada tem a dizer a não ser que ela sabe que sou tão estranho quanto ela. E que nunca estaremos juntos como agora e aqui. E esta música, sobre amantes estranhos, chega a beira do absurdamente bonito e do magnificamente simples. E nada tem a dizer.
Ao final, uma canção para Wendell Gee. Cheiro de pinho e de café e frio de neve e cowboys que não sabem montar. E um banjo que vem como a mão quente de alguém. O REM alcança as alturas que só The Band alcançou um dia. Lá no alto, no ar claro, no absolutamente certo, no que é para sempre. Quando ainda se acreditava no ser para sempre. Quando acaba não termina. Fica. Isto fica. isto nunca vai mudar. Isto era, é, será. No mundo de Robertson, McGuinn, Parsons, Stills, Furay, Young, Dylan...
Gravaram FABLES OF RECONSTRUCTION na Inglaterra, com Joe Boyd, produtor de folk dos merry 60's. Mas o disco é Atlanta, é Mississipi, é do céu, do céu, do céu, do céu... No barracão cheio de teias e vinho eu me apaixonei por uma menina solitária como eu e como este disco é. Rodando ela e eles no meu coração, e rasgando minha carapaça e minha febre e traçando rastros de ódio e sendas de paixão e loucura. E o heroísmo de se ir contra. Sempre contra, pois quando eles se tornaram mainstream perderam o tesão. Que está aqui inteiro.
A capa do disco dá medo como dava o descampado. Mas há o som de tantos violões juntos e de milhares de guitarras de 6 cordas e de uma bateria pesada e Stipe está cantando rouco e parece estar dormindo ou talvez tenha morrido e tudo neste disco seja uma mensagem para quem já viu o inferno. Mas o meu barracão começa a ser aberto e as teias se vão e sinto pena das teias. Maldita década onde até quem não queria ser Bowie e Ferry queria ser poeta romântico e este disco é Rimbaud. Rimbaud viu a verdade.
Eu não sabia que a América podia ser tão profunda e eu não sabia que amar podia ser tão só. Mas eu sabia que tudo se resolve na estrada e o barracão desaba e a rua pede que eu vá com ela. Vou. Pois este disco é um milhão de estradas cruzadas. Como ele é toda uma sinfonia de cordas quando o mundo só escutava uma sinfonia de teclados. Falando de paixão todo o tempo. Falando como uma faca fala.
Lá bem no final do disco tem uma estranha que me aguarda. E nada tem a dizer a não ser que ela sabe que sou tão estranho quanto ela. E que nunca estaremos juntos como agora e aqui. E esta música, sobre amantes estranhos, chega a beira do absurdamente bonito e do magnificamente simples. E nada tem a dizer.
Ao final, uma canção para Wendell Gee. Cheiro de pinho e de café e frio de neve e cowboys que não sabem montar. E um banjo que vem como a mão quente de alguém. O REM alcança as alturas que só The Band alcançou um dia. Lá no alto, no ar claro, no absolutamente certo, no que é para sempre. Quando ainda se acreditava no ser para sempre. Quando acaba não termina. Fica. Isto fica. isto nunca vai mudar. Isto era, é, será. No mundo de Robertson, McGuinn, Parsons, Stills, Furay, Young, Dylan...
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