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BREVE ROMANCE DE SONHO - ARTHUR SCHNITZLER

Para entender o porque de Viena ser lugar tão especial até a Segunda Guerra, é preciso lembrar que não havia Alemanha. O que hoje entendemos por Alemanha eram estados como Prússia, Baviera, Hannover... A Austria era então o centro cultural da língua. É preciso também entender que Viena era um império, o Império Austro-Hùngaro, a cidade era uma mistura de Eslavos, Ciganos, Turcos, Romenos, Alemães, Judeus, muitos judeus. Esse caldeirão de culturas, línguas, religiões ( não esqueça que a Austria é católica ), davam à Viena um caráter de metrópole. Mas há mais! O pessimismo, apesar da riqueza, o fatalismo, apesar da centralidade, o expressionismo, apesar da beleza, se devia ao fato histórico de Viena estar sempre sob a ameaça da invasão, seja da Turquia, dos Búlgaros, dos Romenos, dos Tártaros. Era a entrada, o portão por onde se invadia a Europa. O medo estava sempre por detrás das valsas, dos cafés, dos jornais, dos doces. -------------- Esqueçam o filme de Kubrick! Esta novela, base do filme, é muito melhor. O filme esquece mais de metade do texto. Schnitzler conta a saga de um médico. Cheio de ciúmes, de medo, ele cai na noite infindável e se envolve SEM SE ENVOLVER. Ele é um covarde, o tempo todo. Encontra uma moça que o ama e foge dela. Depois vai à uma orgia e escapa correndo. No quarto de uma prostituta, ele não a toca. E depois tenta recuperar as ações que NÃO FEZ. Kubrick dizia ser esta uma obra sobre o medo, eu a vejo como uma descrição da impotência. Schnitzler coloca sexo em tudo, mas o personagem jamais tenta nem mesmo flertar com alguém. -------------- Há quem pense ser tudo um sonho. Não é. Pode haver muito de alucinação, mas jamais de sonho, tudo acontece aqui e agora, as ruas, as casas, as pessoas são sólidas. A morte, desejada?, paira sobre todas as coisas. O personagem tem o tempo todo a consciência da podridão de tudo, do fim que ronda os corpos. É um livro escuro, dark, labiríntico. --------------- Para criar a psicanálise Freud precisou apenas olhar ao redor. Viena em 1900 era um festival de tipos e de taras. Este livro, de 1926, é par perfeito para os filmes de então: Murnau, Lang, Pabst. ----------------- Incrível pensar que em 1926 nascia meu pai !!!!! -------------- A Segunda Guerra trouxe à Austria aquilo que o livro antecipa: Impotência. Nunca mais Viena encontrou sua vitalidade.