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ALBERTO SORDI/ JEAN DUJARDIM/ JOHN LE CARRÉ/ PI/ RICHARD BURTON/ CLAIRE BLOOM

   AS AVENTURAS DE PI de Ang Lee
Resiste muito bem a uma segunda olhada. É um vencedor de Oscar que vai sobreviver. Tem aventura, humor e imagens de sonho. Mais, instiga interpretações. Na verdade ele fala do valor da narrativa como alma da vida. Nesta minha segunda visita meu prazer foi maior. Esse é o sinal do bom filme, na segunda assistida ele cresce. Nota 9.
   O ARTISTA de Michel Hazanavicius com Jean Dujardim, Berenice Béjo, John Goodman, Malcolm McDowell
Minha mãe tentou ver este filme e eu o revi com ela. Ela adormeceu, eu gostei mais que na primeira visita. Agora vejo algo mais que apenas sua coragem. Aqui se usa toda a linguagem que o amante de filmes conhece e guarda no peito. Citações da história da arte usadas modernamente. Sim, a forma é a de 1928, mas a mensagem, a narrativa é a de 2012. Dujardim tem uma atuação histórica. Ele seduz, varia, cresce, faz rir, hipnotiza. É uma estrela, um grande ator! Que belo filme!!! Nota 9.
   VIAGEM FANTÁSTICA de Richard Fleischer com Stephen Boyd, Donald Pleasence, Raquel Welch
Uma equipe é diminuída e colocada dentro do corpo humano. O objetivo é destruir um coágulo no cérebro. Os efeitos especiais são pueris, mas até que o filme sobrevive. Foi malhado quando de seu lançamento. Houve um tempo em que temas ridiculos eram ridicularizados a priori. Lembro de assisti-lo na TV com 11 anos de idade e passar mal. Agora me diverti. Nota 5.
   MEU PÉ DE LARANJA LIMA de Marcos Bernstein
Até tú José Mauro? Botaram um monte de tiques de arte nesta história simples e transformaram isto num trambolho frio e sem porque. Apagaram a poesia, limaram as lágrimas e deixaram um filme ruim. Nota Zero.
   DEEP IN MY HEART de Stanley Donen com José Ferrer e Merle Oberon
Conta a vida do austríaco Romberg, que apesar de suas pretensões eruditas se tornou uma estrela da Broadway. O filme tem um problema central, a vida dele é desinteressante. Nada acontece. Donen dirige sem capricho e até sua leveza mágica está ausente. Tem números com Gene Kelly e seu irmão, Fred. Além de Howard Keel. Nem eles salvam o filme da banalidade. José Ferrer, queridinho da critica na época, transpira antipatia. Nota 4.
   TO THE WONDER de Terrence Malick com Ben Affleck, Olga Kurilenko, Rachel McAdams
Um erro sério de Malick. O tema é sublime, o amor como dom da alma, como condição de vida, como alma do mundo. Mas o modo como isso nos é passado é desastroso. O filme tenta nos levar ao sonho hipnótico com o uso de cortes ritmados e movimentos de câmera dançados. Os atores rodopiam e o ângulo mais usado é do alto e de costas. Isso cansa, produz tédio. O filme é muuuuito chato! Nota 1.
   42, A HISTÓRIA DE UMA LENDA de Brian Helgeland com Chadwick Boseman e Harrison Ford
Em 1947, o dono dos Brooklyn Dodgers contrata o primeiro jogador negro da história, Jack Robinson. O filme é quadrado, básico, mas é impossível não se deixar levar pelo tema. Robinson, que era briguento, suporta as provocações com frieza e vence. Hoje ficamos revoltados com aquilo que ele viveu. Xingamentos no campo de jogo, ameaças das arquibancadas, preconceito do próprio time. Ford está maravilhoso como o dono do time. Digno e muito real. Um bom filme que acho que não será exibido aqui. Procurem em dvd. Vale a pena. Nota 7.
   O ESPIÃO QUE SAIU DO FRIO de Martin Ritt com Richard Burton, Claire Bloom, Oskar Werner
Meu Deus, que mundo era esse! Todos tinham de se posicionar, esquerda ou direita. Um mundo rigidamente dividido. Este magnífico filme fala disso. Burton é um agente inglês. Ultra desiludido. É usado numa tortuosa trama para salvar um colaborador na Alemanha Oriental. Num preto e branco frio e fascinante, obra do genial Oswald Morris, o diretor americano Ritt, grande nome da esquerda de então, faz um filme inesquecível. Não espere aventura e galmour. O livro de John Le Carré desmistificou a vida de James Bond. A espionagem é trabalho de entediados, de homens sem alma. Burton tem uma atuação de mestre. Um monstro de ressentimento, de dor fria e sob controle. O filme é brilhante. Nota DEZ.
   UM AMERICANO EM ROMA de Steno com Alberto Sordi
Sordi cria uma personagem hilária: um italiano que pensa ser americano. Vive falando frases em inglês macarrônico, canta como Gene Kelly e dança sapateado. Pensa ser cowboy, gangster, playboy. Alguns momentos de sua atuação beiram o sublime. Mas há um problema: o roteiro se perde ao final. Parece que não se sabe o que fazer com personagem tão louco. Uma pena... Nota 5.

HOMEM DE FERRO/ GERARD BUTLER/ MARTIN RITT/ SEAN CONNERY/ PETER BOGDANOVICH/ TATUM O'NEAL/ LINKLATER

   ANTES DA MEIA-NOITE de Richard Linklater com Ethan Hawke e Julie Delpy
Antes de mais nada: Ao contrário do que disse um amigo meu, não é a primeira vez que um cineasta segue a vida de uma personagem por anos afora. Truffaut fez isso com Antoine Doinel. Doinel aparece em 1959 em Les 400 Coups e depois em mais 4 filmes, feitos em 64, 68, 70 e 79. Sempre na pele de Leaud. Linklater é um cara legal. Leio a lista de seus filmes favoritos e tem Ozu, Godard, Melville, e é claro, Rhomer. Essa sua trilogia é puro Rhomer, blá blá blá. Tudo bem fofo e em ambiente pseudo-intelectual. Adoro Dazed and Confused, que Linklater fez nos anos 90. A saga "francesa" acho assim assim. Nota 5.
   DEPOIS DE MAIO de Olivier Assayas
Revolução francesa, maio de 68, Balzac e Le Tour de France. Essa é a alma da nação. Eles têm tanto orgulho dessas coisas, que às vezes chega a irritar. Veja este filme. Nada mais é que um looooongo exercício masturbatório. Oh lá lá! Como fomos bacanas! Deus sabe o quanto amo Voltaire, Proust e Stendhal. Mas este lado da terra de Gainsbourg, eu passo! Nota 3.
   O ACORDO de Ric Roman Waugh com Dwayne Johnson, Barry Pepper e Susan Sarandon
Poor Susan! Dwayne é o pai de um teen que foi preso por posse de drogas. Ele parte a captura de quem deu a droga pro filho. Well...cinema pode ser uma coisa muito, muito ruim. Nota ZERO.
   ALVO DUPLO de Walter Hill com Stallone
Nos anos 80 houve quem levasse Hill a sério. Achavam que ele era um novo Peckimpah. Puá! Este lixo mostra o que ele sempre foi: um fazedor de longos clips. Nota ZERO.
   HOMEM DE FERRO 3 de Shane Black com Robert Downey Jr e Gwyneth Paltrow
Assustadoramente ruim. Cultura pop quando tenta contrabandear arte é de doer. O filme é tão Jeca quanto os Batmans. Um tipo de masoquismo para teens que se acham espertos. A diferença é que os Batmans enganam melhor. Nolan é melhor publicitário que Black. Este filme é chato demais! Nota ZERO.
   TOBRUK de Arthur Hiller com Rock Hudson e George Peppard
Na segunda guerra, um bando de ingleses se une a grupo guerrilheiro para tentar sabotar o petróleo nazista. Detalhe: o grupo guerrilheiro é formado por judeus alemães. Há um traidor no grupo. O filme é razoável, nunca muito emocionante. Hudson parece estar com sono, Peppard está bem, cheio de adrenalina. Hiller foi um diretor famoso por errar muito. Aqui não erra. Mas também não acerta. Nota 5.
   VER-TE-EI NO INFERNO de Martin Ritt com Sean Connery, Richard Harris e Samantha Eggar
Que tal usar o nome original do filme? The Molly Maguires? Esse o nome de um grupo de imigrantes irlandeses que nos EUA de 1850 sabotavam minas de carvão. Martin Ritt foi o mais típico dos diretores da esquerda americana. Seus filmes falam sempre das injustiças do capital. Em sua carreira, que abrangeu as décadas de 50 até a de 90, vários filmes se tornaram quase-clássicos. Este é um dos melhores. Ajuda muito a fotografia de James Wong Howe e a trilha sonora de Henry Mancini. O cinema americano teve 3 ícones da fotografia de cinema, Wong Howe é um deles. Os primeiros quinze minutos do filme não têm um só diálogo. O que vemos é o trabalho dentro de uma mina de carvão. As paredes negras-azuladas, úmidas, a fuligem, os cavalos puxando vagões, os homens imundos, a tosse. Entramos no inferno. Connery é o líder dos sabotadores. Harris um dedo duro. O filme é terrível e belo em sua sujeira. Barracos e ruas de lama. O final é muito amargo, afinal, é um filme dos anos 70. Nota 8.
   UM BOM PARTIDO de Gabriele Muccino com Gerard Butler, Jessica Biel, Uma Thurman, Catherine Zeta-Jones, Dennis Quaid
Saímos do sinistro do filme de Ritt para o pinky de Muccino. Butler é um ex-jogador de soccer. Falido. Vira treinador de crianças. E tenta voltar pra ex-esposa. Sim, o filme é tão bobo como parece. Butler é ok, o filme não. Uma Thurman tem um papel ridiculo. Zeta-Jones envelheceu. Biel é esquisita e Dennis Quaid, que a séculos era um ator muito legal, agora está com rosto de cartoon. Nota 3.
   ARMADILHA de Jon Amiel com Sean Connery e Catherine Zeta-Jones
Este filme ensina para que serve um bom diretor. Veja: É um filme que tem tudo o que gosto, ótimo ator, atriz linda, história de ação com suspense, locações interessantes, ambientes bacanas. E, graças a Amiel, tudo dá errado. Não tem suspense, não tem esperteza, tudo se desperdiça. Para esse tipo de filme, o filme de roubo-chique, é primordial : uma trilha sonora marcante, aqui não há, suspense, necas aqui, e frases inteligentes, jamais cá. O que sobra? Sean Connery, uma atriz linda em seu auge e mais nada. Nota 4.
   LUA DE PAPEL de Peter Bogdanovich com Ryan O'Neal, Tatum O'Neal e Madeline Kahn
Da geração dos anos 70 dos jovens diretores americanos, Peter foi aquele que atingiu o sucesso mais rapidamente. E foi o primeiro a despencar. Entre 1971 e 1973 ele fez na sequencia três big hits de público e crítica. Mas a partir de 74 desandou. Casou com Cybill Shepperd e começou a fazer filmes para ela. Lua de Papel é seu último filme perfeito. Uma comédia amarga que fala de um trambiqueiro e de uma menina. Nas estradas da América pobre de 1935, eles aplicam golpes usando só a malandragem. Tudo no filme é maravilhoso, desde a fotografia em p/b, cheia de sombras e de profundidade, até as músicas e cenários. O principal é a direção, uma aula de como se constrói caracteres e cenas. Tatum ganhou Oscar de coadjuvante por este filme. Tinha apenas 9 anos. Está apaixonante. O filme é o máximo em diversão com coração e mente. Perfeito. Nota DEZ.

WYLER/ JACK NICHOLSON/ AL PACINO/ LUMET/ HAWKS/ RITT/ WOODY ALLEN/ HUSTON

   REBELIÃO NA INDIA de Henry King com Tyrone Power
Sobre um soldado mestiço, que na India inglesa tem de lutar contra seu irmão, irmão que organiza rebelião anti-colonial. Aventura de primeira. King foi um daqueles diretores pau-pra-toda-obra, um tipo de diretor que a partir da nouvelle vague deixou de existir. King mais de vinte sucessos, e mesmo assim continuou a fazer filmes como este: despretensiosos, bem feitos, inteligentes, eficientes. Nota 7.
   OS PINGUINS DO PAPAI de Mark Waters com Jim Carrey e Carla Gugino
Waters surgiu como promessa de bom diretor. Parece que já se perdeu. Carrey um dia teve ambição, já se foi. Eu sempre preferi o Jim Carrey sem pretensão, mas as comédias excelentes que ele fazia não existem mais. Os pinguins são simpáticos, mas o filme é um lixo. Chega a ser revoltante como um profissional pode escrever algo tão idiota. Nota ZERO.
   BEN-HUR de William Wyler com Charlton Heston
Houve um tempo que o filme tipo 'Avatar" era assim: uma aula de história com tinturas de ação e lição de moral. Caríssima produção, longuíssimo, imenso sucesso, montes de Oscars. Heston, apesar dos ataques de um certo idiota, foi um belo ator. Passa credibilidade a um papel muito dificil. A história todos sabem: os amigos que brigam: um é judeu, outro é romano. A ênfase não é na ação, é na lenda. Bonito. Nota 7.
   A HONRA DOS PODEROSO PRIZZI de John Huston com Jack Nicholson, Kathleen Turner, Anjelica Huston e William Hickey
Uma visão meio cômica/ meio trágica da máfia. Nicholson é um matador apadrinhado pela máfia. Ele se apaixona e se casa com uma matadora polonesa. Mas a vida é cheia de surpresas... O roteiro é brilhante, e Huston, aos setenta anos dirige como um garoto. O filme recuperou o sucesso para sua carreira, concorreu a vários Oscars e fez dinheiro. Nicholson está engraçado e melancólico, faz um ítalo-americano meio burro e muito bom profissional. Turner foi uma sex-symbol de verdade. No meio dos anos 80 ela era o máximo. Mas há ainda Anjelica, fazendo a ex-esposa vingativa e o absurdo Hickey, um velhíssimo chefão, numa caracterização irresistível. Fantástico vê-lo babar e gaguejar. Nota 8.
   SERPICO de Sidney Lumet com Al Pacino
Na suja NY dos anos 70, Pacino é Serpico, um cara que sempre sonhou em ser um policial. Mas, ao começar a trabalhar ele se depara com a corrupção no meio. Al Pacino em uma de suas grandes atuações. Serpico é um tira que usa barba, brinco, faz ballet e veste batas indianas. O filme começa como uma quase comédia ácida maravilhosa, mas Serpico vai pirando e Lumet quase se perde. No final o filme se reergue e seu fim é bastante amargo. Na sequencia Sidney Lumet faria Um Dia de Cão e a obra-prima Network. Que grande diretor ele foi ! Nota 7.
   DUELO NA CIDADE FANTASMA de John Sturges com Robert Taylor e Richard Widmark
Ótimo western. Fala de ex bandido, agora xerife, que é sequestrado por seu ex comparsa. A fotografia em cores de Robert Surtees é estupenda. As paisagens são de tirar o fôlego. Sturges teve quinze anos de sucesso, sabia fazer filmes de ação. Um western que indico para fâs e para aqueles que desejam aprender a gostar deste tipo de cinema viril e sincero. Nota 8.
   E AGORA BRILHA O SOL  de Henry King com Tyrone Power, Ava Gardner e Errol Flynn
Versão da Fox para O Sol Também se Levanta de Heminguay. É bacana o retrato da festiva Paris de 1926, a Espanha aparece cheia de sol, de touros e de fiestas, mas nada há no filme do senso de tragédia de Heminguay. Mesmo assim é um filme bom, fácil de ver e sempre interessante. Ava faz uma bela Lady Brett e Errol está ótimo como o escocês bêbado. Este filme seria a salvação de sua carreira se ele não tivesse morrido pouco depois. Nota 6.
   BOLA DE FOGO de Howard Hawks com Gary Cooper e Barbara Stanwyck
É um filme de Hawks que não se parece com Hawks. E é fácil saber porque: o roteiro é de Charles Brackett e de Billy Wilder. O filme tem muito mais o estilo grosso de Wilder que o modo fluido de Hawks. Fala de inocente linguista que se envolve com moça de boate e seu cafetão. O filme é ok, mas tem um ar de conto da carochinha para adultos que jamais funciona. Uma pena.... Nota 5.
   TESTA DE FERRO POR ACASO de Martin Ritt com Woody Allen e Zero Mostel
Na época do MacCathismo, um caixa de bar é convencido por seu amigo escritor -erseguido a ser seu testa de ferro. É a melhor interpretação da vida de Allen. O seu caixa de bar que vira "autor" em nada se parece com sua persona ( embora ele solte às vezes uma piada à Woody Allen ). Ritt era um famoso diretor do bem, seus filmes sempre falavam de injustiças. Foi perseguido pelo MacCarthismo na vida real, assim como vários componenetes deste filme. É uma obra desigual, tem bons momentos e outros fracos. O final é perfeito, ao ser interrogado pela comissão do senado Woody Allen lhes dá a única resposta cabível. Por essa cena vale o filme. Nota 5.
   O SEGREDO DAS JÓIAS de John Huston com Sterling Hayden, Sam Jaffe e Louis Calhern
Uma obra-prima. Há quem o considere o melhor filme de Huston. Não sei se é, mas é tão bom quanto Sierra Madre. Aula de ritmo, fotografia, posição de câmera, atuação. O filme termina e voce já sente vontade de o rever. Foi satirizado pela obra-prima da comédia italiana, Os Eternos Desconhecidos. Caso único de obra-prima satirizada por outra obra-prima. Deu cria ainda a ao menos um grande filme: Rififi de Jules Dassin. Sensacional. NOTA DEZ.

BILLY WILDER/ GAINSBOURG/ FORD/ OSHIMA/ SIRK/ HELEN MIRREN

CUPIDO NÃO TEM BANDEIRA de Billy Wilder com James Cagney
De todos os clássicos diretores de Hollywood ( Ford, Hawks, Wyler, Stevens, MacCarey ) ninguém tem tantos filmes decepcionantes como Billy. Sim, ele é um cara genial, quando acerta, mas seus filmes fracos são mais irritantes que os filmes menos bons da turma citada acima. Este fala de executivo da Coca-Cola que trabalha em Berlin nos dias da construção do muro. É uma comédia boba. As piadas vêm e erram o alvo. O resultado é histérico. Nota 3.
A ÁRVORE de Julie Bertuccelli com Charlotte Gainsbourg
Fujam! Na Austrália morre um jovem pai em ataque cardíaco junto a árvore. Essa enorme e belíssima árvore é o centro e interesse único do filme. Pena que nada de interessante ocorra depois dessa tragédia. Quem quiser que encontre um sentido nesta coisa chata e lenta, se encontrar, esse sentido será acidental, o filme é tão cheio de "arte" que tudo pode ter um significado. Inclusive o significado da picaretagem. Nota 1 ( um ponto pela bela árvore ).
DONOVAN'S REEF de John Ford com John Wayne e Lee Marvin
A vida de um dono de boteco em ilha do Taiti. Acontece a visita de uma herdeira e mais nada. Ford, após cinquenta anos filmando. mostra sinais de cansaço. O filme é flácido, solto demais. Uma bela paisagem, atores gostáveis, mas nada mais que isso. Nota 3.
O MERCADOR DE ALMAS de Martin Ritt com Paul Newman, Joanne Woodward, Orson Welles, Anthony Franciosa
Belo exemplo de cinema adulto dos anos 50. Newman faz seu tipo mais habitual: o cara malandro, egoísta e carismático. Esse cara penetra em família do sul e acaba por se tornar herdeiro do "dono" de toda a cidade: Welles. Filhos que odeiam o pai, sensualidade reprimida, poder do dinheiro, homossexualismo, há de tudo um pouco. É uma diversão completa, um prato rico e gorduroso. Joanne está muito bem como uma solteirona. Nota 8.
O TÚMULO DO SOL de Nagisa Oshima
Em Osaka, anos 60, gente das ruas vende sangue para comer. Mais prostituição, drogas e Oshima, um diretor sempre violento. O filme é representante da Nouvelle Vague japonesa. Cores berrantes, câmera nervosa e cortes abruptos, incisivos. Oshima seria o centro desse movimento. O filme, um dos primeiros dele, é irregular, mas supreende sua modernidade. Nota 5.
TUDO QUE O CÉU PERMITE de Douglas Sirk com Jane Wyman e Rock Hudson
Muito melhor do que eu esperava. Sirk, dinamarquês rei do melodrama em Hollywood, faz aqui um dilacerante retrato da classe média da época ( terá mudado tanto assim desde 1955 ? ). Jane Wyman é uma viúva com dois filhos, cheia de amigos porém solitária. Ela se envolve com seu jardineiro, um jovem livre, que tenta seguir a filosofia de Thoreau. Ninguém aceita isso e os filhos ( quase adultos ) impedem o casamento. Só, ( e é chocante se observar como na época ver tv era considerado ato de perdedores, de gente sem vida social ), ela vê que caiu numa armadilha, os dois filhos seguem sua vida e ela fica à parte de tudo. Todo esse drama é conduzido de uma forma tão leve, fina, vibrante que é impossível resistir. Voce embarca na novelona. Fassbinder o refilmou na Alemanha e Almodovar sempre o cita ( além de Todd Haynes ). Rock Hudson era um canastrão, mas ninguém sabe ser mais tão galã. Nota 8.
MANON de Henri-Georges Clouzot com Cecile Aubry e Serge Reggianni
Clouzot é um dos maiores diretores que a França já teve. Fez pelo menos quatro obras-primas, mas este não é uma delas. Conta a história de mocinha muito "livre" que trai seu amor com vários homens de poder. O namorado sempre descobre, e sempre a perdoa. O final, hiper-romantico, é em deserto. O filme se vê com interesse, mas está muito abaixo do melhor Clouzot. Nota 5.
A RAINHA de Stephen Frears com Helen Mirren e Michael Sheen
Pra que ver este filme? Qual o interesse em se rever os dias da morte e do enterro de Lady Di? Tudo visto pelo ponto de vista de Tony Blair e da Rainha...pra que? Bem...o filme é estupendo, uma aula de direção e de interpretação. Stephen Frears, diretor da geração de Ridley Scott, mas que ao contrário de Scott, optou sempre pelo risco ( é dele a obra-prima Ligações Perigosas e ainda Minha Adorável Lavanderia, Alta Fidelidade, e mais uma infinidade de pequenos filmes instigantes ), dirige com uma eficiência que beira o milagre. Penetramos na mente de Elizabeth, conseguimos sentir o absurdo daquilo tudo, e melhor, não sabemos o que pensar. Ficamos desorientados. Mas há Mirren. Talvez seja este o desempenho feminino da década. Em personagem dificílimo, contido, frio, distante ( e tão cotidiano ) Helen cria uma alma, não imita. A rainha que ela nos mostra vai lentamente tomando consciência de sua derrota, do fim de uma ilusão. ( " Eu me recolho e nada declaro, sou sincera, enquanto isso essas pessoas que jamais a conheceram estão morrendo de dor, e eu é que sou a doida" ). Pois o filme é sobre isso: os súditos passam a querer lágrimas, frases pomposas, a exibição pornográfica de luto. Quando Di morre e a rainha se esconde, pois essa é a tradição, luto não é show, sentimentos devem ser contidos e discretos; o povo passa a odiá-la. O filme tem duas cenas de antologia: a hora em que ela lê as mensagens nas flores colocadas nos portões do palácio ( todas ofensivas a ela ) e a maravilhosa cena com o cervo, quando ela percebe a beleza que mora nele e o risco de ser caçado. Esse animal, que será morto lentamente e decapitado ( decapitação é o fim de todo rei deposto ) representa a bela elegância de uma época que morrera muito tempo antes, época que Elizabeth só então percebe ter chegado ao fim. De certa forma, Blair a salva dessa decapitação e ele acaba tomando seu partido. O filme então, feito pelo esquerdista Frears, tem a sabedoria de reconhecer que perante os novos tempos de midia e falta de respeito, ( são magnificas as cenas de telejornais da época, que mostram Lady Di tão falsa em sua "dor" e o povo deseperado com sua morte; e ainda vemos no enterro o absurdo de Elton John, Tom Cruise e Spielberg serem mais "gostados" que a familia de Di e de Charles ) a rainha ainda representa algo de decente, correto e de verdadeiramente real. O filme torna-se então imenso. Que admirável surpresa! Nota 9.
TERRA BRUTA de John Ford com James Stewart e Richard Widmark
Ford chamava este seu filme de "bela porcaria". Longe disso. Apesar de ele quase não ter história ( fala algo sobre brancos resgatados de Comanches ), o filme tem um ar de improviso, de alegre camaradagem, que acaba por encantar. Há quem o chame de obra-prima. Não é. Mas ele sem dúvida é invulgar. Nota 6.

QUANDO FREUD ERA REI : THE LONG, HOT SUMMER - MARTIN RITT

Na década de 50, em Hollywood tudo era freudiano. Cada fala e cada movimento de um personagem ( falo dos dramas dito sérios ) era calcado em edipianismo, repressão sexual, complexo de Electra, incesto, castrações e taras várias. Muita bobagem saiu desse caldo, pois todos estavam tão imersos nessa fé vienense que ignoravam que nem tudo que Sigmund ditava era verdade ( ou não pareceria ridículo com o tempo ).
Um dos melhores representantes deste estilo de cinema é THE LONG, HOT SUMMER, que no Brasil recebeu o nome inacreditável de O Mercador de Almas ( Freud explica? ).
O roteiro, perfeito, de Irving Ravetch e Harriet Frank Jr., condensa 6 contos de William Faulkner em duas horas. Milagrosamente dá certo. Quem dirigiu foi Martin Ritt, em seu terceiro filme, após triunfal carreira na TV.
Já se disse que se o sul tivesse vencido a guerra civil americana, os EUA seriam hoje o Brasil. Este filme mostra porque. Se passa na época contemporânea ( 1958 ) mas, feito no Tennessee, inspirado pelo muito sulista Faulkner, ele conta a história de um típico coronel ( que no Brasil seria um coroné do sertão ). Ele domina terras, comércio, politica e indústria de cidade. Gordo, falastrão, machista ( feito saborosamente por Orson Welles ), tudo o que ele deseja agora que está velho, é um neto. E para isso, como para tudo o mais, seu desejo é a única realidade. Na sua agressividade erótica, na sua sem-vergonhice, vemos o extremo amor a vida, o reino da libido pura. Esse coronel tem dois filhos. O filho-homem é um fraco. Seu único desejo é sexual, ele está enfeitiçado pela esposa, uma piranha sexy-jovem. O pai o despreza por isso e deixa isso claro. O filho se ressente, exibe seu sofrimento de filho não-amado e tentará matar o pai ( e ao fazer isso, readquire o respeito do pai. Sua cerimônia de entrada no mundo masculino é esse quase assassinato tabú ). A filha do coronel é uma insegura e auto-controlada professora idealista. Todo seu desejo, reprimido, é dirigido ao muito educado e calmo vizinho, um cavalheiro sulista a antiga, que irá se revelar gay. Nesse caldo de repressão, chega um homem que será o catalizador da quimica que irá fazer a coisa virar, a crise se instalar e a catarsis se tornar possível.
Ele é um desajustado, arrogante, frio e hiper-masculino matuto. Homem que vem em fuga, pois cometeu em outra cidade o pior dos crimes para aquela sociedade conservadora, ateou fogo a propriedade alheia. Ao pedir emprego ao coronel, ele irá penetrar no coração da familia. Ele e o coronel são dois iguais e reconhecem isso. O velho o adota como herdeiro e com esse ato ele destrói o filho de sangue e empurra o forasteiro para a cama da filha "certinha".
Essa história, que feita sem habilidade poderia se tornar pesada ou até ridicula, nas mãos desta equipe se faz leve, ágil e sempre interessante. Paul Newman consolida aqui seu tipo de mal caráter adorável. Ninguém soube como ele, fazer tantos tipos de péssimos costumes em filmes, e mesmo assim ser gostável. Com este papel ele venceu em Cannes como melhor ator. Joanne Woodward se casou com ele durante as filmagens ( duraria toda a vida ). A filha domina o filme. Joanne era uma atriz de gênio. Este papel, todo para dentro, é uma tour de force em seu modo de falar e na maneira como ela olha para ele. Anthony Franciosa é o filho sofredor. Ator do Actors Studio, sua intensidade é exata. Orson Welles sofreu muito neste papel. A maquiagem o asfixiava e os outros atores eram do estilo moderno de atuar ( o estilo que é o de hoje ), ou seja, buscavam dentro de si o âmago do personagem. Orson era da moda antiga, atuar era criar uma persona. Os choques foram dificeis. Além do que, Orson não perdia sua mania de querer roubar as cenas e dirigir o filme. Mas o patriarca que ele nos dá é fantástico. Um prazer vê-lo nesse papel.
Porque hoje não nos dão mais tanta fartura em um filme? Penso que se filmado agora ( o que seria dificil ) apenas um dos personagens seria mostrado. O diretor iria o dissecar lentamente, e todos os outros seriam coadjuvantes.
Se voce é daqueles caras que estão começando a descobrir que havia cinema antes de Tarantino, esse momento de renovação no cinema americano é um bom caminho de aprendizado. Os filmes feitos entre 1954/1965 de Ritt, Lumet, Frankenheimer, Penn, Schaffner, Nichols, Jewison, Mulligan e etc. É uma boa safra para se preparar para os pratos mais raros e de gormand..
Bom apetite!

ALTMAN/ MARTIN RITT/ REX/ CHABROL/ DENZEL/ JOHN WOO/ THE FIGHTER

A FORTUNA DE COOKIE de Robert Altman com Julianne Moore, Glenn Close e Liv Tyler
Quem leu o livro de Biskin sabe que após o sucesso, Altman se dedicou a sempre ser surpreendente. E também a destruir suas chances de ser pop. Mash é uma obra-prima de anarquia, liberdade e humor; mas Altman nunca mais conseguiu chegar perto desse cume. McCabe e Mrs Miller é um maravilhoso western melancólico e junkie, Short Cuts é um dos melhores filmes dos anos 90 ( se não for o filme da década ), mas no geral, a carreira desse diretor de marca e toque tão original foi uma sucessão de filmes que quase chegaram lá. Neste filme, fora o ótimo elenco ( todos os filmes de Altman têm ótimos elencos ) sómente o clima de "deep south" pode manter o interesse do público. O filme é flácido. Nota 3.
PARIS BLUES de Martin Ritt com Paul Newman, Sidney Poitier e Joanne Woodward
Entre 1955/1963 vários filmes foram feitos sobre jazz. O estranho é que os filmes que melhor mostram o que era o jazz, são aqueles que não eram especificamente sobre o jazz, mas sim os que tinham o espírito, a alma da música negra. Filmes sobre assaltos, sobre a publicidade ou sobre tribunais. Este é sobre dois músicos de jazz morando em Paris. Eles se apaixonam por duas turistas americanas que tentam fazer com que ambos voltem para os EUA. Mas isso seria abrir mão de uma carreira. O filme é estranho. Tem 3 atores excelentes, mas nenhum deles brilha, porque seus personagens são muito superficiais. Mas em compensação, tem Paris no auge de sua beleza suja e boêmia. Olhar para aquela cidade cinza, feita de bares, becos e bancas de rua é um imenso prazer. A trilha sonora é de Duke Ellington e há uma cena de improviso com Louis Armstrong que consegue ir à raiz do que significa jazz. Nada mal, mas podia ser muito melhor. Martin Ritt foi um muito importante ( e pop ) diretor dos anos 50/60/70/80, um tipo de Sidney Pollack com consciencia social. Nota 6.
O ROLLS ROYCE AMARELO de Anthony Asquitt om Rex Harrison, Jeanne Moreau, Shirley MacLaine, Alain Delon, George C. Scott, Ingrid Bergman, Omar Shariff
Asquit, diretor inglês rei da finesse, dirige este caro projeto que acompanha a "vida" de Rolls amarelo. São 3 histórias: na primeira ( a melhor ) vemos um tipo de nobre inglês, que ao presentear a esposa com o carro, descobre que ela lhe é infiel. Harrison dá um show de sutileza como esse marido ferido. O momento em que ele diz ( à Jeanne Moreau ), "de agora em diante odiarei cada minuto da minha vida", é momento de alta arte. O segundo episódio, sobre gangster e prostituta em viagem a Itália, é bem mais fraco. No terceiro, vemos o Rolls já velho na segunda guerra. O valor do filme está em sua bela técnica e no excelente primeiro episódio. Nota 5.
THE CRIMINAL de Joseph Losey com Stanley Baker
Que ótimo diretor Losey foi. Americano, perseguido pelo MacCarthismo, reergueu sua carreira na Inglaterra. Seus filmes são sempre duras críticas a sociedade. Aqui, em mundo de gatunos vagabundos, acompanhamos Baker como um presidiário. Na prisão ele é rei. Ao sair, tenta um golpe, mas tudo acaba saindo de seu controle. O filme é sexy, seco, nada "simpático". Stanley Baker faz tudo aquilo que Clive Owen tenta; eis um ator que eu não conhecia e que me agradou bastante. Trilha sonora genial, fotografia de Oswald Morris, elenco inteiramente afiado. Um belo filme sobre o lado podre da Inglaterra da época. Nota 7.
AS CORÇAS de Claude Chabrol com Stephane Audran, Jacqueline Sassard e Jean-Louis Trintignant
Uma entediada "burguesa" seduz moça na rua. Leva-a para viver em sua casa do campo, onde vive um casal gay. Mas surge um amigo que desfaz essa falsa paz. Nouvelle Vague de 1968, ou seja, de sua segunda fase, muito mais radical e muito menos interessante. O filme é seco demais, árido, sem emoção. Essa falta de emoção é proposital, mas o que ganhamos em troca ? O filme acaba sendo apenas uma tese sociológica sem clima ou charme. Nota 3.
INCONTROLÁVEL de Tony Scott com Denzel Washington e Chris Pine
Quem foi o mala que inventou esse estilo de filmagem ? Essa coisa de não nos dar a menor chance de pensar, ou pior, de escolher o que olhar em cada take. Veja como é : se o cara fala e acende um cigarro, a câmera dá close no cara falando, desce ao cigarro e volta ao rosto. O que é isso ? É muito fácil interpretar assim, é muito fácil filmar assim; voce não precisa interagir com outro ator, voce não precisa compor a cena, arrumar um grupo de atores. É tudo feito um a um, pedaço por pedaço. Miséria estética absoluta. Closes, closes e mais closes. Quem inventou isso ? Tony Scott, por volta de 1985 com Top Gun, um filme sobre aviões que passava todo o tempo dando closes no rosto e no braço de Tom Cruise. Aqui vemos um trem descontrolado. E é só. Denzel, ator maravilhoso, nada tem a fazer, passa o filme todo sentado. Uma geração inteira está sendo deseducada. Além de não terem mais a paciência de assistir algo que não as esbofeteie todo o tempo, estão perdendo o dom de olhar. Nota 2.
ALVO DUPLO de John Woo com Chow Yun Fat e Leslie Cheung
Dois irmãos: um é policial, outro é bandido. O bandido tenta se redimir. Woo inventou o moderno tiroteio. Ele é o cara que criou essa coisa de várias pistolas se apontando ao mesmo tempo ( não foi Quentin ) e também a famosa cena da explosão às costas do herói que anda indiferente. Aqui há uma sinfonia de sangue, pulos, tiros, dor e carne estilhaçada. E ritmo. Apesar da péssima trilha sonora ( esse é o grande defeito dos filmes de Hong Kong ) é um absorvente filme policial. Quem me lê sabe: voces estão testemunhando um cara descobrir toda a riquesa de um continente de cinema. Nota 6.
THE FIGHTER de David O. Russel com Mark Wahlberg, Christian Bale, Melissa Leo e Amy Adams
Não é um filme sobre box. É sobre familia. Mas é daí ? Quero dizer, o que está acontecendo? Este filme é ok, mas é um filme de tv. ( Ou o que era antigamente um tipico filme de tv). As imagens são banais, a história muito "humana" e muito simples, e os atores fazem apenas seu feijão-com-arroz de sempre. ( E mesmo Bale, que voltou a Robertdeniromente tentar impressionar com sua transformação física, está apenas ok. Às vezes ele parece um cara interpretando e não um personagem ). Este filme, que é um Rocky I bem piorado ( Rocky I emociona ), não é ruim, não mesmo. Mas concorre a vários prêmios no Oscar. Bem... acho que essa coisa de Oscar já era. Ou o cinema já se foi... as lutas são especialmente mal filmadas. Este filme me deu uma vontade imensa de rever Mean Streets ( quem já teve a honra de ver essa obra-prima de Scorsese sabe do que falo. As cenas de Mark com Bale tentam se parecer com aquelas de Keitel com De Niro e jamais chegam perto ). Quem quer ver um grande filme de box, veja The Set Up de Robert Wise, e quem quiser ver um grande filme... fuja. Mas ele não é ruim, é mediocre. Nota 4.