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ALTMAN/ MARTIN RITT/ REX/ CHABROL/ DENZEL/ JOHN WOO/ THE FIGHTER

A FORTUNA DE COOKIE de Robert Altman com Julianne Moore, Glenn Close e Liv Tyler
Quem leu o livro de Biskin sabe que após o sucesso, Altman se dedicou a sempre ser surpreendente. E também a destruir suas chances de ser pop. Mash é uma obra-prima de anarquia, liberdade e humor; mas Altman nunca mais conseguiu chegar perto desse cume. McCabe e Mrs Miller é um maravilhoso western melancólico e junkie, Short Cuts é um dos melhores filmes dos anos 90 ( se não for o filme da década ), mas no geral, a carreira desse diretor de marca e toque tão original foi uma sucessão de filmes que quase chegaram lá. Neste filme, fora o ótimo elenco ( todos os filmes de Altman têm ótimos elencos ) sómente o clima de "deep south" pode manter o interesse do público. O filme é flácido. Nota 3.
PARIS BLUES de Martin Ritt com Paul Newman, Sidney Poitier e Joanne Woodward
Entre 1955/1963 vários filmes foram feitos sobre jazz. O estranho é que os filmes que melhor mostram o que era o jazz, são aqueles que não eram especificamente sobre o jazz, mas sim os que tinham o espírito, a alma da música negra. Filmes sobre assaltos, sobre a publicidade ou sobre tribunais. Este é sobre dois músicos de jazz morando em Paris. Eles se apaixonam por duas turistas americanas que tentam fazer com que ambos voltem para os EUA. Mas isso seria abrir mão de uma carreira. O filme é estranho. Tem 3 atores excelentes, mas nenhum deles brilha, porque seus personagens são muito superficiais. Mas em compensação, tem Paris no auge de sua beleza suja e boêmia. Olhar para aquela cidade cinza, feita de bares, becos e bancas de rua é um imenso prazer. A trilha sonora é de Duke Ellington e há uma cena de improviso com Louis Armstrong que consegue ir à raiz do que significa jazz. Nada mal, mas podia ser muito melhor. Martin Ritt foi um muito importante ( e pop ) diretor dos anos 50/60/70/80, um tipo de Sidney Pollack com consciencia social. Nota 6.
O ROLLS ROYCE AMARELO de Anthony Asquitt om Rex Harrison, Jeanne Moreau, Shirley MacLaine, Alain Delon, George C. Scott, Ingrid Bergman, Omar Shariff
Asquit, diretor inglês rei da finesse, dirige este caro projeto que acompanha a "vida" de Rolls amarelo. São 3 histórias: na primeira ( a melhor ) vemos um tipo de nobre inglês, que ao presentear a esposa com o carro, descobre que ela lhe é infiel. Harrison dá um show de sutileza como esse marido ferido. O momento em que ele diz ( à Jeanne Moreau ), "de agora em diante odiarei cada minuto da minha vida", é momento de alta arte. O segundo episódio, sobre gangster e prostituta em viagem a Itália, é bem mais fraco. No terceiro, vemos o Rolls já velho na segunda guerra. O valor do filme está em sua bela técnica e no excelente primeiro episódio. Nota 5.
THE CRIMINAL de Joseph Losey com Stanley Baker
Que ótimo diretor Losey foi. Americano, perseguido pelo MacCarthismo, reergueu sua carreira na Inglaterra. Seus filmes são sempre duras críticas a sociedade. Aqui, em mundo de gatunos vagabundos, acompanhamos Baker como um presidiário. Na prisão ele é rei. Ao sair, tenta um golpe, mas tudo acaba saindo de seu controle. O filme é sexy, seco, nada "simpático". Stanley Baker faz tudo aquilo que Clive Owen tenta; eis um ator que eu não conhecia e que me agradou bastante. Trilha sonora genial, fotografia de Oswald Morris, elenco inteiramente afiado. Um belo filme sobre o lado podre da Inglaterra da época. Nota 7.
AS CORÇAS de Claude Chabrol com Stephane Audran, Jacqueline Sassard e Jean-Louis Trintignant
Uma entediada "burguesa" seduz moça na rua. Leva-a para viver em sua casa do campo, onde vive um casal gay. Mas surge um amigo que desfaz essa falsa paz. Nouvelle Vague de 1968, ou seja, de sua segunda fase, muito mais radical e muito menos interessante. O filme é seco demais, árido, sem emoção. Essa falta de emoção é proposital, mas o que ganhamos em troca ? O filme acaba sendo apenas uma tese sociológica sem clima ou charme. Nota 3.
INCONTROLÁVEL de Tony Scott com Denzel Washington e Chris Pine
Quem foi o mala que inventou esse estilo de filmagem ? Essa coisa de não nos dar a menor chance de pensar, ou pior, de escolher o que olhar em cada take. Veja como é : se o cara fala e acende um cigarro, a câmera dá close no cara falando, desce ao cigarro e volta ao rosto. O que é isso ? É muito fácil interpretar assim, é muito fácil filmar assim; voce não precisa interagir com outro ator, voce não precisa compor a cena, arrumar um grupo de atores. É tudo feito um a um, pedaço por pedaço. Miséria estética absoluta. Closes, closes e mais closes. Quem inventou isso ? Tony Scott, por volta de 1985 com Top Gun, um filme sobre aviões que passava todo o tempo dando closes no rosto e no braço de Tom Cruise. Aqui vemos um trem descontrolado. E é só. Denzel, ator maravilhoso, nada tem a fazer, passa o filme todo sentado. Uma geração inteira está sendo deseducada. Além de não terem mais a paciência de assistir algo que não as esbofeteie todo o tempo, estão perdendo o dom de olhar. Nota 2.
ALVO DUPLO de John Woo com Chow Yun Fat e Leslie Cheung
Dois irmãos: um é policial, outro é bandido. O bandido tenta se redimir. Woo inventou o moderno tiroteio. Ele é o cara que criou essa coisa de várias pistolas se apontando ao mesmo tempo ( não foi Quentin ) e também a famosa cena da explosão às costas do herói que anda indiferente. Aqui há uma sinfonia de sangue, pulos, tiros, dor e carne estilhaçada. E ritmo. Apesar da péssima trilha sonora ( esse é o grande defeito dos filmes de Hong Kong ) é um absorvente filme policial. Quem me lê sabe: voces estão testemunhando um cara descobrir toda a riquesa de um continente de cinema. Nota 6.
THE FIGHTER de David O. Russel com Mark Wahlberg, Christian Bale, Melissa Leo e Amy Adams
Não é um filme sobre box. É sobre familia. Mas é daí ? Quero dizer, o que está acontecendo? Este filme é ok, mas é um filme de tv. ( Ou o que era antigamente um tipico filme de tv). As imagens são banais, a história muito "humana" e muito simples, e os atores fazem apenas seu feijão-com-arroz de sempre. ( E mesmo Bale, que voltou a Robertdeniromente tentar impressionar com sua transformação física, está apenas ok. Às vezes ele parece um cara interpretando e não um personagem ). Este filme, que é um Rocky I bem piorado ( Rocky I emociona ), não é ruim, não mesmo. Mas concorre a vários prêmios no Oscar. Bem... acho que essa coisa de Oscar já era. Ou o cinema já se foi... as lutas são especialmente mal filmadas. Este filme me deu uma vontade imensa de rever Mean Streets ( quem já teve a honra de ver essa obra-prima de Scorsese sabe do que falo. As cenas de Mark com Bale tentam se parecer com aquelas de Keitel com De Niro e jamais chegam perto ). Quem quer ver um grande filme de box, veja The Set Up de Robert Wise, e quem quiser ver um grande filme... fuja. Mas ele não é ruim, é mediocre. Nota 4.

BERGMAN/ JOHN FORD/ BOORMAN/ GODARD/ CHABROL/ CAROL REED/ ANTHONY MANN

PERSONA de Ingmar Bergman com Bibi Andersson e Liv Ullman
Dificil classificar este filme. Todas as notas que dou têm relação com o prazer. Não dou um dez porque o filme é importante ou complexo. O dez é dado ao filme que me dá um supremo prazer, seja estético, seja emotivo, seja moral. Mas como falar de Persona? O filme tem a profundidade simbólica dos melhores sonhos, mas ao mesmo tempo é árido. Nenhum prazer existe em sua visão. Assistir este filme é sentir desconforto, medo e até mesmo angústia. Não há como em outros filmes do mestre, o alívio prazeroso da bela imagem e dos atores geniais. Aqui tudo é dor. Impossível a mim dar uma nota.
OS DEZ MANDAMENTOS de Cecil B.de Mille com Charlton Heston, Yul Brynner e Anne Baxter
Aqui tudo é circo. Cecil se despede do cinema com imensa produção. São milhares de figurantes, bichos e cenários gigantes. Heston é Moisés e Brynner é o faraó. Anne está uma delícia como Nefertiti. Tem tudo nesse enredo de crioulo doido: tempestades, milagres, a voz de Deus, escravos, estupro e lutas. Profundo como um episódio de cartoon. Estranhamente é ainda divertido em sua cafonice esperta. Nota 6.
A VIDA ÍNTIMA DE SHERLOCK HOLMES de Billy Wilder com Robert Stephens e Colin Blakely
Na primeira parte vemos Holmes como um tipo de dandy gay viciado em cocaína. Watson é seu simplório amigo que como bom vitoriano finge nada perceber. É um tipo de comédia suave. Mas quando acontece o crime e Holmes passa a tentar o resolver o filme se perde. O caso é óbvio e simples demais para um detetive tão genial. È um dos últimos filmes de Billy e foi imenso fracasso. Nota 4.
DEPOIS DO VENDAVAL de John Ford com John Wayne, Maureen O'Hara e Victor McLaglen
Deixa eu contar: este é o filme favorito de meu pai. Assisti com ele quando eu tinha 10 anos de idade, na Globo, sábado às 21 horas. Lembro que achei o filme muito bobo, muito alegre e muito cheio de socos. Na adolescência passei a detestar esse tipo de filme ( como detestei tudo que lembrasse meu pai ). Mas após os 30 anos comecei a aceitar esses filmes, a ver sua poesia, seu imenso valor mitico. É o maior sucesso em bilheteria de Ford e ganhou Oscar. Conta a história de americano que vai a Irlanda ( Galway ) comprar casa que foi de seu pai. Lá, ele se enamora de vizinha ( Maureen maravilhosa ) e briga com grande valentão do lugar. O filme mostra a Irlanda do folclore, onde todos bebem e brigam, riem e fazem tudo beeeem devagar. Ford cria seu universo fordiano, mundo onde os mitos e os símbolos vivem. O filme é de uma comovente simplicidade e de uma esfusiante beleza. Wayne irrompe como rei da masculinidade e Maureen é a fêmea ideal. Lembrete de outro mundo possível ( extinto? ). Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!!!
XEQUE-MATE de Paul McGuiguan com Josh Hartnett e Lucy Liu
O que significa este filme? O ponto mais baixo em que uma diversão pode chegar? Observem: um filme ruim, antes, era um filme mal feito. Um filme ruim agora, como é este, é um filme mau. Violência pornográfica, roteiro imbecil e atores deploráveis ( o tal Josh mal sabe falar ). Há participações de atores de verdade ( infelizmente muito curtas ): Ben Kingsley e Morgan Freeman e de dois bons tipos: Bruce Willis e Stanley Tucci. Mas este lixo é inominável. Nota ZERO.
EXCALIBUR de John Boorman com Helen Mirren, Cherie Lunghi, Liam Neeson, Nicol Williamson
Uma fascinante viagem por mundo interior. Percebemos por entre as brumas nosso mundo e nossos símbolos mais imorredouros. Jung mora em cada personagem. Quando esta saga termina, sentimos que alguma coisa nos foi fixada. Há uma riquesa imensa nestas imagens. As cenas de Lancelot são as melhores, exemplos simples do que é o amor cortês. Nota 8.
FEDORA de Billy Wilder com William Holden e Marthe Keller
Último filme de Billy. Sem dúvida é o pior filme já feito por um grande diretor. Chega a dar pena. Trata-se de uma gororoba mal temperada sobre atriz anciã que tenta voltar ao cinema. Diálogos risíveis e interpretações lamentáveis. Nota Zero.
BANDE À PART de Jean-Luc Godard com Anna Karina, Sammi Frey e Claude Brasseur
Liberdade em forma de filme. Jean-Luc pega tudo que esperamos e nos devolve transformado. Os atores brincam e nos encantam, Anna dá um show no papel de uma bobona. O filme é leve, jovem, solto e soberbamente anárquico- mas atenção! É para amantes de cinema, sua magia está no filme em sí, não em sua "história". Nota 9.
ALPHAVILLE de Jean-Luc Godard com Anna Karina e Eddie Constantine
Godard consegue nos levar à ficção científica sem criar cenários ou efeitos. Ele filma a Paris de 1965 de um modo "esquisito", e nos faz crer que aquilo é um "outro mundo". Em que pese essa habilidade, este é de todos os seus filmes da primeira fase ( a fase Anna Karina ), o menos interessante. Um James Bond de vanguarda, ou um Godard em sci-fi. Nota 4.
MULHERES FÁCEIS de Claude Chabrol com Bernadette Lafond e Stephane Audran
É a história de 4 moças em Paris. Seus amores ( ou não ), bebedeiras, orgias e seu trabalho alienante. O filme é bastante ousado para a época e tem um final hitchcockiano. Lafond é uma comediante maravilhosa, tudo nela é ironia. Chabrol jamais foi um gênio, mas era um cineasta seguro, afiado, instigante. Nota 7.
O ÍDOLO CAÍDO de Carol Reed com Ralph Richardson e Michele Morgan
Na embaixada da França em Londres, um menino apegado a mordomo, presencia sua infidelidade e no processo descobre o que significa a palavra "verdade". Este filme, feito por um dos 3 maiores diretores ingleses, é uma obra-prima de suspense. O final me deixou com o coração na mão!!!! Detestamos o menino cada vez mais e nos compadecemos do mordomo e de sua amante. Cenários belos e labirínticos e fotografia exemplar de Georges Périnal. O grande ator shakespeareano, Ralph Richardson, mostra todo o medo e toda a aceitação do destino do patético mordomo. O filme, original e asfixiante, é uma jóia do melhor momento do cinema inglês. Veja e se apaixone por esse muito grande diretor. Nota DEZ!!!!
O HOMEM DOS OLHOS FRIOS de Anthony Mann com Henry Fonda e Anthony Perkins
Mann nunca errava???? A primeira cena deste western já é antológica, um passeio em grua, num preto e branco brilhante, pela cidade. Mas o filme é todo assim, uma aula de cinema. Fonda está estupendo como o herói amargo e quieto, exemplo de virilidade bem resolvida. Seus olhos são os olhos de um anjo caído. Tudo neste filme caminha para seu final catártico. Quem desejar saber o que é um herói e para que serve uma aventura, que veja este monumento. Anthony Mann, mestre de westerns que se fazem mitos, dava estatura de arte filosófica a filmes aparentemente banais. Um diretor perfeito. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

A FITA BRANCA/ PECKIMPAH/ LANG/ A ESTRADA/ CHABROL

SMOKING/NO SMOKING de Alain Resnais
Dois atores fazem todos os papéis neste irregular filme de Resnais. Cansa a artificialidade. Azéma está excelente como sempre, é uma atriz sem limites. Longe de ser tão bom quanto os geniais Medos Privados ou Mariembad. Mas Resnais é sempre invulgar. Nota 6.
KUNG FU FUTEBOL CLUBE ( OU KUNG FUSÃO ) de Stepehen Chow
Tolíssimo, breguíssimo e infantilíssimo. Mas simpáticamente assumido. Não tenta ser mais do que pode ser. Nada de cores tristonhas e de complicações afetadas, é diversão pop e fim. E nisso ele é perfeito. Engraçado, bem dirigido, cheio de ação. Fuja se não tiver senso de humor. Relaxe e divirta-se se o tiver. Foi recorde de público na Ásia. Chow é o cara! Nota 7.
JORNADA AO TERROR de Norman Foster com Joseph Cotten e Dolores del Rio
É o noir que Orson Welles dirigiu por telefone. Ele estava no Rio, fazendo um documentário, e tentou manter o controle deste filme via fone e telex. Apesar de tudo e da assinatura de Foster, o estilo é todo Welles, soturno e fatalista. Bom exemplo de noir. Nota 7.
CLIFFHANGER de Renny Harlin com Sylvester Stallone e John Lithgow
Uma das várias tentativas de Sly de come back. É aquele filme em que ele é um alpinista. A ação é muito boa, toda com dublês e em abismos reais. Dá pra ver com prazer. Nota 6.
CORRA QUE A POLÍCIA VEM AÍ de Zucker, Zucker e Abrahams com Leslie Nielsen
Quantas vezes voce já viu???? Trinta? Mas ainda dá pra rir. É um pequeno clássico. Leslie está genial e o roteiro não teme a completa tolice. Me lembra muito a velha revista Mad, mas nos extras os roteiristas citam Os 3 Patetas, Os Irmãos Marx e Jacques Tati como influências. Esta comédia é exatamente aquilo que sempre tentei escrever, puro prazer. Nota 8.
ASSASSINOS DE ELITE de Sam Peckimpah com James Caan e Robert Duvall
É sobre uma empresa particular que defende pessoas em risco de assassinato. Caan, que foi traído por Duvall, busca sua vingança. Mas o filme mostra que nenhuma vingança é possível, os dois são marionetes. Peckimpah, já em sua fase junkie-terminal, faz um filme sujo. Há um ar de falencia em toda cena. Nada tem glamour, nada tem alegria. O visual é seco, cafona, árido. Falta ar ao filme. Longe das obras-primas do genio Sam Peckimpah, mas é um filme de macho e dos melhores. Desagradável, mas que te prende. Tarantino assinaria. Nota 8.
AUSTIN POWERS de Jay Roach com Mike Myers e Elizabeth Hurley
A trilha sonora é um show. Tem de Bacharach à Nancy Sinatra. Myers é tão vaidoso que quase estraga tudo e o roteiro parece escrito por alguém com 11 anos de idade. Mas eu adoro o visual ( baseado em Michael Caine ) e os trejeitos de Powers. Adoro o sotaque britanico e as gírias ( groooovy yeah!!!! ). Este é um dos filmes que tenho vergonha de gostar. Nota 6.
OS CARRASCOS TAMBÉM MORREM de Fritz Lang com Brian Donlevy e Walter Brennan
Roteiro de Bertolt Brecht. Um filme corajoso. Na Praga ocupada, vemos a crueldade nazi e a resistência tcheca. O roteiro tem maravilhosas reviravoltas e falas sobre a liberdade muito agudas. Os atores estão inspirados e sentimos, vendo o filme, toda a opressão da Gestapo. Delações, interrogatórios, medo constante, covardias. O filme não adoça nada. Lang faz aqui mais um grande filme. Todo seu estilo, cruel e seco, esparrama-se pela ação. Cada cena é primor de técnica e de economia. Maravilhoso. Nota Dez.
LE BEAU SERGE de Claude Chabrol com Jean-Claude Brialy, Gerard Blain e Bernadette Lafond
Chabrol, crítico dos cahiers, recebeu uma herança e a torrou neste seu primeiro filme. É então o primeiro filme da Nouvelle Vague. A história é simples: um jovem doente volta a sua cidadezinha para reencontrar sua origem. Lá ele toma contato com Serge, amigo que se tornou alcoólatra. Namora a vagaba do lugar e no fim encontra o que procurava. Chabrol vai fundo: todos são derrotados. O campo é visto como lugar de miséria e de gente estúpida. Tudo é frio, pobre, sujo e todos estão no limite. A moral não existe. Inacreditável ser este um primeiro filme. A direção é sublime e a fotografia de Henri Decae é inventiva. Excelente. Nota 8.
A FITA BRANCA de Michael Haneke
Sómente uma época deprimida para produzir este filme. Nunca, em toda a história do cinema, houve um tempo com tantos filmes deprimentes, flácidos, fatalistas. A moda é ser o mais negativo possível. Este filme, de fotografia belíssima, condena toda a humanidade. Tudo é desapontamento, horror e medo. Adoro filmes tristes, detesto filmes deprimidos. A diferença é imensa. Um diretor que filma a tristeza consegue fazer viver a película. Um diretor deprimido não dá vida a nada. Mas esta é época em que até as comédias têm cenários tristinhos e musiquinhas chorosas. É isto que minha geração deu ao mundo? O prazer de se ver o fim de tudo o que tem valor? Deplorável.
A ESTRADA de John Hillcoat com Viggo Mortensen, Robert Duvall e Charlize Theron
Continuamos a saga. O roteiro é tão falso que chega a ser cômico. Tudo morre menos as pessoas. Então tá... Mas logo penso: talvez seja um filme simbólico! Bem, se for, seus símbolos são primários. O menino é Cristo e a Terra se tornou bíblica. Não dá pra engolir. Isto é mais um exemplo de aventura boba ( é Mad Max para metidos a besta ) que luta para ser intelectual. Coisa de Jeca. Cores cinzas, falas amargas, trilha sonora minimalista, idas e vindas. Quanto chavão!!!!!! Em tempo de deprê ( até os teens são pessimistas ) e de coraçõesinhos tímidos, isto é retrato do fim de feira geral. Nota Um ( pelos bons atores ).

OPHULS/ MORGAN FREEMAN/ CHABROL/ FORD/ LUBISTCH

LOLA MONTÉS de Max Ophuls com Martine Carol e Peter Ustinov
De longe é este o pior filme de Ophuls. Um longo e enfadonho exercício de pretensão. Sabe-se que ele teve problemas com a produção e que sua ambição era a de fazer um filme muito maior. Mas este painel sobre a decadencia de uma cortesã não tem ritmo, não tem gosto, tem falta de tudo aquilo que sempre fez a fama de Ophuls. Uma pena. Muita gente considera este filme um dos maiores da história. Onde? Nota 3.
A DAMA DO LAGO de Robert Montgomery com Audrey Totter
A idéia é arrojada: fazer um policial noir em câmera subjetiva. O herói jamais é visto ( só quando se olha no espelho ) a câmera é o olho desse detetive. Mas essa idéia não funciona. Queremos ver as reações do herói, queremos ver o ambiente onde tudo ocorre, nos cansamos de olhar para rostos que falam olhando para nós. Fato muito interessante: sem a distração de nossos pensamentos, o que olhamos numa conversa é absolutamente banal. O filme se torna árido, mas jamais indiferente. Audrey Totter tem uma sensualidade perversa eletrizante e o enredo tem tanta podridão que nosso interesse se mantém. Mas seria muuuuuito melhor se feito sem a tal câmera subjetiva. Nota 6.
SER OU NÃO SER de Ernst Lubistch com Carole Lombard e Jack Benny
Vamos ver se consigo explicar a história: na Polonia de 1939 ( o filme é de 44 ) uma trupe de atores judeus vê os nazistas invadirem Varsóvia. Sem teatro e na miséria eles acabam ( através de mirabolante e muito bem escrita história ) tomando o lugar dos verdadeiros nazistas e se passando até por Hitler, salvando assim um espião da RAF. O burlesco impera. Lubistch não tem o menor pudor de zombar de nazis em plena guerra. Mas ele também zomba de atores e suas pretensões. O filme é uma delícia! Lombard brilha como a atriz cortejada pelos nazis e Benny é seu marido, um ator-pavão que se torna herói. É impagável. Nota 8.
DOMÍNIO DE BÁRBAROS de John Ford com Henry Fonda, Dolores del Rio e Pedro Armendariz
Um filme muito estranho. Fala de padre que é perseguido em revolução mexicana. O padre é um tipo de martir culpado e as atrocidades se amontoam. É um filme hiper-católico e hiper-carola. Mas algo o redime. A maravilhosa fotografia de Gabriel Figueroa. O México jamais foi tão misterioso, gótico, irreal e infernal. Trabalho de gênio. Mas é um drama muuuito estranho.... Nota 5.
A ÚLTIMA ESTAÇÃO de Lasse Hallstrom com Robert Redford, Morgan Freeman, Jennifer Lopez e Josh Lucas
Hallstrom dirigiu Minha Vida de Cachorro. Ele é muito bom para esse tipo de filme bucólico, sensível, humano. Aqui temos Redford ( muito bem ) como um rancheiro que vive em semi-isolamento com seu amigo ( Freeman ) aleijado por ataque de urso. Jennifer é sua nora, que vai viver lá fugindo de namorado violento. O filme é sobre a reconciliação. É bonito. Fácil de ver, muito bem narrado e todos os atores estão ótimos ( inclusive J-Lo ). Mas, como quase sempre acontece com Hallstrom, falta a criatividade, a fagulha que faz de um filme ok um filme marcante. Nada aqui é ruim, mas nenhuma cena é forte. É bacaninha. Nota 6.
MORTE SOBRE O NILO de John Guillermin com Peter Ustinov, David Niven, Maggie Smith, Bette Davis, Jane Birkin, Angela Lansbury
Hercule Poirot investiga mortes em viagem pelo Nilo. Ustinov está delicioso como Poirot e Niven dá classe ao todo. Mas o jovem casal central, feitos por Lois Chiles e Simon MacKindale, é de canastrice irritante!!!! E ainda tem Mia Farrow como a principal suspeita, hiper-atuando. Um filme que não flui, em que pese a delicia de se ver tantos medalhões. Nota 4.
A ÚLTIMA ESTAÇÃO de Michael Hoffman com Helen Mirren, Christopher Plummer, James MacAvoy, Paul Giammati
Tolstoi em seus últimos dias, tendo seu legado disputado por sua esposa e por seus discipulos. Tolstoi, nos últimos anos de sua longa vida, abriu mão de sua fortuna e de sua arte em pró de sua crença. Ele lançou o toltoianismo, um tipo de pacifismo marxista vegetarianista. O filme mostra os embates entre a condessa sua esposa, que ama o Tolstoi nobre e escritor genial, e o líder do tolstoianismo, que parece estar de olho em sua herança. Helen Mirren brilha. Sandra Bullock ter lhe tirado um segundo Oscar é piada de péssimo gosto. Mas Plummer, MacAvoy e Giamatti, todos brilham, todos se entregam aos papéis invulgares. A cena da morte de Tolstoi é belíssima. E terrivelmente dura. Faltou um diretor de maior ambição, um diretor que criasse cenas de impacto e não apenas que se deixasse levar pelo texto e pelos atores. Hoffman nunca atrapalha, mas também nada cria. Mas, em tempos de gnomos e que tais, é um filme especial. Nota 7.
UMA GAROTA DIVIDIDA EM DOIS de Claude Chabrol com Ludivine Sagnier
O grande Chabrol erra aqui. Veja bem, não é um filme ruim, é apenas um filme sem porque. Uma garota ama um escritor velho e é cortejada por playboy bilionário. E daí? E daí nada. Não há nenhum aprofundamento, nenhuma surpresa, nada de belo ou de diferente. Chabrol não erra, mas e daí? Claude Chabrol é o mais querido dos diretores da nouvelle-vague nos EUA. Ele tem uma sucessão de bons filmes de suspense ( quando critico ele amava Hitchcock ). Mas aqui, aos 82 anos, ele faz um filme inútil. Nota 3.

rápidinho-, comentários e notas

.QUEIME DEPOIS DE LER dos Coen. Em ano muito ruim, se destaca fácil. nota 8.
VICKY CRISTINA BARCELONA de Woody Allen. Um tipo de Eric Rhomer pop. Woody acerta na leveza, Scarlet naufraga, Bardem brinca e Penelope estraçalha. nota 8.
AGENTE 86 de alguém que não importa. Uma lástima. nota zero.
THE READER de Daldry. Com Winslet. Kate está caricatural. Sua alemã parece uma alemã feita por uma inglesa. O filme aborrece e agita sempre um cartaz onde se lê : arte! - pois não o é. Trata-se de presunção do pior tipo. Risquem o nome de Daldry do meu caderno. nota 1.
CLUBE DOS PILANTRAS de John Landis com Belushi. Nunca foi dos meus favoritos. Penso que John Belushi nunca fez um filme a altura de seu potencial. nota 3.
YOUNG MAN WITH A HORN de Michael Curtiz com Kirk Douglas, Doris Day e Lauren Bacall. Filme sobre jazz. É baseado na vida de Bix Beiderbecke. Kirk se esforça, mas voce percebe que o diretor não entende de jazz. E nem se interessa. nota 2.
O MAIOR AMANTE DO MUNDO de Gene Wilder. Um tímido americano caipira se torna o novo Valentino. Gene dirige sem inspiração. Parece Mel Brooks de segunda mão. 3.
O IRMÃO MAIS ESPERTO DE SHERLOCK HOLMES de Gene Wilder. nota zero.
EXPRESSO DE CHICAGO de Arthur Hiller com Gene Wilder, Jill Clayburgh e Richard Pryor. Funciona. Muito agradável, é o que chamo de pop honesto. Assume o que pretende e o atinge. nota 6.
CENAS EM UM SHOPPING de Paul Mazursky com Woody Allen e Bette Midler. Um casal discute a relação num shopping. Só isso. O filme é um tipo de análise pop para trintões. Mazursky surgiu em 1970 como enorme promessa. Ficou pelo caminho. Nota 3.
OURO É O QUE OURO VALE de Walter Graham com James Coburn. Faroeste de humor. Mas o pastelão passa do ponto. fuja!!!!!! zero.
SARGENTO YORK de Howard Hawks com Gary Cooper.
York fez enorme sucesso na época da segunda guerra e deu a Cooper seu oscar. Conta a saga de um caipira que se torna herói. Sem querer e sem ter noção do que faz. Ele é um tipo de Garrincha da guerra. Todos que me acompanham sabem do meu amor pelo cinema falsamente simples de Hawks. Quem já tentou fazer qualquer tipo de arte sabe que o mais dificil é transformar o grande trabalho em prazer. Parecer fácil o que é dificil. Hawks sempre consegue isso. Relaxar e deixar rolar. Mas York não me agrada. Há algo de muito carola, de muito falso aqui. Provavelmente Hawks se sentiu pressionado pelo clima de guerra e fez um filme travado. Um anti-Hawks. Gary Cooper está muito bem. nota 3.
A CONDESSA DESCALÇA de Joseph l. Mankiewicz com Bogart e Ava Gardner. Bem... Mankiewicz é o maravilhoso diretor de clássicos como A Malvada e O Fantasma Apaixonado. É considerado um mestre do diálogo, da interpretação. Mas este muito pretensioso filme erra em sua análise do que seria Hollywood. Conta a história de uma espanhola que via publicidade se torna grande estrela. Mas ela é ninfomaníaca e se casa com principe italiano impotente. Bogey está sobrando neste filme. Ava está bonita. Mas o filme não evolui. 3.
A IDADE DA REFLEXÃO de Michael Powell com James Mason e Helen Mirren. Escrevi um comentário mais longo sobre este delicioso filme abaixo. Procure. Se voce achou que o pintor feito por Bardem no filme de Woody é muito chavão, veja James Mason neste filme. Aqui vemos aquilo que um pintor realmente é. Helen resplandece. Sua sensualidade é uma aula para JessicasBiels e NataliesPotmans. Ela é de carne e osso. E brilha como o sol deste filme feliz. Mais uma dentre a dúzia de obras-primas de Powell. Nota DEZ.
O FIO DA NAVALHA de Edmund Goulding com Tyrone Power, Gene Tierney e vasto etc. O livro de Someset Maugham é uma deliciosa novela pop que fala da falta de sentido da vida. O personagem, Larry, volta da guerra traumatizado e roda o mundo atrás do nirvana. Lí o livro já 3 vezes e se trata de um best-seller com suprema habilidade e vasta ambição. O filme pega tudo isso e transforma numa pecinha escolar sobre ciúmes e dor de cabeça. Chato e ofensivo. Um detalhe: Power interpretou dois de meus mais amados personagens : larry aqui e o narrador de O sol também se Levanta. O fato de ele afundar os dois filmes diz muito sobre o que Hollywood é. nota 1.
A FACA NA ÁGUA de Roman Polanski. Trata-se do primeiro longa de Polanski, feito ainda na Polonia num maravilhoso preto e branco. 3 personagens e aquele clima claustrofóbico do qual ele é mestre. ( aliás, Roman já nasce mestre aqui. o filme tem a segurança de um veterano ). Casal dá carona a jovem e o leva para velejar. Nasce o suspense. Todas as enquadrações de cameras são belíssimas, os atores estão muito bem orientados, e a história nunca se trona monótona e nos hipnotiza. Um filme muito barato, muito simples, muito original e totalmente acessível de um diretor que nos daria a obra-prima Chinatown. nota 8.
QUEM MATOU LEDA? de Claude Chabrol com Bernadette Lafont e Jean Paul Belmondo. Crítica escrita abaixo. Leia que vale a pena. O filme é direto, vibrante, profundo e inesquecível. Fotografia de Decae genial e um Belmondo divetidissimo. nota 8.
AS DIABÓLICAS de Clouzot com Simone Signoret. Foi refilmado com Sharon Stone e Isabelle Adjani. Um desastre essa refilmagem. Este é asfixiante, paranóico, muito habilidoso e um prazer absoluto. nota 7.