Mostrando postagens com marcador burt reynolds. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador burt reynolds. Mostrar todas as postagens

AMOR, ETERNO AMOR ( AT LONG LAST LOVE ), PETER BOGDANOVICH, COLE PORTER E A JOIE DE VIVRE

Em 1975, vindo do fracasso de Daisy Miller, Peter Bogdanovich lança este filme. Uma aposta muito arriscada! No momento mais amargo e político da história do cinema, ele apresenta um filme, musical, saudosista, que fala de amor. Críticos abominaram e o público ignorou. No momento em que os filmes da moda eram UM ESTRANHO NO NINHO, UM DIA DE CÃO, TAXI DRIVER E ROCKY, não havia espaço para uma pequena declaração de joie de vivre como é este filme. ------------------- São dois casais. Cybill Shepherd é uma mulher que recebe mesada da mãe. São os anos 30 e ela é o tipo Ginger Rogers: loira, esquentada, indecisa, e muito, muito rica. Burt Reynolds faz um tipo Gary Cooper: milionário, elegante e bobinho. Reclamaram muito de dar à Burt, na época o ator mais popular dos EUA, famoso por filmes de ação, ídolo do povo country, um papel que seria muito mais adequado à Ryan O'Neal ou Robert Redford. Seria como dar para The Rock um papel de bailarino russo. Mas esse é um dos charmes do filme, nos divertimos vendo um machão como Burt tendo de ser Fred Astaire. Ele tem de cantar e arriscar um sapateado. Tudo fica "simpático", tolinho, bobinho e muito, muito alegre. Burt se esforça, ri, faz expressões faciais divertidíssimas! É um prazer de observar. Cybill não. Ela revela aquilo que sempre atrapalhou sua carreira: parece enjoada demais. Antipática. Cybill passa do ponto. Mas surpreendentemente, ela canta bem. Aliás, para os padrões de 2023, todos cantam bem. Este filme é bem melhor, muito melhor, incomparavelmente melhor que LA LA LAND e é tão delicioso como o musical de Woody Allen, EVERYBODY SAYS I LOVE YOU, filme que bebeu sua ideia aqui. ---------------------- O outro casal tem Madeline Kahn, sempre engraçada, e Duilio Del Prete, ator italiano que faz um malandro de Veneza. Um cara que tenta enriquecer no jogo. Há ainda um muito, muito divertido casal feito pelo mordomo de Burt, John Hillerman, e Eillen Brenan, a amiga-secretária de Cybill. A história, em cenários maravilhosos ao estilo RKO anos 30, é a mais comum: Burt se apaixona por Madeline, muda de ideia e fica com Cybill, volta pra Madeline, mas talvez ame mesmo à Cybill. Quem sabe? Peter Bogdanovich era um homem que se apaixonava por suas atrizes e mergulhava no amor sem pudor algum. A mensagem do filme é: o amor muda, ame enquanto pode e mude com ele. ----------------- Todas as canções são de Cole Porter, ou seja, é a trilha sonora do Paraíso. Nunca houve ou há letrista como ele. Suas letras são hiper cultas sem jamais parecer intelectuais, são chiques sem forçar o luxo, são alegres com ironia e dançam na voz de quem as canta. Cole, que era hiper sexualizado, dormia com duques e com marinheiros, adiciona pimenta à cada frase. Sabemos que o tempo todo ele fala de uma boa trepada, mas isso é dito com beleza que brilha, com laços de seda e melodias que são um convite à viver bem e viver feliz. Não há como um filme embalado à Cole Porter ser de todo ruim, e este filme é encantador. ---------------- Joie de Vivre, bebê. Um conceito que hoje parece anacrônico. O dom de tirar da vida aquilo que ela tem de bom. Ter prazer em cada raio de sol e em poder andar na chuva também. Sorrir para a história de seu destino. Apreciar. Este filme tem tudo isso porque tanto Cole Porter como Peter Bogdanovich entendiam que a vida era um presente. Com etiqueta da Chanel.------------------------ Mas os deuses cobram seu preço. Cole Porter teve um acidente se equitação e com as pernas esmagadas, passou os últimos 20 anos de sua vida com muletas e sentindo dor. Já Peter viveu o caso Stratten, viu sua paixão ser morta por marido ciumento e segundo suas palavras, "nunca mais foi feliz". Well....deuses são ciumentos e não suportam ver humanos que se sentem divinos. ---------------------------- Eu adoro musicais, voce sabe disso, e a coisa mais adorável sobre esse estilo de filme, é que quando ele nos enfeitiça queremos asssitir à obra todo dia e toda hora. São como albuns que amamos, companheiros do dia a dia. Este filme, hoje reabilitado, é um desses voodoos. Eu amei. Um voodoo que foi feito tão certo que nos faz viver melhor.