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TAKING OFF ( BUSCA INSACIÁVEL ), FILME AINDA NOVO DE MILOS FORMAN.

   Este post vai para meu amigo Leo Falcão. Mas para voce também.
 Abro o box sobre o cinema americano dos anos 70, o novo cinema de então, e que permanece novo para sempre, com este Milos Forman, talvez o menos atraente dos filmes do box. E já antecipo: é maravilhoso. Meu amigo me falou a mais de ano sobre esse box. André Barcinski o elogiara. Vamos à história do filme:
 Forman surgiu em 1964 na Praga jovem de então. Pedro o Negro é seu primeiro filme. Já o assisti e fiquei impressionado. Forman tem um amor profundo pelas pessoas. Ele mostra seu lado ridículo, grotesco, mas sempre com amor, com respeito. É uma grande alma.
 Pois bem. Com mais dois filmes, Os Amores de Uma Loura e O Baile dos Bombeiros, ele se torna um dos nomes mais quentes em festivais de filmes. Jan Kadar, Vera Chyntilova, Ivan Passer são alguns outros nomes tchecos. Pois bem, em 1967 ele consegue autorização para ir à NY. Tem um convite para filmar lá. Encontra o roteirista de Bunuel, Jean-Claude Carriére, e juntos passam a frequentar a cena hippie do verão do amor. Usam drogas, vão a shows, festas, ioga, Buda, tudo. Mas o roteiro não sai. Então vão para Paris e aí já é maio de 68. Impossível escrever. Forman leva então o francês para Praga achando que lá poderiam ter paz para escrever. Não. Os tanques russos invadem a cidade e eles fogem para NY. Forman, sem grana, vai morar no Chelsea Hotel. ( Patti Smith estava por lá ).
 Então é 1970 e finalmente o roteiro está pronto. Filmam.
 Baseiam o script em She's Leaving Home, dos Beatles. E percebem que o mundo de 1967 já parece 200 anos atrás. A alegria e a euforia de então deram lugar ao medo e ao cansaço.
 Forman chama gente para o filme. Uma Madonna de 14 anos está entre eles ( mas some na sala de edição ). As anônimas Kathy Bates, Jessica Harper e Carly Simon, todas prestes a estourar, são algumas da meninas desconhecidas do filme. Simples faces, comuns, feias, jovens, do filme. Que começa com essa audição de candidatas a um disco. E toda a arte de Forman já se põe aí. O diretor de Um Estranho no Ninho, de Amadeus, mostra seu amor pelos rostos esquisitos, feios, e cheios de vida. Forman os ama e cada segundo de gravação exibe isso.
 Na audição há uma menina de 15 anos que fugiu de casa. E enquanto isso os pais ( esses são atores profissionais, dentre eles Buck Henry, um dos top roteiristas de então, da turma de Warren Beatty ), procuram a menina. A menina volta e os pais piram nesse processo. Numa das sequencias mais hilárias do filme, provam maconha com outros pais. Fazem strip poker. E a menina, sempre distante, assiste tudo. Eles perderam sua filha. Ela volta, mas nunca mais será deles. O close final mostra isso.
 Até mais ou menos 1970, milhões de jovens fugiam de casa. Essa é uma das "modas" que passou. Hoje se sai de casa. Se sai de casa sem conflito, com planos de vida, com alguma grana, com endereço e vida adulta. Entre 1965-1970 se fugia de casa escondido, por impulso, sem endereço, sem plano. No excelente doc sobre o filme se diz que a vida era fazer e usufruir do momento, sem JAMAIS pensar no dia seguinte. Bem...mudamos muito. Em 1977 aqui no Brasil ainda se fugia de casa. Isso fazia parte de ser adolescente. Fugi aos 15 anos. Todo mundo fugia. Mesmo que fosse por um só dia.
 O filme é maravilhoso, volto a dizer. Todos os personagens são verdadeiros. São pessoas de 1970. Mas, que engraçado, se voce abstrair as roupas, são de 2017. O mundo pós-hippie é o mundo cultural de hoje. Nunca mais fomos os mesmos e os vejo na USP, nas ruas, no LGBTS, nos Sem Terra, na ecologia. Para o bem e para o mal, somos todos jovens de 1970.
 Quanto aos pobres pais...esses estão condenados. Foram pais perdidos, jogados em um mundo desconhecido, com filhos estranhos, e hoje são os avôs senis de um canto qualquer. Quase todos já morreram. São as últimas testemunhas desse mundo anos 50.
 Vi este filme na Globo, em 1977. Revejo agora. Não gostei em 77. Amei hoje. É quase uma obra-prima. Quase um documentário. Está vivo, pulsando, está para sempre.
 Vocês têm de assistir.

PAVÕES MISTERIOSOS- ANDRÉ BARCINSKI....FOI ASSIM, MAS FOI BEM MAIS

   Caro André, o grande mérito de seu livro é o de tocar em assunto pouco explorado. Tem gente com menos de 40 anos que acha que MPB começa com Bossa Nova, salta sobre os anos 70 e continua com rock e Ivete. Eu lembro que até meus 18 anos eu não comprava música em português. Tinha preconceito. Às vezes até gostava, mas não tinha coragem de assumir. Muito menos de consumir. Mas então joguei tudo ao ar e comprei meus primeiros discos de MPB: Secos e Molhados e Pepeu Gomes. E comecei então a comprar muito. Era 1980 e eu tive muita sorte. O que se achava nas lojas era exatamente o melhor do Brasil, aquilo que fora gravado entre 1972-1979. Você tenta André explicar porque a música desse período é tão boa, e desculpe, você acerta e erra feio. Acerta quando diz que por serem menos profissionais, as gravadoras davam maior liberdade aos artistas. Ok. Mas hoje você grava um cd em casa e nem por isso nós temos novos Acabou Chorare...Você erra ao dizer que as rádios FM ajudaram a qualidade musical. É exatamente o contrário! As FMs destruíram a diversidade. Rádios AM como a Difusora e a Excelsior tocavam de Benito di Paula à Led Zeppelin, de James Brown à Ednardo. Isso nos dava uma imensa abertura mental. Você ligava o rádio para ouvir a nova do Bowie, e na espera acabava ouvindo Caetano, Alice Cooper e Slade. Nas FM o padrão de "bom gosto" era muito mais restrito. E hoje....bem...hoje o ouvinte escolhe o que deseja ouvir e acaba ouvindo a mesma coisa por toda a vida.
  Belchior merecia mais espaço. Ele foi um estouro em 1976. Mas ok...Devo dizer que você fala de Lulu Santos mais que o devido. Mas ok...Agora, ao falar da Disco você derrapa. Dá pra notar um certo preconceito. E não precisava falar do ato verdadeiramente fascista que rolou nos EUA com a queima de discos de discoteque no campo de beisebol. Foi um ato contra latinos, negros e gays. Além do que a Disco nunca morreu. Ela continuou com Madonna, MJ, Prince, e continua com Beyonce. Onde existir gente misturada dançando sons negros que não sejam RAP haverá disco. Se o Village People ou Sylvester fizeram sucesso só por 3 anos, devo dizer que o América, Bread ou Moby Grape são bandas de rock que também não fizeram hits por muito mais que isso.
  Outro erro André: Você às vezes se estica em assuntos que nada têm a ver com o tema do livro. Para que falar de coisas de fora do Brasil! O livro é curto demais, falta espaço, fale mais daquilo que importa! ( A crise nas gravadoras em 1980 não veio por causa do fim da disco. Veio por terem se tornado absurdos os custos de produção de um disco de rock. Bandas ficavam até um ano em estúdio!!!!! E pensar que Sinatra gravava um LP inteiro em duas sessões de seis horas! )
  Mas adorei o livro. Tanto que o li em apenas uma sentada. Não consegui parar. E sua descrição do que foi ouvir Ritchie pela primeira vez, em 1983, bate com a minha lembrança. Era um disco brasileiro que falava de frio, noite, e que lembrava a sonoridade do Roxy Music! Foi um choque de chique.
  A MPB entre 72 e 79 foi surpreendente, rica, poética, engraçada, trágica e sempre inspiradora. Ainda dá lições de criação e de gosto nos dias de hoje. Feliz de quem a escuta.
  Valeu!

FERNANDO PAMPLONA E ANDRÉ BARCINSKI

   Parece que não mas uma nota se liga a outra.
   Leio no blog do Barcinski que nem unzinho jornalista brazuca chegou no Bruce Springsteen e perguntou o porque do Raul. Pior ainda, ficaram surpresos com a excelência do show!!! Leio as cartas enviadas ao blog e noto o estado de miséria do jornalismo feito hoje. É tudo na base do press release. Ninguém vai atrás de nada e ninguém opina sobre nada.
   Fernando Pamplona morreu. Foi o cara que mudou o carnaval do Rio e um dos caras mais cultos do país. O conheci como comentarista dos desfiles das escolas de samba pela tv Manchete. E vem aí a coisa que liga com o texto do Barcinski. Quando o desfile era ruim Pamplona metia o pau. E se o carnaval daquele ano era um lixo ele dizia, o carnaval tá um lixo! Falava com conhecimento, foi o carnavalesco que lançou João Trinta e Arlindo. Para ele carnaval tinha de ser coisa de preto, sempre. Desfile sem Pamplona opinando não tem graça.
  O mundo vai acabar em tédio e preguiça. Arre!!!

É BOM SER HOMEM ! É BOM PRA #@%##$!!!!!!

André Barcinski nos traz uma matéria com James Ellroy. Não sei se é verdade ou tipo, mas Ellroy diz não saber nada de facebook ou internet ou o diabo a quatro. Justo! Ele diz que para se escrever bem não se pode ficar conectado. Verdade. Tenho amigos que deixaram de escrever após o facebook. Escrevem suas besteirinhas na rede e esquecem de seus sonhos do "grande livro que vou escrever". A internet é um anti-deprê, um consolo para escrevinhadores frustrados. Como eu.
Eu escrevia muito melhor antes de meu blog ou do facebook. Me concentrava mais, elaborava melhor, tinha menos ansiedade. A caneta e o papel não são SIMPLES saudosismos. Eles são calmos, quietos, não elétricos. Na internet voce acaba se dispersando entre amigos, noticias e correspondência. A inspiração se vai. Não há espaço morto, silêncio interno, atemporalidade.
Ellroy diz não ler nenhum autor vivo. Na verdade não lê mais nada. E nem vê filmes. Sua narrativa ele a deve a Beethoven e Bruckner. Bom.... Todo bom autor escreve musicalmente. Stendhal era puro Mozart e Tolstoi é Beethoven. Mas acho dificil um escritor não ler. Todo autor é um viciado em letras, em texto, em palavras.... Mas é um prazer ver um autor tão pouco intelectual. Show.
James Ellroy é um homem homem, e esse texto casa com o texto de Pondé, texto que fala do homem homem, o homem não feminino, raça em vias de desaparecimento.
O homem compreensivo ( conheço alguns ) daqueles que ama a mulher "enquanto gente", é brochante. Mulheres com homens assim são poços de frustração. Pondé diz que a mulher deseja sim, embora às vezes envergonhada, ser um objeto ( de vez em quando ), ser tratada como ser desejado, ser diferente do homem, ser-fêmea, que deve ser protegido, tomado, cercado, dominado.
Meninos criados por pais de rabo de cavalo, que meteram em suas cabeças coisas como : "mulheres são como nós", "Respeite-as enquanto humanos", podem fazer o que? Tratá-las como irmãzinhas. Esses meninos têm aquele rostinho inofensivo, aquela voz suave-sonsa que tanto enxameia as ruas de toda cidade. As mulheres inteligentes, liberadas, se envolvem com esses tipos democráticos, e depois de dois anos se vêem, coitadinhas, ansiando pelo cafa da padaria ou o jogador de futebol da praia.
E o menino, que tolinho, se vê trocado pelo quarentão de barba suja ( " Porque? Porque?" ), ou pelo adolescente tapado caiçara.
No meio da beijação noturna, das azarações de verão, tudo o que elas querem é uma mão suja de graxa, uma boa pegada e o olhar de quem as vê como objetos magníficos para serem roubados.
O resto é consolo....

ANDRÉ BARCINSKI

O blog do cara é nota dez. André é aquele tipo de cinéfilo Sam Peckinpah/ Robert Aldrich/ Lee Marvin e James Coburn, ou seja: show. Puro fun.
Mas não escrevo só pra ficar babando-ovo. É que ao escrever sobre seu crítico de rock favorito ( Nick Kent ), ele me recordou algo muito fundamental e muito esquecido. Coisa que as novas gerações do pop/rock nem imaginam: O fato de que até o meio da década de 80 não existia o saudosismo no rocknroll. Creia! É a pura verdade!
Quando eu lia a POP nos anos 70, tudo o que se falava era sobre aquele ano, e só sobre aquele ano. Em 1978, um disco de 1976 era muuuuuito velho. Estranho né? Ninguém falava de Syd Barret, Nick Drake ou Jim Morrison. Só Hendrix sobreviveu do mundo dos mortos. Um cara quando chegava aos 30 anos era considerado gagá !!!! ( Jagger aos 28 era ridicularizado, assim como Dylan aos 30 e Lennon aos 29 ). Para uma banda "antiga" ( Os Stones eram antigos com 8 anos de estrada, o Led Zeppelin em 1975, com sete anos (!!!!!!!) era chamado de dinossauro ) sobreviver, ela vivia se reciclando. E isso fazia com que Alice Cooper se tornasse baladeiro, ou que Rod Stewart se fizesse de Elton John. ( Aliás Elton virou titio aos 27 ). Quem sumisse das paradas era esquecido em dois anos.
Então falar de Beach Boys era considerado o máximo da caretice vovô, ouvir Beatles era para seus pais e Iggy Pop ou MC5 estavam completamente no ostracismo. Era um mundo cruel e árduo. Os caras tinham de lançar disco novo todo ano, mudar de visual sempre, excursionar sem parar, se tornar hard-rock, depois glitter, depois pop romântico, depois soul.... e afinal disco ou pseudo-punk. Pense, Elvis morreu em 1977 com quarenta anos. Para nós ele era velho como Bing Crosby ou Silvio Caldas. E isso não acontecia só comigo que tinha 14 anos, os críticos de 25, os roqueiros de 22 também eram assim. O T.Rex surgira em 1970, quando chegou 1974 eles já pareciam brontossauros.
As coisas mudaram por volta de 87/89. Foi quando o rap escancarou o plágio, a coleção de discos sempre viva, a referência assumida. James Brown reansceu. E junto com isso, bandas como REM, Smiths e U2 assumiram a dívida para seus ídolos: Byrds, Mott The Hoople, Them e Gram Parsons. Vieram os cds e o que era raro ou mal mixado se tornou "novo". Gente de 50 anos e gente de 20 começou a se misturar, bandas homenageavam os seus vovôs e fato impensável ocorreu: ser cool passou a ser quem ouvia coisas muuuuito antigas ( John Lee Hooker, Chet Baker ou Sam Cooke ).
Mas já em 1977, quando ninguém se lembrava de Brian Wilson ou de Arthur Lee, e em tempo em que Iggy era tratado como um imbecil demente, já lá estava Nick Kent, escrevendo sobre os esquecidos malditos, os irredutíveis, os que não mudavam, os veteranos cowboys. Nick não foi o único, Bangs também estava nessa, mas Nick era mais direto, mais escrachado, mais sujo. Ele não perdia tempo falando dos novos caras ( Queen, Aerosmith, Motorhead ), ele erguia tributos aos anciões de 28 anos.
Era assim.
PS: no cinema era igual. Em 1977 um ator de 35 era beeeeem velho. Quando John Travolta explodiu em 77, Robert Redford e Dustin Hoffman passaram para a muito velha guarda.