Mostrando postagens com marcador edmund burke. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador edmund burke. Mostrar todas as postagens
EU E O CONSERVADORISMO
Como dizia Roger Scruton, eu sou um conservador porque quero que as coisas boas durem para sempre. Meu vínculo com a vida é afetivo acima de tudo. Eu quero o metrô mas não quero que destruam as casas velhas da esquina. Eu quero a ciência mas não quero o fim da igreja. Desejo a eternidade de Deus e sei que para haver progresso não é preciso destruir o passado. Quero líderes que não tenham pudor em falar de Deus, de tradição, de costumes. São esses valores que nos consolam. Mais que tudo, são eles que nos unem como povo. ------------- O conservadorismo só existe porque a esquerda existe. Desde Edmund Burke, sabemos que a esquerda destroi. Sua única função é essa, destruir. Começando com a Revolução Francesa, aquela que cortou cabeças e destruiu a monarquia francesa sem se preocupar em colocar algo no lugar, a esquerda sempre usa machados, facas, martelos, foices. Igreja, família, moral, costumes, hábitos, pudores, esses são seus alvos. O conservador é aquele que carrega argamassa, um balde com água, durex, esparadrapo e cola. Sempre que a esquerda assume um país ela começa por derrubar tudo que está de pé. Para em seguida construir o tal mundo novo. Mundo novo que nunca fica pronto, claro. Pois eles não sabem que é impossível construir sem alicerces. E que os alicerces de um povo são seu costume. É por isso que países esquerdistas sempre parecem um canteiro de obras ou pior, uma obra inacabada. É uma revolução-construção que não termina porque sua razão de ser é o processo e jamais o fim. Nunca darão resultado algum. E adoram isso. -------------------- Conservadores são tartarugas. Cautelosos. Gostam de obras curtas, pequenas, fáceis de fazer e de pouco impacto. Um conservador nunca é sensacional, ele é sempre correto. Por isso o pouco apelo do conservadorismo sobre mentes adolescentes ( não importa a idade física, há adolescentes de 70 anos ), nada há de espetacular em um cara que ama uma plantação de legumes. Ele é o tio que trabalha no banco, nunca o tio astro do rock. Não se arrisca, não joga com seu dinheiro. Ele poupa. --------------- Toda revolução é sensacional. E todas elas levam à dor e à muitas injustiças. -------------- Claro que o conservadorismo tem falhas. Muitas. Ele reage de forma lenta. Ele hesita. Ele não sabe lidar com a mídia ( ela quer sempre o espetacular ). Dificilmente são simpáticos, porque são graves, sérios, concentrados. Mas pode crer, não há gente melhor para tomar conta do seu cachorro, do seu filho e da sua conta no banco. Eles não farão nada que não foi testado antes. Nada que não seja seguro. Nada que envolva risco. A criatividade ele usa em poesia ou em musica, nunca com dinheiro ou educação. ------------- Isso irrita os arautos da festa e do frenesi. Os comerciantes novidadeiros e os modernetes do risco. --------- Meu país sai agora de um governo que me deixava muito confortável. Eles fizeram tudo que eu faria e do modo como eu faria. ( Não falo do presidente que era apenas o boi de piranha, o alvo a ser atacado insistentemente por todo um sistema que nunca enfrentou um modo conservador de poder. Falo do Governo como um todo ). Eram técnicos discretos, anônimos, empolgados, colocados em todas as posições chave. Quem se deu ao trabalho de os ver falar e agir, ficou bem impressionado com seus discursos sempre objetivos, claros, sem embromação. Serão agora esses técnicos trucidados pelos exuberantes astros da esquerda. Aqueles velhos frequentadores da mídia que não são técnicos mas possuem nome. Tudo vai mudar, tudo será show, tudo será grande, imenso, big, faustoso. A revolução será um processo sem data para acabar e sem resultado a ser cobrado. Um "fazer" e nunca um "obter". Coisas como números e resultados serão retirados da pauta. Se derrubará, destruirá, esmagará, irá se zerar, como a esquerda sempre faz em qualquer lugar. Novas políticas econômicas, nova educação, nova cultura, nova moral. ------------ A nós, conservadores, caberá fazer aquilo que melhor fazemos: sermos o tio ranzinza lembrando a todos que a história se repete, toda mudança é uma perda e que é na família que se constroi a sociedade. ------------------- Feliz Natal.
UM CONSERVADOR
Prova irrefutável da ignorância da oposição, é o fato de eles terem acreditado realmente que um presidente conservador poderia autorizar um ato revolucionário. Edmund Burke já dizia que toda revolução, qualquer uma, tinha sempre um custo muito maior que seu ganho. Prova maior é a história inglesa, suas duas únicas revoluções não são consideradas revoluções reais pelo povo da esquerda. E não foram de fato. Foram ajeitamentos. Acordos de mudança. Um tome isto e me dê aquilo. Exatamente o que aconteceu aqui nesta semana. --------------- Caminhões estacionaram em frente ao congresso e um monte de amigos meus de direita estavam doidinhos para que o presidente mandasse eles invadirem tudo e mandarem porrada em todos. Eu dizia para eles: Calem a boca seus bocós! Isso é tudo que a oposição mais deseja! Poder pedir socorro e gritar EU AVISEI! ------------ Algumas pessoas me indagaram porque sou tão ingênuo de achar que o presidente é um conservador raiz. O que posso falar é que mais uma vez ele provou isso. Como conservador, ele esperou, se segurou e costurou alianças. E na surdina, sem tiros ou bombas, mostrou um trunfo na hora em que a oposição menos esperava. Eu respirei aliviado, confesso. Um só ato violento dos tais camioneiros e a coisa ia virar anarquia. E se tem uma coisa que um conservador abomina, é a anarquia. --------------------- Essa visão idiota-deturpada do conservadorismo vem desde o nazismo. Os esquerdistas jogaram uma névoa espessa sobre a história e propositalmente querem que conservadores, liberais e fascistas de direita sejam vistos como a mesma coisa. Ora, isso é tão idiota como dizer que socialistas cristãos da Italia são iguais a stalinistas ou a maoístas. Conservadores perderam todo o poder na Alemanha de Hitler, eram vistos como bundôes que odiavam a violência. Aliás, a derrota conservadora alemã nos anos 30 foi tão absoluta, que até hoje um partido conservador na Alemanha não tem a menor chance de poder. O país flutua entre um socialismo de boutique e um liberalismo modista. --------------- Conservadores são tão outsiders na América Latina porque todo latino americano adora atos espetaculares, exatamente aquilo que um conservador nunca faz. Não há herois com espada ou metralhadora entre nós. Nossos herois usam charuto e terno. Ou no máximo uma farda do tempo em que deram baixa. ( Churchill e Eisenhower ). Quando a coisa aperta, nós rezamos e depois procuramos olhar o passado e tentar ver o que pode agora ser feito. Nossa base é sempre a história, aquilo que deu certo antes pode dar certo hoje e sempre. Um conservador nunca parte do zero, por isso ele odeia toda revolução, pois uma revolução zera a história. --------------- Para quem tem algum neurônio vivo, o Brasil exibiu nesta semana uma aula prática do que é conservadorismo e do perigo que o anti-conservadorismo, de direita e de esquerda, representa. E não se engane, os maiores inimigos dos conservadores vivem dentro do espectro da direita e não no outro lado. Eu os vi. E falei, pacientemente, com cada um deles.
ROGER SCRUTTON
Roger Scrutton morreu ontem e este texto é escrito sob a influência de um artigo lido ontem. Enviado por um amigo, ele me fez perceber uma contradição no pensamento de Scrutton: ele é conservador, mas possui ao mesmo tempo o ressentimento típico da esquerda. Explico para voce...
No pensamento da esquerda, como dito pelo próprio Scrutton, há a dor de não se sentir confortável dentro do mundo como ele é. Daí o desejo de o destruir. O ressentimento é aquele de quem vive imerso numa cultura vista como repressora, tola e profundamente enganosa. Scrutton tinha esse sentimento dentro de si, e por isso era um conservador ilegítimo. Várias vezes ele fala do desencanto da vida, da derrota do mundo ideal, do sentimento de fim de época. Ora, nada mais romântico e portanto menos conservador que se sentir ausente da realidade, derrotado, fora de lugar. Roger Scrutton era então um conservador pessimista, algo que nunca existiu.
Isso se dava por dois motivos: Scrutton duvidava da existência de Deus. E pior, não conseguia crer na eternidade da alma. Um conservador sem Deus e sem alma imortal perde toda sua confiança. O mundo o ameaça e ele se vê preso dentro do mundo inseguro da esquerda.
Nada irrita mais um socialista que a confiança risonha do conservador. Para o conservador, o mundo é o que é e deve ser como é. Isso porque ele foi feito por Deus e Deus faz o que deve ser feito. Pobres serão socorridos, o mal será combatido, mas tudo dentro da fé. O conservador não quer destruir o mundo, não deseja reescrever a história, ele pensa em conservar e terminar a obra de Deus. Sua confiança vem de acreditar ser imortal e jamais duvida de que seu pensamento é, portanto, eterno. Chesterton e Burke possuíam essa risonha confiança. Scrutton nunca. Incapaz de crer, ele baseia toda sua fé no amor ao lar inglês, aos costumes antigos, às velhas comunidades. É pouco. E ele sabe disso.
De todo modo, ler Scrutton, foi e é, para mim, um imenso prazer. Sua escrita é sedutora, e se ele não é um conservador autêntico, ele abre nossos olhos colonizados, para a existência de todo um universo intelectual não explorado. Crescemos neste trópico crendo que a única verdade vivia na esquerda e que o pensamento da direita seria sempre raso, tolo, pouco relevante. Scrutton me fez perceber que na realidade o pensamento da esquerda se tornou automático, preguiçoso, ultrapassado. A esquerda não pensa mais, ela apenas repete slogans.
Meu sentimento de coração sempre foi conservador porque eu sempre vi a história como a saga de grandes homens e não um movimento exato e constante. Assim como prefiro consertar e reparar que destruir e recomeçar. A tara latino americana pelo eterno recomeço é o que nos faz pobres e vazios de história. Mas, como Scrutton, tenho imensa dificuldades com Deus e a eternidade. Não consigo ter a tranquila fé do bom conservador. A certeza. O sentimento de que tudo é para sempre e tudo é como deve ser.
Espero que Chesterton esteja certo. E que Scrutton tenha encontrado a eternidade. E esteja dando gargalhadas vendo, afinal, que Marx e Foucault eram apenas dois invejosos.
Eles eram. Eles são.
No pensamento da esquerda, como dito pelo próprio Scrutton, há a dor de não se sentir confortável dentro do mundo como ele é. Daí o desejo de o destruir. O ressentimento é aquele de quem vive imerso numa cultura vista como repressora, tola e profundamente enganosa. Scrutton tinha esse sentimento dentro de si, e por isso era um conservador ilegítimo. Várias vezes ele fala do desencanto da vida, da derrota do mundo ideal, do sentimento de fim de época. Ora, nada mais romântico e portanto menos conservador que se sentir ausente da realidade, derrotado, fora de lugar. Roger Scrutton era então um conservador pessimista, algo que nunca existiu.
Isso se dava por dois motivos: Scrutton duvidava da existência de Deus. E pior, não conseguia crer na eternidade da alma. Um conservador sem Deus e sem alma imortal perde toda sua confiança. O mundo o ameaça e ele se vê preso dentro do mundo inseguro da esquerda.
Nada irrita mais um socialista que a confiança risonha do conservador. Para o conservador, o mundo é o que é e deve ser como é. Isso porque ele foi feito por Deus e Deus faz o que deve ser feito. Pobres serão socorridos, o mal será combatido, mas tudo dentro da fé. O conservador não quer destruir o mundo, não deseja reescrever a história, ele pensa em conservar e terminar a obra de Deus. Sua confiança vem de acreditar ser imortal e jamais duvida de que seu pensamento é, portanto, eterno. Chesterton e Burke possuíam essa risonha confiança. Scrutton nunca. Incapaz de crer, ele baseia toda sua fé no amor ao lar inglês, aos costumes antigos, às velhas comunidades. É pouco. E ele sabe disso.
De todo modo, ler Scrutton, foi e é, para mim, um imenso prazer. Sua escrita é sedutora, e se ele não é um conservador autêntico, ele abre nossos olhos colonizados, para a existência de todo um universo intelectual não explorado. Crescemos neste trópico crendo que a única verdade vivia na esquerda e que o pensamento da direita seria sempre raso, tolo, pouco relevante. Scrutton me fez perceber que na realidade o pensamento da esquerda se tornou automático, preguiçoso, ultrapassado. A esquerda não pensa mais, ela apenas repete slogans.
Meu sentimento de coração sempre foi conservador porque eu sempre vi a história como a saga de grandes homens e não um movimento exato e constante. Assim como prefiro consertar e reparar que destruir e recomeçar. A tara latino americana pelo eterno recomeço é o que nos faz pobres e vazios de história. Mas, como Scrutton, tenho imensa dificuldades com Deus e a eternidade. Não consigo ter a tranquila fé do bom conservador. A certeza. O sentimento de que tudo é para sempre e tudo é como deve ser.
Espero que Chesterton esteja certo. E que Scrutton tenha encontrado a eternidade. E esteja dando gargalhadas vendo, afinal, que Marx e Foucault eram apenas dois invejosos.
Eles eram. Eles são.
EDMUND BURKE, REDESCOBRINDO UM GÊNIO - RUSSELL KIRK
Uma verdadeira democracia é aquela que une as vontades, sonhos e costumes, daqueles que vivem numa nação, mas também daqueles que viverão e viveram lá. Toda revolução tenta apagar o passado, destruir os costumes, refundar um país; e todo o futuro, nessas revoluções, é planejado não na experiência e sempre em ideias abstratas. A Europa é o resultado do trabalho, dos sonhos e das lutas de pessoas reais, e a história é a adaptação, através de erros e acertos, de pessoas com pessoas. Não há uma evolução histórica rumo ao melhor, o que há é um constante ir e vir, tentar e tentar de novo, avançar e recuar, acertar e desistir. Pensar a politica em termos filosóficos e abstratos é flertar sempre com o desastre, pois cada homem e cada evento não pode ser reduzido a uma tese ou a uma fórmula pré fixada. O reparo de injustiças se dá pelo respeito à lei, pela evolução lenta e segura, pelos hábitos consagrados.
Esses são alguns dos pensamentos de Edmund Burke, advogado, pensador e politico irlandês do século XVIII. Contemporâneo de Rousseau e de Voltaire, ele os nega em quase tudo. Burke diz que foi o cristianismo que criou a Europa e que é ele que mantém a Europa unida, descrê da teoria de Rousseau,( que diz que o homem natural é bom, a sociedade é que o corrompe ), e prega a negociação, o ajuste, o escutar a experiência passada como única forma de evolução.
Burke nasceu na Irlanda mas toda sua carreira foi feita em Londres. A vida pessoal dele não foi interessante. Casou, teve um filho, viveu confortavelmente porém com crises financeiras, morreu nem um pouco mais rico do que nasceu. Russell Kirk, o maior conservador americano, ele próprio um tipo de Kirk do século XX, se detém em suas ideias, seus feitos. Burke é considerado hoje um dos maiores oradores da história inglesa, o fundador dos modernos partidos trabalhista e conservador ( ele uniu credos desses dois partidos ), e dono da visão que salvou a Europa da loucura do jacobinismo.
A primeira luta de Burke, no parlamento, foi na questão da independência americana. Ele via o novo país como um possível aliado da Inglaterra. Queria lhes dar um status de "território livre". Mas o rei, George III partiu para o confronto. Foi a primeira das várias derrotas de Burke.
Em seguida houve a questão da Irlanda. Burke queria emancipar os católicos, permitir que fossem eleitores e candidatos. Perdeu de novo. E ele, que era protestante, passou a ser visto como um tipo de papista-jesuíta.
Depois procurou botar na prisão o governador inglês da India. Demonstrou a corrupção que lá havia. Mas perdeu o julgamento.
Por fim, sua grande luta final foi contra a Revolução Francesa. Burke foi o homem que previu a ascensão do terror e depois da ditadura. Previu até o bonapartismo. Poucos o escutaram e a Inglaterra só percebeu o perigo no último instante. Burke morre no fim de seu século achando que os revolucionários chegariam à Inglaterra. Nunca chegaram. Graças a ele.
Burke notou que na Inglaterra nunca houve uma revolução. Que a tal "revolução" gloriosa, de 1688, foi na verdade um movimento que evitou uma revolução. Em 1688 se criou o parlamento para se evitar um massacre. No século do iluminismo, o seu, Burke logo percebeu que o filósofo via a politica como coisa abstrata, como elementos de um jogo matemático, onde as pessoas eram apenas um detalhe e não algo a ser considerado.
Burke notava que a Inglaterra e os nascentes EUA tinham em comum a aversão a revoluções. Isso porque ambos tinham um enorme amor pelo seu passado, pelos costumes e hábitos populares. Ao criar o conservadorismo, Burke criou a teoria de que o que "é bom deve ser preservado, o que é ruim, melhorado". ( Russell Kirk diz que os EUA nunca se desintegraram no individualismo porque a religião os une sempre. )
Burke perdeu em suas causas, mas ao perder foi criando toda uma herança de seguidores que fariam justiça a seu nome. Foi ele quem deu as bases para os partidos modernos ( Burke conseguiu, e isso foi uma vitória em vida, fazer vencer a ideia, então nova, de que o partido deveria ter mais força que o homem eleito. ) E foi Edmund Burke também quem criou, com Tocqueville, as linhas gerais do que seria o conservadorismo e o liberalismo. ( O liberal pensa em termos de novo e obsoleto. O conservador em termos de valor e de tradição que venceu o tempo ).
" O homem, enquanto indivíduo, é limitado pelo tempo. Por mais genial que ele seja, sua curta vida o impede de conhecer muito e de conhecer bem. Portanto devemos ter em vista a experiência da história, o depósito de conhecimento de todos os que vieram antes. A crença, o costume, o bem que se mantém por séculos é melhor e mais certo que a teoria de um simples filósofo."
Para Burke era a religião um dos conhecimentos mais perenes. E instituições como a família jamais poderiam ser destruídas, pois sua destruição seria o fim da civilização. Burke notou ainda que os "novos filósofos" usariam a sedução da "liberdade total" para seduzir os jovens, liberdade ilusória, pois a única liberdade possível é aquela que institui a lei para a preservar. O pensamento de Burke é o do "mal menor", ou seja, usar a lei para garantir a liberdade, e usar a liberdade para vencer a tirania. A liberdade dentro dos limites da bondade, dos costumes, "daquilo que sempre foi e que precisa continuar sendo".
Um livro, longo, com montes de artigos acessórios de pensadores atuais, excelente.
Escrevo agora um PS: Nascido no Brasil, um país onde tudo é preto ou branco, cresci com nojo da palavra conservador. Para mim, conservador era um velho com mal humor e prisão de ventre. Pois aqui, após a ditadura militar, TUDO o que não fosse esquerda seria muito velho e muito ruim. Tolo preconceito...Eu, que sempre amei o que já é conhecido, consagrado, o que venceu o tempo, sempre tive um temperamento conservador, desconfiado de novidades, modas, reformas apressadas, revoluções eufóricas.
Demorou, mas achei minha turma.
Esses são alguns dos pensamentos de Edmund Burke, advogado, pensador e politico irlandês do século XVIII. Contemporâneo de Rousseau e de Voltaire, ele os nega em quase tudo. Burke diz que foi o cristianismo que criou a Europa e que é ele que mantém a Europa unida, descrê da teoria de Rousseau,( que diz que o homem natural é bom, a sociedade é que o corrompe ), e prega a negociação, o ajuste, o escutar a experiência passada como única forma de evolução.
Burke nasceu na Irlanda mas toda sua carreira foi feita em Londres. A vida pessoal dele não foi interessante. Casou, teve um filho, viveu confortavelmente porém com crises financeiras, morreu nem um pouco mais rico do que nasceu. Russell Kirk, o maior conservador americano, ele próprio um tipo de Kirk do século XX, se detém em suas ideias, seus feitos. Burke é considerado hoje um dos maiores oradores da história inglesa, o fundador dos modernos partidos trabalhista e conservador ( ele uniu credos desses dois partidos ), e dono da visão que salvou a Europa da loucura do jacobinismo.
A primeira luta de Burke, no parlamento, foi na questão da independência americana. Ele via o novo país como um possível aliado da Inglaterra. Queria lhes dar um status de "território livre". Mas o rei, George III partiu para o confronto. Foi a primeira das várias derrotas de Burke.
Em seguida houve a questão da Irlanda. Burke queria emancipar os católicos, permitir que fossem eleitores e candidatos. Perdeu de novo. E ele, que era protestante, passou a ser visto como um tipo de papista-jesuíta.
Depois procurou botar na prisão o governador inglês da India. Demonstrou a corrupção que lá havia. Mas perdeu o julgamento.
Por fim, sua grande luta final foi contra a Revolução Francesa. Burke foi o homem que previu a ascensão do terror e depois da ditadura. Previu até o bonapartismo. Poucos o escutaram e a Inglaterra só percebeu o perigo no último instante. Burke morre no fim de seu século achando que os revolucionários chegariam à Inglaterra. Nunca chegaram. Graças a ele.
Burke notou que na Inglaterra nunca houve uma revolução. Que a tal "revolução" gloriosa, de 1688, foi na verdade um movimento que evitou uma revolução. Em 1688 se criou o parlamento para se evitar um massacre. No século do iluminismo, o seu, Burke logo percebeu que o filósofo via a politica como coisa abstrata, como elementos de um jogo matemático, onde as pessoas eram apenas um detalhe e não algo a ser considerado.
Burke notava que a Inglaterra e os nascentes EUA tinham em comum a aversão a revoluções. Isso porque ambos tinham um enorme amor pelo seu passado, pelos costumes e hábitos populares. Ao criar o conservadorismo, Burke criou a teoria de que o que "é bom deve ser preservado, o que é ruim, melhorado". ( Russell Kirk diz que os EUA nunca se desintegraram no individualismo porque a religião os une sempre. )
Burke perdeu em suas causas, mas ao perder foi criando toda uma herança de seguidores que fariam justiça a seu nome. Foi ele quem deu as bases para os partidos modernos ( Burke conseguiu, e isso foi uma vitória em vida, fazer vencer a ideia, então nova, de que o partido deveria ter mais força que o homem eleito. ) E foi Edmund Burke também quem criou, com Tocqueville, as linhas gerais do que seria o conservadorismo e o liberalismo. ( O liberal pensa em termos de novo e obsoleto. O conservador em termos de valor e de tradição que venceu o tempo ).
" O homem, enquanto indivíduo, é limitado pelo tempo. Por mais genial que ele seja, sua curta vida o impede de conhecer muito e de conhecer bem. Portanto devemos ter em vista a experiência da história, o depósito de conhecimento de todos os que vieram antes. A crença, o costume, o bem que se mantém por séculos é melhor e mais certo que a teoria de um simples filósofo."
Para Burke era a religião um dos conhecimentos mais perenes. E instituições como a família jamais poderiam ser destruídas, pois sua destruição seria o fim da civilização. Burke notou ainda que os "novos filósofos" usariam a sedução da "liberdade total" para seduzir os jovens, liberdade ilusória, pois a única liberdade possível é aquela que institui a lei para a preservar. O pensamento de Burke é o do "mal menor", ou seja, usar a lei para garantir a liberdade, e usar a liberdade para vencer a tirania. A liberdade dentro dos limites da bondade, dos costumes, "daquilo que sempre foi e que precisa continuar sendo".
Um livro, longo, com montes de artigos acessórios de pensadores atuais, excelente.
Escrevo agora um PS: Nascido no Brasil, um país onde tudo é preto ou branco, cresci com nojo da palavra conservador. Para mim, conservador era um velho com mal humor e prisão de ventre. Pois aqui, após a ditadura militar, TUDO o que não fosse esquerda seria muito velho e muito ruim. Tolo preconceito...Eu, que sempre amei o que já é conhecido, consagrado, o que venceu o tempo, sempre tive um temperamento conservador, desconfiado de novidades, modas, reformas apressadas, revoluções eufóricas.
Demorou, mas achei minha turma.
Assinar:
Postagens (Atom)