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ALAIN DELON/ CARY GRANT/ HAWKS/ DORIS DAY/ ANNE BANCROFT/ SPENCER TRACY/ AL PACINO

   O INVENTOR DA MOCIDADE ( Monkey Business ) de Howard Hawks com Cary Grant, Ginger Rogers, Charles Coburn e Marilyn Monroe.
É o primeiro fracasso de bilheteria de Hawks e um dos raros de Cary. Hawks vinha de 15 anos seguidos de sucessos quando resolveu fazer na Fox este roteiro de Lederer e Diamond. Os dois são roteiristas que trabalharam com Billy Wilder, e isso explica muito sobre o filme. O humor tem a grossura despudorada de Billy. Não tem o estilo humanista de Hawks. De qualquer modo o filme é tão louco que diverte, além do que o elenco é sensacional. Cary é um cientista que tenta criar a fórmula do rejuvenescimento. Um macaco cobaia mistura elementos e Cary bebe aquilo sem querer. Súbito ele volta aos 19 anos. Passa a ter o comportamento de um teen. Ginger é a esposa, que acaba por voltar aos 14 anos. Monroe faz uma secretária e este é dos seus primeiros papeis importantes. Ainda gordinha, ela é tremendamente sensual. O final, com Cary voltando aos 7 anos e amarrando um adulto na árvore para tirar seu escalpo é uma mistura de hilariedade com o incômodo do excesso de ridiculo. O filme se equilibra o tempo todo nesse fio, de um lado uma soberba alegria, de outro o ridiculo. As cenas com Ginger passam todas do ponto. Cary mantém a elegância. Um grande ator! Quer saber? Após seu encerramento deu vontade de ver outra vez. Nota 7.
   CARÍCIAS DE LUXO de Delbert Mann com Cary Grant, Doris Day e Gig Young.
Doris é a super-virgem. Desempregada, ela conhece o super rico Cary Grant. Ele tenta a seduzir com dinheiro. E consegue! Mas ela é virgem e defende sua honra. Bem, não poderia haver tema mais antigo. Imagino um cara de 15 anos vendo isso! Belos cenários e um Gig Young hilário como um paciente de um freudiano, não conseguem salvar o filme. Cary parece desinteressado, entediado ( este era o tempo em que ele descobria o LSD ). Nunca ninguém, naquela época, percebeu como Doris era sexy? A voz dela é de erguer defunto! Nota 4.
   STANLEY AND LIVINGSTONE de Henry King com Spencer Tracy, Walter Brennan e Cedric Hardwicke.
As convenções do filme de aventuras foram criadas por 3 grandes aventureiros da vida real: Raoul Walsh, Howard Hawks e Henry King. Todas as técnicas criadas pelos 3 são usadas até hoje. Pode-se enfeitar um filme o colocando no espaço, em outra dimensão ou fazer do mal o bem, mas o esquema é exatamente o mesmo. Aqui temos um dos melhores exemplos. Feito em 1939, o filme mostra Stanley, feito por um brilhante Spencer Tracy, partindo para a África desconhecida, em 1870, atrás do paradeiro de Livingstone. Em hora e meia o filme, com ritmo, tem um pouco de tudo: exploração do desconhecido, humor com o amigo do heróis, encontros inesperados, suspense e depois a edificação e o crescimento do herói. Ele retorna à sua terra como um homem melhor. Até uma cena de tribunal temos. Henry King foi um grande diretor. E como ser de seu tempo, dirigiu de tudo, westerns, comédias, dramas e musicais. Nota 8.
   O RIO DA AVENTURA de Howard Hawks com Kirk Douglas e Arthur Hunnicut.
O dvd tem belos extras. A voz do velho Kirk falando do filme, fotos de Michael Douglas aos 6 anos visitando o pai no set e Todd MacCarthy, um dos melhores críticos, falando do filme. Mas, surpeendentemente, a imagem não foi refeita e a foto está em mal estado. Feito em 1952, é o segundo maior fracasso da carreira de Hawks. O público da época estranhou esta aventura lenta, calma, primeira experiência do estilo Hawks de filmagem, que seria mais bem desenvolvida nos filmes seguintes. Como é esse estilo? Focar nos personagens e não na ação. Veja: aqui temos Kirk como um aventureiro no Oeste que vai com um grupo à procura de peles em terras inexploradas. Sobem o rio e encontram aventuras. Muitas. Mas todo interesse do filme é mostrar o cotidiano, o dia a dia, a personalidade de Kirk e de seus companheiros ( dentre eles um excelente Hunnicut fazendo um velho do mato ). Desse modo a sensação que fica é de pouca ação e de muito papo furado, o tal estilo Hawks. MacCarthy descreve bem, achamos o filme falho, mas quando termina queremos mais. Acabamos por gostar daquelas pessoas e desejamos sua companhia. É isso que acontece com os bons filmes de Hawks, o mais discreto dos mestres. O filme tem falhas sim, mas a gente acaba querendo mais. Nota 8.
   MOMENTO DE DECISÃO de Herbert Ross com Shirley MacLaine, Anne Bancroft, Tom Skerrit, Mychail Baryshnikov, Leslie Browne.
Este filme de 1977 tem um recorde. Junto com A Cor Púrpura, é o maior perdedor da história do Oscar. Foram 11 indicações e nenhum prêmio. Na época era moda falar mal dele. Ou melhor, os críticos o detestaram, o público adorou. Hoje a situação é a mesma. Não virou cult. Conta a história do reencontro de duas mulheres de meia idade. Amigas antigas, as duas foram grandes bailarinas. Uma largou tudo ao ficar grávida. A outra persistiu e se tornou estrela em NY. No reencontro se faz o balanço, a briga, a reconciliação. Eu adorei o filme. Assisti sem a menor expectativa e gostei muito. Me emocionei. Ele mostra com sagacidade a questão da idade, da fama e da solidão. E Anne está soberba! A diva é sempre humana, e a mulher é uma diva. A cena da briga entre ela e Shirley foi homenageada em Dancin Days, a novela. Gilberto Braga é um grande fã do filme. A fotografia de Robert Surtees impressiona muito. E vemos a estréia da super estrela e do sex symbol da época, Baryshnikov. Foi indicado a coadjuvante! Faz um bailarino hetero e playboy. Bom. Vemos Marcia Haydée nas cenas de dança, em seu auge como bailarina. Um lindo filme que teve o azar de concorrer nos ano de Annie Hall, Julia e Star Wars. Nota 8.
   UM MOMENTO, UMA VIDA ( Bobby Deerfield ) de Sidney Pollack com Al Pacino e Marthe Keller.
Assisti este filme no cine Astor, em 1978. Senti um profundo tédio. Revendo agora, senti um profundo desgosto. É o pior filme de Pollack, isso é aceito por todos, mas é também o pior de Pacino, e olhe que Pacino fez muito filme ruim. Uma sopa melosa e lenta, metida à filme de arte, sobre um famoso piloto da Fórmula 1. Ele perdeu suas raízes, virou um tipo de robot arrogante. Ao visitar um piloto acidentado na Suiça, conhece uma italiana doidinha que está morrendo...O filme evita o drama e vira um vazio. Tudo é seco e lento. Argh. Vemos James Hunt, Pace e Depailler nas cenas de corrida....que duram cinco minutos!!! Uma enganação...fuja! PS: Keller era um alemã que tinha corpo e rosto, bonito, de Valkiria. Como acreditar que frau Keller é uma italiana maluca????? Aff....ZERO!
   O SOL POR TESTEMUNHA de René Clement com Alain Delon, Maurice Ronet e Marie Laforet
Simplesmente o filme mais chique já feito. Itália em 1960 alcançou um nível de elegância sem ostentação que transparece em cada segundo do filme. Ronet descalço e sem camisa, parece o mais chique dos homens. Delon, com terno claro, com dock sides, com polo, sempre parece modelo da Vogue. Mas, eis o charme, tudo sem formalidade, sem afetação, com certo desleixo. Foi o auge do estilo mediterrâneo, que todos procuram e quase ninguém o revive. Clement consegue, ao seguir o livro de Patricia Highsmith, fazer um filme à altura de suas imagens. Ele é lindo e tem muito suspense. Gostamos de canalha Delon. O ator se confunde com o tipo. Houve ator mais diabólico e bonito? A refilmagem de 1999, de Minghella, colocou Matt Damon como Delon...aff!!! Jude Law era Maurice Ronet. O que era chique virou novo rico, parecia formal e Damon era um teen vestido de adulto. Aqui não! Até a carteira de Delon parece elegante! E temos o final, um dos mais inesperados da história. Um grande filme e um super sucesso de bilheteria. DEZ!!!!!!

RENÉ CLEMENT/ HITCHCOCK/ DELON/ BECKER/ KUROSAWA

Semana de clássicos. Aí estão eles....
O SOL POR TESTEMUNHA de René Clement com Alain Delon, Marie Laforêt e Maurice Ronet
Tom Ripley, gatuno de extrema dubiedade criado por Patricia Highsmith, escritora de extremo talento, tem aqui seu retrato definitivo. Matt Damon e John Malkovich também o interpretaram, mas Delon bota os dois no bolso. Damon era bobo demais, fez um Ripley pouco sedutor; Malkovich lhe deu um excesso de perturbação, levou-o a condição de psico; Delon está no ponto certo: alheio a si-mesmo, sedutor delicado, elegantemente cruel. Ripley é o proletário invejoso, falso amigo, que deve levar o playboy Greenleaf, de volta a sua familia. Ripley irá matá-lo e assumir seu lugar. O filme de Minghela era 100% novo rico: tentava ser elegante ostentando dinheiro. Aqui, na absurdamente elegante Itália de 1959, temos o máximo de glamour sofisticado sem nada de brega ou ostensivo. Nas lindas casas de praia, nos objetos de decoração e nas roupas dos personagens temos uma aula de como ser elegante ao infinito. Roma de vias cheias de gente flanando, de mesas à calçada, sol e alegria, troppo bella! O filme, hitchcockiano, prende nossa atenção não só por seu estilo visual ( foto brilhante de Henri Decae ) ou a trilha sonora impecável de Nino Rota; nos prende pela trama sem furos, pelo suspense constante, pelo prazer que temos em observar a esperteza em ação. E pela face de Delon, usando seu dom de parecer sempre perverso e ao mesmo tempo desamparado. O filme tem ainda um dos melhores finais da história: uma construção de climax e de surpresa digna de Hitch. Um final inesquecível em sua ironia e crueldade. Filme atemporal, belo de se ver e intensamente absorvente, é mais um acerto do multi-premiado Clement, diretor de 3 obras-primas eternas. Para ver e rever. Nota Dez.
JAMAICA INN de Alfred Hitchcock com Charles Laughton e Maureen O'Hara
Um nobre inglês do século XVIII é secretamente um contrabandista. Já contratado por Selznick e aguardando sua mudança para a América, o mestre inglês fez este filme às pressas em clima muito ruim. É de seus filmes menos interessantes ( em que pese a excelencia do elenco ). Uma pena... Nota 4
CORRESPONDENTE ESTRANGEIRO de Alfred Hitchcock com Joel McCrea, Laraine Day, George Sanders e Herbert Marshall
Muito bom filme do mestre. Joel é um repórter americano enviado a Europa para fazer matéria sobre o inicio da guerra. Lá se envolve em trama de espionagem. O filme tem várias cenas sensacionais. Aquela do moinho talvez seja a mais famosa ( mas não a melhor ). O mérito do filme é o de jamais parar, a ação corre todo o tempo, fatos sobre fatos, nada muito lógico, mas quem pede lógica em filme de Hitchcock? O que importa é o clima, a condução de nossa atenção, o brinquedo maravilhoso que é o cinema. Um belo filme! E como é bom ver George Sanders atuar! Nota 7.
A DAMA OCULTA de Alfred Hitchcock com Michael Redgrave e Margaret Lockwood
Fato: este é um dos filmes mais famosos de Hitch. Grande sucesso de sua fase inglesa. Uma velhinha desaparece num trem. Uma moça sabe de seu desaparecimento, mas ninguém crê na existência de tal velhinha. O tema da paronóia à Hitchcock. O filme é delicioso! Filmes em trens sempre são divertidos e este talvez seja o melhor. Lockwood é de uma beleza arrebatadora ( e simples ) e Redgrave ( que é a cara de sua filha, Vanessa ) dá classe e humor ao todo. Puro fun, escapista e rápido, Hitch se diverte e nos diverte muito. Nota 8.
REBECCA de Alfred Hitchcock com Laurence Olivier e Joan Fontaine
O poderoso produtor de ...E O Vento Levou, David Selznick, importou Hotchcock da Inglaterra para fazer este filme. Alfred acabaria voltando à sua terra só em 1972. Este filme, imenso sucesso, é hiper-romantico, gótico, e só se torna 100% Hitchcock nos momentos finais. Mas é um belo filme! Conta a história de um trilionário viúvo que se casa com a simplória mocinha feita por uma exagerada Fontaine. Mas esse casamento será aterrorizado pela lembrança da ex-esposa Rebecca e por uma governanta ( Judith Anderson em ótima atuação ). Joan Fontaine, em que pese sua frágil beleza, tem uma atuação quase caricata. Vê-la ao lado do equilibrado Olivier chega a ser cruel. Ele faz do personagem central uma aula de como ser romantico e econômico ao mesmo tempo. Mas Fontaine comporta-se como em ópera, exagera tudo. Fora isso ( e na época a atuação dela foi elogiada e a dele não ), o filme é digno de seu sucesso. O assistimos com uma estranha sensação de sonho. Todo ele se parece com uma ilusão gótica, mofada, feiticeira. É o menos Hitchcockiano dos filmes americanos do mestre, mas como cinema é obra de competência esmerada. Gigantesco e plenamente bem realizado. Nota 8.
GRISBI, OURO MALDITO de Jacques Becker com Jean Gabin
Jacques Becker... que grande diretor! Eis este filme: um velho gangster quer se aposentar. Um último golpe será tentado. Dará certo? O filme é muito mais: quando Becker dá um close em Gabin, vendo show de strip, vemos a imensa magnitude do filme: é sobre a morte. Gabin está cansado, nada lhe resta a não ser se retirar. Mais: Ele tenta ser nobre em meio ao lixo. Mais: Becker e Gabin sabiam que seu tempo se esgotava, fizeram filme que é ode genial ao fim. Uma elegia. Visualmente o filme é riquíssimo. Boates, aptos, carros, fumaça e putas. Muita grana fácil. Jean Gabin, o mais famoso ator francês, está em seu maior momento. Nunca seu rosto estóico foi tão frio e deseperançado. Becker, diretor dos mais viris, leva tudo com precisão absoluta, o filme não tem erros e não tem nenhum truque. Nada nele tenta ser simpático. O filme é como aquilo que retrata, eis o segredo da perfeição em cinema: dirigir ao estilo do seu tema. Filme fantástico! E além de tudo é dos mais jazz- films já feitos! Nota DEZ!
MAD LOVE de Karl Freund com Peter Lorre
Freund foi grande fotógrafo alemão, mas este filme ( famoso ) de terror é falho, muito falho. Nada a dizer sobre o médico doido que troca as mãos de pianista pelas de um assassino. Lorre está assustador, sempre foi grande. Mas o roteiro é bobo. Nota 2.
OS SETE SAMURAIS de Akira Kurosawa com Takashi Shimura e Toshiro Mifune
Crítica abaixo. Um dos mais famosos e endeusados filmes da história do cinema. Funde arte e diversão à perfeição. Muito ambicioso, ele mudou a história do filmes de ação. Obrigatório para quem deseja conhecer o que seja Um Filme. Que nota dar? DEZ!
A ILHA DO TESOURO de Byron Haskin com Bobby Driscoll e Robert Newton
O primeiro filme ( não desenho ) da Disney ( 1950 ). A Ilha do Tesouro de Stevenson foi meu primeiro livro. Lido ao sol, aos 9 anos de idade. O filme é digno desse livro: bonito e cheio de bons momentos. A fotografia de Freddie Young é lindíssima. Uma bela Sessão da Tarde. Nota 7.

BRINQUEDO PROIBIDO/BURTON/TARZAN/MIDNIGHT COWBOY/YVES ROBERT

ON PURGÉ BEBÉS/ CHARLESTON de Jean Renoir
O primeiro é uma insuportável "comédia". Verborrágica, mal feita, chata de doer. O segundo é um curta mudo sobre visitante de outro planeta que encontra uma aficcionada por charleston. O ET é um negro africano que vem à Paris num disco voador. A França deste futuro renoireano é uma decadente Africa selvagem. O filme é muito divertido, e os dois dançam maravilhosamente bem. Inclusive um moonwalk !!!!!! Para quem gosta de jazz é obrigatório. nota zero e nota 5.
A GUERRA DOS BOTÕES de Yves Robert
Famosíssimo e premiado filme sobre o fim da infância. Trata-se de uma comédia e ele funciona. Numa zona rural, bando de meninos briga em guerras, cheias de táticas e militarismos vários, contra a turma do bairro rival. Os atores infantis e adolescentes estão perfeitos e o filme transpira uma poesia simples e serena de infancia muito feliz. Em contraste, os adultos estão todo o tempo ocupados com tolas rivalidades : percebemos que a rivalidade "de brinquedo" das crianças é muito mais vital. No fim, tememos pelo dramalhão e pela apelação, mas não, a mensagem é a de que a liberdade sempre vence e de que nada é mais livre que uma criança. Belo e necessário filme. nota 9. ( Há uma cena de nú que seria impensável hoje. )
MIDNIGHT COWBOY ( PERDIDOS NA NOITE ) de John Schlesinger com Jon Voight, Dustin Hoffman, Viva !, Brenda Vaccaro
É um pesadelo urbano em technicolor borrado. O filme nada envelheceu, infelizmente as cidades continuam as mesmas. Trata-se de uma maravilhosa parábola sobre a solidão ( o roteiro, do grande Waldo Salt, é perfeito ). O tolo cowboy ( um Voight que domina o filme em desempenho histórico ) é doido por mulheres e dinheiro. A ironia é que ele vai encontrar dinheiro em gays solitários e o amor com um tuberculoso repulsivo ( Dustin um pouco caricato demais. Mas talvez o filme precise de seu humor. Sem seu Ratzo, o filme seria insuportávelmente triste ). Acompanhamos sexo homo em cinema, festinha da turma de Andy Warhol ( maravilhosa !!!! ), mulheres casadas que só querem sexo e nossos heróis, completamente derrotados e esquecidos de sí-mesmos. Schlesinger, inglês vindo do new-cinema, dirige com olhar estrangeiro, observa sem se envolver; a trilha sonora tem John Barry, o cara que fez as trilhas de james Bond, e que cria aqui um tema de harmônica que se tornou universalmente aceito como um hino a solidão urbana. Quanto a famosa cena final : é uma das mais dolorosas já filmadas. Sentimos uma profunda compaixão por Voight. Tudo deu errado para esse cowboy. Em nível simbólico, o filme, ao ganhar toneladas de Oscars, marca o fim da América dos cowboys ( se fala de Gary Cooper no filme ) e dos imigrantes sonhadores ( é este o papel de Dustin ). É o réquiem das duas forças que fizeram o sonho americano. O filme é vasto, rico, nobre e profundamente amargo. nota 9.
TARZAN de WS VanDyke com Mareen O'Sullivan e Johnny Weissmuller
Era para ser um filme médio da Metro. O sucesso foi tanto que virou uma longa série de filmes. Johnny é o melhor dos Tarzans, ele é selvagem porém amável, forte, mas jamais idiota. Mas, quem diria que a atriz que eu considero a mais bela do cinema é a mãe de Mia Farrow ? Pois é, trata-se desta Jane, O'Sullivan, maravilhosa mistura de força interior e travessuras mimadas, de uma morena como só a Irlanda fazia. Ela é a Musa. O filme cria a clássica aventura de terra distante ( é de um tempo onde ainda existiam terras distantes. Não se precisava criar viagens no tempo ou intergaláticas para se chegar à aventura. ) É uma Africa de bichos se engolindo, selvagens ameaçadores, tesouros secretos e onde, chocante para nós, tudo que se move merece um tiro. Os caras atiram em tudo, sem dó. Jane tem uma clãssica fala racista: "- ...mas Tarzan não é um animal ! Ele é branco ! " Hoje dá pra rir de tanta tolice, na época era trágico. Jackie Robinson, Paul Robeson e Jesse Owens que o digam. nota 6.
EDWARD MÃOS DE TESOURA de Tim Burton com Johnny Depp, Dianne Wiest, Winona Ryder e Alan Arkin
O melhor é a trilha sonora de Danny Elfman. Temo que os filmes de Burton não sobrevivam ao tempo ( que é o único crítico que importa ). Apesar de seu imenso talento para criar um clima de fábula, apesar de seu genuíno amor ao cinema, seus filmes carecem de força, de fibra, de élan. Este é um exemplo : revendo-o agora, desejando adorá-lo, me pego gostando de sua bondade, do visual fake e hiper colorido, da mensagem singela. Mas ele é como um doce que passou do ponto, não dá vontade de quero mais. Gostamos, mas jamais amamos. Ainda emociona Winona cercada pelos flocos de neve, mas o filme é uma refilmagem de "Juventude Transviada" em Disneylização. O filme com James Dean é imensamente maior. Nota 6.
O BEIJO AMARGO de Samuel Fuller com Constance Towers
Há quem chame Fuller de gênio. Eu não. Diretor durão, teimoso, que "não deu certo", foi descoberto pela turma dos Cahiers em 59/60 ( Truffaut, Chabrol, Godard, Rhomer, Rivette ). Este filme é obra de um louco. A primeira cena, em jazz, mostra uma puta careca surrando um gigolô. Pois essa mulher, em cidade pacata, se torna enfermeira de crianças deficientes. E o filme vira drama edificante. Depois ela faz cafetina engolir dinheiro e se enamora de pedófilo milionário. O filme é tão neurótico, suas cenas filmadas de um modo tão abrupto e seco que não há como respirar. Você o repele. A diferença é que para os fãs de Fuller ( Wenders também o adora ) esse clima é fascinante. Para mim é apenas feio. nota 2.
A BESTA HUMANA de Jean Renoir com Jean Gabin, Simone Simon e Fernand Ledoux
Crime e paixão no ambiente ferroviário. Gabin é um doente mental que lá trabalha, Simone, linda, uma esposa infiel que cometeu um crime, e Ledoux é o marido corno e assassino, viciado em jogo. O elenco está bem, com excessão de Gabin que exagera no ar fatalista. As cenas documentais que mostram o trabalho nos trens e a vida nos bares são excelentes. Mas o drama em sí é banal. Renoir é bom diretor, irregular, às vezes genial, mas é super valorizado. nota 5.
BRINQUEDO PROIBIDO de René Clement com Brigitte Fossey e Georges Poujourdy
Quando em 59/60 Truffaut e Godard dominavam as telas e os textos da França ( e influenciavam toda a crítica do mundo ) Clouzot e Clement eram ridicularizados. Eram considerados velhos, acomodados, passados. Na verdade o que não lhes perdoavam era o fato de serem bem sucedidos, premiados, ricos. Clement ganhara dois Oscars, em 50 e 52, e este filme é o seu segundo Oscar ( ainda venceu em Veneza ). Trata-se, talvez, do maior filme já feito sobre a infância. Vamos a história : Uma estrada, 1940. Gente foge dos bombardeios nazis. Confusão de carros, carroças, e de aviões que atiram sem dó. Uma menina tem seus pais metralhados ( e seu cão também ). O filme acompanha o que ocorre com essa criança. Ela vai parar numa fazenda onde é acolhida. Mostra-se então a vida dos adultos a dela e de seu novo amigo, o filho do fazendeiro, de onze anos. Os dois se tornam companheiros e assistimos a delicada história dos dois. Eles se apaixonam, mas se apaixonam como só um menino de onze e uma menina de sete anos podem se apaixonar. Pauline Kael disse que se o filme acompanhasse apenas a história dos dois ele seria tão duro que ninguém conseguiria parar de chorar. Sábiamente, Clement mostra também a vida adulta ao redor, e a vida desses adultos é uma comédia, grossa, vulgar, real. O filme então não é um drama choroso, apesar da tristeza do tema; nem é uma fábula infantil sobre adultos cruéis ( eles nada têm de ruins ). É sobretudo um poema, belíssimo, sobre a solidão da infância, sobre o mal que um adulto pode fazer sem o saber, sobre a covardia da guerra, e é sobre a morte também. A diversão das crianças é construir um cemitério de animais, para que "seus corpos não fiquem na chuva". A morte trouxe a menina para a vida do menino, ele lhe dá um cemitério de presente, e corpos de bichos que morreram. O filme é devastador, mas repito, jamais se torna um drama.
A menina, Brigitte Fossey, tinha oito anos quando fez o filme. Sua atuação é um milagre. Nunca ví nada parecido. Ela depois se tornou atriz adulta, estando até em "O homem que amava as mulheres" de Truffaut. O menino está magnífico, um pequeno amigo, mentiroso, ladrão, gatuno apaixonado, rebelde. O final desta simples obra-prima é um dos maiores manifestos já feitos contra a guerra : nos dá um soco no queixo e se vai embora, abandonando-nos grogues em meio ao horror. O que foi feito dessa criança ? Porque ela não pode ser simplesmente feliz ?
Uma das maiores tragédias de nossa época é exatamente o fato de não permirtirmos as crianças que sejam crianças. Que vaguem sem rumo pelo tempo, pela rua, pela vida. Aqui elas fazem isso, em meio ao inferno, e conseguem ser quase felizes ( no absurdo ). Este é um filme que dignifica o cinema. É nobre, humano, de verdade, inteiro. Nos faz querer fazer o bem. Mas atenção : não é um drama ! nota Dez.