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MAQUIAVEL, GIORDANO BRUNO E ARIOSTO

   Começo este doido ano dentro do renascimento italiano. Dizem que nossa cultura nasceu aqui. Acredito que ela foi adrenalinizada aqui. Tomou novo impulso. Mas ela existia desde 500 ac. ( E neste século ela está sendo sufocada. Mas não vai morrer. Acho... )
   Maquiavel foi irônico. Vivendo em uma sociedade ambiciosa ao extremo, cruel, e participando desse poder, como ministro, conselheiro, formulou em O Príncipe uma espécie de manual do poder absoluto. A maioria, até hoje, pensa que o texto é aquilo que se lê. Não entendem que Maquiavel aumenta e explicita a ambição e assim a critica. A escrita, de uma clareza transparente, se lê com vivo prazer. Ficamos inebriados com o discurso. Aprendemos a escrever melhor, aprendemos a pensar melhor.
   Bruno foi queimado pela inquisição. Não entendemos hoje qual a gravidade. Afinal, ele era crente, nunca foi contra Deus ou Jesus Cristo. Mas ele cometeu uma ousadia indesculpável para aquele tempo: disse que o céu era infinito e que nele mundos sem fim tinham lugar. Ler Bruno é ler uma mente deslumbrada pela descoberta do "ilimitado". Bruno olha o universo e percebe a maravilha. Ele não se assusta, se apaixona. Podemos dizer que Bruno morreu por amor ao cosmos.
   Ariosto escreve uma fantasia de cavalaria sem tirar os pés do chão. Não é realismo ainda, mas aqui, entre cavaleiros, damas, florestas e lutas, nada acontece por magia. Os personagens são gente e agem como gente. Mais que tudo, Ariosto mantém a rima, o metro e a clareza por milhares e milhares de versos. Dá pra cantar.
  Tudo é belo na renascença. Pessoas cercadas de beleza vivendo uma vida nada bela. Deixaram a maior das heranças. Não sei se a merecemos.

SOBRE O INFINITO, O UNIVERSO E OS MUNDOS- GIORDANO BRUNO, A PAIXÃO PELO ILIMITADO

   Bruno foi queimado em Roma, 1600. Sem abrir mão de sua crença, Bruno olhou para os céus, tendo a plena certeza de que tudo é infinito. Porque o Papa tanto o detestava? O que havia de tão terrível em sua filosofia? Ele jamais deixa de crer em Deus, jamais abraça a fé protestante. Qual seu pecado?
   Ele foi monge e abandonou a igreja quando desenvolveu sua filosofia ( da qual já falo ). Sua vida passa a ser uma viagem constante: Suiça, Alemanha e Inglaterra. É na ilha que ele escreve sua maior obra, "Sobre o Infinito". Pensando que a Itália já fosse segura, ele vai à Veneza, dar aulas para um nobre. Traído, é entregue a Roma, condenado e queimado vivo.
   Giordano Bruno foi um homem típico da renascença. Ele unia ciência a arte, magia a religião, filosofia e poesia, bem-viver e bem-pensar. Em si havia a sede de saber e de fazer. O homem renascentista é sempre um homem de ação, um insatisfeito que faz coisas. Um pensador que mede a vida pelo tamanho do homem. E para Bruno, tudo era infinito. Espaço, criatividade, Deus, a memória, tudo infinitamente sem forma, sem tamanho e sem volume.
   Em seu livro, escrito em forma de diálogo, Aristóteles é atacado. E com ele, toda a filosofia da idade média cai por terra. Bruno afirma que se Deus é onipotente, então seu poder é ilimitado. Se seu poder não tem limites, então ele só deseja e só pode criar o que não tem limites. Não haveria sentido em que um Ser ilimitado criasse algo limitado. Portanto o universo é infinito. Mais que isso, existem infinitos sóis e infinitas Terras. Gente em outros mundos. O universo é infinito e dentro dele existem mundos finitos. Todo esse pensamento é radicalmente contrário ao que se difundia na era medieval. Bruno afirma ainda que nada termina, as coisas se transformam. O que é será sempre sob outra forma. Não existe alto e baixo, todo lado que se olhe é infinito. A Terra não é o centro privilegiado do universo, ela é apenas um dos mundos possíveis. Mundos vários, vida que muda, universo sem fim e sempre vivo.
   Mas Bruno não desvaloriza o homem. Para ele, a mente humana é tão infinita quanto a mente divina. Na imaginação, na sensibilidade, o homem atinge o infinito. Deus está em todas as coisas, inclusive na mente do homem, mente que é sem forma e sem fixidez como é o universo. O homem tem a obrigação moral de usar essa capacidade divina de sua mente. Em seu espírito vive o infinito e a infinita capacidade de criar e de entender.
   Vale dizer que o volume começa com uma carta que Bruno envia ao ilustríssimo senhor de Castelnau. Poucas vezes em minha vida li algo de tão belo, de tão nobre e de tão alto grau de sabedoria. E é isso que mais se sente ao ler Bruno: Quando Roma fez arder a carne daquele homem, se queimava um nobre, um justo, um ser privilegiado.
   " Daí sucede que não arredo pé do árduo caminho...."
    Giordano Bruno é infinito.