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IN THE COURT OF THE CRIMSON KING - KING CRIMSON
Tem a fama de ser o maior album prog da história. Não é. ------------------ Comecei a ouvir prog, tinha imenso preconceito, fui amestrado pela crítica punk que odiava prog, somente após meus 50 anos de idade. Então, para mim, todo esse mundo é novidade. Hoje gosto muito, adoro prog. E King Crimson está longe de ser o que mais admiro. ------------------ Este é o primeiro album deles, 1969, e na época foi um choque. Greg Lake cantava e tocava baixo, Robert Fripp fazia seu nome na guitarra e efeito de teclado. Primeira decepção: Fripp sola pouco. O disco é dos teclados, dos sopros, da voz. Estranheza: sim, o som deles é esquisito. Ele varia entre o barulho e o quase silêncio. Usam a variação de volume ao limite. Surpresa: são ótimos em baladas POP. E o baterista é excelente, Ian McDonald. ---------------- Ouvir pela primeira vez um disco com fama de obra prima é sempre complicado, por isso minha crítica pode ser injusta. Eu esperava arrebatamento. Ouço também Islands e Poseidon, dois outros albums do grupo. Há algo de medieval neles. Um lirismo aquoso, sideral e pastoral. E a pesquisa sonora que Fripp desenvolveria com Eno e Bowie. Longe de ser um disco comum, ele me agrada, mas sem a emoção ansiada.
SLOW TRAIN COMING - BOB DYLAN
Foi em 1979, após alguns anos de silencio que Dylan lançou este disco que desconcertou fãs e críticos. Um disco gospel. Ele se cerca da banda mais afinada que já teve ( Mark Knopfler faz aqui alguns de seus mais elegantes solos, e tem ainda Barry Beckett, Pick Withers, Tim Drummond e os Memphis Horns ), e compõe canções que falam do cristianismo. Dylan presta graças à Deus. ---------------- O som lembra J.J.Cale. É um tipo de country cristalino, simples e nunca óbvio. A mixagem ressalta a bateria, perfeita. Mas foram as letras que despertaram a ira de muitos. O ex judeu Dylan, o socialista Dylan, o ateu Dylan fala de Deus como se Nele acreditasse. Muitos críticos diziam que era uma piada de Dylan, se recusavam a acreditar na " traição " de seu ídolo. Lembro que apenas um disse a verdade, Dylan deveria ter passado por uma crise existencial terrível e vira no Deus cristão o seu alívio. --------------- Essa fé duraria em disco 4 anos e 3 LPs. Este é o melhor e é hoje um clássico. É meu disco favorito de Bob Dylan e finalmente encontrei um vinil. Eu o comprara em dezembro de 1979 e o detestara. Me livrara dele nos anos 80 e nunca mais o escutara. Dando uma nova chance agora ele revela o que sempre foi: belíssimo. Procure o escutar. É uma grande obra. Uma afirmação de fé. Um reencontro.
ALICE COOPER - KILLER
Felizmente se fez justiça à Alice Cooper ainda em vida. Entre 1971 e 1975 ele foi um dos reis do rock e os críticos só sabiam de falar mal do cara. Tratavam ele como se fosse infantil, um palhaço que apelava para truques, nunca um artista. Não percebiam que ele unia as duas correntes mais novas e legais do rock de então: o glam e o pré metal. John Lydon acha Killer o maior disco de rock de todos os tempos. Não só ele. Lester Bangs achava perfeito. Eu prefiro Billion Dollar Babies, mas sim, o rock cru, virulento, pesado de Killer tem algo de punk, de foda-se nele. E a produção do mago Bob Ezrin entende à perfeição tudo que Alice quer. ---------------- Pra quem não sabe, Alice Cooper era o nome da banda e o vocal acabou pegando o nome pra si. Cheios de make up e atitude gay, eles eram o glam do T.Rex em estilo americano, menos afetado e mais rocknroll. Dizem que Iggy Pop inventou o glam rock, pode até ser, mas foi Alice quem o vendeu para as massas. Meu irmão tinha apenas 9 anos de idade quando se tornou fã do cara. De Alice ele saltou para Bowie e de Bowie para Sex Pistols. Muita gente fez esse mesmo caminho na mesma época com a mesma idade. ( Eu era bastante sem rumo, de Monkees fui para Elton John, depois Stones e Led ). O album, Killer, é um tipo de roteiro para um filme sem imagem. Cada faixa é um ato ou uma cena. Um flash em som exultante. Tantos anos depois, que bom, ele se mantém divertido e instigante. É só rocknroll, mas é bom e é de verdade.
A NOD IS AS GOOD AS A WINK TO A BLIND HORSE - THE FACES
Em 1967 havia uma banda inglesa, mod, muito inglesa, chamada Small Faces. O sucesso na Europa era do tipo que faz as meninas berrarem na rua. Mas então, o líder, Steve Marriott se encanta pelos USA. Como aconteceu com tanto inglês, a imensidão da América o hipnotiza e ele abandona os Small Faces para fazer um som menos inglês, mais USA. Forma o Humble Pie. Uma banda de hard rock. O resto dos Small Faces se vêm desempregaod e com contratos de show para cumprir. ------------------ Enquanto isso, Jeff Beck, o melhor guitarrista inglês de sua época e de todas as épocas, faz sucesso com seu Jeff Beck Group. Porém, irriquieto como sempre, Jeff desfaz a banda em 1968, após apenas um ano e meio de estrada. Rod Stewart, o cantor da banda, e Ron Wood, o baixista, estão sem emprego. ----------------- Steve Marriott era o cantor e o guitarrista dos Small Faces. Por que não chamar Rod e Ronnie para cobrir essa vaga? Ronnie sabe tocar guitarra, era baixista para Jeff Beck porque ao lado de Jeff qualquer guitarrista vira base. Rod e Ron Wood aceitam. Pronto! Nasce The Faces! ----------------------- Ao vivo a banda é uma festa, o tema é bebida e mulheres e os shows explodem em sucesso. A Nod... é o terceiro album e é o melhor. Miss Judys Farm, a faixa um, já dá o tom: rocknroll de pub. gasolina, juventude, alegria vital. Stewart e Wood formam uma bela dupla de compositiores, mas Ronnie Lane também é um grande talento, e o disco tem 3 composições de Lane, o destaque sendo Debris. As faixas de Lane são sempre as mais adultas. Too Bad se tornou um clássico ao vivo, a versão de Memphis de Chuck Berry é sublime e é aqui que Stay With Me foi lançada. ------------------ Ao mesmo tempo, Rod Stewart levava adiante sua carreira solo. E o azar dos Faces é que como cantor solo, Rod vendia muito mais que no papel de vocal dos Faces. Naturalmente a banda foi abandonada por Rod e em 1974 os Faces acabaram. --------------- Lembro que nos anos 70 eles eram considerados um grupo muito Pop. Não eram hard rock e nem progressivo, então ficavam em um meio termo que não agradava o povo radical do rock. Mas a partir dos anos 90 a banda foi reabilitada, e hoje tem seu justo posto de grande banda do rock dos anos 1970. ------------------- Uma folia. Um bando de rockers adoráveis.
HEAD - BOB RAFELSON, THE MONKEES AND JACK NICHOLSON
Jack Nicholson faz uma falta imensa. A vitalidade explosiva que ele possuía não existe hoje em ator nenhum. Perto de Jack, todos parecem lombrigas. Gente sem osso. E sem tesão. Provável que Jack seria cancelado em 2024. Vigoroso demais. Falo dele porque Jack foi roteirista deste filme, obra que revejo desde sempre e que não consigo enquadrar em nada. Não há filme parecido com este. ---------------------- Bob Rafelson vinha da TV e a série de imenso sucesso The Monkees era ideia sua. A banda, formada na TV, um tipo de sátira aos Beatles ou a versão made in California dos ingleses, sofria pressão dos executivos da emissora. David Jones, Peter Tork, Mickey Dolens e Michael Nesmith sabiam tocar e sabiam compor, mas os executivos queriam músicos de estúdio e compositores de encomenda. Por dois anos a banda lutou contra a TV e conseguiu nesse tempo fazer 4 ótimos albuns e contrabandear ideias próprias. Eu, aos 9 anos de idade, era totalmente apaixonado pela série e foram eles que me fizeram amar rock. ----------------------------- Em 1968 o grupo resolveu fazer um longa metragem de "despedida". E que despedida! Fracasso absoluto, HEAD assustou seus fãs ( Monkees vendia quase tanto quanto Beatles, em 1967 seu segundo disco vendeu mais que Sgt Peppers ), e não atingiram o povo hippie, pois hippies não gostavam de Monkees. Mal sabiam os doidos dos shows de Grateful Dead e Airplane que HEAD era o filme mais freak de sua época. ------------------- Não há como falar da história do filme pois ele não tem enredo. Se voce acha os filmes do Monty Python sem sentido, este é Monty Python com LSD. São cenas que falam de momentos na vida de uma banda perseguida por fãs e por imprensa, uma bande destruída por dúvidas, uma banda numa trip sem fim. Até Frank Zappa está no filme, conduzindo uma vaca numa rua de L.A. ------------------ A trilha sonora é fascinante e eu me apaixonei pelas músicas já aos 12 anos de idade. ----------------- Bob Rafelson faria em seguida o melhor filme sobre a crise existencial dos anos 70, CADA UM VIVE COMO QUER, com um Jack Nicholson milagroso. Os Monkees se separariam e se perderiam nas décadas seguintes. No século XXI se tornariam cult. HEAD permanece como um tipo de obra sem sentido e que vista hoje faz a gente pensar em como devia ser bom ter 25 anos em 1968. Pois o que salta aos olhos é a alegria de criar e filmar e a sensação de que tudo pode ser feito, pois nada ainda foi tentado. --------------------------- PS: Circle Sky é uma das maiores canções do rock. Ver David Jones cantar Daddys Song, composição de Harry Nilsson, sempre me toca fundo, e olhar os rostos dos Monkees sempre me leva de volta à minha infância. É mágico.
AXIS: BOLD AS LOVE - THE JIMI HENDRIX EXPERIENCE, A GRANDE BANDA DOS ANOS 60
Os Black Panther mataram Hendrix. Foi quando eles começaram a cercar Jimi o conscientizando. Frases como Cara, voce toca com brancos, Cara, seu som é escapista, Cara, saia da Inglaterra.... Jimi jogou fora o Experience, uma banda perfeita para seu som, e tentou fazer "som de negro". Pobre Jimi, seu som sempre foi de negro, ele era negro até o dedo do pé. --------------------- Ver Jimi no palco, antes e pós Black Panthers é um choque. O homem alegre, totalmente solto, se torna nervoso, travado, não natural. Hendrix e a guitarra eram naturais, não parecia que seu instrumento era uma coisa, o que parecia era que ela era um orgão seu, viva. Alguns guitarristas foram tecnicamente mais virtuoses que Jimi, John McLaughlin, Jeff Beck, Al di Meola, Eddie Van Halen; mas nenhum foi tão natural, fluido, simples e ao mesmo tempo original. -------------------- Jimi morreu por trair a si mesmo. ------------------ Axis é o disco dele que mais gosto. Ele é aquele que está mais integrado, onde todas as faixas formam um todo que faz sentido. É seu disco mais místico, mais ideologicamente hippie, mais "numa boa". Com os Black Panthers ele nunca mais ficaria numa boa. --------------------- Ao terminar a banda "branca", Hendrix cometeu uma das maiores injustiças da história do rock, deixou de tocar com o mais líquido, o mais groove dos bateras, o jazzy Mitch Mitchell. Mitch era perfeito para Jimi porque ele era um virtuose, uma estrela, solava ao mesmo tempo que mantinha o beat. Os dois juntos se completavam, o ritmo frenético da bateria, a guitarra livre à voar. Mitchell, baterista favorito de Stewart Copeland, foi um Keith Moon sob controle. Não houve, não há ninguém melhor. ----------------- Axis tem algumas das músicas de Jimi mais otimistas, leves, todas me lembram mar e areia, sol e brisa. Não vou destacar nenhuma, ouça o disco inteiro, ele é um refresco abençoado pelas musas.
A BANDA QUE FLOPOU, CREAM - WHEELS OF FIRE
Wheels of Fire é um dos melhores discos de 1968, e 1968 é talvez o grande ano do rock. Exemplo do cuidado com que se produzia um LP então, o disco tem multi sonoridades, multi estilos, multi talento. Ele é Pop, blues, oriental, folk, psicodélico, hard rock. Cada faixa é um mundo em si mesma e voce fica espantado com a amostra de talento que há ali. Potencialmente, Cream poderia ter sido a maior banda de seu tempo. Mas não foi, porque seu DNA já nascera errado. ------------------- Jack Bruce odiava Eric Clapton e Ginger Baker ( meu baterista favorito ever ) queria surrar Jack Bruce. Quando Eric formou a banda ele sabia que Ginger e Jack já haviam se pegado em socos e chutes, mas mesmo assim ele arriscou. Foi um desastre. E o pobre Eric ficava como um boneco, alheio ao que rolava de bad vibes ao seu redor. ------------------- Jack Bruce foi o baixista que fez o rock entender que baixistas eram virtuoses. Ele amava rebuscar o som. Tinha imenso dom musical. Em estúdio suas composições brilham: cello, pistão, teclados, ele usava de tudo. Mas o problema é que o ideal de Eric era o máximo de simplicidade. Quando ele ouviu a The Band saltou fora. Era aquele seu som. --------------------- Ginger era um maconheiro radical, mega hippie e agressivo. Seu estilo de bateria é original. Ele toca tambores, não bateria. --------------- Ao vivo se percebe a tragédia. Cada um toca para si mesmo, uma exibição de egos. Eric era o menos exibido, a banda que era para ser um grupo de guitarra, se tornou uma cacofonia de ruídos. De qualquer modo, Cream é a primeira banda a improvisar no palco, e em algumas faixas isso dava certo. ( Geralmente aquelas em que Jack deixa Eric ser o líder ). -------------------- Eu adoro o que eles gravaram em estúdio. No formato de 3 minutos, contidos, eles mostram aquilo que eram: criativos. Wheels of Fire é uma quase obra prima.
YOU HAD IT COMING - JEFF BECK. O MAIS IRRIQUIETO DOS GUITARRISTAS. O ANTI ERIC CLAPTON.
Homem de fé, quase um missionário, Eric Clapton jamais mudou radicalmente seu som. O garoto que foi chamdo de Deus em 1965, basicamente faz o mesmo som em 2024. Adicionou um pouco de reggae, algum funk, muito The Band, mas sua guitarra é a mesma. Blues. Ele procurou e procura a nota perfeita. Seu solo ideal é aquele do menos é mais. Como era Miles. --------------------- Para entender Jimmy Page e Jeff Beck, voce deve sempre lembrar que o que eles mais amavam na adolescência não era Blues. Era rockabilly. Link Wray. Cliff Gallup. James Burton. E Hank Marvin dos Shadows. Les Paul também. Os solos do Led Zeppelin, mesmo so blues, não são solos típicos de BB King ou de Elmore James. São mais metálicos.Ríspidos. Possuem acidez. Rockabilly. ---------------------- Jeff e Jimmy são amigos desde sempre. Aos 14 anos Jimmy já era profissional. Nos estúdios de Londres tocava desde trilhas de cinema até anúncios da BBC. Jeff preferia fazer bagunça nas ruas. Ele sempre foi um cara irascível. Independente. Quando Jeff, já em 1967, larga os Yardbirds, ele indica Page para seu lugar. A carreira de Jimmy será meteórica então. Em 3 anos sua criação, o hiper profissional Led Zeppelin, será não só a maior banda de hard rock. Será a maior banda de toda história do rock. Já Jeff será sempre um homem à procura de um lugar. ------------------ Jeff Beck Group, com Rod Stewart e Ron Wood. Sucesso e uma obra prima, Thruth. Jeff dissolve a banda. Jeff Beck Group II,uma formação mais funk, com Cozy Powell. Dois albuns, fim da banda. Então, uma banda ao estilo Led, Beck Boggert and Appice, essa dura só um disco. Ruim. ---------------- Jeff cria a fama do cara impossível. Ele não nasceu para fazer parte de banda. Em 1975 vem uma pequena obra prima, Blow By Blow. Ele encontra seu caminho. Jazz rock. Sucesso. Entre 1975-1980 são discos de jazz rock, instrumentais, nunca mais Beck terá um cantor estrela, ele se afirma. Mas vêm os anos 80 e seus discos perdem foco. Até os anos 2000 Jeff Beck se torna um quase músico de estudio. E sim, ele continua sendo citado como o mais criativo e moderno guitar player da história. ------------------ You Had It Coming faz parte da brilhante parte final de sua carreira. Ao contrário dos companheiros de sua geração, Jeff consegue soar moderno. Seu som, eletro drum and bass, jamais parece feito por alguém com mais de 60 anos. Deu lhe Grammy. Ele afinal respirou. ---------------- Eu posto clips do disco. Ouça e aproveite. Jeff Beck, morto de meningite em 2022, é o maior guitarrista da história. Observe como sua guitarra soa como a de ninguém mais. E, incrível, o som é todo feito na mão, sem pedais. Sem nem mesmo palheta, no dedo. Sem Jeff não haveria 90% dos guitarristas pós 1980. É meu number one.
BROTHERS AND SISTERS - THE ALLMAN BROTHERS BAND. UMA BANDA DE HUMANOS.
Minha geração foi formatada para achar que o rock era inglês. Tive amigo que ficou surpreso quando soube que o rock havia sido inventado nos USA. Por causa disso, uma quantidade imensa de bandas e de artistas americanos foi mal digerido nos anos 70-80 ( falo do Brasil, na Europa e Japão esses americanos sempre foram apreciados ). O Little Feat, uma banda dos anos 70 que é melhor ou tão boa quanto qualquer banda inglesa de então, passou toda sua história sem ter um só disco lançado aqui, e os Allman Brothers eram considerados "apenas mais uma banda do sul ". ------------- Os irmãos Greg e Duane Allman eram da Georgia e formaram a banda em 1969, após anos trabalhando free lance em estúdios. O som deles misturava blues, country, algo de jazz e muito groovy. Duane, um guitarrista de gênio que tocou em Layla de Clapton, formou uma dupla brilhante com a guitarra afiada de Dickey Betts. Duas baterias ( isso virou tradição no rock sulista ), orgão e baixo. Eis os Allman. O terceiro disco, ao vivo, catapultou a banda ao estrelato em 1971. Mas a tragédia logo veio. Duane morre em acidente de moto, numa curva de uma estrada de serra, e o baixista, Berry Oakley, morre um ano depois na mesma curva andando no mesmo tipo de moto. Mas eles não param. ----------------- Brothers and Sisters é de 1973 e foi gravado, lógico, sem Duane ou Berry. Dickey Betts assume o protagonismo instrumental e o disco é uma pequena obra prima de rock sulista, o rock mais humano que há. ----------------- Uma coisa que me incomoda no rock inglês é que às vezes ele é tão afetado que parece inumano. Eles posam, os piores imitam, fingem, são atores. Os Kinks e Bowie assumiram isso e transformaram em arte, mas a maioria não sai do fingimento. Para cada The Who, banda muito inglesa e mesmo assim profundamente real, há centenas de grupos poser. Isso não impede que eu goste deles, mas meu lado visceral fica indiferente. Já um grupo como os Allman Brithers vai fundo no estômago. Eles têm cheiro e fedem. São feitos de alma e de sangue. --------------- O disco é um convite a viver solto, a beber e falar besteira, a amar e errar, a sair sem rumo e voltar quebrado. Ramblin Man é o centro da coisa, mas Pony Pony é tão boa quanto. ----------- É tudo uma questão de ser de verdade. Sacou?
BOB DYLAN - NASHVILLE SKYLINE. O MELHOR DISCO DE DYLAN.
Lançado em 1969, este é meu disco favorito de Bob Dylan. --------------------- Após o acidente de moto acontecido em 1966, Dylan passou o ano psicodélico de 1967 sem dar sinal de vida e em 1968 voltou timidamente com The Band. Então em 1969 lança dois discos em seguida, Nashville é o segundo e os dois são country music, o que na época era uma coisa bem esquisita de se fazer. Muita gente ficou brava com Dylan por isso. Mas acabaram aceitando. E o LP vendeu muito bem. ---------------------- Bob Dylan nunca foi acomodado, sempre tentou mudar, e se para nós, brasileiros, todos disco americano com violão parece "country", nos USA todos sabem que o Dylan de 1962-1966 era folk e depois rock, e que folk e rock nada têm a ver com country. ------------------ Country era o som dos anti hippies e gente como Waylon Jennings ressaltavam isso. Mesmo Johnny Cash era uma figura estranha para o rock e se o The Byrds já havia quebrado a regra com o disco hiper country de 1968 Sweetheart of The Rodeo, disco que tem Gram Parsons, foi Dylan em 1969 que mudou o mundo rock e country para sempre. Para voce ter uma ideia, o que Dylan fez seria o equivalente ao Sepultura gravar um disco com Chitãozinho e Xororó. ----------------- O disco abre com Girl of North County e Johnny Cash divide os vocais com Bob. Pronto, estou ganho. É uma singela e linda canção caipira. Apenas 2:30 minutos. A segunda faixa é um country instrumental agitado. Instrumental!!!!! E o resto não muda o clima, é o disco mais alegre, mais curto, mais direto de Dylan. Ele mergulha na raiz de seu país e musicalmente faz o seu disco mais rico. Todas são faixas vivas, e a voz de Dylan nunca soou tão bem. Ele realmente canta aqui, e canta direito. ------------ Lay Lady Lay é o hit do album e não é a melhor música, embore eu a adore. É uma das canções da minha infância, ela tocava muito no rádio, então a conheço desde sempre. É difícil escolher a melhor canção, o disco não tem falhas. Se voce não gosta de Bob Dylan este é o disco para voce começar. É POP, é simples, é perfeito e acima de tudo, é lindo.
REVOLVENDO UMA LEMBRANÇA DE FUTURO
1979 foi um ano muito frio. Eu vestia um paletó de couro preto e meu cabelo estava sempre sujo. Tinha 17 anos e ia ver filmes pornô aos domingos. Minha vida era feita de rock, masturbação e livros do século XIX. Eu sofri pra caramba nesse ano e por isso ele foi o ano mais importante da minha vida. Ou não. --------------- Estudava numa escola que odiava, o Mackenzie e em um ano inteiro fiz apenas 3 amigos lá. Leandro Cunha Bastos, um morador de Higienópolis gay, chique e esnobe como só nos anos 70 se podia ser. Ele sentava na minha frente e se virava toda hora para fazermos fofocas. Outro amigo era Osvaldo, filho de um professor da USP, comunista claro. Era um chato, mas gostava de mim. Comunas naquela época eram sérios e ele sabia russo. O terceiro amigo era Paulo Cãndido, um cabeludo culto que adorava cinema. Ele até sabia quem era Miou-Miou e Bulle Ogier. -------------------- Comprar discos era dos poucos prazeres que eu tinha e em abril eu comprei uma dupla de LPs Stones + Beatles. Se em 1977 eu havia comprado Abbey Road e Let It Bleed, e isso fora uma felicidade, escutava Let It Bleed após Abbey Road por meses, em 1979 eu comprei Revolver e Their Satanic Majesties Request juntos. E isso fora um drama. Por semanas eu chegava em casa às 13-45hs e ouvia Revolver e Satanic em seguida. Isso mudou muito minha percepção da vida. Se aprofundou. E ficou mais confusa, bem mais confusa. ------------------ Revolver é, talvez, o maior disco da história do rock. São poucos os discos que podem lhe fazer frente. Seria tolice eu ficar aqui descrevendo um disco que todo mundo conhece e que eu escutei centenas de vezes. Então vou destacar um detalhe genial, um toque em cada canção que faz toda diferença. -------------- Abrir com George e não com John ou Paul é uma diferença. E o riff de timbre metálico nem parece Beatles. O que diferencia Taxman é a classe da gravadora EMI. Tarimbados em discos eruditos, a turma de George Martin dá uma sonoridade moderna, seca, dura à este rock. Taxman é uma obra prima, os backing vocals dos Beatles são sempre magníficos e perfeitos, e temos o melhor solo de guitarra do grupo. Então vem Eleanor Rigby e eu lembro bem de ouvir essa melodia severa, clássica, gelada quando era uma criança em 1967. Ouvir Eleanor Rigby pela primeira vez é sempre uma experiência importante. Um quarteto de cordas, sem bateria ou guitarra, num disco POP? O cello é sublime e severo, a melodia é inesgotável. É uma canção exata. Destaco todo contra ponto feito pelo cello e o modo como a palavra Lonely soa. Voce nunca mais ouviu Lonely dita assim. ------------------- She Said é típica de John, amarga e rocker. Para quem diz que Ringo não importava, a bateria soa muito original. Já Yellow Submarine, aparentemente boba, é sobre os hippies holandeses que viviam em barcos numa comunidade sem posses. Paul vivia pesquisando música de vanguarda, os sons de marujos é ideia dele. -------------------------- Dr Robert é deliciosa e é sobre drugs. Well well well.... esse refrão com orgão ao fundo dá a marca da coisa. O elan na voz de Paul, ao fundo, carrega a música para o alto. Love you too tem as cítaras de George em algo de soturno. ----------------- Good day é elegãncia total. O piano é lindo. Feliz. And Your Bird can Sing tem dos melhores vocais de John e um solo de guitarra bem californiano. Então vem For no One e como sempre a emoção cresce. Tivesse feito apenas essa canção na vida e Paul já teria lugar na história. A letra conta tudo o que voce lembra daquele dia maldito em que ela se foi. Paul pega detalhe por detalhe, o olho dela onde nada mais há. E a melodia....as notas parecem caminhar para o vazio, a canção é como se uma prece à beira do abismo, não há desespero, o que sentimos é a dor inevitável. Ela se vestiu para partir. Note o final da canção. UM grande compositor faria um belo refrão repetido ao infinito. Paul, gênio, termina deixando a linha melódica no ar, como inacabada. Imagino o que Brian Wilson sentiu ao ouvir isso..... I Want to tell you é um grude, voce não esquece essa melodia de George. É sua primeira obra prima. O piano dissonante dá algo de DESTINO à canção. Got to Get é Paul fazendo canção POP de adulto...aos 25 anos!!!!!!!!!!------------- E por fim Tomorrow never knows....eu, em 1979 mergulhava no caos e voltava da treva para botar o Satanic para rodar. Sim, eu ouvia o Satanic após Tomorrow never knows. Terminava esta canção, verdadeira oração psico, e começava SING THIS ALL TOGETHER....era ou não pra pirar?
NOVO AEON - RAUL SEIXAS....SIM, É RAUL E É SEIXAS
Eu nunca ouvi Raul Seixas. Quer dizer, eu ouvi o que era obrigado a ouvir. Ele estava sempre na TV entre 1974-1977 e no rádio. Então eu ouvi muito dez ou doze canções dele que todo mundo ouvia. Mas eu não gostava dele. O achava sujo, feio, de mal gosto. Sim, sempre fui um esteta. Fresco até o umbigo. ------------------- Tenho uma amiga que tem um pai de 65 anos. Nascido no Ceará, pobre de doer, ele veio para São Paulo em 1980 e morou em barraco de tábuas. Passou fome. É do povão. Pois bem. Esse homem adora forró, música brega e Raul Seixas. Sabe tudo de Raul decorado. Canta Raul. ----------------- O rock brasileiro pós anos 80 sempre foi elitista. Salvo poucas excessões, era feito por jovens filhos da elite e escutado por jovens que se viam como elite. Nunca conseguiu atingir o povão. ( Mamonas Assassinas conseguiram e eles sempre me lembravam Raul Seixas em versão idiota ). Mas não é só isso. Cazuza, Renato Russo, os Titãs parecem terrivelmente pobres, em som e em letras, se os compararmos com este disco. Novo Aeon seria um disco perfeito se não fosse uma faixa muito ruim, Caminho II, mas mesmo assim é um disco que humilha Arnaldo Antunes ou Humberto Gessinger. É de uma riqueza de som e de verbo que somente um homem especial poderia atingir. Raul é o único gênio na história de nosso rock. E, esperto, atingiu o povão sem forçar nada. Sua arte era incrivelmente natural, portanto, brasileira. ------------------------ Fico espantado em imaginar que pessoas semi analfabetas escutassem algo tão belo e bem escrito como A Maçã, uma obra prima completa sobre a relação homem e mulher. Ou a anárquica mensagem de Fim de Mês, uma festa de rimas não óbvias em ritmo do nordeste do Brasil. Ele antecipa a mangue beat. Tente Outra Vez é heroico, Rock do Diabo é rock de primeira, Eu Sou Egoísta é grito de independência, e Tú És o MDC da Minha Vida tem uma letra que me deixou muito, muito surpreso: Caramba!!!!! O cara era bom!!!! O cara era muito muito bom!!!! --------------------- Descobrir Raul Seixas na idade em que estou, ver que uma faixa como Sunseed parece o indie dos anos 2000, faz de mim um provilegiado. Chegar aos 60 anos tendo a chance de ouvir a obra de Raul PELA PRIMEIRA VEZ não é pouca coisa. Portanto, TOCA RAUL! digo bem alto agora para quem estiver por aí.
TOMMY, NA VERSÃO PARA ORQUESTRA DE 1972
2021, o ano que passei ouvindo música erudita mudou meu modo de escutar os sons. Entenda, eu ouço Liszt ou Mozart desde os 15 anos, mas em 2021, a coisa chegou mais ao fundo. Tanto que após esse ano citado eu tenho imensa dificuldade em escutar música muito simples ou mal tocada. Bem...então vamos à Tommy. --------------- Voce conhece a versão original, de 1969, maravilhosamente semi acústica e com ataques de bateria vibrantes. Talvez conheça a trilha do cinema, no geral bem pior que a original, apesar de Sally Simpson e Sparks estarem melhoradas em 1975. Mas provavelmente voce desconheça a versão luxuosa, lançada em caixa com libreto de 1972. Saiba que ela atingiu o segundo posto nas paradas inglesas e a versão de I'M Free exitente aqui chegou a tocar no rádio do Brasil. ---------------------- Em 1972 o mega produtor Lou Reizner pegou a partitura de Tommy e convenceu Pete Townshend a autorizar a versão sinfônica da obra. LP e CDs são dificeis de achar, mas ontem o comprei e logo escutei. Eu esperava uma coisa divertida e brega e me deparo com uma obra divertida e maravilhosamente linda. ----------------- Primeiro o som. Logo de cara voce tem um choque. O disco foi gravado em quadrifonico e isso lhe deixou um ataque que mesmo em cd se mateve algum vestígio. A orquestra soa límpida, poderosa, imensa. Sim, quem conhece música erudita percebe a extrema simplicidade que a música POP tem. Numa peça clássica, qualquer uma, notamos que a orquestra é usada em sua totalidade, o ilimitado poder de seus sons é explorado. Não aqui. Como acontece com trilhas de cinema, a melodia é simples e a orquestra faz seu trabalho sem qualquer esforço. But....simples sim, porém belíssimo!!!!! Amazing Journey, Sparks, Welcome, têm aqui suas melhores versões. elas crescem e atingem uma riqueza magnífica. O elenco tem Ringo Starr fazendo o jogador, um John Entwistle assustador cantando uma versão de terror assustador de Fiddle About. Stevie Winwood, do Traffic, faz o padastro, e Rod Stewart, no auge da fama, canta Pinball Wizzard. Aliás, era para Rod fazer Tommy, mas Roger Daltrey, que não punha fé no projeto, voltou atrás e pegou Tommy, graças a Deus, Rod é ótimo mas Tommy é de Roger forever. --------------- Qual Wizzard é melhor? Elton no filme ou Rod com sinfônica? Empate. São tão diferentes uma da outra que é impossível comparar. ---------------- Maggie Bell, grande cantora da época faz a mãe e Marry Clayton, a cantora negra que em Let It Bleed cantou Gimme Shelter com Jagger, humilha Tina Turner. Acid Queen com Clayton é uma das coisas mais belas já gravadas. -------------- Eu tinha certeza que o desastre viria com a faixa Sally Simpson, minha música favorita na versão em filme 1975. Cantada por Pete e com guitarra de Clapton, ela é imbatível. Como transpor açgo tão rock para uma sinfônica? Seria ridículo!!!!! Mas...funciona!!!!!! Como? Pete canta a melodia exatamente como no original de 1969, mas o acompanhamento se faz uma outra coisa. A orquestra não tenta imitar uma banda de rock, ela teve um novo arranjo a seu dispor e o que ouvimos é soberbamente lindo. Eu postei a versão de 1975 e a orquestral. As duas são perfeitas. ---------------- Após ouvir este Tommy minha admiração por Pete é ainda maior. Quanto prazer em escutar isto!!!!!
HORA DE REESCUTAR OS ROLLING STONES
Fazia bastante tempo que eu não ouvia os primeiros discos dos Stones. Aqueles gravados entre 1964-1965. Coisa velha né. Pra voce pensar: estamos a 59 anos desses discos. Seria como se em 1964 um fã dos Stones ouvisse um disco de 1905! Os Stones fazendo shows hoje, em 2023, é o equivalente a um show em 1965 de um artista que começara em 1905. Nascido em 1885. Consigo pensar apenas em Stravinsky ou Ravel. ------------- Como foi ouvir essas velharias outra vez? Um prazer. Mas algo mais. A constatação, mais uma vez, de que em 1964 não havia nada nem remotamente parecido com os Stones. Para voce comparar: nos EUA era tempo de Beach Boys, Ventures e o Dylan folk. Na Inglaterra era Beatles, Kinks e Animals. ------------- Os Beatles gritavam também tinham seus momentos e barulho. Idem os Kinks. E os Animals, como os Stones, também tinham fixação pelo blues e pelo soul. Mas não há como comparar. -------------- Como eram então os Rolling Stones em 1964?--------------- Faça um exercício. Vamos a tal essência de Schopenhauer. Abstraia tudo que voce ouve hoje. Volta ao início. Lá em 1964. Mundo de Hermans Hermits, Dave Clark Five, Tom Jones e Shadows. Então coloque pra ouvir I'M A KING BEE. Pronto. Mick Jagger com um sotaque cockney absurdo. Sempre cantando mal. Mas estranhamente funcionando. E porque funciona? Porque ele é diferente de tudo que havia então. Ele não canta, ele performa. E o que ele traz é sexo. Explícito. E isso, fora do gueto da música negra, entre brancos, era inédito. E era muito perigoso. ------------ Mas há mais. Keith e Brian não são guitarristas tão bons como Clapton ou Beck, mas eles eram mais selvagens. O modo como eles cutucam, fazem zumbidos, persistem, criam riffs, instigam os quadris, complementa a voz de Mick. Seria impossível haver a mesma magia se o cantor de Keith e Brian fosse Lennon, Van Morrison ou Eric Burdon. E saiba que todos esses três cantam melhor que Mick Jagger. Mas não são Jagger. ----------- E no fundo há a sessão ritmica. Charlie e Bill. Voodoo. --------------- Sim, os primeiros discos são uma banda querendo apenas homenagear seus ídolos e ter namoradas. Jamais eles imaginaram ser o que são. Uma banda imortal. Mas são. E não há banda na história que deu mais certo. 60 fucking anos!!!!! E ainda rola. Um milagre.
BUDDY RICH E A BATERIA NO JAZZ
Se voce for um cara acostumado a só ouvir rock, não precisa mentir, bateristas de jazz não te impressionam em nada. Isso porque a escola de rock de bateristas dá valor aquilo que jazzistas não dão. Explico citando 4 bateristas de rock. ------------------ Jimi Page, esperto ao extremos, construiu todo som do Led Zeppelin ao redor da bateria de John Bonham. Se voce ouve bandas de 1970 e depois ouve o Led irá notar que a grande diferença está na mixagem da bateria. O Led Zeppelin é a primeira banda a dar protagonismo absoluto à bateria. Isso lhe deu modernidade eterna. Todo rock moderno é um rock de percussão. Então temos aqui a primeira característica do rock que não existe no jazz: volume de bateria. Não esqueça, o jazz nasce e cresce como um som acústico, sem amplificação. Bateristas não podiam tocar alto, se o fizessem engoliriam baixo, piano, metais, vocais. Chegavam a colocar cobertores e travesseiros nos tambores para diminuir o som da percussão. Portanto, se voce acha que um bom baterista é aquele que toca alto, esqueça o jazz. -------------------- Keith Moon é outro grande batera do rock, famoso por variar o tempo e se jogar a improvisações que jamais terminam. Keith era fã de Gene Krupa, o primeiro batera do jazz que virou estrela. Realmente os dois se parecem mas Krupa fazia algo que Moon nunca fazia: mantinha o tempo. A lei central do batera de jazz é jamais sair do ritmo. Se é 4 por 4 ele será 4 por 4. Isso porque piano e metais irão solar e se a batera e o baixo não segurarem o ritmo tudo vira bagunça sem sentido. Moon não ligava pra isso, ele deixava o tempo para Entwistle e até mesmo Townshend, por isso a guitarra no The Who sola quase nunca. Pete tinha de segurar aquilo que Moon não segurava. ---------------- Quem ouve apenas rock valoriza essa doideira barulhenta tipo Moon. No jazz isso não existe. Outro batera que cito, e este é fã assumido de Buddy Rich: Neil Peart. Grande batera, ele faz viradas impossíveis, usa todos os duzentos pratos, tambores, caixas de seu kit e parece nunca se perder. Mas, ao contrário de Buddy Rich, Neil Peart não tem swingue e não há melhor maneira de ver isso que assistindo sua homenagem à Buddy Rich. Ele toca igual à Rich, mas é completamente diferente. Ouça. --------------------- Ginger Baker e Mitch Mitchell se achavam bateristas de jazz. E quase eram isso. Mas Mitchell tocava um pouco alto demais e Baker se perdia ás vezes em tempos errados. --------------- Entenda: eu adoro Bonham, Moon, Neil etc, mas eles são do rock, quando os ouço eu quero ataque, fúria, caixa no talo, velocidade. Então pergunto: ao ouvir Buddy Rich, considerado o maior batera que já existiu, o que procuro? Fluidez, ritmo, swingue, beat, tempo exato, sutileza, viradas sem perder o beat. Bateristas de jazz dão duzentas batidas na caixa por minuto e nós mal percebemos isso. Bateristas de jazz movem o pulso e não o braço. Os pratos são usados para manter o tempo e não como ataque. Os pedais são como relógios e não marcação marcial. Principalmente, um bom baterista de jazz ajuda os solistas, dá um rumo à eles, jamais os deixa sós. Buddy Rich fazia tudo isso e solava com hipnótica precisão. Veja.
VOCE CONHECE ROY BUCHANAN?
Roy Buchanan era louco e sua música mostra isso. Americano do sul, ele era o guitarrista favorito do maior guitarrista do rock, Jeff Beck. Roy passou toda década de 60 e 70 tocando em singles obscuros, lançando discos que não venderam, fazendo shows em botecos. Quando nos anos 80 houve o leve modismo do blues, Roy não se beneficiou disso, seu som era áspero demais, não tinha a redondez de Steve Ray Vaughan e nem a comunicabilidade de Robert Cray ou de George Thorogood. Mas eu digo, Roy era melhor que todos eles. Bem melhor. --------------- Em 1988 ele foi encontrado morto numa cela de prisão, enforcado. Suicídio ou vingança de algum policial, ele morreu ainda desconhecido e hoje não é figura cult chique. Seu visual não ajuda, ele parece um caixa de banco de alguma cidade do sul do Arkansas. Mas ao escutarmos eu som....Roy é considerado o cara que tirou o som mais original da Fender e seu toque é inconfundível. Percebo algo de Jeff Beck nele, mas é diferente, Roy é mais difícil de ouvir, menos POP, mais metálico. Não há como o confundir com outro. ----------------- Guitarristas que se mantiveram no underground viveram sempre em perigo. Todos afundaram em alcool, heroina e crime. Rory Gallagher viveu isso. E Rory foi um monstro. Bandas em grandes excursões são cuidadas, mimadas, os promotores não podem perder seu investimento, mas o caras que tocam em boteco...esses vivem no olho do furacão. Roy Buchanan não sobreviveu para ter tempo de ser reconhecido. Fica seu som, poucos cds que passaram despercebidos. Descubra-o.
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