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AXIS: BOLD AS LOVE - THE JIMI HENDRIX EXPERIENCE, A GRANDE BANDA DOS ANOS 60
Os Black Panther mataram Hendrix. Foi quando eles começaram a cercar Jimi o conscientizando. Frases como Cara, voce toca com brancos, Cara, seu som é escapista, Cara, saia da Inglaterra.... Jimi jogou fora o Experience, uma banda perfeita para seu som, e tentou fazer "som de negro". Pobre Jimi, seu som sempre foi de negro, ele era negro até o dedo do pé. --------------------- Ver Jimi no palco, antes e pós Black Panthers é um choque. O homem alegre, totalmente solto, se torna nervoso, travado, não natural. Hendrix e a guitarra eram naturais, não parecia que seu instrumento era uma coisa, o que parecia era que ela era um orgão seu, viva. Alguns guitarristas foram tecnicamente mais virtuoses que Jimi, John McLaughlin, Jeff Beck, Al di Meola, Eddie Van Halen; mas nenhum foi tão natural, fluido, simples e ao mesmo tempo original. -------------------- Jimi morreu por trair a si mesmo. ------------------ Axis é o disco dele que mais gosto. Ele é aquele que está mais integrado, onde todas as faixas formam um todo que faz sentido. É seu disco mais místico, mais ideologicamente hippie, mais "numa boa". Com os Black Panthers ele nunca mais ficaria numa boa. --------------------- Ao terminar a banda "branca", Hendrix cometeu uma das maiores injustiças da história do rock, deixou de tocar com o mais líquido, o mais groove dos bateras, o jazzy Mitch Mitchell. Mitch era perfeito para Jimi porque ele era um virtuose, uma estrela, solava ao mesmo tempo que mantinha o beat. Os dois juntos se completavam, o ritmo frenético da bateria, a guitarra livre à voar. Mitchell, baterista favorito de Stewart Copeland, foi um Keith Moon sob controle. Não houve, não há ninguém melhor. ----------------- Axis tem algumas das músicas de Jimi mais otimistas, leves, todas me lembram mar e areia, sol e brisa. Não vou destacar nenhuma, ouça o disco inteiro, ele é um refresco abençoado pelas musas.
A BANDA QUE FLOPOU, CREAM - WHEELS OF FIRE
Wheels of Fire é um dos melhores discos de 1968, e 1968 é talvez o grande ano do rock. Exemplo do cuidado com que se produzia um LP então, o disco tem multi sonoridades, multi estilos, multi talento. Ele é Pop, blues, oriental, folk, psicodélico, hard rock. Cada faixa é um mundo em si mesma e voce fica espantado com a amostra de talento que há ali. Potencialmente, Cream poderia ter sido a maior banda de seu tempo. Mas não foi, porque seu DNA já nascera errado. ------------------- Jack Bruce odiava Eric Clapton e Ginger Baker ( meu baterista favorito ever ) queria surrar Jack Bruce. Quando Eric formou a banda ele sabia que Ginger e Jack já haviam se pegado em socos e chutes, mas mesmo assim ele arriscou. Foi um desastre. E o pobre Eric ficava como um boneco, alheio ao que rolava de bad vibes ao seu redor. ------------------- Jack Bruce foi o baixista que fez o rock entender que baixistas eram virtuoses. Ele amava rebuscar o som. Tinha imenso dom musical. Em estúdio suas composições brilham: cello, pistão, teclados, ele usava de tudo. Mas o problema é que o ideal de Eric era o máximo de simplicidade. Quando ele ouviu a The Band saltou fora. Era aquele seu som. --------------------- Ginger era um maconheiro radical, mega hippie e agressivo. Seu estilo de bateria é original. Ele toca tambores, não bateria. --------------- Ao vivo se percebe a tragédia. Cada um toca para si mesmo, uma exibição de egos. Eric era o menos exibido, a banda que era para ser um grupo de guitarra, se tornou uma cacofonia de ruídos. De qualquer modo, Cream é a primeira banda a improvisar no palco, e em algumas faixas isso dava certo. ( Geralmente aquelas em que Jack deixa Eric ser o líder ). -------------------- Eu adoro o que eles gravaram em estúdio. No formato de 3 minutos, contidos, eles mostram aquilo que eram: criativos. Wheels of Fire é uma quase obra prima.
YOU HAD IT COMING - JEFF BECK. O MAIS IRRIQUIETO DOS GUITARRISTAS. O ANTI ERIC CLAPTON.
Homem de fé, quase um missionário, Eric Clapton jamais mudou radicalmente seu som. O garoto que foi chamdo de Deus em 1965, basicamente faz o mesmo som em 2024. Adicionou um pouco de reggae, algum funk, muito The Band, mas sua guitarra é a mesma. Blues. Ele procurou e procura a nota perfeita. Seu solo ideal é aquele do menos é mais. Como era Miles. --------------------- Para entender Jimmy Page e Jeff Beck, voce deve sempre lembrar que o que eles mais amavam na adolescência não era Blues. Era rockabilly. Link Wray. Cliff Gallup. James Burton. E Hank Marvin dos Shadows. Les Paul também. Os solos do Led Zeppelin, mesmo so blues, não são solos típicos de BB King ou de Elmore James. São mais metálicos.Ríspidos. Possuem acidez. Rockabilly. ---------------------- Jeff e Jimmy são amigos desde sempre. Aos 14 anos Jimmy já era profissional. Nos estúdios de Londres tocava desde trilhas de cinema até anúncios da BBC. Jeff preferia fazer bagunça nas ruas. Ele sempre foi um cara irascível. Independente. Quando Jeff, já em 1967, larga os Yardbirds, ele indica Page para seu lugar. A carreira de Jimmy será meteórica então. Em 3 anos sua criação, o hiper profissional Led Zeppelin, será não só a maior banda de hard rock. Será a maior banda de toda história do rock. Já Jeff será sempre um homem à procura de um lugar. ------------------ Jeff Beck Group, com Rod Stewart e Ron Wood. Sucesso e uma obra prima, Thruth. Jeff dissolve a banda. Jeff Beck Group II,uma formação mais funk, com Cozy Powell. Dois albuns, fim da banda. Então, uma banda ao estilo Led, Beck Boggert and Appice, essa dura só um disco. Ruim. ---------------- Jeff cria a fama do cara impossível. Ele não nasceu para fazer parte de banda. Em 1975 vem uma pequena obra prima, Blow By Blow. Ele encontra seu caminho. Jazz rock. Sucesso. Entre 1975-1980 são discos de jazz rock, instrumentais, nunca mais Beck terá um cantor estrela, ele se afirma. Mas vêm os anos 80 e seus discos perdem foco. Até os anos 2000 Jeff Beck se torna um quase músico de estudio. E sim, ele continua sendo citado como o mais criativo e moderno guitar player da história. ------------------ You Had It Coming faz parte da brilhante parte final de sua carreira. Ao contrário dos companheiros de sua geração, Jeff consegue soar moderno. Seu som, eletro drum and bass, jamais parece feito por alguém com mais de 60 anos. Deu lhe Grammy. Ele afinal respirou. ---------------- Eu posto clips do disco. Ouça e aproveite. Jeff Beck, morto de meningite em 2022, é o maior guitarrista da história. Observe como sua guitarra soa como a de ninguém mais. E, incrível, o som é todo feito na mão, sem pedais. Sem nem mesmo palheta, no dedo. Sem Jeff não haveria 90% dos guitarristas pós 1980. É meu number one.
BROTHERS AND SISTERS - THE ALLMAN BROTHERS BAND. UMA BANDA DE HUMANOS.
Minha geração foi formatada para achar que o rock era inglês. Tive amigo que ficou surpreso quando soube que o rock havia sido inventado nos USA. Por causa disso, uma quantidade imensa de bandas e de artistas americanos foi mal digerido nos anos 70-80 ( falo do Brasil, na Europa e Japão esses americanos sempre foram apreciados ). O Little Feat, uma banda dos anos 70 que é melhor ou tão boa quanto qualquer banda inglesa de então, passou toda sua história sem ter um só disco lançado aqui, e os Allman Brothers eram considerados "apenas mais uma banda do sul ". ------------- Os irmãos Greg e Duane Allman eram da Georgia e formaram a banda em 1969, após anos trabalhando free lance em estúdios. O som deles misturava blues, country, algo de jazz e muito groovy. Duane, um guitarrista de gênio que tocou em Layla de Clapton, formou uma dupla brilhante com a guitarra afiada de Dickey Betts. Duas baterias ( isso virou tradição no rock sulista ), orgão e baixo. Eis os Allman. O terceiro disco, ao vivo, catapultou a banda ao estrelato em 1971. Mas a tragédia logo veio. Duane morre em acidente de moto, numa curva de uma estrada de serra, e o baixista, Berry Oakley, morre um ano depois na mesma curva andando no mesmo tipo de moto. Mas eles não param. ----------------- Brothers and Sisters é de 1973 e foi gravado, lógico, sem Duane ou Berry. Dickey Betts assume o protagonismo instrumental e o disco é uma pequena obra prima de rock sulista, o rock mais humano que há. ----------------- Uma coisa que me incomoda no rock inglês é que às vezes ele é tão afetado que parece inumano. Eles posam, os piores imitam, fingem, são atores. Os Kinks e Bowie assumiram isso e transformaram em arte, mas a maioria não sai do fingimento. Para cada The Who, banda muito inglesa e mesmo assim profundamente real, há centenas de grupos poser. Isso não impede que eu goste deles, mas meu lado visceral fica indiferente. Já um grupo como os Allman Brithers vai fundo no estômago. Eles têm cheiro e fedem. São feitos de alma e de sangue. --------------- O disco é um convite a viver solto, a beber e falar besteira, a amar e errar, a sair sem rumo e voltar quebrado. Ramblin Man é o centro da coisa, mas Pony Pony é tão boa quanto. ----------- É tudo uma questão de ser de verdade. Sacou?
BOB DYLAN - NASHVILLE SKYLINE. O MELHOR DISCO DE DYLAN.
Lançado em 1969, este é meu disco favorito de Bob Dylan. --------------------- Após o acidente de moto acontecido em 1966, Dylan passou o ano psicodélico de 1967 sem dar sinal de vida e em 1968 voltou timidamente com The Band. Então em 1969 lança dois discos em seguida, Nashville é o segundo e os dois são country music, o que na época era uma coisa bem esquisita de se fazer. Muita gente ficou brava com Dylan por isso. Mas acabaram aceitando. E o LP vendeu muito bem. ---------------------- Bob Dylan nunca foi acomodado, sempre tentou mudar, e se para nós, brasileiros, todos disco americano com violão parece "country", nos USA todos sabem que o Dylan de 1962-1966 era folk e depois rock, e que folk e rock nada têm a ver com country. ------------------ Country era o som dos anti hippies e gente como Waylon Jennings ressaltavam isso. Mesmo Johnny Cash era uma figura estranha para o rock e se o The Byrds já havia quebrado a regra com o disco hiper country de 1968 Sweetheart of The Rodeo, disco que tem Gram Parsons, foi Dylan em 1969 que mudou o mundo rock e country para sempre. Para voce ter uma ideia, o que Dylan fez seria o equivalente ao Sepultura gravar um disco com Chitãozinho e Xororó. ----------------- O disco abre com Girl of North County e Johnny Cash divide os vocais com Bob. Pronto, estou ganho. É uma singela e linda canção caipira. Apenas 2:30 minutos. A segunda faixa é um country instrumental agitado. Instrumental!!!!! E o resto não muda o clima, é o disco mais alegre, mais curto, mais direto de Dylan. Ele mergulha na raiz de seu país e musicalmente faz o seu disco mais rico. Todas são faixas vivas, e a voz de Dylan nunca soou tão bem. Ele realmente canta aqui, e canta direito. ------------ Lay Lady Lay é o hit do album e não é a melhor música, embore eu a adore. É uma das canções da minha infância, ela tocava muito no rádio, então a conheço desde sempre. É difícil escolher a melhor canção, o disco não tem falhas. Se voce não gosta de Bob Dylan este é o disco para voce começar. É POP, é simples, é perfeito e acima de tudo, é lindo.
REVOLVENDO UMA LEMBRANÇA DE FUTURO
1979 foi um ano muito frio. Eu vestia um paletó de couro preto e meu cabelo estava sempre sujo. Tinha 17 anos e ia ver filmes pornô aos domingos. Minha vida era feita de rock, masturbação e livros do século XIX. Eu sofri pra caramba nesse ano e por isso ele foi o ano mais importante da minha vida. Ou não. --------------- Estudava numa escola que odiava, o Mackenzie e em um ano inteiro fiz apenas 3 amigos lá. Leandro Cunha Bastos, um morador de Higienópolis gay, chique e esnobe como só nos anos 70 se podia ser. Ele sentava na minha frente e se virava toda hora para fazermos fofocas. Outro amigo era Osvaldo, filho de um professor da USP, comunista claro. Era um chato, mas gostava de mim. Comunas naquela época eram sérios e ele sabia russo. O terceiro amigo era Paulo Cãndido, um cabeludo culto que adorava cinema. Ele até sabia quem era Miou-Miou e Bulle Ogier. -------------------- Comprar discos era dos poucos prazeres que eu tinha e em abril eu comprei uma dupla de LPs Stones + Beatles. Se em 1977 eu havia comprado Abbey Road e Let It Bleed, e isso fora uma felicidade, escutava Let It Bleed após Abbey Road por meses, em 1979 eu comprei Revolver e Their Satanic Majesties Request juntos. E isso fora um drama. Por semanas eu chegava em casa às 13-45hs e ouvia Revolver e Satanic em seguida. Isso mudou muito minha percepção da vida. Se aprofundou. E ficou mais confusa, bem mais confusa. ------------------ Revolver é, talvez, o maior disco da história do rock. São poucos os discos que podem lhe fazer frente. Seria tolice eu ficar aqui descrevendo um disco que todo mundo conhece e que eu escutei centenas de vezes. Então vou destacar um detalhe genial, um toque em cada canção que faz toda diferença. -------------- Abrir com George e não com John ou Paul é uma diferença. E o riff de timbre metálico nem parece Beatles. O que diferencia Taxman é a classe da gravadora EMI. Tarimbados em discos eruditos, a turma de George Martin dá uma sonoridade moderna, seca, dura à este rock. Taxman é uma obra prima, os backing vocals dos Beatles são sempre magníficos e perfeitos, e temos o melhor solo de guitarra do grupo. Então vem Eleanor Rigby e eu lembro bem de ouvir essa melodia severa, clássica, gelada quando era uma criança em 1967. Ouvir Eleanor Rigby pela primeira vez é sempre uma experiência importante. Um quarteto de cordas, sem bateria ou guitarra, num disco POP? O cello é sublime e severo, a melodia é inesgotável. É uma canção exata. Destaco todo contra ponto feito pelo cello e o modo como a palavra Lonely soa. Voce nunca mais ouviu Lonely dita assim. ------------------- She Said é típica de John, amarga e rocker. Para quem diz que Ringo não importava, a bateria soa muito original. Já Yellow Submarine, aparentemente boba, é sobre os hippies holandeses que viviam em barcos numa comunidade sem posses. Paul vivia pesquisando música de vanguarda, os sons de marujos é ideia dele. -------------------------- Dr Robert é deliciosa e é sobre drugs. Well well well.... esse refrão com orgão ao fundo dá a marca da coisa. O elan na voz de Paul, ao fundo, carrega a música para o alto. Love you too tem as cítaras de George em algo de soturno. ----------------- Good day é elegãncia total. O piano é lindo. Feliz. And Your Bird can Sing tem dos melhores vocais de John e um solo de guitarra bem californiano. Então vem For no One e como sempre a emoção cresce. Tivesse feito apenas essa canção na vida e Paul já teria lugar na história. A letra conta tudo o que voce lembra daquele dia maldito em que ela se foi. Paul pega detalhe por detalhe, o olho dela onde nada mais há. E a melodia....as notas parecem caminhar para o vazio, a canção é como se uma prece à beira do abismo, não há desespero, o que sentimos é a dor inevitável. Ela se vestiu para partir. Note o final da canção. UM grande compositor faria um belo refrão repetido ao infinito. Paul, gênio, termina deixando a linha melódica no ar, como inacabada. Imagino o que Brian Wilson sentiu ao ouvir isso..... I Want to tell you é um grude, voce não esquece essa melodia de George. É sua primeira obra prima. O piano dissonante dá algo de DESTINO à canção. Got to Get é Paul fazendo canção POP de adulto...aos 25 anos!!!!!!!!!!------------- E por fim Tomorrow never knows....eu, em 1979 mergulhava no caos e voltava da treva para botar o Satanic para rodar. Sim, eu ouvia o Satanic após Tomorrow never knows. Terminava esta canção, verdadeira oração psico, e começava SING THIS ALL TOGETHER....era ou não pra pirar?
NOVO AEON - RAUL SEIXAS....SIM, É RAUL E É SEIXAS
Eu nunca ouvi Raul Seixas. Quer dizer, eu ouvi o que era obrigado a ouvir. Ele estava sempre na TV entre 1974-1977 e no rádio. Então eu ouvi muito dez ou doze canções dele que todo mundo ouvia. Mas eu não gostava dele. O achava sujo, feio, de mal gosto. Sim, sempre fui um esteta. Fresco até o umbigo. ------------------- Tenho uma amiga que tem um pai de 65 anos. Nascido no Ceará, pobre de doer, ele veio para São Paulo em 1980 e morou em barraco de tábuas. Passou fome. É do povão. Pois bem. Esse homem adora forró, música brega e Raul Seixas. Sabe tudo de Raul decorado. Canta Raul. ----------------- O rock brasileiro pós anos 80 sempre foi elitista. Salvo poucas excessões, era feito por jovens filhos da elite e escutado por jovens que se viam como elite. Nunca conseguiu atingir o povão. ( Mamonas Assassinas conseguiram e eles sempre me lembravam Raul Seixas em versão idiota ). Mas não é só isso. Cazuza, Renato Russo, os Titãs parecem terrivelmente pobres, em som e em letras, se os compararmos com este disco. Novo Aeon seria um disco perfeito se não fosse uma faixa muito ruim, Caminho II, mas mesmo assim é um disco que humilha Arnaldo Antunes ou Humberto Gessinger. É de uma riqueza de som e de verbo que somente um homem especial poderia atingir. Raul é o único gênio na história de nosso rock. E, esperto, atingiu o povão sem forçar nada. Sua arte era incrivelmente natural, portanto, brasileira. ------------------------ Fico espantado em imaginar que pessoas semi analfabetas escutassem algo tão belo e bem escrito como A Maçã, uma obra prima completa sobre a relação homem e mulher. Ou a anárquica mensagem de Fim de Mês, uma festa de rimas não óbvias em ritmo do nordeste do Brasil. Ele antecipa a mangue beat. Tente Outra Vez é heroico, Rock do Diabo é rock de primeira, Eu Sou Egoísta é grito de independência, e Tú És o MDC da Minha Vida tem uma letra que me deixou muito, muito surpreso: Caramba!!!!! O cara era bom!!!! O cara era muito muito bom!!!! --------------------- Descobrir Raul Seixas na idade em que estou, ver que uma faixa como Sunseed parece o indie dos anos 2000, faz de mim um provilegiado. Chegar aos 60 anos tendo a chance de ouvir a obra de Raul PELA PRIMEIRA VEZ não é pouca coisa. Portanto, TOCA RAUL! digo bem alto agora para quem estiver por aí.
TOMMY, NA VERSÃO PARA ORQUESTRA DE 1972
2021, o ano que passei ouvindo música erudita mudou meu modo de escutar os sons. Entenda, eu ouço Liszt ou Mozart desde os 15 anos, mas em 2021, a coisa chegou mais ao fundo. Tanto que após esse ano citado eu tenho imensa dificuldade em escutar música muito simples ou mal tocada. Bem...então vamos à Tommy. --------------- Voce conhece a versão original, de 1969, maravilhosamente semi acústica e com ataques de bateria vibrantes. Talvez conheça a trilha do cinema, no geral bem pior que a original, apesar de Sally Simpson e Sparks estarem melhoradas em 1975. Mas provavelmente voce desconheça a versão luxuosa, lançada em caixa com libreto de 1972. Saiba que ela atingiu o segundo posto nas paradas inglesas e a versão de I'M Free exitente aqui chegou a tocar no rádio do Brasil. ---------------------- Em 1972 o mega produtor Lou Reizner pegou a partitura de Tommy e convenceu Pete Townshend a autorizar a versão sinfônica da obra. LP e CDs são dificeis de achar, mas ontem o comprei e logo escutei. Eu esperava uma coisa divertida e brega e me deparo com uma obra divertida e maravilhosamente linda. ----------------- Primeiro o som. Logo de cara voce tem um choque. O disco foi gravado em quadrifonico e isso lhe deixou um ataque que mesmo em cd se mateve algum vestígio. A orquestra soa límpida, poderosa, imensa. Sim, quem conhece música erudita percebe a extrema simplicidade que a música POP tem. Numa peça clássica, qualquer uma, notamos que a orquestra é usada em sua totalidade, o ilimitado poder de seus sons é explorado. Não aqui. Como acontece com trilhas de cinema, a melodia é simples e a orquestra faz seu trabalho sem qualquer esforço. But....simples sim, porém belíssimo!!!!! Amazing Journey, Sparks, Welcome, têm aqui suas melhores versões. elas crescem e atingem uma riqueza magnífica. O elenco tem Ringo Starr fazendo o jogador, um John Entwistle assustador cantando uma versão de terror assustador de Fiddle About. Stevie Winwood, do Traffic, faz o padastro, e Rod Stewart, no auge da fama, canta Pinball Wizzard. Aliás, era para Rod fazer Tommy, mas Roger Daltrey, que não punha fé no projeto, voltou atrás e pegou Tommy, graças a Deus, Rod é ótimo mas Tommy é de Roger forever. --------------- Qual Wizzard é melhor? Elton no filme ou Rod com sinfônica? Empate. São tão diferentes uma da outra que é impossível comparar. ---------------- Maggie Bell, grande cantora da época faz a mãe e Marry Clayton, a cantora negra que em Let It Bleed cantou Gimme Shelter com Jagger, humilha Tina Turner. Acid Queen com Clayton é uma das coisas mais belas já gravadas. -------------- Eu tinha certeza que o desastre viria com a faixa Sally Simpson, minha música favorita na versão em filme 1975. Cantada por Pete e com guitarra de Clapton, ela é imbatível. Como transpor açgo tão rock para uma sinfônica? Seria ridículo!!!!! Mas...funciona!!!!!! Como? Pete canta a melodia exatamente como no original de 1969, mas o acompanhamento se faz uma outra coisa. A orquestra não tenta imitar uma banda de rock, ela teve um novo arranjo a seu dispor e o que ouvimos é soberbamente lindo. Eu postei a versão de 1975 e a orquestral. As duas são perfeitas. ---------------- Após ouvir este Tommy minha admiração por Pete é ainda maior. Quanto prazer em escutar isto!!!!!
HORA DE REESCUTAR OS ROLLING STONES
Fazia bastante tempo que eu não ouvia os primeiros discos dos Stones. Aqueles gravados entre 1964-1965. Coisa velha né. Pra voce pensar: estamos a 59 anos desses discos. Seria como se em 1964 um fã dos Stones ouvisse um disco de 1905! Os Stones fazendo shows hoje, em 2023, é o equivalente a um show em 1965 de um artista que começara em 1905. Nascido em 1885. Consigo pensar apenas em Stravinsky ou Ravel. ------------- Como foi ouvir essas velharias outra vez? Um prazer. Mas algo mais. A constatação, mais uma vez, de que em 1964 não havia nada nem remotamente parecido com os Stones. Para voce comparar: nos EUA era tempo de Beach Boys, Ventures e o Dylan folk. Na Inglaterra era Beatles, Kinks e Animals. ------------- Os Beatles gritavam também tinham seus momentos e barulho. Idem os Kinks. E os Animals, como os Stones, também tinham fixação pelo blues e pelo soul. Mas não há como comparar. -------------- Como eram então os Rolling Stones em 1964?--------------- Faça um exercício. Vamos a tal essência de Schopenhauer. Abstraia tudo que voce ouve hoje. Volta ao início. Lá em 1964. Mundo de Hermans Hermits, Dave Clark Five, Tom Jones e Shadows. Então coloque pra ouvir I'M A KING BEE. Pronto. Mick Jagger com um sotaque cockney absurdo. Sempre cantando mal. Mas estranhamente funcionando. E porque funciona? Porque ele é diferente de tudo que havia então. Ele não canta, ele performa. E o que ele traz é sexo. Explícito. E isso, fora do gueto da música negra, entre brancos, era inédito. E era muito perigoso. ------------ Mas há mais. Keith e Brian não são guitarristas tão bons como Clapton ou Beck, mas eles eram mais selvagens. O modo como eles cutucam, fazem zumbidos, persistem, criam riffs, instigam os quadris, complementa a voz de Mick. Seria impossível haver a mesma magia se o cantor de Keith e Brian fosse Lennon, Van Morrison ou Eric Burdon. E saiba que todos esses três cantam melhor que Mick Jagger. Mas não são Jagger. ----------- E no fundo há a sessão ritmica. Charlie e Bill. Voodoo. --------------- Sim, os primeiros discos são uma banda querendo apenas homenagear seus ídolos e ter namoradas. Jamais eles imaginaram ser o que são. Uma banda imortal. Mas são. E não há banda na história que deu mais certo. 60 fucking anos!!!!! E ainda rola. Um milagre.
BUDDY RICH E A BATERIA NO JAZZ
Se voce for um cara acostumado a só ouvir rock, não precisa mentir, bateristas de jazz não te impressionam em nada. Isso porque a escola de rock de bateristas dá valor aquilo que jazzistas não dão. Explico citando 4 bateristas de rock. ------------------ Jimi Page, esperto ao extremos, construiu todo som do Led Zeppelin ao redor da bateria de John Bonham. Se voce ouve bandas de 1970 e depois ouve o Led irá notar que a grande diferença está na mixagem da bateria. O Led Zeppelin é a primeira banda a dar protagonismo absoluto à bateria. Isso lhe deu modernidade eterna. Todo rock moderno é um rock de percussão. Então temos aqui a primeira característica do rock que não existe no jazz: volume de bateria. Não esqueça, o jazz nasce e cresce como um som acústico, sem amplificação. Bateristas não podiam tocar alto, se o fizessem engoliriam baixo, piano, metais, vocais. Chegavam a colocar cobertores e travesseiros nos tambores para diminuir o som da percussão. Portanto, se voce acha que um bom baterista é aquele que toca alto, esqueça o jazz. -------------------- Keith Moon é outro grande batera do rock, famoso por variar o tempo e se jogar a improvisações que jamais terminam. Keith era fã de Gene Krupa, o primeiro batera do jazz que virou estrela. Realmente os dois se parecem mas Krupa fazia algo que Moon nunca fazia: mantinha o tempo. A lei central do batera de jazz é jamais sair do ritmo. Se é 4 por 4 ele será 4 por 4. Isso porque piano e metais irão solar e se a batera e o baixo não segurarem o ritmo tudo vira bagunça sem sentido. Moon não ligava pra isso, ele deixava o tempo para Entwistle e até mesmo Townshend, por isso a guitarra no The Who sola quase nunca. Pete tinha de segurar aquilo que Moon não segurava. ---------------- Quem ouve apenas rock valoriza essa doideira barulhenta tipo Moon. No jazz isso não existe. Outro batera que cito, e este é fã assumido de Buddy Rich: Neil Peart. Grande batera, ele faz viradas impossíveis, usa todos os duzentos pratos, tambores, caixas de seu kit e parece nunca se perder. Mas, ao contrário de Buddy Rich, Neil Peart não tem swingue e não há melhor maneira de ver isso que assistindo sua homenagem à Buddy Rich. Ele toca igual à Rich, mas é completamente diferente. Ouça. --------------------- Ginger Baker e Mitch Mitchell se achavam bateristas de jazz. E quase eram isso. Mas Mitchell tocava um pouco alto demais e Baker se perdia ás vezes em tempos errados. --------------- Entenda: eu adoro Bonham, Moon, Neil etc, mas eles são do rock, quando os ouço eu quero ataque, fúria, caixa no talo, velocidade. Então pergunto: ao ouvir Buddy Rich, considerado o maior batera que já existiu, o que procuro? Fluidez, ritmo, swingue, beat, tempo exato, sutileza, viradas sem perder o beat. Bateristas de jazz dão duzentas batidas na caixa por minuto e nós mal percebemos isso. Bateristas de jazz movem o pulso e não o braço. Os pratos são usados para manter o tempo e não como ataque. Os pedais são como relógios e não marcação marcial. Principalmente, um bom baterista de jazz ajuda os solistas, dá um rumo à eles, jamais os deixa sós. Buddy Rich fazia tudo isso e solava com hipnótica precisão. Veja.
VOCE CONHECE ROY BUCHANAN?
Roy Buchanan era louco e sua música mostra isso. Americano do sul, ele era o guitarrista favorito do maior guitarrista do rock, Jeff Beck. Roy passou toda década de 60 e 70 tocando em singles obscuros, lançando discos que não venderam, fazendo shows em botecos. Quando nos anos 80 houve o leve modismo do blues, Roy não se beneficiou disso, seu som era áspero demais, não tinha a redondez de Steve Ray Vaughan e nem a comunicabilidade de Robert Cray ou de George Thorogood. Mas eu digo, Roy era melhor que todos eles. Bem melhor. --------------- Em 1988 ele foi encontrado morto numa cela de prisão, enforcado. Suicídio ou vingança de algum policial, ele morreu ainda desconhecido e hoje não é figura cult chique. Seu visual não ajuda, ele parece um caixa de banco de alguma cidade do sul do Arkansas. Mas ao escutarmos eu som....Roy é considerado o cara que tirou o som mais original da Fender e seu toque é inconfundível. Percebo algo de Jeff Beck nele, mas é diferente, Roy é mais difícil de ouvir, menos POP, mais metálico. Não há como o confundir com outro. ----------------- Guitarristas que se mantiveram no underground viveram sempre em perigo. Todos afundaram em alcool, heroina e crime. Rory Gallagher viveu isso. E Rory foi um monstro. Bandas em grandes excursões são cuidadas, mimadas, os promotores não podem perder seu investimento, mas o caras que tocam em boteco...esses vivem no olho do furacão. Roy Buchanan não sobreviveu para ter tempo de ser reconhecido. Fica seu som, poucos cds que passaram despercebidos. Descubra-o.
EXISTEM CANÇÕES QUE MUDAM O MUNDO. POUCAS FAZEM ISSO. ESTA FEZ.
Existem canções, poucas, raras, que podem mudar a vida de uma pessoa. Basta as escutar na idade e no momento certo. Elas nos fazem mudar nosso gosto musical, nossa maneira de ver o futuro, nosso comportamento. ARE FRIENDS ELECTRIC? do Tubeway Army, banda de Gary Numan, mudou toda a música inglesa em 1979. E aqui no Brasil, os poucos que a escutaram, enlouqueceram. Passamos a ter mania por robots, computadores, emoções sob controle, distanciamento. Era o romantismo dos anos 80 que se anunciava. Mais que Kraftwerk ou Bowie, Gary Numan anunciava que o futuro da canção era tecnológico. Seus shows, uma orgia de luzes cegantes e de presença robótica mudaram toda uma geração. -------------- Ele levou às massas aquilo que outras bandas e artistas solo não puderam levar. Sua obra antecipa o planeta sob controle e vigilância. Mas, como é seu som? -------------- É POP, mas não aquele POP eletro enjoativo que se faria moda com os Pet Shop Boys após 1985. Ao contrário dos músicos que usam synths para pareceram instrumentos "normais", Gary Numan sempre usou sintetizadores que soavam como sintetizadores. E é isso que eu amo. ---------------- Quando ouço música eletrônica eu quero que ela seja profundamente robótica, gelada, sem emoção, sem alma, desértica. E é isso que temos aqui. Nada lembra a emoção do blues ou do soul, nada parece rock como entendido em 1979. Por isso Gary Numan jamais penetrou nas paradas dos EUA. Lá ele foi considerado uma coisa sem sentido, fake. Já na Grâ Bretanha ele foi superstar. Número um em vendas entre 1979-1981. Sua nova atitude conquistou um povo que não tinha raízes soul e blues. ---------------------- Continuo amando. Ouço agora. Me amociona ( contradição não? Sua frieza é profundamente emocionante ). A bateria, real, tem ritmos simples, marciais, e a massa de teclados parece exalar gelo. A voz de Gary Numan é maldosa, mecânica, alienígena. Ele se colocava como um ET. Bowie em modo glacial. As promessas de LOW levadas ao fim. Para um moleque de 16 anos isto soou como um mantra. Quase uma ligação religiosa. Sim, se voce tem menos de 50 anos, tendo crescido em meio a tantos nomes eletro, isto pode parecer apenas curioso. Mas entenda, Gary Numan é de uma radicalidade chique abissal. Não a toa ele se viu logo num beco sem saída. E virou um aviador. Largou a música. ------------------------ A questão é: seus amigos são elétricos? Sim, são. Estão numa tela 24 horas por dia. E falam comigo por sinais matemáticos codificados. Não me importa se aquilo que vejo é real. É eletricidade. E meus olhos são hoje leitores de luz. ----------------- Existem canções que mudam o mundo e entram nele como se fossem uma invasão marciana. Ouça o modo como essa canção começa. NÃO É MÚSICA. É UM EXÉRCITO ALIEN ATERRISANDO. No primeiro acorde do teclado, um tiro de laser, uma luz feito onda sonora, voce se entrega. Genial. ------------- PS: Gary deu o passo que nós queríamos que Bowie e Ferry dessem. Em 1980 achávamos que Bowie e o Roxy Music partiriam para esse som, cada vez mais eletro e frio. Mas não. Então Gary Numan, assim como tantos outros, deu o passo.
CORE - STONE TEMPLE PILOTS, BOM PRA CACETE
Para quem amava rock, não houve tempo melhor que o começo dos anos 90. Sim, melhor que 1968 ou 1972 ou 1980. Isso porque em 1992 lançaram tudo de 68, 72 e 80 em cd. E havia uma novidade: gente com menos de 25 anos usando cabelo comprido. ------------------ Não dava mais pra aguentar o rock minimalista dos anos 80. Era preciso retomar o rock hedonista, grande, de arena dos anos 70. Minha alegria, imensa, eu vivi os anos 90 com prazer vingativo, foi ver bandas desprezadas em 1984 voltarem a dar as cartas: Black Sabbath, Led Zeppelin e também Thin Lizzy, Humble Pie e Free. De repente ouvir Alice Cooper não era mais vergonha. E a maior banda da hIstória se tornou, enfim e para sempre, o Led Zeppelin ( sim querido, todo ano conheço alunos e alunas de 14 ou 15 anos que amam o Led Zeppelin ). ------------------ MTV: Alice in Chains, Soundgarden, Pearl Jam, Nirvana, mas também Porno for Pyros, Faith No More, Sonic Youth, Primal Scream, Happy Mondays, Smashing Pumpkins e imenso etc. O POP era de George Michael, Madonna, Prince, Lenny Kravitz e fofuras como Betty Boo, Deee Lite, Right Said Fred ou o grande Seal. No RAP, em auge de audácia, Public Enemy, NWA, De La Soul, Ice T, Beastie Boys, Tone Loc, Young MC, Cypress Hill, House of Pain ------------------- Mas o que eu ouvia, sem parar, era Core, do Stone Temple Pilots. Uma mistura perfeita da sonoridade metálica com charme à The Doors. Robert De Leo era um guitarrista brilhante, riffs pesados à vontade e o irmão, Dean De Leo, tinha pegada de trator, no contrabaixo discreto. Eric Kretz é talvez o melhor baterista da safra 1990. Toca alto, vira com precisão, mantém o pedal ecoando. E Scott Welland seria o Jagger de sua geração se as drogas não tivessem feito dele um zumbi. Scott tinha beleza, era sexy, perigoso e sabia usar a voz, uma voz feita para o rock pesado. -------------- Core é puro rocknroll, não tem descanso, não cessa, não diminui, é trilha sonora daqueles anos mágicos em que o rock parecia ser o centro do mundo mais uma vez. Os críticos, chatos como sempre, preferiam muitas outras bandas, mas pra mim os STP eram perfeitos. Traziam algo da energia soturna dos Sabbath com a sem vergonhice tipo "olha! somos o máximo!!!" do Zeppelin de chumbo. Eles não tinham problema algum em fazerem um som que se afirmava como POP e pesado, viril e nem aí pra nada, real sem ser babaca. Puro rock porra! ------------------- Durou nada, durou muito pouco. Os 3 primeiros cds são do grande cacete. Ouvindo hoje, de novo, nada mudou. É bom, é puro, é como whisky sem gelo. Venceu o tempo, 30 anos já. Que eles sintam orgulho do que fizeram. Eu tenho de os ouvir, Pra sempre. ---------------- PS: Plush é um hino.
SE VOCE NUNCA OUVIU THE X VOCE É UM BOBO
Se voce nunca ouviu The X voce é um bobo. Por que? ------------------- Porque é rock n roll em estado puro. Porque é o meio termo perfeito entre a alegria colorida dos B'52s e o punk rock dos Ramones. Mas não é bem isso! É adrenalina mas é também cérebro. É produzido por Ray Manzareck. Mas é mais. É o som dos skates de Venice Beach nos alegres anos de 1980, o consumo lá em cima e a molecada na rua fazendo festa. Mas é mais: John Doe tem a guitarra mais simples do mundo , mas não é minimalista. E que coisa: lembra Jefferson Airplane por causa dos vocais em duo de John e de Pauline E. Mas é mais ainda: é perigos e é sexy pra caramba. ------------------------ Se voce é bobo voce não ouviu The X e nem vai ouvir. Entre 1980 - 1984 eles foram centrais no underground made in USA. E acima de tudo eram fun. Muito fun.
FREAK OUT THE MOTHERS OF INVENTION
Uma simples explicação sobre o porque de entre 1965 e 1972 a música POP ter sofrido tão imenso ataque de originalidades e ousadias e genialidades e tentativas fracassadas e esquisitices e singelas explosões: GRANA EM ABUNDÂNCIA, EDUCAÇÃO EM NÍVEL AINDA ELEVADO, LIBERAÇÃO SEXUAL COMO NOVIDADE AINDA EXCITANTE, PROGRAMAÇÃO ERUDITA NAS RÁDIOS, BOA COMIDA ( YES ), ESPAÇO AINDA NÃO TOMADO POR CORPORAÇÕES IMPESSOAIS ( AS GRAVADORAS ERAM DOMINADAS POR GENTE QUE AMAVA MÚSICA ), UM PÚBLICO ÁVIDO POR NOVIDADES INCESSANTES. Este disco, de 1966, pasmem, 1966, tem as rugas de sua época e por isso hoje parece velho-datado, mas! Essas rugas são motivo de orgulho baby. ------------------- Não é o Zappa jazzistico ou de longas narrativas que às vezes parecem tão chatas... É uma banda pequena onde Captain Beefheart manda tanto quanto Frank. E assim, é um assustador disco ousadamente livre, ou seja, Freak Out! ---------------- Tem rock, vaudeville, música concreta e um rock ao estilo Dylan que antecipa o Velvet Underground em 6 meses. E cara, creia, 6 meses em 1966 é um tempo muito longo. TROUBLE EVERY DAY é um tributo a Highway 61 e é um dos melhores rocks que já ouvi. -------------------- Frank Zappa gravou tanto, registrou tantas ideias que é impossível não haver muito lixo nessa produção. E há. Mas nela existem, às dúzias, joias como este disco e a canção citada em particular. Ter vivido em 1966, ter 15 anos em 1966, deve ter sido um privilégio. Hey! Monster Magnet tem a batida de 90% das músicas de rave!!!!! Fantástico!
1977 : 46 ANOS DE ATRASO, CHEAP TRICK, O PRIMEIRO DISCO
Em 77 eu tinha 15 anos e era obediente, lia e seguia todas as dicas dos críticos de rock. E eles ignoravam tudo que era americano. Então, quando o Cheap Trick lançou seu primeiro disco, óbvio, eles nem se deram ao trabalho de ouvir. Pareciam americanos demais. Quando em 1979 a banda estourou com seu disco ao vivo, óbvio, eles trataram a banda como se fossem tão inofensivos como Kiss ou Meat Loaf, eram americanos não é? Eu, sempre uma ovelha da palavra impressa, disse amém. ---------------------- Além do que eu odiava o visual deles. ------------------- Só agora, 46 anos depois, quase meio século passado, eu ouço o primeiro disco. E caramba! É simplesmente um disco perfeito. Lamento muito não ter o escutado em todos esses anos. Como descrever seu som? New Wave apocalíptica? Hard Rock esquzóide? Grunge feito 15 anos antes do tempo? Uma festa sem limites? É tudo isso e é bem mais. Além de tudo citado acima, eles têm elementos de glam rock, de punk rock, de power pop, e até de indie. Fossem ingleses e tivessem o visual certo teriam sido incensados aqui no Brasil. São bem melhores que Jam ou Gang of Four por exemplo. E o mais impressionante: não envelheceram um só dia. ------------------------- Elo Kiddies abre a coisa e é absoluta obra prima. Mas qual faixa não é perfeita? Taxman mr Thief, The Ballad of TV violence, Cry Cry.... difícil escolher uma. E o cd ainda tem como extra mais 5 músicas inéditas sublimes. É energia alta todo tempo, é surpresa sobre surpresa, voce acha que a música vai para um lado X e ela segue para Z. Lookout é absurda de tão boa. ------------------------ A bateria, Bun E. Carlos, um cara com rosto de contador bêbado, é volumosa, ofensiva, ritmica, rocker no talo, como toda bateria deve ser. O guitarra se chama Rick Nielsen, uma figura ridícula com roupas ridículas ( era proposital ). Ele toca punk e toca hard rock. Ele é o tipo do guitarrista que até hoje toda banda nova sonha em ter. O cantor, Robin Zander, o cantor, é quase um milagre. Ele soa como Scott Weilland e depois como John Lennon. Então parece Steven Tyler para em seguida lembrar Ray Davies. É uma voz encantadoramente desafiante, mal educada, desesperada, triunfante e afinada. ------------------------- Este disco de estreia é hoje considerado uma obra prima e eu assino isso. No novo Punk Rock americano de 1998, o Cheap Trick era chamado de pioneiro. Mas eles são melhores que isso. É uma grande, grande, grande banda de rock. ------------------- Antes tarde do que nunca bb.
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