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POR QUE OS CRÍTICOS ODEIAM TANTO GRIEG?

Peer Gynt é um texto do norueguês Henryk Ibsen que Edvard Grieg, seu conterrâneo, musicou em fins do século XIX. Ouço pela primeira vez na versão da Academy St Martin in The Fields, sob regência de Neville Marriner e Lucia Popp como voz soprano. Não poderia haver orquestra ou voz melhor, EMI, 1983, um dos CDs clássicos mais vendidos da história. -------------- A obra é um imenso sucesso desde o começo do século XX, sendo que ao menos três de seus movimentos são do tipo que todo mundo já ouviu em algum lugar antes. Mas a crítica, em sua totalidade, abomina Grieg. Chamam de música feita para agradar. Agradar à quem? Existe alguma música feita para desagradar? E mesmo que haja, uma tal música, feita para desafradar, não seria um embuste? Eu penso que no mundinho da música erudita, mais ainda que no cinema ou na pintura, existe um desejo de ser exclusivo, superior, entendido, e esse desejo impede todo e qualquer crítico de aceitar o sucesso popular de toda e qualquer obra. Claro que a Quinta de Beethoven é um sucesso, mas é um sucesso que demorou para se fazer, demorou para ser aceito. Tudo aquilo que foi aceito de primeira escutada tem uma imensa má vontade. Não temo dizer que ao escutar um sucesso, todo crítico pense: Okay, vamos ver o que há de errado aqui. E nunca raciocine em termos de: Vamos ver onde ele acertou. --------------------- Peer Gynt é uma obra bela e bem feita, e isso não é pouco. Tem apenas um momento fraco, onde sentimos algo de "trilha sonora de cinema" nela. De resto há muita música instigante, excitante e até mesmo superlativa. A percussão é usade e modo perfeito e várias melodias parecem ainda contemporâneas. Se o sabor "nórdico" parece forjado, qual o problema? Ninguém é obrigado a compor todo o tempo sob a ditadura de sua raiz. Há doçura na voz de Popp, são canções muito bonitas, e há fogo na orquestra, melodias que às vezes evocam a guerra. Desprezar Peer Gynt é esnobismo da pior espécie, falso sangue azul, superioridade à nada. ------------ Os críticos, coitados, vivem em sua ração fake, onde se gosta daquilo que é nobre gostar e se detesta o que pega bem não gostar. Eu? Eu dou risada.