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AS COMÉDIAS DA EALING
Não há nada mais inglês que as comédias da produtora Ealing. Feitas entre 1949-1955, elas têm aspecto vitoriano, sombras e lugares meio sujos, personagens excêntricos, conclusões cheias de ironia. Me sinto em casa as assistindo e sim, elas são consideradas alguns dos momentos mais brilhantes da história da arte da tela grande. Michael Balcon reuniu, como produtor, um time que trabalhava junto, diretores, roteiristas, fotógrafos que davam palpite, ideias, sugestões. Não era o humor feito para gargalhar, nada há de pastelão, mas sim aquele que mostra o absurdo da vida, a esquisitice das coisas, a hipocrisia das relações, e nos dá a alegria de saber que a vida não é tão séria assim. AS OITO VÍTIMAS ( KIND HEARTS AND CORONETS ) tem um roteiro genial de John Dighton e tem Dennis Price interpretando um jovem revoltado. Sua mãe, herdeira de um ducado, foi deserdada por ter se casado com um italiano. Ela morre em amargura, e o filho arma a morte de todos os nobres que levam seu nome, para assim ele próprio herdar ducado e castelo. O filme começa com ele na prisão, escrevendo suas memórias às vésperas de sua execução, ou seja, sabemos que o plano não deu certo. São oito vítimas, todas inescrupulosas, aristocráticas, malucas, todas feitas por Alec Guiness, e Alec, gênio, consegue fazer com que esqueçamos que todos são ele mesmo. Dennis Price, ator que foi marcado pelo azar, era alcoolatra e gay, dá um show como o assassino. Torcemos por ele. Há ainda uma Joan Greenwood que faz uma esnobe fútil e interesseira que é sua ruína. Robert Hamer dirige com gosto, tato, sabedoria. ------------------- O MISTÉRIO DA TORRE ( THE LAVENDER HILL MOB ) fala de um emrpegado do Banco da Inglaterra, Alec Guiness, que se une a um pintor modesto, Stanley Holloway, para juntos a mais dois gatunos, roubarem o ouro do banco. O plano é simples e crível e os personagens deliciosos. Como curiosidade, a primeira cena se passa no Brasil, país para onde Alec Guiness fugiu e tem Audrey Hepburn, em seu primeiro papel, tendo uma fala como Chiquita, uma menina de bar. O roteiro, de William Rose ganhou um justo Oscar e o diretor é Charles Crichton, que se tornaria professor de cinema e dirigiria no fim da vida UM PEIXE CHAMADO WANDA. É uma joia do cinema. ----------------- O QUINTETO DA MORTE ( THE LADYKILLERS ) foi refilmado pelos irmãos Coen e deu muito errado. Isso porque não há como recapturar o clima tétrico e dark de uma comédia que se parece com um filme de horror. Cinco ladrões alugam um quarto na casa de uma velhinha onde irão planejar um assalto. Para a velhinha fingem ser um quinteto de cordas. Críticos dizem que a senhora, Katie Johnson, mágica em seu único filme como estrela, representa a velha Inglaterra, calma, correta, sábia, aquela que deu certo, e os cinco ladrões são a Inglaterra que surgia em 1955, perdedora. Alec Guiness é o chefe do bando e sua atuação é uma das maiores da história do cinema. Maníaco, perigoso, asqueroso, infame, ele tem a seu lado o jovem Peter Sellers, que com topete e maneirismos faz um mod. Herbert Lom, que seria o comissário Dreyfuss na série da Pantera Cor de Rosa, é um estrangeiro mafioso de terno preto. Alexander Mackendrick, um grande diretor em todo gênero, dirigiu dando ao filme um clima soturno e tomando extremo cuidado com enquadramentos e cor. É um filme estranho, desagradável e ao mesmo tempo um prazer em rever. -------------------- Tenho ainda mais 3 filmes Ealing para ver, dentre eles dois que espero poder ver pela primeira vez a mais de 40 anos. Parabéns a Versátil por ainda nos dar esse presente.
SENTENÇA DE MORTE - DUCCIO TESSARI E ALAIN DELON
Enquanto um carro anda pelas ruas, de noite, ouvimos uma canção. Ornella Vanoni canta a versão italiana de Sentado a Beira do Caminho, de Roberto Carlos e Erasmo. Quando nos extras os críticos analisam este filme, essa canção é citada, a canção brasileira de Roberto "Carlôs". Essa belíssima canção dá o tom a um filme policial, que teria tudo para ser apenas mais um filme sobre vingança, mas que graças a presença de Delon, se transforma em uma obra magnífica sobre a melancolia de viver. ---------------- Ele é um matador profissional. Casado, com um filho. Ele quer largar a profissão, os mafiosos não deixam e dinamitam seu carro. A mulher e filho morrem por engano, ele resolve matar cada um dos chefes do crime. --------------- Voce já viu filmes assim. E eles eram muito ruins, às vezes bons. Este é fantástico. Por que? Porque a câmera ama Delon e o segue pelo filme inteiro. E o ator, na época, 1973, o mais famoso ator do planeta, última vez que um europeu teve esse status, consegue, de modo misterioso, pois o carisma é um enigma, fazer de cada cena algo muito maior do que ela é. --------------- Veja a cena da explosão de sua família. Delon está na janela, vendo mãe e filho indo á escola. Os dois entram no carro e ele explode. Um ator, hoje, teria dois modos de interpretar: 1- daria um berro e com lágriams nos olhos se atiraria pela janela tentando salvar os entes amados em meio às chamas. 2- Expressão de louca incredulidade e um rosto onde se vê imenso sofrimento. ----------- O que faz Delon? Ele olha e não emite um som ou produz uma expressão facial. Ele olha e no olhar está todo o segredo desse ator. Nós não sabemos o que aquele olhar diz, o que exatamente ele sente, mas "NOS INTERESSAMOS EM SABER, E ASSIM, SOMOS CAPTURADOS POR ELE". Cativos, iremos atrás dele o filme inteiro. ----------------- Outro exemplo? No que Delon se transforma após a tragédia? De novo cito duas opções; 1- Um furioso e maníaco animal assassino. 2- Um ser destruído, barba por fazer, bêbado, se arrastando em sua vingança sem esperança. Ok? O que faz Delon? Mais uma vez, nada. E tudo. O homem pós tragèdia é o mesmo em aparência e em modos, com uma única diferença: ele está só, há um vazio ao seu redor, e como sabemos disso? Pelo olhar do ator. Não, não há como eu explicar. Veja e perceba. --------------- Um dos críticos diz que viu Delon em um festival de Cinema antes de ele ser famoso, em 1956. Esse crítico morava perto, era adolescente ainda, e estava numa movimentada rua em Cannes, cheia de bares e shows. Pois bem. Ele se lembra de Delon descer a rua e súbito todas as mesas se calarem e o olharem. Entenda, não era uma estrela passando, ele era um nada então. Era o tal do carisma, da beleza irresistível, do mistério. Todos esperaram sua passagem para continuar a "agir". Esse o dom da estrela: cessar o tempo. E estrelas são raras. Ele é um dos poucos. ------------------ Entre 1965 e 1975 não houve estrela maior. Com excessão dos EUA, país que nunca aceita um ator estrangeiro, Delon foi o maior na China, Japão, Europa e sim, no Brasil, onde recordo que ele era mais famoso que Brando, Newman ou Redford. Seu nome passou aqui a ser sinônimo de homem bonito. "Esse cara parece um Alain Delon", ou então " Eu não sou um Alain Delon mas dou pro gasto". Como Steve McQueen, Warren Beaty e depois Clint Eastwood, ele era ator de falar pouco, mas seus olhos diziam mais que as mãos de McQueen ou o sorriso de Warren. ( Todo ator quieto fala com algo do corpo. Gary Cooper falava com o andar e Clint fala com certos sons que emite, gemidos, urros, bufadas ). ------------- Em 1972 Alain Delon havia feito com Zurlini A ULTIMA NOITE DE TRANQUILIDADE, um dos mais melancólicos dos filmes e uma das mais belas atuações de qualquer ator. Este policial tem o mesmo espírito. Magnético, triste e belo.
O CONTRÁRIO DO AMOR NÃO É O ÓDIO, É O TÉDIO. A NOITE, DE ANTONIONI, UMA OBRA PRIMA IRRETOCÁVEL
Um elevador desce, estamos em Milão e é 1960, a Itália vive, junto com o resto da Europa Ocidental, um boom de crescimento que nunca mais se repetirá. Então o que vemos é uma cidade em obras, uma classe de novos ricos, um mundo novo. É nesse ambiente que se faz o milagre do cinema italiano, uma geração de cineastas, atores, filmes, sem igual. O que me leva a pensar que o cinema, por ser indústria, floresce no momento em que uma nação cresce economicamente. Na dicotomia entre o passado que se vai e o futuro que é construído há uma inspiração que se faz visível no cinema. Aconteceu isso com a Europa entre 1945-1970, a China dos anos 90, o Japão do pós guerra, a Coreia deste século, o Brasil de 1955-1970. Os EUA nos anos de recuperação da grande crise de 1929 e depois no apogeu dos anos 50-60. Todos esses países viveram seu grande cinema no momento de crescimento financeiro. Não se faz grande cinema em crise econômica.. -------------- A NOITE é uma obra prima perfeita e conto o porque. ------------------ Um homem morre na cama de um hospital de luxo. E não me lembro de ver cena mais triste de uma morte em hospital em filme nenhum. Ele é visitado por um casal amigo, Marcello Mastroianni e Jeanne Moreau. Ele é escritor e acaba de lançar um livro. O amigo que morre tenta se mostrar bem, mas a dor vem e o ataca. Se despedem. Faz sol lá fora, servem champagne, nunca morrer foi tão limpo e tão chique. -------------- O casal reage de duas formas diferentes à morte. Ela sai antes do quarto, incapaz de suportar a cena. Irá andar a esmo por Milão, perdida na periferia da cidade que ainda apresenta amplos espaços vazios. Acontece uma briga de jovens gangues, um bar de madeira, pobre, e rapazes soltando foguetes em campo aberto. Ela liga para ele e o marido vem a buscar. --------------- Enquanto isso o marido quase faz sexo com uma paciente louca no hospital. No carro ele conta isso à ela. A esposa não reage.---------------------- No apartamento dos dois há a primeira cena magistral. Na banheira e depois se vestindo, sutilmente, Jeanne Moreau tenta seduzir o marido. Ele não percebe. Ou finge não perceber. O rosto que Jeanne faz é, sem dúvida, a melhor coisa que essa grande atriz fez em cinema. Um momento de tamanha sutileza que ficamos impressionados. Todo um diálogo dito sem uma só palavra. O olhar de Jeanne se abre, na esperança do amor, mas se fecha, conformado, ao perceber que o desejo se foi. Antonioni sempre coloca a mulher como aquela que percebe antes. ----------------- Então os dois vão ao lançamento do livro do marido, passam por uma boate, e depois à uma festa na mansão de um milionário. Na festa, ela se isola, liga para o hospital e fica sabendo que o amigo acaba de morrer. E então vê o marido beijar a filha do dono da casa. O marido, pouco se importando com a a esposa, seduz e é seduzido por Monica Vitti, a filha do milionário. A festa, cheia de jazz, à beira da imensa piscina, é povoada de risos, diálogos entrecortados, gente que bebe. --------------- Chove, e como vingança, a esposa quase fica com um playboy. Mas não. Ao mesmo tempo, filha do dono da casa desiste do marido, ao saber ser ele casado. E Marcello, enfim, reencontra a esposa ao amanhecer. Partem da mansão e param no campo. -------------------- Vem então, talvez, o maior momento da admirável carreira de Mastroianni. Ele tenta salvar o casamento e abraça a esposa procurando reviver o desejo. Tarde demais, ela não reage mais. Fico muito emocionado com a atuação de Marcello aí. O rosto dele mostra o profundo desespero de alguém que se deixou matar pelo tédio. Ele não a ama mais, mas procura, para se salvar, salvar a relação terminal. Vem então uma certeza: O contrário do amor não é o ódio, pois o ódio nos une à alguém. É o tédio, pois ele mata o outro e nos destroi com ele. Sem uma só palavra, Antonioni e Marcello nos dizem isso. Não me lembro de filme com modo mais belo de mostrar a morte do amor. ---------------- Deitado sobre Jeanne, sujo de barro, Marcello fica quieto. Tudo cessou. A câmera se afasta e mostra o campo vazio. O filme acaba. Eles terminaram. Não há mais nada a fazer. Absolutamente perfeito. ------------------ Sim meus caros. Uma obra prima. O cimema italiano quando acertava era imbatível. Obrigatório. PS: E há uma carta, que ela lê, na cena final, que é a coisa mais bela sobre o amor já dita em cinema. Foi o persoangem de Marcello quem a escreveu. Mas ele não lembra de a ter escrito.....
FILMES DE TERROR E OS GÊNEROS DE CINEMA QUE MAIS ENVELHECERAM
O cinema é dividido em vários gêneros de filmes. Westerns, musicais, terror, policiais, filme noir, filmes de tribunal, eróticos, de arte, épicos bíblicos, suspense, herois de HQ etc etc etc. De todos esses estilos, penso que, para quem gosta, nada envelhece melhor que westerns e policiais em geral e nada envelhece pior que comédias e terror. ----------------- O ser humano muda, e nestes tempos tenebrosos, rir é cada vez mais um ato de histerismo e não de alegria. O humor de hoje, além de policiado, é desesperado, estridente, exagerado, alucinado. Um riso apela sempre à uma espécie de violência, nosso riso é tirado a forceps. Ver uma comédia de 1960 ou de 1940 é se deparar com coisas que davam gargalhadas a um tipo de pessoa que não existe mais. ------------------ Mas como então amar, como eu amo, os filmes dos Irmãos Marx, ou de Preston Sturges, WC Fields e Peter Sellers? Simples. Não procurando neles o riso, mas sim a alegria. Eles possuem uma alegria, uma anárquica postura, que as comédias de 2023 não têm como poder criar. Assistir uma comédia antiga é procurar um remédio para ser menos triste. ----------------------- Com o terror aconteceu o mesmo. Em mundo tão violento e tenebroso, dar medo com uma obra de ficção se tornou tarefa árdua. Se apela então para aquilo que causa nojo, repulsa, o terror se tornou sadismo puro. -------------- É impossível sentir medo assistindo Frankenstein ou Dracula e muito mais impossível vendo os filmes da Hammer. O prazer nesses filmes vem do clima gótico, quando vem. Voce não assiste A Múmia de 1935 para sentir medo, voce assiste para sentir as brumas do gótico, do romantismo em seu espírito original, voce assiste para apreciar, não para sentir medo. ---------------- O fato de ontem eu ter sentido medo, assistindo um filme de terror feito em 1973, dá a esse filme algo de muito raro e especial. A ESSÊNCIA DA MALDADE foi dirigido por Freddie Francis, excelente fotógrafo, mas que como diretor tem vários filmes chatos em seu currículo. Os atores são os mitos Peter Cushing e Christopher Lee. A história, ótima, com várias linhas de ação, fala de um cientista, em 1895, que descobre um esqueleto monstruoso na Nova Guiné. O traz para Londres e então descobre que nele habita a MALDADE. Ao mesmo tempo acompanhamos a história de um médico que administra um hospício, médico que pesquisa a cura da loucura. E há ainda a filha do cientista, tratada com carinho, mas presa em casa. Weeelll.... muita coisa acontece e o filme jamais cai de ritmo. O medo nasce nos 20 minutos finais e não vou contar o que sucede. Apenas digo que o final é aberto, não saberemos o que foi, de fato, tudo aquilo. ------------------- Peter Cushing tem a melhor atuação de sua venerável carreira. Há um momento, em que ele percebe o fracasso de sua vida, em que sua dor, discreta, é tão pungente, isso feito com apenas um close e um gemido, que nos derretemos. Desabamos com ele. Sentimos que não há dor maior que fazer o mal, sem querer, a quem mais queríamos fazer o bem. ----------------- Assisti também dois filmes produzidos pela lenda Val Lewton, um produtor da RKO que fez história nos anos 1940 com uma série de filmes de horror baratos e muito bem produzidos. ASILO SINISTRO, de Mark Robson, diretor que logo pularia para os filmes classe A, é quase insuportável de ser visto, não por causar medo, mas por causar revolta. Ele fala da condição, real, dos loucos em um asilo londrino nos anos de 1780. Nobres visitavam o asilo para rir dos loucos, era uma diversão muito chique... Por aí voce vê a ferida da injustiça que o filme toca. Uma mulher, que tenta ajudar os malucos, é dada como louca e internada à força. Boris Karloff, mais odiável que nunca, é o diretor do hospício. Diz o filme que foi a partir dela que as coisas começaram a mudar. -------------------------- A ILHA DOS MORTOS, feito pela mesma equipe, Lewton e Robson, é bem melhor, e posso o chamar de belo filme trágico e terrível. Na Grècia de 1910, um general durão, mais uma bela atuação de Karloff, vai com um jornalista americano visitar uma ilha. Lá conhecem um grupo de refugiados de guerra que vivem a espera que o conflito termine. Mas então há uma praga, uma onda de septicemia, e vemos o grupo esperar a morte, inevitável, e a morte, dolorosa, que sucede a cada um. O general, Karloff, e mais uma velha grega, acreditam que a morte venha de uma moça, que ela possua o mal em si. O conflito se faz, gente vai morrendo, e o filme, ainda hoje muito original, se conclui em tragédia e surpresa. ------------------- Esses filmes que citei me fazem lembrar, mais uma vez, o quanto um bom roteiro faz de um filme 80% bom ou 100% ruim. Não há como salvar um filme com roteiro ruim, e um bom escritor faz de um filme uma garantia de uns 80%. Esses filmes têm boas histórias, bons diálogos e boa ação. Asssita.
O HOMEM QUE AMAVA AS MULHERES - FRANÇOIS TRUFFAUT
Fosse feito em 2023, seria este filme de uma chatice exemplar. O personagem central, feito por um perfeito Charles Denner, teria toda sua caça às mulheres feita em uma tela e todo o filme se passaria no seu quarto. Pior e mais provável, haveria uma redutora explicação médica a seu comportamento, ele iria se tratar e se "curar" e caso fosse um filme da Netflix, o conquistador masculino seria um vilão. Vivemos em um mundo muito policiado e por isso muito chato. ------------------------- Este é, na verdade, um dos melhores filmes de Truffaut, e como foi feito nos anos 70, ele evita simplificar. O personagem é um homem que ama as mulheres. É isso e é mais que isso. Ele as persegue na rua, as caça, mas nunca deixa de ser um cavalheiro. Não há o menor sinal de violência. Ele não quer relacionamentos íntimos, ele quer encontros carinhosos e sexuais. Não há tara, estamos longe do mundo dos vídeos pornô. Ele é, assim como era Truffaut, um homem do século XVIII. Um galanteador do mundo de Laclos. Um não romântico, racional e apaixonado. Este é, ao lado dos INCOMPREENDIDOS, o mais auto biográfico dos filmes de Truffaut. ------------------ Inclusive ele intuiu sua morte. Truffaut morreria jovem, em 1984, apenas sete anos após este filme. Caso voce não saiba, ele deveria estar dirigindo filmes até os anos 90. Ele era mais jovem que Godard. Mais jovem que Clint Eastwood. ----------------- Há um enterro onde vão apenas mulheres. Então se conta a história daquele que lá está sendo enterrado. Um homem de 40 anos, que não resiste ás mulheres, que vive para elas, que vê a beleza em cada uma delas, que não tem um tipo preferido, que adora a feminilidade. Quem leu a bio de Truffaut sabe: é ele. O diretor que se apaixonou por todas as atrizes de seus filmes. Que ia quase diariamente ao bordel. Que via nas mulheres mistério e encanto, a razão maior de sua vida. Sim, um homem que sabia a verdade: elas são totalmente diferentes dos homens. Felizmente. ---------------------- Acompanhamos seus encontros, as ruas, as casas delas, a casa dele, e o filme jamais cansa. Quando Truffaut acerta ele é o mais leve dos diretores. E aqui ele acerta. O filme é quase um ballet sem dança. Ophuls está muito presente aqui. O personagem chega a viajar quilômetros apenas para conhecer uma moça que ele viu cruzar a rua. Ele investiga, procura, descobre e encontra. fato: sua vida é um sucesso. -------------------------- Fosse feito em Hollywood, todas as atrizes seriam lindas ( ou pretensamente lindas ), aqui não. Algumas são bonitas, Brigitte Fossey é linda, mas outras são esquisitas, feias até. Isso faz do filme algo real e melhor que tudo, expõe a verdade do homem, ele ama a feminilidade, em toda sua manifestação. ---------------------- Ora, eu trabalho com adolescentes e sei que a maior crise de 2023 é a da masculinidade. Os meninos beijam, transam, como sempre foi, mas há neles uma vergonha, uma tristeza, uma falta de ação que beira o patético. As meninas agem, os meninos aguardam. O personagem de Denner é uma peça de museu. Pior, hoje não pega bem adorar A MULHER. Deve-se adorar o ser humano, fingindo então que mulheres e homens são iguais. Ora....fossem iguais não haveria a atração irresistível. A biologia nos ordena a reprodução. Basicamente é isso. O resto é invenção de nossa mente incansável. ------------------- O personagem não tem filhos. Deveria os ter. ------------------- Eis um belo e simples e grande filme. Procure ver.
THEY ALL LAUGHED - PETER BOGDANOVICH. AME OU DESPREZE.
Feito em 1981, este filme foi talvez o maior dos fracassos de Peter Bogdanovich. Eu o assisti por volta de 2000, em alguma emisorra à cabo e o revi ontem, em dvd. Nos extras, antes do filme, há uma bela entrevista de Peter, feita em 2006 por Wes Anderson. Wes diz que They All Laughed é o mais Jean Renoir dos filmes de Peter, isso porque, como em Renoir, todos os personagens são boas pessoas ( com excessão do marido de Stratten, que mal se vê ), todos são gente que adoraríamos ter como amigos. Além disso, o filme tem apenas um fiapo de enredo, o que importa é a interação entre as pessoas. Aqui, como em Renoir, é mostrado que na VIDA NÃO INTERESSA AQUILO QUE FAZEMOS, MAS SIM A INTERAÇÃO ENTRE EU E VOCE. -------------- O que acontece de "ação" ? Na Nova Iorque de 1981, uma cidade que no filme parece um tipo de paraíso de vida e cor, três homens, detetives, espionam duas mulheres, suspeitas de traírem seus maridos. O que assistimos são as perseguições pelas ruas dessas mulheres, depois o encontro dos detetives com elas em hoteis e bares, restaurantes e taxis, e por fim o amor que nasce entre detetive e esposa infiel. Mas, observe, nada disso importa. Não há suspense ou surpresas, o que interessa ao filme é o amor, e somente o amor. Durante todo o filme as pessoas beijam, trocam de parceiro, riem, levam tombos, correm, fumam, vão para a cama e dão a volta por cima. Se voce deseja ação tradicional, voce irá odiar este filme. Mas se voce ama ver gente adorável "vivendo", voce vai usufruir de duas horas de belo prazer. É um filme onde voce mora, não assiste. ------------- O absurdo do filme é que ele tem um final trágico na vida real. Na época, Peter estava feliz e profundamente apaixonado pela ex poster da Playboy, Dorothy Stratten, que era casada. O filme tem a estreia de Stratten como atriz e SEU MARIDO NA VIDA REAL FAZ O MARIDO CIUMENTO QUE SÓ APARECE EM DUAS CENAS AO LONGE. Pois ele a mataria num acesso de ciúmes e Peter mergulharia numa tristeza que o marcou até o fim da vida. Nunca no cinema houve nada parecido com isso. Em absoluta falta de pudor ou senso de distanciamente, Peter, o amante, faz um filme onde John Ritter, alter ego do diretor no filme, se apaixona por Stratten, que tem um marido ciumento. É absurdo! Mas há mais: o filme tem Ben Gazzara, como outro detetive que investiga a infidelidade de Audrey Hepburn. No processo os dois têm um caso e se separam, ela fica com o marido. Pois bem... na vida real, Ben e Audrey, ambos casados, estavam terminando um caso doloroso entre os dois!!!! Vendo o filme, percebemos a emoção de Audrey ao viver na tela aquilo que ela vivia na vida, e com mesmo ator que ela amava. Sim meu caro, nunca se fez um filme assim...e o mais fantástico é: tudo é feito com leveza e humor. ( Dorothy seria assassinada ao fim das filmagens, antes do lançamento do filme, crime que matou qualquer chance de sucesso da obra ). O assassinato de Stratten daria tema a outro filme, STAR 80, de Bob Fosse, de longe o pior filme de Fosse, um drama pesado que ninguém entendeu porque foi escolhido como tema por Fosse. STAR 80 matou a carreira do seu diretor. Como se não bastasse tudo isso, o filme ainda tem no elenco o filho real de Audrey fazendo um belo latino tímdio, e as filhas de Peter fazendo as filhas de Ben Gazzara. E como uma taxista que vai pra cama sorrindo com todo homem que ela simpatiza, temos Patti Hansen, ex modelo, loura e muito alta, que um ano depois seria a senhora Keith Richards, papel que ela faz até hoje. Ela quase rouba o filme. Bastante masculina e muito bonita, ela tem carisma de sobra. Pena não ter seguido carreira. ------------------- Companheiro de geração e de turma de Copolla, Scorsese, Friedkin e De Palma, Peter teve uma carreira muito mais variada e, porque não dizer?, interessante. Eu amo os riscos absurdos que ele corre, o modo como ele ignora a moda cinematográfica da época, o mundo sem ódio e sem horror que ele sempre nos dá. Este não é um grande filme e talvez nem seja mesmo um bom filme, mas eu amo esta coisa que roda na tela. Tudo que posso dizer é OBRIGADO PETER.------------------------ ps: A TRILHA SONORA É TODA DE CLÁSSICOS AMERICANOS, GERSHWIN ETC....QUE BELA SURPRESA OUVIR, EM TODA A CENA NUMA LOJA DE SAPATOS, ROBERTO CARLOS CANTANDO "AMIGO!!!!!!! A MÚSICA INTEIRA ROLA ENQUENTO COLLEEN CAMP COMPRA SAPATOS. QUE LINDO!
DOIS CLÁSSICOS DE JEAN GABIN: PEPE LE MOKO e TRÁGICO AMANHECER
Cigarro enfiado na boca de lábios muito finos, olhos frios azuis, cabelo claro e expressão dura, ele quase nunca ri, Jean Gabin foi durante décadas a imagem que a França transmitia ao mundo. Ator dramático glacial, ele tinha na voz, soturna, o ar de quem vivia Camus e Exúpery no sangue. Sua presença, imensa, foi influência geral no tipo de ator dos filmes policiais do mundo inteiro, mas na França ele foi mais que isso, ele era o amante que toda mulher queria. ( Seria interessante pensar no que significa a mudança de Gabin para Alain Delon nos anos 60 e 70, e depois para Depardieu nos anos 80 e 90, o que essa mudança no gosto sifnifica. O Gabin de hoje seria quem? ). Jean Gabin era sólido, firme, forte, mesmo sendo nada mais que um gordinho não muito alto. Ver Jean Gabin comer, beber e fumar é um prazer. LE JOUR SE ELEVE ( TRÁGICO AMANHECER ), de 1939, é um dos muitos filmes clássicos que têm Gabin no elenco. Devo aliás dizer que não há ator com maior número de obras clássicas em seu currículo. Marcello Mastrioanni foi eleito recentemente o ator com mais filmes históricos, James Stewart veio em seguida, mas Gabin no mínimo empata com os dois. Como eu dizia, TRÁGICO AMANHECER tem Gabin, e além dele tem Jules Berry e Arletty, dois ícones da época. Marcel Carné, diretor que fez aquele que é o maior filme da história da França, O BOULEVARD DO CRIME, dirige aqui um dos mais deprimentes filmes já feitos. Gabin é um operário, amargo e doente, que se apaixona por uma jovem. Mas essa jovem, que não é fatal, tem um outro. Que o persegue e o provoca. Gabin mata esse rival. E todo o filme é feito de uma sequência de flash backs em que Gabin recorda sua história enquanto a polícia cerca seu quarto. Não há alívio. O filme é duro e frio como aço. Gabin não tem como escapar e sua vida de nada valeu. Tudo deu errado. E eu imagino como este filme, em 1939, deve ter sido uma porrada na cara do público de cinema. Ele tem sexo, tem amoralidade, e a cena final ainda choca: Gabin dá um tiro em seu peito e cai no chão, o despertador toca, é hora dele ir ao trabalho... -------------- Jacques Prévert, um grande poeta, escrevia os roteiros de Carné e isso fazia com que seus filmes fossem muito falados e muito poéticos. Este não foge à regra. -------------------- Mas vamos falar de um filme ainda maior: PEPE LE MOKO é impressionante. Julien Duvivier dirigiu, e ele foi um dos 5 grandes dos anos 30-40. Nos EUA, fugindo dos nazis, conseguiu manter seu alto nível, coisa que Renoir não conseguiu, e ao voltar para a França manteve sua carreira em bom caminho. Duvivier era mestre em editar, em dar ritmo, em visual criativo. Em PEPE LE MOKO, Jean Gabin é Pepe, um bandido. Ele vive em Argel, não esqueça que em 1937 a Argelia era a França, e Pepe se esconde dentro do Casbah, o bairro árabe, intrincado, hiper povoado, sujo, belo, impenetrável. As cenas, muitas, que mostram o povo e a arquiteura do lugar já valem o filme. Paredes brancas, vielas, ciganos, árabes, chineses, negros, é um caleidoscópio de sol tórrido. Voce sente o calor do filme, voce transpira com eles. Pepe é rei, é o chefão, é amado no Casbah. Mas ele não suporta mais ficar preso lá dentro, não poder ir à cidade, ou melhor ainda, à Paris. Então vem a tragédia: um grupo de turistas ricos vai visitar o exótico Casbah e Pepe se apaixona por uma delas. O que era dificil se faz impossível, ele precisa sair para ficar com ela.... É um filme maravilhoso! Sensual, agitado, confuso, trágico e nunca pesado, inexorável. E real, muito real. Gabin-Pepe pode ficar com a mulher que quiser, mas ele escolhe a mais difícil e a polícia o cerca. --------------- O filme noir americano nasceu aqui, em Gabin e em Duvivier e Carné. Bogart era o Gabin americano. Um cinema necessário. Para lembrarmos do que ele foi. E do que poderá, tomara, um dia voltar a ser.
THE RIVER, O GRANDE FILME DE JEAN RENOIR
Um dos maiores desserviços que a crítica presta ao cinema é quando indica, para os novos fãs do veículo, os filmes históricos que eles devem assistir. Eu fico triste quando vejo aquele garoto de 20 anos, que nunca viu nada feito antes de 1990, sendo confrontado com chatices do tipo Pasolini, Rosselini, Godard ou Rivette. O moleque vê esses filmes e toma uma conclusão: Filmes velhos são mal feitos, chatos, não valem nada. Assim se perde um cinéfilo. Infelizmente ele deixa de conhecer o que realmente vale muito: Melville, Becker, Clair, Carné, Clouzot,Ophuls, Monicelli, Zurlini. --------------- Jean Renoir é um desses diretores que os críticos, e principalmente os colegas diretores, colocam lá no alto. Várias vezes é chamado de maior diretor da história. Por seu humanismo, pioneirismo, inconformismo e outros mismos. Auguste Renoir, pai de Jean, foi o pintor mais feliz da história. Auguste não tem uma só pintura triste. Ele exala amor à vida, erotismo, cor, vitalidade bem educada. Seu filho Jean tem tudo isso. E espertamente jamais tentou fazer um equivalente em cinema aquilo que seu pai fazia na pintura. O espírito é o mesmo, mas a forma é outra, Jean Renoir é um realista que vê amor no real. --------------- Assiti nas últimas semanas quase todos os seus filmes. Vinte títulos, que vão do muito chato, A MARSELHESA, ao sublime, THE RIVER. Há muito filme bom. French Can Can se mantém como diversão, A Carroça de Ouro é bonito de se olhar, e seus clássicos são todos ótimos filmes. A BESTA HUMANA é melhor que os dois ícones: A REGRA DO JOGO e A GRANDE ILUSÃO. Feito em 1951, THE RIVER foi filmado na India, em Bengala, e na época foi mal distribuído e portanto, um fracasso. Em 2023 muita gente acha ser este o grande filme de Renoir. Ele é. De tudo que vi, é o único que posso chamar de perfeito e belíssimo. ------------------ Rumer Gooden escreveu o livro, um excelente relato poético sobre sua adolescência na India. O filme é narrado por ela, e certas frases que ela diz, simples, poéticas, são inesquecíveis. O que vemos é uma família inglesa que vive em um casarão às margens de um rio, no estuário de Bengala. São cinco meninas e um menino de 8 anos. O pai, a mãe, um tio e um americano que vem visitar a família. As duas irmãs mais velhas se apaixonam por ele, assim como uma menina hindu, filha do tio, inglês, que foi casado com uma indiana que faleceu. No terço final uma muito inesperada tragédia quebra o idílio, mas a vida segue e a família renasce. O que Renoir nos mostra é, de um modo muito simples, muito tranquilo, a alegria de poder estar vivo. Ele capta como poucos aquilo que não teria a menor importância e lhe dá a dignidade da vida. O que vemos são pessoas, todas boas, toda decentes, tentando viver em paz. Injustamente a morte os visita, mas eles sobrevivem e persistem. Não de forma heroica, nada há de heroico aqui, Renoir nunca é romantico, mas de forma justa, estoica e sempre alegre. É uma vida natural. Como deve e deveria ser. É o rio. Flui. E o filme, digno de seu tema, flui também. ----------------- Claude Renoir, filho de Jean, foi o fotógrafo do filme. É um trabalho sublime. Nada de India hiper colorida, são cores pastel, suaves, como com névoa. O elenco não brilha, parece se divertir. Renoir tinha o dom de descontrair o elenco. O menino parece um menino de fato, as meninas revelam a timidez da idade. A trilha sonora, de cítaras, deve ter causado um choque em 1951. O roteiro, poético sem apelar a sentimentos doces. Bonito, sem jamais parecer embonecado. Penso ser uma pena Renoir não ter se dedicado mais a roteiros como este, trabalhar com crianças, com a memória, com a poesia do exótico. THE RIVER é sua obra prima.
FILMES SEX, DRUGS E ROCKNROLL
Assisto um pacotão de filmes feitos entre 1966-1970 endereçados àquilo que os executivos de Hollywood imaginavam ser "o público jovem". Antes de falar especificamente deles, devo dizer que havia um cinema jovem já em 1962,63, mas eram filmes pequenos, marginais, muitos estrangeiros. O problema é que com o estouro de bilheteria de Bonnie e Clyde e quase ao mesmo tempo de A PRIMEIRA NOITE DE UM HOMEM ( THE GRADUATE ), os chefões finalmente viram que o público que consumia discos às toneladas também ia ao cinema. --------------- Pessoas apenas dez anos mais velhas que os hippies e beats de então não conseguiam enteder a onda que rolava. Viam tudo de fora. Melhor exemplo é o caso de Antonioni, artista que tentou radiografar as cenas inglesa e americana e cometeu os nada "na onda" BLOW UP e ZABRISKIE POINT. O erro do diretor italiano foi tão grande ao ponto de ele querer filmar The Who em ação, gravar os Yardbirds, e só perceber o erro após o filme editado. Mesmo assim alguns jovens viram Blow Up e Zabriskie sob efeito de ácido nos cinemas. 2001 foi um hit entre os doidos. Mas Kubrick sabia tão pouco de rock e de estradas como Antonioni. -------------------- Os filmes que aqui comento são tentativas apressadas de faturar em cima do mundo hippie. Um deles é uma obra prima. Outro é um camaleão cult. Outro é das coisas mais chatas e ridículas já feitas. E há os outros, apenas curiosidades que vão do muito entediante ao interessante. -------------------- BARBARELLA tem Jane Fonda pelada. Henry Fonda teve uma paternidade estranha. Jane ficou pelada e Peter, o outro filho, fumava maconha em todo fotograma dos filmes feitos então. Barbarella é uma chatice canastrona e cafona, de efeitos especiais de mal gosto, ação estática e um humor constrangedor. Foi um fracasso então e hoje não serve nem como nostalgia. Roger Vadim era um impostor. O típico cara mais velho tentando se dar bem na onda jovem. Ele não mergulha no ridículo-festivo-psicótico que fez de Valley Of The Dolls algo horrivelmente delicioso, Vadim fica numa confortável babaquice. Este filme representa o que de pior se fez naquela época. ---------------------- Já EASY RIDER é, visto mais uma vez, uma autêntica obra-prima. Gostei muito mais dele visto pela terceira vez. Há um cena assustadoramente bela. Peter Fonda vai à um bordel, e com as meninas e Dennis Hopper, toma um ácido. A viagem, em um cemitério, é a versão mais real de uma bad trip já filmada. Mas o momento duro e lindo se dá quando Peter-O Capitão América, diz amar sua mãe e ao mesmo tempo briga feio com ela. É cena terrível. Pois quem conhece Peter sabe que sua mãe, na vida real a atriz Margaret Sullivan, se matou nos anos 40 cortando a própria jugular. Relatos da época dizem que a criança Peter Fonda, viu a cena e quase morreu de dor e desespero. Sacou? Peter expõe na tela de cinema uma ferida, terrível, de si mesmo, ou mais que isso, rememora para nós uma possível bad trip vivida na realidade. Mas Easy Rider é mais que isso. É o canto fúnebre da América de Walt Whitman. É filme de uma tristeza comovedora. É a primeira peça de arte a perceber que o movimento hippie era melancólico. Voce sabe, espero, o quanto ele mudou o cinema feito nos USA. Mas mesmo a gente esquecendo isso, vendo o filme apenas como um filme e não como peça histórica, ele é lindo. A câmera gira em círculo, em cena dentro de tenda, e nos faz ver o rosto de cada hippie da comunidade do deserto. E cada rosto é como um monumento. Particular, individual, único. São rostos fora do padrão. É o ápice e também o enterro do movimento começado em 1795, o romantismo anglo-americano. Um adendo especial a Jack Nicholson. Não me lembro de atuação melhor que essa. Jack faz o americano perdido, aquele que tenta viver dentro do sistema e não consegue. É apaixonante o que ele faz aqui. Por fim, 2022 nos mostra, em qualquer manifestação ecológica ou feminista, tudo que estava aqui agora tornado produto e "coisa bacana e a ser incentivada". São as mesmas roupas, os mesmos rostos e as mesmas manias. Porém em 2022 vividas como hábito, como costume, como parte da cadeia de consumo. Easy Rider é uma obra imensa a ser revista e reanalisada sempre. ------------------- VANISHING POINT é um filme que muda a cada revisão. O assiti algumas vezes e a cada vez minha opinião se transforma. Ele foi uma obra-prima para mim. Foi uma chatice sem fim. Foi uma aventura muito boa. Me fez dormir. Hoje eu vi nele um tipo de "grande filme sobre o suicídio". Kowalski quer morrer e se mata. O filme, feito após as mortes de Hendrix e Joplin, fala de um outsider que é alçado à mito pela mídia e morre por isso. Hoje senti o DJ como um vilão. Ao exagerar o valor de um simples piloto, ele o leva à morte. A trilha sonora é maravilhosa. Corra Kowalski, voce é o símbolo de todos nós, corra por todos os infelizes...well....não há, de Hendrix à Cobain ninguém que sobreviva à isso. ------------------------ CANDY é um lixo sem graça feito para mostrar Ewa Aulin pelada. Moderno? Jovem? Jamais! Christian Marquand, seu diretor, era um picareta, um sub Roger Vadim. Caso típico de veterano tentando se dar bem na onda hippie. Tem até Marlon Brando como guru indiano. Um vexame. Apesar de que os 10 minutos iniciais com Richard Burton, como um poeta estrela assediador, serem muito bons.------------------- UM BEATLE NO PARAÍSO. Deus! John Cleese ajudou no roteiro! Como pode ter escrito algo tão sem sal? Peter Sellers, mesmo ele, um gênio do humor, está ruim, é um bilionário inglês que adota um mendigo. O mendigo é Ringo Starr. Daí os dois andam por aí vendo os erros do capitalismo. Pois é.... enquanto eles vêm os erros a gente adormece. ------------------ THE TRIP tem Peter Fonda, pouco antes de Easy Rider, numa trip de LSD. Quem lhe dá a droga e o assiste é Bruce Dern. O diretor é Roger Corman, o cara que deu trabalho aos novatos Coppolla, Bogdanovich etc. A primeira metade é horrenda. Frio, bobo, vazio, chato. Didático até. Mas na segunda parte Peter sai às ruas bem chapado e o filme fica bem legal. Efeitos de cor e movimento que traduzem o estar doido ( nunca tomei ácido, mas quando louco por bebida é daquele jeito que vejo tudo e me sinto ). ------------------------ THE WILD ANGELS fala de Hells Angels, e tem de novo Peter Fonda, Bruce Dern e Roger Corman. Mas é imperdoável. O que vemos? Os caras andando de moto e arrumando brigas. Só isso. Menos ruim é HELLS ANGELS ON WHEELS. O diretor Richard Rush fez carreira e é bom. Jack Nicholson dá profundidade à um frentista que por acaso passa a andar com os Angels. -------------------- Richard Rush fez depois PSYCH OUT, filme que é dos poucos que mostra o mundo hippie de San Francisco por dentro. Jack Nicholson, com rabo de cavalo, é um mega drogado, e o que vemos é sua banda crescer na vida enquanto uma menina surge na "comunidade". É um filme bom. Tem cenas documentais e funciona como nostalgia e como diversão. Sincero, ousa até uma crítica aos próprios hippies mais radicais. E devo dizer: Jack faz qualquer filme crescer.
THE GOOD, THE BAD AND THE UGLY
Por volta de 1972, meu primo cantava o tema de Ennio Morricone enquanto brincava de cowboy. O assobio, e o vocal. Como pode um cara criar uma coisa tão esquisita? "aaaaaa....fiu fiu fiu....aaaaaaa....fiu fiu fiu..." Um moleque no Caxingui de 1972 cantava isso no meio do mato. E eu, com 9 anos, conhecia a canção. Canção? ------------- Nós perdemos a noção conforme o tempo passa. Mas podemos tentar imaginar. Como deve ter sido emocionante, em 1967, entrar numa sala escura, digamos na avendida São Luis, imensa sala, e ser invadido sensorialmente pela primeira audição do tema de Ennio Morricone. E também pelos letreiros do começo do filme. Desenhos de cowboys e sangue que se esparrama. E então o sol inclemente. Alguém já percebeu que o tema do filme é o sol? -------------- Primeiro um fato: Eu não sou fã deste filme. Nem de Sergio Leone. Acho seus filmes longos demais, me cansam. Uma edição faria bem a eles. Eu eliminaria do roteiro toda a história da prisão no acampamento militar. Uns 15 minutos que não fariam falta. Por outro lado eu reconheço sua genialidade. Ver este filme hoje é ver um filme que não envelheceu um só dia. Por isso, apesar de não ser um dos melhores westerns já feitos, é o mais amado pelo público em geral. Ele é contemporâneo. Pois no fundo, no âmago, não é um western. É um filme policial, um filme de samurai, uma comédia, mas não um western. -------------- Já comprei brigas em grupos de amantes de faroeste por isso. Para 90% deles, é este o melhor filme da história. E eu ouso o criticar. Não gosto da paisagem. É óbvio ser a Espanha. Os EUA não têm aquelas plantas, aquelas montanhas, e até a luz é outra. A comida tem batatas!!!! Cowboy não come batatas e muito menos usa prato de barro. As casas são de tijolo e há ainda uma cena entre monges católicos, além do que todos os coadjuvantes nos lembram que o filme é italiano. Se movem como gente de contos de Boccacio e não como americanos. As caras, imensas, são latinas. E na longa cena no deserto a gente percebe que esse deserto tem vegetação. Mas por outro lado.... ------------ Há uma sequência no filme que chega a causar espanto. Cada frame, ou take, é uma foto icônica. Todas viraram monumentos. Lá está o close em Clint. Os olhos. O charuto. A capa de lã. A cara suja de Elli Wallach. O sol. A cara ruim de Lee Van Cleef. Clnt com a capa puxada para trás. O chapéu. Cada segundo é um meme, um poster, uma foto de antologia do cinema. Não há como negar: é um dos filmes mais importantes da história. E nos últimos 60 anos, é o mais central. Mais que Bonnie e Clyde. Mais que 2001. Mais que Mash. Talvez apenas O Chefão de Coppolla tenha tanta centralidade. Nele vemos todo o cinema do futuro. ( Não por acaso é a Bíblia de Tarantino. Tudo o que ele fez está aqui. ) -------------- Leone, dizem, não queria Elli Wallach no filme. Pra quem não sabe, em 1967 ele era o mais famoso dos três. Grande ator de teatro. Grande no cinema. Ele tem uma das melhores atuações cômicas já vistas. Tuco é um palhaço. Tudo que faz dá errado. Sem ele o filme não teria vida. Lee Van Cleef é o ponto fraco do filme. E temos Clint Eastwood, o mito. O imortal. -------------- O filme é feito para amarmos Clint Eastwood. E a questão é: outro ator saberia tomar partido desse papel? Eis o grande mérito de Clint: ele recebe esse presente e sabe o usar. É uma personagem para dar ao ator condição de mito. Clint o toma para si. Sem ele, com um ator sem seu carisma, o filme seria outro. Seria vulgar. Seria vazio. Apenas Steve McQueen teria o dom para tal papel. Mas Steve em 1967 já era uma grande estrela. O que vemos aqui é a construção de uma grande estrela. E nisso o filme é exemplar. ---------------- Toshiro Mifune é o molde de Leone. Seus épicos são o esqueleto dos de Leone. O mesmo tamanho. O mesmo tipo de personagem. A força da música. Clint é um samurai. Por isso a capa. Por isso ele se move como se fosse usar uma espada. Leone intui, genialmente, que o filme de samurai do ocidente é o western. Ele acerta. Clint acerta. O futuro o prova. -------------------- É um grande filme icônico.
A BELEZA SALVARÁ O MUNDO....CONSIDERAÇÕES SOBRE DOIS FILMES QUE TENTAM SER BELOS
Me admira o fato de como a esquerda vive em um mundo completamente diferente do meu. Então, se voce for de esquerda, provavelmente voce não sabe que uma das frases mais amadas pela direita, e que virou mania na rede, é aquela que diz : NADA É MAIS REVOLUCIONÁRIO NO MUNDO DE HOJE QUE A BELEZA. Claro que como esquerdista voce deverá perguntar: DEFINA BELEZA. Nossa resposta é simples: SUA PERGUNTA É FEIA. O fato de voce precisar que alguém te explique o que é belo prova que desse assunto voce nada sabe. Touché! --------------------------- A quantidade de gente hoje, no meio do cinema, que diz amar os filmes de Michael Powell serve apenas para o desvalorizar. É muito provável que o amem pelo motivo errado. Ou pior, digam que sentem amor quando na verdade querem apenas provar ter raízes cinematográficas. Scorsese o amou muito antes da moda. Nos anos 70 ninguém lembrava de Powell porque politicamente ele é direitista. Mas Martin já entendia que a beleza é o bem supremo. O americano nunca mais deixou de crer nisso. Powell felizmente morreu velho. Houve tempo de ganhar homenagens. E se casou com a montadora de Scorsese, a multi premiada Thelma Schoomaker. ( Se escrevi errado é porque voce sabe quem ela é ). ------------------- Rubens Ewald Filho odiava Powell. Ele dizia que o inglês era brega, datado e risível. Sempre gostei do anti intelectualismo de Rubens, ele gostava de filmes por serem bons e apenas por isso. Mas nessa ele nada entendeu. Powell é acima de tudo bonito e logo em seguida divertido. ------------------------ Ontem revi CONTOS DE HOFFMAN, pela quarta vez. Quando o asssiti pela primeira vez, uns dez anos atrás, dormi no meio da exibição. Na segunda tentativa gostei muito e na terceira me emocionei. Ontem pensei no ROXY MUSIC. ------------------------- Roxy Music é uma banda inglesa de rock progressivo e pop. Em seus melhores discos voce nunca sabe se eles estão falando a sério ou se estão brincando. O alvo deles é sempre a beleza, e, como todo homem que entende o que o belo seja, eles jogam ao lixo o pudor e o bom gosto. Bryan Ferry e seus asseclas não temem ser brega. Eles sabem que a beleza moldada em bom tom nunca é totalmente convincente. Se é para chorar, o Roxy derrama rios de dor, e se é pra ser chique, eles misturam tuxedos com purpurina. Os clips de Ferry nos anos 80 e 90 são incrivelmente lindos. E soberbamente bregas. Auto confiança. Ferry é formado em artes plásticas, ele conhece Klimt. --------------------- CONTOS DE HOFFMAN é o maior clip de Bryan Ferry já feito e é a mais bela capa do Roxy Music imaginada. Powell e seu camarada, Pressburger, sempre em dupla, Powell dirigia, Pressburger produzia, os dois escreviam, usam as duas formas de arte mais demodé do século XX: Opera e ballet clássico, e ousam fazer um filme que é um desfile gay de afetação e breguice explícita. É lindo, e por isso é profundamente revolucionário. ------------------------ Scorsese ousou dizer, mais de uma vez, que entre 1942-1952, Powell e Pressburger fizeram a sequência de filmes mais ousada de TODA A HISTÓRIA DO CINEMA. Nem Bergman em 1954-1968 ou Godard em 1959-1967 foram tão longe. Porque isso? ---------------------------- Nessa sequência de filmes não há duas obras que se pareçam. Eles vão de contos das mil e uma noites à romance espiritualista, filme sobre religião e fé e filme sobre o sentido da arte, filme sobre guerra e filme sobre viagem interior. Todos os gêneros, todos os estilos, mas sempre dentro do mundo criado pelos dois, Powell e Pressburger ( assinavam The Archers ): Beleza e fantasia, nobreza e sonho. ------------------------------- CONTOS DE HOFFMAN não hestia em usar pérolas penduradas em óculos cor de rosa, batom e lamê, sedas e veludos às toneladas, penteados esquisitos, vapores e cores berrantes, efeitos sonhadores. É uma busca de beleza epifânica sem trégua. A flecha viaja e o alvo a espera. ------------------- THomas Beecham, talvez o maior maestro da história inglesa rege Jacques Offenbach. Hoffman é uma opereta, e o fato de Powell não ter optado pelos mais "finos" Mozart ou Verdi diz muito sobre sua arte. Ele busca a imagem cinematográfica. Não importa onde. --------------------------- A música é bela, às vezes divina, mas jamais complexa. È o pop do seculo XIX. A fotografia, technicolor farto e generoso, é de Christopher Challis. Moira Shearer dança, Ashton faz a coreografia, Ludmila Tcherina tem uma beleza imorredoura. -------------------- Eu não gosto de ballet clássico e ainda não aceito a ópera, e mesmo assim amo este filme. Porque ele não faz sentido. Não é elegante. Não exibe filosofices. É apenas e tão somente bonito. E é dos poucos filmes que realmente atingem o mundo onírico. É um vasto sonho. E sonhos meu bebê, são bregas. --------------------------------- Depois, com insonia, assisti FANTASIA, o de 1940. Como já esperava, Paul Dukas, Mickey e o Aprendiz de Feiticeiro são a melhor coisa. Stravinsky quase chega lá. E Beethoven é assassinado. A Sexta Sinfonia com unicórnios coloridos, arco íris, crianças com bundinhas de fora, centauros atléticos e centaurinhas de 13 anos, a natureza escorrendo mel e a bondade fake mandando nesse mundo de algodão doce? Deus meu! Eis o mundo PC de 2021 em 1940 !!!!! Quase vomito vendo tamanha bobagem. Pobre Beethoven....
ROAD GAMES ( ENIGMA NA ESTRADA ). AUSTRALIAN MOVIE
Richard Franklin nasceu na Australia e estudou cinema na California. Maníaco por Hitchcock, fez aqui um filme que adapta JANELA INDISCRETA à estrada. Sim, eis a ideia, brilhante: JANELA INDISCRETA levada ao deserto do país, James Stewart se torna uma caminhoneiro que observa, acompanhado por seu cão, os vizinhos de estrada. O resultado dessa ideia é um filme divertido, simpático, bem feito, inteligente e mais que tudo: delicioso. A ideia do cão serve para que o caminhoneiro possa comentar em voz alta, com seu pet e conosco, tudo que ele vê e sente. Stacy Keach faz esse papel e não sei o porque, mas nós sentimos uma gigantesca empatia com ele. É uma atuação brilhante. Ele é um worker americano que emigrou para o país e cita poesia inglesa. É uma alma complexa e simples, rica e comedida. Trabalho genial de Keach. No caminho, ele transporta carne, ele acha que vê um assassinato, como no filme de Hitch. Dá carona a uma dona de casa chatíssima e depois à uma ricaça em busca de aventura. Sim, é Grace Kelly revisitada. Jamie Lee Curtis faz esse papel. Fico surpreso: ela está muito atraente aqui. É outro personagem simpático ao extremo. A interação entre os dois é feita de calor e encanto. E nada forçada. O epílogo é talvez o ponto menos bom do filme. Tentam algo meio gore mas não é o espírito do filme. Na verdade se trata de uma produção leve, cheia de brilho, que voce ama por ser tão relax. A tensão do final é como uma apêndice. ----------------------------------------- Franklin, após este filme, foi convidado à Hollywood e se deu mal lá. Fez Psycho II, que era bom, mas foi mal aceito, e depois mais dois filmes que não deram lucro. Morreu cedo, após voltar ao seu país. Veja este filme de 1981. Voce vai se divertir muito.
PLAN 9.....ED WOOD.....É O PIOR FILME JÁ FEITO?
Assisti muito filme ruim na vida. Lembro de vários. Quando criança eu tive esse desprazer várias vezes. Filmes pavorosos, geralmente feitos nos anos 50, que passavam na Sessão da Tarde. Uma biografia do cantor de óperas Caruso é inesquecivelmente ruim. Dominique, uma xaropada com Debbie Reynolds. Os últimos filmes dirigidos por Jerry Lewis são um pavor ( anos 60 ). Todos os longas dos 3 Patetas. Eles são legais em curtas nos anos 40, os longas, feitos no fim da carreira são de doer. 90% dos filmes do Elvis são das piores coisas já feitas.
Depois comecei a ir ao cinema e a começar a ver filmes de arte e filmes eróticos. Dentre as coisas mais irritantes cito filmes eróticos italianos, aqueles baratos, geralmente passados em conventos ou presídios femininos. No cinema mais familiar, lembro do horrendo Orca, A Baleia Assassina; O ùltimo Magnata, um dos muitos filmes ruins que Anthony Quinn fez; e entre os filmes de arte que vi no cinema nos anos 70, cito Dillinger Está Morto, uma chatice terrível feita por Marco Ferreri; Pai Patrão dos Irmãos Taviani; Casanova de Fellini; O Decameron de Pasolini. Hoje não tenho pudor jeca em dizer que são dos piores filmes que vi.
A pornochanchada brasileira: todos os filmes feitos por Carlo Mossy e David Cardoso. Mas também filmes nacionais metidos a " grandes obras", tipo Aleluia Gretchen, o Filme Falado do Caetano ( esse é hors concours ), Rio Babilônia de Neville de Almeida ( um dos piores diretores que já falou a palavra - Corta! ), todos os filmes dos Trapalhões e todos os coloridos de Mazzaropi, Eu Te Amo do Jabor, e tantos mais...horrores, aquele tipo de filme que a gente olha pro lado e sente pena de quem está ao nosso lado...
Me vem agora à mente vários filmes insuportáveis. Filmes com Jet Li, com Jackie Chan, Chuck Norris, Michael J. Fox, Sean Penn, Nicholas Cage. Tem atores que abusam do direito de fazer filme ruim! Lembro de Gerard Depardieu, De Niro, Michael Caine, Antonio Banderas, Meryl Streep, Audie Murphy, Richard Widmark, Sharon Stone, Kathleen Turner....comédias! Lembro de comédias! Nada pior que uma comédia ruim! Adam Sandler é rei em comédias ruins, mas há também vários pesadelos com Steve Carrel, Mel Brooks, Jim Carrey, James Belushi, Dan Akroyd, Eddie Murphy e vasta quantidade de ex SNL. O Monty Python tem o péssimo Sentido da Vida, Steve Martin Doze é Demais, Rowan Atkinson, Charlie Sheen, Chris Tucker...todos donos de enorme quantia de abacaxis.
Neste século perdi a conta de quantos filmes muito, muito, muito ruins eu vi. Alguns até ganharam Oscar. E é agora que falo de Ed Wood.-----------------
O pior tipo de filme que há, é aquele em que percebemos que o diretor, o produtor, o roteirista, tiveram condições financeiras de fazer um filme passável, não irritante, um filme que não me faça sentir pena da pobre namorada do cara sentado na poltrona ao lado. Mas, por preguiça, cansaço, ou pior que tudo, POR VAIDADE, o diretor entrega um filme chato, tolo, modorrento, infeliz. Os piores filmes não são os mambembes e chatíssimos filmes do Zé do Caixão, ou os policiais nada originais saídos da linha de montagem de Hong Kong. Os piores são aqueles que desrespeitam o público. Que nos agridem, riem de nós, nos enganam, fingem ser o que não são, os pretensiosos. Nada é pior que um pretenso gênio vaidoso com dinheiro para filmar. --------------------------------- Eu nunca havia visto um filme de Ed Wood. Vi ontem Plan 9. Claro que é ruim. Muito ruim. O texto narrado pelo vidente é patético, os diálogos são infantis, os atores parecem amigos gravando curta no celular, os efeitos dignos de crianças de 10 anos. Mas ele não irrita. Eis o porque de seu estranho charme brega. Ele não irrita e nem nos exaspera como um filme ruim de Godard ou de Scorsese faz. E o motivo é simples: Ed Wood não fez cinema. Aquilo não é um filme. É algo que fica entre TV local, um daqueles programas de canais pobres, circo, e vídeo amador em VHS dos anos 80. O que ele faz tem o custo de uma vaquinha entre amigos. Por isso ele não é chato como por exemplo o Fausto de Sokurov ou os últimos filmes de Robert Altman. Não é ruim como esses grotescos filmes sobre mais um teenager deprimido ou mais uma dona de casa viciada. Não é bobo como os filmes de Sofia Coppolla são, e nem exercícios medíocres como mais um diretor vindo do video clip faz. ------------------ Ed Wood está muito abaixo desses todos. Todos eles sabem filmar melhor. Escrevem melhor. E por isso fazem chatices maiores. Ed Wood é inofensivo em sua falta de dom. Nunca é tão chato como Orson Welles em Falstaff. Nunca tão entediante como Claude Sautet. ------------------------------------------------------------------ Peter Bogdanovich disse uma vez que no cinema americano, nada feito entre 1930 e 1940 é irrelevante. Não digo tanto, mas, apesar de ter visto muito filme chato feito nos anos 30, não consigo lembrar um só que possa ser chamado de absolutamente ruim. Sempre há uma trilha sonora, a fotografia, um ator, que o redime. Nada feito em 1937 por exemplo, chega ao nível assustador de MINHA MÃE É UMA PEÇA ou de SHREK 3.
PLAN 9 é outra coisa.
EU CONTRA VOCE. EU COM VOCE.
O ser humano é muito original. É um animal gregário, que necessita estar em grupo, que só é feliz
quando conectado à seus semelhantes, mas ao mesmo tempo ansia por ser único, diferente, original.
A contradição existe desde pelo menos o começo do cristianismo. Na igreja sempre houve a ideia de
rebanho unida aos mártires que se destacavam do grupo, ou aos homens que se isolavam no deserto ou
em cavernas.
Observo agora que em sociedades muito primitivas não existe a ideia de isolamento. Entre indios do
Brasil não se verifica o homem que ansia por sair do grupo, e mesmo na Grécia antiga, nada era pior
que o ostracismo. Ser expulso do grupo era pior que a morte.
Os EUA foram criados conscientemente com a ideia dessa contradição. Sua constituição prega a união
democrática e ao mesmo tempo garante a individualidade. É uma obra perfeita modernista. Pois desde o
romantismo há essa luta interna explícita: fazer parte e ser único, estar sendo apoiado e ser livre.
Se a conciência da morte nos faz humanos, o conflito entre eu e eles nos faz modernos.
Assisti ontem um filme novo com Vin Diesel. O tipo da aventura bem feita que toca em assunto sério. O
tipo de filme que mais gosto hoje, POP e pensante. No filme ele é um soldado morto. Volta à vida com
tecnologia de ponta. Até aí nada demais. Mas ele não sabe que sua memória é manipulada. Implantam novas
memórias nele TODO DIA. A cada novo dia ele crê ter sido casado e que sua esposa foi morta. A cada dia
implantam em sua cabeça um novo assassino, para que desse modo ele mata a cada dia um alvo diferente.
Tenho um amigo, sábio em tecnologia, que trabalha com INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL. Para ele não há dúvida: o
mundo do futuro nos dará a vida eterna e esse mundo será perfeito. Chips apagarão emoções dolorosas e a
tristeza será algo tão arcaico quanto o canibalismo. Mas...e o filme toca nesse ponto, mas e se eu quiser
ser triste? E se eu quiser lembrar da dor? E se eu desejar morrer? Haverá nesse mundo o ponto máximo de
conflito entre o TODO e o EU. E sinto que o EU terá de se radicalizar para sobreviver.
Em 2020 há muito de histeria. Meus amigos mais livres vêm nas máscaras símbolo de domínio. Os mascarados
seriam as primeiras ovelhas do novo mundo. Não acho tanto. Continuo achando que há muito de acidental em
tudo que acontece aqui e agora. Mas a luta está explícita: eu e nós, voces e o que é só meu.
O filme se chama BLOODSHOT e o recomendo.
O FIO DA NAVALHA + GASLIGHT. DIVERSÃO PARA ADULTOS BABY
O FIO DA NAVALHA de W. Somerset Maugham é daqueles best sellers que ninguém mais lê. Maugham, escritor profissional ao extremos, escreveu de tudo: romances, contos, teatro, cinema. Em certo momento, anos 40 e 50, ele era um dos cinco autores mais lidos no mundo. Hoje seus livros não interessam mais. São muito pop para serem estudados pelo povo metido a artista, e muito adultos para serem lidos por quem quer apenas fantasia, afinal, nossos atuais best sellers são todos fantasias sobre horror ou ciência, ou algum tipo de auto ajuda disfarçada.
O FIO DA NAVALHA foi um dos romances formadores em minha vida. Como Zorba O Grego, Cândido, Complexo de Portnoy, são aqueles livros que me fizeram amar a leitura já em minha época de adulto. Se a história de meus livros amados começou com Tom Sawyer e A Ilha do Tesouro, foi com O Fio da Navalha que essa história se confirma. Li 3 vezes e me identifiquei com Larry, o homem que traumatizado pela guerra, passa a vida fugindo do mundo à procura da iluminação. Maugham escreve como quem fala à beira da lareira fumando um cachimbo. Pausado, calmo, jamais cansativo. Literatura de alta gastronomia. Como a de Isak Dinesen. Evelyn Waugh.
Em 1984, Bill Murray, apaixonado pelo livro, fez um filme sobre a obra de Maugham. Larry feito por Bill Murray. Um filme longo e aborrecido. Pior que tudo, metido à arte. Salva-se apenas a Sophie feita por Theresa Russel. Ontem vi a versão de Edmund Goulding, Fox, 1946, época em que a moda Maugham estava no auge. É um típico filme adulto POP de Hollywood. O tipo de filme que hoje só pode ser feito na TV. Estranhamente o filme foca muito mais em Elliot, o velho esnobe, e Maugham, o próprio escritor que conta a história de Larry. Funciona? Muito. Larry no filme se torna aquilo que ele é na vida: personagem esquivo, que surge e desaparece, um solitário. Gene Tierney faz a maldosa ex noiva de Larry. Há que se dizer, Gene Tierney foi a mais bonita mulher do cinema. Estranho fato, todas as divas da tela hoje parecem grotescas. Marilyn, Greta, Marlene, Rita, são como bonecas em show de travestis. Porém Gene Tierney, assim como Grace Kelly ou Jeanne Crain, são tão belas hoje como sempre foram. É um bom filme.
Patrick Hamilton escrevia teatro popular-chique. Esse tipo de teatro hoje sobrevive apenas em alguns musicais. O público era o casal de 35-60 anos, classe média, curso superior, querendo se divertir ao mesmo tempo que usava sua inteligência. O filme Gaslight, direção de George Cukor, Oscar para Ingrid Bergman, é eletrizante. Ingrid é a pobre mulher que quase enlouquece nas mãos de Charles Boyer. NUNCA ME IRRITEI TANTO com um vilão como com esse CRÁPULA feito por Boyer. Não me importa se ele exagera ou não. Eu fiquei a ponto de destruir a TV. Eu o odiei muito! MUITOOOOOOOOOOO!!!!!!!! Ótimo filme. Dizem que a versão inglesa é ainda melhor. Vou vê-la.
Ingrid Bergman? Ela exala sexualidade até quando dorme. Tivesse sido atriz nos mais despudorados anos 60 ou 70, teria enlouquecido homens em salas de cinema. Ela tem traços nórdicos demais, mãos grandes, mas seu olhar e suas cenas de beijo são de absoluta entrega. Sentimos que ela é ultra quente. Aqui ela ganhou seu Oscar, merecido, e os USA se apaixonaram por ela. Ingrid vinha da sequência Casablanca, Por Quem Os Sinos Dobram, Notorious de Hitchcock...difícil achar atriz com sequência de filmes tão icônica. Mas em 48 ela destruiria tudo ao largar marido médico para viver com Roberto Rosselini, logo um italiano!!!! Corajosa Ingrid.
Dois ótimos filmes. Gaslight é melhor.
O FIO DA NAVALHA foi um dos romances formadores em minha vida. Como Zorba O Grego, Cândido, Complexo de Portnoy, são aqueles livros que me fizeram amar a leitura já em minha época de adulto. Se a história de meus livros amados começou com Tom Sawyer e A Ilha do Tesouro, foi com O Fio da Navalha que essa história se confirma. Li 3 vezes e me identifiquei com Larry, o homem que traumatizado pela guerra, passa a vida fugindo do mundo à procura da iluminação. Maugham escreve como quem fala à beira da lareira fumando um cachimbo. Pausado, calmo, jamais cansativo. Literatura de alta gastronomia. Como a de Isak Dinesen. Evelyn Waugh.
Em 1984, Bill Murray, apaixonado pelo livro, fez um filme sobre a obra de Maugham. Larry feito por Bill Murray. Um filme longo e aborrecido. Pior que tudo, metido à arte. Salva-se apenas a Sophie feita por Theresa Russel. Ontem vi a versão de Edmund Goulding, Fox, 1946, época em que a moda Maugham estava no auge. É um típico filme adulto POP de Hollywood. O tipo de filme que hoje só pode ser feito na TV. Estranhamente o filme foca muito mais em Elliot, o velho esnobe, e Maugham, o próprio escritor que conta a história de Larry. Funciona? Muito. Larry no filme se torna aquilo que ele é na vida: personagem esquivo, que surge e desaparece, um solitário. Gene Tierney faz a maldosa ex noiva de Larry. Há que se dizer, Gene Tierney foi a mais bonita mulher do cinema. Estranho fato, todas as divas da tela hoje parecem grotescas. Marilyn, Greta, Marlene, Rita, são como bonecas em show de travestis. Porém Gene Tierney, assim como Grace Kelly ou Jeanne Crain, são tão belas hoje como sempre foram. É um bom filme.
Patrick Hamilton escrevia teatro popular-chique. Esse tipo de teatro hoje sobrevive apenas em alguns musicais. O público era o casal de 35-60 anos, classe média, curso superior, querendo se divertir ao mesmo tempo que usava sua inteligência. O filme Gaslight, direção de George Cukor, Oscar para Ingrid Bergman, é eletrizante. Ingrid é a pobre mulher que quase enlouquece nas mãos de Charles Boyer. NUNCA ME IRRITEI TANTO com um vilão como com esse CRÁPULA feito por Boyer. Não me importa se ele exagera ou não. Eu fiquei a ponto de destruir a TV. Eu o odiei muito! MUITOOOOOOOOOOO!!!!!!!! Ótimo filme. Dizem que a versão inglesa é ainda melhor. Vou vê-la.
Ingrid Bergman? Ela exala sexualidade até quando dorme. Tivesse sido atriz nos mais despudorados anos 60 ou 70, teria enlouquecido homens em salas de cinema. Ela tem traços nórdicos demais, mãos grandes, mas seu olhar e suas cenas de beijo são de absoluta entrega. Sentimos que ela é ultra quente. Aqui ela ganhou seu Oscar, merecido, e os USA se apaixonaram por ela. Ingrid vinha da sequência Casablanca, Por Quem Os Sinos Dobram, Notorious de Hitchcock...difícil achar atriz com sequência de filmes tão icônica. Mas em 48 ela destruiria tudo ao largar marido médico para viver com Roberto Rosselini, logo um italiano!!!! Corajosa Ingrid.
Dois ótimos filmes. Gaslight é melhor.
PARAÍSO INFERNAL ( ONLY ANGELS HAVE WINGS ), O MUNDO DE HOWARD HAWKS
Em dois minutos de filme estamos dentro do mundo de Howard Hawks: vemos um país fictício, uma praia que existe só em Hollywood, gente que não se parece com gente de lugar nenhum e um navio que chega ao porto, um navio que traz mais gente de ficção ao país da imaginação. Esse é o mundo do Howard Hawks maduro, aquele dos últimos vinte anos de vida. Este filme, de 1939, foi feito muito antes dessa fase em sua carreira, mas ele já anuncia o que seria o mais constante Hawks style.
Uma americana desce do navio. Jean Arthur. E ela faz a típica mulher Hawksiana: Tem um passado meio marginal. É forte e independente. Fala o que pensa. E está sempre alegre, apesar da sombra que lhe faz companhia. Essa mulher conhece um grupo de homens. Neste filme, um grupo de aviadores. Eles arriscam a vida entregando cartas numa rota perigosa. É o mundo do melhor livro de Saint Exupéry, Correio Sul. Temos então mais outra marca de Hawks: o grupo de amigos que enfrenta o perigo estoicamente. E por ser um filme típico desse diretor, o filme não terá um alvo. Ele meio que se espalha em pequenos acontecimentos do dia a dia. Um dia a dia excepcional, mas é cotidiano para aqueles homens. Mundo masculino, porém sacudido por uma mulher tão forte quanto eles. Dentro desse mundo há um veterano em decadência física, Thomas Mitchel, um piloto acusado de covardia que deverá se redimir, Richard Barthelmess ( soberbo ), a esposa sexy desse piloto, Rita Hayworth ( nunca mais tão bonita ), e o chefe do grupo, o mais estoico e mais amargo entre eles, Cary Grant ( num papel pouco Cary Grant, e atuando de uma forma contida que convence e muito ).
Se eu contar o que acontece no filme irei falar várias coisas. Mas nenhuma delas poderei chamar de o centro do filme. Howard Hawks não faz filmes com um centro. Rio Lobo, Rio Bravo, Red River, Hatari!, todos são filmes sem um centro, sem um enredo central. Todos são sobre grupos de homens. Todos são tratados sublimes sobre a amizade e a lealdade. John Ford, o diretor que mais invejava e admirava Hawks, tem sempre O Tema. Rastros de Ódio é sobre um cowboy indo resgatar uma menina. E assim são todos os seus filmes. Por isso Tarantino lembra tanto Hawks em modo de pensar um roteiro: ele também não tem um tema definido. São temas. Ou, para quem não gosta, é um monte de papo furado.
Fala-se muito nos filmes de Hawks. Ele ama o diálogo. E essas falas não carregam mensagem alguma. É conversa. Apenas conversa. O sentido não está no que se fala. Ele está em como se fala e com quem se fala. O sentido é o ato de falar, não a palavra. Por isso eu amo tanto seus filmes. Ele não explicita nada, mas também não esconde. Seus filmes são o que vemos e só o que vemos. E que prazer eu sinto em os ver!
A maior beleza é poder ver aquelas pessoas existirem. Alguém disse que em Hatari! sentimos amor por um café da manhã. A melhor cena do filme é ver John Wayne e seus amigos tomando café todas as manhãs. Concordo plenamente. Somos convidados àquele grupo. E nos sentimos bem dentro dele.
Eu seria desonesto se falasse que Hawks nos ensina a ter coragem, a ser viril, a ter estoicismo. Isso é para Ford ou Huston. Hawks não quer ensinar, ele quer deixar um testemunho. Esses aviadores nos apaixonam. Antes o apaixonaram.
Durante o filme, foi a segunda vez que o vi, a cópia é perfeita, cheguei a pensar: Que coisa! Este talvez seja agora meu filme favorito! Nenhum filme de Hawks será o favorito de ninguém. Isso porque eles não são SENSACIONAIS. Mas vários filmes dele estarão entre os mais queridos. Pois eles são um remédio. Nos fazem bem.
Eu realmente amo esse diretor.
Uma americana desce do navio. Jean Arthur. E ela faz a típica mulher Hawksiana: Tem um passado meio marginal. É forte e independente. Fala o que pensa. E está sempre alegre, apesar da sombra que lhe faz companhia. Essa mulher conhece um grupo de homens. Neste filme, um grupo de aviadores. Eles arriscam a vida entregando cartas numa rota perigosa. É o mundo do melhor livro de Saint Exupéry, Correio Sul. Temos então mais outra marca de Hawks: o grupo de amigos que enfrenta o perigo estoicamente. E por ser um filme típico desse diretor, o filme não terá um alvo. Ele meio que se espalha em pequenos acontecimentos do dia a dia. Um dia a dia excepcional, mas é cotidiano para aqueles homens. Mundo masculino, porém sacudido por uma mulher tão forte quanto eles. Dentro desse mundo há um veterano em decadência física, Thomas Mitchel, um piloto acusado de covardia que deverá se redimir, Richard Barthelmess ( soberbo ), a esposa sexy desse piloto, Rita Hayworth ( nunca mais tão bonita ), e o chefe do grupo, o mais estoico e mais amargo entre eles, Cary Grant ( num papel pouco Cary Grant, e atuando de uma forma contida que convence e muito ).
Se eu contar o que acontece no filme irei falar várias coisas. Mas nenhuma delas poderei chamar de o centro do filme. Howard Hawks não faz filmes com um centro. Rio Lobo, Rio Bravo, Red River, Hatari!, todos são filmes sem um centro, sem um enredo central. Todos são sobre grupos de homens. Todos são tratados sublimes sobre a amizade e a lealdade. John Ford, o diretor que mais invejava e admirava Hawks, tem sempre O Tema. Rastros de Ódio é sobre um cowboy indo resgatar uma menina. E assim são todos os seus filmes. Por isso Tarantino lembra tanto Hawks em modo de pensar um roteiro: ele também não tem um tema definido. São temas. Ou, para quem não gosta, é um monte de papo furado.
Fala-se muito nos filmes de Hawks. Ele ama o diálogo. E essas falas não carregam mensagem alguma. É conversa. Apenas conversa. O sentido não está no que se fala. Ele está em como se fala e com quem se fala. O sentido é o ato de falar, não a palavra. Por isso eu amo tanto seus filmes. Ele não explicita nada, mas também não esconde. Seus filmes são o que vemos e só o que vemos. E que prazer eu sinto em os ver!
A maior beleza é poder ver aquelas pessoas existirem. Alguém disse que em Hatari! sentimos amor por um café da manhã. A melhor cena do filme é ver John Wayne e seus amigos tomando café todas as manhãs. Concordo plenamente. Somos convidados àquele grupo. E nos sentimos bem dentro dele.
Eu seria desonesto se falasse que Hawks nos ensina a ter coragem, a ser viril, a ter estoicismo. Isso é para Ford ou Huston. Hawks não quer ensinar, ele quer deixar um testemunho. Esses aviadores nos apaixonam. Antes o apaixonaram.
Durante o filme, foi a segunda vez que o vi, a cópia é perfeita, cheguei a pensar: Que coisa! Este talvez seja agora meu filme favorito! Nenhum filme de Hawks será o favorito de ninguém. Isso porque eles não são SENSACIONAIS. Mas vários filmes dele estarão entre os mais queridos. Pois eles são um remédio. Nos fazem bem.
Eu realmente amo esse diretor.
ACONTECEU NAQUELA NOITE, O FILME MAIS FELIZ DA HISTÓRIA
Em 1934 os EUA eram um país muito, muito triste. Era a nação dos livros de John Steinbeck. Quebrado. Filas de sopa. Muito crime. Suicídios. O país tentava se reerguer e uma das apostas para isso foi a de não permitir que o espírito americano se quebrasse. Os EUA são assim: ao contrário da maioria das nações, quando a coisa aperta eles olham para o espelho e reafirmam aquilo que são. É como se eles necessitassem da crise para se renovar.
O cinema participou dessa recuperação de várias formas. Uma delas foi a de fixar, recordar, afirmar o tal espírito da América. Frank Capra ganhou 3 Oscars durante essa crise. Ninguém fez mais pela democracia americana no cinema. Em 1934 ele ganhou o primeiro de seus prêmios. Aconteceu Naquela Noite foi o primeiro filme a vencer os 5 prêmios principais: filme, direção, ator, atriz e roteiro. Só 39 anos mais tarde, em 1975, Um Estranho no Ninho repetiria esse feito. Seria interessante comparar os dois filmes para ver o que mudou na América. Muito menos do que voce imagina. Ambos os filmes reafirmam o poder do indivíduo contra o sistema. Mas este texto não é sobre 1975. É sobre 1934. E em 34 ainda se podia apostar na alegria.
Uma menina milionária foge do pai para se casar com um playboy. Na fuga ela conhece um jornalista desempregado. Os dois se odeiam e se ajudam. O resto voce já sabe. O tema lhe parece batido? Bem...a teoria literária diz que não existem mais de 20 temas para se narrar e todos estão na Bíblia. Desde os tempos de Lot e Set, a gente repete os temas. O que importa é como esse tema é narrado. Neste filme a narrativa chega à absoluta perfeição.
Observe a edição. Cena a cena voce tem a sensação de que não há um segundo de filme desperdiçado. Ele não é rápido, não é lento, ele é exato. Tudo, tudo o que acontece tem a marca de profundo interesse. Primeiro acerto raro: O filme interessa. Os personagens são interessantes, todo coadjuvante é marcante, e cada diálogo parece ao mesmo tempo real e interessante. O filme é pura fantasia, mas parece realidade. Capra sabia como nenhum outro fazer isso. Seus melhores filmes parecem ser o mundo que queremos crer. Desse modo parecem mais reais que o realismo pode ser. Porque eles são aquilo que vive dentro de nós. Capra sabia, por intuição, qual era a verdade do coração médio. Populista no melhor sentido, ele traduzia em filmes aquilo que restara de bom em meio ao desespero. Isso era magia.
O filme é, durante 90% do tempo, o mais feliz dos filmes. A fotografia brilha. Os contornos parecem de neon. Todos os personagens são vivos, não necessariamente felizes, porém vivos, cheios de energia. Claudette Colbert está frágil e adorável, a rica herdeira mimada que nada sabe da vida. Clark Gable rouba o filme. Ele é duro. Realista. Violento às vezes. E incrivelmente verdadeiro. É o cara que toda mulher queria ter como namorado e todo cara queria ter como amigo. Como Capra conseguiu criar isso? Com cenas despretensiosas e de extrema concisão. Por exemplo, a famosa cena da carona, uma obra prima de tempo e movimento. Toda a sequência da cantoria no ônibus, uma das cenas mais alegres do cinema. O modo como Clark Gable fala do livro que vai escrever, a troca de olhares entre os dois, a maneira como ele estende uma coberta entre os dois. Capra veio do cinema mudo, e como todo diretor que trabalhou só com imagens, ele sabia falar sem som.
Talvez os melhores momentos do filme sejam os mais tristes, os 10% quase ao final. O casal vai chegando ao fim da viagem e a hora da separação se aproxima. Ela toma consciência do que sente e descobre que não quer chegar a seu destino. Observe como o filme muda. A fotografia fica mais escura, sem brilho, dura. Clark perde a agilidade, seu corpo fica pesado. Sentimos na alma a dor de um amor que nasce errado. Eles brigam, óbvio. O filme tem de desabar. Ficamos com raiva. Mas é tudo plano de Capra. Quando o final feliz acontece não nos sentimos enganados, nos sentimos vingados. Tem de ser assim. O fim tem de ser feliz. Não haveria outra possibilidade.
Quando comecei minha coleção de DVDs, já 15 anos atrás, Frank Capra foi um dos últimos dos grandes que assisti. Eu tinha imensa má vontade com ele. Isso porque nos anos 70, quando comecei a ler jornal, críticos de cinema diziam ser ele um direitista quase fascista. Já gente como Rubens Ewald Filho dizia que Capra era um maravilhoso defensor da democracia americana. Direitista, liberal, usando seus filmes para afirmar o valor do individuo contra o sistema. Seguindo a maioria eu o queimei. Como queimei Hawks, McCarey e Ford, todos "de direita". Nos anos 80 essa bobagem se desfez e um diretor passou a ser medido pela sua obra e não por seu engajamento. Mas ficou um resquício em mim. O nome Capra me dava uma sensação de filme velho, piegas, tolo. Que surpresa quando assisti este filme pela primeira vez! Era leve, alegre, jovial, otimista, e celebrava as pessoas comuns, banais, o tal povo.
É um filme festa. E como tal ele nos adverte de que o homem pode ser um ser feito de esperança. De sonho. E acima de tudo, de fé.
O cinema participou dessa recuperação de várias formas. Uma delas foi a de fixar, recordar, afirmar o tal espírito da América. Frank Capra ganhou 3 Oscars durante essa crise. Ninguém fez mais pela democracia americana no cinema. Em 1934 ele ganhou o primeiro de seus prêmios. Aconteceu Naquela Noite foi o primeiro filme a vencer os 5 prêmios principais: filme, direção, ator, atriz e roteiro. Só 39 anos mais tarde, em 1975, Um Estranho no Ninho repetiria esse feito. Seria interessante comparar os dois filmes para ver o que mudou na América. Muito menos do que voce imagina. Ambos os filmes reafirmam o poder do indivíduo contra o sistema. Mas este texto não é sobre 1975. É sobre 1934. E em 34 ainda se podia apostar na alegria.
Uma menina milionária foge do pai para se casar com um playboy. Na fuga ela conhece um jornalista desempregado. Os dois se odeiam e se ajudam. O resto voce já sabe. O tema lhe parece batido? Bem...a teoria literária diz que não existem mais de 20 temas para se narrar e todos estão na Bíblia. Desde os tempos de Lot e Set, a gente repete os temas. O que importa é como esse tema é narrado. Neste filme a narrativa chega à absoluta perfeição.
Observe a edição. Cena a cena voce tem a sensação de que não há um segundo de filme desperdiçado. Ele não é rápido, não é lento, ele é exato. Tudo, tudo o que acontece tem a marca de profundo interesse. Primeiro acerto raro: O filme interessa. Os personagens são interessantes, todo coadjuvante é marcante, e cada diálogo parece ao mesmo tempo real e interessante. O filme é pura fantasia, mas parece realidade. Capra sabia como nenhum outro fazer isso. Seus melhores filmes parecem ser o mundo que queremos crer. Desse modo parecem mais reais que o realismo pode ser. Porque eles são aquilo que vive dentro de nós. Capra sabia, por intuição, qual era a verdade do coração médio. Populista no melhor sentido, ele traduzia em filmes aquilo que restara de bom em meio ao desespero. Isso era magia.
O filme é, durante 90% do tempo, o mais feliz dos filmes. A fotografia brilha. Os contornos parecem de neon. Todos os personagens são vivos, não necessariamente felizes, porém vivos, cheios de energia. Claudette Colbert está frágil e adorável, a rica herdeira mimada que nada sabe da vida. Clark Gable rouba o filme. Ele é duro. Realista. Violento às vezes. E incrivelmente verdadeiro. É o cara que toda mulher queria ter como namorado e todo cara queria ter como amigo. Como Capra conseguiu criar isso? Com cenas despretensiosas e de extrema concisão. Por exemplo, a famosa cena da carona, uma obra prima de tempo e movimento. Toda a sequência da cantoria no ônibus, uma das cenas mais alegres do cinema. O modo como Clark Gable fala do livro que vai escrever, a troca de olhares entre os dois, a maneira como ele estende uma coberta entre os dois. Capra veio do cinema mudo, e como todo diretor que trabalhou só com imagens, ele sabia falar sem som.
Talvez os melhores momentos do filme sejam os mais tristes, os 10% quase ao final. O casal vai chegando ao fim da viagem e a hora da separação se aproxima. Ela toma consciência do que sente e descobre que não quer chegar a seu destino. Observe como o filme muda. A fotografia fica mais escura, sem brilho, dura. Clark perde a agilidade, seu corpo fica pesado. Sentimos na alma a dor de um amor que nasce errado. Eles brigam, óbvio. O filme tem de desabar. Ficamos com raiva. Mas é tudo plano de Capra. Quando o final feliz acontece não nos sentimos enganados, nos sentimos vingados. Tem de ser assim. O fim tem de ser feliz. Não haveria outra possibilidade.
Quando comecei minha coleção de DVDs, já 15 anos atrás, Frank Capra foi um dos últimos dos grandes que assisti. Eu tinha imensa má vontade com ele. Isso porque nos anos 70, quando comecei a ler jornal, críticos de cinema diziam ser ele um direitista quase fascista. Já gente como Rubens Ewald Filho dizia que Capra era um maravilhoso defensor da democracia americana. Direitista, liberal, usando seus filmes para afirmar o valor do individuo contra o sistema. Seguindo a maioria eu o queimei. Como queimei Hawks, McCarey e Ford, todos "de direita". Nos anos 80 essa bobagem se desfez e um diretor passou a ser medido pela sua obra e não por seu engajamento. Mas ficou um resquício em mim. O nome Capra me dava uma sensação de filme velho, piegas, tolo. Que surpresa quando assisti este filme pela primeira vez! Era leve, alegre, jovial, otimista, e celebrava as pessoas comuns, banais, o tal povo.
É um filme festa. E como tal ele nos adverte de que o homem pode ser um ser feito de esperança. De sonho. E acima de tudo, de fé.
MÃE X FILHA. THE BIRDS, UM FILME TERRÍVEL DE ALFRED HITCHCOCK
Há uma corrente crítica que diz que este filme é sobre a frigidez da personagem de Tippi Hedren. Acho isso absurdo. Pois é ela quem sexualiza todo o filme. Como todo grande filme, The Birds nos mostra algo de novo a cada revisão. Ontem eu o revi e percebi algo não notado antes: É uma guerra entre mulheres. E as duas, fêmeas lutando pela posse do personagem de Rod Taylor, invocam a mãe natureza. Os pássaros são os soldados dessa luta cruel.
Tippi é uma menina rica. Visitando uma pet shop, ela conhece Rod, que lá foi para comprar um casal de Passion Birds, nome em inglês de periquitos. Ela o seduz ostensivamente, tanto que viajará 150 km para lhe entregar o casal de passarinhos. Ao cruzar de barco o canal que a levará à casa dele, o primeiro ataque: uma gaivota bica sua testa. Começa a guerra.
A mãe está na casa, e desde a primeira cena vemos a raiva em seu rosto. As duas se odeiam. Sentimos o ar pesar. Jamais se atacam explicitamente, não precisam, há os pássaros. Uma cena perturbadora: após o primeiro ataque á casa, a mãe recolhe cacos de suas xícaras do chão. Meticulosa, ela tenta recuperar a ordem perdida. Voltar ao estado anterior. A namorada do filho a observa. No rosto, desprezo, raiva, nojo até. Hitch, sempre esperto, não foca a cena nelas. Rod Taylor fala sobre o ocorrido, mas a câmera, como quem não quer nada, observa as duas.
O filho vive entre mulheres: mãe, agora uma namorada, a irmã, e uma professora. Muitos filmes de Hitchcock têm mães dominadoras. É sabido que havia um problema entre ele e a mãe. The Birds, feito logo após Psycho, é o mais feroz exemplo de sua neurose. E ao mesmo tempo, é um filme POP. Divertido. Assustador. Um sucesso nas sessões pipoca. Por isso Hitch é único.
O filme tem duas cenas profundamente eróticas. Na primeira, Tippi Hedren é atacada numa cabine telefônica. Os pássaros se chocam, ferozes, contra o vidro. Tentam perfurar seu corpo. Ela se contorce. Na segunda cena, já ao final, os pássaros a atingem. Ela é bicada por todos os lados. Enquanto sangra, ela geme, e em meio aos gemidos, murmura o nome do namorado. Ela geme o nome como quem goza. Hitch consegue o impensável: uma cena de masoquismo, de sexo pervertido em 1963. Os censores viram apenas violência sem sentido. Nós entendemos o que aquilo é. Não é à toa que Bunuel gostava tanto de Hitchcock. O inglês fazia o mesmo que o espanhol. Sem deixar de ser POP.
É um filme perturbador. Não tem trilha sonora. O filme inteiro não se beneficia do clima que a trilha sonora dá. A história é quase nada. O roteiro, simples, talvez o mais simples de toda sua vida. E mesmo assim o filme é grande, vasto, imenso.
No final, Tippi Hedren é carregada por Rod Taylor. Os dois andam com a mãe e a irmã em meio aos pássaros que os observam. Não sabemos se eles sobreviverão. Não sabemos o porque dos ataques. Mas veja: a mãe não tem um só ferimento. E a namorada, talvez esteja morta.
O filme termina assim, inconclusivo. Lembro que quando o vi pela primeira vez, criança ainda, TV Tupi, minha mãe ficou brava com esse final. Eu tremia de medo. Nunca tive tanto medo vendo um filme.
Hoje eles gravariam cenas dos pássaros entrando no ânus das pessoas. Ou comendo seus miolos. Anestesiados por anos de violência televisiva, nossas reações estão cada dia mais enterradas. Em 1974 eu era uma corda de violino. O vento me fazia vibrar. Genial, Hitchcock lidava com nossas cordas usando dedos de solista.
The Birds é um terrível pesadelo.
Tippi é uma menina rica. Visitando uma pet shop, ela conhece Rod, que lá foi para comprar um casal de Passion Birds, nome em inglês de periquitos. Ela o seduz ostensivamente, tanto que viajará 150 km para lhe entregar o casal de passarinhos. Ao cruzar de barco o canal que a levará à casa dele, o primeiro ataque: uma gaivota bica sua testa. Começa a guerra.
A mãe está na casa, e desde a primeira cena vemos a raiva em seu rosto. As duas se odeiam. Sentimos o ar pesar. Jamais se atacam explicitamente, não precisam, há os pássaros. Uma cena perturbadora: após o primeiro ataque á casa, a mãe recolhe cacos de suas xícaras do chão. Meticulosa, ela tenta recuperar a ordem perdida. Voltar ao estado anterior. A namorada do filho a observa. No rosto, desprezo, raiva, nojo até. Hitch, sempre esperto, não foca a cena nelas. Rod Taylor fala sobre o ocorrido, mas a câmera, como quem não quer nada, observa as duas.
O filho vive entre mulheres: mãe, agora uma namorada, a irmã, e uma professora. Muitos filmes de Hitchcock têm mães dominadoras. É sabido que havia um problema entre ele e a mãe. The Birds, feito logo após Psycho, é o mais feroz exemplo de sua neurose. E ao mesmo tempo, é um filme POP. Divertido. Assustador. Um sucesso nas sessões pipoca. Por isso Hitch é único.
O filme tem duas cenas profundamente eróticas. Na primeira, Tippi Hedren é atacada numa cabine telefônica. Os pássaros se chocam, ferozes, contra o vidro. Tentam perfurar seu corpo. Ela se contorce. Na segunda cena, já ao final, os pássaros a atingem. Ela é bicada por todos os lados. Enquanto sangra, ela geme, e em meio aos gemidos, murmura o nome do namorado. Ela geme o nome como quem goza. Hitch consegue o impensável: uma cena de masoquismo, de sexo pervertido em 1963. Os censores viram apenas violência sem sentido. Nós entendemos o que aquilo é. Não é à toa que Bunuel gostava tanto de Hitchcock. O inglês fazia o mesmo que o espanhol. Sem deixar de ser POP.
É um filme perturbador. Não tem trilha sonora. O filme inteiro não se beneficia do clima que a trilha sonora dá. A história é quase nada. O roteiro, simples, talvez o mais simples de toda sua vida. E mesmo assim o filme é grande, vasto, imenso.
No final, Tippi Hedren é carregada por Rod Taylor. Os dois andam com a mãe e a irmã em meio aos pássaros que os observam. Não sabemos se eles sobreviverão. Não sabemos o porque dos ataques. Mas veja: a mãe não tem um só ferimento. E a namorada, talvez esteja morta.
O filme termina assim, inconclusivo. Lembro que quando o vi pela primeira vez, criança ainda, TV Tupi, minha mãe ficou brava com esse final. Eu tremia de medo. Nunca tive tanto medo vendo um filme.
Hoje eles gravariam cenas dos pássaros entrando no ânus das pessoas. Ou comendo seus miolos. Anestesiados por anos de violência televisiva, nossas reações estão cada dia mais enterradas. Em 1974 eu era uma corda de violino. O vento me fazia vibrar. Genial, Hitchcock lidava com nossas cordas usando dedos de solista.
The Birds é um terrível pesadelo.
A MÍDIA CERTA
Não sei se alguém fez a pesquisa, mas é imenso o valor de um DVD. Agora que ele é uma mídia totalmente ultrapassada, digo, sem medo de errar, que ele foi até agora, o melhor meio de se ver um filme e principalmente se aprender sobre o cinema.
Acompanho vários grupos de Blu Ray, e apesar da vantagem de som e imagem, todos reclama dos extras. Eles simplesmente não existem. Ou são raros. Quanto às formas como se vêm filmes na Netflix, bem....nela não existe sequer o pensamento de se educar alguém;
Pois veja...acabo de pegar meu DVD de NORTH BY NOTHWEST de Hitchcock, para rever. Não recordava que eram dois discos. No disco um temos o filme. No disco dois: Documentário sobre Cary Grant. Hora e meia sobre o ator com depoimentos de Peter Bogdanovich, Martin Landau, diversos críticos, tudo narrado por Helen Mirren e Jeremy Northam. Depois um doc sobre Hitchcock. Hora e meia com participação de Camille Paglia, Curtis Hanson, Guillermo del Toro, William Friedkin, Scorsese, Francis Lawrence, e mais um bando de roteiristas e críticos. Acabou? Não. Temos ainda um doc sobre o filme em si e ainda um making of. Qual o valor de toda essa informação? O quanto aumenta para um novato o prazer em ver o filme? Saber o que ele é e o que significa.
A cultura do DVD criou uma geração de cinéfilos jovens, muito bem informados. Um povo que tem hoje por volta de 40 anos. Esta geração dos anos 2000, gente com 20, 22 anos, está sendo jogada aos filmes em nenhuma informação. Sim, voce pode pesquisar e achar tudo isso na rede. Mas se voce não faz ideia de quem seja Cary ou Lehman, o roteirista do filme, a chance de voce pesquisar é zero. O DVD te dava a informação ao lado do filme, na mesma mídia e no mesmo aparelho. Era cultura E prazer.
Uma pena.
Acompanho vários grupos de Blu Ray, e apesar da vantagem de som e imagem, todos reclama dos extras. Eles simplesmente não existem. Ou são raros. Quanto às formas como se vêm filmes na Netflix, bem....nela não existe sequer o pensamento de se educar alguém;
Pois veja...acabo de pegar meu DVD de NORTH BY NOTHWEST de Hitchcock, para rever. Não recordava que eram dois discos. No disco um temos o filme. No disco dois: Documentário sobre Cary Grant. Hora e meia sobre o ator com depoimentos de Peter Bogdanovich, Martin Landau, diversos críticos, tudo narrado por Helen Mirren e Jeremy Northam. Depois um doc sobre Hitchcock. Hora e meia com participação de Camille Paglia, Curtis Hanson, Guillermo del Toro, William Friedkin, Scorsese, Francis Lawrence, e mais um bando de roteiristas e críticos. Acabou? Não. Temos ainda um doc sobre o filme em si e ainda um making of. Qual o valor de toda essa informação? O quanto aumenta para um novato o prazer em ver o filme? Saber o que ele é e o que significa.
A cultura do DVD criou uma geração de cinéfilos jovens, muito bem informados. Um povo que tem hoje por volta de 40 anos. Esta geração dos anos 2000, gente com 20, 22 anos, está sendo jogada aos filmes em nenhuma informação. Sim, voce pode pesquisar e achar tudo isso na rede. Mas se voce não faz ideia de quem seja Cary ou Lehman, o roteirista do filme, a chance de voce pesquisar é zero. O DVD te dava a informação ao lado do filme, na mesma mídia e no mesmo aparelho. Era cultura E prazer.
Uma pena.
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