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LAST YEAR IN MARIENBAD - Official Trailer - 55th Anniversary Edition

O FILME MAIS CHATO DA HISTÓRIA: O ANO PASSADO EM MARIENBAD, ALAIN RESNAIS

Consigo imaginar facilmente gente como Cacá Diegues ou Glauber, se sentindo muito superior ao bradar: Este filme é genial! Abaixo os filisteus! ------------ O filme mais chato do mundo era Lincoln do Spielberg ou aquele do PT Anderson sobre petróleo. São muitos. Mas Marienbad inaugura o filme chato que quer ser chato e tem prazer em ser chato. Filme igreja: ele capta fiéis. E eles amam a purgação que o filme lhes dá. ------------ Atenção! Eu falei "Filme Chato" e não filme ruim. Resnais não fez aqui um filme ruim, ele fez um filme que amola, enche o saco, chateia. Mas que não pode ser chamado de ruim, pois tem imagens lindíssimas ( de Sacha Vierney ) e exala uma elegância chique que nos faz admirar. ------------ Me lembro de uma propaganda de perfume, nos anos 90, quando ainda se podia ser chique, em que se copiava este filme. Era lindo e era engraçado. Qual perfume? Chanel? Gautier? Não lembro... --------------- Eu li um romance de Alain Robbe-Grillet, o autor deste roteiro, nos anos 70. Se chamava PROJETO PARA UMA REVOLUÇÃO EM NEW YORK. Nos anos 70 ainda se editavam livros do tal Nouveau Roman, e Robbe-Grillet era o mais famoso deles ( mas quem ganhou o Nobel foi Butor ). Grillet tinha por objetivo fazer um romance inumano, onde não houvesse gente e sim apenas objetos. Um romance sobre cadeiras, paredes, mesas. Sem ação. Sem enredo. O filme é quase isso, mas Resnais tinha outra aspiração. --------------- Façamos uma experiência: peço que voce recorde agora um amor de seu passado. Lembre do rosto da pessoa. Da voz. E daquilo que ele ou ela fazia. Observe agora: ela está presa dentro de voce. Morta. E é isso que Resnais exibe no filme: aquele palácio é a memória do homem e a mulher foi seu amor. Presa e preso dentro dessa memória, tudo ali se torna uma repetição ao infinito. Não pode haver ação, pois uma lembrança está encerrada, e portanto tudo nela já morreu, terminou. Nossa memória seria um túmulo. --------------- Não se pode chamar de ruim um filme que nos faz pensar isso. Mas nada impede de o chamar de chato. Afinal, ler Kant é bem chato e mesmo assim ele é genial. ----------------- Há quem diga que este é um filme de vampiros, que todos são mortos-vivos, e portanto se trata de um filme de terror. Não nego isso. Como disse, tudo que mora em nossa memória está morto. Os personagens posam, não interpretam, porque não podem mudar-viver-evoluir, estão presos para sempre numa postura fria e sem futuro. Não era isso que o roteirista queria, ele planejara que pessoas e coisas fossem o mesmo, iguais, centrais em condições idênticas, mas Resnais foi além e mostrou que a memória faz de tudo um objeto. ---------------- No mais o Nouveau Roman fracassou porque se voce faz um livro onde não há pessoas, onde tudo são coisas, ora...o leitor fará do homem que escreveu o texto persoangem e heroi do romance. --------------- 1961, ano deste filme, foi momento de onanismo de quem se considerava um aristocrata da mente. Havia em pleno apogeu Bunuel, Antonioni, Godard, Kubrick, Bergman, Cassavetes, Truffaut, e no seu começo Pasolini e Tarkovski. Entre esses nomes que citei tem muito filme bom e Bergman é um de meus ídolos, mas no geral, em 1961, Hitchcock, Huston, Hawks, Wise, e o cinema popular em geral, faziam coisas bem mais interessantes. E mesmo na França, Melville e Malle eram mais instigantes que Godard e Truffaut. --------------- Sim, ele é chato como são Stalker ou 2001. Na verdade é mais chato que esses dois. Mas não dá pra dizer que ele é ruim.

O DOM DE DIZER NADA. FELLINI E OITO E MEIO

1962, ano que nasci, foi um ano muito importante para o cinema. O grande hit foi Lawrence da Arábia, e o fato de um filme tão sofisticado ser o top em bilheteria diz muito sobre o público. Foi ano também de Hatari, Lolita, Dr No, Charada, Os Pássaros. E de dois filmes que foram, sem querer, uma maldição sobre o futuro do meio. O ANO PASSADO EM MARIENBAD foi o filme que deu aos diretores que nada tinham a dizer, a liberdade de filmar o vazio. Inaugurou o filme que pode querer dizer o que voce quiser, pois o vácuo é tão grande que tudo pode entrar nele. Resnais tem o mérito de ter tido a coragem de levar o nada às telas, mas tudo que veio depois, até hoje se usa Marienbad como álibi, é indesculpável. Fellini fez no mesmo ano seu Oito e Meio, filme que nem título tem e que é imensamente maior que Marienbad. --------------------------- Após fazer uma série de filmes memoráveis, todos plenos de narração, Fellini se vê sem inspiração. Nada havia para ser dito. Então ele faz um filme sobre um diretor que nada tem a dizer. E o filme que vemos é um exemplo de anti narração. Na verdade nada acontece no filme. Guido, o diretor, não consegue filmar, e o filme não anda. São duas horas e pouco de um momento congelado no tempo. O cinema, arte do tempo, nega sua identidade. Fellini passaria dez anos sem nada para dizer. Só em 1973 ele sairia dessa impotência narrando suas memórias em Amarcord. ------------------------ Livros sobre a crise de um autor que nada tem a dizer, músicas sobre a falta de sentido da música, filmes sobre o vazio, tudo isso se tornou nos anos 60 um tipo de artifício fácil. Mas todos nunca atingiram a altura de Oito e Meio. O momento vazio, o instante que não passa, em Fellini, em 1962, é cheio de rostos interessantes, de luzes instigantes, de sons inesquecíveis. É o tédio que importa, que vale a pena. Que é eterno. -------------------------- Scorsese escreveu sobre este filme. Ele recorda quando o viu pela primeira vez. Eu o vi em 1980. A Globo ia exibir as 5 da manhã. Fiquei acordado para poder ver. Comecei a assistir no escuro e quando ele terminou fazia calor. O sol e os sons do verão acompanhavam o final do filme. Nunca esqueci esse momento. Era dificil ver um clássico no tempo pré VHS. Tínhamos de contar com a boa vontade da TV. A dificuldade dava aos filmes uma aura de valor. De raridade. Isso aumentava a expectativa. Que podia ser cruel. Cidadão Kane e Dr Fantástico, cercados de ansiedade, foram decepções. Mas Oito e Meio foi tudo que eu esperava. O sacrifício valera a pena.

RESNAIS/ BERTOLUCCI/ HATHAWAY/ TOTÓ/ MARIO MONICELLI

   SIMBAD E O OLHO DO TIGRE de Sam Wanamaker com Patrick Wayne e Taryn Power
Ray Harryhausen produziu e escreveu. E, claro, fez os efeitos especiais. Que não encantam. Ray foi perdendo o jeito conforme o tempo avançava. Seu apogeu se deu entre 1960/1964...aqui estamos em 1977... Nota 2.
   ADRENALINA de Neveldine e Taylor com Jason Statham e Amy Smart
Voces sabem: injetam uma droga num matador profissional. Sua adrenalina não pode parar ou ele morre. Então ele corre, briga, bebe cafeína, faz sexo e briga. O filme é hilário! Tem um milhão de efeitos e todos os vicios do cinema atual: é vazio, sem pensamento, anti-estético e grosseiro. Mas tudo é perdoado por sua falta de pose. Ele se sabe idiota e admite sua popicidade teen. Isso o redime. Como condenar algo que me deu hora e meia de prazer? Nota 6.
   MR.MAGOO  de Stanley Tong com Leslie Nielsen e Kelly Lynch
 Se não é a pior comédia da história...chega perto disso. Leslie era ótimo, mas este filme é uma roubada! Em tempo: Inácio Araújo falou esta semana da boa fase que a comédia viveu nos anos 80. Ele citou Steve Martin, John Candy, Crystal, Murray...Comédias que ainda eram humanas, ainda tinham personagens com alguma profundidade. Ele se esqueceu de Leslie Nielsen. Este filme? Esqueça! Nota ZERO
   POLICIA E LADRÃO de Mario Monicelli e Steno com Totó e Aldo Fabrizi
Seria Totó o maior humorista da história do século XX? Nascido como um nobre italiano, tornado ator, o rosto de Totó, sua voz, os movimentos de seu corpo, são das coisas mais elaboradas, mais encantadoras da arte do riso. Aqui ele é um malandro que vive de golpes. Aldo Fabrizi é o policial que o persegue. Estamos na Roma de 1951. Uma cidade inacreditávelmente pobre. O filme é todo entre lama e favelas. E seu povo. Um pensamento: o povo mais anti-americano do mundo nunca foi o russo. É o italiano. Vemos o porque neste filme. Há um orgulho em se burlar a lei, em não se fazer nada, um prazer no improviso, no diálogo cheio de duplos sentidos, na vagabundagem, na negação a produção e ao tempo como dinheiro. E ao final, o ápice do humanismo, o policial e o ladrão se reconhecem como atores de um mesmo drama, como faces da mesma verdade. Monicelli amava gente. Seu cinema é sempre um olhar amoroso a gente comum. A gente que luta para poder continuar a lutar. Este filme, em que pese o começo hesitante, é maravilhoso! Nota 9.
   VOCÊS AINDA NÃO VIRAM NADA! de Alain Resnais com Pierre Arditi, Lambert Wilson, Sabine Azéma e Michel Picoli
Por quinze minutos o filme parece ser fascinante. Sentimos na tela a inteligência de Alain Resnais. Ele que é um dos mais intelectualizados dos diretores da história. Aos quase cem anos de idade, vemos nesses minutos a promessa de invenção. Como aconteceu com Altman, que morreu mais jovem que 99% dos diretores, Resnais nos provoca e promete. Mas então tudo se arruina. O filme morre em diálogos frios e em truques que se repetem. O tédio chega avassalador. Impossível suportar. Chato, chato e chato. Darei um 4 para Resnais? Ou sairei pela tangente da covardia do sem nota? Não, darei a nota: 3.
   TRAMA MACABRA de Alfred Hitchcock com Bruce Dern, Barbara Harris e Karen Black
É o último filme do mestre e eu lembro das críticas da época: péssimas. Os críticos tinham prazer em falar da pobreza do roteiro e da indigência das imagens. Well...visto hoje, neste tempo de roteiros pobres e imagens banais, este filme parece menos ruim. Mas continua a ser comum. Na verdade ele é como um bom episódio de alguma série de tv. Toda a primeira parte é bem chata, a parte final se encontra em ação interessante e bom suspense. O mestre havia morrido para o cinema em 1964 com Marnie. Deu um suspiro em 1972 com o ótimo Frenesi. Este deve ser evitado. Nota 4.
   EU E VOCÊ de Bernardo Bertolucci
Ainda não estreou aqui. Bernardo achou um jovem ator que tem a cara do Malcolm McDowell da Laranja Mecânica de Kubrick. E o filme é esse rosto. Confesso ser suspeito para falar deste filme. Eu fui aos 15 anos como aquele jovem. Ele usa cabelo longo e tem espinhas. Nas férias finge ir a excursão da escola. Na verdade ele se isola no porão de sua própria casa. Lá, com comida estocada, roupas e bebida, ele pensa poder ser feliz. Mas uma meia-irmã, junkie, surge e muda tudo. O filme termina ( ele é curto ), com David Bowie -Space Oddity. Bertolucci continua adolescente. Isso é emocionante. Ele olha para o garoto como cúmplice. Em 1968 ele filmou Partner, retrato do adolescente de então. Um filme esquizóide e hiper-radical. E desde então ele tem nos dado esses retratos de adolescentes e de seus tempos. Não sei se este jovem é um cara de 2013. Como falei, eu fui como ele e não fui/sou um adolescente de 2013. É um filme modesto, sem compromisso, franciscano, pobre. E que apesar de ter tanta coisa para me agradar me deixou entediado. Fácil saber porque. Se o garoto tem um rosto que funciona, a irmã é uma mala-sem-alça, feita por atriz limitada e pouco marcante. Quando ela surge o filme desaba. Já que o jovem me lembrou McDowell, bem que Bernardo podia ter conseguido uma "Maria Schneider". Nota 6.
   A LEGIÃO SUICIDA de Henry Hathaway com Gary Cooper e David Niven
Hathaway foi um dos grandes diretores de aventura do cinema. Nos anos 30, ele, Wellman e Curtiz criaram toda a forma, todo o molde que seria usado naquilo que até hoje é o filme de aventuras. Um herói solitário e nobre, a ação que irrompe súbita, as façanhas, o humor do amigo do herói, a "mocinha" que o ajuda, o vilão frio e trapaceiro. Esqueça a modernidade, este filme prega o colonialismo desavergonhadamente. Filipinas. Americanos ensinam os "nativos" a se defender. Cooper, sempre elegante e sempre com sua voz firme e o olhar alegre, é um médico que serve o exército. O filme tem assassinatos, doenças, rivalidades, brigas e emboscadas. A ação é muito boa. Uma bela diversão à antiga. Nota 7.

ORSON/ RESNAIS/ WC FIELDS/ JAMES STEWART/ CLINT/ DON SIEGEL

CIDADÃO KANE de Orson Welles com Joseph Cotten e Agnes Moorehead
Em termos estritamente racionais este é o melhor filme do cinema americano. Porque? Porque jamais outro filme usou tanto em tão pouco tempo. Todas as linguagens são usadas sem nunca ter aspecto de citação. É cume soberbo de cultura e jamais parece pedante. Tudo é usado em termos superlativos: roteiro, fotografia, estilo de atuação, música. Há uma exuberancia infinita, exuberancia que só pode ser comparada a certas obras de Goethe e de Shakespeare. Mas veja bem, emocionalmente ele é frio como Thomas Mann ou Góngora. Kane se coloca em Olimpo gélido. Nós o admiramos mas não o amamos. Nota DEZ.
GENGHIS KAHN de Henry Levin com Omar Shariff, James Mason, Stephen Boyd
Grande produção que nunca tenta contar a história de Genghis Khan. O que se conta é uma fábula bastante tola sobre um mongol que aspira unir todas as tribos sob sua liderança. James Mason faz um chinês hilário. O filme é de uma babaquice absoluta. Nota 1.
O ANO PASSADO EM MARIENBAD de Alain Resnais com Delphine Seyrig e Giorgio Albertazzi
Certos críticos dizem que hoje não existem mais filmes dificeis. O que existe é filme desagradável. Explico: os filmes ditos dificeis de hoje, não são dificeis por sua forma ou por sua impenetrabilidade. São dificeis de ver por sua desagradibilidade. Este filme deixa essa questão mais clara. Fora os filmes de Tarkovski, é este o mais dificil filme já feito. Do que trata? O que é? Resnais disse uma vez que se trata de cinema puro. Mas o que é cinema puro? O que vemos é um casal num hotel imenso. Pessoas ao redor. Não há interpretações, os atores posam e declamam ( de um modo chic que seria muito imitado pela publicidade ). O texto, de Alain Robbe-Grillet, fala algo sobre memória. Mas será isso mesmo? Talvez seja o único filme feito em que os protagonistas são os objetos: espelhos, móveis e tapetes. Um filme intransponível. Nota enigmática.
O CAMINHO DE SANTIAGO de Emilio Estevez com Martin Sheen
Emilio poderia ter sido uma estrela nos anos 80. Sheen, que é seu pai, poderia ter sido uma super estrela nos anos 70. Aqui eles se encontram e o filho dirige o pai num filme que fala de filho que morre no caminho de Santiago. O pai vai buscar suas cinzas e resolve fazer o caminho pelo filho. Parece choroso e bobo? Não é. Trata-se de um simples e despretensioso filme de estrada. No caminho o pai faz amizade com holandês doido, irlandês chato e americana neurótica. Nada de muito original, mas o filme se deixa assistir. O final é muito bom. E pasmem! Um filme americano recente que fala sobre a morte!!!! Nota 5.
SE EU TIVESSE UM MILHÃO de vários diretores com estrelas da Paramount
Filme em episódios. O que os une é um milionário que resolve dar um milhão para uma série de estranhos. Vemos o que acontece então. Os melhores episódios são aquele do empregado da casa de porcelana, que de oprimido passa a agressor; do bandido que não tem como gastar o cheque e principalmente o episódio do gênio do humor, WC Fields, em história de um casal que ao ter seu carro abalroado no trânsito compra vários carros para poder bater à vontade em motoristas irresponsáveis. Fields é hilário. Lógico que o filme é desigual, mas esses 3 episódios valem sua restauração. Nota 5.
SORTILÉGIO DE AMOR de Richard Quine com James Stewart, Kim Novak e Jack Lemmon
É sobre uma feiticeira que resolve namorar um mortal. O filme tem um erro terrível: James Stewart. Um ator brilhante, mas que está totalmente deslocado como objeto do desejo de Novak. Sua figura é a de um velho professor de latim, Kim parece louca em amar figura tão pouco sexy. O filme tem aquele visual chic-meio-louquinho de sua época ( 1960 ) e Kim é linda de doer, mas o romance soa falso todo o tempo. Nota 5.
MEU NOME É COOGAN de Don Siegel com Clint Eastwood e Lee J. Cobb
Um ensaio para Dirty Harry. Clint, aos 38 anos, volta da Itália e estrela este policial. Fala de um xerife caipira que vai à New York de 1968 capturar um bandido doidão. A graça do filme está no contraste entre um cowboy violento e a geração de drugs-sex e rocknroll. A melhor cena é a da festa hippie: mulheres nuas, beijos gay, drogas e psicodelismo, e Clint, andando em meio aquilo tudo com chapéu de cowboy e botas. O rosto de Eastwood diz tudo o que ele pensava dos loucos anos 60: lixo. Pauline Kael sempre disse que ele era um fascista, um republicano. Se era ou não isso não importa, mas que o cara tem caráter, tem uma crença, isso ele sempre teve. Nota 6.
VELOZES E FURIOSOS 5 de Justin Lin com Vin Diesel e Paul Walker
O primeiro era divertido. Boas corridas, boa trilha sonora, mulheres legais. Os outros já não eram grande coisa. Este é o fim da picada! O que se passa? Eu não sonho com a volta de filmes como O Poderoso Chefão ou Taxi Driver. Isso seria pedir demais. Mas uma simples aventura como aquelas com Charlton Heston ou James Coburn, seria pedir demais??? Ninguém consegue mais escrever meia dúzia de bons diálogos e criar um herói gostável? Um Duro de Matar, um novo Mel Gibson, um Charles Bronson ! Nada disso aqui. Apenas burrice, podridão e tédio. Nota ZERO.

ONDE VIVEM OS MONSTROS/BULLIT/DIRTY HARRY/RENE CLAIR

ANASTASIA de Anatole Litvak com Ingrid Bergman e Yul Brynner

Chatíssimo sucesso do cinema que décadas depois teve mais sucesso ainda, como desenho Disney. Ingrid ganhou seu segundo Oscar e Yul está especialmente canastrão. Um filme para mocinhas românticas, apenas isso. Nota 2.

ONDE VIVEM OS MONSTROS de Spike Jonze

Descubra a criança que há em você.... Não seria melhor descobrir o adulto que procura nascer ? Pois tudo hoje nos ajuda a "descobrir a criança" ! Somos geração do talco e das fraldas. Não nos cansamos de revisitar o mundo idealizado da meninice. Haja !!!!! O filme nada me surpreendeu, eu já adivinhava que haveria um início cheio de fôlego e uma gradual perda de pique até o final mais ou menos. Sina de diretores formados por clips, uma incapacidade total de contar histórias longas. O visual remete às séries infantis inglesas dos anos 60/70, tipo A FLAUTA MÁGICA...Spike andou as assistindo. Adorei os dez minutos iniciais, depois deu muuuuuito sono.... Nota 4.

NA TRILHA DOS ASSASSINOS de John Frankenheimer com Don Johnson e Penelope Ann Miller

Policial estilo anos 80. Detetive fracassado investiga crimes. A ação é ok. Frankenheimer foi um dos grandes entre 62/72, de repente desandou. Mas isto é bem divertido. E bastante imbecil. 5.
O ÚLTIMO BOY SCOUT de Tony Scott com Bruce Willis
O irmão mais jovem de Ridley fez na sequencia dois bons filmes, este e AMOR A QUEIMA ROUPA. O estilo é cheio de luz, cores, brilho e reflexos, ou seja, publicitário. Mas Bruce nunca esteve tão bem ( lí que Tarantino acha Willis grande ator ) fazendo seu tipo azarado cornudo. O filme diverte muito, tem cenas de ação centradas nos stunt e não em efeitos. Enjoy, é um dos melhores filmes pra homem dos anos 90. Nota 8.
THE LAST WALTZ de Martin Scorsese com The Band
Na história do cinema dois filmes disputam o prêmio de melhor show já gravado, este e STOP MAKING SENSE de Johnathan Demme com os Talking Heads. São completamente diferentes. Demme fez um filme modernista, minimalista e esquizo; Martin nos dá um filme que reflete aquilo que é The Band, o filme é direto, simples, objetivo. Fala todo o tempo sobre a amizade. Como música é nota dez, como cinema é 7.
BULLIT de Peter Yates com Steve McQueen, Robert Vaughn e Jacqueline Bisset
O moderno filme policial nasceu com Dirty Harry, mas dois anos antes Bullit abriu o caminho e fez melhor. Nada é mais cool que este filme. Tudo aquilo que ligamos ao que é ser cool está aqui. Em sua trilha sonora ( jazz de Lalo Schifrin, pra mim a melhor trilha de policial da história ), nos carros ( muscle cars, o de Steve é um clássico ) roupas, cenários, silêncios, ressacas. Basta assistir os primeiros cinco minutos de Steve em cena para se entender tudo o que era cool em 1968 e é ainda hoje. Aliás hoje o estilo Bullit é mais cool ainda !
O filme, cheio de ação e com muito poucos diálogos, segue um policial rebelde ( Steve ) investigando coisas da máfia e de política. Tudo com as ruas de SanFran de fundo e Miss Bisset, dona de beleza surreal, enfeitando o apto de Bullit. Yates, diretor inglês muito bacaninha da época, nunca deixa a câmera parada. Ela corre, voa, treme e ginga. Há uma perseguição de carrões pelas ladeiras que dá até frio na barriga. O filme foi hiper sucesso de bilheteria e é um clássico. O tipo de filme que Soderbergh adoraria assinar. Esperto, frio, elegante, viril, ritmado, enfim, cool. Steve McQueen merece seu título, o rei do cool. Nota DEZ !!!!!!!!!
DIRTY HARRY de Don Siegel com ELE.
...é seu dia de sorte ? Depois que Clint disse isso nunca mais o cinema foi o mesmo. Se voce é um dos infelizes que nunca o assistiu e resolver conhecer este lixo delicioso, saiba que para entender a importancia disto é preciso saber que tudo o que voce assistir aqui foi feito pela primeira vez por Harry, o sujo. O sangue, o som do Magnum 44, um policial metendo bala nos meliantes sem dó, a frieza, o politicamente incorreto. Harry mata e mata sem nenhum problema de consciencia, e isso na época causou indignação. Observe como o filme tem poucos tiros. Espertamente eles notaram que um único tiro causa mais impacto que duzentos. E que tiros ! Nós vibramos com eles ! É um filme podre, sujo, muito feio, de humor pesado, cheio de furos no roteiro. Mas é inesquecível, empolgante, viciante. Clint cria um mito moderno e deixa como cria uma penca de heróis ( de Rambo até Matrix, todos têm algo de Harry ). Nota 9.
MAGNUM 44 de Ted Post com Clint Eastwood e Hal Holbrook
Harry em seu segundo filme ( ele é também responsável pela praga das continuações ) enfrenta gangue de policiais justiceiros. O inicio do filme é hilário, um close gigantesco na arma de Harry. O filme é mais ambicioso que o primeiro, mas tem menos suspense. A violência é maior, o impacto menor. Nota 6.
MEDOS PRIVADOS EM LUGARES PÚBLICOS de Alain Resnais com Pierre Arditi, Andre Dussolier, Laura Morante, Lambert Wilson
Resnais melhorou com a idade. Aos quase noventa anos ele domina uma leveza sem igual. Este filme fala do grande tema deste tempo : solidão. Consegue não ser piegas, não ser triste e não ser tolo. Adultos tentando fugir desse fantasma. Não conseguem. O filme é belíssimo. Nota 9.
POR AMOR de Sam Raimi com Kevin Costner, John C Reilly e Kelly Preston
Muita gente não entendeu o porque de Raimi amarrar os melhores anos de sua carreira ao Homem-Aranha. Porque ? Este filme ajuda a responder. Porque Raimi é banal. Este filme tem duas horas de cenas sem qualquer sinal de criação. Tudo é óbvio, previsivel, novelesco. E o tema é bom : jogador veterano recorda sua história de amor enquanto joga sua última partida. ( Baseball ). Costner até não está tão mal, mas o filme é idiota. Começo a pensar que todo diretor de série sabe o que faz ( ou o que não faz ). Talvez Raimi, Bryan Singer, Chris Columbus e agora Christopher Nolan e Gore Verbinski sejam apenas isso mesmo, diretores de séries. Nota 2.
O TEMPO É UMA ILUSÃO de Rene Clair com Dick Powell e Linda Darnell
Clair fugiu dos nazistas e foi filmar nos EUA. Se deu bem. Seus filmes lá são ótimos. Este fala de jornalista que recebe jornal do dia seguinte, ou seja, ele sabe tudo o que vai acontecer antes que aconteça ! Típico tema de Clair : fantasioso e feliz. O filme pede por atores melhores. Um Cary Grant o transformaria em ouro puro, Powell é apenas um tipo de Adam Sandler elegante. Mesmo assim é boa diversão. Nota 7.
FESTIVAL EXPRESS de Al Eamon
Inacreditável !!!! Em 1970 botaram num trem um bando de músicos e os soltaram on the road no Canada para fazerem shows. A idéia era um Woodstock itinerante. É lógico que tudo deu errado. Os hippies enfrentavam a policia, queriam ver os shows de graça. O produtor faliu e os músicos continuaram fazendo a excursão for fun. Muita bebida, muita droga, muito som. O Grateful Dead até que está bem. Era sua fase mais country, mais pop. Buddy Guy é um desastre. Tem ainda o Flying Burrito Brothers sem Gram Parsons, tocando Lazy Day. Nota mil pra eles. Mas tem também a chatérrima Janis Joplin dando seus gritos de sempre. The Band salva tudo : 3 canções de arrasar. Mas o melhor são os bastidores. Músicos totalmente junkies. Um retrato da proto-história do pop. Nota 5.
PS: Meirelles fazendo um filme sobre Janis com a filha do grande Caleb Deschanel ? Tô fora !!!!!

MEDOS PRIVADOS EM LUGARES PÚBLICOS - ALAIN RESNAIS

Sim, nascemos sós e morremos sós. Escovamos os dentes sózinhos e sonhamos solitariamente. Mas há um momento em que essa solidão termina. Nasce a chance do amor.
Cinema francês... faz dez anos que o cinema francês vive um belo momento. Veteranos em atividade digna ( quando não genial ) atores excelentes e novos nomes. Nada digno de Clair ou Clouzot, mas é um cinema que ao contrário do americano, ainda dá espaço para o homem adulto.
Este filme, onde o cenário sempre se parece com uma geladeira chic, e onde a neve não pára de cair, é poema discreto à solidão inenarrável. Todos se movem em células asfixiantes, todos tentam, desajeitados, escapar.
E como é fácil perder o amor ! Uma frase, um lapso, um não-dito... e pluft, foi-se !
Alain Resnais tem carreira que nasce no muito complexo ( Hiroshima e Marienbad ) e ruma a simplicidade. Ele se remoça, se torna cada vez mais leve, vai ao básico. Este filme é todo simplicidade, mas é principalmente elogio ao coração. Judiado coração.
O filme tem algum humor. Mas é melancólico. Patético. E profundamente HUMANO. Na ração de cinema "made in USA", onde até os perdidos têm a cara de George Clooney, é um alívio ver atores que têm rosto de gente. Como nós.
SABINE AZEMA, PIERRE ARDITI, LAURA MORANTE ( belíssima ) ISABELLE CARRÉ, LAMBERT WILSON e principalmente esse mago ANDRÉ DUSSOLIER. Estão superlativos. Trazem nos rostos a marca daquilo que não deu certo. Os diálogos que lhes dão para dizer são perfeitos, ecos de vazios e brilhos de esperança. O desajeitamento do primeiro encontro via internet é antológico.
Os minutos finais, neste muito simples filme, são sim momentos de gênio. O octagenário Resnais dá sua mensagem em cenas de brilho estético intenso e de discreta humanidade. Nada é grande neste filme, tudo é floco de neve.
O fato dele estar ainda em cartaz ( dois anos ? ) depõe a favor desse público. Ainda existe vida adulta nas telas. Ainda há público para este filme.
Nem tudo se perdeu.