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ALDOUS HUXLEY, O CHAPÉU MEXICANO E OUTROS CONTOS.

   Houve um tempo, por volta dos anos 20, em que abundavam revistas que publicavam contos. Havia uma demanda constante por histórias, narrativas que falassem da guerra, de crimes, de horror ou de casos de amor. E algumas revistas, The New Yorker era a melhor delas, que pediam arte. Não havia romancista que não tenha começado como contista e Tchekov era o modelo a ser seguido.
   Ainda bem jovem, Huxley lançou vários contos e este livro compila alguns de seus primeiros. Ainda não é o gênio que escreveu Contraponto, muito menos o autor de ficções perturbadoras sobre a distopia do futuro. Aqui seu objetivo é descrever uma personalidade, um caráter e um momento crucial. São leves, agradáveis, bem escritos e graças a Deus, bem traduzidos. Tio Spencer é de longe o melhor conto, retrato afetivo de uma infância e de uma vida que se choca com a verdade do mundo.
  Huxley nunca é desinteressante.

TCHEKOV. POR QUÊ A RUSSIA?

   Curto e grosso: a Suíça não produz nada de literatura. Ok...você pode citar um Nobel, uns 3 escritores e é só. Jung não vale. Ele é ciência.
   A Russia entre 1840 e 1900 teve Turgueniev, Pushkin, Gogol, Dostoievski, Tolstoi, Tchekov. Apenas 60 anos. Não dá pra explicar isso.
   Comecei o texto tentando uma explicação clássica. A de que um país em confusão propicia o surgimento do gênio. Não cola. A Suíça nem é tão ruim. E vários países em crise não produzem nada. Arrisco uma hipótese que já antecipo ser cheia de falhas. Mas devo tentar.
   A Russia não era, e nunca foi, apenas um país em crise. O país foi sempre protagonista. Mesmo na miséria e em um atraso social absoluto, a nação produziu Pedro e Catarina, Boris Godunov e São Petersburgo. Fatalistas e pessimistas sempre, mas eternamente voltados à grandeza. A nação eslava é o nó que une ocidente e oriente. E portanto, cristianismo e paganismo. Dostoievski amava Cristo e seus escritos são sempre parábolas exacerbadas sobre culpa e remissão. Tolstoi era crente do Deus-Jeová e seguia o cristianismo primitivo. Nesses dois, pontos centrais do romance russo, há o encontro desses dois mundos, a primitiva Russia e a ocidentalizada cristã.
  Turgueniev e Pushkin eram muito mais teístas, e por isso o conflito se dá em um nível mais intelectual. O choque entre o romantismo alemão e o eslavismo sensual oriental. O caso Gogol é o mais enigmático. Ele odiava seu país. E era russo até o mais ínfimo ponto final. Talvez fosse o mais genial entre todos eles.
  Tchekov era moderno. O foco é sempre no ser humano. Médico, ele não julga e não catequiza, descreve. Tchekov não está interessado no sentido da vida, na alma ou no absurdo. Ele está encantado com cada detalhe, com o dia a dia, com o vulgar que se faz único. Ele realmente ama as pessoas, todas elas.
  Ando lendo seus contos. São modernos por serem não sensacionais. Não há heróis. Nem vilões. São pessoas comuns em momentos comuns. Nada de muito especial acontece. Mas por serem observados por um gênio, esses momentos se tornam gigantes. Lemos escutando a voz tranquila do médico Tchekov, homem que viu a miséria debaixo de seu nariz. Como todo homem que convive com a morte e a dor dos outros, ele é modesto. Sabe que nada dura. E essa é a chave de seu universo. Por saber que nada dura, ele tenta fazer durar aquilo que escreve. O autor e seu mundo.
  Tchekov conseguiu. Seu mundo está vivo em 2019.