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GEORGES SIMENON

Um amigo, alguns dias atrás, me pediu dica para algum livro bom de ler. Aquele tipo de literatura que é POP mas não é simplória, que narra uma história com engenho, com arte, com sabedoria. Lhe indiquei Durrell e espero que ele tenha gostado. Estes dias tenho visto alguns filmes baseados em livros de Georges Simenon, e este autor belga é dos grandes narradores do século XX. ----------------- Assim como Durrell e tantos outros, Simenon vendia muito. Seus livros eram achados em bancas de jornal, em supermercados, era motivo de resenhas todo mês. Ele produzia muito e apesar de tão popular, Simenon chegou a ser cotado para o Nobel. Seus romances, quase todos, mas não todos, são policiais e Maigret é o comissário de polícia criado por ele. Se voce pensou nos outros grandes autores policiais, esqueça. Simenon é profundamente europeu. Seus crimes são nada sensacionais, a violência é muito mais moral e espiritual que física, e o aspecto psicológico está sempre em evidência. Maigret é pessimista, pesado, mal humorado, parece lento, ranzinza. Seu método é dedutivo, ele observa, recorda, guarda, rumina. Nada há de Agatha Christie em seus livros, os crimes de Christie são como jogos de salão, Maigret cheira a rua, a porões. Os criminosos são sofridos, rastejantes, poços de dor. ------------ Jean Gabin fez sucesso como Maigret no cinema. Assim como Bogart se tornou Sam Spade e é impossível ler os livros sem imaginar Bogey, Gabin se tornou o corpo e a voz de Maigret. O maior ator francês da história do cinema se move com uma naturalidade espantosa. Para ele, interpretar é como respirar, não há esforço aparente em nada do que ele faz. Os filmes, feitos entre 1958-1962, são diversões maravilhosas.

GEORGES SIMENON E JEAN GABIN

Um fato pouco notado, é que best seller adulto hoje é, acima de tudo, livro de auto ajuda. Romance que vende muito geralmente é juvenil ou pseudo adulto. Estranho pra mim lembrar que quando comecei a comprar livros, anos 70, Somerset Maugham, Graham Greene e Nelson Rodrigues vendiam em banca de jornal. Vendiam muito. Assim como Agatha Christie e o belga Georges Simenon. Em comum com Christie, o fato de que Georges escrevia muito, são dezenas e dezenas de volumes. Ambos se interessavam por crimes. Ambos tiveram vidas longas. Ambos venderam aos milhões. Ela é ainda hoje um nome familiar. Ele está fora de moda. Entre 2009-2010 tive meu momento Simenon. Nunca havia lido. Pensava que deveria se pop demais. Preconceito, óbvio. Esqueci que na época em que ele vivia, seu nome era sempre cogitado ao Nobel. Li seis livros dele, gostei de todos. Católico, sua prosa fala da culpa. Ele não é autor de mistério, o que o interessa é a punição. O preço que se paga por aquilo que se faz. O clima é sempre melancólico. Nada há de sexy em seu universo. Falo de Simenon porque acabo de ver 3 filmes baseados em livros seus. Todos franceses, feitos entre 1959-1963. Todos com Jean Gabin no papel do inspetor Maigret, o personagem icônico que Simenon criou. Os filmes são plácidos. Vemos com interesse, não com emoção. Não há suspense. Tudo é uma marcha rumo ao destino. Maigret é um anjo que decreta a pena. Ver Jean Gabin no cinema é um gosto adquirido. É preciso ter vivido para apreciar seu cansaço. Gabin é cansado. É um cara que viu tudo. Fumaça de Gitanes. Cachimbo. Ele é duro, mas não violento. É viril, mas está longe de ser um cowboy. Não dá socos, impôe respeito. Gabin é uma aula de como ser um homem velho. É sempre digno, seco, comedido. Nunca se revela. Não é fraco, jamais, mas está longe de ser um super heroi. Aliás todo super heroi é um menino frágil. Gabin é adulto. Ver Jean Gabin fazendo Maigret de Simenon é um prazer civilizado.

MAIGRET EM NOVA IORQUE- GEORGES SIMENON

   É meu quarto livro sobre o inspetor Maigret. Simenon, autor popular que foi resgatado por autores ditos sérios, escrevia muito. Era capaz de fazer um livro em quinze dias. Alguns mais ambiciosos, outros não. Irônicamente os livros mais leves são aqueles que sobreviveram. 
   Livros policiais são maravilhosos. E muito dificeis de se escrever. Chandler, Thompson, Hammett, Cain, e os europeus Leblanc, Christie...dá até pra botar Poe e Chesterton no bolo. E nos anos 40/50, Simenon. O que nos seduz em seus livros é a mesma coisa que nos de Conan Doyle, a habilidade em criar ambiente. Lemos e vemos, sentimos aquilo que Maigret vê. O autor nos pega e nos leva a bares, ruas e hotéis, ao porto de New York, aos escritórios suspeitos. A trama, o mistério são secundários. Aqui, como em todo livro policial, o que ressalta é o clima. Por isso o cinema ama tanto esse tipo de literatura. Questão de décor, de movimento, de luz e de sombra.
   O caso, como em todo livro de Maigret, é intrincado e ao mesmo tempo simples. Ele parece complicado, é óbvio. E o óbvio sempre é o mais dificil de se perceber. Sim, muitos já disseram que Simenon foi um autor existencialista. Ora, os existencialistas foram hiper afetados pelos livros policiais! O herói vagando sem familia e sem lar, sem raiz e sem futuro pelas ruas escuras da cidade grande É Sempre um existencialista. Tão existencialista que ele faz, nunca escreve. Ele existe. Até hoje.
   Delicia!