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QUANDO AS MULHERES SAEM PARA DANÇAR - ELMORE LEONARD

Eu gosto de Elmore Leonard. Eu gosto muito dele. É uma relação de afeto. Quando eu leio algum livro seu eu sinto isso. Que ele é o cara. Um tipo de relação com um autor que é rara. Pois eu adoro os livros de Stendhal, por exemplo, mas não sinto nada pelo cara. E amo os livros de Tolstoi, mas acho que não gostaria do homem Tolstoi. -------------- Para o mundo de 2023, a escrita, o estilo de Leonard é o melhor possível. Sejamos realistas, nunca mais teremos autores como Henry James ou Marcel Proust. O artista da palavra, o ourives do verbo, o compositor de sinfonias sem música. No mundo nervoso, apressado, não linear de 2023, existe a escrita infantil, mal cuidada, simplória de tantos autores, a maioria, mas existe também o estilo de Leonard. E como é esse estilo? -------------- As pessoas falam nos livros de Elmore Leonard. E falam como se fala na vida real. Essas pessoas são, que maravilhoso isso!, adultas. Elas não choram, não se lamentam, não culpam os outros pelas merdas que fazem. Elas se viram como podem. Um dom raro: ele é um autor, como são todos os bons escritores da escola americana, que consegue pintar todo um caráter com apenas duas frases. Ele vai no âmago. E seus temas são os momentos decisivos, aqueles que definem um destino. Há violência. Mas não sadismo barato. Há o medo e há o desejo. Mas jamais a pornografia. E há, acima de tudo, o prazer em ler o que ele escreve. ---------------- Quando lemos um bom livro nós vivemos dentro do lugar que aquele texto descreve e convivemos com aquelas pessoas. Nos livros de Elmore Leonard nós vivemos como se dentro de algum filme de Steve McQueen. E pra mim não há melhor lugar na terra que estar dentro de um carro dirigido por Steve McQueen. Aliás meu filme favorito de Steve foi baseado em Elmore. Melhor dizendo, todos os filmes baseados em Leonard são bons. Alguns são ótimos. E esses ótimos são daqueles que eu revejo sem parar. Isso porque o mundo de Elmore é o mundo que importa. --------------- Este livro reúne alguns contos. Todos são puro TNT. Nada forçados. Um universo de homens perdidos, mulheres fortes e lugares vazios. Adultos, sem traços de infantilismo, de pose esnobe, de babaquice. E o melhor de tudo: tem aqueles diálogos afiados, não espertinhos, afiados, verdadeiros, como devem ser. --------------- Então seja esperto e leia Elmore Leonard. Vá direto ao ponto.

The Cincinnati Kid (1965) Official Trailer - Steve McQueen Movie

Junior Bonner (1972) - Trailer

JUNIOR BONNER - CINCINATTI KID, DOIS FILMES COM O REI DO COOL.

Steve McQueen teria, se vivo, a mesma idade de Clint Eastwood. Mas ele morreu em 1980, aos 50 anos. Câncer. É triste imaginar quantos filmes ele teria feito em todos esses anos. Talvez até mesmo houvesse algo com Clint. Rambo foi feito para ele. E com Steve teria sido bem diferente. No cinema de ação dos anos 80-90 ele teria de dado muito bem. E daria aos filmes seu estilo extra ultra cool. Não se preocupe leitor, vou explicar como é esse cool em McQueen. ----------- Vejmos JUNIOR BONNER. Feito por Sam Peckinpah em 1972, não é um filme violento. É Peckinpah em modo leve. McQueen é um cowboy dos anos de 1970. Ele vive na estrada. É famoso em rodeios. Volta à sua cidade. Lá reencontra sua mãe, o pai, o irmão. O pai, Robert Preston, é um paquerador, beberrão, campeão de rodeios aposentado. O irmão, Joe Don Baker, se tornou um comerciante ambicioso. E a mãe, Ida Lupino, é carinhosa e ainda ama o pai de McQueen. Há uma briga de bar, bebida, rodeios, e um touro que McQueen deve domar. Nada no filme é sensacional. Ele é lento. Plácido. Sem nada de incrível ou fora do comum. São pessoas normais em vidas normais em um cenário diferente. O filme não emociona, mas após vê-lo sentimos vontade de continuar dentro dele. E isso se deve a Steve McQueen. Gostamos de o ver na tela. Ele é, de certo modo, um fracasso. Mas o tempo todo ele não sente dor alguma. Há melancolia em Junior Bonner ( o nome do personagem é esse ), há saudade e até solidão; mas Steve lida com esses sentimentos com calma, discressão, sem grandes discursos ou cenas de drama. Ele testemunha os erros da família, ele vence o touro, mas não explode, não faz estripulias, não exagera. Fosse feito por Jack Nicholson, Junior Bonner iria quebrar coisas e rir feito doido, fosse feito por De Niro ele bateria em todos ou partiria em desespero; se Al Pacino iria demonstrar mais inteligência e mais pretensão, mas como Steve ele é cool. Ele fala com o corpo, com o gestual, o modo de andar e de estar na tela. ---------------- Cincinatti Kid é anterior, de 1965, e foi dirigido por Norman Jewison. É uma grande produção com Ann Margret, Edward G. Robinson, Karl Malden. Trilha sonora, exagerada como sempre, de John Willians. O filme começa com um enterro negro em New Orleans. Kid é um campeão de poker. E irá enfrentar o maior de todos, o veterano Eddie G. Robinson. Ann Margret é uma megera que é casada com o bobalhão Karl Malden. O filme é muito, muito bom, e o jogo final é uma aula de edição ( do futuro diretor Hal Ashby ). Steve quer vencer. E se foca apenas nisso. Tudo nele é a espera do jogo, do grande encontro. Há nele uma violência contida que não irá explodir nunca. Ele transa com sua namorada, Tuesday Weld, e com Ann Margret, mas mesmo aí sua mente está no jogo. O estilo de McQueen é diferente do outro filme, Junior Bonner. Aqui ele é mais perigoso, menos melancólico, é angustiado, ambicioso, quase vil. O filme é mais que ele mas é dele. Esse o caráter da grande estrela, tudo se torna dela e só dela. Por maior que o filme seja ele tem um só dono, e não é o produtor ou o diretor, é a estrela. --------------- Steve McQueen não é maior que Clint Eastwood porque não teve saúde para o ser. Mas em 1972 ou 1965 ele era muito maior que Clint. Sua morte deixou um espaço sem dono nas telas. Dúzias de atores tentaram ocupar esse lugar. Não chegaram nem perto.

BE COOL

Em 2005 lançaram a continuação do ótimo filme Get Shorty, o nome era Be Cool. Foi, ao contrário do filme de 1995, um fracasso em box office e crítica. Quanto ao espírito cool, foi perdido. Escrevi no post abaixo sobre a bela fase dos filmes cool feitos nos anos 90. Foi uma década em que o ponto exato desse tipo de produção foi acertada. A raiz do estilo cool são os filmes de assalto e de "golpes" feitos no final dos anos 60 e começo dos anos 70. Trilha sonora, diálogos, tipo de ator, ambientes, tudo é reciclado para o clima do fim do século. Mas, neste bobíssimo filme de F. Gary Gray, a referência deixa de ser Bullit ou O Golpe de John Anderson e se torna o espírito do rap. E o rap ama acima de tudo o Scarface de Al Pacino. Sai Steve McQueen e assume o Pimp. John Travolta é um péssimo ator sempre que se envolve em um péssimo roteiro. Ele não é o tipo que salva um filme. Seu personagem, Chili Palmer, tão genial no filme anterior, é quase um idiota aqui. Não fala nada que se aproveite, não tem muito o que fazer, serve de escada para uma cantora comum ( Cristina Milian ). Uma Thurman tem ainda menos o que fazer. Os dois têm uma cena de dança medíocre ao som de Sergio Mendes. Homenagem constrangedora à Pulp Fiction. Vince Vaughn faz um produtor de discos que pensa ser um negro. Vice imita Gary Oldman no filme de Tony Scott, aquele com roteiro de Tarantino. Porém, Oldman dá uma atuação de gênio naquele belo filme de 1993. Aqui Vince é Vince, um humorista sem graça. O filme tem ainda Cedric The Entertainer, André do Outkast, e The Rock fazendo um guarda costas gay. Steven Tyler aparece no filme. E rolam 3 clips da tal Milian. Sentiu o anti cool de Be Cool? Um filme cool jamais faz força para ser engraçado. Nunca tem frases que parecem propositalmente cool. A discrição e o comedimento são a regra. Aqui tudo é festivo. Um desastre.

ERA UMA VEZ EM HOLLYWOOD...QUENTIN TARANTINO

   1968 teve 2001 de Kubrick. Teorema de Pasolini. Planeta dos Macacos de Schaffner. E O Bebê de Rosemary de Polanski. O polonês era o diretor mais quente entre os bacanas. E sua esposa, Sharon Tate, era vista como sex symbol certo para os anos 70. Sharon havia feito apenas uns 4 filmes. Polanski e Hollywood eram totalmente apaixonados por ela. E então, grávida, ela é morta em casa, num ritual satânico feito por Charles Mason e sua família. ( A família era um bando de teens hippies ). O filme não é sobre isso.
  O filme é sobre o fim de uma era. Um tempo que nasceu mais ou menos em 1956 e durou até 1968. São os anos 60 inocentes. Batman na TV. Séries de faroeste ( chegou a ter 42 em produção ao mesmo tempo ). Tempo de Monkees. Beatles sem brigas. James Bond de Sean Connery. Tarantino ama esse tempo. Onde ainda se produziam os últimos filmes de Hawks. Onde havia dinheiro para aventuras de John Sturges, John Frankenheimer, ou policiais classudos com Steve McQueen.
  Em 1968 tudo mudou. Os hippies e as drogas em porções elefantinas vieram com tudo e a inocência se foi. As roupas também ficaram mais feias. As pessoas ficaram mais feias. Sharon Tate é a inocência que se vai. Trucidada com um filho que nunca vai nascer.
  Tem mais. Leo di Caprio é o ator feito no fim dos anos 50 e que em 68, provavelmente ainda na fase dos 35 anos, já é tratado como um vovô. Ele não entende os novos tempos, não quer entender e sabe que está acabado. Brad Pitt, magnífico, é o cara que anuncia os anos 70: ele se vira. Ele é violento. Ele é só ego. Brad sobreviverá como aquele que se move à margem de 68, fora do palco central. Nem decadente e longe de estar em casa. Ele é o cara de 1977 em 1968.
  Leo é a TV de 1966. Jamais dará o salto para 68. Uma legião de atores não deu. Bandas também.
  O filme não me agradou. Cheguei a sentir um profundo tédio. Adorei a gozação com Bruce Lee. Ele era daquele jeito mesmo, Hiper ego. Adorei a breve cena com Steve McQueen. O ator lembra ele e a fala é soberba. Steve era como o personagem de Brad Pitt, Estava lá em 68, famoso, o maior astro de então, mas ele nada tinha a ver com aquele mundo. Steve era também um cara de 1977.
  O que me entediou foram as longas cenas com filmes dentro de filmes. Não importa como é o western de Leo. Não importa. Queremos a vida deles no agora do filme. Em compensação, há uma cena magistral no reduto hippie da família Mason. Suspense de Hitchcock, Tarantino prova que poderia ir nessa toada em seu próximo filme. Suspense. Clima. Sem sangue. Nada gore.
  Hippies do mal. Tolos e ruins. Vemos seus descendentes pelas ruas até hoje. São aqueles adolescentes enfezados e sempre com ódio. Prontos para atear fogo em algum nazista ou porco. A cena á assustadora.
  Charles Mason tinha uma medíocre banda hippie. Foi recusado por Terry Melcher, produtor dos Byrds. Terry morava numa mansão em Hollywood. Terry alugou a casa para Polanski. A família de Mason trucidou todos na casa achando que eram Terry e seus amigos. Tarantino vai por outro caminho. Ele dá uma modificada. Mas o filme perturba em seu fim aberto...Leo vai para a casa e sabemos o que vai ocorrer lá....Leo vai morrer. Sharon vai morrer.
  Margot Robbie está maravilhosa quando vai ver seu filme no cinema. Sharon era aquilo: a garota pré hippie. A menina de 1966. Apenas alegria, cor e fé na vida.
  Disse que senti tédio. Mas essa é a magia do cinema. No dia seguinte lembro do filme como algo bom, forte, diferente.
  Há filmes que durante duas horas nos empolgam. E depois de poucas horas os esquecemos. E existem filmes que não nos empolgam. Até nos decepcionam. Mas que deixam alguma coisa dentro de nós que dura.
  Este é um desses.

STEVE MCQUEEN/ MITCHUM/ MARK WATERS/ PAUL MACCARTNEY/ SCHWARZA/ VISCONTI

   LIVE AND LET DIE de Guy Hamilton com Roger Moore e Jane Seymour
Para o primeiro filme de Moore como Bond chamou-se Paul MacCartney para fazer a música de abertura. Obra-prima ( a canção ), uma brincadeira sem inspiração ( o filme ). Mesmo assim não é tão ruim como A Pistola de Ouro. As cenas de perseguição, onde se usam carros e lanchas, antecipam o futuro da série, ação sem fim e sem motivo. Mas são boas cenas. Vejo nos extras que a cena em que ele pisa nos jacarés é real ( os jacarés, Bond é um double ). Jane é a mais boazinha das Bondgirls. Destaque para a trilha sonora. John Barry sai e assume George Martin ( o próprio ). A trilha chega a constranger. Mas temos a canção de Paul para salvar as coisas. Roger Moore faz humor. Nota 4.
   HOW THE WEST WAS WON de John Ford, Henry Hathaway e George Marshall
Um filme com mais de 3 horas que em Cinerama ( tipo de tela gigante ), conta a conquista do oeste. Cada diretor pegou um segmento. O elenco é all star: James Stewart, Gregory Peck, John Wayne e vasto etc. A fotografia é deslumbrante. Há tanto para se olhar, tantos detalhes, tanta gente se movendo ao mesmo tempo, que ficamos zonzos. Nas salas de cinema devia ser uma experiência incrível. Assisti em 51 polegadas. OK. A melhor história é sobre os indios e os búfalos. Há outras sobre o rio Mississipi, a guerra civil e a ferrovia. Não é um filme ruim. Nota 5.
   A RAPOSA DO ESPAÇO de Dick Powell com Robert Mitchum, Robert Wagner e May Britt
Pilotos americanos na base do Japão durante a guerra da Coréia. Foi a primeira guerra a usar aviões a jato. Isso dá interesse ao enredo. Mas o filme se prende a caso de piloto veterano-cool com esposa de piloto problema. O primeiro arquiteto do ator cool moderno: Robert Mitchum, o cara nem aí pra nada. Ele salva o filme do melô. A sueca Britt era muito bonita mas não deu certo. A Fox não conseguiu fazer dela uma estrela. Cenas aéreas muito boas. Nota 6.
   O ÚLTIMO DESAFIO de Kim-Jee Woom com Arnold Schwarzenegger, Forrest Whitaker, Rodrigo Santoro e Luis Guzmán
É alguma coisa sobre um xerife de cidadezinha que está na rota de fuga de um traficante chicano. Arnold está lento, pesado e tenta ser um tipo de Clint Eastwood mais gordo. Não consegue. Se salvam ótimas cenas na estrada. O roteiro é previsível, banal, todo cheio de clichés sobre clichés.  Rodrigo faz um latino sexy. Rouba o filme. Nota 1.
   LUDWIG de Luchino Visconti
Em 1973 Visconti fez este absurdo. O que ele queria ao fazer esta coisa flácida, pretensiosa e morta? Visconti crê que Ludwig, rei da Baviera, era um tipo de ingênuo-romântico. Um chato. Fraco, e até meio burrinho. Nem mesmo a fotografia se salva. O filme não tem rumo e nunca diz o que quer. Vago. Visconto se perdeu entre 1964-1974, este filme o prova. Sem Nota.
   O AMANTE DA GUERRA de Philip Leacock com Steve McQueen e Robert Wagner
Um dos piores papéis da vida de McQueen. Deveria ser um tipo de hedonista-hiper-agressivo que se põe a prova na segunda-guerra mundial. Um ás da aviação, agressivo, destrutivo. Mas nada disso fica claro. Tudo é feito sem porque, de forma gratuita e a gente percebe que McQueen não tem material para dar alguma força ao personagem. O anti-herói se torna um tipo de chato-birrento. Visualmente é um bom filme, pena que tão mal escrito. É o único filme de McQueen em que não me senti fascinado por ele. Nota 3.
   MINHAS ADORÁVEIS EX-NAMORADAS de Mark Waters com Mathew McConaughey, Jennifer Garner e Michael Douglas
Um fotógrafo mulherengo vai ao casamento do irmão nerd. Lá ele recebe a visita do tio que fez dele o que é. Calcado no Conto de Natal de Dickens, o filme é a coisa mais pró-casamento imaginável. Quem não se casa é do mal, tem algum problema e queimará no inferno da solidão. São tempos repressivos, em 1973 o homem casado era o tolo da história. O conquistador solteiro era o anti-herói a ser admirado. Tiro pela culatra do filme: a única boa cena ( e que faz rir ) traz o excelente Michael Douglas dando conselhos a seu sobrinho sobre a forma de ganhar as mulheres. Waters já fez bons filmes. Este não é um deles. Jennifer tá magra demais!!!!!! Nota ZERO.

PEDRO MILOS FORMAN/ O MESTRE/ PRESTON STURGES/ STEVE MCQUEEN/ OSCAR 2013

   Antes vou falar sobre o Oscar de amanhã. Bem, cada ano ele se torna mais irrelevante, mas não dá pra ignorar. Neste ano tem um monte de filmes "bacaninhas" e nenhum filme ótimo. Pelo menos não estamos em nivel tão baixo quanto 2011, quando uma série de filmes de arte-lixo-fake concorreu ( e foram derrotados, felizmente, pelo Discurso do Rei, excelente ). Infantil o prêmio se torna cada vez mais, mas ás vezes ele ainda acerta. O melhor filme em inglês do ano não concorre a melhor filme ou direção. Anna Karenina é um filme sofisticado demais para um prêmio que se faz teen. O diretor Joe Wright faz mais um grande filme e dessa vez nos dá o prazer de uma féerie de cores e de sons. Arte superior. Porcos não apreciam pérolas. Dos indicados deve dar Argo, filme que tenho preguiça de ver. Ben Affleck será melhor diretor. Hollywood ama atores que dirigem. Se unirá a Warren Beaty, Clint Eastwood, Mel Gibson, Kevin Costner. Day-Lewis vencerá melhor ator e Emmanuelle Riva a melhor atriz. Anne Hathaway será coadjuvante e Seymour Hoffman o masculino. Ou seja, vai ser tudo um tédio mortal. Dos indicados eu adoraria ver a vitória de Os Miseráveis. É o único indicado que me surpreendeu. Muito melhor do que eu esperava, nada tem de xaroposo. Diretor votaria em Tom Hooper. Assim ele seria o segundo inglês na história a ter dois Oscars ( o primeiro é David Lean ). Melhor ator Hugh Jackman, de longe o melhor. Atriz Helen Mirren em Hitchcock. Jamais daria o coadjuvante para Anne, seria Amanda Seyfried e ator coadjuvante Christoph Waltz. Tá bom? Vamos aos filmes que assisti na semana....
   O MESTRE de Paul Thomas Anderson com Joaquim Phoenix, Philip Seymour Hoffman e Amy Adams
Anderson é um bom diretor mas ele precisa dar um tempo e viajar, descansar, se renovar. Seus filmes sempre foram chatos, mas em troca da chatice nos davam momentos de belo cinema. Ele criava. Ousava. Mas, ultimamente, seus filmes se tornam cada vez mais crispados, áridos, mal-humorados, solenes, quase mortos.  O cinema de Anderson sempre foi cristão. Todos os seus filmes falam sobre a perda do pai, a dor e a ressurreição. Às vezes de forma explícita, como em Magnólia, onde até a passagem bíblica da queda dos sapos comparece. Sangue Negro é o filme em que o diabo vence. Anderson entrega os pontos e admite, gnósticamente, que a partir de certo momento de nossa história Deus foi exilado. Puritano. O cinema de Anderson é hiper-puritano. Hawthorne e Melville são suas fontes. A ironia que dava a força vital a seus filmes vinha de Robert Altman, diretor que foi seu mestre. Boogie Nights e Magnólia são filmes à Altman feitos por um cara que nunca foi doidão. Com o tempo Anderson foi trocando a influência saudável de seu mentor hippie por um cinema mais clássico, um tipo de William Wyler intelectual. Não está dando certo. Mesmo admirando suas intenções, mesmo torcendo por ele, seus filmes são chatos, sempre chatos. Aqui, puritanamente, ele condena os falsos religiosos, os vendilhões do templo. Ótimas intenções, mas o tiro sai pela culatra. O único ser vivo em todo o filme é Seymour Hoffman. Ele parece ser humano e real. Todos os outros são tipos unilaterais, sofrem de sintomas, não são "ricos". Sem nota.
   AS TRÊS NOITES DE EVA de Preston Sturges com Henry Fonda e Barbara Stanwyck
O mundo inteiro não deve estar errado. Todos adoram esta comédia do mais valorizado dos diretores americanos. Mas eu não. Então concluo que o errado deva ser eu. Certo? Fonda faz seu tipo bom rapaz ingênuo, e Stanwyck é uma vigarista que o seduz. É um filme ok, mas não vi sua criatividade tão decantada. Nota 5.
   SHENANDOAH de Andrew V. McLaglen com James Stewart
Se voce suportar a carolice de seu começo, onde Stewart faz um pai de familia, viúvo, voce verá um bom filme de ação em sua parte final.  Ele, Stewart, tenta ser neutro na guerra de secessão, não consegue. A guerra invade sua vida e sua familia se despedaça. É filme da fase final da carreira de Stewart, ele atua no piloto automático, repete as falas como um Lincoln de segunda mão. Mas a parte final é boa, e tem uma bela fotografia. Nota 6.
   CROWN, O MAGNÍFICO de Norman Jewison com Steve McQueen e Faye Dunaway
Um dos filmes mais vaidosos e exibicionistas de todos os tempos. O ano é 1968. Steve McQueen era então O Cara. Uma mistura de Sean Connery com Paul Newmann. O inventor do cool, o feio atraente, o cara muito macho e muito sexy. Ele se exibe como um milionário que se torna fora da lei só para espantar o tédio. Faye vinha de Bonnie e Clyde. Era a atriz da moda. Faz uma sexy e elegante agente de seguros que tenta capturar McQueen. O fotógrafo do filme é Haskell Wexler, o mais moderninho de então. O filme é todo "esperto". A tela dividida em quadros, imagens fracionadas, ângulos arrojados. A trilha sonora é de Michel Legrand. Cheia de bossa, jazzistica, a trilha que hoje Soderbergh adora. E o diretor, Jewison, vinha de sucessos em série. Resultado de tudo isso? Um super-sucesso de box-office. Mas não é um grande filme. Tanta exibição faz dele uma coisa fria, distante, sem emoção. É como ver uma revista de moda, o filme é lindo, chic, gostosão, mas sem mais nada que essa casca. Nota 6.
   PEDRO, O NEGRO de Milos Forman
Uma obra-prima. Finalmente descubro uma obra-prima!!!! Há quanto tempo!!!!! Aleluia!!!!!!!!! Feito na libertária Tchecoslováquia de 1966, Milos Forman com este filme influenciou todo o novo cinema americano de então.  O filme parece documentário, parece reportagem. É jovem, é fresco, é vivo, é maravilhoso. Com câmera na mão e atores de rostos inesquecíveis. Pedro é um adolescente. Ele trabalha como vigia de mercado e tenta engatar namoro. Sempre calado, os enormes olhos em dúvida constante, Pedro é um dos mais perfeitos retratos de um adolescente já vistos em filme. Mas todos os outros também são ótimos. O pai, um durão que não o entende, a mãe, submissa, os amigos, feios, ansiosos, brigões, e as meninas. Há tanto amor pelos personagens que o filme chega a comover. E há humor, o humor tcheco, absurdo, ácido. A cena do Hóy ( quem assistir saberá do que falo ), é uma das mais hilárias que já vi. Creiam-me, é um filme obrigatório. Vendo-o voce entende o quão pouco é preciso para se fazer um grande filme. Voce percebe que arte e diversão podem andar juntas. Melhor que Estranho no Ninho ou que Amadeus, é o grande filme do grande Milos Forman. PS: Maravilhosas cenas nas ruas e nos mercados da Praga de então. Nota DEZ !!!!!!!
  

The Ultimate Steve McQueen Song



leia e escreva já!

STEVE MCQUEEN, O REI DO COOL ( O VERDADEIRO INVENTOR DO QUE CHAMAMOS DE HERÓI )

   No documentário que vi ontem sobre Steve,  há o depoimento de várias pessoas que trabalharam com ele. Lawrence Kasdan nunca teve essa honra, mas, representante da nova geração, ele diz que TODOS os atores de filmes de ação de agora estudam BULLIT, filme de 1968 com Steve, estudam BULLIT centenas de vezes. Eles estudam o modo como Steve olha, o jeito de abrir a porta de um carro, a maneira de andar, de ouvir, e principalmente: como ser cool. De Daniel Craig a Hugh Jackman, de Jason Statham a Clive Owen, todos têm Bullit como sua Bíblia.
   Voce podia achar que esse cara fosse Clint Eastwood. Mas não é. Eu sou louco por Clint, então posso falar com conhecimento, Steve McQueen era um Clint melhor. Melhor como ator. Clint sempre parece falso. Há algo de irônico nele que o distancia de seus filmes, ele se torna frio demais. E além disso, seus momentos de raiva sempre parecem exagerados, quase caricatos. Mesmo assim Clint é sempre uma estrela, um carisma dos velhos tempos, do tipo Gregory Peck ou Gary Cooper. Steve ( e ambos nasceram no mesmo ano, 1930, se vivo Steve teria a idade de Clint ), era mais moderno. Ele nunca parece um ator da velha Hollywood, ele sempre nos lembra que estamos vendo alguém pós-Brando. E quando ele entra na tela a coisa explode. Seus olhos saltam do filme e invadem a sala. Steve McQueen entra em cena e não tem pra mais ninguém, ele roubou cenas de astros como Paul Newman, Frank Sinatra, Dustin Hoffman e Yul Brynner, sem abrir a boca, apenas estando em cena, sem fazer nada, sendo cool.
   A palavra cool, assim como a palavra elegância, tem sido raptada pela midia e transformada naquilo que o produto requer. Mas em sua verdadeira acepção, cool é Steve McQueen em THE GREAT ESCAPE ( cujo personagem se chama Cooler ). É o cara calado, só, que se fode e não perde a pose. Voce pode bater nele, prendê-lo, pressioná-lo ao máximo que ele vai se manter frio, não vai perder a postura. Mas a isso, Steve McQueen adicionou a sensação de que a qualquer momento ele iria explodir. Mas, e é isso que faz dele o rei do cool, essa explosão JAMAIS acontece.
   Ele foi rejeitado. Nasceu em interior pobre filho de mãe solteira. A mãe deixou-o com um tio e se mandou. Depois ela voltou quando ele tinha 15 anos. Steve roubou um carro e a mãe o delatou deixando-o numa instituição de correção. Aos 18 ele foi para os Fuzileiros Navais, experiência que ele adorou. Lá, conseguiu uma bolsa de estudos para qualquer curso que escolhesse. Ele escolheu o curso de teatro, porque era lá que as mulheres estavam. Vivendo em New York, livre, Steve arrasou. Ele transava com todas as mulheres que desejava. Mas logo conheceu uma bailarina ( Nelie ) que foi sua primeira esposa e mãe de seus dois filhos. No inicio muito mal ator, Steve aprendeu a olhar, a escutar, a usar seus olhos perturbadores. Entrou numa série de Tv e lá se tornou O Cara. No cinema, após várias figurações, faz um sci-fi cult ( A Bolha ) e num filme com Frank Sinatra, em papel pequeno, rouba a cena. ( Frank gostou dele, não se importou de ter seu filme roubado. Foi o encontro do rei do cool ( Steve ) com o inventor do cool ). Em 1960  veio outro papel pequeno, e outro filme em que todos só olhavam pra ele. E em 63 THE GREAT ESCAPE, um dos 3 filmes favoritos de Tarantino, e o evento que fez dele o ator mais famoso dos anos 60. Em meio a Paul Newman, Warren Beaty, Brando, Sean Connery, Peter O'Toole e Richard Burton, quem dava as cartas era Steve.
   Brilhou então em THE CINCINATTI KID, talvez o melhor filme sobre poker já feito, em NEVADA SMITH e no CANHONEIRO DO YANG-TSÉ. Em 68, Bullit. BULLIT é o filme de ação que cria o moderno filme de ação: poucos diálogos, história irrelevante, herói quase antipático, nada de gracinhas, aspecto de sujeira nas ruas e nos sets. Toda a ênfase vai para o clima e para as explosões de adrenalina. O filme, maravilhoso, tem a mais mítica das cenas de perseguição de carros e Steve está no auge de seu talento. A gente fica hipnotizado por ele.
   Em seguida veio Sam Peckimpah e o começo do fim. Drogas, sexo e bebidas. Steve rouba do dono da Paramount "apenas" a esposa. Ali MacGraw vinha do sucesso de Love Story e formava com Robert Evans o casal mais poderoso de Hollywood. No filme de Peckimpah ela e Steve se apaixonam. Foram morar juntos. Evans nunca se recuperou. E Steve ainda fez PAPILLON, onde rouba o filme do grande ladrão de filmes Dustin Hoffman ( Steve adorou Dustin. Achava-o o cara mais esquisito do mundo ), e INFERNO NA TORRE, onde a vitima de seu carisma foi Paul Newman. Dois big sucessos.
   O casamento com Ali durou apenas 5 anos. Em 1976 ele se casou pela terceira e última vez. Perdeu o interesse pelos filmes, se isolou com a familia ( familia é o que ele sempre desejou ter ). Em 1980 morreu de câncer. Eu ainda lembro da noticia no Jornal Nacional dada por Cid Moreira, em Outubro. Uma longa matéria sobre Steve.
   O cinema dos anos 80 perdeu Steve McQueen. Talvez ele tivesse feito filmes com Clint Eastwood, com Harrison Ford ou Eddie Murphy ( roubaria todos os filmes ). Certo é que quando morreu ele tinha a proposta de fazer RAMBO. Sim, esse filme poderia ter sido feito por Steve, o que faria do personagem uma coisa totalmente diferente. Steve McQueen, se vivesse tanto quanto Clint, estaria aqui hoje. Tarantino poderia o escalar, não precisaria tentar fazer de Travolta ou de Carradine aquilo que eles nunca foram. E o desenho CARROS poderia ter o personagem McQueen feito pelo próprio.
   Não falei da paixão de Steve pelas motos e pelos carros, de como ele adorava voar com essas motos e viver sempre no limite. Deixo a fala final para seu filho: "Meu pai viveu 50 anos. Cinquenta que na verdade foram cem."  De órfão a delinquente juvenil, de bad boy conquistador a doido dos anos 60, de super estrela do cinema a fazendeiro, de piloto de moto ( ele disputou provas ) a playboy, Steve McQueen foi várias coisas e sempre foi ele mesmo. O rei do cool.

ALTMAN/ LEONE/ FORD/ STEVE MCQUEEN/ MAX VON SYDOW

ERA UMA VEZ NO OESTE de Sergio Leone com Henry Fonda, Jason Robards, Claudia Cardinale e Charles Bronson
Impressiona e muito. Raros filmes são tão bonitos de se olhar. Cada gesto e cada ângulo de tomada é um primor. Apesar de por vezes cansar ( é longo e lento ) não conseguimos desistir de o acompanhar. Seus primeiros trinta minutos são das melhores coisas ( em termos de diversão ) da história da arte. O final deixa saudades. Após ver este filme, o Bastardos de Tarantino lhe parecerá bem menos atraente. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!
ONDE OS HOMENS SÃO HOMENS de Robert Altman com Warren Beatty e Julie Christie
Foi Pauline Kael quem disse que este filme é como viagem de ópio. Revendo-o agora percebo isso. As vozes vêm não se sabe de onde, todos os diálogos parecem distantes, murmurosos. As imagens são embaçadas, desfocadas, estrábicas. Tudo no filme se parece com sonho, é um tipo de longo devaneio sobre o fracasso e sobre a melancolia de se viver sem ninguém. Beatty ( excelente ) é um pseudo-malandro, que chega a vila do Alasca ( o filme tem muita neve ) e monta um bordel. Interesses capitalistas irão lhe destruir. Warren está comovente, seu tipo é de uma doçura/malandrice cativante. Julie faz uma puta pretensiosa e esperta. Sem coração. A trilha sonora é feita por canções de Leonard Cohen. São amargas baladas sobre a solidão e a estrada. Cortam nosso coração, são de uma beleza absurda. Todo o filme é como a música de Cohen: bela preparação para o fracasso. E o filme, feito no auge do sucesso pop de Altman, foi um proposital fiasco. Altman desejou destruir sua chance de ser mainstream. Conseguiu. O filme é das coisas mais originais já feitas. Nota 8.
O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA de John Ford com James Stewart, John Wayne, Vera Miles, Lee Marvin e Edmond O'Brien
Este, que é o último grande filme de Ford, trata de dois tipos de herói. O individualista e o comunitário. Stewart é o senador que vai a enterro de velho amigo. Conta-se sua história. De como ele foi um jovem advogado e de como foi ajudado por Wayne, que faz o solitário e duro herói cowboy. O filme chora o fim desse tipo de homem, o homem que fez os EUA. Stewart é o homem politico, o homem da lei, do futuro. Há muito de elegia neste filme e tem a famosa frase: Se a lenda é melhor, que se publique a lenda! Mas não é um tipo de western que empolgue. Ele é muito mais uma revisão de todo o Ford que uma obra vital e criativa. De qualquer modo, é adorado por todos os fãs de western. John Wayne está soberbo e o filme peca por usá-lo menos do que queríamos. A cena do incendio é o ponto alto. Nota 7.
FUGINDO DO INFERNO de John Sturges com Steve McQueen, James Garner, Charles Bronson, Richard Attenborough, James Coburn
O rei do cool se tornou rei neste filme. Steve McQueen faz um prisioneiro de campo nazista que é conhecido por ser o rei do cooler ( solitária ). O filme é isso, prisioneiros que tentam fugir e alemães que tentam impedir. Dirigido com profissionalismo, o filme vai crescendo conforme avança e sua hora final é extremamente empolgante. É mais um dos top 20 de Tarantino. É este tipo de filme que faz falta hoje: muito popular, simples, sem nenhum tipo de enfeite, mas de produção cara, divertido, sem grandes tolices, que vale cada centavo gasto. É dos filmes mais queridos dos anos 60 e foi grande sucesso. Nota 8.
O MENINO E O SEU CACHORRO de LQ Jones com Don Johnson e Jason Robards
Como lançam este dvd? É um muito obscuro filme doido dos anos 70 que exemplifica o ponto de piração que a época chegou. Em mundo do futuro, destruído pela radiação, um garoto anda pelo deserto com seu cão. O cão fala, e fala como um muito prático e ranzinza conselheiro. O garoto o usa para conseguir mulheres, que são estupradas e descartadas. O cão quer comida, e no fim o garoto lhe dá uma moça para comer. Um pesadelo mal feito e muito doentio. Nota 1.
ANUSKA de Francisco Ramalho Jr. com Francisco Cuoco e Jairo Arco e Flexa
Um jornalista se divide entre o mundo politizado do jornal e o mundo da moda de sua paixão, Anuska. O tema é bom, o filme é inacreditávelmente amador. Simplesmente o diretor não sabe como contar uma história. E ainda tem patética homenagem a Jules et Jim!!!!! ZERO!!!!!
O LOBO DA ESTEPE de Fred Haines com Max Von Sydow e Dominique Sanda
Baseado em Hesse e tendo o bergmaniano Sydow no elenco. O ator é o certo, o filme é errado. Não li o livro, mas dá pra notar que tudo se torna confusão neste filme que não tem uma só cena criativa. Um blá blá blá sem fim. Andam por bares e cabarets, mulher oferece sexo e por aí vai. Incompreensível. Nota ZERO
THE HIT de Stephen Frears com Terence Stamp, Tim Roth e John Hurt
Grande Frears!!!! O talentoso diretor de Ligações Perigosas, fez em 1984 este muito bom policial. É sobre dedo-duro que é caçado na Espanha por enviados do dedurado. O filme é a viagem pela Espanha dos dois assassinos e do capturado. Conseguirão executá-lo em Paris? Os três atores estão excelentes. Stamp, ex-sex symbol inglês que optou pela boemia, faz um blasé dedo-duro. Nas mãos dos executores, ele jamais demonstra medo. Hurt faz o calado matador. Frio. E Roth, bem jovem, é o bandidinho novato, bobo e afobado. O filme é diversão de primeira linha ( apesar de barato ). Frears sabe tudo. Nota 7.
DUPLO SUICIDIO EM AMIJIMA de Masahiro Shinoda
A nouvelle vague de Godard fez com que brotassem nouvelles vagues mundo afora ( foi o último movimento em cinema a fazer isso ). Tivemos uma nouvelle alemã, uma brasileira, australiana e até a japonesa. Na Alemanha ela se caracterizava pelo seu esquerdismo radical, e no Japão por sua fascinação por morte e sexo. A nouvelle vague made in Japan é toda calcada nisso: sexo e morte. Este filme fascinante e original trata disso. Uma paixão sexual que leva a morte. As imagens são belíssimas e desde seu incio vemos que o filme é especial. Nota 7.
FILHOS DE HIROSHIMA de Kaneto Shindo
Moça volta a Hiroshima. Estamos em 1951. A cidade é ainda uma cicatriz. Ruínas e gente abandonada. O filme é quase um documentário. Fortemente influenciado pelo neo-realismo italiano. Nota 5.
O VINGADOR de F.Gary Gray com Vin Diesel
Continuo tentando. Este trata de policial que tem a esposa morta por traficante e parte pra vingança. As cenas de ação são tão rápidas que mal se vê o que acontece. Mas o filme não é ruim. A gente assiste sem sentir tédio ou sono. O único problema é que depois que ele termina nada resta para ser recordado. Será que ninguém sabe mais escrever diálogos bons em filmes de ação??? Nota 5.
RAW DEAL de Anthony Mann com Claire Trevor e Dennis O'Keefe
Um dos primeiros filmes de Mann, é um noir barato que funciona bem. Um cara foge da prisão com duas mulheres: sua garota e a outra. Uma é do mal, a outra é do bem. Com trama tão frágil, é construído um sólido filme sem uma cena fraca. Rápido e viril. Cinema noir com suas sombras, suas noites quietas e seus tipos perdidos. Muito cigarro e carrões. Uma tremenda diversão! John Alton fez a foto contrastada. Nota 7.

500 DIAS COM ELA/ MINHA VIDA DE CACHORRO/ SETE HOMENS E UM DESTINO/ SOPRO NO CORAÇÃO

PARIS TEXAS de Wim Wenders com Harry Dean Staton, Nastassja Kinski
Um filme que dói. O amor morre e a estrada se abre. Ser herói é sempre ser só. Isso é verdade ou um consolo? O filme homenageia Ford e todo o cinema da América. Mas é alemão. Tão alemão como é Mann ( os dois Mann, Thomas e Heinrich ). O amor sempre termina e fica este homem andando sem rumo e esta mulher exibida numa tela. Mas ficou um rastro, uma criança. Wenders fez filmes imensos. É o cara. Nota DEZ. Um dos filmes que definiram aquilo que sou. Eu sou Travis.
SETE HOMENS E UM DESTINO de John Sturges com Yul Brynner, Steve McQueen, James Coburn e Charles Bronson
Este filme dá raiva. Queriam transformar Horst Buchholz ( quem? ) em star. Então o filme tem esse péssimo Horst demais e tem McQueen de menos... Baseado em 7 Samurais de mestre Kurosawa, é um western pop com uma das trilhas mais famosas da história ( Elmer Bernstein ). Boa diversão. Não é o oeste de Ford ou de Anthony Mann, mas é muito ok. Nota 7.
500 DIAS COM ELA de Marc Webb com Joseph Gordon Levitt e Zooey Deschanel
O filme segue aquilo que Nick Hornby diz : a vida pode se tornar uma tristeza com essa ração de música pop triste. Neste filme, o cara é fã de Smiths. Conhece sua amada ouvindo o som de Morrissey e Marr no elevador. A partir daí rola o romance dos dois em flashback. O filme é uma chatice. Os dois são exatamente o tipo de gente que menos gosto, dois fofinhos. Viciado em deprê, o cara passa o filme inteiro tentando nos fazer sentir pena. Sentí tédio. Quem gosta disto ? É um tipo de filme de Eric Rhomer para iletrados. Por medo de ousar se usa um narrador para explicar o filme, assim como se datam os flashbacks para não confundir. Sinal dos tempos : um filme para estudantes espertos que é pudico e envergonhadérrimo. Sua única boa cena é ao som de Bookends de Simon e Garfunkel. Ao som de Bookends até jogo de canastra se torna poesia. Mas é, apesar de tudo, um filminho bem intencionado. O Annie Hall de 2009. Mas é chaaaaatoooooooo!!!!!!! Nota 3.
ANNA KARENINA de Julien Duvivier com Vivien Leigh e Ralph Richardson
Livros banais podem dar bons filmes. Livros bons podem ser suplantados pelo cinema ( Wonderboys é um filme melhor que o livro de Chabon ). Hammet, Chandler, Du Maurier, Pasternak, Elmore James, são todos autores médios ( sim, acho Pasternak médio ) que foram melhorados nas telas. Grandes peças podem dar filmes geniais ( cito UM BONDE CHAMADO DESEJO e QUEM TEM MEDO DE VIRGINIA WOLFF, duas peças de antologia e dois filmes históricos. ) Mas obras-primas da literatura nunca dão grandes filmes. A exceção, única, é OLIVER TWIST de David Lean, que é melhor que o livro ! Lord Jim de Conrad virou um filme chato, Dom Quixote é ridiculo e Moby Dick se tornou aventura normal. Sem falar em O Morro dos Ventos Uivantes, filmado até por Bunuel e sempre dando filmes ruins. Anna karenina nunca deu certo nas telas. Vira um tipo de romance aguado, vazio, sem aquilo que Tolstoi lhe deu de melhor : Força Divina. Vivien seria uma excelente Anna, mas o Vronski deste filme é um brioche de vento. Se voce nunca leu o livro pode até se divertir com seu visual bonito. Mas de Tolstoi não tem uma vírgula. Nota 5.
MINHA VIDA DE CACHORRO de Lasse Halstrom
Em 1985 a Suécia nos revelava este diretor sensível. O filme se tornou famoso, concorreu até a Oscars de direção e roteiro. Depois Lasse viveria nos EUA e dirigiria filmes como Chocolate e Gilbert Grape. Este filme, sobre um garoto desajeitado e sua família, será para quem o assistir hoje, uma maravilhosa surpresa. Peço para que todos voces o procurem e assistam. Precisa ser assistido porque é um filme que faz bem. A poesia e a alegria vivem neste filme ( e a dor também ). Se voces querem saber o que espero de um filme vejam este. É engraçado e faz chorar. O menino está comovente e a vida com seu tio é a vida que todos nós precisaríamos viver. Dá vontade de rever assim que termina e dá vontade de ir à rua e gritar : Viva a Suécia ! È uma obra-prima dos filmes sobre a infância ( e NADA tem de infantil ). Lindo. Nota DEZ.
MONTE CARLO de Ernst Lubistch com Jeanette MacDonald e Jack Buchanan
O mundo de Lubistch. Distante de nós. De todos os grandes é ele que está mais distante. Seu tipo de filme jamais poderá ser refeito, é filho de um mundo ainda iludido. É Vienna antes de Hitler, é mundo de romance tipo bolo de noiva, de canções maliciosas, de piscadas de olhos, de ligas de seda, de cafés e de cerveja. Não há violencia, não há deselegancia, nada de pressa. O tema é o romance, e não há qualquer pretensão a verdade ou a arte. O objetivo é divertir com classe. Delicioso, mas sinto que sua lingua se apaga ano a ano.... nota 7.
O TENENTE SEDUTOR de Ernst Lubistch com Maurice Chevalier, Claudette Colbert e Miriam Hopkins
Mundo de soldadinhos de chumbo. Romance sempre feliz, risos, dinheiro, reis de carochinha, flores e música de cervejaria. Uma bolha de sabão, leve, linda e que estourou. Nota 6.
A LEI DOS CRÁPULAS de Jules Dassin com Gina Lollobrigida, Yves Montand, Marcello Mastroianni, Pierre Brasseur
Numa vila italiana todos são maus. Não apenas maus, muito maus. Roubam, traem, mentem, enganam. Jules Dassin foi um dos grandes. Na América fez no mínimo 3 obras-primas. Eram filmes policiais e de denuncia social. Foi perseguido pelo Macarthismo e sua carreira continuou na Europa. Filmou na França, Inglaterra, Itália e Grécia. Continuou irriquieto, ousado e genial. É dos meus favoritos. Este é seu filme mais fraco. Os personagens são todos tão maus que o filme nos repugna. Gina é linda, mas incapaz de segurar o filme. Montand está cafa e excelente. A vila é maravilhosa, mas o filme é esquisitíssimo. Nota 6.
SOPRO NO CORAÇÃO de Louis Malle com Lea Massari e Daniel Gelin
Um dos mais originais filmes já feitos. Viva Malle ! Penso que se o mundo tivesse sido feito por Malle seria um lugar muito feliz. Todos seus filmes, tão variados, pregam a anti-culpa. Não existe culpa em seus filmes. Aqui acompanhamos um adolescente fã de Charlie Parker. Seus irmãos, sua primeira transa, o padre, o pai médico, uma doença no coração. Esses temas em outras mãos fariam do filme drama. O garoto não se dá com o pai, os irmãos vivem o perturbando, a mãe tem um amante, ele está doente. Mas, com Malle, tudo é brilho, tudo é leveza e todos são felizes ( sem serem jamais tolos ). É um cinema feito de coragem, de cultura e é sempre pop. Louis Malle não era bem aceito pela nouvelle vague porque apesar de seus temas serem modernos, seus filmes são feitos para serem entendidos. Não há nada de hermético, de enigmático, de intelectual. Mas é alta arte. E aqui ele tem a coragem de tocar no tema mais espinhoso que existe : o incesto. Filho e mãe. Não vou dizer o que ocorre, mas digo que nada parece chocante ou violento. Malle enfrenta o desafio de filmar algo muito pesado com leveza, e estranhamente ele consegue. O filme perturba por isso, nada é como esperamos. O final é sublime. Assisti este filme em 1982, no cine Iguatemi. Ele fora censurado em 1972 ( junto a LARANJA MECANICA e O ÚLTIMO TANGO ) e liberado em 1980, na abertura do presidente João Figueiredo. Adorei-o e fiquei estranhamente eufórico com sua alegria, sua energia e por perceber a absolvição de todo pecado que Malle nos dava. Quase trinta anos depois o revejo e percebo que ele permanece novo, ousado, vivo, e perturbador. É um filme para sempre. Louis Malle foi o único diretor francês de sua geração a dar certo em Hollywood. Viveu por lá de 1979 até 1993, fazendo bons filmes e alguns sucessos de bilheteria. Casou-se com a disputada Candice Bergen e terminou sua brilhante carreira na França, com filmes ainda ousados e lindos. Num país que nos deu Clair, Clouzot, Clement, Cocteau, Godard, Chabrol, Resnais, Renoir e Carné, ele é talvez o mais dotado, com absoluto talento para o drama, a comédia e o suspense. Louis Malle foi perfeito e SOPRO NO CORAÇÃO é único, não se parece com nada e é absolutamente feliz. Nota DEZ !!!!!!!!!!!!!

ONDE VIVEM OS MONSTROS/BULLIT/DIRTY HARRY/RENE CLAIR

ANASTASIA de Anatole Litvak com Ingrid Bergman e Yul Brynner

Chatíssimo sucesso do cinema que décadas depois teve mais sucesso ainda, como desenho Disney. Ingrid ganhou seu segundo Oscar e Yul está especialmente canastrão. Um filme para mocinhas românticas, apenas isso. Nota 2.

ONDE VIVEM OS MONSTROS de Spike Jonze

Descubra a criança que há em você.... Não seria melhor descobrir o adulto que procura nascer ? Pois tudo hoje nos ajuda a "descobrir a criança" ! Somos geração do talco e das fraldas. Não nos cansamos de revisitar o mundo idealizado da meninice. Haja !!!!! O filme nada me surpreendeu, eu já adivinhava que haveria um início cheio de fôlego e uma gradual perda de pique até o final mais ou menos. Sina de diretores formados por clips, uma incapacidade total de contar histórias longas. O visual remete às séries infantis inglesas dos anos 60/70, tipo A FLAUTA MÁGICA...Spike andou as assistindo. Adorei os dez minutos iniciais, depois deu muuuuuito sono.... Nota 4.

NA TRILHA DOS ASSASSINOS de John Frankenheimer com Don Johnson e Penelope Ann Miller

Policial estilo anos 80. Detetive fracassado investiga crimes. A ação é ok. Frankenheimer foi um dos grandes entre 62/72, de repente desandou. Mas isto é bem divertido. E bastante imbecil. 5.
O ÚLTIMO BOY SCOUT de Tony Scott com Bruce Willis
O irmão mais jovem de Ridley fez na sequencia dois bons filmes, este e AMOR A QUEIMA ROUPA. O estilo é cheio de luz, cores, brilho e reflexos, ou seja, publicitário. Mas Bruce nunca esteve tão bem ( lí que Tarantino acha Willis grande ator ) fazendo seu tipo azarado cornudo. O filme diverte muito, tem cenas de ação centradas nos stunt e não em efeitos. Enjoy, é um dos melhores filmes pra homem dos anos 90. Nota 8.
THE LAST WALTZ de Martin Scorsese com The Band
Na história do cinema dois filmes disputam o prêmio de melhor show já gravado, este e STOP MAKING SENSE de Johnathan Demme com os Talking Heads. São completamente diferentes. Demme fez um filme modernista, minimalista e esquizo; Martin nos dá um filme que reflete aquilo que é The Band, o filme é direto, simples, objetivo. Fala todo o tempo sobre a amizade. Como música é nota dez, como cinema é 7.
BULLIT de Peter Yates com Steve McQueen, Robert Vaughn e Jacqueline Bisset
O moderno filme policial nasceu com Dirty Harry, mas dois anos antes Bullit abriu o caminho e fez melhor. Nada é mais cool que este filme. Tudo aquilo que ligamos ao que é ser cool está aqui. Em sua trilha sonora ( jazz de Lalo Schifrin, pra mim a melhor trilha de policial da história ), nos carros ( muscle cars, o de Steve é um clássico ) roupas, cenários, silêncios, ressacas. Basta assistir os primeiros cinco minutos de Steve em cena para se entender tudo o que era cool em 1968 e é ainda hoje. Aliás hoje o estilo Bullit é mais cool ainda !
O filme, cheio de ação e com muito poucos diálogos, segue um policial rebelde ( Steve ) investigando coisas da máfia e de política. Tudo com as ruas de SanFran de fundo e Miss Bisset, dona de beleza surreal, enfeitando o apto de Bullit. Yates, diretor inglês muito bacaninha da época, nunca deixa a câmera parada. Ela corre, voa, treme e ginga. Há uma perseguição de carrões pelas ladeiras que dá até frio na barriga. O filme foi hiper sucesso de bilheteria e é um clássico. O tipo de filme que Soderbergh adoraria assinar. Esperto, frio, elegante, viril, ritmado, enfim, cool. Steve McQueen merece seu título, o rei do cool. Nota DEZ !!!!!!!!!
DIRTY HARRY de Don Siegel com ELE.
...é seu dia de sorte ? Depois que Clint disse isso nunca mais o cinema foi o mesmo. Se voce é um dos infelizes que nunca o assistiu e resolver conhecer este lixo delicioso, saiba que para entender a importancia disto é preciso saber que tudo o que voce assistir aqui foi feito pela primeira vez por Harry, o sujo. O sangue, o som do Magnum 44, um policial metendo bala nos meliantes sem dó, a frieza, o politicamente incorreto. Harry mata e mata sem nenhum problema de consciencia, e isso na época causou indignação. Observe como o filme tem poucos tiros. Espertamente eles notaram que um único tiro causa mais impacto que duzentos. E que tiros ! Nós vibramos com eles ! É um filme podre, sujo, muito feio, de humor pesado, cheio de furos no roteiro. Mas é inesquecível, empolgante, viciante. Clint cria um mito moderno e deixa como cria uma penca de heróis ( de Rambo até Matrix, todos têm algo de Harry ). Nota 9.
MAGNUM 44 de Ted Post com Clint Eastwood e Hal Holbrook
Harry em seu segundo filme ( ele é também responsável pela praga das continuações ) enfrenta gangue de policiais justiceiros. O inicio do filme é hilário, um close gigantesco na arma de Harry. O filme é mais ambicioso que o primeiro, mas tem menos suspense. A violência é maior, o impacto menor. Nota 6.
MEDOS PRIVADOS EM LUGARES PÚBLICOS de Alain Resnais com Pierre Arditi, Andre Dussolier, Laura Morante, Lambert Wilson
Resnais melhorou com a idade. Aos quase noventa anos ele domina uma leveza sem igual. Este filme fala do grande tema deste tempo : solidão. Consegue não ser piegas, não ser triste e não ser tolo. Adultos tentando fugir desse fantasma. Não conseguem. O filme é belíssimo. Nota 9.
POR AMOR de Sam Raimi com Kevin Costner, John C Reilly e Kelly Preston
Muita gente não entendeu o porque de Raimi amarrar os melhores anos de sua carreira ao Homem-Aranha. Porque ? Este filme ajuda a responder. Porque Raimi é banal. Este filme tem duas horas de cenas sem qualquer sinal de criação. Tudo é óbvio, previsivel, novelesco. E o tema é bom : jogador veterano recorda sua história de amor enquanto joga sua última partida. ( Baseball ). Costner até não está tão mal, mas o filme é idiota. Começo a pensar que todo diretor de série sabe o que faz ( ou o que não faz ). Talvez Raimi, Bryan Singer, Chris Columbus e agora Christopher Nolan e Gore Verbinski sejam apenas isso mesmo, diretores de séries. Nota 2.
O TEMPO É UMA ILUSÃO de Rene Clair com Dick Powell e Linda Darnell
Clair fugiu dos nazistas e foi filmar nos EUA. Se deu bem. Seus filmes lá são ótimos. Este fala de jornalista que recebe jornal do dia seguinte, ou seja, ele sabe tudo o que vai acontecer antes que aconteça ! Típico tema de Clair : fantasioso e feliz. O filme pede por atores melhores. Um Cary Grant o transformaria em ouro puro, Powell é apenas um tipo de Adam Sandler elegante. Mesmo assim é boa diversão. Nota 7.
FESTIVAL EXPRESS de Al Eamon
Inacreditável !!!! Em 1970 botaram num trem um bando de músicos e os soltaram on the road no Canada para fazerem shows. A idéia era um Woodstock itinerante. É lógico que tudo deu errado. Os hippies enfrentavam a policia, queriam ver os shows de graça. O produtor faliu e os músicos continuaram fazendo a excursão for fun. Muita bebida, muita droga, muito som. O Grateful Dead até que está bem. Era sua fase mais country, mais pop. Buddy Guy é um desastre. Tem ainda o Flying Burrito Brothers sem Gram Parsons, tocando Lazy Day. Nota mil pra eles. Mas tem também a chatérrima Janis Joplin dando seus gritos de sempre. The Band salva tudo : 3 canções de arrasar. Mas o melhor são os bastidores. Músicos totalmente junkies. Um retrato da proto-história do pop. Nota 5.
PS: Meirelles fazendo um filme sobre Janis com a filha do grande Caleb Deschanel ? Tô fora !!!!!

CARRIE/BETTE DAVIS/STEVE MCQUEEN

Tom Horn de William Wiard com Steve McQueen
o último filme de steve é um western de uma tristeza glacial. dá pra notar o avanço da doença que mataria o astro logo após o final das filmagens. ele tinha 50 anos, mas aparentava 70 naquela altura. é triste pensar no que ele poderia ter feito no futuro que não viveu. tinha carisma de sobra e um estilo calado e frio insuperável. mas este é apenas um filme pobre e de pouca razão de ser. 3.
Teu Nome é Mulher de Vincente Minelli com Gregory Peck e Lauren Bacall.
o roteiro de george wells ganhou o oscar daquele ano. é o avô das ditas comédias romanticas. aqui, feita com muita classe e diálogos adultos e leves. peck é um jornalista de beisebol e lauren uma snob designer. minelli leva com seu bom gosto de esteta. nota 7.
Domino de Tony Scott com Keira Knightley e Mickey Rourke.
foi scott, o irmão de ridley o culpado. foi ele quem nos anos 80 criou a mania de filmes cheios de truquezinhos de imagem. atores posando. camera dançando. ar de anuncio de tv. filmes como top gun, fome de viver, dias de trovão e maré vermelha. este filme é dos maiores lixos imagináveis. um monte de movimento que não vai a lugar nenhum, ação sem emoção, cores e sons que existem por existir. um vergonhoso retrato do quanto o cinema se tornou futil. Zero.
Mama Mia!!!!!!!!!!!! de Phyllida Lloyd com Meryl Streep, Pierce Brosnan, Colin Firth, Julie Walters.
produzido por tom hanks. e isto é muito importante : o filme tem o astral de the wonders. que imenso prazer o de se ver meryl streep brincar. que delicia assistir pierce brosnan esbanjar charme adulto pela ilha encantada onde o filme existe. e que deplorávelmente ruim roteiro temos aqui ! será que não podiam criar um mínimo de emoção, um minimo de surpresas ? temos neste a prova do porque de os musicais atuais não funcionarem : os números de canto e dança são jogados na tela sem preparação. o roteiro não cria um gancho, um motivo poético para que a canção se inicie, ela vem de repente. de sopetão. mesmo assim eu senti afeto pelo filme. por meryl, pierce e colin, e por que não ? pela muito subestimada música do abba, que desde a década passada vive sua vingança contra aqueles que não enxergavam nos anos 70 que aqueles suecos eram os herdeiros de phil spector. nota 6.
Vitória Amarga de Edmund Goulding com Bette Davis, Ronald Reagan e Bogey.
bette é uma frívola milionária. adoece. cancer cerebral. dramalhão ? é. mas nada revoltante. o filme flui e bette estraçalha. só vivien leigh em e o vento levou poderia lhe tirar o oscar daquele ano- e tirou. bette mostra egoismo, vaidade, medo, culpa, dor e coragem, ensinando como iluminar a tela. quando ela está em cena o filme brilha. brilha muito. felizmente ela está em todas elas. 7.
Depois do Ensaio de Bergman com Lena Olin e Gunnar Bjorstrand.
é um dos filmes que o genio fez após sua "aposentadoria". conversas sobre teatro, existencia, tempo, morte. não é filme de cinema, é feito para a tv sueca. 5.
Carrie de Brian de Palma com Sissy Spaceck, William Katt, John Travolta e Piper Laurie.
As pessoas que odeiam os anos 70 são aquelas tímidas personalidades que abominam a exuberancia louca que havia então. tudo era super-big nos 70 : carros imensos, cabelões gigantescos, sapatos e lapelas colossais, filmes egocentricos!!! e que felicidade a de uma época que em 3 anos assistiu : O chefão e a conversação/ taxi driver e alice não mora mais aqui / tubarão e contatos imediatos/ guerra nas estrelas e american graffitti/ annie hall e manhattan e nashville com um estranho no ninho. e carrie. um filme do mais exagerado e anos 70 dos diretores: de palma. um diretor que sempre vai ao limite, que não teme o mal-gosto, o exagero e a falta de tato. neste filme, se uma pessoa morre, mais 20 morrem; se uma cena é cruel, mais crueldade é adicionada. o roteiro é péssimo, os atores ( com excessão da comovente sissy ) estão à deriva, a trilha sonora compromete, o papel da mãe é caricatural... mas, funciona! funciona como uma homenagem aos filmes ruins, como uma diversão pop, e para mim, é uma deliciosa comédia de saudável humor-negro. a cena da corda segurando o balde com sangue é puro hitchcock : brian segue a dica do mestre : se o balde apenas caísse sem sabermos que ele iria cair teríamos apenas um susto- mas sabemos que o balde cairá, e vemos a agonia de carrie lá embaixo e esperamos-quando irá cair???? carrie é um filme que feito hoje mostraria visceras e explosões, a camera rodopiaria pelo cenário e os alunos seriam deprimidos sórdidos. de palma tem muito mal gosto, mas filma bem demais. nota 8.
Appaloosa de Ed Harris com Ed Harris, Viggo Mortensen, Jeremy Irons e Renee Zelwegger.
primeiro: o que aconteceu? Jeremy irons surgiu em 81 como possivelmente um novo olivier. após seu oscar em 88 foi relegado a apenas um tipo : o vilão fino e gelado. se tornou um desses atores excelentes e sub-utilizados, como gary oldman, malkovich, willem dafoe, terence stamp. dito isso...o western, de todo tipo de filme é o que mais depende de carisma. trata-se de um tipo de filme que expõe o ator : é seu corpo se movendo. aumentado, isolado, observado. esse ator tem que ser magnético. como o foram wayne, cooper, stewart, clint ou burt lancaster. viris e magnéticos. esse tipo de ator não se forma estudando teatro ou assitindo tv- ele se forma na vida. para o western são necessárias cicatrizes, rugas e uma voz que transmita solidão e coragem moral. no western não existe um homem numa estrada correndo ao sol- no western é O homem correndo NA estrada debaixo DO sol. tudo é amplificado e exposto na sua mais profunda e última realidade. meninos não gostem de westerns. eles não têm celulares/ carrões e computadores. mas o principal é: ele mostra aquilo que seremos ou já somos. este é um faroeste do tipo anthony mann- crepuscular. existe ação e companheirismo. mas é tudo mudo, surdo, meio em vão. ed e principalmente viggo têm bons rostos para westerns, mas falta um pouco de brilho ( quem teria hoje ? ) mas há aquele relacionamento direto, tipo john ford e dá pra ver que todos os envolvidos amam o que estão a fazer. digno, honesto e preciso. 7.